Polícia tolera racismo e denúncias não são investigadas a fundo
Relatório sobre Portugal da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa é apresentado esta terça-feira em Estrasburgo. (...)

Polícia tolera racismo e denúncias não são investigadas a fundo
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Relatório sobre Portugal da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa é apresentado esta terça-feira em Estrasburgo.
TEXTO: Em Portugal, os comentários racistas e homofóbicos são raramente proferidos por políticos e, quando acontecem na sociedade, são condenados publicamente; a violência racista é pouco comum e as autoridades mostram a sua oposição firme a esse fenómeno; o país reforçou a legislação contra os discursos de intolerância e ódio e ratificou em 2017 um protocolo que inclui uma proibição global da discriminação. O relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) – um organismo independente de monitorização dos direitos humanos dos 47 países do Conselho da Europa –, que é publicado nesta terça-feira, enuncia vários aspectos positivos, mas rapidamente expõe o que considera serem lacunas na lei e na prática contra a discriminação motivada pelo racismo ou a homofobia. A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) não é independente, salienta a ECRI que manifesta igualmente dúvidas quanto à independência de entidades como a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) ou o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), com competências para receber queixas, investigar e propor sanções, mas com dependência directa do Executivo. Os elementos que constituem este grupo independente, que publicou o último relatório sobre Portugal em Março de 2013, dizem que houve, desde então, muitos progressos nalguns aspectos mas também manifestam preocupação relativamente a outros. Todos os anos, a ECRI publica relatórios sobre uma dezena de países. Neste ano, neste conjunto, está Portugal. “São inúmeras as acusações graves de violência racista cometida por agentes da polícia", aponta o relatório. "Contudo, nenhuma autoridade reuniu sistematicamente estas acusações e procedeu a um inquérito eficaz para determinar se são ou não verdadeiras. Isto levou ao medo e falta de confiança na polícia, particularmente entre as pessoas de origem africana. "O documento cita o despacho de acusação contra os agentes da polícia da Esquadra de Alfragide acusados de racismo e tortura, em Julho de 2017, como exemplo de “uma situação grave de racismo institucional numa unidade da polícia que é tolerada pela sua hierarquia”. Por isso, recomenda a criação de um órgão independente para investigar “as alegações de abusos e racismo pela polícia” em Portugal. A pedido das autoridades portuguesas, um documento intitulado “Ponto de vista do Governo” é acrescentado num apêndice ao relatório. Nele, a PSP e a IGAI refutam a maioria das conclusões que lhe dizem respeito, em particular a acusação de que toleram o racismo. A IGAI, em particular, insurge-se contra a mencionada necessidade de um organismo que investigue alegados casos de racismo e violência da polícia, e apresenta-se como esse "orgão independente". Noutro exemplo de discriminação, o documento de mais de 60 páginas relembra que o abandono escolar das crianças afrodescendentes é três vezes maior e existem cinco vezes menos alunos de origem africana na universidade. O desemprego é elevado entre os adultos afrodescendentes, os programas de realojamento resultaram numa segregação espacial e os que não conseguiram beneficiar deles vivem frequentemente em bairros pobres, acrescenta. A situação das crianças ciganas é “profundamente preocupante”: 90% delas abandonam a escola cedo, frequentemente entre os 10 e 12 anos de idade. Apenas 52% dos homens e 18% das mulheres de origem cigana trabalham. O relatório conclui que não foram alcançados alguns dos objectivos mais importantes da Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas de 2013. Lembra que 90% das crianças ciganas abandonam a escola antes de concluírem o ensino obrigatório em comparação com 14% da população em geral. E resume: “Os ciganos continuam a sofrer elevados níveis de desemprego, vivem frequentemente em condições de habitação precárias e são ameaçados de despejos forçados. Os afrodescendentes enfrentam problemas semelhantes. ”A ECRI faz duas recomendações prioritárias, relativas ao fim dos despejos forçados ilegais (em bairros degradados) e à execução de despejos legais e dentro das normas internacionais, bem como ao dever do Estado de garantir que todas as crianças ciganas frequentem o ensino escolar obrigatório. Contudo, é na investigação a casos de violência policial que encontra mais lacunas, admitindo que, relativamente à independência das entidades que investigam os actos de violência ou discriminação, tem a maior desconfiança. As críticas mais duras visam, justamente, as polícias e a IGAI, ao ponto de a ECRI recomendar “a criação de um órgão independente que investigue as alegações de abusos e racismo pela polícia”. “São inúmeras as acusações graves de violência racista cometida por agentes da polícia”, considera a ECRI, que faz especial referência ao caso de 18 agentes da polícia acusados de tortura e outros crimes contra seis vítimas de raça negra, em 2015 na Esquadra da PSP de Alfragide, actualmente em julgamento. O relatório menciona o despacho de acusação proferido em Julho de 2017 como um sinal de que existe “uma situação grave de racismo institucional numa unidade da polícia, que é tolerada pela sua hierarquia”. Na análise iniciada em Novembro de 2012 e concluída em Março de 2018, a ECRI considera que a independência dos organismos de promoção da igualdade (como é o caso da CICDR) “é indispensável para assegurar a sua eficácia e impacto, em particular ao tratar da discriminação (estrutural) que emana das autoridades e ao decidir sobre as denúncias, tal como no caso da CICDR”. E justifica: “Por essa razão, as autoridades deveriam transformar a CICDR numa entidade jurídica distinta, colocada fora do executivo e do poder legislativo, atribuir-lhe um orçamento separado, permitir-lhe decidir independentemente a sua organização interna e a gestão dos seus recursos. "A ECRI recomenda ainda que todos os que exerçam funções de supervisão nessa "entidade jurídica distinta" sejam seleccionados e nomeados "através de procedimentos transparentes, participativos e centrados nas suas competências" e que seja conferido a essa entidade (que seria uma outra CICDR) "o direito de fazer declarações públicas e publicar estudos e relatórios de forma independente. ”De acordo com a ECRI, a falta de independência condiciona as práticas. Em muitos casos, explica, as medidas tomadas para combater o discurso de intolerância e ódio são insuficientes e as sanções aplicadas não são dissuasoras – acontece por exemplo quando grupos da extrema-direita e neonazis propagam o discurso de ódio na Internet e ameaçam os migrantes. O ACM e a CICDR não publicam estatísticas específicas sobre este fenómeno. As estatísticas recolhidas por organizações da sociedade civil e apresentadas em estudos indicam que o número de casos de discurso de ódio é bem mais elevado do que as divulgadas pela Direcção-Geral da Política de Justiça cujos dados públicos mais recentes são de 2014. A preocupação estende-se a pessoas sujeitas a actos ou discursos homofóbicos ou transfóbicos. “A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), que tem competência para auxiliar as vítimas de homofobia e transfobia, confirmaram que muitos casos de discurso de ódio não lhes são comunicados”, escreve a ECRI. O ACM admitiu o mesmo, relativamente aos migrantes. Segundo um estudo internacional, “apenas um quarto das pessoas inquiridas [em Portugal] conhece estas duas instituições; apenas 5% das vítimas ciganas e 9% das vítimas negras contactaram uma autoridade após sofrerem discriminação”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No plano das leis, a ECRI acolhe bem a ratificação em 2017 de um protocolo no qual Portugal se compromete a proibir globalmente a discriminação. E saúda algumas das medidas tomadas para tornar isso possível, como a formação de polícias e as iniciativas de sensibilização na escola e na comunidade, e aponta outros progressos, como por exemplo a cooperação entre as polícias, os organismos do Estado e a sociedade civil para impedir que o discurso do ódio ou a discriminação se banalizem. Porém, lamenta que nenhum artigo do Código Penal criminalize “explicitamente a expressão pública de uma ideologia racista”. Do ponto de visto penal, existem lacunas relativamente àquilo que é a Recomendação de Política Geral feita a todos os Estados e de igual modo, refere. Por outro lado, considera que a legislação portuguesa deve criminalizar a discriminação racial no exercício de um cargo público ou profissão e que a motivação racista, homofóbica ou transfóbica seja assumida como circunstância agravante em qualquer infracção e não apenas, como já prevê a lei, nos crimes de homicídio e de ofensas corporais. Mas aponta como muito positiva a “regra progressista”, recentemente introduzida, de inversão do ónus da prova: a discriminação é presumida e deixa de ser necessário à pessoa visada provar que ela existiu.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
SOS Racismo apresenta queixa-crime contra Maria de Fátima Bonifácio
Mamadou Ba, dirigente da SOS Racismo, considera que o texto assinado pela historiadora no PÚBLICO “incita ao ódio, promove o preconceito e o racismo e é ofensivo para qualquer pessoa racializada”. (...)

SOS Racismo apresenta queixa-crime contra Maria de Fátima Bonifácio
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento -0.35
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mamadou Ba, dirigente da SOS Racismo, considera que o texto assinado pela historiadora no PÚBLICO “incita ao ódio, promove o preconceito e o racismo e é ofensivo para qualquer pessoa racializada”.
TEXTO: A SOS Racismo vai avançar, nesta quarta-feira, com uma queixa-crime no Ministério Público contra Maria de Fátima Bonifácio por considerar que o artigo de opinião publicado sábado no PÚBLICO viola o artigo 240º do Código Penal, que define o crime de discriminação racial. Mamadou Ba, dirigente da SOS Racismo, considera que o texto assinado pela historiadora Fátima Bonifácio “incita ao ódio, promove o preconceito e o racismo e é ofensivo para qualquer pessoa racializada”. “Sabendo que a nossa constituição proíbe claramente qualquer incitamento ao ódio racial é um texto completamente e abertamente racista”, afirma Mamadou Ba ao PÚBLICO. “Nem sequer se trata de uma questão de direito de opinião ou liberdade de expressão. É uma tese que quer reabilitar coisas que pensávamos estarem completamente ultrapassadas no debate público, ideológico e teórico: a ideia de que há raças inferiores. ”Para o dirigente da SOS Racismo “já não é aceitável esse tipo de opiniões” porque “não se baseiam em nenhuma evidência científica, apenas, e posso dizê-lo sem nenhum pejo, num ódio que Maria de Fátima Bonifácio tem para com culturas e pessoas diferentes, que não sejam brancas. ”Num comunicado enviado às redacções a dar conta da decisão de avançar com uma queixa-crime, a SOS Racismo reforça que a crónica da historiadora parte do “pretenso propósito de problematizar e questionar a validade de uma medida de quotas para o acesso ao ensino superior”, mas “o que emerge como a verdadeira tese do artigo é a pretensa inferioridade de ‘ciganos’ e ‘africanos’”. “O que escreve é profundamente injurioso, difamatório e falacioso. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Ofender, injuriar e difamar alguém não pode ser justificado como mera opinião; a liberdade de Fátima Bonifácio se expressar e dizer o que pensa não foi limitada – do que se sabe, escreveu exactamente o que quis. Mas não se pode esperar ou pedir aos/às 'africanos'/as e ‘ciganos'/as atingido/as pelas suas palavras, que vejam diminuídos os seus direitos fundamentais, em especial, o direito à honra, à dignidade, à imagem e à integridade moral”, lê-se num comunicado enviado às redacções. “Direitos inalienáveis e que a Constituição da República lhes reconhece e que toda e qualquer Declaração de Direitos Humanos defende. Direitos que não podem ser suspensos ou aplicados discricionariamente, porque Maria de Fátima Bonifácio considera, a título de ostensivo preconceito, que estes não se lhes aplicam por ‘descendência’”, termina a associação.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos humanos racismo racista discriminação
PS quer que Parlamento faça diagnóstico sobre racismo em Portugal
Deputados entregaram requerimento à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias para que inclua no seu plano de actividades uma análise, diagnóstico e reflexão sobre racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial em Portugal. (...)

PS quer que Parlamento faça diagnóstico sobre racismo em Portugal
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.2
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Deputados entregaram requerimento à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias para que inclua no seu plano de actividades uma análise, diagnóstico e reflexão sobre racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial em Portugal.
TEXTO: O Grupo Parlamentar do PS quer que a Assembleia da República faça um relatório sobre racismo em Portugal. Nesta segunda-feira à tarde os deputados Catarina Marcelino, Susana Amador e Isabel Moreira entregaram um requerimento à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias para que inclua no seu plano de actividades uma análise, diagnóstico e reflexão sobre racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial em Portugal. O objectivo é que no final desta sessão legislativa, em Julho de 2019, seja produzido um relatório com conclusões e que “aponte alguns caminhos” para o combate ao racismo, disse ao PÚBLICO a deputada Catarina Marcelino, uma das autoras da iniciativa. O plano inclui várias actividades, como audições, audiências e visitas. “Pretende-se ouvir um conjunto de entidades, organizações e associações que representam pessoas que são alvo de racismo, académicos que têm um trabalho mais aprofundado e responsáveis de organismos públicos porque é muito importante perceber o que se passa nos organismos públicos”, afirma. “Resolvemos ter uma acção mais pró-activa e tentar encontrar uma metodologia de trabalho que permita chegar ao fim desta sessão parlamentar com um relatório. "Catarina Marcelino foi secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade durante o mandato de Eduardo Cabrita como ministro-adjunto, e esteve envolvida no processo da criação de um grupo de trabalho formado pelo Governo para estudar a introdução no Censos 2021 de uma pergunta sobre a origem étnico-racial da população. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A deputada explicou que "as expressões de racismo" que têm sido denunciadas com alguma frequência, como a agressão no Porto à jovem colombiana Nicol Quinayas, os episódios na discoteca Urban Beach, o inquérito escolar que distinguia portugueses e ciganos, entre outros, foram alguns dos motivos que levaram o grupo parlamentar a ter esta iniciativa. Está previsto também que os deputados ouçam o Governo sobre a matéria. A proposta é que o relatório seja feito dentro da subcomissão para a Igualdade, que recentemente viu ser acrescentada ao nome a referência “e não-discriminação”. Depois de entregue o requerimento, se for aprovado, todos os partidos irão dar os seus contributos com propostas de pessoas e entidades para serem ouvidas. Com base no que se concluir será depois nomeado um relator que terá como responsabilidade acompanhar o trabalho durante o ano. “É um fenómeno que a agenda política tem que integrar, o PS acha que esta é a melhor forma”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
“Os polícias disseram que nós, africanos, temos de morrer”
Desde quinta-feira que a Cova da Moura tem estado nas notícias. Seis jovens detidos pelos agentes da esquadra da PSP de Alfragide acusam a polícia de tortura e racismo. Pontapés, tiros, e violência verbal fazem parte da acusação. “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados”, dizem ter ouvido. Ou: “Deviam alistar-se no Estado Islâmico”. PSP e IGAI estão a investigar. (...)

“Os polícias disseram que nós, africanos, temos de morrer”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-17 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170717050633/https://www.publico.pt/1685599
SUMÁRIO: Desde quinta-feira que a Cova da Moura tem estado nas notícias. Seis jovens detidos pelos agentes da esquadra da PSP de Alfragide acusam a polícia de tortura e racismo. Pontapés, tiros, e violência verbal fazem parte da acusação. “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados”, dizem ter ouvido. Ou: “Deviam alistar-se no Estado Islâmico”. PSP e IGAI estão a investigar.
TEXTO: Os habitantes da Cova da Moura estão habituados a ver polícia neste bairro da Amadora. Volta e meia aparecem para fazer rusgas. Na quinta-feira, 5 de Fevereiro, “por volta do meio-dia”, Bruno Lopes estava na Rua do Moinho quando “pelo menos seis” agentes da polícia abordaram “duas pessoas”. Um dos polícias começa a rir para Bruno, que vira a cara. Bruno conversa com o primo e ri-se com ele. O polícia diz-lhe: ‘Estás-te a rir, olha que podes perder o sorriso”. O primo sugere que entrem no café, e em crioulo, Bruno diz que não tem de sair de onde está. O polícia quer saber do que falam, e encosta-o à parede. Vêm mais dois agentes que o agridem. Bruno não ofereceu resistência alguma. Isto é versão de Bruno Lopes, 24 anos. Da varanda de sua casa, Jailza Sousa, 29 anos, cabo-verdiana voluntária no Moinho da Juventude, vê-o “a levar chapadas”, e Bruno sem reagir, “nada que desse origem àquilo tudo”. Bruno ouviu uma voz feminina a gritar aos polícias: “Parem”. De nada serviu. – Começaram a bater até fazer sangue, lembra Jailza. Na rua em baixo, em casa, Celso Lopes ouve um, dois, três, quatro, cinco disparos. – O policial apontou para mim e disparou uma vez, tornou a carregar e a disparar, diz Jailza, com os cartuchos das balas de borracha na mão. O meu filho viu, está traumatizado. Bruno Lopes é algemado e levado para a esquadra de Alfragide, a cerca de um quilómetro dali. – Bateram-me com o cassetete, davam pontapés, conta. – Diziam-me para me candidatar ao Estado Islâmico. Chamavam pretos, macacos, que iam exterminar a nossa raça. Quatro dias depois, na segunda-feira, junto ao café ainda se vêem umas pingas de sangue. Jailza tem duas marcas das balas de borracha com que foi atingida: uma na nádega, outra no peito. Mostra-nos as sequelas, envergonhada, numa das salas de leitura da biblioteca do Moinho. Bruno seria libertado na sexta-feira. Foi acusado na altura de ter lançado uma pedra e partido um vidro da carrinha da polícia. Nega tudo. “Se estava a ser revistado, como é que podia ter lançado uma pedra?”O PÚBLICO deslocou-se à esquadra de Alfragide para confrontar os polícias com todas as acusações que aqui reproduzimos, mas o chefe desta unidade remeteu para as relações públicas da PSP. Têm uma versão contraditória dos factos. Por seu lado, a direcção nacional desta polícia garantiu-nos que o incidente foi “objecto do tratamento previsto para qualquer situação de acção/intervenção policial”. Abriu um inquérito interno. Aguarda os trâmites legais e não faz comentários, mesmo depois de confrontada com as acusações. A Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) também abriu um inquérito à actuação da PSP. O Moinho da Juventude, projecto comunitário que existe há 30 anos na Cova da Moura, já recebeu diversos prémios como o de Direitos Humanos da Assembleia da República. Flávio Almada, conhecido como Lbc na sua pele de rapper, membro da direcção, é formado em tradução, está a preparar uma candidatura a um doutoramento, e participou em projectos como o ALICE, coordenado por Boaventura de Sousa Santos. Trabalha com crianças e jovens e muitas vezes Jailza ajuda-o. Cruzou-se com ela na quinta-feira e viu-a a chorar. Perguntou o que tinha acontecido. Decidiu ir à esquadra perceber o que se passara com Bruno. Celso Lopes, também da direcção do Moinho, investigador social, acompanhou-o. Juntaram-se mais amigos de Bruno. – Chegámos à porta da esquadra e estavam três agentes. Dissemos que éramos do Moinho e queríamos falar com o chefe. A abordagem deles foi logo agressiva: ‘Esperem na porta, não vão entrar’. Dois foram para dentro e gritaram: ‘Malta! Disseram: ‘basa daqui’. Flávio não consegue reproduzir com detalhe tudo o que se passou, pois tudo se passou muito rápido. Garante que não houve qualquer tipo de provocação, agressão, violência. – Não somos malucos. Sabemos a intervenção que eles fazem. Sabe que ouviu um primeiro tiro e depois outro e Celso atingido na perna. Celso diz que mais de uma dezena de agentes apareceram a seguir. E que no meio dos insultos foi pontapeado até que:– O polícia que me baleou duas vezes fez um disparo e fez ricochete e atinge-me na perna. Quando me viro para dizer ao Flávio, ele dá um segundo tiro na perna. Dentro da esquadra há um hall que tem uma secretária e mandaram-me contra um pneu. Mas depois o polícia disse: ‘Não, a merda tem que estar no chão. ’Flávio continua:– Eu perguntei: ‘o que fizemos? Não estamos a reagir, a faltar ao respeito com ninguém’. E começaram-me a bater, fiquei no chão, colocaram as algemas, depois perdi a noção porque eram pontapés e socos e já não sabia quantos eram. Disseram: ‘O lixo e cães é para o chão’. A tortura continuou: pontapés, socos, cara no chão, parti um dente – e mostra-o. Diziam-lhes: “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados”. E: “Deviam alistar-se no Estado Islâmico”. Entretanto, Rui Moniz tinha ido tratar de umas papeladas numa loja perto, e foi “apanhado” pelos polícias, também sem justificação, diz. O jovem, que sofreu um AVC e tem um mão imóvel, acusa igualmente os agentes de lhe baterem. – Começaram a encher-me de pontapés, arrastaram-me até à esquadra. Mandaram levantar a cara, e depois deram socos. Um deles vira-se e diz: 'esse aí é português. ’ E outro: ‘Não, ele é pretoguês’. Natural de Cabo Verde e a viver em Portugal há 12 anos, Flávio acusa a polícia de lhe ter ficado com a autorização de residência e de o ter impedido de fazer uma chamada para o advogado. – A única coisa que nos deu vantagem é que antes de ir à esquadra eu liguei para o Mamadou Ba, do SOS Racismo, e para o Jakilson (da biblioteca do Moinho da Juventude). Passou tanto tempo que as pessoas começaram a preocupar-se. A PSP, entretanto, nessa tarde, emitia um comunicado citado pela Lusa, acusando um “gang” da Cova da Moura de invadir a esquadra. Celso, Flávio, Paulo, Miguel e Rui seriam detidos. Foram levados para a super esquadra da Damaia e depois para o hospital Amadora-Sintra. O Ministério Público pediria a sua prisão preventiva por resistência e coacção a funcionário, mas no sábado o Tribunal de Sintra libertou-os determinando a medida de coacção menos gravosa, o Termo de Identidade e Residência. Eles, por seu lado, apresentaram uma queixa-crime por tortura no Ministério Público de Almada. Acusam a polícia de difamação e racismo institucional pelo que se passou segundo as suas versões. – Como é que se caiu no discurso que fomos invadir uma esquadra?, questiona Flávio. Sou membro da direcção do Moinho, trabalhei sempre com jovens na prevenção, fiz voluntariado na prisão para trabalhar a inclusão através da arte, e agora vou invadir uma esquadra?Flávio lembra:– Consegui ver a expressão de um dos polícias, quando disse com uma convicção que eu não consigo reproduzir: ‘Se eu mandasse vocês seriam todos exterminados. Não sabem o quanto eu odeio vocês, raça do caralho, pretos de merda’. Nunca tinha visto um ódio, em estado bruto, daquela forma. Nunca tinha visto e já vi muita coisa. A expressão dele era um ódio completamente cego e aquilo assustou-me: como é que uma sociedade anda a produzir indivíduos deste tipo?Recorda também de um deles dizer, sobre ele: “Apanha aquele filho da puta que tem a mania que é inteligente”. – Disseram-nos várias vezes que nós, os africanos, temos que morrer. Que se a legislação permitisse nos executariam, que devíamos estar pendurados pelos pés. Já depois de mais de duas horas de entrevista a explicar-nos o que aconteceu, Flávio desabafa, com Celso, que é necessário manter vivos os acontecimentos mas que não querem estar a toda a hora a lembrá-los. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. – Deixa sequelas, diz Flávio. A ficha vai caindo. Fico indignado. E alguém tem que ser responsabilizado. Tenho curso superior, sou activista, conheço muita gente e muita gente acredita em mim. Agora um jovem que tenha pelo menos um antecedente criminal: ninguém o iria apoiar. Os moradores da Cova da Moura, o SOS Racismo e outras organizações marcaram uma concentração de protesto em frente ao Parlamento, em Lisboa, para a próxima quinta-feira, dia 12, às 17h.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Mais de 30 mortos em três dias na República Centro-Africana
Confrontos na República Centro-Africana têm atingido um “nível de violência sem precedentes”, alerta Cruz Vermelha. UE vai enviar mais 45 milhões de euros para ajudar país africano. (...)

Mais de 30 mortos em três dias na República Centro-Africana
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.075
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501041100/http://www.publico.pt/1621838
SUMÁRIO: Confrontos na República Centro-Africana têm atingido um “nível de violência sem precedentes”, alerta Cruz Vermelha. UE vai enviar mais 45 milhões de euros para ajudar país africano.
TEXTO: Nos últimos três dias foram encontrados 35 cadáveres nas ruas da capital da República Centro-Africana, Bangui, e 65 pessoas ficaram feridas, revelou nesta sexta-feira a Cruz Vermelha, de acordo com a BBC. Foi “extremamente preocupado” que o chefe da delegação do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Georgios Georgantas, se revelou durante uma conferência de imprensa em Bangui, segundo a AFP. Os números revelados pelo responsável reflectem um “nível de violência sem precedentes”. O verdadeiro número de mortos pode ser bem maior, uma vez que em Bangui há várias famílias que se ocupam dos funerais e outras que nem podem trazer os feridos aos centros hospitalares devido à insegurança. O país vive aterrorizado há quase um ano pelos confrontos entre milícias rivais e que já fizeram milhares de mortos. Em Março, o Presidente François Bozizé foi deposto pelos Séléka, um grupo rebelde de maioria muçulmana, e substituído por Michel Djotodia. Rapidamente, os Séléka começaram a espalhar o terror pelas comunidades cristãs, maioritárias na RCA. Como resposta, começaram a surgir milícias de autodefesa, chamadas de anti-balaka, e os combates escalaram. À missão da União Africana (UA) juntou-se, no início de Dezembro, um contingente francês de 1. 600 soldados, mas nem por isso a violência foi contida. Este mês, Djotodia apresentou a demissão, fruto de pressões internacionais, e, dias depois, o Parlamento do país elegeu Catherine Samba-Panza. Violência diáriaApesar dos esforços internacionais, a violência continua a ser diária na RCA. Na quinta-feira, a cidade de Sibut, a 180 quilómetros de Bangui, foi tomada por uma coluna armada de ex-Séléka. Na cidade, os milicianos pediram à comunidade cristã o pagamento de um “imposto”, segundo a AFP. Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) referem que acções semelhantes terão ocorrido noutras cidades. A violência tem alastrado a várias zonas do país, provocando a fuga de populações inteiras. “Uma cidade fantasma, vazia, destruída, pilhada. ” É assim que Bocaranga (noroeste) é descrita à AFP por Delphine Chedorge, coordenadora dos MSF. “Os contactos que temos na província dão-nos conta de violência extrema e de fugas da população aterrorizada”, contou a responsável. A crise humanitária na RCA é um dos temas que domina a 22ª Cimeira da União Africana, em Adis Abeba (Etiópia). O comissário europeu para o Desenvolvimento, Andris Piebalgs, anunciou esta sexta-feira que a União Europeia vai disponibilizar 45 milhões de euros para apoiar o fim do conflito no país. A UE já desbloqueou 150 milhões de euros para ajudar a conter a crise na RCA e aprovou o envio de uma força europeia de 500 soldados. “É importante que a segurança reine [na RCA] e são as tropas africanas que deverão ser capazes de a assegurar”, afirmou o comissário, presente na cimeira de líderes africanos. “O único problema é que se há muitos soldados, falta muito dinheiro”, acrescentou.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE UA
Antropólogo, de esquerda, anti-racista e agente da PSP
Filho e neto de comunistas que lutaram contra o regime, enfrentou recentemente um “exército” por causa da sua investigação académica sobre preconceitos entre polícias. Visto como traidor, teve que abandonar o cargo de dirigente sindical que exercia há mais de 20 anos. Quem é, afinal, este agente que pôs o país a falar de racismo? Perfil de Manuel Morais. (...)

Antropólogo, de esquerda, anti-racista e agente da PSP
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 17 | Sentimento -0.05
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Filho e neto de comunistas que lutaram contra o regime, enfrentou recentemente um “exército” por causa da sua investigação académica sobre preconceitos entre polícias. Visto como traidor, teve que abandonar o cargo de dirigente sindical que exercia há mais de 20 anos. Quem é, afinal, este agente que pôs o país a falar de racismo? Perfil de Manuel Morais.
TEXTO: Antropólogo, de esquerda, agente do corpo de intervenção da PSP e anti-racista: são quatro características que não costumam estar associadas. Mas estão em Manuel Morais. Podia acrescentar-se mais uma: é alguém que se comove com frequência. As lágrimas vêm-lhe aos olhos quando fala da família ou de um episódio com que se confrontou durante o seu trabalho. Foi Comando, está no Corpo de Intervenção da PSP, conhecido por ser musculado. Ingressou nas duas profissões com a missão de mudar a sociedade, para defender “os valores do 25 de Abril e da democracia”.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Vitória de Guimarães vai apresentar queixa à Federação por racismo e agressões
O guineense Herculano, jogador do Vitória na equipa sub-15, foi alvo de "insultos racistas" durante o jogo com o Boavista. (...)

Vitória de Guimarães vai apresentar queixa à Federação por racismo e agressões
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 17 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O guineense Herculano, jogador do Vitória na equipa sub-15, foi alvo de "insultos racistas" durante o jogo com o Boavista.
TEXTO: O Vitória de Guimarães revelou hoje que vai apresentar queixa à Federação Portuguesa de Futebol (FPF), alegando que a equipa sub-15 e familiares dos jogadores foram vítimas de racismo e de agressões no jogo com o Boavista. O clube minhoto alegou, em nota publicada na sua página oficial, que Herculano, avançado guineense de 14 anos e autor de dois dos golos com que os vitorianos bateram os "axadrezados" (4-1), foi alvo de "insultos racistas" durante a partida relativa à quinta jornada da segunda fase do campeonato nacional sub-15, disputada no Porto. Os vimaranenses afirmaram também que os familiares dos jogadores presentes no Parque Desportivo de Ramalde foram vítimas de "agressões e tentativas de agressão". O Vitória de Guimarães confirmou que, face ao que ocorreu no jogo de sub-15, vai "emitir uma exposição à FPF para avaliação do sucedido".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo
Violência em Londres espelha relação tensa da comunidade negra com a polícia
Actos de vandalismo puro e duro, sintoma da crise e do desemprego jovem, reflexo de tensões sociais ou grito de protesto contra uma polícia racista? Dois dias depois do início dos motins que começaram em Tottenham, Nordeste de Londres, começa a tentar explicar-se o que aconteceu. (...)

Violência em Londres espelha relação tensa da comunidade negra com a polícia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 16 | Sentimento -0.16
DATA: 2011-08-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Actos de vandalismo puro e duro, sintoma da crise e do desemprego jovem, reflexo de tensões sociais ou grito de protesto contra uma polícia racista? Dois dias depois do início dos motins que começaram em Tottenham, Nordeste de Londres, começa a tentar explicar-se o que aconteceu.
TEXTO: Ainda é cedo para tirar conclusões sobre a verdadeira dimensão daqueles que são considerados os maiores motins dos últimos anos em Londres. Mas as relações tensas da polícia com a comunidade negra britânica são apontadas como uma das principais explicações para aquilo que alguns lêem como o protesto de membros de uma comunidade que são parados oito vezes mais do que os de outras pelas autoridades no chamado "stop and search" - um regulamento que na prática permite fazer discriminação racial em buscas policiais. Analistas ouvidos pelo PÚBLICO fazem a analogia com outros motins dos anos 1980 em Londres, provocados também pela morte de um membro da comunidade negra pela polícia. Os motins em Tottenham começaram com um protesto pacífico organizado por família e amigos de Mark Duggan, um homem de 29 anos morto pela polícia na quinta-feira. As circunstâncias em que ocorreram os disparos estão a ser investigadas e a ser alvo de polémica. Nas ruas de Tottenham muitos gritavam palavrões contra a polícia. Liz Fekete, directora executiva do Institute of Race Relations (IRR), think tank que faz pesquisa sobre questões raciais, lembra que esta não é a primeira morte de alguém da comunidade negra às mãos da polícia este ano e que "este não é um facto isolado". Em Março, o músico Smiley Culture foi morto durante uma busca policial em sua casa, em Londres; em Abril, um jovem negro, Kingsley Burell, morreu nas mãos da polícia em Birmingham e em Maio houve a morte de outro jovem londrino, Demetre Fraser, na mesma unidade policial de Birmingham. "É um problema que persiste", diz Fekete, que critica a forma como "a família de Duggan foi tratada pela polícia e pela Comissão independente de Queixas da Polícia". "Acho que não terem respostas foi o ponto principal para criar frustração com a polícia. " Harmit Athwal, também do IRR, tem analisado as notícias sobre as mortes na polícia e observado a indignação contra a ausência de explicações - isso tem vindo a galvanizar a comunidade. "Sem informação, as pessoas tiram as suas conclusões e. . . "Para quem tem estudado motins no Reino Unido como Paul Bagguley, da Universidade de Leeds, estes têm características semelhantes aos dos anos 1980 e de 1985 em Londres e Liverpool, iniciados por uma série de detenções da polícia. "Todos estes motins têm a mesma característica: a polícia aparece com a imagem de ser injusta. " Novo será a forma como as redes sociais e os telemóveis estão a ser usados para mobilizar mais pessoas mais rapidamente, tornando o controlo da situação mais difícil. "Nos anos 1980, os que foram presos eram sobretudo locais. Será interessante ver se é esse o caso agora. "Um problema geracionalAs relações tensas chegam a um ponto de ebulição tal que o resultado são ruas a arder. Apesar de achar que a comunicação melhorou em 30 anos, os negros ainda são mais parados pela polícia e associados à criminalidade, analisa o especialista. Mas as motivações serão diferentes para os jovens que rapidamente se mobilizaram: "Alguns serão motivados pela raiva, outros estão apenas nas ruas e respondem imediatamente, outros irão apenas para assaltar as lojas. " Para Liz Fekete, é cedo para tirar conclusões, mas a especialista em relações raciais vê os motins, desencadeados sobretudo por jovens, como o reflexo do problema de uma geração. "É uma questão racial também ligada às altas taxas de desemprego jovem, a um sentido de alienação e pobreza, em que os jovens sentem que não têm um lugar na sociedade. Mas é definitivamente um problema geracional. " No Reino Unido, um em cada cinco jovens entre os 16 e 24 anos está desempregado. Desdobrando os números, segundo dados do director do Runnymede Trust, Rob Berkeley, isto significa que a taxa de desemprego entre jovens é de 20% na comunidade branca e 50% na comunidade negra.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte negro homem comunidade pobreza desemprego morto negra discriminação
Violência em Londres espelha relação tensa entre a polícia e a comunidade negra
Actos de vandalismo puro e duro, sintoma da crise e do desemprego jovem, reflexo de tensões sociais ou grito de protesto contra uma polícia racista? Dois dias depois do início dos motins que começaram em Tottenham, Nordeste de Londres, começa a tentar explicar-se o que aconteceu. (...)

Violência em Londres espelha relação tensa entre a polícia e a comunidade negra
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 16 | Sentimento -0.16
DATA: 2011-08-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Actos de vandalismo puro e duro, sintoma da crise e do desemprego jovem, reflexo de tensões sociais ou grito de protesto contra uma polícia racista? Dois dias depois do início dos motins que começaram em Tottenham, Nordeste de Londres, começa a tentar explicar-se o que aconteceu.
TEXTO: Ainda é cedo para tirar conclusões sobre a verdadeira dimensão daqueles que são considerados os maiores motins dos últimos anos em Londres. Mas as relações tensas da polícia com a comunidade negra britânica são apontadas como uma das principais explicações para aquilo que alguns lêem como o protesto de membros de uma comunidade que são parados oito vezes mais do que os de outras pelas autoridades no chamado "stop and search" - um regulamento que na prática permite fazer discriminação racial em buscas policiais. Analistas ouvidos pelo PÚBLICO fazem a analogia com outros motins dos anos 1980 em Londres, provocados também pela morte de um membro da comunidade negra pela polícia. Os motins em Tottenham começaram com um protesto pacífico organizado por família e amigos de Mark Duggan, um homem de 29 anos morto pela polícia na quinta-feira. As circunstâncias em que ocorreram os disparos estão a ser investigadas e a ser alvo de polémica. Nas ruas de Tottenham muitos gritavam palavrões contra a polícia. Liz Fekete, directora executiva do Institute of Race Relations (IRR), think tank que faz pesquisa sobre questões raciais, lembra que esta não é a primeira morte de alguém da comunidade negra às mãos da polícia este ano e que "este não é um facto isolado". Em Março, o músico Smiley Culture foi morto durante uma busca policial em sua casa, em Londres; em Abril, um jovem negro, Kingsley Burell, morreu nas mãos da polícia em Birmingham e em Maio houve a morte de outro jovem londrino, Demetre Fraser, na mesma unidade policial de Birmingham. "É um problema que persiste", diz Fekete, que critica a forma como "a família de Duggan foi tratada pela polícia e pela Comissão independente de Queixas da Polícia". "Acho que não terem respostas foi o ponto principal para criar frustração com a polícia. " Harmit Athwal, também do IRR, tem analisado as notícias sobre as mortes na polícia e observado a indignação contra a ausência de explicações - isso tem vindo a galvanizar a comunidade. "Sem informação, as pessoas tiram as suas conclusões e. . . "Para quem tem estudado motins no Reino Unido como Paul Bagguley, da Universidade de Leeds, estes têm características semelhantes aos dos anos 1980 e de 1985 em Londres e Liverpool, iniciados por uma série de detenções da polícia. "Todos estes motins têm a mesma característica: a polícia aparece com a imagem de ser injusta. " Novo será a forma como as redes sociais e os telemóveis estão a ser usados para mobilizar mais pessoas mais rapidamente, tornando o controlo da situação mais difícil. "Nos anos 1980, os que foram presos eram sobretudo locais. Será interessante ver se é esse o caso agora. "Um problema geracionalAs relações tensas chegam a um ponto de ebulição tal que o resultado são ruas a arder. Apesar de achar que a comunicação melhorou em 30 anos, os negros ainda são mais parados pela polícia e associados à criminalidade, analisa o especialista. Mas as motivações serão diferentes para os jovens que rapidamente se mobilizaram: "Alguns serão motivados pela raiva, outros estão apenas nas ruas e respondem imediatamente, outros irão apenas para assaltar as lojas. " Para Liz Fekete, é cedo para tirar conclusões, mas a especialista em relações raciais vê os motins, desencadeados sobretudo por jovens, como o reflexo do problema de uma geração. "É uma questão racial também ligada às altas taxas de desemprego jovem, a um sentido de alienação e pobreza, em que os jovens sentem que não têm um lugar na sociedade. Mas é definitivamente um problema geracional. " No Reino Unido, um em cada cinco jovens entre os 16 e 24 anos está desempregado. Desdobrando os números, segundo dados do director do Runnymede Trust, Rob Berkeley, isto significa que a taxa de desemprego entre jovens é de 20% na comunidade branca e 50% na comunidade negra.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte negro homem comunidade pobreza desemprego morto negra discriminação
Bomba do Boko Haram mata 32 pessoas num mercado na Nigéria
Num segundo atentado, perpetrado por duas bombista suicida, mais 15 pessoas morreram, em Kano. (...)

Bomba do Boko Haram mata 32 pessoas num mercado na Nigéria
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num segundo atentado, perpetrado por duas bombista suicida, mais 15 pessoas morreram, em Kano.
TEXTO: O número de mortos vai ser elevado, dizem as autoridades. Para já, diz a Reuters, estão confirmados 32 mortos e 80 feridos. O atentado foi planeado para fazer o máximo de danos e provocar o máximo de medo — a bomba rebentou numa rua cheia de gente em Yola, no Nordeste da Nigéria, dias depois de o Presidente, Muhammadu Buhari, ter visitado a zona e declarado que a derrota do grupo de extremistas islâmicos está próxima. "A explosão ocorreu numa área onde estava uma multidão, pois ali existe um mercado de gado, uma zona de restauração ao ar livre e uma mesquita", disse um funcionário da Cruz Vermelha, Aliyu Maikano, citado pelo jornal The Guardian. "Acredito que o número de mortos vai ser muito alto", acrescentou. Uma testemunha disse que a explosão aconteceu pouco depois das orações da noite, na terça-feira, e quando a multidão que saía da mesquita se dirigia para a zona de comidas. O atentado não foi reivindicado, mas as autoridades dizem que tem a assinatura do grupo islamista radical Boko Haram (oa designação significa "não à educação ocidental"), que em Março jurou fidelidade ao Estado Islâmico. Nos últimos meses, a região foi alvo de uma sucessão de atentados do grupo, mas há três semanas que não havia nenhum. O Presidente da Nigéria esteve em Yola na sexta-feira passada para condecorar soldados e para visitar um campo onde vivem pessoas deslocadas pelos seis anos de violência (17 mil mortos). Muhammadu Buhari disse que o grupo islamista "está à beira da derrota" e pediu aos soldados para se manterem "vigilantes, alertas e centrados para impedir que o Boko Haram entre nas comunidades e atinja alvos desprotegidos". Os observadores dizem que a nova estratégia do Governo de Muhammadu Buhari — que chegou ao poder este ano, sucedendo a Goodluck Jonathan, muito criticado pela pouca eficácia da sua luta contra os islamistas — está a dar frutos, sendo a prova disso o facto de este ter sido o primeiro atentado este mês. Os últimos ataques tinham ocorrido em Outubro, quando 27 pessoas morreram e 96 ficaram feridas numa mesquita em Jambutu; e em Setembro, quando sete pessoas morreram devido à explosão de uma bomba colocada num campo de refugiados que o Presidente também visitara. Buhari estabeleceu um prazo, o final de Dezembro, para as chefias militares derrotarem o Boko Haram, que nos últimos anos avançou no terreno, sobretudo no Nordeste da Nigéria, e se estabeleceu junto às fronteiras com o Chade, o Níger e os Camarões. A explosão de terça-feira em Yola mostra, porém, que os comandos militares não têm uma tarefa fácil e que neutralizar os terroristas pode demorar mais tempo do que o previsto. O Exército tem vindo a divulgar os seus progressos. Na segunda-feira, anunciou ter impedido um atentado em Maiduguri, a capital do estado de Borno, e destruído uma fábrica de bombas do grupo. Num segundo atentado, já esta quarta-feira, em Kano, uma das principais cidades da Nigéria, duas bombistas suicidas mataram 15 pessoas. Segundo a Reuters, duas mulheres fizeram-se explodir junto ao mercado de telemóveis da cidade. Uma testemunha disse ao jornal nigeriano Vanguard que uma explosão ocorreu perto do gerador que abastecia o mercado, ao passo que a segunda bomba foi detonada no centro do mercado.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE