Adolescentes do Alentejo e Algarve com mais comportamentos de risco
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2012-03-16
SUMÁRIO: São os mais tristes, os mais irritados, dos que menos fazem exercício físico diário, dos que menos gostam da escola. São apenas exemplos de uma tendência que se repete: são os adolescentes alentejanos e algarvios os que tendem a apresentar mais comportamentos de risco, referem dados do estudo português sobre comportamentos em saúde de jovens em idade escolar (Health Behaviour in School-Aged Children), que é feito no âmbito da Organização Mundial de Saúde e em que participam mais 43 países.
TEXTO: À excepção da melhor comunicação com os amigos e menos lesões sofridas, é a sul do Tejo que estão os resultados mais negativos, admite Margarida Gaspar de Matos, a coordenadora do estudo que inquiriu uma amostra representativa da população nacional (e regional) de 5050 adolescentes portugueses dos 6. º, 8. º e 10. º anos de escolaridade, com uma média de idades de 14 anos. Antes de mais, as boas notícias: comparando os dados deste estudo, cujo inquérito é de 2010, mas que já tinha sido feito em 1998, 2002 e 2006, constata-se que a saúde dos adolescentes tem vindo a melhorar desde 2002, o que se traduz na diminuição do consumo de tabaco, na sexualidade mais responsável, na diminuição da violência, no bem-estar físico e psicológico, na satisfação com a vida e na saúde oral. Mas as respostas dos inquiridos de 2010 vistas à lupa dão conta de diferenças dentro do país que, defende a coordenadora, têm que ser tidas em linha de conta. Desde logo, no Alentejo há 11, 3% de miúdos que dizem estar tristes ou deprimidos e 9, 4% de algarvios que dão a mesma resposta. Em Lisboa esse valor é de 8, 8%, no Norte de 8, 2% e, no Centro, de 6, 4%. O Alentejo e o Algarve são as duas regiões onde foram registados maiores índices de obesidade - 3, 6% destes jovens estarão nesta situação, contra uma média nacional de 3, 4% (era de 2, 3% em 1998). No consumo de substâncias, é no Alentejo que mais os adolescentes dizem ter ficado embriagados mais de dez vezes na vida (6, 1%) e 5, 8% reportam mesmo o consumo semanal de bebidas destiladas. No resto do país, estes números ficam em torno dos 2 a 3%. É também naquela região que há mais jovens (31, 6%) a dizer que não gostam da escola (a média nacional é de 23, 5%). O estudo sinaliza o problema, mas não estudou as causas da concentração destes resultados nas duas regiões. Mas Margarida Gaspar de Matos, que é psicóloga, deixa algumas pistas. "Estas são regiões em que há menos jovens, estão mais espalhados e isolados", o que potencia efeitos de grupo. "Se há um grupo que adere [a um dado comportamento], é mais fácil criar uma moda de grupo - há menos espaço para a diferença". As diferenças regionais encontradas são uma chamada de atenção para o facto de as medidas nesta área terem que ser pensadas localmente, o que passa pela "autonomia das escolas e a valorização das autarquias". "Uma boa solução para o Norte pode não ser uma boa solução para o Sul. "Há especificidades nas várias regiões. "O Norte tem, em geral, melhores resultados", mas, apesar de ter menos jovens que iniciaram relações sexuais (19, 3% face aos 21, 8% de média nacional), os que a iniciaram são os que menos dizem usar preservativo (79, 1% face aos 82, 5% em termos nacionais) e, por isso, estão em maior risco. Educação Sexual traz ganhosO Centro está melhor na prática de actividade física e pior na higiene oral e em Lisboa e Vale do Tejo há índices de obesidade menor, mas "há maior violência interpessoal". Por exemplo, são 7, 3% os jovens desta região que dizem ter estado envolvidos em lutas no último ano, o valor mais alto no país, e 4, 5% os que dizem ter provocado alguém na escola nos últimos dois meses anteriores ao inquérito (a média do país fica-se pelos 2, 7%). Em termos nacionais, Margarida Gaspar de Matos, que dirige a equipa de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana e Centro de Malária e Doenças Tropicais, em Lisboa, sublinha que os adolescentes que mais tiveram Educação Sexual tendem a ser os que iniciam a sua vida sexual mais tarde e os que menos têm relações sexuais desprotegidas. "A Educação Sexual só tem vantagens", conclui. A maioria (65, 9%) diz que os seus professores abordaram estes conteúdos nas aulas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola violência concentração educação consumo estudo sexual sexualidade