Há menos sardinha nos mares e os pescadores podem ter de recolher as redes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 12 | Sentimento -0.16
DATA: 2012-01-14
SUMÁRIO: A sardinha existente nas águas que os portugueses costumam navegar está a diminuir. Um recente relatório dá conta da redução de 20% da quantidade de peixe adulto, ou seja, aquele que pode ser pescado. Por causa disso, a pesca de cerco ficou com a sua certificação suspensa. As associações de produtores têm agora 90 dias para apresentar soluções que permitam reverter a suspensão.
TEXTO: O declínio dos stocks da sardinha teve como primeira vítima a indústria de pesca do Barlavento algarvio, que viu o Governo reduzir-lhe as quotas para metade. Os pescadores já dizem que vão ter de parar os barcos. Agora, foi a certificação da pescaria da sardinha portuguesa que está suspensa desde esta quinta-feira devido à "frágil situação do stock de sardinha e à inexistência de regras adequadas de controlo das capturas". Quem o diz são os auditores da Moody Marine Intertek, a entidade que atribuiu à pesca de cerco nacional o selo que permite aos consumidores reconhecer que o peixe que compram foi pescado de forma sustentável, sem pôr em causa a espécie. Foi após a segunda auditoria anual de supervisão, feita em Dezembro, que a Moody Marine Intertek decidiu suspender a certificação Marine Stewardship Council (MSC) para a pesca da sardinha com arte de cerco da Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (Anopcerco). A sardinha apanhada depois de dia 12 de Janeiro não pode ser vendida com a certificação do MSC. A pescaria tem 90 dias para, em conjunto com a entidade certificadora, pôr em prática um plano de acção para discutir a suspensão. A ser aprovado, a certificação permanece suspensa até à implementação das medidas de correcção do problema. A suspensão da certificação MSC acontece na sequência do relatório do ICES (Conselho Internacional para a Exploração do Mar), organismo científico que avalia a quantidade de peixe existente nos mares de forma a aconselhar os decisores sobre as quantidades que podem ser capturadas sem prejudicar a continuidade da espécie. Uma das suas funções é contabilizar aquilo a que chama "stocks de biomassa desovante", ou seja, os peixes adultos que estão em condições de se poder reproduzir. Humberto Jorge, da Anopcerco, considera o relatório “bastante preocupante”, uma vez que aponta para uma queda significativa desse stock - 20%. No entanto, sublinha: “A sardinha não está em perigo de extinção”. Uma das explicações, adianta, tem a ver com a avaliação dos stocks, que é conjunta, reportando-se ao stock ibérico da sardinha e não apenas ao português. Esta é uma “situação cíclica”, afirma, que se relaciona com o “desgaste e diminuição” da biomassa. Foi já criada uma Comissão de Acompanhamento da Sardinha, da qual a Anopcerco faz parte, para que se encontrem as “medidas mais adequadas e eficientes” para retomar o “bom caminho”. Em termos económicos, Humberto Jorge descarta a possibilidade de o impacto ser imediato. “Apostámos muito nesta certificação e na sustentabilidade desta pescaria”, afirma. Para o dirigente, não existe uma situação de sobrepesca mas sim um limite imposto pelo ICES relativamente aos stocks de biomassa. A Anopcerco – que está certificada pela MSC desde 2010 – engloba 120 embarcações e apresentou uma produção de 55 mil toneladas em 2011. O PÚBLICO tentou contactar o IPIMAR – o organismo científico nacional que, entre outras, avalia o estado das espécies comerciais e que está sob alçada do Ministério da Agricultura - mas a Secretaria de Estado do Mar recusou prestar declarações, com a justificação de que “este não é o momento oportuno para falar sobre o tema em causa”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave espécie extinção