O inferno dos padres Lima
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-05
SUMÁRIO: Um foi vítima de extorsão e conseguiu a proeza de ser aplaudido pela população. O outro está a ser acusado de extorquir os paroquianos. A história de dois irmãos, ambos padres em Viana do Castelo, agora nos jornais.
TEXTO: A história do padre Alípio Lima, que andou várias semanas nos jornais depois de se ter queixado à GNR contra duas prostitutas que o terão extorquido e chantageado, podia ter morrido com o seu regresso à paróquia, em Vila Nova de Anha, Viana do Castelo. Podia, mas não morreu. Porque, um dia depois, o seu irmão, o padre Adão Lima, foi acusado de extorquir dinheiro aos paroquianos de Deão e Subportela, outras duas paróquias do concelho. Mas enquanto Alípio mostrou arrependimento e até acabou aplaudido pelos paroquianos, Adão tem meia paróquia a querer vê-lo dali para fora. "Tem um defeito muito grande", resume a paroquiana Rosa Gomes, "é doente por dinheiro. " As acusações contra o pároco, que tem um processo em tribunal por falta de pagamento de uma dívida, vão desde a recusa da confissão a doentes à ameaça de excomunhão dos que recusam financiar obras da Igreja. "Chegou a dizer, durante a homilia, que quem não quisesse dar o dinheiro podia pegar nele, comprar veneno e envenenar-se", acrescenta o presidente da Junta de Subportela, Ilídio Rego, incompatibilizado com o padre: "Já chega de ameaçar, enxovalhar e humilhar os paroquianos. " O nome de Adão da Silva Lima galgou as fronteiras do concelho depois de ter conseguido que Daniel Gonçalves Dias, 89 anos, assinasse um contrato em que o idoso emprestava 50 mil euros para a construção de uma creche e de um lar na freguesia de Deão. O documento fez desconfiar os herdeiros. Intitulado "Contrato de Financiamento Particular de Mútuo sem Garantias Hipotecárias e Sem Juros", estabelece que o empréstimo é por cinco anos e que não incidem sobre ele juros legais nem moratórias. E estabelece que, se o idoso falecer, o empréstimo passa a doação: "É sua vontade que nenhum dos possíveis herdeiros não poderão [sic] por qualquer forma exigir para si esta quantia que hoje empresta e que futuramente será transposta como doação ao Centro Social Paroquial de Deão. " Em troca, o idoso recebeu um "diploma de benemérito", onde, num português já menos trôpego, o padre surge na qualidade de presidente do Centro Social Paroquial de Deão e do conselho da fábrica para os assuntos económicos a agradecer, "muito penhorado", o contributo. "Que Deus multiplique por muito o que fizestes e continuareis a fazer em prol dos mais carenciados das nossas sociedades hodiernas. " Para o jurista que está a analisar o caso, o contrato "pode ser considerado nulo em tribunal". "A lei proíbe que uma pessoa ponha o seu advogado no testamento ou faça uma doação ao seu médico. Parece-me claro que o padre se faz valer do seu ascendente psicológico sobre os paroquianos para ficar com os seus bens. É como se lhes estivesse a vender conforto espiritual. " Um dos 62 sobrinhos do "benemérito" concorda. "O padre aproveitou-se da fragilidade do meu tio e convenceu-o de que, se desse o dinheiro, teria lugar no lar de idosos e muito provavelmente no Céu. " Nenhum aceita ter o nome no jornal. Na freguesia de Subportela - margem esquerda do rio Lima, pouco mais de mil habitantes - correm histórias sobre empréstimos semelhantes. Mas o que traz os habitantes de mal com o padre parecem ser os constantes pedidos de dinheiro. "Há aqui pessoas com muita idade que levaram vidas sofridas. Trabalharam a vida toda debaixo de chuva, se vão à missa é para ouvir uma palavra de conforto. Não é para serem insultadas pelo padre, quando não lhe dão o dinheiro que ele quer", indigna-se Tiago Afonso, um dos poucos que aceitam dar o nome. Com 45 anos, sustento assegurado pelo seu trabalho de instalação de iluminações e amplificações sonoras das festas e romarias de arredores, este habitante da freguesia de Subportela diz-se farto das homilias do padre Adão. "Ele chegou a dizer na missa que ainda bem que o sigilo bancário ia acabar, porque assim ia poder saber quem é que tinha dinheiro na conta e não dava para a Igreja. "
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR