Quando o divórcio dos pais separa avós e netos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-20
SUMÁRIO: Fernanda, de 65 anos, tem uma neta de seis anos que nunca viu. O filho e a mulher divorciaram-se e ela não chegou a conhecer a mais nova de três netos. Teresa, de 73 anos, tem uma neta adolescente que se esforçou por ir vendo, mas as dificuldades que enfrentou foram tantas que hoje sente que a adolescente a vê como uma estranha. Ivone, de 62 anos, perdeu um filho e, depois da morte dele, foi cada vez mais complicado estar com os netos. Hoje vivem no estrangeiro com a mãe e há mais de um ano que Ivone nada sabe deles.
TEXTO: Uma das consequências mais silenciosas dos divórcios em que os pais não se entendem é o afastamento entre as crianças e os avós de um dos lados da família. Para além dos divórcios, há casos em que a morte de um dos cônjuges também pode conduzir a essa separação. "Os meus netos cresceram longe de mim", diz Fernanda, uma antiga empregada de escritório agora reformada. Hoje, após o divórcio dos pais das crianças, vê o neto mais velho e a do meio de 15 em 15 dias. A mais nova nunca a viu: "Tem agora seis anos, não a conheço", lamenta. A relação, marcada pelos desentendimentos entre os pais das crianças, com sucessivas idas a tribunal, não ajudou na criação de laços: entre os 17 meses e os oito anos do neto mais velho, Fernanda nunca o viu. A neta do meio, que Fernanda só conheceu quando ela tinha sete anos, nem lhe chama avó, apenas "a mãe do pai". "Nunca me abraçam com ternura", admite. Alguns avós nesta situação contactados pelo PÚBLICO não quiseram dar um testemunho. Dizem-se cansados e arrasados psicologicamente. Alegam que estão fartos de lutas, de idas a tribunal, que já não lhes apetece repetir até à exaustão as mesmas histórias. Alguns desistem. Outros não baixam os braços e socorrem-se de advogados ou contactam associações. Mas o sentimento de desânimo é frequente. Alguns falam numa "catástrofe" que lhes aconteceu e "dá cabo" deles. "O meu filho e a minha nora separaram-se seis meses depois de a menina nascer, embora o divórcio só ficasse oficializado dois anos depois. Eles não se entendem. Andam sempre em tribunal. E eu estou cansada e triste", admite Teresa. Apesar de cada testemunho ter contornos próprios, em comum têm inúmeros episódios familiares conturbados: pais que não se entendem, acusações mútuas, sogros, genros e noras que se defendem como podem. Fernanda admite que é difícil, mesmo para os avós, lidar com um divórcio em que os pais ficam de costas voltadas. Mas ressalva: "As crianças não têm de ser penalizadas porque os adultos não se entendem, porque fazem mal uns aos outros, porque simplesmente não gostam uns dos outros". Justiça lentaO caso de Ivone, também empregada de escritório reformada, é diferente. O filho morreu e, a partir de então, começou a ver cada vez menos os netos. Já recorreu a psicólogos para os desabafos e a advogados para as questões jurídicas. Apesar de já quase não acreditar em nada nem ninguém, mantém viva uma pequena esperança de voltar a ver os netos, que foram viver para o estrangeiro com a mãe. Ivone nem sabe exactamente onde - há um ano que não tem notícias deles: "Sinto-me revoltada, impotente. Revoltada com a sociedade, com os tribunais. . . Mas não perdi a esperança de ver os meus netos", diz. Fernanda, por exemplo, explica que a sua situação era dificultada pelo facto de tanto ela como o filho trabalharem numa empresa na qual o sogro pertencia ao conselho de administração: "Tive sempre medo de falar", justifica. Apesar de defender que a mãe das crianças "não tem o direito" de lhe "tirar" os netos, limita-se a aguardar que os pais consigam chegar a consensos e tudo se componha: "Os pais andam sempre em tribunal, mas eu tenho esperança que tudo se resolva pelo melhor um dia. Sei que há uma lei que protege os avós, mas nunca me quis meter nisso. Tive receio de prejudicar a relação dos pais, que fosse mau também para as crianças, e tinha medo que eu e o meu filho perdêssemos o trabalho".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte lei filho tribunal medo divórcio