"Há dezenas de médicos a emigrar por causa das medidas do Governo"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-07-07
SUMÁRIO: Depois dos cortes nos salários e subsídios, os médicos confrontam-se agora com contratos de prestação de serviços mal pagos que levaram ao limite a indignação da classe. O bastonário diz que a greve era inevitável. E irreversível.
TEXTO: Há ano e meio à frente da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, 52 anos, tem assumido a primeira linha da contestação às políticas do Governo no sector da Saúde. Acusa o actual elenco de estar a tomar "decisões particularmente gravosas" que põem em causa o Serviço Nacional de Saúde. E aliou-se aos sindicatos na mobilização para a greve de dois dias na próxima semana, a primeira em muitos anos no sector. A paciência, avisa, esgotou-se. Por que decidiu a Ordem dos Médicos participar activamente na mobilização para a greve da próxima semana?Perante a decisão dos sindicatos, a Ordem poderia alhear-se ou dar atenção ao processo. E nós consideramos que o momento da Saúde em Portugal é tão grave que tínhamos a obrigação de, no cumprimento das funções delegadas pelo Estado, defender a qualidade do Serviço Nacional de Saúde [SNS] e da prestação de cuidados aos doentes. Mas essa não é uma competência dos sindicatos?Todas as organizações médicas estão envolvidas e não há nenhuma que não tenha manifestado a sua adesão à greve. A Ordem, por ter uma visibilidade diferente, tem apenas mais impacto público. O que está a levar hoje ao descontentamento dos médicos?Penso que as últimas notícias sobre a contratação de enfermeiros e nutricionistas permitem perceber com mais facilidade o que se está a passar, e que é um dos aspectos que motivaram a convocação da greve pelos sindicatos. É apenas um, num total de 19: o primeiro é a defesa do SNS e da qualidade da medicina portuguesa. Mas se contratarmos profissionais de saúde com um vencimento inferior ao de uma empregada doméstica, toda a gente percebe que assim é impossível manter a qualidade do SNS. Os portugueses já têm dificuldade de acesso aos médicos e estes estão a emigrar. E obviamente que medidas como a desvalorização dos salários só vão aumentar o fluxo migratório dos médicos. Estamos a falar de técnicos altamente especializados, e outros países europeus têm vindo a Portugal activamente contratar médicos portugueses. É um erro estratégico em termos económicos e de saúde. É preciso criar condições aos profissionais de saúde para se fixarem em Portugal e servirem os doentes portugueses. E isto não está a acontecer com este Governo. Sabe quantos já emigraram?Não temos estatísticas, mas estão a emigrar às dezenas. E cada vez mais. Os jovens que estão a terminar os cursos começam a procurar activamente vias profissionais na Europa, Estados Unidos, Austrália, Canadá, até para fazerem a especialidade. Esta era uma realidade que não acontecia, excepto em situações pontuais. E agora está-se a transformar numa realidade diária. Na actual conjuntura do país, acha que o Governo pode dar outras condições aos médicos?Temos de definir qual a estratégia que queremos para o país. Se queremos uma desvalorização salarial excepcional, que vai pôr em causa as condições de trabalho e obrigar os jovens a emigrar cada vez mais, ou se as opções devem ser outras. Tal como muitos disseram há um ano, a estratégia baseada na desvalorização salarial e no aumento de impostos só conduz ao desastre. Qual era a alternativa?Temos de mudar a estratégia do país. E eu ainda não vi a cultura de governação que levou o país à bancarrota ser modificada. Temos agora alguns pequenos processos de combate à fraude e à corrupção, mas a verdadeira fraude, e a promiscuidade entre economia, política e banca, nada disso foi modificado. Os factores que nos levaram à situação actual claramente não foram corrigidos. A sociedade portuguesa tem de se mobilizar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura doméstica