Centro de Artes Culinárias luta pela sobrevivência e procura apoios num jantar da vindima
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2012-10-02
SUMÁRIO: Aninhadas dentro dos cestos, em cachos perfeitos, as uvas parecem todas iguais. A única diferença aparente é o facto de umas serem brancas e outras pretas. Mas é muito mais o que as distingue, é isso que a exposição das várias castas nacionais, no Centro de Artes Culinárias do Mercado de Santa Clara, em Lisboa, nos mostra, para começarmos a entender como é que de uvas como estas saem vinhos tão diferentes como um moscatel ou um vinhão.
TEXTO: Domingo à noite foi o jantar da Vindima de Portugal - Grande Adiafa (adiafa é a refeição dada aos trabalhadores depois de terminada a vindima), com que o Centro, ligado à Associação Idade dos Sabores, dirigida por Maria Proença, assinalou a época das vindimas e também o seu primeiro aniversário. A refeição, com o apoio do restaurante Casanostra, foi inspirada nas uvas: depois de uma sopa da vindima, houve risotto de uvas, língua de vaca com uvas, porco com uvas e vinho do Porto, e várias sobremesas à base de uvas. O anúncio do jantar vinha acompanhado de uma informação, explicando que este se destinava à "angariação de fundos que permitam dar continuidade às actividades". O ano que passou não foi fácil, reconhece Maria Proença, embora faça um balanço positivo. Mas, com um apoio inicial de cinco mil euros, há ainda despesas de investimento que não foram pagas e iniciativas como este jantar destinam-se a isso mesmo. Há um ano, na altura da inauguração do Centro com uma exposição intitulada Alfacinhas, o vereador da Câmara de Lisboa com o pelouro dos mercados, José Sá Fernandes, afirmava que este antigo mercado de Santa Clara, cedido pela câmara à Idade dos Sabores, constituía a primeira experiência de recuperação e renovação de um espaço que deixou de cumprir a sua função original de venda de frutas e legumes. A ideia era criar aqui um centro de artes culinárias, com actividades ligadas à gastronomia e à divulgação dos produtos nacionais. Sá Fernandes esteve domingo no jantar. Que balanço faz desta experiência? "O que esperamos, e acho que vamos conseguir, é que isto seja um dos sítios de referência da gastronomia e do produto português. Ainda não está em velocidade de cruzeiro, mas já aconteceram coisas que nos dão sinais de que é possível. "Para além da crise, a maior dificuldade, segundo Maria Proença, é conseguir visibilidade. "Os nossos meios são tão restritos, é tudo voluntariado e somos tão poucos que muitas vezes não fazemos metade do que queríamos". O balanço feito com a CML permitiu identificar alguns dos problemas, que Sá Fernandes promete ajudar a colmatar: sinalética que identifique o local e maior divulgação das actividades. Mas, sublinha o vereador, é necessário também que o centro tenha "actividades diárias, que atraiam um público português e estrangeiro". No último ano, o Centro organizou várias exposições com temas relacionados com os produtos da estação, das laranjas às castanhas, e utilizando a importante colecção de objectos ligados às práticas e tradições gastronómicas pertencente a Maria Proença. O objectivo principal é divulgar o trabalho dos produtores nacionais. "Não fomos atrás do lado gourmet", explica a responsável, "fomos à procura daquelas coisas que estavam em vias de desaparecer. O exemplo máximo são as peras passas, que estavam quase perdidas, porque só se pode fazer com uma qualidade de pêra que não se cultiva. Foi um sucesso enorme e foi o valorizar de um produto que pode voltar a ter alguma expressão. Isso é o mais gratificante. "O que não correu tão bem foram os cursos de cozinha. "As pessoas normalmente vão aos cursos dos grandes chefes, e a nossa aproximação às questões da culinária tem mais a ver com o conhecimento dos produtos, a sua diversidade, as tradições onde esses produtos se integram, as práticas e ritos alimentares", diz Maria Proença. E depois há o problema da disponibilidade financeira. "Os show cooking, que não são pagos, atraem imensa gente. " Outra expectativa que não se cumpriu foi a da investigação em torno dos produtos e tradições. "Isso pressupõe disponibilidade das pessoas, e não é fácil. "
REFERÊNCIAS: