Aumento de auto-imolações chama a atenção para o Tibete
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DATA: 2012-03-10
SUMÁRIO: O que leva alguém a escolher regar-se com gasolina e pegar fogo a si próprio? Ninguém sabe responder, mas este tem sido um meio de protesto crescente no Tibete, onde no último ano houve 25 auto-imolações pelo fogo. Hoje assinala-se o dia da revolta tibetana com manifestações de apoio ao Tibete em vários locais do mundo.
TEXTO: O surgimento de auto-imolações – que é uma acção claramente estranha à cultura tibetana e que é vista, aliás, como algo ligado à cultura árabe ou muçulmana – e a sua repetição é apresentada pelos exilados como um movimento de protesto contra a política cada vez mais restritiva da China no Tibete, especialmente em relação à religião. A maior parte das pessoas que se auto-imolaram eram monges ou freiras ligados ao mosteiro Kirti, na província chinesa de Sichuan. Thierry Dodin, director da TibetInfoNet, dá alguns exemplos destas restrições: as autoridades tentam, por exemplo, proibir monges que não são de um local a irem para um mosteiro noutro, ou impor limites à idade com que é possível entrar num mosteiro (18 ou 20 anos, por exemplo). “No fundo, não querem ter demasiados monges num só local”, explica, numa entrevista telefónica. Este tipo de restrições “causa a maior parte dos problemas”, nota. Barry Sautman, professor da Universidade de Hong Kong especialista em China e nas suas políticas étnicas, sublinhou ao PÚBLICO que os protestos estão relativamente localizados num mosteiro que tem sido especialmente alvo das chamadas “campanhas de reeducação patriótica” e que tem uma história de resistência às políticas restritivas da China. “Não é, para já, um protesto generalizado da população tibetana; é um protesto mais particular. ”Mortes que ficam na cabeça de quem as vêAs auto-imolações criam um enorme efeito em quem vê. Não há praticamente imagens dos recentes actos dos tibetanos: a China fechou o território temendo protestos durante o mês de Março, mês sensível com datas importantes: há o aniversário de hoje da revolta de 1959, quando os tibetanos se insurgiram contra a ocupação chinesa e um aparente plano de rapto do Dalai Lama (que na sequência desta acção se exilou na Índia), há a data de 30 de Março, quando se assinala o aniversário dos motins em Lhasa de 2008. Mas toda a gente tem uma imagem de uma morte pelo fogo na cabeça. Chamas a rodearem um corpo quieto e silencioso. A pele, os olhos, os lábios a desaparecerem numa nuvem cinzenta. “Não sou particularmente sensível, já trabalhei num centro de autópsias”, comenta a especialista em China June Teufel Dryer, da Universidade de Miami, numa entrevista por telefone. “Mas uma pessoa a morrer queimada é de facto algo que eu não consigo suportar ver. ”Para esta especialista, a razão dos sacrifícios é evidente: o aumento das políticas repressivas da China. E a opção por este tipo de protesto é também explicada pelo que poderiam sofrer caso recorressem a modos de protesto mais tradicionais: “há histórias de castigos horríveis de pessoas que foram mutiladas e deixadas a morrer por terem participado em protestos contra China”, diz Teufel Dreyer. Um “genocídio cultural”Pequim acusa o Dalai Lama de orquestrar estes protestos – ou em alternativa diz que se trata de actos de pessoas com perturbações mentaisOs tibetanos no exílio, quer a liderança política quer o Dalai Lama, têm feito declarações um pouco contraditórias em relação às auto-imolações: não as apoiam, mas não as condenam, e apontam o dedo à China: “Há um genocídio cultural”, disse o Dalai Lama, citado pela BBC. “Por isso é que se vê acontecer estes tristes incidentes, dado o desespero da situação”. O primeiro-ministro no exílio, Lobsang Sangay, disse que “a liderança não encoraja a auto-imolação” mas apontou o dedo às políticas chinesas “de repressão cultural, assimilação cultural, marginalização económica e destruição ambiental”, enumerou, também citado pela emissora britânica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte cultura corpo rapto