Alemanha elege um Presidente de paradoxos, Joachim Gauck
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-18
SUMÁRIO: Joachim Gauck foi hoje, sem surpresas, eleito pela assembleia especial que escolhe o Presidente na Alemanha. Será o primeiro presidente alemão que não pertence a nenhum partido, mas tem fortes posições políticas. Era o candidato do consenso, mas a imprensa alemã antecipa que vá ser "alguém que irrita".
TEXTO: Gauck é conhecido por ter opiniões fortes e não ter qualquer problema em as dizer claramente. A sua orientação política é de difícil definição e encerra, também ela, as suas contradições: Gauck descreve-se como um “conservador liberal de esquerda”, mas apesar de um dos seus principais apoios vir justamente do Partido Liberal, muitos comentadores políticos sublinham a sua faceta conservadora. Gauck defende intervenção do Estado; alguns alemães dizem, no entanto, que não é suficientemente “social”, já que concordou com as reduções dos subsídios sociais da era Schröeder. É um defensor do activismo cívico mas é muito crítico do movimento Occupy Wall Street que tem, em sua opinião, um anti-capitalismo “incrivelmente tonto”. Muitos comentadores alemães suspiraram de alívio ao ver alguém com “fortes valores morais” substituir um Presidente que demorou demasiado a admitir os seus erros e que só se afastou quando formalmente indiciado por suspeitas de favoritismo e corrupção. Gauck conseguiu obter o apoio entusiástico da imprensa popular (Bild) e de qualidade (Der Spiegel). Poderá viver com a companheira no palácio de Bellevue?Isso não o deixa a salvo de escrutínio, e muitos críticos afiam já as unhas para o atacar. Surgiram até questões sobre a sua vida pessoal: poderia Gauck, a “bússola moral” da nação, mudar-se para o Palácio de Bellevue com a sua companheira de há mais de dez anos enquanto ainda está casado com a sua primeira mulher, de quem se separou mas nunca se divorciou?As posições de Gauck, antigo pastor luterano de 72 anos cujo cargo definidor foi a liderança da comissão que geriu os arquivos da Stasi (a polícia política da ex-RDA) são imprevisíveis. Quando foi anunciado que seria ele o candidato do consenso partidário (excepto do partido Die Linke, A Esquerda, com origens no antigo partido único da antiga RDA), o semanário Die Zeit publicou um artigo com o título “o que ele defende”, revisitando recentes polémicas que despertou. Liberdade, liberdade, liberdadeMas se a sua opinião em muitos temas (já lá vamos) pode ser imprevisível, o tema que o apaixona não é: liberdade, é disso que ele não se cansa de falar. A razão não é difícil de perceber: basta pensar nas várias vezes que a liberdade lhe foi recusada. Poderá dizer-se que a primeira vez foi quando tinha 11 anos e viu o seu pai ser levado da cidade báltica de Rostock, onde vivia, pelas forças soviéticas, sem poder dar uma palavra à família, que nunca soube onde ele estava até ao seu regresso. Acusado de espionagem, foi condenado a duas penas de 25 anos de prisão. Passou quatro num gulag. Quando regressou a casa estava magro, vinha diferente. A falta de liberdade custou mais tarde a Gauck uma nova divisão da família: dois dos seus quatro filhos queriam ir viver na Alemanha Ocidental, e um dia conseguiram as autorizações. Um deles queria estudar medicina, algo que não podia fazer no Leste por razões políticas, e na parte ocidental conseguiu. Hoje esse filho, Christian Gauck, trabalha como especialista em ortopédica em Hamburgo. Pastor, a única profissão possívelO próprio Joachim Gauck também não conseguiu escolher o seu futuro. A ideia de estudar língua e literatura Alemã com o sonho de vir a ser jornalista ou escritor não se podia concretizar (na Alemanha de Leste as famílias que não pertencessem ao partido único, ou os jovens que não pertencessem à associação de juventude comunista, viam ser-lhes negada a possibilidade de educação), por isso escolheu estudar teologia em 1958 (a Igreja era um espaço de relativa liberdade na Alemanha de Leste) e em 1965 começou o seu trabalho como pastor luterano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho educação mulher prisão social