2012: Ano bom para ver os The Cure
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2012-07-16
SUMÁRIO: Num Optimus Alive cada vez mais um festival de atracção internacional – são dezenas as nacionalidades a distribuir por vários milhares de espectadores importados –, a segunda noite ficou marcada por um belo regresso dos The Cure a Portugal e por dois monumentais concertos de Lisa Hannigan e The Antlers.
TEXTO: Estava lá, discreta, colada na guitarra de Robert Smith: “2012: citizens not subjects”. Desde Woody Guthrie e a sua famosa “this machine kill fascists” que a guitarra, mesmo silenciosamente, tem dado corpo à manifestação política. Ontem, com os The Cure, no Alive, a política ficou-se por aí, num longo concerto de três horas que ajudou a esquecer a má memória da passagem pelo Sudoeste em 2002. Nessa altura, a insistência em novo reportório e em momentos mais obscuros da sua carreira abrira um fosso entre o público festivaleiro e a legião de fiéis: os primeiros bocejaram de tédio, os segundos deliraram como sempre. “2012: inteligentes não displicentes”, assim foram os The Cure de sábado no Alive, gerindo melhor esse equilíbrio e só episodicamente perdendo a mão no rumo do concerto. Logo com o trio de arranque, resgatado ao clássico "Disintegration" ("Plainsong", "Pictures of You" e "Lullaby"), estava claro que a pop gótica e encharcada em melancolia de Robert Smith não se transformara num penoso espelho do passado. A voz de Smith, aliás, soa hoje tal como há 20 anos. A primeira hora de concerto passou ainda por "High", "Mint Car", "In Between Days" e "Just Like Heaven", e nessa mesma sequência, "Lovesong" (também de "Disintegration") ressoaria a confissão emocionada ao ouvirmos Smith cantar “you make feel like I’m young again”. Passada essa primeira viagem por alguns dos melhores momentos da banda, a intensidade começava a esbater-se. Instalava-se, temporariamente, um torpor bastante familiar do palco principal naquele dia. Os Morcheeba, repescados à última hora para substituir as cordas vocais adoentadas de Florence Welch e a sua Machine, tiveram o papel ingrato de subir ao palco com aquela postura acanhada de quem se apresenta numa festa sem ter sido convidado. Foi a escolha possível – não estando disponível outra seguidora de Kate Bush – dentro de uma pop realmente popular e em sentido lato, mas a actuação do grupo não descolou verdadeiramente, limitou-se a ser aquela coisa agradável e certinha, trip-hop, reggae e pop em versão delicodoce que sempre que lhes conhecemos. Decidimos então ir espreitar Tricky, carburador mor do trip-hop. Tricky apresentou-se, afinal, sem Martina Topley-Bird, a voz que o ajudara a pôr de pé o clássico "Maxinquaye" – a revisão integral do álbum era, aliás, o motivo primeiro para este concerto. Mas as voltas trocadas aos planos de Tricky não desnortearam o concerto. "Black Steel" apresentou-se garbosamente crua, "Ace of Spades" dos Motörhead foi alvo de uma interpretação de trituradora punk em ritmo de festa (com o palco subitamente ocupado por um público em delírio) e o homem de Bristol deixou claro que mesmo fazendo pouco mais do que mostrar o seu tronco desnudado e largar umas frases com voz de fim do mundo aqui e ali é o orquestrador de uma das mais fulgurantes obras da segunda metade dos anos 90. Um dia os blues foram isto. Esta carga ultra sensual e narcótica de música maquinal e vozes em estado de sobreexcitação sexual.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem sexual corpo