BES procura investidor para salvar restaurantes Só Peso da falência
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-19
SUMÁRIO: A cadeia de restauração deve 14,5 milhões de euros, perdeu 12 lojas e quase 250 trabalhadores. Agora precisa de um novo investidor, que poderá ser angolano. Decisão será tomada no dia 26.
TEXTO: Os 19 restaurantes da cadeia chegaram a facturar 14, 8 milhões de euros e a dar emprego a 348 pessoas. Mas, dentro dos espaços que explorava nos maiores centros comerciais do país, as mesas começaram a ficar vazias, fruto da queda no consumo, e precisamente numa altura em que a empresa se viu a braços com um grande investimento. A Só Peso, que tem como grande accionista a ES Capital, do Banco Espírito Santo (BES), luta agora para evitar a falência e é provável que isso signifique que passará a contar com capitais angolanos. Esta poderia ser uma história como tantas outras, no fragilizado sector da restauração. Mas esta cadeia tinha a solidez financeira e a reputação que muitas não alcançam. Começou a dar os primeiros passos em 1997 e, ano após ano, montou uma rede de norte a sul do país, suportada no conceito de comida a peso. Mas o que um dia foi um exemplo de negócio está hoje nas mãos dos credores, acumulando dívidas de 14, 5 milhões de euros. A insolvência da Só Peso entrou no Tribunal do Comércio de Lisboa em Junho do ano passado, depois de o conselho de administração, em conflito, ter deliberado que esta era a única opção que restava à empresa. A explicação que reúne mais consenso gira à volta dos investimentos que foram feitos na cadeia, sem a necessária rentabilização. Mas para dois dos administradores, que renunciaram aos cargos, os motivos terão sido outros. Numa carta anexada ao processo, acusam a ES Capital (que detém directamente 9, 8% do capital e gere o fundo ES Iberia I, dono de mais 34% ) de agir "contra os interesses da sociedade". Muitos gastos, poucas vendasA tese não foi corroborada pelos restantes elementos da administração, que avançaram mesmo para a insolvência. A petição que entregaram ao juiz relata que o negócio corria de feição até 2009, quando a empresa chegou aos 19 restaurantes e empregava 348 pessoas. Até que, nesse ano, decidiu-se fazer um investimento "de grande volume" numa cozinha central que passaria a servir todas as lojas. A par desta decisão, que já por si significou um elevado esforço financeiro (suportado pela banca), a Só Peso ainda gastou mais 580 mil euros na abertura de novos estabelecimentos e numa remodelação de imagem. Quando a empresa fechou as contas desse ano, as vendas acumulavam já uma quebra de praticamente 5%, acompanhada por uma descida de 3, 3% no número de refeições servidas. Os novos restaurantes que abriu entre 2008 e 2010 revelaram ser más apostas. "Não obstante os sucessivos investimentos efectuados e campanhas de vendas implementadas, não foram rentáveis", explica-se no processo. O mesmo se passou com o projecto da cozinha central, face aos sucessivos decréscimos de receitas, que a administração atribui à crise e à consequente redução dos gastos das famílias. Apesar de ter iniciado uma reestruturação, a Só Peso chegou ao início do Verão de 2011 sem conseguir "gerar fundos suficientes para solver as obrigações vencidas" e requereu a insolvência, que acabou por ser decretada no início de Julho, com vista à recuperação. Desde essa altura, a cadeia encerrou a cozinha central e manteve apenas sete restaurantes abertos. A estrutura de pessoal está hoje reduzida a 103 pessoas. A viabilização da empresa foi aprovada pela maioria dos credores numa assembleia realizada em Setembro. Da lista de lesados fazem parte muitos bancos e também grandes empresas que forneciam a cadeia, como a Jerónimo Martins, a Sumol+Compal e a Unicer. O maior credor é o Banco Espírito Santo (BES), que reclama 8, 2 milhões de euros (1, 3 milhões dos quais via ES Capital). A Só Peso deve perto de 700 mil euros aos trabalhadores, mas teve um trunfo importante neste processo: não deve dinheiro ao Estado, que geralmente põe um travão aos planos de recuperação. Investidor precisa-seA administradora de insolvência nomeada para acompanhar o caso pediu 20 mil euros para desenhar o caminho para a salvação da cadeia. E os credores aceitaram. Dois meses depois da assembleia, as linhas estavam traçadas, apontando numa direcção que transformará por completo a Só Peso. O objectivo final é regressar aos lucros ainda este ano, chegando a praticamente 846 mil euros em 2023. Mas para que isso aconteça será necessário seguir à risca o plano, que tem como tarefas mais fáceis uma redução de 10% nos custos com pessoal e a necessidade de aumentos de eficiência nas sete lojas que restam. Um dos grandes desafios será sanear os créditos acumulados. É que a proposta implica um perdão da dívida, que no caso da banca chega a 50%, e uma dilatação dos prazos de pagamento até um máximo de dez anos. Além disso, a recuperação também tem uma condição implícita que não foi ainda resolvida: será necessário fazer um aumento de capital e alterar a composição accionista. E o novo investidor terá de entrar com, pelo menos, 500 mil euros. A ausência de um nome definitivo fez com que a assembleia que ia votar este plano fosse adiada para dia 26 de Março. Ao PÚBLICO, fonte do escritório da administradora de insolvência avançou que é o BES que está a negociar com potenciais interessados e que o mais certo será a entrada de um investidor angolano. O banco não respondeu às questões enviadas, até ao fecho desta edição.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal consumo