Quatro ex-militares da Guatemala condenados a 6060 anos de prisão
Em Dezembro de 1982, foram assasssinados e deitados a um poço 201 camponeses da aldeia de Dos Erres, no Norte da Guatemala. Quatro militares acusados pelo massacre foram agora condenados a 6060 anos de prisão, numa sentença considerada histórica. (...)

Quatro ex-militares da Guatemala condenados a 6060 anos de prisão
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2011-08-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Dezembro de 1982, foram assasssinados e deitados a um poço 201 camponeses da aldeia de Dos Erres, no Norte da Guatemala. Quatro militares acusados pelo massacre foram agora condenados a 6060 anos de prisão, numa sentença considerada histórica.
TEXTO: A condenação foi anunciada nesta terça-feira: 30 anos de prisão por cada vítima, mais 30 por crimes contra a humanidade. Daniel Martínez, Manuel Pop, Reyes Collin e Carlos Carías deverão cumprir a pena máxima estabelecida pelo Código Penal da Guatemala, que é de 50 anos de prisão, mas foram simbolicamente condenados a 6060 anos. O tribunal considerou-os culpados pelo massacre que ocorreu na aldeia de Dos Erres, na região de Petén, no Norte da Guatemala, entre 6 e 8 de Dezembro de 1982, quando o país vivia uma guerra civil que se prolongou de 1960 a 1996. Ali foram assassinados 201 pessoas, incluindo mulheres e crianças, e os seus corpos foram atirados a um poço que a própria população tinha escavado para se abastecer de água. Os condenados estão já na reforma, mas eram na altura militares, dois deles das forças de elite do Exército guatemalteco. O tribunal considerou provado o seu envolvimento naquele que foi um dos massacres mais sangrentos dos anos em que o regime militar defrontou a guerrilha de inspiração marxista. Ao longo do julgamento foi reconstruída a história daqueles dias de violência. Vários sobreviventes contaram que um pelotão de soldados chegou à cidade e separou os homens das mulheres e crianças. Os primeiros foram torturados e depois assassinados, enquanto as mulheres e crianças foram fechadas numa igreja, conta o “El País” a partir dos relatos das testemunhas. Na igreja ouviam-se os gritos dos homens e os tiros. Depois foram buscar as mulheres e violaram-nas. Das crianças, só algumas conseguiram sobreviver. Todos os corpos foram atirados ao poço da aldeia. O horror daqueles dias foi recordado por sobreviventes, mas não só. O antigo membro das forças de elite do Exército guatemalteco, Flávio Pinzón Gerez, que tem hoje 57 anos e está refugiado no México, contou por videoconferência que um dos acusados, Manuel Pop, violou uma criança num matagal junto à aldeia. “Vinte minutos depois regressou e, depois de a decapitar, atirou-a ao poço”, contou. Na aldeia estaria um grupo de cerca de 40 soldados. O massacre terá sido uma vingança dos militares, que meses antes tinham sofrido em Dos Erres uma emboscada em que morreram 21 soldados, recorda o “El País”. Um antigo guerrilheiro contou ao diário espanhol ter ficado surpreendido com a emboscada porque Dos Erres até era considerada uma aldeia mais próxima do Exército. “Tínhamos medo de passar ali porque temíamos que nos denunciassem. ”Passaram 28 anos após o massacre, mas para que os responsáveis fossem julgados foi preciso esperar pelo fim da ditadura militar em 1985 e os acordos de paz de 1996. Na sala do Supremo Tribunal de Justiça da Guatemala a leitura da sentença foi recebida com aplausos de familiares das vítimas e activistas dos direitos humanos que acompanharam o julgamento. A guerra civil na Guatemala, que se prolongou por 36 anos e opôs a guerrilha marxista ao Exército e às milícias treinadas pelos militares, deixou mais de 200 mil mortos.
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Palavras-chave direitos homens guerra humanos violência tribunal prisão criança medo mulheres refugiado
O fim do regime deu novo fôlego à revolta dos tuaregues no Mali
Não é só na Líbia que os arsenais de Muammar Khadafi ajudam a espalhar violência. "O Mali assiste provavelmente às repercussões mais significativas da queda do regime do líder líbio", escreveu numa análise recente o grupo de segurança Stratfor. (...)

O fim do regime deu novo fôlego à revolta dos tuaregues no Mali
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2012-02-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é só na Líbia que os arsenais de Muammar Khadafi ajudam a espalhar violência. "O Mali assiste provavelmente às repercussões mais significativas da queda do regime do líder líbio", escreveu numa análise recente o grupo de segurança Stratfor.
TEXTO: O Presidente, Amadou Tourami Touré, admitiu as dificuldades que o seu Governo enfrenta face a esta rebelião reforçada, num discurso no início do mês. Touré falou depois de um grupo de rebeldes ter tomado a cidade de Aguelhoc, no Nordeste do país. O Exército, disse, "não está a ser capaz de entrar em Aguelhoc, onde há elementos da Al-Qaeda do Magrebe, um grupo de ex-combatentes da Líbia e um grupo de desertores bem posicionados". Se contarmos com a actual, o Mali já viveu quatro insurreições dos tuaregues nómadas do Norte desde a independência, em 1960. Mas pela primeira vez quem combate contra as forças do Governo tem ao seu dispor sistemas de lança-mísseis portáteis e rockets antitanques. Também parecem mais organizados e mais bem treinados do que no passado. Em Aguelhoc, segundo contou um soldado à Reuters, começaram por cercar a base local do Exército com metralhadoras montadas em jipes, destruindo em seguida as comunicações militares e as torres de telemóveis. Cortaram o fornecimento de água e montaram emboscadas às colunas de veículos que faziam o reabastecimento. "Tinham a vantagem de ser mais numerosos, estarem mais bem armados e terem melhor logística, incluindo telefones-satélite", descreve o soldado. "É a triste verdade. "Khadafi era acusado de ter dado apoio aos tuaregues do Mali e do Níger (os nómadas desta região estão espalhados ainda pela Argélia e pelo Burkina Faso, para além da própria Líbia) durante os anos 1990. Certo é que muitos tuaregues do Mali integravam há anos o seu Exército e que outros entraram no ano passado na Líbia, para defender o seu regime. Muitos regressaram a casa e atacam agora o Governo de Bamako, integrados ou não no Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), o nome da região onde vive a maioria dos tuaregues do Mali. O Governo de Bamako acusa o MNLA de ligações à Al-Qaeda do Magrebe, o que o grupo nega. "A situação é imprevisível e a instabilidade pode espalhar-se. Cidadãos individuais não têm sido alvos, mas o MNLA indicou através dos seus sites que tenciona conduzir operações militares por todo o Norte do Mali", descreve o Departamento de Estado norte-americano num aviso aos viajantes. Só desde Janeiro já morreram dezenas de pessoas em confrontos e os rebeldes dizem ter atacado e tomado seis localidades nas últimas semanas, incluindo na região de Timbuktu. Segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha, dez mil pessoas deixaram as suas casas no Mali e no Níger por causa dos confrontos recentes. Outras três mil fugiram da Mauritânia. "Alguns dos refugiados foram recebidos por aldeões, mas o espaço foi absorvido muito depressa", disse à CNN Jurg Eglin, que chefia as operações da Cruz Vermelha na região. "Os abrigos são muito básicos. Estas pessoas, muitas das quais são mulheres e crianças, enfrentam falta de comida e especialmente de água. "
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Palavras-chave mulheres
Crescente Vermelho sírio consegue entrar no bairro de Bab al-Amr
Há seis dias que as equipas humanitárias aguardavam autorização para entrar no bairro sírio de Bab al-Amr, em Homs, bombardeado durante um mês pelas forças leais a Bashar al-Assad. Nesta quarta-feira uma equipa do Crescente Vermelho pôde finalmente aceder ao bairro. (...)

Crescente Vermelho sírio consegue entrar no bairro de Bab al-Amr
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há seis dias que as equipas humanitárias aguardavam autorização para entrar no bairro sírio de Bab al-Amr, em Homs, bombardeado durante um mês pelas forças leais a Bashar al-Assad. Nesta quarta-feira uma equipa do Crescente Vermelho pôde finalmente aceder ao bairro.
TEXTO: A entrada em Bab al-Amr foi confirmada pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha, no dia em que a chefe do gabinete da ONU para as questões humanitárias, Valerie Amos, chegou à Síria para negociar a entrada da ajuda humanitária nas regiões mais afectadas pelos confrontos, uma semana depois de lhe ter sido negada a entrada no país. “Uma equipa do Crescente Vermelho entrou em Bab al-Amr”, confirmou à Reuters o porta-voz da Cruz Vermelha em Genebra, Hicham Hassan. Não se sabe ainda que quantidade de comida ou medicamentos foi levada para o bairro, considerado um bastião dos opositores sírios. A entrada da ajuda humanitária tem sido bloqueada pelas autoridades sírias, que os opositores acusam de ter estado, nos últimos dias, a eliminar vestígios do que aconteceu em Bab al-Amr, e que garantem ter sido um massacre. Jornalistas estrangeiros que se encontravam no bairro e já conseguiram escapar da Síria relataram bombardeamentos sistemáticos e indiscriminados. Segundo dados da ONU, a violência na Síria, que começou há um ano com a repressão por parte das forças do Presidente Bashar al-Assad contra manifestantes contra o regime, já causaram mais de 7500 mortos. O bairro de Bab al-Amr foi alvo de bombardeamentos durante 27 dias. E foi para Homs que Valerie Amos se deslocou para se encontrar com o responsável do Crescente Vermelho na Síria, Abdulrahman Attar. A responsável para as questões humanitárias da ONU esteve durante a manhã em Damasco, onde o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Walid Muallim, lhe garantiu que o Governo irá “cooperar e procurar ajudar os civis”, adiantou a agência estatal Sana. Nos próximos dias deverá também deslocar-se à Síria o enviado da ONU e da Liga Árabe, o antigo secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os refugiados, desde o último fim-de-semana mais de 1500 pessoas, grande parte mulheres e crianças, fugiram da região de Homs e atravessaram a fronteira para o Líbano para fugir à violência. De várias regiões do país continuam a chegar relatos de repressão. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, nesta quarta-feira a violência causou mais sete mortes nas cidades de Idlib e Aleppo, no Norte do país.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Valerie Amos e Crescente Vermelho sírio entraram no bairro de Bab al-Amr
Há seis dias que as equipas humanitárias aguardavam autorização para entrar no bairro sírio de Bab al-Amr, em Homs, bombardeado durante um mês pelas forças leais a Bashar al-Assad. Nesta quarta-feira a responsável da ONU para os assuntos humanitários e uma equipa do Crescente Vermelho puderam finalmente aceder ao bairro. (...)

Valerie Amos e Crescente Vermelho sírio entraram no bairro de Bab al-Amr
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há seis dias que as equipas humanitárias aguardavam autorização para entrar no bairro sírio de Bab al-Amr, em Homs, bombardeado durante um mês pelas forças leais a Bashar al-Assad. Nesta quarta-feira a responsável da ONU para os assuntos humanitários e uma equipa do Crescente Vermelho puderam finalmente aceder ao bairro.
TEXTO: A entrada em Bab al-Amr foi confirmada pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha, no dia em que a chefe do gabinete da ONU para as questões humanitárias, Valerie Amos, chegou à Síria para negociar a entrada da ajuda humanitária nas regiões mais afectadas pelos confrontos, uma semana depois de lhe ter sido negada a entrada no país. Valerie Amos deslocou-se ao bairro de Bab al-Amr acompanhada por membros do Crescente Vermelho sírio. Ficaram no local cerca de 45 minutos, adiantou o porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha Hicham Hassan. "Verificaram que grande parte dos habitantes deixaram o local para sítios que já foram visitados pela Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho na semana passada", adiantou. Não foi ainda levada comida ou medicamentos para o bairro, considerado um bastião dos opositores sírios. Após a visita, a porta-voz de Valerie Amos, Amanda Pitt, disse aos jornalistas que a responsável da ONU para as questões humanitárias encontrou o bairro de Bab al-Amr "bastante devastado" pelos bombardeamentos. "A segurança continua a ser uma preocupação, obviamente. Eles ouviram tiros enquanto lá estavam", adiantou Pitt. A entrada da ajuda humanitária tem sido bloqueada pelas autoridades sírias, que os opositores acusam de ter estado, nos últimos dias, a eliminar vestígios do que aconteceu em Bab al-Amr, e que garantem ter sido um massacre. Jornalistas estrangeiros que se encontravam no bairro e já conseguiram escapar da Síria relataram bombardeamentos sistemáticos e indiscriminados. Segundo dados da ONU, a violência na Síria, que começou há um ano com a repressão por parte das forças do Presidente Bashar al-Assad contra manifestantes contra o regime, já causou mais de 7500 mortos. O bairro de Bab al-Amr foi alvo de bombardeamentos durante 27 dias. E foi para Homs que Valerie Amos se deslocou para se encontrar com o responsável do Crescente Vermelho na Síria, Abdulrahman Attar. A responsável para as questões humanitárias da ONU esteve durante a manhã em Damasco, onde o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Walid Muallim, lhe garantiu que o Governo irá “cooperar e procurar ajudar os civis”, adiantou a agência estatal Sana. Nos próximos dias deverá também deslocar-se à Síria o enviado da ONU e da Liga Árabe, o antigo secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os refugiados, desde o último fim-de-semana mais de 1500 pessoas, grande parte mulheres e crianças, fugiram da região de Homs e atravessaram a fronteira para o Líbano para fugir à violência. De várias regiões do país continuam a chegar relatos de repressão. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, nesta quarta-feira a violência causou mais sete mortes nas cidades de Idlib e Aleppo, no Norte do país. Notícia actualizada às 21h50 com declarações da porta-voz de Valerie Amos
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Entidades ONU
Regime sírio anuncia legislativas para 7 de Maio
O regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, anunciou nesta terça-feira eleições legislativas, enquanto o enviado da ONU, Kofi Annan, dizia esperar uma resposta do regime a propostas concretas para terminar a violência. Mas no terreno continuam a morrer dezenas de pessoas, a maioria vítimas de acções das forças militares. (...)

Regime sírio anuncia legislativas para 7 de Maio
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, anunciou nesta terça-feira eleições legislativas, enquanto o enviado da ONU, Kofi Annan, dizia esperar uma resposta do regime a propostas concretas para terminar a violência. Mas no terreno continuam a morrer dezenas de pessoas, a maioria vítimas de acções das forças militares.
TEXTO: A visita de Annan a Damasco no fim-de-semana, que incluiu dois encontros com Assad, tinha três objectivos: conseguir um cessar-fogo, acesso a ajuda humanitária e início do diálogo político. O regime deveria responder ainda durante esta terça-feira, indicou Annan. Mas de Damasco vinha outra notícia: de que o regime planeia eleições legislativas para 7 de Maio. As eleições serão levadas a cabo após a aprovação da nova Constituição que teoricamente acaba com o regime de partido único ao retirar o partido Baas, da família Assad, do seu lugar de “líder do Estado e da sociedade”. Mas impõe uma série de outros limites (os partidos não podem ter base regionalista – o que exclui por exemplo os partidos curdos – ou religiosa – o que exclui a banida Irmandade Muçulmana . E a oposição recusa-se a participar numa votação que apelida de farsa enquanto a violência continua sem tréguas no país. Ontem registaram-se ataques em vários locais, incluindo ainda em Homs, cidade já arrasada pelas forças de Assad, e da cidade que agora está a ser alvo da maior operação, Idlib, chegam relatos de mortes e violações. Segundo um activista, morreram 50 pessoas na cidade, muitas delas mortas a tiro enquanto se aproximavam de corpos deixados numa mesquita. Outro activista conta que viu os corpos de duas raparigas, uma não teria mais de 13 anos e tinha sido violada. “Estava coberta de sangue e a sua roupa interior tinha sido arrancada”, disse à Reuters. Enquanto isso, mantinha-se um impasse no Conselho de Segurança em relação a uma resolução, com a Rússia e a China a oporem-se a críticas a Assad (que não tivessem iguais críticas à oposição), algo que os EUA consideram inaceitável, já que acções agressivas de um exército de um regime não podem ser comparadas a acções de autodefesa de civis, explicou a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. A Rússia defendeu que o regime sírio não devia aceitar um cessar-fogo unilateral, dizendo que as hostilidades deveriam parar simultaneamente dos dois lados. Os EUA defendem que o regime deveria primeiro parar os seus ataques. Minas na fronteiraA ONU reviu, pelo seu lado, o número de vítimas do regime sírio de 7500 para mais de 8000, incluindo muitas mulheres e crianças. O Alto Comissariado para os Refugiados indicou ainda que pelo menos 30 mil pessoas fugiram para o estrangeiro (a maioria para a Turquia e Líbano) e 200 mil estão deslocadas no próprio país. Para evitar estas fugas, o regime está a colocar minas na fronteira com a Turquia, acusou entretanto a Human Rights Watch. A primeira informação sobre minagem de fronteiras tinha surgido em Novembro do lado libanês (o regime justificou-a com a necessidade de prevenir o contrabando); desta vez há informações recentes do lado turco, mas as autoridades sírias não reagiram à acusação. A Human Rights Watch cita informações de habitantes e de um antigo perito em desminagem do exército, de 28 anos, que afirmou ter desactivado, junto com um primo e três amigos, mais de 300 minas de fabrico soviético. As minas estavam “entre as árvores de fruto, a três metros da fronteira, em duas linhas paralelas”, descreveu. Um rapaz de 15 anos contou à organização como ficou sem uma perna ao atravessar a fronteira para a Turquia, ajudando um amigo da família que tinha ficado ferido no ataque ao bairro de Bab al-Amr, em Homs: “Estava a menos de 60 metros da fronteira quando a mina explodiu”, lembra. O seu amigo morreu. A Human Rights Watch apelou à Síria para que não coloque minas no terreno, sublinhando que estas vão matar muitos sírios durante os próximos anos.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
A cidade "libertada" de Azaz vive já no pós-Assad
"Depois dos combates não havia nada, nem água, nem electricidade, nem comida. Agora já restabelecemos 80% dos serviços", orgulha-se Samir Haj Omar, líder do conselho político de Azaz, uma cidade síria que já decidiu organizar-se para o pós-Assad. (...)

A cidade "libertada" de Azaz vive já no pós-Assad
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Depois dos combates não havia nada, nem água, nem electricidade, nem comida. Agora já restabelecemos 80% dos serviços", orgulha-se Samir Haj Omar, líder do conselho político de Azaz, uma cidade síria que já decidiu organizar-se para o pós-Assad.
TEXTO: Há já três semanas que Azaz, na fronteira com a Turquia, está nas mãos dos rebeldes. Desde então, um conselho político e um conselho militar tomaram em mãos a organização da cidade. Depois de cinco meses de combates violentos, as lojas e o mercado já reabriram e três quartos da população já regressaram às suas casas, depois de muitos deles se terem refugiados na vizinha Turquia. À semelhança de muitas outras cidades das zonas "libertadas", Azaz também escolheu a autogestão. "Estamos livres e felizes", assegura Abu Moussa, um comerciante que só tem um pedido a fazer: "Que Bashar al-Assad se vá embora. "Para quem anda nas ruas de Azaz, a cidade assemelha-se a qualquer outra localidade árabe em pleno Ramadão: o dia calmo e adormecido e efervescência ao pôr do Sol. À noite, os habitantes enchem as ruas e formam-se ruidosos engarrafamentos nas principais zonas do centro, onde lojas e restaurantes estão abertos até tarde. Mas aqui as crianças brincam em cima das carcaças de tanques e divertem-se a tentar virar os canhões. E se não há penúria total de comida, a verdade é que o preço da gasolina quadruplicou passando de 50 libras sírias (0, 60 euros) por litro antes da guerra para as actuais 200 libras (2, 5 euros). No hospital, os stocks de antibióticos, compressas e medicamentos para as crianças esgotaram durante os combates. A equipa, inicialmente constituída por 25 médicos e enfermeiros, está agora reduzida a quatro pessoas, incluindo um médico, o doutor Anas al-Iraki. Sozinho perante dezenas de mulheres e crianças que fazem fila para o ver, não poupa críticas às forças da oposição: "O Conselho Nacional Sírio não nos está a ajudar. Eles só fazem promessas. ""O que tenho feito é pedir dinheiro aos homens ricos para comprar medicamentos. Dependemos inteiramente de doações. Estamos entregues nas mãos de Deus", queixa-se Anas al-Iraki. De dia para dia, a cidade "livre" de Azaz atrai cada vez mais refugiados. Cerca de um milhar já estão instalados como podem, vindos nomeadamente de Alepo, que fica a 50 quilómetros mais a sul e onde os combates estão cada vez mais ferozes. Majda, 20 anos, fugiu da sua casa no bairro de Saladino, bastião dos rebeldes em Alepo, no passado fim-de-semana, com os seus irmãos e irmãs, mas mesmo em Azaz não se sente segura. "Ontem ouvimos o barulho de combates e de rockets. Não estamos seguros em parte nenhuma da Síria. Temos muito medo", diz a jovem. "Às vezes penso que gostaria de morrer já, porque o que está a acontecer é que estamos a morrer lentamente. "
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Partidos LIVRE
Julian Assange acusa EUA de "caça às bruxas"
A partir de uma varanda da embaixada do Equador em Londres, o fundador da WikiLeaks, Julian Assange, pediu ao Governo dos Estados Unidos para respeitar a liberdade de expressão e parar com a sua investigação à fuga de informação que culminou com a publicação de milhares de documentos secretos do Pentágono e Departamento de Estado, em 2010. (...)

Julian Assange acusa EUA de "caça às bruxas"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A partir de uma varanda da embaixada do Equador em Londres, o fundador da WikiLeaks, Julian Assange, pediu ao Governo dos Estados Unidos para respeitar a liberdade de expressão e parar com a sua investigação à fuga de informação que culminou com a publicação de milhares de documentos secretos do Pentágono e Departamento de Estado, em 2010.
TEXTO: O jornalista e activista, que está refugiado há dois meses nas instalações da missão diplomática do Equador, classificou o processo como “uma caça às bruxas” e exigiu a libertação do soldado norte-americano Bradley Manning, detido numa prisão militar do Kansas e acusado de traição. “Bradley Manning é um herói”, reclamou Assange, perante o aplauso de dezenas de apoiantes, que desde a manhã aguardavam na rua pela sua intervenção, vigiados por um forte dispositivo policial. “Os Estados Unidos têm uma escolha a fazer: reafirmar os valores revolucionários que estiveram na fundação do país, ou cair no precipício e arrastar-nos a todos para um mundo opressivo e perigoso, em que os jornalistas se calam por medo de acusação e os cidadãos se limitem a sussurrar”, declarou Assange. “Peço ao Presidente Obama que tome a decisão correcta e acabe com esta caça às bruxas”, prosseguiu. Mas o seu apelo foi mais além, e incluiu o “respeito pela liberdade de expressão” e o fim da alegada “perseguição” a jornalistas e whistleblowers (fontes que denunciam segredos) que põem em causa as versões oficiais dos governos. “Não pode haver mais conversa fiada de acusar organizações jornalísticas, seja a WikiLeaks ou o New York Times”, sublinhou. Julian Assange não se pronunciou sobre o braço de ferro diplomático com o Equador – que na quinta-feira aprovou o seu pedido de asilo diplomático –, ou as exigências dos Governos do Reino Unido e da Suécia para que seja detido. O fundador da WikiLeaks, que viveu sob prisão domiciliária em Londres até perder um derradeiro recurso contra um pedido de extradição da Suécia, foi convocado para prestar declarações por um tribunal de Estocolmo, depois de uma queixa por alegados crimes sexuais apresentada por duas mulheres na Suécia. No entanto, o australiano referiu-se à ameaça do ministério dos Negócios Estrangeiros britânico de “invadir” a embaixada do Equador, dizendo que só a vigília dos seus apoiantes à porta das instalações impedira o Governo do Reino Unido de “atirar os princípios da Convenção de Viena pela janela”. Na rua (e supostamente dentro do edifício), dezenas de polícias estavam preparados para deter Assange no caso de este transpor os limites do apartamento ocupado pela missão diplomática e que é equiparada a território equatoriano. Assange disse ter uma “dívida de gratidão” com o pessoal da embaixada, com o Presidente Rafael Correa e a “pequena nação do Equador” que “corajosamente” tem defendido o seu direito ao asilo político. Antes de Assange, o jurista e antigo juiz anti-corrupção espanhol Baltasar Garzón, que lidera a equipa jurídica encarregada da defesa do fundador da WikiLeaks, confirmou ter recebido instruções para “levar a cabo todas as medidas legais para proteger os direitos da WikiLeaks, de Assange e de todos os que estão sob investigação”. Garzón disse ainda que Julian Assange não manteve quaisquer negociações com as autoridades suecas para evitar uma eventual extradição para os Estados Unidos no caso de viajar até Estocolmo para prestar declarações.
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Palavras-chave direitos tribunal prisão medo mulheres refugiado perseguição
Colecção da National Geographic vai a leilão pela primeira vez
Prestes a comemorar 125 anos de existência, a National Geographic Society vai levar a leilão, no dia 6 de Dezembro na Christie's de Nova Iorque, 204 fotografias e ilustrações originais da sua massiva colecção. (...)

Colecção da National Geographic vai a leilão pela primeira vez
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2012-10-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Prestes a comemorar 125 anos de existência, a National Geographic Society vai levar a leilão, no dia 6 de Dezembro na Christie's de Nova Iorque, 204 fotografias e ilustrações originais da sua massiva colecção.
TEXTO: The Art of Exploration é uma ínfima selecção do colossal arquivo de mais de 11, 5 milhões de peças da National Geographic Society. Entre os itens mais memoráveis da instituição está um retrato do Almirante Peary numa expedição ao Pólo Norte em 1908 ou a fotografia de uma tribo aborígena de Papua-Nova-Guiné. Os trabalhos vão ser leiloados "para celebrar o nosso legado e para dar às pessoas a oportunidade de comprar uma pequena parte da história desta grande instituição", segundo disse à AP Maura Mulvihill, vice-presidente sénior de imagem da National Geographic e arquivos de vídeo. A “menina afegã”, uma fotografia muito conhecida e que foi tirada em 1984 num campo de refugiados no Paquistão por Steve McCurry também vai à praça. A imagem, que mostra uma menina de 12 anos cujos olhos verdes captaram a atenção do mundo, voltou a ser capa da National Geographic em 2002 quando se descobriu a identidade da rapariga, Sharbart Gula. Símbolo mundial dos refugiados e da ocupação soviética no Afeganistão, uma impressão especial da imagem foi escolhida para o leilão cujas receitas revertem para o Fundo de Raparigas Afegãs. O livro The North American Indian e o portefólio fotográfico de Edward Curtis, que segundo a Associated Press, pode ter pertencido a Alexander Bell, inventor do telefone e um dos fundadores da National Geographic Society, também integram a selecção para venda. The Duel On The Beach, a pintura a óleo do americano N. C. Wyeth baseada na história homónima do romancista Rafael Sabatini de 1931 para o Ladies' Home Journal, é uma das obras com a estimativa mais alta para venda. Segundo a leiloeira, espera-se que a pintura seja vendida entre os 613 mil e os 920 mil euros. O leilão de 6 de Dezembro antecede a comemoração dos 125 anos da National Geographic Society, a 27 de Janeiro de 2013. A estimativa do leilão aponta para os 2 milhões e 300 mil euros de receitas, que ajudarão a financiar a promoção e preservação do arquivo e o “desenvolvimento de jovens fotógrafos, artistas e exploradores”, disse Mulvhill. A National Geographic Society é umas das maiores instituições científicas e educacionais não-lucrativas do mundo. A sua pesquisa é explorada através da revista National Geographic, disponível em 27 idiomas. A marca tem ainda vários livros publicados e o canal de televisão National Geographic Channel.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo rapariga
Julian Assange quis dissuadir Benedict Cumberbach de ser... Julian Assange
O fundador do Wikileaks enviou uma carta ao actor, agora divulgada, um dia antes do início das filmagens de O Quinto Poder, em Janeiro. (...)

Julian Assange quis dissuadir Benedict Cumberbach de ser... Julian Assange
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O fundador do Wikileaks enviou uma carta ao actor, agora divulgada, um dia antes do início das filmagens de O Quinto Poder, em Janeiro.
TEXTO: Julian Assange tem todo o apreço por Benedict Cumberbach, o actor que o encarna em O Quinto Poder, filme de Bill Condon que é apresentado como thriller (a batalha pela verdade escondida pelas altas esferas políticas, militares e financeiras) e como denso retrato do fundador do Wikileaks. Sabemos dessa afeição pelo actor britânico porque Assange lhe endereçou uma carta, em resposta aos pedidos daquele para um encontro, um dia antes de as filmagens começarem em Janeiro. “Sei que o filme pretende retratar-me e a mim e ao meu trabalho de uma forma negativa”, escreveu Assange, 42 anos, nascido em Townsville, Austrália. “Acredito que irá distorcer os acontecimentos e diminuir a percepção do público. Não ambiciona simplificar, clarificar ou mostrar a verdade, pelo contrário, pretende abafá-la. Irá ressuscitar e amplificar histórias difamatórias que há muito se provou serem falsas. ” Sabemos exactamente o que Assange escreveu a Cumberbach porque o Wikileaks, com a publicação do texto no seu site na quarta-feira, dois dias antes da estreia do filme em Inglaterra (chegará aos cinemas portugueses a 17 de Outubro), transformou a carta privada em carta aberta. Refugiado na embaixada do Equador em Londres, ameaçado de extradição para a Suécia, país onde pendem sobre ele acusações de violação e abuso sexual, Assange explicou na carta de cinco páginas que a escolha da produtora Dreamworks em basear o guião nos dois livros “mais venenosos” sobre o Wikileaks, quando existem “dezenas de livros” com um olhar “positivo” sobre a organização, é sintomático. “É uma verdade distorcida sobre pessoas vivas que lutam contra opositores titânicos. É um trabalho de oportunismo político, influência, vingança e, acima de tudo, cobardia”, defende. O Quinto Poder é baseado no livro Inside Wikileaks, do alemão Daniel Domscheit-Berg, braço direito de Assange no arranque do Wikileaks mas que viria a abandonar a organização em conflito com o seu fundador, e em Wikileaks: Julian Assange’s War On Secrecy, de Luke Harding e David Leigh, jornalistas do diário britânico The Guardian tornados colaboradores e que, tal como Domscheit-Berg, se afastaram de Assange. “Acredito que seja bem-intencionado, mas compreende certamente porque é uma má ideia para mim encontrar-me consigo”, explicava o australiano a Cumberbatch na carta agora revelada. “Ao fazê-lo, estaria a validar este filme miserável e a legitimar a actuação talentosa, mas devassa, que o guião o forçará a ter”, escreve Assange, aconselhando posteriormente o actor a abandonar o projecto. Em Setembro, ao falar pela primeira vez da correspondência com Assange, o actor inglês confessou que, depois de ler a carta, sentiu-se inseguro quanto ao papel que iria desempenhar. “Claro que ouvi e senti os protestos do homem que iria fingir ser. ” Na resposta a Assange, porém, acabou por escrever: “O filme irá explorar o que conseguiu atingir, o que fez a atenção do mundo recair sobre si, de uma forma que julgo ser nada menos que positiva. ”Estreado no Festival de Toronto, no Canadá, em Setembro, O Quinto Poder foi então apresentado por Bill Condon, o realizador, como um retrato das questões complexas que rodeiam a transparência, privacidade e segurança. A crítica tem sido pouco generosa (o site agregador de críticas Rotten Tomatoes dá-lhe uma média de 41%), ainda que a interpretação de Cumberbatch seja quase unanimemente elogiada. “Eis o grande segredo no âmago de O Quinto Poder: Julian Assange é um pulha”, destaca o britânico Express no início da crítica ao filme. Enquanto isso o Guardian descreve desta forma a versão cinematográfica de Assange: “Visto à distância, ele assemelha-se a um anjo sardónico, a salvar o mundo corajosamente; aproximando o foco, olha e fareja como um rato manchado e seboso. ” Julian Assange acertou na imagem que dele, justa ou injustamente, seria projectada na tela.
REFERÊNCIAS:
Com Juan Zero quem ganha são as crianças
Antes de ser cartoonista, Juan Zero é um miúdo grande que o pai não ouvia. Por causa disso, agora quer "reactivar a infância" aos miúdos que já viram demasiado. (...)

Com Juan Zero quem ganha são as crianças
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2013-10-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Antes de ser cartoonista, Juan Zero é um miúdo grande que o pai não ouvia. Por causa disso, agora quer "reactivar a infância" aos miúdos que já viram demasiado.
TEXTO: Juan Zero nasceu em Damasco, filho de pai de Homs e de mãe curda. É cartoonista desde os 20 anos, já lá vão quase 13. Recusa rótulos. "Juan é um nome muito curdo", diz. "Eu não sou nada. " Quando a revolução síria começou, em Março de 2011, Juan continuou a desenhar. Só que cada vez desenhava mais e às tantas desenhar já nem era o mais importante. Quando chegaram as notícias de protestos na Tunísia e no Egipto, Juan começou "a seguir tudo", com "vontade de fazer alguma coisa". Depois, veio Deraa, a primeira cidade síria a sair à rua. "Fiquei tão feliz. Pensei: "Alguma coisa vai mudar". " Juan manifestou-se pela primeira vez no dia 1 de Abril de 2011, em Damasco. Nesse mesmo mês foi detido, ficou quatro dias na cadeia e libertaram-no quando assinou um papel modelo único para jornalistas onde estava escrito "eu nunca mais vou participar numa manifestação". Claro que Juan voltou a protestar contra o regime de Bashar al-Assad. Há um café na capital síria que já foi conhecido como "o outro Parlamento" pela presença de membros da oposição e activistas, chama-se Al-Radwa, e Juan passava lá a vida. "Uma vez estava sentado a jogar cartas com um amigo e mais dois homens. Recebi uma mensagem a dizer que estava a começar uma manifestação ali perto. Dissemos que íamos só fazer um telefonema. Fomos à manifestação e voltámos para acabar o jogo. "Claro que Juan continuou a desenhar. "Durante esses meses mandava os desenhos para um amigo fora da Síria, era ele que os publicava nas redes sociais. Eu não podia partilhar nem sequer fazer like no Facebook", conta, os braços e as mãos não param quietos enquanto fala, expressões de menino vão e vêm do rosto redondo. Depois: "Eu e alguns amigos formámos um grupo e comprámos impressoras, com doações de sírios que estavam fora do país, começámos a publicar e a distribuir um jornal. "Entretanto, a repressão foi sempre a crescer e ser encarcerado na Síria foi querendo dizer coisas diferentes, sempre para pior. Foi um empregado do Al- Radwa que o avisou: "Dois homens vestidos à civil foram perguntar por mim", diz, a abrir muito os olhos. "Perguntaram pelo Juan Zero, não pelo Juan, e ele percebeu que não eram meus amigos, um amigo não diz o nome todo. " Desta vez, Juan não esperou. No dia seguinte, renovou o seu passaporte e quatro dias depois despedia-se da sua cidade. Foi em Dezembro de 2011. Agora, Juan está sentado no sofá da sua casa em Antakya, um apartamento que partilha com dois primos e com Hala, uma síria que trabalha numa ONG, numa rua da cidade que é capital da província de Hatay, no extremo sudoeste da Turquia, a pouco mais de meia hora da fronteira síria. Desde que deixou Damasco Juan já teve nem sabe quantas casas. Istambul, Cairo, Beirute, Cairo, Antakya, e esta já nem é a primeira casa aqui. "Antes vivíamos com dez pessoas", diz Hala. "Entretanto, alguns mudaram-se para Reyhanli e nós mudámos para aqui. "Juan vendeu o que tinha para comprar o bilhete de avião que o tirou de Damasco e o levou a Istambul, cidade cheia de vida e deslumbramento, nem tanto quando se está assustado e se tem a carteira vazia. "Nos primeiros três meses tinha medo até de entrar em contacto com os meus amigos. "500 dólares e um portátil Depois, uma síria que ele só conhecia pelo Facebook soube que estava em Istambul e mandou-lhe um computador portátil. Depois, Ali Farzat, um dos mais conhecidos cartoonistas políticos do mundo árabe, enviou-lhe 500 dólares com uma mensagem: "Continua a desenhar". "Eu nunca o conheci pessoalmente", diz Juan, calças azuis largas, chinelos e T-shirt de alças em tons de laranja. Hoje, é Juan que se preocupa com Farzat: primeiro, foi espancado nas ruas de Damasco e hospitalizado; depois foi preso, há muito que ninguém sabe dele. Juan recebeu o dinheiro e o computador e fez como lhe pediam. Continuou e cada vez desenhava mais. Incessantemente. "Como lia tudo e tinha milhares de amigos no Facebook e seguia outros milhares no Twitter, era como se as ideias já cá estivessem, assim que acontecia alguma coisa eu começava, normalmente passados dez minutos o desenho estava feito. " Desenhava e partilhava, "as reacções eram imediatas". "Estava sempre em chats. E tinha muito feedback, muita gente a partilhar cada desenho, acho que era por eu desenhar tão depressa, aquilo que eu estava a comentar tinha acabado de acontecer. "De repente, Juan começou a pensar que era demasiado. "As pessoas iam ver os desenhos antes de lerem sobre o que tinha acabado de acontecer, antes de pensarem. Como sabiam que eu desenhava e publicava logo, iam directamente aos desenhos e eu não gostei disso", explica. Juan deixou de desenhar tão depressa, já lá vamos, mas continua a receber muitas reacções, emails, mensagens. "Respondo a toda a gente, digam o que disserem", garante. "Já não ter medo também é isso. Desenho e respondo a tudo o que me perguntam. "Ouvir as crianças A certa altura, Juan começou a desenhar flores de jasmim sobrepostas a fotografias da revolução. Flores delicadas e brancas como a neve entrelaçadas à volta de uma arma, flores de jasmim naquela fotografia de dois miúdos pequenos de braço dado e de costas, mochilas coloridas, a caminho da escola num campo de refugiados sírios na Turquia. Antes, cheirava sempre a jasmim no souq de Damasco. As flores sobrepostas às fotos apareceram porque Juan estava a pensar que desenhar já não era suficiente, ele é que ainda não sabia bem o que isso queria dizer. "Há mais ou menos um ano, estava com um amigo e começámos a falar das crianças. Eu disse que mesmo que a revolução fracassasse tínhamos de pensar nas crianças. "Imagine-se se a revolução demorar dez anos, o que é que vai ser destas crianças, só vêem sangue". "Já sozinho, Juan começou a pensar e percebeu que queria inventar uma maneira de dar algum tipo de apoio psicossocial às crianças sírias. "Eu sei que a ONU dá abrigo e comida, roupa e medicamentos, mas isso não chega. São soluções temporárias, é preciso alguém para ouvir estas crianças. Elas precisam de alguém que as oiça. "Juan não estudou Psicologia nem nunca pensou ser assistente social. Estudou desenho, na Síria e na Arábia Saudita, desenhou muito mesmo, mas pensou ainda mais. Tanto pensou, tanto jasmim desenhou, que o Jasmine Baladi (O meu país jasmim) lá nasceu. "Primeiro, pensei fazer uma exposição para juntar dinheiro e financiar o projecto. Muita gente no Qatar e em França quis ajudar, mas não me deram vistos. " A certa altura, uma senhora chamada Lana, alemã filha de sírios que nunca foi à Síria, soube da ideia e quis ajudar. "Não por ser síria, mas por ter muita experiência com crianças que viveram situações de conflito. É psicóloga. "Um estúdio para a infância Tal como aparece na declaração de intenções, o objectivo é: "Estabelecer um estúdio perto de cada campo de refugiados" e "criar ferramentas de comunicação directas e diárias com as crianças", depois seguir para o seguinte, em rotação, "apagando a cor do sangue dos seus olhos e diminuindo os sons da guerra da sua memória, numa tentativa de reactivar a infância perdida". Os primeiros passos foram em Beirute - o Líbano é o país que já recebeu mais refugiados sírios, perto de 800 mil oficialmente, bastante mais - e durou 45 dias. "Trabalhámos com miúdos que vivem em Shabra e Shatila", diz Juan, a falar dos campos de refugiados conhecidos pelo massacre de palestinianos e onde entretanto muitos, muitos sírios, encontraram refúgio. Seguiram-se três meses num campo perto da fronteira turca, mas na Síria, Bab al-Hawa. Uma experiência "inesquecível" mas interrompida pela presença crescente de islamistas radicais na região. "Deixou de ser seguro. Não posso pôr a vida de quem trabalha comigo em risco", explica Juan. Agora, Jasmine Baladi vive em Reylanli, a vila turca mais perto de Bab al-Hawa, a cinco minutos da fronteira. Agora, um terço da população actual de Reyhanli é síria, abriram três escolas sírias para rapazes e três para raparigas, não faltam crianças. Jasmim e Fairouz Jasmine Baladi: "Jasmim é uma flor muito comum na Síria, é a nossa flor. O perfume transmite paz. É como ouvir Fairouz de manhã, faz parte de ser sírio", diz Juan, a falar da libanesa Fairouz, a cantora que os sírios e muitos outros fizeram sua. "Jasmine Baladi quer dizer "o meu país jasmim" mas tem um duplo sentido, também é uma expressão que usamos para dizer que um determinado prato é original da Síria, tradicional. "Nos campos, Jasmine Baladi era mesmo um estúdio. "Era uma tenda grande, sempre aberta. As actividades eram permanentes e sempre diferentes. A equipa que trabalha comigo vivia no campo. No início, eu também lá ficava, mas depois quis dar-lhes mais responsabilidade e passei a ir e vir", diz Juan. Em Bab al-Hawa, os miúdos eram milhares e a vida fazia-se de avanços e recuos. "Quando estavam a ficar mais à vontade, a começar a participar nas actividades e a obedecer a regras, passavam uns aviões e voltava tudo ao início", diz Mohamed, de 25 anos, um dos membros da equipa, designer de moda que agora faz bonecos de pano com as crianças e as põe a desenhar, mas também a jogar à bola. "A primeira fase é deixá-los deitar tudo cá para fora. No campo, havia vantagens e desvantagens. Demorou imenso até conseguirmos que fizessem uma fila, por exemplo. Mas convivíamos com os pais, no início desconfiavam muito de nós, depois passaram a vir-nos pedir ajuda para resolver todos os problemas", lembra outro membro da equipa, Reinas, de 18 anos e rastas que impõem respeito - Juan quer que os miúdos "percebam que os sírios são diferentes uns dos outros, e não deixam de ser sírios". Festinhas na careca Agora, Jasmine Baladi chega a centenas de miúdos, da primeira classe ao nono ano. Agora, os membros da equipa até já gravam tudo em vídeo e depois observam para perceber as reacções da miudagem e avaliar o seu próprio desempenho. O dinheiro é pouco, vem de doações individuais, mas vai dando. Ninguém estudou para isto. "Eu li e troquei ideias com muita gente", diz Juan. "O meu pai não me ouvia, talvez seja por isso que eu penso tanto que as crianças precisam de quem as oiça. "Juan continua a desenhar, mas desde que trabalha com os miúdos desenha mais devagar. "Agora, às vezes tenho uma ideia e demoro meses a perceber como acaba. Desenhei as asas brancas de um anjo e só semanas depois é que percebi que faltava um corpo pequenino entre as asas", diz. "Reparaste que há sempre um pequeno sol e uma flor em todos os desenhos?"Juan é um miúdo grande e bastam dez minutos de conversa para descobrir isso, melhor ainda é vê-lo a jogar à bola com os miúdos. Impõe disciplina, sim, mas ri-se mais do que se zanga e até quando se zanga é simpático e os miúdos percebem isso mas respeitam-no e dão-lhe festas na careca depois de ele os beliscar por dizerem asneiras ou frases como "quero ir fazer a jihad". Talvez porque ele faça acontecer jogos de futebol e aulas de desenho. Deve ser porque ele os ouve.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU