Pussy Riot: A única banda que interessa este Verão
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-18
SUMÁRIO: As Pussy Riot são - e tomando momentaneamente de empréstimo um dos lemas dos Clash - a única banda que realmente interessa. Quase não importa o que diz o tribunal. As três mulheres das Pussy Riot - um explosivo e irritante cruzamento entre um grupo musical e um anónimo movimento de dissidentes russos - já conseguiram, de uma maneira muito significativa, vencer a farsa de julgamento a que estão a ser sujeitas em Moscovo (e cuja sentença será conhecida dia 17). Cada dia do seu julgamento por "vandalismo motivado por ódio religioso" chamou a atenção da comunidade internacional para a repressão paranóica na Rússia de Vladimir Putin.
TEXTO: As Pussy Riot entalaram Putin nos cornos de um dilema: ou o seu Governo condena a banda e aumenta ainda mais o seu estatuto de mártires, ou recua e reconhece que acusar o trio mascarado devido a um cacofónico protesto musical na Catedral de Cristo Salvador que chamou a atenção da aliança da Igreja russa com o regime de Putin terá sido sempre um erro. Três dos cinco membros da banda enfrentam agora a possibilidade de passar sete anos na prisão, o que está a causar um inesperado repúdio internacional. Na semana passada, antes de um encontro com o primeiro-ministro britânico David Cameron, Putin terá admitido que preferia recuar. Isto é algo que não era suposto acontecer. Para começar, os dissidentes não se dão bem na Rússia "putinista"; depois, o punk rock - o filho ilegítimo, mais sujo, mais esperto e mais irritante do rock"n"roll - normalmente não vence. O movimento punk tem um longo historial de aspirações a rebentar com governos corruptos e autoritários, multinacionais e outras estruturas de poder internacional. Mas não tem um longo historial de sucessos. Assim, o punk rock decidiu-se por objectivos políticos mais atingíveis, menos globais: normalmente, protestos localizados e atrair atenções e despertar consciências. As Pussy Riot, que ainda há poucos meses eram um grupo obscuro, são agora um fenómeno internacional: as três detidas foram consideradas prisioneiras de consciência pela Amnistia Internacional e a banda tornou-se o ai-jesus dos intelectuais russos, que há tanto tempo sofrem e que agora se juntaram em defesa das três artistas. E se bem que ninguém fale do grupo pela sua música, uma olhadela para a história dos anteriores sucessos geopolíticos do punk rock mostra que as Pussy Riot já os ultrapassaram - e talvez tenham dado ao punk rock um futuro como uma força global para a justiça e a liberdade. Não demorou muito até o que o punk se afastasse do niilismo sem futuro dos Sex Pistols, o lendário grupo inglês da segunda metade dos anos 70 que basicamente iniciou o punk rock. Os Clash rapidamente viraram a atenção do punk para lutas globais. Joe Strummer, uma das forças criativas dos Clash, colocou o punk rock a cantar acerca da Guerra Civil de Espanha, as classes exploradas da Jamaica, o martírio do poeta de esquerda chileno Victor Jara, e mesmo, num disco intitulado Sandinista!, sobre as vítimas do comunismo soviético e chinês. Na Irlanda do Norte, os seus contemporâneos Stiff Little Fingers cantaram o aparecimento de um tipo diferente de revolta - a banda chamou-lhe uma "força anti-segurança", dado que o grupo se opunha às milícias locais que apoiavam os britânicos - em Alternative Ulster. O punk fracturou-se em incontáveis subgéneros obscuros e espalhou-se a nível mundial, mas um tema comum manteve-se: resistência face ao poder global arbitrário e brutal, algo que pode ser percebido em todo o lado, desde o punk "crust" dos britânicos Discharge ao hardcore melódico dos canadianos Propagandhi e ao folk abrasivo dos Against Me!, da Florida. O punk canalizou a angústia juvenil para um catecismo antiguerra, antigoverno e anticapitalismo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filho prisão chinês