O Japão ainda tenta tratar as feridas do tsunami
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2012-03-11
SUMÁRIO: Eram 14h46 de 11 de Março de 2011 no Japão quando a Terra abanou, com uma violência rara. E 41 minutos depois, chegou a onda gigante, que se abateu sobre a costa noroeste do Japão, causando uma catástrofe complexa, que incluiu o pior acidente nuclear civil da história desde Tchernobil, que para os japoneses se designa por uma data, tão simples como para os norte-americanos se tornou o 9/11: o sismo, terramoto e acidente da central de Fukushima são simplesmente o “3/11”.
TEXTO: A tragédia que fez mais de 19 mil mortos (3000 dos quais desaparecidos) e 326 mil desalojados não deu tréguas ao Japão, passado um ano. Se não se pode dizer que alguém tenha morrido devido à radioactividade libertada pelos reactores da central de Fukushima, a herança da central será longa. Levará décadas a desmontar, até os reactores e o combustível que contêm arrefecerem o suficiente para poderem ser desmantelados em segurança. E grande parte do Césio 137 radioactivo libertado foi para o mar: os efeitos no ecossistema marinho deverão vir a revelar-se nas próximas décadas, pois tem uma meia-vida de 30 anos. E há tudo o que se soube entretanto, da confusão e da incompetência do Governo, da Tokyo Electric Power Company (Tepco), a empresa proprietária da central nuclear, que não tinha um plano de emergência para lidar com uma situação em que um tsunami inactivasse o sistema de arrefecimento dos reactores, a confusão geral das autoridades. Os ministros pensaram logo na possibilidade da fusão dos reactores, mas recusaram-se a dar qualquer sinal disso para o público, revelam minutas oficiais dadas a conhecer na sexta-feira. “Quem é verdadeiramente o líder da operação? Tenho demasiadas ordens e pedidos incompreensíveis”, queixou-se o ministro da Segurança Interna na altura, Yoshihiro Katayama, citado nos documentos agora revelados, citados pela Reuters. Quanto à reconstrução, avança de passo de caracol. A agência responsável por coordenar como os vários ministérios gastarão o orçamento de 175 mil milhões de dólares (133, 4 mil milhões de euros) aprovado para reconstruir as vilas, aldeias e cidades arrasadas pelo terramoto e tsunami só começou a funcionar em Fevereiro — quase um ano após o tsunami. Os destroços feitos pela onda gigante acumulam-se ao longo da costa nordeste do Japão, arrumados mas transformados em marcos que ameaçam tornar-se permanentes na paisagem: 22, 5 milhões de toneladas de destroços, o equivalente a 20 anos de resíduos sólidos urbanos, em termos de processamento. Até agora, só 6% foram tratados de forma definitiva. Trauma e desconfiançaHá quem só sonhe em regressar à sua casa, há quem desespere de voltar, nomeadamente os que viviam na zona de exclusão de Fukushima (os que viviam num raio de 20 quilómetros em torno da central nuclear). Há até relatos de um emissário de Fukushima que terá ido à Coreia em busca de terras semelhantes às da nordeste do Japão, onde se pudesse instalar um grupo de emigrantes de Fukushima, relata a AFP: “Veio com vários promotores imobiliários e disse que queria comprar terrenos num local parecido com Fukushima, como o nosso condado, ou então em Jeju”, uma ilha no sul da Coreia, disse à agência um responsável do condado de Jangsu, no sudoeste da Coreia do Sul. O trauma nas populações é muito grande. “Passar-se-ão anos até todas as consequências psicológicas aparecerem. Tenho a certeza de que a taxa de suicídios vai aumentar no Nordeste”, disse à revista alemã “Der Spiegel” o psiquiatra Jun Shigemura, que tem prestado apoio psicológico aos trabalhadores da central nuclear de Fukushima, num projecto apoiado pelo Governo. As autoridades não têm ajudado a criar um clima de confiança – muito pelo contrário. Aquilo a que se assistiu no último ano foi ao surgir de uma grande desconfiança do Governo, da indústria nuclear – que antes tinha grande apoio popular – e do conluio do governo com os industriais. “As pessoas estão confusas e suspeitam das autoridades. Neste ambiente, os rumores e a desinformação espalham-se rapidamente”, explica o psiquiatra Shigemura. E a comunicação do Governo e da Tepco foi má. O relatório preliminar do inquérito ao acidente, e o realizado por uma fundação privada, revelam que não só houve descoordenação como o que parece ser verdadeira incompetência e vontade de não informar o público.
REFERÊNCIAS: