“Se a democracia significar islão já não serve?”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.35
DATA: 2012-01-14
SUMÁRIO: O povo vai escolher “o verdadeiro islão”, mas o Exército e os Estados Unidos não vão aceitar a “democracia”, diz Amr al-Hassa, porta-voz do candidato presidencial dos salafistas no Egipto. “Temos armas e podemos ser agressivos.”
TEXTO: Há apenas um ano, a 14 de Janeiro, 29 dias de protestos derrubavam o ditador tunisino, Ben Ali, e o egípcio Amr al-Hassa ainda não sonhava entrar na política. Os ventos de mudança depressa chegaram ao Cairo. Hoje, Hassa é porta-voz do xeque Hazem Salah Abu Ismail, candidato presidencial do movimento salafista, defensor da aplicação da lei islâmica em todos os domínios da vida. E se depender da vontade do povo, Hassa acredita que o seu movimento acabará por governar. Agora que o Nour, o maior partido da corrente, chegou ao fim das eleições para a Assembleia com 23% (segundo uma projecção divulgada ontem pela Irmandade Muçulmana, que diz ter obtido 46%), segue-se o voto para o Senado, em Fevereiro e Março. O passo seguinte será tentar eleger o xeque Abu Ismail. Aos 36 anos, Hassa tem duas mulheres, cinco filhos e uma barba rala da qual se orgulha. Preso por duas vezes no tempo de Hosni Mubarak – em 2007 e 2009, por suspeitas de financiar a jihad [guerra santa] global –, acredita que “todos os muçulmanos esperam morrer na jihad certa”. Excertos de uma conversa “imprópria” no seu jipe estacionado numa rua do Cairo. Ficou surpreendido com os resultados das eleições?Pessoalmente, não acredito que este processo se vá concluir. Mesmo que chegue ao fim, ainda não é a eleição verdadeira de que se fala, ainda participam pessoas que não deviam. Membros do partido de Mubarak?Sim, do antigo regime. Sentimos que há alguma verdade, mas há pessoas que não querem uma eleição livre e podem roubar votos e alterar resultados. Está a falar do Exército, no poder desde a queda de Mubarak?Estou a falar de muitas pessoas, não só egípcios. Os militares e polícias beneficiam do antigo sistema e podem estar a trabalhar com gente de fora, com Israel e com os Estados Unidos. Eles dizem que querem democracia mas mentem. Democracia significa que vamos avançar e eles querem que fiquemos para trás. Hoje podemos falar assim, antes podíamos ser presos. Agora há um filme diferente a decorrer e decidimos participar. Vamos ver. Se Deus quiser, não haverá uma guerra civil. Mas tenho a certeza que eles não querem que a democracia seja como nós queremos. E se o filme tiver um fim diferente do que esperamos vai haver uma guerra. Está a dizer que o Exército não dará o poder aos líderes eleitos?Claro. Não o fará porque os líderes eleitos serão islamistas ou nunca abdicaria do seu poder?Principalmente por se tratar de islamistas. Mas é possível que eles não dessem o poder a ninguém. Eles não querem é que o Egipto avance, com ou sem islamistas. Só darão o poder a quem possam obrigar a agir de acordo com o filme deles. E nós estamos fartos de filmes, queremos a verdade, seja ela qual for. Se a verdade é que nós somos uns idiotas, então somos idiotas, vamos enfrentar isso. Mas chegou o tempo da verdade, e de mostrar aos outros o verdadeiro islão. Muitos egípcios, especialmente cristãos, estão preocupados. Receiam que os islamistas mudem a forma como as pessoas vivem. Têm razão?Sim, têm uma boa razão. Não são bem educados. Se conhecessem o islão nunca diriam isso. Não estou a falar de formação académica, mas de falta de educação cultural. Nós viemos para o Egipto porque os cristãos daqui nos pediram, estavam a enfrentar muitos problemas com os outros cristãos de Alexandria. Esses, ajudados pelos cristãos da Europa, queriam obrigá-los a viver de acordo com regras que não estavam de acordo com as suas. E estamos a viver há quanto tempo juntos? Há 1400 anos, com um sorriso. O islão tem regras sobre como tratar os outros, cristãos, vizinhos, colegas. Nós temos de cumprir essas regras, tratá-los como Deus nos disse, com os seus direitos. Somos todos egípcios. Esses direitos incluem não agir da mesma forma que os muçulmanos, usar outras roupas, beber coisas diferentes?
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE