Mulheres em Hollywood: elas falam, falam, falam, mas os números não mudam nada
Novo estudo sobre as oportunidades de trabalho dadas às mulheres no cinema mostra novo recuo do número de realizadoras ou produtoras nos filmes mais rentáveis de 2016. (...)

Mulheres em Hollywood: elas falam, falam, falam, mas os números não mudam nada
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602172045/https://www.publico.pt/1758448
SUMÁRIO: Novo estudo sobre as oportunidades de trabalho dadas às mulheres no cinema mostra novo recuo do número de realizadoras ou produtoras nos filmes mais rentáveis de 2016.
TEXTO: Elas falam, falam, falam, mas os números afinal não mudam nada. Depois de, em 2015, o panorama de empregabilidade das realizadoras e de outras profissionais atrás das câmaras em Hollywood ter dado sinais de ligeiras melhoras, em 2016, e apesar das intervenções públicas de actores e realizadores e do início de uma investigação à discriminação de género no sector, os números voltaram a cair. Só 7% dos 250 filmes mais rentáveis do ano foram dirigidos por uma mulher. O estudo Celluloid Ceiling do Center for the Study of Women in Television and Film (CSWTF) da Universidade de San Diego volta a fazer as contas às mulheres que trabalham nos principais filmes da maior indústria do sector no mundo e desta vez deixou a sua coordenadora “perplexa”. Porque apesar de tudo o que foi dito sobre a situação das mulheres em Hollywood nos últimos anos, de cartas abertas sobre ordenados a declarações inflamadas nos Óscares passando pela criação de “campos de treino” para realizadoras, os números caíram. “As panaceias actuais claramente não estão a resultar”, disse Martha Lauzen à Variety. Sendo esta a 19. ª edição do estudo, amplamente citado todos os anos, as suas conclusões fazem a revista especializada Hollywood Reporter decretar que “as oportunidades para as mulheres que trabalham nos principais postos atrás das câmaras não melhoraram nos últimos 20 anos”. Quanto a outros trabalhos, o cenário mantém-se minoritário, com apenas 24% de produtoras (outra quebra de 2% em relação a 2015 a juntar-se ao número de realizadoras), só 4% dos filmes tiveram uma mulher no cargo de directora de fotografia e houve menos 5% de mulheres nas mesas de edição e montagem (de um total de 17%). “Durante 25 anos fui a única mulher nas filmagens”, disse no sábado a actriz Reese Witherspoon, numa apresentação da sua nova série, Big Little Lies (que se estreia a 19 de Fevereiro no TVSéries), da qual é produtora executiva com Nicole Kidman. “Temos de começar a ver as mulheres no cinema como são verdadeiramente”, disse Witherspoon, citada pela Hollywood Reporter – está “farta” de ver constantemente o talento de grandes actrizes empregue apenas a “interpretar esposas e namoradas”. Este é o campo das actrizes, que com a dimensão de estrela de Witherspoon ou Kidman se dedicam também à produção (neste caso na TV) e que confirmam uma de várias tendências desde que se estuda a presença de mulheres no sector do cinema em várias partes do mundo: quanto mais mulheres no cargo de realizador ou produtor, chefias portanto, mais as histórias tendem a reflectir a diversidade e os projectos a empregar mais trabalhadoras em várias áreas. Outras tendências são confirmadas pelo estudo do CSWTF, como a de que há mais emprego feminino nos documentários e menos nos filmes de acção, por exemplo. Nos 250 filmes estreados nos EUA e que mais dinheiro fizeram em 2016, 13% tiveram argumentistas mulheres (mais 2% do que em 2015), número que nunca ultrapassa o ano em que o estudo começou e tudo era ligeiramente melhor – 1998. No estudo Celluloid Ceiling indica-se ainda que as realizadoras Jodie Foster e Patricia Riggen fizeram os filmes mais rentáveis feitos por mulheres, Money Monster e O Nosso Milagre, respectivamente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “As mulheres a trabalhar em papéis-chave atrás das câmaras ainda não estão a beneficiar do diálogo actual sobre a diversidade e a inclusão na indústria do cinema”, diz Lauzen, referindo-se não só às intervenções públicas sobre o tema mas também à investigação em curso da Equal Employment Opportunity Commission dos EUA sobre o sector. Em 2017, estão previstos mais filmes realizados por mulheres, nomeadamente os novos projectos de Sofia Coppola, Kathryn Bigelow ou Patty Jenkins. No mesmo dia em que foi apresentado o estudo, era lançada uma nova série de TV, Feud, para o canal FX, em que Susan Sarandon e Jessica Lange interpretam Joan Crawford e Bette Davis, mas sobretudo reflectem sobre “o que Hollywood faz às mulheres à medida que envelhecem”, como disse Lange – mais um sinal de que também nos temas do entretenimento americano se foi imiscuindo a questão da igualdade de género. Metade dos realizadores de Feud são mulheres e 15 dos papéis são para actrizes com mais de 40 anos, “uma das grandes alegrias” do seu criador, Ryan Murphy. Na televisão, as produções de Murphy são citadas frequentemente como exemplos de paridade, contrariando os dados também do CSWTF que mostram que apenas 26% dos criadores, realizadores, argumentistas, produtores ou montadores são mulheres na indústria televisiva de 2016.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
As mulheres que fazem parte de Miguel Bonneville
O criador português leva ao Palácio do Bolhão, em mais um capítulo do 41.º FITEI, MB#6 2008-2018, duas performances entre o passado e o presente criadas com várias mulheres artistas. Uma autobiografia feita em partilha. (...)

As mulheres que fazem parte de Miguel Bonneville
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: O criador português leva ao Palácio do Bolhão, em mais um capítulo do 41.º FITEI, MB#6 2008-2018, duas performances entre o passado e o presente criadas com várias mulheres artistas. Uma autobiografia feita em partilha.
TEXTO: Dez anos e muitas performances depois, Miguel Bonneville volta a MB#6, o “ponto de viragem” do seu trabalho – e, por arrasto, da sua vida, já que para o criador os dois dificilmente sobrevivem um sem o outro. É um regresso ao passado (a 2008, para sermos mais precisos), mas a um passado que se vai fazer presente no Palácio do Bolhão, no Porto, em mais um capítulo do 41. º Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI). MB#6 2008 apresenta-se na quinta-feira, seguindo-se, na sexta, MB#6 2018, uma nova versão dessa mesma performance, em jeito de actualização e reavaliação. Ambas integram uma série homónima de criações que Bonneville lançou em 2006, altura em que decidiu assumir o seu trabalho como autobiográfico. Dois anos depois, MB#6 viria a tornar-se no tal “ponto de viragem”. “As cinco performances anteriores tinham um universo de fábula. Eram um pouco encriptadas e andavam à volta das minhas relações amorosas. Achei que tinha de mudar o meu olhar e tentar perceber quais eram as relações mais importantes e duradouras na minha vida”, diz o criador ao PÚBLICO. Foi então que surgiu a ideia de fazer MB#6 em co-criação com seis mulheres artistas – Cláudia Varejão, Joana Craveiro, Joana Linda, Sara Vaz, Sofia Arriscado e Rita Só –, cúmplices de Miguel Bonneville fora e dentro da profissão. Não estão em palco, mas são elas as protagonistas, através das histórias pessoais que contam em vídeo-retratos, dobradas ao vivo por Bonneville. “A minha relação com as mulheres sempre foi mais forte, sempre houve uma proximidade e uma compreensão muito maiores de parte a parte”, refere o performer. A reflexão sobre “este outro tipo de amor e intimidade” coincidiu com a descoberta dos textos da escritora e filósofa feminista Simone de Beauvoir (1908-1986), encontro que Bonneville andou a adiar por demasiado tempo. “A Beauvoir era a arqui-inimiga da Marguerite Duras e eu era completamente apanhado pela Duras. Andei um bocado às turras com ela, mas depois lá deixei essas tricas de parte e quando comecei a lê-la foi mesmo inacreditável”, conta o criador, que em 2015 se debruçou sobre o universo da autora francesa no espectáculo A Importância de Ser Simone de Beauvoir. “Senti que estava defendido. Todas as minhas inquietações se materializavam na vida e na obra dela. ”Também Beauvoir levou Bonneville a MB#6. Por causa do feminismo, do existencialismo, da autobiografia como motor artístico vital. Finalmente, e sem medos, Bonneville percebeu que o seu trabalho encaixava totalmente na máxima feminista “o pessoal é político”. “Sempre fui muito atacado por ter um trabalho autobiográfico. Aquela coisa do narcisista, por que é que não vais fazer terapia… Diziam tudo e mais alguma coisa sobre aquilo que eu fazia. A obra da Beauvoir sempre partiu da vida dela para falar sobre política, filosofia e sobre morte, uma coisa que também está muito presente no meu trabalho. ”Nas duas versões de MB#6, a de 2008 e a de 2018, a autobiografia de Bonneville é algo que se constrói e desconstrói em partilha. É através das histórias destas mulheres, e com elas, que o criador encontra um lugar e uma identidade – uma identidade plural e fluida, nunca cristalizada. “Somos todos um bocadinho uns dos outros. O que eu faço não é apropriar-me das vozes destas mulheres, mas sim ser atravessado por elas. É sempre a questão da pluralidade de vozes, de existências e de possibilidades que estão dentro de nós, concorde ou não com o que elas dizem. ” Nestas performances, Miguel Bonneville conseguiu fazer aquilo que procurava há muito tempo: esvaziar-se, escapar ao ego. O formato escolhido vai nesse sentido, explica. “Quando tenho a função de dobrar ao milímetro cada palavra que estou a ouvir, não posso intervir de maneira nenhuma. É um exercício de não julgar e de deixar que aquelas palavras possam ser ditas. ” Aqui, Bonneville é um veículo. “O foco é o que tentamos fazer em conjunto: chegar a uma identidade que seja múltipla. ”Para MB#6 2018, Bonneville pegou no guião de perguntas que usou há dez anos para orientar as conversas com as intervenientes e co-criadoras. Entretanto actualizou-o, e estendeu a convocatória: além de cinco das seis mulheres que integravam a performance de 2008, esta nova versão conta com mais algumas, entre elas a escritora Isabela Figueiredo, a figurinista Mariana Sá Nogueira e actriz e encenadora Maria Gil. Se no primeiro round as questões ligadas à autobiografia e à infância estavam em destaque, nesta segunda volta dá-se mais espaço a temas como o amor, a morte, a identidade e o feminismo. “Há dez anos o feminismo estava muito menos mediatizado e quis perceber o que isso mudou para cada uma delas”, assinala o performer. “Também falámos muito sobre os medos. Percebi, por exemplo, como o medo de serem violadas está tão interiorizado e normalizado, e o quão violento e assustador é isso. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A ideia de regressar a MB#6 “surgiu quase como uma brincadeira”, conta Miguel Bonneville. Mas a verdade é que tem tudo a ver com aquilo que pauta o seu trabalho. “Percebermos e questionarmo-nos onde estamos agora é um exercício de que estou sempre à procura; é quase um ritual. Perceber o que mudou em mim e, ao mudar em mim, o que mudou na sociedade politicamente, no mundo, no país. Irmos de uma microescala a uma macroescala, e vice-versa, para perceber o presente. ” Além de cúmplices, e tal como as autoras e os autores, vivos ou mortos, que Bonneville inscreve nas suas criações, todas as mulheres de MB#6 são uma espécie de âncora. “Cumprem muito este lado do ‘tu não estás sozinho’”, diz. Afinal, o que é pessoal é político. “Estes trabalhos também têm o lado político da reparação de algo que não deveria estar ou ser assim. Há uma reparação da ideia de que temos de cumprir determinados papéis dentro da sociedade e de como ela não nos permite desviarmo-nos deles sem sermos punidos. ” E é isso que move o trabalho (e a vida) de Miguel Bonneville: “A vontade de abrir mais caminhos, mais possibilidades, para não estarmos sempre presos aos mesmos papéis. ”Notícia corrigida às 13h de 14 de Junho na referência a Maria Gil
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte medo espécie mulheres feminista feminismo
Quase 80% dos inquéritos de violência doméstica foram arquivados entre 2012 e 2018
O Relatório Anual de Monitorização de 2018 revela que a PSP e a GNR receberam uma média de 2.203 participações por mês, 72 por dia e três por hora. No total foram registadas, no ano passado, pelas forças de segurança 26.432 participações de violência doméstica, correspondendo a uma diminuição de 1,2% face a 2017. (...)

Quase 80% dos inquéritos de violência doméstica foram arquivados entre 2012 e 2018
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento -0.05
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Relatório Anual de Monitorização de 2018 revela que a PSP e a GNR receberam uma média de 2.203 participações por mês, 72 por dia e três por hora. No total foram registadas, no ano passado, pelas forças de segurança 26.432 participações de violência doméstica, correspondendo a uma diminuição de 1,2% face a 2017.
TEXTO: Quase 80% dos inquéritos de violência doméstica entre 2012 e 2018 foram arquivados e perto de 17% resultaram em acusação, indica o Relatório Anual de Monitorização de 2018 sobre este crime. “De um total de 71. 752 resultados de inquéritos relativos aos anos de 2012 a 2018 cerca de 78, 5% resultou em arquivamento, 16, 7% em acusação e 4, 8% em suspensão provisória do processo (SPP)”, refere o relatório feito pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna e que faz uma caracterização detalhada das ocorrências de violência doméstica reportadas à PSP e GNR. O documento adianta que, em 2018, a taxa de arquivamento situou-se nos 79, 4%, a de acusação nos 16, 4% e a de SPP próxima dos 4, 2%, num total de 13. 588. De acordo com o relatório, entre os inquéritos arquivados em 2018, à semelhança do verificado em anos anteriores, a maioria decorreu da falta de provas. O mesmo documento indica também que, de um total de 9. 479 sentenças transitadas em julgado entre 2012 e 2018, mais de metade (58, 2%) resultou em condenação e 41, 8% em absolvição, referindo que no ano passado a taxa de condenação foi 57, 5%. Em 62% das decisões proferidas em 2018 as penas de prisão aplicadas foram entre dois a três anos, apesar da sua esmagadora maioria (90%) ter sido suspensas, geralmente por igual período de tempo. “Na maioria das situações onde se encontra assinalado que a pena é suspensa, consta a indicação da sujeição a regime de prova e/ou a indicação da existência de penas acessórias”, indica o documento. Nos casos de regime de prova, surge a indicação de que o agressor tem de pagar indemnização à vítima ou entregar quantia a instituição de apoio a vítimas, submissão a tratamento psiquiátrico, obrigação de frequentar programa de tratamento de alcoolismo ou toxicodependência, ou por exemplo em “comparecer no programa de combate à violência doméstica”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Também nas penas acessórias são mencionadas a proibição de contactos com a vítima, afastamento do local de residência e de trabalho da mesma, proibição de uso e porte de arma, sujeição a programa de tratamento de alcoolismo, frequência de um programa de prevenção de violência doméstica, inibição do poder paternal e inibição de condução. O Relatório Anual de Monitorização de 2018 revela que a PSP e a GNR receberam uma média de 2. 203 participações por mês, 72 por dia e três por hora. No total foram registadas, no ano passado, pelas forças de segurança 26. 432 participações de violência doméstica, 11. 913 das quais pela GNR e 14. 519 pela PSP, correspondendo a uma diminuição de 1, 2% face a 2017. Lisboa (5981), Porto (4614), Setúbal (2458), Aveiro (1804) e Braga (1801) foram os distritos onde se registaram mais queixas.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR PSP
E uma alta autoridade contra a violência doméstica?
Caros deputados e deputadas de todos os partidos: aproveitem o fim da legislatura para dar passos mais significativos no combate à violência doméstica e de género. (...)

E uma alta autoridade contra a violência doméstica?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.08
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Caros deputados e deputadas de todos os partidos: aproveitem o fim da legislatura para dar passos mais significativos no combate à violência doméstica e de género.
TEXTO: É bom ou mau a política ir atrás do tema do momento? Depende de como o fizer. Por isso vale a pena, quando o tema do momento começa a deixar de ser o tema do momento, fazer uma pausa para avaliar como nos comportámos. Um exercício incomum, mas necessário. Durante uma semana falou-se de pouco mais do que de futebol, por causa de um presidente de clube em colapso moral e um grupo de adeptos que se organizou para agredir e ameaçar os atletas profissionais do mesmo. Falaram os jornais, falaram as televisões (não que estas falassem pouco de futebol antes disso), falaram os clientes habituais à mesa dos cafés. E falaram os políticos. No meio do despertar generalizado dos políticos para o que tinha acontecido apareceu a ideia - apresentada pelo primeiro-ministro - de criar uma Alta Autoridade Contra a Violência no Desporto. À primeira vista, parece que faz sentido. Mas a questão de saber se é mesmo boa ideia divide-se em duas partes. A primeira é da eficácia: saber se resolve o problema. A segunda é da proporcionalidade: saber se problemas equivalentes ou maiores não mereceriam equivalente ou maior atenção. Tratemos rapidamente da primeira parte: uma autoridade para a violência no desporto pode limitar-se a tratar da febre - quando adeptos agridem atletas - mas não das causas da febre: a corrupção no futebol, o discurso de ódio, a hipersaturação de comentário sobre futebol no espaço público. Para isso já há muitas instituições públicas, estatais ou desportivas, que não fazem o que seria necessário. Será preciso fazer a prova de se uma nova instituição não se limitará a juntar ineficácia à ineficácia. Mas é o problema da proporcionalidade que, para mim, é particularmente chocante. Sem menorizar o problema da violência no desporto - já houve adeptos mortos em pelo menos duas ocasiões nos últimos anos - o país tem um outro problema de violência que é estrutural, que é recorrente, e que provoca dezenas de vítimas todos os anos. Estou a falar, é claro, da violência doméstica. E esse problema ocupa muito menos espaço no debate público. Estamos a fazer qualquer coisa mal. Há quatro anos, quando foi eleito líder do maior partido da oposição, o atual primeiro-ministro chamou a atriz Maria do Céu Guerra ao palco para ler os nomes de mulheres assassinadas no país. Passados quatro anos há mais salas de atendimento nas esquadras, há mais abrigos para as vítimas, mas a situação não mudou estruturalmente. Entre 2004 e 2015 foram assassinadas 428 mulheres. No ano passado terão sido assassinadas cerca de vinte mulheres; a tendência é de descida, mas não chega. E o fenómeno da violência doméstica atinge ainda idosos, crianças e, sob um preocupante manto de silêncio e vergonha, homens também. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Era só o que faltava que a centralidade que o futebol ocupa nas televisões e em todo o lado nos fizesse agir com muito mais rapidez para criar para a violência no desporto a alta autoridade que não existe para a violência doméstica. Bem sei que é a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género que tem um papel central nas estratégias contra a violência doméstica, mas não faria muito mais sentido que o fizesse liderando uma alta autoridade interdisciplinar e com amplos poderes e recursos para garantir a erradicação da violência doméstica e de género como fenómeno estrutural em Portugal?Daqui a momentos, o tema do momento será - já é - a eutanásia. O debate no Parlamento será dominado pela questão de como deve a lei enquadrar a morte voluntariamente requerida, e todos os partidos proclamarão, por dever e convicção, o apego que têm ao valor constitucional da defesa da vida. É um tema importante, e a ele voltarei para explicar porque sou a favor da cuidadosa legalização da eutanásia que agora se propõe. Mas antes que esse tema domine todos os nossos momentos, vale lembrar uma coisa: onde não há dúvidas para a interpretação do direito à vida é quando há uma cidadã ou cidadã vulnerável na casa onde deveria estar segura, e muitas vezes após procurar o auxílio das autoridades do estado de direito. Por isso, caros deputados e deputadas de todos os partidos: aproveitem o fim da legislatura para dar passos mais significativos no combate à violência doméstica e de género, eventualmente através da criação de uma alta autoridade. Não esperem pelo momento para falar no assunto. Façam deste um combate de todos os momentos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens guerra lei violência igualdade género mulheres doméstica vergonha eutanásia
Da educação ao trabalho, a desigualdade de género atravessa gerações
Num estudo publicado esta segunda-feira, olha-se para a igualdade de género de dois pontos de vista: geracional e territorial – comparando diferentes idades e países da União Europeia. (...)

Da educação ao trabalho, a desigualdade de género atravessa gerações
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num estudo publicado esta segunda-feira, olha-se para a igualdade de género de dois pontos de vista: geracional e territorial – comparando diferentes idades e países da União Europeia.
TEXTO: No trabalho sobre o tema Igualdade de Género ao longo da Vida: Portugal no Contexto Europeu, a socióloga Anália Torres (coordenadora) e outros seis investigadores avaliam as desigualdades de género a partir de uma óptica geracional e territorial. O estudo, apresentado hoje no ISCSP — Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, feito para a Fundação Francisco Manuel dos Santos atravessa temas como a educação, o trabalho, a criminalidade, as tarefas domésticas e a saúde. Estas são algumas das conclusões. Para grupos etários diferentes, o nível de escolaridade também é distinto. Mais de dois terços (72, 5%) dos homens portugueses com idades entre os 50 e os 64 anos só completaram o básico. Para as mulheres na fase tardia da vida esse número é ainda menor (70, 1%). Valores que correspondem a mais do dobro da média europeia. No caso dos jovem, a tendência é para uma maior escolarização e já há mais mulheres portuguesas entre os 20 e os 24 anos (23, 5%) com cursos superiores do que homens da mesma idade (13, 9%). A participação feminina em cursos tradicionalmente masculinizados situa as jovens portuguesas muito acima da média das europeias. O sucesso académico das mulheres portuguesas não lhes garante melhores condições no mercado de trabalho — nem em termos de salários, nem nas tipologias de contratos, nem no que diz respeito a uma taxa de desemprego menor. Ainda assim, a disparidade na taxa de emprego entre homens e mulheres diminui com o aumento da escolaridade. Nos últimos anos, a disparidade nos números do desemprego — a desfavor das mulheres — tem vindo a diminuir. Mas não porque há mais oportunidades para as trabalhadoras. Deve-se antes a uma perda de emprego mais acentuada entre os homens. Só na fase tardia da vida é que as mulheres sofrem menos com o desemprego. Quanto à precariedade laboral, são as mulheres e os homens jovens que são mais afectados — a faixa etária dos 15 aos 29 regista mais de 60% de contratações não permanentes. As mulheres são mais afectadas do que os homens. Seja qual for a categoria profissional, os homens ganham sempre mais do que as mulheres. As diferenças chegam a ultrapassar os 900 euros, quando se fala nos salários dos representantes de órgãos legislativos, executivos, dirigentes e directores. Para os trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices a diferença ultrapassa os 200 euros. “Estas diferenças exprimem fortes assimetrias de género que de forma transversal penalizam as mulheres em todas as categorias profissionais”, lê-se no estudo. A morte revela um efeito de género. Aos 25 anos, num cenário em que nascem mais rapazes, a população feminina ultrapassa a masculina. Isto porque eles “matam-se mais”, por via do suicídio, mas sobretudo da exposição a comportamentos de risco que levam a acidentes, quedas, agressões, afogamentos. Tudo somado, as causas externas pesam 60% para eles e apenas 40% para elas. É “uma exposição ao risco e à violência que está fortemente associada a uma visão da masculinidade como forma de afirmação de poder e dominação”, conclui o estudo. Entre os 30 e os 49 anos, os acidentes, nomeadamente rodoviários, matam mais homens, a par dos suicídios. Eles resistem mais a tratar-se em situação de doença mental e, por outro lado, recorrem a métodos mais mortais e agressivos. Na fase tardia, elas, mais familiarizadas com a esfera do cuidar, recorrem mais ao médico, mas têm mais doenças crónicas e psiquiátricas, perturbações de sono e sentimentos depressivos, nomeadamente porque, depois de uma vida dedicada aos filhos, têm de se adaptar ao “ninho vazio”. Os homens, “obedecendo a um modelo de masculinidade que lhes dificulta a revelação de fragilidades”, cuidam menos de si. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A geração entre os 15 e os 29 anos é “mais materialista do que as anteriores”, ou seja, valoriza “relativamente mais o poder e o dinheiro”, segundo o estudo. “Foi uma surpresa”, sublinha Anália Torres. Os contextos em que os jovens vivem, de “maior instabilidade económica e no trabalho e de escassez de bens”, podem explicar esta tendência para que, comparativamente com os mais velhos, os jovens se apresentem menos universalistas, isto é, menos propensos a defender valores como a importância da igualdade de tratamento e oportunidades, da necessidade de apoiar e cuidar do bem-estar das pessoas. No escalão etário seguinte, a família surge como a principal prioridade e homens e mulheres unem-se na defesa de iguais responsabilidades nos cuidados às crianças e na vida doméstica, numa reivindicação, que, dada a assimetria verificada no trabalho não pago, parece não sair do plano discursivo. Na fase tardia da vida activa, ganha terreno a ideia de que devem ser elas quem deve assegurar em primeiro lugar as responsabilidades familiares, mesmo que tal implique sacrificar o trabalho pago. Na juventude, as raparigas portuguesas autonomizam-se e saem de casa dos pais mais cedo do que eles. Mas, no cômputo dos países, os jovens portugueses deixam-se ficar em casa dos pais até mais tarde, num adiamento que os autores do estudo relacionam com os salários baixos que não lhes permitem custear uma casa. “Há a ideia de que os nórdicos saem mais cedo da casa dos pais porque não são familiaristas e de que no Sul são muito agarrados à família, mas a correlação mais importante que encontrámos é que os jovens portugueses, mesmo quando trabalham, ganham salários tão baixos que não se conseguem autonomizar. E nisso aproximamo-nos dos países do Leste”, contextualiza Anália Torres. Adianta duas explicações para o facto de as jovens portuguesas tenderem a sair mais cedo do que eles de casa dos pais: “São mais autónomas do ponto de vista de gerir uma casa e também é verdade que entram em conjugalidade mais cedo. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens violência suicídio educação doença igualdade género estudo mulheres doméstica desemprego feminina
Portugal e a igualdade de género: bom nas leis, mau na distribuição do trabalho doméstico
A dimensão em que Portugal tem piores resultados é a da “discriminação na família”, devido ao desequilíbrio na partilha do trabalho doméstico entre homens e mulheres. (...)

Portugal e a igualdade de género: bom nas leis, mau na distribuição do trabalho doméstico
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 3.700
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: A dimensão em que Portugal tem piores resultados é a da “discriminação na família”, devido ao desequilíbrio na partilha do trabalho doméstico entre homens e mulheres.
TEXTO: De um total de 120 países espalhados pela Ásia, Europa, África e América, Portugal é o quinto com leis e normas sociais mais igualitárias. À frente, só a Suíça, Suécia, Dinamarca e França. E entre as nações do Sul da Europa, ocupa o primeiro lugar. Os dados constam do Índice de Instituições Sociais e Género (SIGI, na sigla inglesa) 2019, que mede a discriminação contra as mulheres em instituições sociais (leis formais e informais, normas sociais e práticas) em vários países. O documento, divulgado esta sexta-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), avalia a prestação dos países com base em leis, práticas e atitudes relacionadas com quatro dimensões:Ponderadas as pontuações em cada uma destas categorias, a OCDE chega ao valor índice que coloca Portugal no quinto lugar do ranking. Uma conclusão: no âmbito das leis, Portugal tem uma boa prestação na maioria das dimensões, mas isso não se reflecte directamente ao nível das práticas e atitudes, que têm piores resultados. Por exemplo, as mulheres e os homens têm os mesmos direitos em movimentar-se por onde entenderem, dentro e fora do país, mas na dimensão prática, que é a segurança das mulheres em caminhar sozinhas à noite, Portugal ainda apresenta das proporções mais elevadas entre os países da OCDE de mulheres que se dizem inseguras neste contexto. Entre as dimensões que compõem este índice, é na que diz respeito ao acesso a recursos financeiros e produtivos que Portugal se sai melhor. Os aspectos positivos sobressaem, acima de tudo, no que diz respeito ao acesso a terrenos e a serviços financeiros. Ainda há um aspecto, porém, em que Portugal fica aquém: só um terço das mulheres ocupa cargos de gestão nas empresas. Mesmo assim, quando comparado com os restantes países da OCDE, Portugal não é dos piores nesta dimensão. No Luxemburgo, Turquia, Japão e Coreia do Sul, a percentagem de mulheres nestas posições não chega aos 25%Por outro lado, é na “discriminação na família” que surgem os piores resultados, muito por causa do desequilíbrio na distribuição do trabalho doméstico entre mulheres e homens — as mulheres gastam três vezes mais horas por dia do que os homens nestas actividades. Neste campo, Portugal é um dos países da OCDE onde as mulheres ocupam mais horas do dia com as tarefas do lar. Outros aspectos em que Portugal ainda está pior do que alguns dos países da OCDE — e que são contabilizados na dimensão das “limitações às liberdades civis” — é o acesso à justiça, que na prática se traduz na confiança das mulheres no sistema jurídico (50% das portuguesas diz que não confia) e a proporção de mulheres no Parlamento (35%). A prestação dos países no que diz respeito às leis em vigor é avaliada através de questionários com centenas de questões aplicados a especialistas nacionais. As questões relacionadas com práticas e atitudes são avaliadas através das estatísticas da OCDE. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O SIGI já foi elaborado em 2009, 2012 e 2014. Só nesta edição é que Portugal é considerado no ranking uma vez que nos anos anteriores faltavam dados que permitissem chegar a uma ponderação global comparável com a dos outros países. No total, foram analisados dados para 180 países, mas só 120 foram incluídos no ranking. “O SIGI 2019 mostra que foram feitos progressos claros, com compromissos políticos para eliminar a desigualdade de género. A nova legislação reforça a igualdade e elimina as leis discriminatórias, inclusive através de programas e planos de acção transformadores. ” Mesmo assim, continua a OCDE na página dedicada ao SIGI, “esses compromissos políticos, reformas legais e programas sensíveis ao género ainda não estão a ser traduzidos em mudanças reais para mulheres e meninas em muitos países”. Nos últimos lugares deste ranking surgem o Iémen, o Paquistão e o Irão. Há 12 países onde a desigualdade entre homens e mulheres ainda é considerada muito elevada.
REFERÊNCIAS:
Entidades OCDE
Porque é que o feminismo deve sair à noite?
O excesso e a perda de controlo são vistos como comportamentos aceitáveis entre homens. No entanto, é esperado que as mulheres se autocontrolem e moderem os seus comportamentos como forma de manter a respeitabilidade e feminilidade. (...)

Porque é que o feminismo deve sair à noite?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: O excesso e a perda de controlo são vistos como comportamentos aceitáveis entre homens. No entanto, é esperado que as mulheres se autocontrolem e moderem os seus comportamentos como forma de manter a respeitabilidade e feminilidade.
TEXTO: O movimento #MeToo tem servido de gatilho para mediatizar as formas de violência sexual, de maior ou menor intensidade, que afectam, fundamentalmente, mulheres em países ocidentais. Acusado de puritanismo e de histeria pelos/as mais reaccionários/as, este movimento expandiu-se, ramificou-se e permitiu que muitas mulheres ganhassem consciência sobre a sua própria condição e sobre as normas sociais e dispositivos estruturais que legitimam e naturalizam as várias manifestações de violência sexual que vivenciam desde tenra idade. Nesta conjuntura, os ambientes de lazer nocturno (bares, discotecas, festivais de verão, zonas de diversão nocturna, etc. ) têm vindo também a ser discutidos e pensados a partir de uma perspectiva de género. Nos últimos 20 a 30 anos, estes ambientes afirmaram-se como espaços-tempo importantes e amplamente valorizados, principalmente entre os públicos mais jovens. O reconhecimento da noite enquanto mais uma área produtiva nas cidades pós-modernas e a afirmação da diversão nocturna enquanto uma componente normal da vida contemporânea foram amplamente acolhidos por um público sedento de oportunidades de diversão, socialização e quebra com as responsabilidades formais e rotineiras que caracterizam a semana. Mas não só: a atractividade dos ambientes de lazer nocturno é intensificada pela sua permissividade para com comportamentos transgressivos, a vivência do risco e do excesso e o acesso a estados alterados de consciência. No entanto, este seu potencial hedonista e emancipatório não camufla as formas de exclusão social, baseadas em desigualdades de classe, étnicas e de género, que reproduzem. Ao nível das desigualdades de género, não é preciso olhar à lupa para trazer “à luz do dia” as retóricas e práticas sexistas embebidas em ambientes de lazer nocturno. A erotização do corpo da mulher para publicitar eventos e bebidas alcoólicas, a pressão para o uso de dress codes sexy, o uso de conteúdos musicais hipersexualizados, eventos como a "Noite da Mulher" criam uma atmosfera fortemente sexista onde a mulher surge como mais um “bem consumível”, um corpo público e acessível. Estes ambientes naturalizam também o assédio sexual, permitindo a presença de comentários sexuais incómodos e comportamentos como insistências e toques não consentidos enquanto dinâmicas de interacção social normais e aceitáveis. Por esse motivo, as mulheres têm de integrar a gestão de situações de assédio sexual como uma componente normal nas suas experiências de diversão nocturna. Adicionalmente, o lazer nocturno promove uma cultura de excesso e de consumo que, por reproduzir normas hegemónicas, tem repercussões diferentes consoante o género. O excesso e a perda de controlo são vistos como comportamentos aceitáveis entre homens. No entanto, é esperado que as mulheres se autocontrolem e moderem os seus comportamentos como forma de manter a respeitabilidade e feminilidade. Estas assimetrias resultam em vivências de lazer nocturno desiguais, sendo que as mulheres vêem a sua liberdade de expressão e acção balizada pela responsabilidade extra e unilateral de se protegerem como se a sua segurança dependesse apenas delas próprias. Este facto é flagrante na forma como são percebidas as situações de abuso ou agressão sexual. A cultura da violação não perdoa e usa os mesmos comportamentos (sair à noite, consumir álcool ou outras substâncias) para culpabilizar a vítima, alegar que consentiu, não resistiu o suficiente ou de alguma forma provocou a situação, enquanto o agressor é desculpabilizado porque “não se conseguiu controlar”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O feminismo também deve sair à noite porque existem desigualdades de género a nível laboral. Os cargos de liderança mantêm-se masculinizados, as barmaids têm de incorporar determinados dress codes (decotes, saltos altos, maquilhagem, por exemplo) e a gestão de situações de assédio sexual nas suas responsabilidades laborais e as produtoras culturais (como as DJ) continuam a ser paternalizadas e reconhecidas meramente pelo sua aparência, tendo de fazer um investimento maior para serem reconhecidas pela qualidade do seu trabalho. É com base no reconhecimento de que os ambientes de lazer nocturno perpetuam normas de género hegemónicas que legitimam o sexismo, a desigualdade, a insegurança e a vitimação sexual que surge o projecto Sexism Free Night com o objectivo de trabalhar em proximidade com estabelecimentos e eventos para a criação de roteiros de diversão nocturna mais seguros e igualitários. Este projecto é também responsável por um estudo que pretende determinar a relação entre violência sexual, a frequência de ambientes de lazer nocturno e o consumo de substâncias psicoactivas (questionário disponível aqui). Por fim sublinho que, enquanto persistirem práticas e imaginários sexistas que legitimam a (re)produção de violência contra as mulheres, o feminismo deve sair para todo o lado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência cultura exclusão mulher social consumo violação género estudo sexual mulheres corpo abuso assédio agressor feminismo
O custo da desigualdade de género? 130 biliões de euros em capital humano, diz Banco Mundial
Os investigadores concluíram que a desigualdade de género fazia com que os países perdessem em média 14% da sua riqueza nacional. Os salários mais altos teriam benefícios a curto prazo, mas poderiam ajudar também a reduzir a mortalidade infantil e os níveis de subnutrição. (...)

O custo da desigualdade de género? 130 biliões de euros em capital humano, diz Banco Mundial
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os investigadores concluíram que a desigualdade de género fazia com que os países perdessem em média 14% da sua riqueza nacional. Os salários mais altos teriam benefícios a curto prazo, mas poderiam ajudar também a reduzir a mortalidade infantil e os níveis de subnutrição.
TEXTO: Se a desigualdade de género não existisse, “os países conseguiriam aumentar a prosperidade do capital humano” – a valorização económica gerada a partir dos atributos de um trabalhador – e evitar uma perda de 160 biliões de dólares em capital humano, o equivalente a 136 biliões de euros, afirma um estudo publicado este mês pelo Banco Mundial. Intitulado “Potencial desconhecido: o elevado custo da desigualdade de género nos rendimentos”, o documento foca-se na perda de riqueza nos países devido à desigualdade que existe entre homens e mulheres nos salários e no mercado de trabalho. O relatório refere que muitas mulheres ficam presas numa “armadilha de produtividade, em parte devido às normas sociais que as reencaminham para trabalhos informais não pagos”. Para aumentar os rendimentos das mulheres e, consequentemente, o capital humano, é preciso investir desde a infância, “assegurando que tanto as mulheres como os homens têm igual acesso a oportunidades e recursos”. Com base em dados relativos a 141 países, o estudo defende que um pagamento mais justo permitiria ainda baixar as taxas de subnutrição e de mortalidade infantil. Os economistas que analisaram dados quanto à educação e habilidades dos trabalhadores concluíram que, só pela parte relativa à desigualdade de género, os países perdem em média 14% da sua riqueza nacional. “Ao olhar para 141 países, que corresponde a grande parte do mundo, pudemos ver que, basicamente em todo o lado, as mulheres ganham menos do que os homens. Portanto calculámos quanta mais riqueza existiria a nível mundial se as mulheres ganhassem o mesmo que os homens pela mesma vaga, e pelo mesmo número de horas trabalhadas”, resume o economista e autor do estudo, Quentin Wodon, em declarações ao jornal britânico The Guardian. “A mensagem importante aqui é que toda a gente beneficiaria de salários mais altos – não só as mulheres”, acrescenta ainda Wodon, referindo que “quanto mais alta a qualidade de vida, menor a pobreza”.
REFERÊNCIAS:
PS quer dados sobre medidas de coacção para agressores de violência doméstica
Segundo o RASI, a violência doméstica é o segundo crime mais participado contra pessoas em Portugal. (...)

PS quer dados sobre medidas de coacção para agressores de violência doméstica
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Segundo o RASI, a violência doméstica é o segundo crime mais participado contra pessoas em Portugal.
TEXTO: Um grupo de deputados do Partido Socialista pediu à ministra da Justiça dados estatísticos sobre a aplicação de medidas de coacção aos agressores em contexto de violência doméstica. Numa nota divulgada nesta sexta-feira, os oito deputados socialistas alegam que há uma discrepância entre as ocorrências de violência doméstica registadas pelas forças de segurança e as acusações do Ministério Público, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2017, bem como da Direcção-Geral de Políticas de Justiça sobre o número de condenações e aplicação de pulseiras electrónicas. Segundo o RASI, a violência doméstica é o segundo crime mais participado contra pessoas em Portugal, atingindo 26. 713 ocorrências, tendo sido finalizados no ano passado 29. 711 inquéritos, dos quais 20. 470 foram arquivados e 4465 tiveram acusação. Quanto à tramitação judicial, registaram-se 1457 condenações por violência doméstica, com a aplicação de 603 pulseiras electrónicas para impedir o contacto entre o agressor e a vítima, segundo os dados de 2017 da Direcção-Geral de Políticas de Justiça. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Recordam os deputados, no requerimento à ministra, que "nas medidas sociais de protecção das vítimas, segundo dados da CIG [Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género], em 2017 estiveram em casa-abrigo 858 mulheres e 832 crianças, em resposta de emergência 819 mulheres e 607 crianças e foram distribuídos 1060 aparelhos de teleassistência". Foram ainda identificadas duas mil crianças em risco de violência doméstica pelas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Destacam-se também os 24 homicídios no contexto da violência doméstica e de género ocorridos já este ano, segundo os dados do Observatório das Mulheres Assassinadas da UMAR.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime violência igualdade género mulheres doméstica agressor
Ciúmes, desemprego, conflitos. Telejornais tendem a “justificar” crimes de violência doméstica
ERC alerta para a necessidade de as notícias enquadrarem violência doméstica na esfera da desigualdade de género. As vítimas tendem a desaparecer nos casos mais mediáticos. E foco nos homicídios pode limitar percepção pública do problema, diz o regulador. (...)

Ciúmes, desemprego, conflitos. Telejornais tendem a “justificar” crimes de violência doméstica
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: ERC alerta para a necessidade de as notícias enquadrarem violência doméstica na esfera da desigualdade de género. As vítimas tendem a desaparecer nos casos mais mediáticos. E foco nos homicídios pode limitar percepção pública do problema, diz o regulador.
TEXTO: Há uma tendência no jornalismo televisivo para “justificar” os crimes de violência doméstica, procurando as “possíveis causas” para que eles aconteçam, havendo ainda notícias que levam mesmo a crer que a responsabilidade da agressão é da própria vítima. Isto é potenciado pela contextualização pobre deste crime enquanto problema social, o que pode limitar a percepção pública e perpetuar preconceitos sobre vítimas e agressores, concluiu a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) no estudo Representações da Violência Doméstica nos Telejornais de Horário Nobre, que é apresentado nesta segunda-feira. A análise a 432 peças transmitidas na RTP 1, RTP 2, SIC e TVI, entre 2013 e 2015, demonstrou que 41, 7% das notícias apresentam os “motivos” para a ocorrência do crime ou a tentativa de os aferir. O “fim de uma relação” e a existência de “um relacionamento conflituoso” aparecem em 65% dessas peças que procuram as razões da violência. “Ainda que em menor percentagem, os jornalistas relatam, com base nos testemunhos de familiares, amigos, vizinhos e, por vezes, das autoridades, a ‘natureza passional’, os ‘ciúmes’ e a ‘infidelidade’ na origem” da agressão. É assim transmitida a ideia de que há justificação para este tipo de violência, diz Tânia Soares, directora do Departamento de Análise de Media da ERC e coordenadora do estudo. São poucas as vezes — 18 em 375 peças nas quais é apresentada a vítima — em que é sugerida uma responsabilização da vítima pela agressão. Nestes casos, foram identificadas condutas susceptíveis de culpabilizar as vítimas — “bebia muito”, tinha outra relação amorosa, não se afastava do agressor. Na base disto está a falta de contextualização da problemática da violência doméstica, diz a ERC. Dá-se o exemplo de uma notícia de 2015, que tinha a seguinte frase destacada: “Mulher fez queixa do marido, mas decidiu continuar em casa. ”“Explicar as dificuldades das vítimas quando tentam acabar a relação permitiria fazer uma abordagem mais correcta e evitaria falsas crenças ou mitos como ‘a mulher merece ser agredida’ porque não quis pôr um fim à violência”, refere o regulador. Há ainda, por vezes, notícias que associam a “violência doméstica a determinadas aspectos como a nacionalidade, profissão ou idade dos envolvidos, “que em nada contribuem para a compreensão do problema”, aponta Tânia Soares. Esta busca do “como” e, sobretudo, do “porquê” do crime tem como consequência a simplificação de um fenómeno social complexo, que deve ser enquadrado na esfera da desigualdade de género. Citando o Manual Pluridisciplinar do Centro de Estudos Judiciários, a ERC sublinha que “a violência doméstica é resultado de um comportamento deliberado, através do qual um agente procura controlar outro, negando-lhe a liberdade a que tem direito”. Por isso, ainda que o uso de álcool ou estupefacientes, por exemplo, possa facilitar situações de violência doméstica, “não é a sua causa” ao contrário do que “muitas vezes é referido nas notícias”. Além disso, este tipo de violência na intimidade atravessa vários grupos sociais e culturais, pelo que referir determinadas características “pode contribuir para o reforço de estereótipos”. A ERC conclui ainda que apenas uma em cada três notícias enquadra e problematiza o tema, com estatísticas e explicações psicossociológicas (algo que aumentou entre 2013 e 2015, em especial nos canais públicos). Mas a violência doméstica é muitas vezes tratada como qualquer outro crime violento. E não deve, diz a ERC, porque não é apenas a violência que está em causa, mas um problema social com origem no desequilíbrio das relações de poder entre homens e mulheres. Em 2017, por hora, foram registadas quase quatro denúncias em Portugal; 80% sobre mulheres, segundo o último Relatório Anual de Segurança Interna. É, por isso, diferente falar em “homicídio” ou em “homicídio em contexto de violência doméstica”, frisa Tânia Soares. Em mais de metade das peças, os jornalistas optaram por designações genéricas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma abordagem mais ampla significa também dar voz às sobreviventes. A ERC quer que os jornalistas percebam que “podem tratar as mesmas matérias, mas de uma forma mais benéfica para a vítima”, diz Tânia Soares, divulgando serviços de apoio, incentivando a denúncia deste crime público. O retrato das vítimas “é normalmente circunscrito ao medo das agressões e à dificuldade de sair do ciclo de violência”. E nos casos mais mediáticos – como os de Manuel “Palito” Baltazar e Oscar Pistorius – as vítimas “praticamente desaparecem” dando lugar ao protagonismo dos supostos agressores. Destaque ainda para o tipo de violência doméstica que é mais mediatizado: quase 80% foram homicídios. Se é óbvio que, pela sua gravidade, o homicídio tem particular relevância jornalística, a ERC questiona se isso “não contribuirá para deformar a realidade, fazendo parecer que toda a violência doméstica se traduz em homicídio (incluindo as estatísticas divulgadas), negligenciando em simultâneo outras formas de violência na intimidade a que devemos estar igualmente atentos”. Ao omitir ou diminuir a presença destes relatos, pode-se estar a limitar a percepção pública do problema, acrescenta. Em particular dos maus tratos psíquicos ou físicos, o principal motivo de queixa, nesta área, à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens homicídio violência mulher social medo género estudo mulheres doméstica agressor