Série Mar Português: Pode Portugal ser um imenso país do surf?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.400
DATA: 2012-09-29
SUMÁRIO: "O investimento está feito. Os estádios estão aí - e movem-se", diz Tiago Pires, o único português entre os grandes do circuito mundial do surf. Os "estádios" são as ondas, que, em Portugal, têm uma diversidade excepcional, reconhecida por todos. Há uma estratégia nacional para o surf?
TEXTO: Portugal tem a maior (até agora) onda surfável do mundo, na Nazaré, com direito a referência no Guinness. Tem uma costa com ondas de excepcional qualidade e variedade. Tem, na Ericeira, uma das raras reservas mundiais de surf. E um número cada vez maior de praticantes (só a Federação Portuguesa de Surf tem 11 mil inscritos). Os estrangeiros chegam também cada vez mais, com as pranchas debaixo do braço. E as escolas multiplicam-se - são já perto de 150. De Verão e de Inverno, o mar português enche-se de figuras vestidas de negro a surfar as ondas. O surf é um negócio que cresce - e tem potencial de crescer muito mais. Mas sabemos o que fazer com ele? Estava prevista a construção de sete Centros de Alto Rendimento para preparar atletas nesta modalidade. Só deverão avançar quatro. Tiago Pires, o "Saca", único português no circuito mundial, acha que mesmo assim são muitos. Fomos tentar perceber o que o país pode fazer com as suas ondas. É preciso descer até à praia de Ribeira de Ilhas e esperar que termine a aula de surf, para conseguir falar com Ulisses Reis, surfista há muitas décadas e hoje proprietário de uma escola de surf, uma guest house e uma loja de aluguer de equipamento na Ericeira. Sai da água, rodeado pelos alunos, muitos dos quais estrangeiros, carregando as suas pranchas, e enquanto despe o equipamento propõe uma conversa na sua guest house. Aí fala das mudanças a que assistiu nos últimos 34 anos na Ericeira. "Deixou de ser uma vila piscatória para se transformar numa cidade de surf, devido à qualidade das suas ondas", conta. "Nós começámos com a escola no surf camp de Ribeira de Ilhas, e, no início, muito com os portugueses. Hoje temos um nível elevadíssimo de turistas noruegueses, franceses, espanhóis, finlandeses. Entre Junho e fins de Setembro, temos um turismo mais de famílias, de pessoas que vêm aprender. A partir de Setembro, já é um nível mais avançado, desde holandeses a alemães, que já querem ondas maiores e uma qualidade de surf superior. "De uma coisa, Ulisses não tem dúvidas: "A Ericeira é actualmente um dos melhores sítios para o surf da Europa". As pessoas que hoje vêm para aqui - e sobretudo agora, que a zona foi classificada como Reserva Mundial de Surf -, vêm sobretudo por causa das ondas. "Podem vir passear, mas vão ter sempre uma aula, alugar uma prancha, comprar alguma coisa nas lojas de surf. Já não é o "vamos ver o barquinho de pesca e os pescadores". Isso acabou. "Negócio pode render três mil milhões de euros por anoOs estrangeiros já sabem que Portugal é um excelente destino para os surfistas: boas ondas, muita diversidade, praias a pouca distância umas das outras, o que permite que, se as condições não forem as ideais numa, se mude para outra. O número de escolas de surf também não tem parado de aumentar, e com elas as lojas e todo o negócio em torno deste desporto, que, diz um estudo elaborado em 2009 por Pedro Bicudo e Ana Horta, ambos do Instituto Superior Técnico, poderia render três mil milhões de euros por ano no sector do turismo. E até surgiu, este ano, um festival de cinema de surf, o SAL, que, durante alguns dias de Junho, encheu o Cinema São Jorge, em Lisboa, de pranchas de surf e imagens de ondas. "Lisboa é uma capital europeia com proximidade do mar. Fazia todo o sentido que tivesse um festival como este", dizem os organizadores, Luís Nascimento e Ricardo Gonçalves, eles próprios surfistas há muitos anos. Num dos vídeos de apresentação do festival, um rapaz viaja por Lisboa, de eléctrico, e acaba no Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, de prancha debaixo do braço.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola negro estudo