Os filhos de Vladimir Putin agora voltam-se contra ele
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-03
SUMÁRIO: Querem o fim da corrupção e um novo modelo social. Saíram para a rua para forçar as mudanças e para dizer que não há líderes indiscutíveis
TEXTO: Num sofá do café Chocolatniza, em frente ao monstruoso edifício do Banco VTB24, Ilia Laputin toma um "latte". Nas mesas, todas ocupadas, do Chocolatniza, uma das cadeias russas de cafetarias concorrentes do Starbucks, mulheres jovens de mini-saias, saltos altos e casacos de pele, e homens jovens de fato brincam com os seus gadgets. Em mais do que uma mesa se pode ver, alinhados como matrioscas electrónicas, um laptop Apple, um ipad e um iphone. Ilia, de 33 anos, veste fato cinzento e usa o cabelo louro penteado em franja sobre o rosto redondo. "Gosto do meu trabalho", diz ele. "É criativo e variado. Detestaria ficar sentado a uma secretária a desempenhar uma função rotineira". No banco onde está empregado, tem como função contactar com investidores estrangeiros e gerir um produto financeiro. Como Product Manager do VTB 24, um dos maiores bancos da Rússia (de capital maioritariamente público), trabalha muitas horas, mas não se queixa do salário. Está no banco de 10 a 14 horas por dia, por vezes mais. Ao fim-de-semana descansa, se não houver nenhuma emergência. Ganha 10 mil dólares por mês (120 mil por ano), dos quais paga 13% de imposto sobre o rendimento, como todos os trabalhadores russos. Tem direito a um seguro de saúde, vive com a mulher (que também é funcionária num banco) num apartamento não longe do centro de Moscovo, nas imediações da primeira circular da cidade (o Anel dos Jardins), zona onde as rendas custam sempre para cima de 3 mil dólares por mês. De casa ao trabalho, usando o metro, demoraria 30 minutos (20 no metro e outros 10 a pé). Mas Ilia precisa de pelo menos uma hora de viagem, porque preferem deslocar-se no seu carro. "Eu e a minha mulher nunca andamos de transportes públicos". Aos fins-de-semana, o casal descansa numa das suas duas "datchas" (casas de férias). A de Inverno fica perto de Moscovo, a de Verão 300 quilómetros a sul, numa região onde Ilia pode nadar e andar de bicicleta de montanha, os seus hobbies. Nas férias viajam para o estrangeiro. No ano passado visitaram a Austrália. Ilia Laputin nasceu em Podolsk, uma cidade industrial a 40 quilómetros de Moscovo. Nos anos 90, depois da queda da União Soviética, a zona tornou-se numa das mais perigosas do país, com um surto de criminalidade e actividades das novas máfias. Ilia veio para Moscovo estudar, numa altura em que o ensino ainda era gratuito. Como os pais eram artistas (o pai pintor e a mãe curadora de museus), ele, para contrariar, decidiu estudar ciências. Licenciatura em Física e pós-graduação em tecnologias de laser, na Universidade Russa da Amizade entre os Povos, um estabelecimento que, nos tempos comunistas, era frequentado por estudantes estrangeiros. Enquanto terminava a pós-graduação, Ilia arranjou, através de um amigo, trabalho em part-time num banco, o Unicredit. A sua função relacionava-se com remote banking, ou seja, cartões de crédito e transferências de capitais. Não se relacionava em nada com a sua área de especialidade, a tecnologia laser. Como também nada tinha a ver com laser o seu segundo emprego, no banco francês Societé General, iniciado mal terminou a pós-graduação, em 2003. Mas eram os empregos disponíveis, numa altura em que a actividade bancária cresceu rapidamente. Havia tantos que era normal saltar de uns para os outros, consoante as oportunidades. Ilia não tardou a mudar para o italiano Intesa, para onde foi ganhar o dobro, e depois para o VTB24. Sempre por convite, já que os bancos não deixavam os seus créditos por mãos alheias, em termos de caça aos cérebros. Hoje, Ilia não mudaria de emprego tão facilmente, porque se habituou a uma certa estabilidade. "Já não sou tão jovem, e este é um emprego seguro. Vou aguentar-me aqui mais uns três ou cinco anos. Mas não mais do que isso. Não me imagino a trabalhar no mesmo sítio mais de nove anos".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens mulher mulheres salário