Lisboa pode voltar a ouvir música "devagar"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.30
DATA: 2012-07-21
SUMÁRIO: Passar uma noite a ouvir bem devagar Trovante, Tito Paris, Nancy Vieira, Bonga, Xutos e Pontapés, Elis Regina ou Teresa Salgueiro já é possível em Lisboa. A Ouvir Devagar é o novo espaço de encontro na LX Factory, onde se podem comprar e ouvir discos de música lusófona e “de proximidade”.
TEXTO: “Nunca encontrei um lugar semelhante. Com a Internet, não há o hábito de ir ouvir música a não ser ao vivo, por isso isto é inovador”, conta o pianista norte-americano, Kent Quener de 26 anos, que visita pela primeira vez o espaço. Foi de uma conversa entre amigos que surgiu a Ouvir Devagar. Júlio Pereira teve a ideia e José Pinho, proprietário da livraria Ler Devagar, na Lx Factory, na zona de Alcântara, em Lisboa, tinha o espaço ideal: uma antiga rotativa. A discoteca funciona no primeiro andar da máquina onde outrora se imprimiam jornais e que serve de estrutura à livraria. “Tentámos que esta não fosse uma loja tradicional, mas um local onde se privilegia o tempo para se estar e para se ouvir música”, explica Júlio Pereira que acrescenta que na loja se pode encontrar desde fado, jazz e poesia a música erudita, infantil, instrumental ou improvisada. A prioridade é dar a conhecer música feita por portugueses, cantada ou não em português. “O que mais me fascina é poder dizer ‘Isto é muito bom e é nosso’. É o concretizar do orgulho nacional através da música”, afirma Sofia Santos, 26 anos, que abraçou o projecto com Júlio Pereira e se dedica à gestão diária da Ouvir Devagar. A discoteca inclui ainda lusofonias (música brasileira e africana) e “música de proximidade”, que engloba Espanha, “porque, em termos musicais, não nos podemos afastar de Espanha”, explica Júlio. O próprio espaço da Ouvir Devagar é um dos principais atractivos para o público. As luzes cor-de-laranja e o cinzento das estruturas de ferro ou o chão metalizado do corredor ocupado pela loja ainda deixam antever a agitação dos tempos em que os jornais eram impressos. No entanto, agora, Júlio procurou que o ambiente convidasse à descontracção de uma escuta demorada. Para tal, convidou um designer e, aos poucos, o espaço foi ganhando forma. No chão colocaram-se guitarras pintadas de branco e nas paredes penduraram-se as capas dos álbuns, imediatamente acima dos expositores minimalistas que conferem contemporaneidade à discoteca. O ambiente nocturno do Lx Factory entra pelas altas janelas da loja e incide directamente sobre as mesas e sofás como aquele onde Paula Freitas, 54 anos, está sentada. Com os auscultadores colocados, manuseia tranquilamente a capa de um CD de fado. À sua frente, numa mesa de apoio, livros de diferentes estilos musicais reflectem a tentativa do projecto aliar a música ao conhecimento. “Encontro diversidade sem ter de mudar de sítio. Entre livros e música, estou confortável”, afirma. De terça a sábado, a partir das 18h e domingos, a partir das 11h é possível visitar a Ouvir Devagar e, por vezes, assistir a actuações musicais. Nos próximos dias, a discoteca vai receber artistas como António Pinto Vargas, Filipe Raposo e Carlos Barreto. Desta vez, Paula vai levar aquele CD de fado. Porém, daqui a uns dias, num outro encontro com a música e com amantes da música, pode levar outro qualquer ou simplesmente vir ouvir música devagar. “Porque este é sempre aquele sítio onde nos vamos encontrando e eu acho bom haver sítios onde as pessoas se possam encontrar”, remata Júlio.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave infantil