Óscar, para que te quero?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-02-26
URL: https://arquivo.pt/wayback/20120226160406/http://publico.pt/Cultura/oscar-para-que-te-quero_1535288
SUMÁRIO: São os "prémios mais importantes do mundo" do cinema - mas sê-lo-ão realmente? À beira da cerimónia 2012, um crítico, um observador e um exibidor olham para os Óscares de Hollywood e para o modo como, num momento de velocidade e tecnologia, parecem este ano celebrar o classicismo.
TEXTO: "Os Óscares significarão realmente qualquer coisa? Provavelmente não, a não ser para os próprios nomeados, porque são degraus para atingirem melhores contratos, ganharem mais dinheiro. "Em duas frases, Aaron Hillis, crítico da revista nova-iorquina "The Village Voice" e programador do cinema independente ReRun Gastropub Theater em Brooklyn, define assim a importância dos prémios atribuídos anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Sem que isso implique, forçosamente, negar o seu valor ou o seu interesse, como diz ao Ípsilon desde Nova Iorque. "Acho que dizer que os Óscares não têm valor, ou criticá-los por serem tão mediáticos, é jogar com dados viciados - as pessoas já andam há décadas a dizer que os filmes cada vez interessam menos aos Óscares, é o espectáculo que interessa, é sobre isso que Hollywood é construída. Eles são quase um mal necessário, têm de ser tratados do modo ligeirinho e casual como são na realidade, algo que não é para ser levado muito a sério. " Que o mesmo é dizer, a poucos dias da cerimónia que terá lugar em Los Angeles na madrugada de domingo para segunda-feira, os Óscares de Hollywood continuam a ser o que sempre foram. A saber, um imã mediático que ultrapassa a mera questão cinematográfica para se tornar numa celebração do cinema enquanto indústria, mais do que enquanto arte. Mesmo que, este ano, a lista dos nomeados - seleccionados de entre uma série muitas vezes previsível de filmes apoiados pelos grandes estúdios - proponha um peculiar olhar para a história do próprio cinema, para o passado que ficou lá atrás. Vibração clássicaOs dois filmes com mais nomeações em 2012 são "A Invenção de Hugo", de Martin Scorsese (que invoca os primórdios dos efeitos especiais e as "féeries" de Georges Méliès), e "O Artista", de Michel Hazanavicius (um filme mudo ambientado na passagem do cinema mudo para o sonoro). E muitos dos restantes nomeados também invocam o cinema clássico - quer seja a recriação de Marilyn Monroe por Michelle Williams em "A Minha Semana com Marilyn", a evocação de géneros clássicos como o filme de família ("Cavalo de Guerra", de Steven Spielberg) e o drama desportivo ("Jogada de Risco", de Bennett Miller), até o piscar de olhos ao cinema autoral da década de 1970 ("A Árvore da Vida", de Terrence Malick, e "Os Descendentes", de Alexander Payne). Meio a brincar, António Quintas, antigo director de marketing da Columbia Tristar Warner, hoje comentador do programa da RTP "Cinemax" sobre questões de bilheteira, diz ao Ípsilon que este ano "os membros da Academia ficaram caidinhos pela homenagem onanista à sua história". Desde Nova Iorque, Aaron Hillis reconhece a existência dessa "vibração clássica" dos nomeados deste ano, embora aponte que não se deva ver mais do que uma simples coincidência. "Não acho que tenha sido consciente. As decisões da Academia não são unânimes, implicam muita política, não sei se são necessariamente indicativas de uma cultura maior. Mas há de facto algo de interessante a dizer. Creio que os movimentos artísticos surgem maioritariamente como reacção ao que existiu antes, e agora que vivemos num mundo louco, pós-moderno, de sobrecargas sensoriais, acho que é natural querer regressar a ideias mais clássicas de fazer cinema. Estamos tão imersos na tecnologia, neste "tudo ao mesmo tempo agora" que nos parece mais honesto, puro, humano devolver as histórias às pessoas. "
REFERÊNCIAS: