O Líbano está a ser sugado para a voragem da guerra civil da Síria
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-29
SUMÁRIO: Trípoli é uma Síria em miniatura, onde milícias sunitas e alauitas se enfrentam, reproduzindo a luta contra o regime de Assad. O perigo é que o pesadelo se alargue ao resto do país.
TEXTO: Crepita o fogo de metralhadora do miliciano alauita escondido num bloco de apartamentos empilhado bem alto na montanha onde mora. Por baixo - numa rotunda desprovida de trânsito - uma mulher junta os filhos sob o seu casaco e corre para trás de uma carrinha. Um velho homem coxeia - sem pressa - para fora da montra de uma loja e entra na seguinte. Um combatente sunita, de uniforme preto e com uma AK-47 debaixo do braço, rodopia na ponta dos pés, tentando sair do ângulo do atirador, a sua cara está suada de medo. Mais uma rajada de metralhadora e acampa debaixo de um camião. Um veículo blindado de transporte de tropas passeia ociosamente. Poderia ser em Damasco, em Alepo ou em qualquer outro lugar da Síria - ou pelo menos em qualquer lugar da Síria até há poucos meses. Mas é em Trípoli, a segunda maior cidade do Líbano, a 80km de Beirute. E é provavelmente o buraco por onde a guerra na Síria vai entrar no Líbano. Trípoli está pronta para essa entrada. De todas as cidades libanesas, é a que mais se assemelha à Síria. O seu meio milhão de gente está dividido entre uma maioria muçulmana sunita e uma minoria alauita, tal como a Síria. E, como na Síria, estas comunidades são firmes nas suas alianças políticas. A maior parte dos alauitas apoia o regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, e a implacável repressão contra toda e qualquer oposição. Os sunitas, na sua maioria, apoiam o Exército Livre da Síria e a resistência armada síria, incluindo os islamistas, e querem Assad morto. Não é que este partidarismo seja expresso em linguagem sectária. Pelo contrário, trata-se de um raciocínio sobre pátria, autodefesa e comunidade. "Estou apenas a defender o meu bairro", diz Abu Mahmoud. "Ninguém devia poder chegar aqui e ameaçar-nos. Não vamos esperar que alguém nos venha proteger. Temos de nos proteger a nós próprios. "Abu Mahmoud é um combatente do bairro sunita de Bab al-Tabanah, em Trípoli. Usa um quasi-uniforme, vestido de preto e com uma fita na cabeça que diz "Somos os teus soldados, Mohammed". Transporta um walkie-talkie. Na última semana, ele e os seus amigos guerrilheiros sunitas têm estado envolvidos numa feroz guerra de rua com as milícias alauitas. No sábado, pelo menos 16 foram mortos e 120 ficaram feridos, incluindo 11 soldados. As armas usadas incluíram morteiros, rockets e até mísseis antitanque. Mas os mais mortíferos foram os atiradores furtivos: dezenas de pessoas, incluindo civis, foram mortas ou feridas no fogo cruzado. O nome de uma ruaForam feitas tentativas de cessar-fogo, mais por cansaço do que por algum entendimento que levasse ao fim da violência. Poucos esperavam que durassem. Uma fonte achava que provavelmente haveria uma escalada dos combates. Assim foi. Na sexta-feira, retomara-se as hostilidades entre os sunitas de Bab al-Tabanah e os alauitas das áreas de Jebel Mohsin, deixando três mortos, incluindo um alegado comandante islamista. Sete lojas alauitas foram incendiadas por homens armados mascarados que fontes locais dizem ser membros dos grupos salafistas da linha dura. Entre os episódios de guerra, a população de Trípoli emerge dos seus bunkers, caves e abrigos improvisados para a luz do dia. Os membros das milícias enfaixam as suas feridas. As mulheres fazem compras nas mercearias, e as famílias fazem regressos precários às suas casas destruídas nas batalhas. Os habitantes juntam-se na Rua da Síria. Durante a paz, esta rua atravessa os bairros sunitas e alauitas. Na guerra é a linha da frente, um facto comprovado pelas ruas laterais devoradas pelas cicatrizes de balas e alvenaria derrubada. Trípoli mergulhou na guerra de guerrilha sectária pelo menos três vezes este ano - em Janeiro, em Maio e em Junho. Em comparação, como foi Agosto?
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE