Morreu Jonah Lomu, uma lenda do râguebi
Antigo jogador dos All Blacks tinha 40 anos. (...)

Morreu Jonah Lomu, uma lenda do râguebi
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Antigo jogador dos All Blacks tinha 40 anos.
TEXTO: O neozelandês Jonah Lomu, considerado um dos melhores jogadores de râguebi de todos os tempos, morreu nesta quarta-feira. Segundo confirmou John Mayhew, antigo médio dos All Blacks, selecção de râguebi da Nova Zelândia, Lomu foi vítima de uma rara doença renal, que já o tinha obrigado a realizar um transplante em 2004. “Estamos emocionados e profundamente tristes com esta notícia”, comentou Steve Tew, director do râguebi do país. Lomu, que fez 43 ensaios nas suas 63 partidas pelos All Blacks entre 1994 e 2002, tinha vários problemas de saúde desde a sua retirada da modalidade em 2002. Nascido num dos subúrbios mais pobres de Auckland, Lomu foi a grande estrela da geração dos All Blacks da década de 1990, tida como uma das mais brilhantes entre todos os desportos do país. Quando se estreou, em 1994, Lomu foi o mais jovem a jogar na selecção neozelandesa. Tinha apenas 19 anos. A sua morte motivou a reacções dos mais diversos quadrantes. Governantes, organizações humanitárias e adeptos de râguebi da Oceânia lamentaram o desaparecimento do neozelandês. A sua mulher, Nadene, comunicou “com grande tristeza” a morte de Lomu, colocando uma foto de família na rede social Facebook e pedindo respeito pelos filhos Brayley e Dhyreille, de seis e cinco anos, respectivamente. O primeiro-ministro neozelandês, John Key, classificou Lomu “não só como um grande embaixador do râguebi e da Nova Zelândia, mas também como alguém que sempre se empenhou em actividades de beneficência em prol da comunidade”. Lomu revolucionou o râguebi, graças a uma forma de jogar baseada na sua velocidade e envergadura, e contribuiu para a promoção da modalidade em todo o mundo, num período que coincidiu com a profissionalização do râguebi. George Gregan, lenda do râguebi australiano, considerou-o “um gigante gentil” e “uma superestrela internacional que colocou o râguebi no mapa”. No arquipélago de Tonga, de onde são originários os pais e onde o jogador, nascido em Auckland, passou parte da infância, o governo prepara-se para discutir as homenagens a prestar a Lomu, cuja fama levou muitos progenitores a batizarem os filhos com o seu nome. No início de Outubro, Lomu, que nos tempos áureos pesava quase 120 quilos por 1, 96 metros de altura, viu o sul-africano Bryan Habana igualar o seu recorde de 15 ensaios em Mundiais de râguebi. O ensaio concretizado na meia-final do Mundial de râguebi em 1995, contra a Inglaterra, foi considerado a melhor jogada de um Mundial. Pouco tempo depois deste Mundial, foi-lhe diagnosticada uma síndrome nefrótica, que afecta os rins.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Lima falha European Tour por uma pancada
Obteve hoje o terceiro melhor resultado do dia na Final da Escola de Qualificação, em Espanha (...)

Lima falha European Tour por uma pancada
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Obteve hoje o terceiro melhor resultado do dia na Final da Escola de Qualificação, em Espanha
TEXTO: É por 1 'shot' que Filipe Lima não fará companhia a Ricardo Melo Gouveia na época de 2016 e que não jogará uma sétima temporada ao mais alto nível, o que seria um recorde nacional!No sempre difícil Stadium Course do PGA Catalunya Resort, em Girona, o nº3 de Portugal cometeu a proeza de cumprir a última volta em 68 pancadas, 4 abaixo do Par. Não fosse 1 bogey no buraco 17 (o seu 8º, dado ter começado do 10) e teria terminado no grupo dos 24º classificados com um total de 7 abaixo do Par. Foi o segundo ano consecutivo em que um português falhou o apuramento para a primeira divisão europeia por 1 simples pancada na Final da Escola de Qualificação, na Catalunha, depois de o mesmo ter sucedido a Ricardo Melo Gouveia em 2014. O mesmo “fado” tinha batido à porta de Tiago Cruz em 2007!Mas, voltando à jornada de hoje, sempre corajoso, como é seu timbre, o português residente em França – que no início da semana sentiu-se visivelmente afectado pelos ataques terroristas em Paris – ainda teve força anímica para somar birdies nos buracos 4, 6 e 7 (para juntar aos carimbados anteriormente no 12 e no 15), para “morrer afogado na praia” com um agregado de 422 (-6). Partiu para a última volta no 56º lugar e terminou no 28º empatado. Melhor do que ele, hoje, só o sul-africano Justin Walters (67 pancadas), um antigo vice-campeão do Portugal Masters, e o galês Stuart Manley (66). Dos dois portugueses que jogaram a Final da Escola, Filipe Lima foi o único a conseguir bater o Par-72 do desafiante Stadium Course, dado que, Ricardo Santos, eliminado aos 72 buracos, jogara em 75 e 74. Lima, por seu lado, assinou 74 no primeiro dia, 72 no terceiro e agora 68 no sexto. Pelo meio ficaram cartões de 70 (Par) e 66 (-4) ao mais acessível Tour Course. No início desta Final, havia a hipótese de Portugal ter, em 2016, pela primeira vez na história do seu golfe, três jogadores a disputarem o European Tour e hoje foi por muito pouco que não se repetiu a proeza de 2014, quando Ricardo Santos e Filipe Lima competiram em simultâneo entre a elite europeia. Assim sendo, Ricardo Melo Gouveia será o único, dado que, a Categoria-18 com que ficará Filipe Lima não deverá permitir-lhe entrar senão em um ou dois torneios na próxima época. Em contrapartida, como este ano encerrou a temporada no 51º posto da Corrida para Omã, o português de 33 anos irá ter entrada em todos os torneios da segunda divisão europeia em 2016 e poderá ser um dos favoritos, uma vez que foi 2º desse ranking do Challenge Tour em 2009 e 2013. Lima jogou seis anos no European Tour e sabe que poderá regressar a esse nível. Recorde-se que antes de viajar a Espanha, disse ao Gabinete de Imprensa da Federação Portuguesa de Golfe:"Passei um ano difícil. Fui operado às costas no ano passado e as coisas não me correram muito bem este ano. Para o ano sei que posso jogar no Challenge Tour. Um dos meus objetivos este ano era esse. Sabia que era possível conseguir o cartão do European Tour via Challenge Tour, mas era difícil, depois de sete meses sem jogar. Era preciso ver como as costas iriam aguentar este ano, não tenho dores e já consegui uma categoria completa para o Challenge Tour do próximo ano. Isso era o mais importante". Quanto a Ricardo Santos, também poderá jogar no Challenge Tour em 2016, circuito em que foi o 4º do ranking em 2011, mas, antes disso, ainda irá tentar a sua sorte, em Janeiro, na Escola de Qualificação do Asian Tour. A Final da Escola de Qualificação do European Tour terminou com três jogadores empatados no 1º lugar com 410 (-18): o espanhol Adrian Otaegui, o sul-africano Ulrich van den Berg e o norte-americano de origem sul-coreana Daniel Im. Os resultados e classificações dos portugueses na Final da Escola de Qualificação do European Tour foram os seguintes:28º (empatado) Filipe Lima (Very Important Portuguese), 422 (74+70+72+66+72+68), -692º (empatado) Ricardo Santos (Oceânico Golf), 286 (75+63+74+74), +2Veja mais em www. golftattoo. com
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Sucursais ganham peso nos activos internacionais dos bancos portugueses
Banco de Portugal publica dados sobre exposição ao risco dos bancos na actividade internacional. (...)

Sucursais ganham peso nos activos internacionais dos bancos portugueses
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Banco de Portugal publica dados sobre exposição ao risco dos bancos na actividade internacional.
TEXTO: Os activos locais das filiais e sucursais dos bancos portugueses no estrangeiro – depósitos, empréstimos e títulos – estão a aumentar o seu peso no conjunto dos activos internacionais das instituições. O supervisor passou a incluir no seu boletim mensal novas estatísticas que ajudam a caracterizar a exposição dos bancos aos riscos na sua actividade internacional. No final do segundo trimestre deste ano, os activos locais dos bancos portugueses já representavam mais de metade do total (52%). Este valor, que diz respeito ao universo de activos com “risco de última instância”, tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos por causa da “importância relativa” da actividade das filiais dos bancos portugueses fora de portas, sobretudo em Angola, Moçambique, Espanha e Polónia. Os dados dizem respeito apenas aos grupos bancários com sede em Portugal e os seus “braços” no estrangeiro (ficando de fora os bancos de outros países que estão presentes no mercado português). O objectivo passa por medir riscos externos – por exemplo, em relação a um empréstimo concedido por um banco português em que a contraparte desse activo (a entidade que garante o cumprimento do contrato) não é Portugal. No caso de uma filial ou sucursal de um banco português, contam para as estatísticas os activos financeiros em que a contraparte é esse mesmo país ou um outro país estrangeiro. Um caso concreto: as estatísticas têm em conta os empréstimos de uma sucursal de um banco português em Espanha se a contraparte desses activos estiver em Espanha ou França. No entanto, um activo já não é contabilizado para estas estatísticas se a sucursal do banco português em Espanha concede um empréstimo em que o país contraparte é Portugal. Estes riscos são classificados de duas formas: riscos imediatos, quando a entidade que garante o contrato imediatamente é a mesma com a qual o banco celebrou o contrato; ou riscos de última instância, quando um terceiro interveniente garante o cumprimento do contrato (em substituição da entidade que, em primeira instância, é contraparte do contrato celebrado com o banco). Segundo o supervisor liderado por Carlos Costa, o universo de activos internacionais classificados numa óptica de risco imediato era de 86. 844 milhões de euros no final do segundo trimestre. Este valor reduziu-se em cerca de um terço face a valores registados em 2010, depois de se ter registado um aumento do valor da posição dos activos internacionais. “A evolução registada foi sobretudo determinada pela componente ‘activos externos e activos locais das sucursais e filiais em moeda estrangeira’, que é também a que tem o peso mais significativo no total” dos activos, sublinha o banco central. Dos quase 87 mil milhões de euros de activos considerados de “risco imediato”, 43% referem-se a activos em que a contraparte é um país da zona euro, um valor equivalente a 37. 535 milhões de euros. Pela exposição a Angola e Moçambique, uma fatia importante de 19%, está nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), o equivalente a 16. 408 milhões de euros. E há 6% de activos internacionais em que a contraparte é um offshore. São 4987 mil milhões de euros. A percentagem é ligeiramente superior à dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bloco que representa 5% do total (3920 mil milhões de euros).
REFERÊNCIAS:
Países Portugal França China Índia África do Sul Brasil Espanha Rússia Angola Moçambique Polónia
Apresentado o primeiro partido muçulmano da Austrália
A minoria muçulmana da Austrália reivindica uma posição política em clima de protestos anti-islâmicos e face à afirmação de partidos conservadores de direita. (...)

Apresentado o primeiro partido muçulmano da Austrália
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A minoria muçulmana da Austrália reivindica uma posição política em clima de protestos anti-islâmicos e face à afirmação de partidos conservadores de direita.
TEXTO: Diaa Mohamed, um empresário australiano, apresentou esta terça-feira o que pretende que venha a ser o primeiro partido muçulmano do país. O Partido Muçulmano Australiano (PMA), espera reunir as 500 assinaturas necessárias para o registo oficial. Com a intenção de vir a concorrer às eleições para o Senado dentro de dois anos, o PMA surge como plataforma para a participação política da comunidade muçulmana. “Existem partidos cristãos, e partidos criados especificamente como opositores ao islão, enquanto os muçulmanos não têm representação oficial”, declarou Diaa Mohamed, o fundador do PMA. O anúncio oficial desta terça-feira surge no rescaldo das atrocidades cometidas em França por terroristas associados ao Estado Islâmico (EI). “Muitas questões serão colocadas sobre o islão devido aos acontecimentos recentes. Esse é o principal motivo que nos levou a criar este partido, portanto é uma boa altura para o apresentar”, afirmou Mohamed, em entrevista à rádio australiana AM. O líder do PMA condenou os ataques do passado fim-de-semana na capital francesa, afirmando que a sua religião “não defende a morte de inocentes”. A comunidade muçulmana representa cerca de 2% da população australiana, e desde que o agente da polícia Curtis Cheng foi morto a tiro em Outubro por Fahad Jabar, um jovem muçulmano de 15 anos, os seguidores do islão têm sido alvo de protestos de extrema-direita. Movimentos como a Frente de Patriotas Unidos ou o Reclamar a Austrália manifestam-se contra a “corrosão dos fundamentos judaico-cristãos” do país. O primeiro-ministro, Malcolm Turnbull, assumiu o combate à radicalização das manifestações e a tensão que surge em contraprotestos de activistas, que por seu lado condenam a onda de racismo. “Extremismos de qualquer tipo são uma ameaça aos valores da Austrália”, declarou Turnbull num discurso público em Sidney o mês passado. “As pessoas que decidem responder aos actos radicais de uma minoria culpando todos os muçulmanos estão a agir de maneira totalmente contraproducente”. O PMA surge para dar voz à comunidade muçulmana na Austrália e afirmar-se perante os seis partidos anti-islâmicos que se propõem às próximas eleições. Entre eles o Partido da Liberdade, de Nick Folkes, o Ama a Austrália ou Sai, liderado por Kim Vuga, antiga estrela de televisão, e a Aliança de Liberdade Australiana (ALA). “As pessoas estão à procura de alternativas porque a maioria dos partidos não estão preparados para discutir a divisão multicultural no país e os danos que isso tem provocado à Austrália”, afirmou em declarações à BBC a líder do ALA, Debbie Robinson. O manifesto do seu partido, oficialmente reconhecido em Julho, sustenta que “o Islão não é simplesmente uma religião, é uma ideologia totalitária com aspirações globais”, cita a BBC. Os moldes do ALA são semelhantes aos do Partido para a Liberdade da extrema-direita holandesa, liderado pelo polémico Geert Wilders, convidado como orador principal da apresentação oficial da Aliança em Sidney. No recente encontro do G20 em Antalya (Turquia), o primeiro-ministro australiano declarou ter reforçado a segurança no país, por considerar que o risco de ataques do EI era elevado depois dos acontecimentos em França. No entanto, Turnbull voltou a salientar que “os extremistas islâmicos não agem em nome do islão. Difamam o Islão”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte racismo comunidade minoria morto
Francês suspeito de ligações a irmãos Kouachi detido na Bulgária
Fritz-Joly Joachin foi detectado quando tentava entrar na Síria, juntamente com o filho de três anos, dias antes dos ataques. (...)

Francês suspeito de ligações a irmãos Kouachi detido na Bulgária
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150429092028/http://www.publico.pt/1682041
SUMÁRIO: Fritz-Joly Joachin foi detectado quando tentava entrar na Síria, juntamente com o filho de três anos, dias antes dos ataques.
TEXTO: A Bulgária anunciou que um cidadão francês detido no primeiro dia do ano, quando tentava atravessar a fronteira com a Turquia, é suspeito de ligações a Chérif Kouachi, um dos extremistas que atacaram o semanário satírico Charlie Hebdo. A imprensa adianta, entretanto, que o homem que acompanha a namorada de outro dos atacantes de Paris na viagem para a Turquia era já conhecido dos serviços secretos. Fritz-Joly Joachin, de origem haitiana e convertido há mais de uma década ao islamismo, foi detido ao abrigo de um mandado de captura emitido depois de a sua ex-mulher o ter acusado do sequestro do filho de ambos, de três anos. Assegurava que Joachin pretendia juntar-se aos jihadistas na Síria e educar a criança segundo os princípios do islão radical. O cidadão francês foi detido a bordo de um autocarro que se dirigia para a fronteira turca e o filho foi entretanto entregue à mãe, em França. A procuradora de Haskovo, no Sul da Bulgária, revelou nesta terça-feira que foi emitido um novo mandado de captura europeu que acusa o francês de “participação num grupo criminoso armado cujo objectivo era a organização de actos terroristas”. Darina Slavova acrescenta que “antes da sua partida para a Turquia, a 30 de Dezembro, o detido esteve várias vezes em contacto com um dos dois irmãos” Kouachi, que no passado dia 7 mataram 12 pessoas no ataque ao Charlie. As investigações aos atentados da semana passada estão ainda na fase inicial, mas as autoridades francesas acreditam que haverá outras pessoas implicadas na preparação dos ataques, estando a investigar a rede de contactos quer de Chérif e Said Kouachi, quer de Amedy Coulibaly, o extremista que matou uma agente da polícia num subúrbio a sul de Paris, na quinta-feira, e quatro reféns durante um sequestro numa mercearia kosher no Leste da capital. Segundo a sua ex-mulher, Joachin radicalizou-se nos últimos dois anos, ao ponto de querer juntar-se aos extremistas que combatem o regime de Bashar al-Assad na Síria. Mas, ao ser detido, o francês assegurou que não era “nem radical nem terrorista” e que planeava passar uma semana de férias com a namorada turca e o filho antes de regressar a Paris. A procuradoria búlgara adiantou que Joachin aceitou ser extraditado para França, o que deverá agilizar o processo. Companheiro de viagem de Boumeddiene era conhecido das secretasJá na Síria está Hayat Boumeddiene, a namorada de Coulibaly que as autoridades francesas procuram por ligação aos ataques. No mesmo dia em que o Governo turco confirmou que Boumeddiene chegou a Istambul no dia 2, o canal de televisão Habertürk divulgou imagens das câmaras de vigilância com o que será a chegada de Boumeddiene ao aeroporto. Nas imagens surge acompanhada por um homem, de barba e cabelos compridos apanhados, que foi identificado como Mehdi Belhoucine, um cidadão francês de 23 anos. Segundo o jornal Le Monde, o jovem foi visado num inquérito a uma fileira de recrutamento de combatentes para o Afeganistão da qual fazia parte um irmão mais velho, detido em 2010 e condenado no ano passado a dois anos de prisão. Na altura das investigações, Mehdi foi interrogado pela polícia e disse estar “particularmente preocupado com a situação” no Afeganistão, onde na altura mais de cem mil soldados estrangeiros lideravam o combate aos taliban, mas também com o sofrimento dos muçulmanos na Palestina, Somália e Tchetchénia. “Pensei deslocar-me a um destes países, mas não necessariamente para pegar em armas”, terá dito, acrescentando que a sua prioridade era envolver-se na “ajuda humanitária”, “mesmo que pudesse ser instigado a pegar em armas”. Acabaria por não ser levado a julgamento, acrescenta o Le Monde.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
Maomé era "inevitável" na capa do Charlie
Uma primeira página expectável para João Paulo Cotrim e "um testemunho de perseverança" para Osvaldo Macedo de Sousa. “Este desenho não é para rir.” (...)

Maomé era "inevitável" na capa do Charlie
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma primeira página expectável para João Paulo Cotrim e "um testemunho de perseverança" para Osvaldo Macedo de Sousa. “Este desenho não é para rir.”
TEXTO: O Conselho Francês da Religião Muçulmana e a União de Organizações Islâmicas Francesas apelaram em comunicado à comunidade muçulmana que permaneça “calma e evite reacções emotivas incompatíveis com a sua dignidade”, evocando o “respeito pela liberdade de opinião”. Já o grande mufti egípcio (a mais alta autoridade religiosa do país) considerou, por seu turno, que esta capa “vai causar uma nova vaga de ódio na sociedade francesa e ocidental em geral”, defendendo que é racista – uma acusação frequente feita às caricaturas do Charlie Hebdo. João Paulo Cotrim identifica essa outra camada de possível "irritação", mas não vê “como desenhar uma caricatura sem usar estereótipos, porque a caricatura é a manipulação ao limite do ridículo do estereótipo”. O príncipe da Jordânia Hassan bin Talal, citado pelo Guardian, disse que “se o cartoon tivesse escrito ‘Eu sou Ahmed’, dado que muitos usaram essa frase em homenagem ao polícia Ahmed Merabet que foi morto [também no ataque ao Charlie Hebdo], talvez não tivesse posto mais sal na ferida, mas levado as coisas a outro nível”. Já o antigo primeiro-ministro francês François Fillon considera a capa “magnífica” e compassiva. “Não pode haver debate quanto à liberdade de expressão, nunca”, disse à France Inter. Na conferência de imprensa, Luz disse não estar “nada preocupado com a nova capa”. “Depositamos a nossa confiança na inteligência das pessoas, no humor, na ironia. As pessoas que levaram a cabo este ataque simplesmente não têm sentido de humor. ”A redacção tinha já anunciado não querer fazer um jornal-memorial, nem uma edição de obituários. Business as usual e gente solene com lágrimas, mas nem tanto. Antigos cartoons de Stéphane Charbonnier (ou Charb), Georges Wolinski, Jean Cabut (Cabu), Bernard Velhac (Tignous) e Philippe Honoré, bem como textos de Bernard Maris e Elsa Cayat, colunistas também mortos no atentado, vão estar nas 16 páginas do jornal, cuja tiragem normalmente ronda os 60 mil exemplares e que na quarta-feira é vendido em 25 países e traduzido em 16 línguas, sendo também publicado com alguns jornais como o turco Cumhuriyet. Há também outro cartoon de Luz em que os terroristas chegam ao céu e pedem pelas suas 70 virgens para descobrirem que elas estão com a equipa do Charlie. E outro cartoon alfineta a Igreja Católica com uma imagem da manifestação de milhões de domingo: “11 de Janeiro, mais pessoas para o Charlie do que para a missa. ”Notícia corrigida às 08h27: número da edição do jornal
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ataque comunidade morto racista
França não vai responder ao terrorismo com medidas de excepção
Governo mobiliza 10 mil soldados para a segurança de Paris e outros "pontos sensíveis", e garante protecção dos locais de culto de judeus e muçulmanos. Primeiro-ministro rejeita a adopção de um Patriot Act à francesa, como defende a direita e o lobby dos polícias. (...)

França não vai responder ao terrorismo com medidas de excepção
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.666
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Governo mobiliza 10 mil soldados para a segurança de Paris e outros "pontos sensíveis", e garante protecção dos locais de culto de judeus e muçulmanos. Primeiro-ministro rejeita a adopção de um Patriot Act à francesa, como defende a direita e o lobby dos polícias.
TEXTO: Manuel Valls exprimiu a mesma preocupação pelos “acontecimentos dos últimos dias, e que não são novidade, de vandalização e ataques a tiro contra mesquitas”. O primeiro-ministro sublinhou que “todos os cidadãos do país têm direito à protecção do Estado e das forças da ordem”, e garantiu que o ministério do Interior já tomou medidas para assegurar que também os locais de culto dos muçulmanos serão abrangidos pelos efectivos mobilizados para a operação inédita de segurança militar. No Parlamento, discute-se a possibilidade da abertura de uma comissão de inquérito sobre os atentados. A proposta foi avançada pelo líder da bancada da UMP, Christian Jacob, com a premissa de reconstituir os acontecimentos mas principalmente a de “retirar as lições do que aconteceu: precisamos de saber quais foram as condições em que estes indivíduos saíram da jihad, da prisão ou da vigilância de que eram alvo para ter os elementos necessários para modificar a legislação”. A ideia foi acolhida pelos deputados socialistas, que reputaram como indispensável a colaboração com o Governo “para estudar as melhores formas para melhorar o dispositivo anti-terrorista de que o país dispõe”, observou Bruno Le Roux em nome da bancada. O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, explicou que o Governo quer legislar para conceder maior autoridade aos serviços competentes para a monitorização da Internet em busca de actividades subversivas ou na comunicação entre células terroristas – o executivo anunciou a criação de 500 novos postos nos serviços de informação. Manuel Valls referiu-se à proposta em entrevistas à rádio RCM e à BFM-TV: “Há que melhorar o sistema de escutas administrativas e judiciárias”, disse. As restantes medidas, sobre as quais deixou apenas pistas, serão explicadas esta terça-feira à Assembleia Nacional, prometeu. Entre elas está uma “generalização do regime de isolamento para os islamistas radicais sob detenção” e ainda acções nas escolas “para lutar contra o racismo e o anti-semitismo”. Não foi apenas em França que os acontecimentos da semana passada em Paris deram origem à reflexão política. Em Londres, o primeiro-ministro David Cameron instruiu os dirigentes dos serviços de segurança britânicos a desenhar planos de contingência para a eventualidade da ocorrência de actos semelhantes no Reino Unido (que foi alvo de um ataque coordenado a 7 de Julho de 2005 e assistiu já a acções isoladas como por exemplo o assassínio do soldado Lee Rigby). Cameron prometeu ainda “reforçar o arsenal jurídico” para lutar contra os extremistas, de forma a impedir a comunicação entre eles ou a permitir o regresso dos cerca de 600 jihadistas britânicos que deixaram o país para combater na Síria e no Iraque. Essa é uma promessa que o líder conservador só conseguirá cumprir se for reeleito para o cargo, dentro de quatro meses: a sua proposta para uma nova lei para a vigilância de comunicações e dados electrónicos foi bloqueada pelos parceiros de coligação liberais-democratas. Investigações em cursoAs autoridades francesas prosseguem com as investigações aos crimes ocorridos em Paris e com as buscas pelos alegados cúmplices dos terroristas – por exemplo, os responsáveis pela produção e publicação dos vídeos que surgiram depois da morte de Amedy Coulibaly no cerco ao supermercado. Algumas das referências feitas nessas gravações envolviam informação que só foi conhecida horas depois de Coulibaly ter sido abatido. Definitivamente livre, e sem qualquer acusação, está Mourad Hamyd, o jovem de 18 anos que foi procurado como o terceiro suspeito do ataque ao Charlie Hebdo, e que se entregou à polícia nessa mesma noite depois de ler o seu nome nas redes sociais. As autoridades confirmaram que o jovem foi libertado logo na sexta-feira, depois de várias testemunhas terem confirmado que estava nas aulas à hora do tiroteio.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Fazer passar os terroristas por loucos evita que se interrogue a sociedade
A história do grupo terrorista Baader-Meinhof contada para os nossos dias. Estado e terrorismo, hoje: é preciso assumir as nossas dúvidas e as contradições, diz Jean-Gabriel Périot, o realizador de um dos grandes filmes do Indie, Une Jeunesse Allemande. (...)

Fazer passar os terroristas por loucos evita que se interrogue a sociedade
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150425174655/http://www.publico.pt/1693000
SUMÁRIO: A história do grupo terrorista Baader-Meinhof contada para os nossos dias. Estado e terrorismo, hoje: é preciso assumir as nossas dúvidas e as contradições, diz Jean-Gabriel Périot, o realizador de um dos grandes filmes do Indie, Une Jeunesse Allemande.
TEXTO: É o filme de uma brutal desilusão. Dizia-se no início: “Apenas acredito na juventude. ” Era uma vez a República Federal da Alemanha (RFA), anos 1960, quando a sua juventude começava de novo, procurava uma possibilidade moral para voltar a contar histórias, fazer filmes. E era uma vez a revolução e o Novo Cinema Alemão. Contra os pais, a Igreja, o patronato, que tinham permitido o nazismo. Ulrike Marie Meinhof, jornalista, escritora, activista, aparecia na TV, consentindo ainda uma máscara de docilidade no debate público. Rainer Werner Fassbinder ia ajustando as contas com a mãe nos filmes. Une Jeunesse Allemande conta como a acção tomou conta das palavras, como a arma substituiu a câmara. “Nós não inventámos a violência, nós reencontrámos a violência”, diz uma jovem guerrilheira. O pequeno filme era uma produção da “indústria da consciência” que florescia nas universidades e escolas de cinema, propaganda revolucionária que não concorria, em termos de visibilidade, com a propaganda do Estado. E passaram à radicalização. Ulrike Marie Meinhof: foi presa em 1972, acusada de assassinatos, formação de organização terrorista; morreu no seu isolamento, a cela de Stammheim, Estugarda, em 1976, enforcada – versão oficial. Em 1977, Andreas Baader e Gudrun Ensslin, condenados a prisão perpétua, suicidavam-se (um tiro ele, enforcamento ela, versão oficial) no auge do confronto entre o Estado e os terroristas (Baader-Meinhof, ou Fracção do Exército Vermelho, chamavam-se): a moeda de troca para conseguir a libertação dos que estavam presos, o rapto do industrial Hanns Martin Schleyer e o sequestro de um avião da Lufthansa, falhara. O Novo Cinema Alemão reagia ao choque. Nesse dia, Outono de 1977, Fassbinder, exausto, confrontava a mãe: “O que te incomoda nos terrorristas é que talvez os possas compreender. ”Une Jeunesse Allemande é um filme sem medo de compreender. Jean-Gabriel Périot esteve oito anos a pesquisar nos arquivos dessa guerra entre Estado e terrorismo: o lirismo revolucionário dos anos 1965-67, o desespero estudantil que levou à radicalização (1967), a retaliação do Estado, que dominou as imagens entre 1970-1977. É um fresco, um épico sem voz off, que permite a intervenção romanesca do espectador ao criar empatia com personagens (ou, evidentemente, desligar-se delas). Mas que fala directamente ao presente. Não há outra hipótese, é preciso fazer algo com as dúvidas, assumi-las, transmiti-las como numa corrida de estafetas. Há uma altura em Une Jeunesse Allemande - na história dos Baader Meinhof e da República Federal Alemã, esse momento corresponde à fase de retaliação do Estado - em que alguém diz que tentar compreender as motivações dos terroristas é perigoso porque pode equivaler a desculpabilizar a violência. E quase no fim há um excerto do filme em episódios Alemanha no Outono, feito a quente por Alexander Kluge, Rainer Werner Fassbinder, Volker Schlöndorff, em 1977, no momento da morte dos dirigentes da Fracção do Exército Vermelho presos em Stammheim e do assassinato do empresário Hanns Martin Schleyer. No episódio de Fassbinder, o cineasta discute com mãe, diz-lhe que o grande medo dela é que, talvez, ela possa compreender os terroristas. Para quem passou tanto tempo com eles – você – alguma vez se sentiu atemorizado por os compreender?Penso que não. Pelo menos não senti dessa forma. Pensei muito, em relação às imagens que ia encontrando, sobre o que elas me poderiam dizer sobre eles, porque há uma caixa de segredos sobre essa história. Mas não, nunca me inquietei. Porque é que a história o interessou?Estava a fazer pesquisa, interessam-me as questões da militância, da utilização da violência, questões ligadas ao terrorismo face ao Estado, à volta da resistência e das acções que ela desencadeia por parte do Estado. E houve um momento em que me encontrei face à história particular dos Baader Meinhof tal como foi contada na altura através dos media. E foi nessa altura que percebi que era necessário ir procurar as imagens deles, a forma como eles se apresentaram. Tentar estar o mais próximo deles, e dessa forma interrogar essa história de um ponto de vista de cineasta: interrogar a utilização das imagens e fazer uma ligação com o presente. Ou seja, as minhas questões passaram a focalizar-se na história particular deles. Como espectador podemos sentir-nos próximos das personagens, figuras trágicas. E a palavra é essa: “personagens”. . . . . . simTal como numa ficção em que nos ligamos a uma personagem do ecrã sem danos de maior, porque é “ficção”, aqui podemos também ligar-nos a estas figuras, criando empatia, até que uma voz interior pode dizer-nos: isto aconteceu, eles mataram pessoas. Mas o sopro é o de um épico, com as metamorfoses das personagens. Ulrike Meinhof, por exemplo: a forma como se vai metamorfoseando entre os anos de 1965 e a segunda metade dos anos 70. É impossível que não tenha lidado com essas imagens da mesma maneira que um realizador, numa ficção, gere o arco narrativo e as suas personagens. Ou seja, você ajudou a construir a narrativa Baader Meinhof. Sim, é verdade. Há imagens que são verdadeiramente documentais, bastou-me integrá-las na cronologia. Isso era suficiente, por exemplo, para a metamorfose aparecer, fisicamente ou no discurso de Ulrike. Onde o filme participa numa construção é quando evidencia que as imagens dos Baader Meinhof são já de si imagens de uma encenação. Quando Meinhof aparecia na televisão, interpretava uma personagem porque era uma forma de se “apresentar”. Talvez que ao dar-me conta disso eu o tenha tornado mais visível. Mas já de si eram imagens “distanciadas”. Gosto muito da sequência da carta de Meinhof, em que ela diz que para ter acesso à palavra tem de aparecer como se fosse um palhaço. . . . . . é incrível: ela diz que se sente obrigada a dar-se a ver ao grande público sempre a sorrir quando estava a falar de assuntos que para ela tinham uma “importância mortal”. Ela não fazia batota, dizia já para onde ia, o que queria fazer; dizia: tenho uma máscara, a verdade é outra. Mas é então nisso, ao participar nesse trabalho de distância, e de evitar qualquer psicologismo em relação às personagens, que participo na encenação: na enunciação ao público do trabalho deles, na forma como se dirigiram para a violência, para a luta armada. Quero que as pessoas vejam as imagens por aquilo que elas contam mas também quero que vejam a encenação, que as duas coisas apareçam ao mesmo tempo. As “imagens dos Baader Meinhof” que conhecíamos são as do Estado, uma forma de os objectificar. Num outro sentido, mas com resultados semelhantes, está toda a ficção que tem feito deles anti-heróis chic – por exemplo, Baader (2002), de Christopher Roth. Onde está o seu filme?Está num lugar o mais próximo possível daquilo que eles queriam mostrar de si mesmos no seu percurso. Tentei falar deles como eles falaram deles. E tentei que o espectador ficasse livre de criar para si as personagens, de pensar sobre elas o que quisesse, deixar tocar-se por elas ou não – em qualquer dos casos, não forçar nem interpretações nem traços de carácter, porque para uns serão sempre heróis e para outros foras-da-lei. Era importante estar o mais próximo da matéria para evitar interpretações que o espectador de hoje pudesse fazer - vê-los com as suas qualidade e defeitos mas sem a-prioris. Oferecer um retrato o mais neutro possível destas pessoas. Eu próprio tentei não ter qualquer julgamento sobre eles, mas tentei um movimento de tocar qualquer coisa deles. Passou muito tempo com eles. Houve algum desejo de perguntar, e conseguir responder, “quem era Ulrike Meinhof na realidade?”. É possível responder a isto?É complicado. O que resta são apenas vestígios. É tudo muito parcial. Li muito sobre eles, daquilo que se editou. Falei, evidentemente, com pessoas que foram próximos deles. Mas o retrato será sempre parcial. Somos tocados por eles, tocamos partes deles, mas fundamentalmente conseguimos chegar perto das suas acções jornalísticas, políticas, o que eles quiseram pôr em pática, mas isso é apenas uma faceta deles. Há coisas que nos escapam e que nunca conseguiremos compreender. O seu filme está sempre a encher-se de ressonâncias em relação ao presente: o terrorismo, o medo, a objectificação/humanização do terrorista, os limites ou não da defesa ou resposta do Estado. São as questões de hoje. Há um momento em que Une Jeunesse Allemande parece querer saltar para o lado do cá. É aquele em que se vê uma bandeira vermelha a ser transportada como numa corrida de estafetas. É como se quisesse que o espectador fizesse algo com esta bandeira - ou seja, com esta história, ou seja, com todas as dúvidas e perguntas. Faz sentido?Sim, faz. O que me toca no cinema dos anos 60 e 70, e não estou a falar só no cinema de vanguarda, é a crença que tornava muito próxima a arte da vida, capaz de influenciar a crença do espectador. O que se vê nesse cinema é que ele arriscava. Hoje isso desapareceu. O cinema mudou, em todo o caso vivemos numa época despolitizada ou em que já não há essa esperança em relação ao cinema. A propósito, o excerto das explosões em Zabriskie Point (1970), de Michelangelo Antonioni. . . é uma intervenção do realizador, é um comentário?Foi uma forma de estruturar o filme, serve a construção, permite-me abrir ou fechar um capítulo. E é também uma atitude de comentário porque, ao mostrar imagens de um filme contemporâneo da época, estou a mostrar que o apelo à violência era qualquer coisa de generalizada na cultura da época, não era apenas de um grupo de terroristas. A sua curta Regardant les morts [2011, adaptando o conto de Don deLillo a partir da série October 18, 1977 de Gerhard Richter sobre a “imagerie” Baader Meinhof] já tentava compreender. Aí alguém diz que os terroristas enganaram-se nos actos, mas havia um sentido. Há o equivalente disso neste filme: o tal momento em que Fassbinder discute com a mãe, e lhe diz que eles eram terroristas, tinham morto pessoas, mas o Estado alemão não podia comportar-se com eles como terrorista; é o momento em que a mãe de Fassbinder, que na obra do cineasta sempre representou a acusação à geração dos pais por compromisso com o nazismo, diz que preferia um Estado autoritário, mas bondoso. E o momento de consciência de Une Jeunesse Allemande, não é, aquilo a que se pode esperar chegar depois do turbilhão de emoções e contradições?Muitos elementos são importantes para mim na forma complexa como Fassbinder questiona a história em curso nessa discussão com a mãe. Para ele trata-se antes de mais de escapar ao binarismo exigido pelos políticos ou pela Fracção do Exército Vermelho. Os políticos, como os militantes da Fracção do Exército Vermelho, exigem uma escolha: connosco ou contra nós; democrata ou terrorista; revolucionário ou fascista. . . A realidade nunca é assim tão simples e resumi-la em tão pobres oposições é problemático. É preciso sempre pensar o mundo na sua complexidade e nas suas contradiçõesFassbinder, nesse excerto, não procura outra coisa senão devolver a complexidade aos acontecimentos do Outono de 1977 face à sua mãe que justamente recusa as dúvidas e as interrogações. Ele não procura tanto encontrar um ponto de equilíbrio quanto colocar quer o Estado alemão quer a Fracção do Exército Vermelho em crise. Ele nunca desculpa os actos mas lembra que esses actos são consequentes, são o culminar de uma lógica política que se pode compreender. Eles agiram de acordo com motivações que se podem partilhar, pelo menos compreender, independentemente de se desaprovar as suas acções violentas. É isso que é problemático: se os terroristas não são loucos, mas indivíduos supostamente equilibrados, a passagem ao acto e a possibilidade que isso descambe na violência questiona, politicamente, a sociedade em que vivem. Pelo contrário, fazer passar os terroristas por idiotas ou loucos evita que se interrogue a sociedade, as suas falhas, os seus limites, os seus problemas, evita que se veja claramente que o terrorismo é consequência da imperfeição das nossas sociedades. É assim que hoje nos propõem que consideremos os terroristas apenas como integristas iluminados e nos proibem de questionar a maneira como os EUA e a Europa agem nos países árabes e africanos ou de questionar o racismo endémico das nossas sociedades pós-coloniais. Fassbinder indica igualmente que a utilização sensacionalista do terrorismo pelos governos permite que todos aceitemos que leis liberticides sejam votadas depois de cada acção terrorista. Ele critica o facto de sermos tétanisés pela violência terrorista e que abdiquemos demasiado facilmente perante as respostas ultra-securitárias dos políticos. Ao longo desse excerto, Fassbinder tenta que a sua mãe ganhe consciência, a consciência que ela própria abandona, assim como os seus valores, quando se trata de responder ao terrorismo - com a desculpa falaciosa de que se os terroristas não seguem as regras nós também não temos de os tratar de acordo com as regras democráticas. Ela justifica as políticas de excepção, enquanto Fassbinder exige que não nos baixemos ao nível dos nossos adversários.
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Partidos LIVRE
Na vida dos Blur, Hong Kong foi uma sorte
Após anos de incerteza em relação a um novo álbum, os Blur lançam na próxima segunda-feira The Magic Whip. Uma prova de notável fôlego criativo de um grupo que, depois de retratar o seu país, partiu em busca de se encontrar no mundo. (...)

Na vida dos Blur, Hong Kong foi uma sorte
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.333
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Após anos de incerteza em relação a um novo álbum, os Blur lançam na próxima segunda-feira The Magic Whip. Uma prova de notável fôlego criativo de um grupo que, depois de retratar o seu país, partiu em busca de se encontrar no mundo.
TEXTO: Faz sentido que The Magic Whip tenha nascido no cenário em que nasceu. Após anos em que a amizade que inicialmente os unia foi substituída por uma relação mediada por managers e agentes que lhes diziam quando e onde deviam encontrar-se para fazer música, quatro vidas levadas em separado e ressuscitadas colectivamente de forma intermitente apenas para tocar ao vivo e gravar, pareciam já não saber sequer comunicar directamente. São eles quem o confessa. Não seriam apenas os atalhos tecnológicos a fazer com que já não soubessem de cor os números de telefone dos outros três. Era mesmo falta de uso e uma distância de que mal se tinham dado conta até Graham Coxon começar a parecer cada vez mais uma peça que se perdera da órbita do grupo e ficara à deriva. Com mais de sete milhões de habitantes e uma das mais elevadas densidades populacionais do mundo – na costa Norte os números ascendem a umas inimagináveis 26 mil pessoas por quilómetro quadrado –, a cidade de Hong Kong parecia o cenário ideal para que os Blur não pudessem, enfim, evitar-se. Mesmo encontrando-se em digressão e tendo voltado a apresentar-se com o quarteto original, a hipótese de poder haver um sucessor para Think Tank era um assunto tratado com pinças. Os concertos podiam ser sempre limitados e mantidos sob controlo, apenas pelo prazer de estarem juntos e com a vantagem de poderem parar quando quisessem. Um single como Under the Westway / The puritan podia matar a fome de novas canções sem ninguém se chatear muito. A ideia de um novo álbum, por mais que acontecesse neste clima pacificado de uma inesperada segunda vida para os Blur, acarretaria sempre uma ideia de compromisso, de um trabalho a desenvolver durante meses a fio. Foi então que o cancelamento à última hora de um espectáculo no festival japonês Tokyo Rocks, em Maio de 2013, deixou o quarteto subitamente desocupado em Hong Kong. Em vez de regressarem a Inglaterra, foram empurrados uns contra os outros numa terra de pouco espaço, e durante cinco dias não tiveram como escapar ao facto de estarem juntos. Enclausurados no apertado Avon Studio, passaram dez horas por dias a debitar ideias, muitas delas a partir de esboços de canções rascunhados por Damon Albarn em sessões do programa GarageBand e transportados num tablet. “Três de nós têm filhos e seria complicado encontrar esta liberdade em Inglaterra”, confessou Albarn à revista Les Inrockuptibles. “Teria sido também impossível recomeçar assim do zero, num estúdio em desuso. Ali, redescobrimos o gozo de tocarmos canções de dez minutos, as ideias voavam entre nós…”Findo esse entusiasmo inicial, no entanto, as sessões foram esquecidas, como se, na verdade, tivesse sido mais importante recuperar a intensidade desse sentimento de banda e de pertença a um colectivo do que criar algo de novo. Cada um seguiu as suas vidas e os seus projectos, o entusiasmo em torno de um possível novo álbum dos Blur arrefeceu e o mais natural era que tudo continuasse como até então – com sorte, um novo single e mais uns concertos, até se cansarem de vez. Acontece que Graham Coxon, ao fim de alguns meses sem afazeres que o consumissem, movido tanto por um impulso criativo quanto por um sentimento de culpa relativo ao período de ruína que conduziu à sua saída do grupo por alturas de Think Tank – para o qual gravou apenas a magnífica guitarra desconsolada do tema final, Battery in your leg – e uma vontade de consumar com acções o seu empenho em estar de novo no grupo, juntou-se ao produtor dos primeiros anos dos Blur, Stephen Street, para tentar inventar um álbum a partir das muitas ideias em bruto registadas em Hong Kong. Fez uso do telefone e ligou para Albarn, sem passar pelo manager, pedindo o seu aval. A partir daqui, Hong Kong já não era apenas uma memória de que as coisas tinham voltado a ser boas, descomplicadas, e uma certeza íntima de que a química criativa entre os quatro, mas sobretudo entre Albarn e Coxon, não se corroera com o tempo. The Magic Whip era posto em marcha, da única maneira que podia ter acontecido. Em entrevista recente à Mojo, Ben Hillier, principal responsável pela produção de Think Tank, declarava que, mesmo sem ter conhecido a fundo o normal processo de trabalho a quatro, tornou-se-lhe evidente que Coxon era o homem que finalizava os álbuns dos Blur. “A pessoa que iniciava as coisas era o Damon. O mais difícil ao trabalhar com mentes muito criativas como a do Damon é levá-las a terminar alguma coisa. Isso não lhes interessa nada. Não estão interessados na laboração, estão interessados na centelha inicial. O Graham tem muito mais presente o gene da laboração. ”Coxon e Street, portanto, dedicaram-se a uma industriosa tarefa de corte-e-costura, fabricando canções onde havia uma série de ideias sem preocupação de forma. E foram chamando Alex James e Dave Rowntree para regravarem as partes que acharam necessárias. Depois, foi voltar a ligar a Albarn e mostrar-lhe o resultado. “Parte de mim queria não gostar daquilo”, admitiu o vocalista à Mojo. “Isso implicaria que não tinha de trabalhar nada naquelas gravações. ” Só que, mesmo parcialmente contrariado, ficou rendido às canções montadas por Coxon. Percebe-se porquê: à excepção de Lonesome street, tema de abertura movido pelo típico registo de nervoso juvenil nas guitarras que caracterizava álbuns como Modern Life Is Rubbish ou Parklife, os Blur voltam a ser capazes de olhar para fora de si mesmos para se descobrirem. Os lugaresAssim que percebeu que aquelas canções não o deixariam em paz, Damon Albarn apanhou um avião de regresso a Hong Kong a fim de trabalhar nas vocalizações e nas letras, tentando recuperar o momento em que os temas tinham repentinamente ganhado vida. O reflexo dessa temporada é sobretudo evidente nas considerações acerca do sobrepovoamento que contaminam There are too many of us, na difusa reflexão poética sobre a Coreia do Norte em Pyongang ou nas referências locais que proliferam em New world towers e Ghost ship. Mas Hong Kong foi também assumido como mote para o trabalho de desbaste e construção de Coxon. “Para mim, Hong Kong evocava uma forma de ficção científica, e por isso há no disco muitos pequenos ruídos de robôs, de discos voadores”, afirmou Coxon à Les Inrocks. Retrocedendo na história dos Blur, é fácil perceber, aliás, a importância nevrálgica dos lugares na sua construção musical. A Trilogia Life, como é conhecida a sequência Modern Life Is Rubbish, Parklife e The Great Escape, de cabeça totalmente enfiada num retrato entre o cáustico e o cândido, entre o garrido e o aberrante, entre o cínico e o irónico da classe média britânica – uma espécie de correspondência do universo fotográfico espelhado por Martin Parr no livro Think of England –, foi o motor da primeira fase criativa dos Blur, numa vinculação exagerada a uma identidade inglesa por oposição à deflagração do grunge em território norte-americano. Ao mesmo tempo, perfilava o grupo como seguidor de bandas como Beatles, Kinks e Jam, enquanto Albarn seguia uma regra de escrever na terceira pessoa, como se não fizesse parte da paisagem que empurrava para dentro das canções, numa relação de amor-ódio com a sua realidade próxima. Os Kinks, diz a lenda, foram a única banda que ouviu durante os meses que precederam a gravação de Modern Life…Finalizada a trilogia, Albarn resolveu dar espaço a Coxon para trazer o seu amor indefectível pelo lo-fi norte-americano, por bandas como os Pavement, os Yo la Tengo ou os Sonic Youth. Tal opção simbolizava então uma tentativa de envolver mais o guitarrista, cansado do caminho de uma pop arreigadamente britânica que embatera com estrondo em Country House – o tema que se tornou o exemplo de uma ideia levada longe de mais. Mas se a cedência a Coxon para a inflexão sonora assinada em Blur era assumida, Albarn começava também a perceber uma outra forma de sobrevivência artística – esgotado o filão de uma música virada para dentro, de construção sobre uma identidade local, o grupo começava a procurar no exterior e na sua assunção do outro uma forma de se redefinir. Fora de siAlbarn seria fundamental nesse movimento. Já então envolvido na exploração da música africana – tinha editado Mali Music e os Blur haviam lançado o single Music is my radar, em que manifestavam a sua admiração pelo músico nigeriano Tony Allen –, já dividindo o seu tempo com a pop saturada em hip-hop e dub nos Gorillaz, a passagem por Marraquexe para parte das gravações de Think Tank reforçava esse recurso a outras geografias como meio de impedir que a música entrasse num curto-circuito criativo, numa autofagia imparável. Parece uma medida profilática óbvia contra o umbiguismo que se apodera de quase toda pop britânica, como se a sua história se bastasse a si mesma, mas é essa lucidez que continua a permitir aos Blur de Magic Whip não caírem em redundâncias para as quais não haveria a mínima benevolência. Hong Kong não foi, por isso, um acidente – foi uma sorte. E se Go out, apesar de não repetir de forma óbvia aquilo que já sabíamos dos Blur – o passado fica por conta de Lonesome street e I broadcast, sem que, ainda assim, sejam meras cópias desses tempos –, podia até ser um tema dos Gorillaz, o ponteiro de Magic Whip está sempre a apontar para territórios não cartografados. Da melancolia espacial belíssima comum a New world towers e à enorme canção que é Thought I was a spaceman, acompanhada por baixos viciosamente dub, à guitarra que Coxon diz ter colocado a chorar em My terracotta heart ao adivinhar que Albarn a levaria para uma acentuada tristeza – mas sem adivinhar que escreveria sobre a amizade dos dois – e ao tom marcial de There are too many of us, nada soa a Blur em piloto automático. Muito menos o tom relaxado, soalheiro, jubiloso que toma conta de Ghost ship e Ong ong. Muito menos ainda o rasgo épico à sombra do Grande Líder em Pyongyang ou a guitarra morriconeana acrescida de cordas arábicas sobre as quais se desenrola o final com Mirrorball. Nada faz menos sentido do que isto: enfiar quatro tipos num cubículo dentro de uma ilha claustrofóbica e sair de lá com as bases para um álbum que é todo um movimento de expansão serena e confiante deste fundamental património pop dos tempos em que calhou vivermos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave fome homem espécie japonês
O nazismo e a “música degenerada”
Programar um ciclo dedicado à “música degenerada”, como agora na Casa da Música, é um gesto da máxima importância (...)

O nazismo e a “música degenerada”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Programar um ciclo dedicado à “música degenerada”, como agora na Casa da Música, é um gesto da máxima importância
TEXTO: Com a chegada ao poder, em 1933, e sobretudo, pouco depois, com os plenos-poderes de Hitler consagrado como Führer, o nazismo pôs em obra um empreendimento sem paralelo, que não passou apenas pelo fim das liberdades políticas e de expressão, mas também pelas leis raciais, as perseguições, detenções, internamentos em massa nos campos de concentração, por um projecto de organização total e totalitário. Concomitantemente construiu-se e tentou-se de modo sistemático pôr em prática um culto da “raça pura”, edificando uma ideologia e uma narrativa mitológica, em todas as suas vertentes e manifestações, incluindo artísticas e culturais, pelo que qualquer “desvio”, qualquer diferença ou alteridade, era encarado – e, em consequência, perseguido - como uma “aberração” ou “degenerada”, termos grosseiramente extrapolados de práticas clínicas de então. O nazismo era anti-semita (como nunca antes na longa história do anti-semitismo), racista (excluindo outras manifestações de diferença, nomeadamente de origem africana e negra), anti-comunista e anti-moderno. Diferentemente do fascismo italiano, que na sua génese comportava uma vertente modernista, de matriz futurista, o nazismo foi anti-modernista e reacionário, em sentido estrito do termo, ou seja, reactivo a qualquer elemento que não se enquadrasse na “pureza” rácica e cultural da sua narrativa ideológica e mitológica. O anti-comunismo e o anti-modernismo conjugaram-se na “guerra cultural” a um “bolchevismo artístico”, além, óbvio, de toda a suspeita de “judaísmo em arte”, glosando os termos do panfleto anti-semita de Richard Wagner, O Judaísmo em Música. Entartete Kunst/Arte Degenerada foi o título de uma exposição que os nazis organizaram em Munique, em 1937 – numa máquina de propaganda sem precedentes, a lógica era não apenas a de reprimir e proibir mas também a de exibir, visando a histeria de massas, as manifestações e expressões “abomináveis”. No ano seguinte, em Dusseldorf, ocorria outra exposição, a de Entartete Musik/Música Degenerada. A documentação desse evento esclarece o que os nazis estabeleciam como exemplos “a eliminar, em sete secções: 1) A influência do judaísmo; 2) Arnold Schönberg; 3) Kurt Weill e Ernest Krenek, 4) “Bolchevistas menores”, como Franz Schereker e Alban Berg; 5) Leo Kestenberg, director da educação musical até 1933; 6) As óperas e oratórias de Paul Hindemith, 7) Igor Stravinsky (o qual, sendo russo exilado e anti-bolchevique, protestou vivamente, não compreendendo porque estava incluído nessa exposição, enquanto um Béla Bartók, anti-nazi, reclamava que também ele devia estar incluído). O cartaz da exposição não era mais uma das infames caricaturas anti-semita, mas sim a figura de um negro tocando saxofone, embora com a “estrela de Davide”, o símbolo racista que os judeus eram obrigados a usar. A razão não era apenas o preconceito rácico em geral, mas também outra mais concreta: anatemizar o jazz, objecto de uma enorme voga na Alemanha da República de Weimar, na Berlim dos anos 20 em particular, e a sua influência em obras de Weill e Krenek – sobretudo com o imenso sucesso de Jonny spielt auf (1927) de Krenek, singular caso de ópera imbuída de elementos de jazz. Juntamente com o cinema, a música foi uma arte de primeira importância no imaginário nazi, desde logo pela matricial influência de Wagner. A música surgia como expressão suprema de “arte alemã”, retomando os termos de Os Mestres Cantores de Nuremberga de Wagner. Houve uma “mitologização” da “arte alemã” da música, construindo um panteão com os mestres antigos e Bach, e três expoentes, Wagner claro, mais Beethoven e Bruckner. De Beethoven, o “Titã” glosado por toda a tradição liberal e humanista, e inclusive marxista, apropriou-se em particular logo a tida como “Ode à Humanidade”, a Nona Sinfonia. Quanto a Bruckner, não sendo até despicienda a comum origem na Alta Áustria, em Linz, Hitler como que se “identificou” com ele, tendo ido homenageá-lo na Valhala, nome da morada dos deuses na mitóloga nórdica e em O Anel do Nibelungo de Wagner, por isso também designação de um panteão que o nazismo edificou. A contrapartida foi a condenação e proibição da “música degenerada” e o exílio de tantos compositores e intérpretes que eram expoentes da arte da música na Alemanha e na Áustria, como tantos e tantos artistas e intelectuais e milhares e milhares de pessoas, sobretudo judeus. Mas nem todos tiveram esse destino. Franz Schreker, por exemplo, era dos autores mais importantes; as suas óperas eram tanto ou mais famosas que as de Richard Strauss; basta conhecer Os Estigmatizados(1918) obra-prima portentosa! Demitido das suas funções docentes em Berlim por ser de origem judaica, ainda veio de férias ao Estoril. Numa dramática correspondência com Vianna da Mota implorou-lhe um lugar de professor no conservatório de Lisboa, o que não era possível de obter pelo pianista. Morreu em Berlim, em Março de 1934. Outros, como Boris Blacher ou Walter Braunfels optaram por um silencioso “exílio interior”. O caso mais extraordinário foi o de Karl Amadeus Hartmann (1905-63), exemplo ético ímpar, publicamente silencioso mas anti-nazi, autor de obras memoriais desde o Miserae (1933/34) “para os meus amigos mortos em Dachau”. E houve aqueles, austríacos e checos, que morreram nos campos, Viktor Ulmann, Erwin Schulhof, Pavel Haas, Hans Krása. Também no tocante à música o nazismo foi uma tragédia sem precedentes. E é obrigatório motivo de reflexão constatar que, com a notória excepção de Schönberg, estes autores foram “duplamente punidos” pela História, banidos pelo nazismo, primeiro, “esquecidos” na narrativa do canône construída no pós-guerra e assim permanecendo, fora da Alemanha, ausentes das salas de concerto. Programar um ciclo dedicado à “música degenerada”, como agora na Casa da Música, no módulo de “Música e Revolução” por volta de 25 de Abril, é um gesto da máxima importância, que merece toda a atenção. Mas vejamos o programa: que mais hipótese temos de ouvir peças de Krenek, Schreker, Korngold ou Hindemith, mesmo Zemlinsky, Eisler ou Weill? Não os “deixámos” afinal encerrados noutra espécie de “gueto”? E isto é mesmo motivo de séria reflexão. Enfim, ouça-se, descubra-se, o Berliner Requiem de Brecht/Weill, a Sinfonia de Câmara e sobretudo a extraordinária Abertura de Os Estigmatizados de Schreker!
REFERÊNCIAS:
Religiões Judaísmo