A Arco olha para a América Latina. E eles olham para cá?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-02-19
SUMÁRIO: Os artistas latino-americanos estão em alta. Mas há galerias da América Latina que preferem não vir à Europa. A relação cultural é forte, mas há quem receie que, com a crise, não compense atravessar o Atlântico.
TEXTO: A galeria parece um stand de vendas de electrodomésticos. Uma rapariga de botas brancas, saia azul rodada e camisola vermelha, como que saída de um anúncio da televisão americana dos anos 50, faz um discurso, em tom publicitário, sobre o mercado da arte, e os factores insondáveis que fazem com que o valor de um artista suba ou desça. Ao lado dela está uma caixa semelhante às de detergente onde se lê Auctions Market & Money. Este trabalho da artista argentina Alicia Herrero é apresentado na Arco, a feira de arte contemporânea de Madrid que encerra amanhã, pela galeria holandesa Mirta Demare, e é a própria Mirta, vestida de preto e com uns óculos bicudos, quem dá explicações. "Os artistas latino-americanos estão começando a ficar em alta", diz, num português com forte sotaque brasileiro. "Eu sempre trabalhei com eles, mas há dez anos, quando comecei [a galeria é de Roterdão], foi muito difícil. Os holandeses gostam de coleccionar os grandes nomes e não aceitam bem nomes que não conhecem. "Entretanto as coisas mudaram e os artistas da América Latina estão entre as estrelas da 31ª edição da Arco, que lhes dedica uma secção especial, a Solo Projects, para a qual seis comissários de diferentes países da América do Sul seleccionaram galerias. O comissário brasileiro é Caué Alves. Jovem, cabelo encaracolado, sorriso aberto, começa por dizer que "a Arco é uma feira muito reconhecida", mas confessa que houve várias entre as grandes galerias brasileiras que recusaram o convite. "A circunstância em que a Espanha está economicamente prejudica a feira. "Para as galerias é caro vir até Madrid e, com a Europa mergulhada na crise, muitas receiam que as vendas não compensem. Do Brasil vieram seis, tal como da Argentina, do México três, do Chile duas, outras duas da Colômbia; Costa Rica, Panamá e Peru têm apenas uma. Mas esta prudência é passageira, acredita Caué, sublinhando a qualidade dos projectos trazidos pelos que decidiram vir. "Apesar de não haver um retorno financeiro, há uma importância cultural e política no facto de estar na Arco. " A Vermelho, de São Paulo, é uma das que optaram por vir e Eduardo Brandão e Eliana Finkelstein não têm dúvidas de que "é importante para o Brasil estar aqui". Eliana explica que a sua galeria vê a Espanha "como uma porta de entrada para a Península Ibérica" e conta que o stand na Arco, onde apresentam o trabalho da artista brasileira Lia Chaia, tem sido mais visitado por portugueses do que por espanhóis. Curiosamente, nesta edição em que cada galeria foi convidada a destacar um artista, há três portuguesas que destacam brasileiros. Vera Cortês, da Vera Cortês Art Agency - que representa a dupla brasileira Detanico e Lain -, aconselha a não ver nisto nenhum sinal particularmente significativo. "Comecei a mostrar os Detanico e Lain em 2008. Ainda não os tinha trazido à Arco, e como a feira está a fazer um foco na América Latina achei que era uma boa escolha. "Claro que há sempre uma relação de proximidade - "O facto de falarmos a mesma língua facilita a compreensão dos trabalhos", admite Vera. Mas não acredita que isso seja uma estratégia delineada pelas galerias portuguesas. Este ano aconteceu, mas em grande parte porque corresponde a uma aposta da própria Arco. "E o Brasil é naturalmente um sítio que está a crescer, com artistas superinteressantes. "Também Manuel Santos, da Galeria Filomena Soares, que trouxe à secção Solo Projects outra dupla radicada no Brasil, Dias & Riedweg, diz que se tratou de uma coincidência - até porque estes são os únicos brasileiros que representam. "Somos mais europeus", afirma Manuel Santos, lembrando que a galeria portuguesa que tem uma relação longa com o Brasil é a Graça Brandão.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave rapariga