A mexicana Nayeli Manzano já tem um papel e já pode sentir-se americana
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-18
SUMÁRIO: Milhares de filhos de imigrantes ilegais começaram a candidatar-se ao programa antideportação de Obama. De fora ficarão ainda 6,8 milhões de indocumentados.
TEXTO: Em Los Angeles, Chicago, Detroit, Atlanta, Nova Iorque, Washington e por todo o país, milhares de pessoas que nasceram no estrangeiro mas cresceram nos Estados Unidos não desperdiçaram a oportunidade para reclamar a sua plena integração na sociedade americana, a única que muitos deles - salvadorenhos, etíopes ou tailandeses - conhecem e que ainda os marginaliza sob o estigma de "imigrante ilegal". No dia em que entrou em vigor a nova política antideportação desenhada pelo Presidente Barack Obama em Junho, as filas para a apresentação de candidaturas serpenteavam por quarteirões nas grandes cidades americanas. O programa permitirá a legalização de milhares de indocumentados que cumpram critérios como: terem entre 15 e 31 anos de idade, terem vivido continuamente nos Estados Unidos há mais de cinco anos, frequentarem a escola ou terem um diploma do ensino secundário ou equivalente e nunca terem enfrentado acusações criminais - estima-se que cerca de dois milhões de residentes possam ser abrangidos. Em Chicago, mais de dez mil pessoas acorreram ao Navy Pier para preencher as candidaturas, disse a Illinois Coalition for Immigrant and Refugee Rights. Aos 16 anos, a mexicana Nayeli Manzano tem dificuldade em identificar-se com o seu país de origem: a única realidade que conhece é a americana. "Vim do México quando ainda era uma criança, e para mim todos os costumes e tradições são os dos EUA. A única coisa que me impedia de sentir-me americana era uma folha de papel como esta", explicava à cadeia televisiva WLS de Chicago, apontando para a sua candidatura. "Esta folha faz toda a diferença na minha vida. "Crescencio Calderón, um jovem de 21 anos nascido no México, encontrou uma fila formada quando chegou à porta de uma organização de apoio a imigrantes em Los Angeles, pouco depois das cinco da manhã. O estudante universitário, que pretende enveredar por uma carreira jurídica, notava que a adesão ao programa lhe concedia uma segurança que o seu pai, jardineiro, nunca experimentara. "Esta é a chave para abrir a porta das oportunidades", dizia, "esta é a mudança em que podemos acreditar", referindo-se ao slogan da campanha presidencial de Barack Obama em 2008. Não existem números oficiais, mas projecções consensuais apontam a existência de pelo menos onze milhões de trabalhadores indocumentados nos Estados Unidos, 15% dos quais terão o direito a um visto de residência e trabalho se cumprirem os requisitos do programa. Cerca de sete em dez dos possíveis candidatos são provenientes do México; 20% são originários de outros países da América Central e do Sul; 8% nasceram na Ásia e apenas 2% terão imigrado a partir da Europa. De fora ficarão ainda 6, 8 milhões de pessoas, imigrantes que deram entrada nos Estados Unidos depois dos 16 anos ou que já têm mais de 31 anos. É o caso de Elsi Hernandez, que descobriu enquanto preenchia os papéis num centro de apoio de Washington que por uma questão de meses ficaria excluída. Hernandez, de 25 anos, terminou o liceu em 2008 e espera, um dia, estudar numa universidade americana - mas o facto de ter chegado de El Salvador com 17 anos obriga-a a procurar outra maneira para escapar da clandestinidade em que vive. Quando foi anunciado, o programa foi interpretado pelos analistas como uma brilhante cartada política do Presidente, uma manobra destinada a garantir a Obama a reeleição, apesar de - ironicamente - nenhum dos beneficiários da medida obter o direito ao voto nas presidenciais de Novembro. O candidato democrata deverá conquistar a esmagadora maioria dos votos do chamado "bloco latino", que é a força eleitoral em maior crescimento nos Estados Unidos mas também uma das que mais tende à abstenção.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA