Le Pen: as salas não enchem, as sondagens não sobem, o dinheiro não entra
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-05
SUMÁRIO: A "candidata do povo" está em dificuldades. Falta-lhe dinheiro para alugar salas para fazer comícios, ainda que seja habitual cobrar entrada (cinco euros) para ver actuar a estrela, a mulher que percorre o palco interpretando o seu discurso, dando vida aos sound bytes. A campanha de Marine Le Pen estagnou desde que o Presidente da República, Nicolas Sarkozy, entrou na liça, tornando a competição uma conversa a dois, com o socialista François Hollande, que continua a ser o favorito. Le Pen mantém-se em terceiro nas intenções de voto, mas ainda não tem lugar garantido nos boletins de voto.
TEXTO: Nos próximos 11 dias, até 16 de Março, Marine Le Pen tem de obter 48 assinaturas de eleitos locais que apoiem a sua candidatura à Presidência da República. Sem isso, a presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN) não poderá ir a votos a 22 de Abril - apesar de as sondagens lhe darem 16% à primeira volta. É obrigatório ter 500 destes apadrinhamentos e, segundo os números por ela revelados na semana passada, só tem 452. Ela queixa-se de um boicote mascarado e lança apelos mais ou menos desesperados para que a ajudem a participar nas eleições: "Continuamos numa democracia? Estamos numa República ou declinámos definitivamente para uma oligarquia em que o povo já não tem escolha?", lançou ela no Canal+. Querem-na fora das eleições, afirma, por que tem ainda hipóteses de chegar à segunda volta: "Sou a única que permite aos franceses uma verdadeira escolha, ou seja, descartar a não-escolha que representam os gémeos siameses Hollande e Sarkozy. "Este é o discurso típico de Marine Le Pen, apurado pelo desespero de a sua campanha estar num ponto de estagnação, com as sondagens há várias semanas a manterem-se por volta dos 16% a 18%. E de ver tornar-se cada vez maior o obstáculo dos apadrinhamentos de 500 eleitos, que ameaça fazer descarrilar a sua candidatura. A juntar-se a estas dificuldades, a filha mais nova de Jean-Marie Le Pen, a velha raposa da extrema-direita francesa, que no ano passado assumiu a presidência da Frente Nacional, eliminando rivais internos e fazendo uma limpeza da imagem do partido, enfrenta a falta de dinheiro para a campanha. Esta está directamente relacionada com a diminuição de credibilidade da sua candidatura, e já obrigou ao cancelamento de vários comícios. "Desdiabolizar" Mas a Frente Nacional de Marine Le Pen não abandonou as teses polémicas sobre a imigração e em particular a islamofobia. Por um lado, poderá dizer-se que minam a sua estratégia de "desdiabolização", mas a verdade é que estas ideias também foram adoptadas pela direita representada pelo Presidente, Nicolas Sarkozy. A intenção da "desdiabolização" é tornar a FN num partido normal, com legitimidade para jogar no mesmo campo que os partidos clássicos. É uma mudança importante, considerando que durante alguns anos os partidos franceses impuseram um "cordão sanitário" em torno da FN dirigida pelo seu pai, Jean-Marie Le Pen, estigmatizado pelas suas teses racistas, e por ter dito que as câmaras de gás nazis eram apenas "um pequeno detalhe" da História. Marine deu-se bem com a sua estratégia: ela passa bem na televisão, agarra o palco como uma actriz, pontua o discurso de frases com piadas e trocadilhos feitos para passarem em citações curtas nos media e, sobretudo, tem uma imagem simpática, ao contrário do pai. Junto das chamadas "classes populares", dos operários, mas também dos trabalhadores precários, dos que têm empregos na área dos serviços, e vivem nas cinturas industriais ou nas margens mais distantes das áreas metropolitanas francesas, a FN já tinha uma boa implantação com Jean-Marie Le Pen, mas esta tornou-se muito mais forte com a sua filha. Estes locais são viveiros do voto de protesto, aquele que Le Pen procura captar com um discurso contra o sistema financeiro internacional, em defesa dos explorados - por vezes com uma retórica roubada descaradamente à esquerda. Mas escolhe vítimas em quem descarregar este descontentamento: imigrantes e muçulmanos. Escolher estes bodes expiatórios é uma forma de captar o descontentamento social - uma fórmula que Sarkozy também utiliza. A FN, no seu programa eleitoral, prevê deixar de dar qualquer assistência médica aos imigrantes clandestinos, e acaba com a hipótese de alguma vez vir a regularizar os que estejam em França em situação irregular. O objectivo é acabar com a imigração ilegal no prazo de cinco anos.
REFERÊNCIAS: