Mais de mil mortos em dois dias de confrontos na República Centro-Africana
Combates na capital foram mais violentos do que se julgava, afirma relatório da Amnistia Internacional. França vai pedir apoio aos parceiros europeus durante a cimeira dos próximos dias. (...)

Mais de mil mortos em dois dias de confrontos na República Centro-Africana
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.075
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501195450/http://www.publico.pt/1616898
SUMÁRIO: Combates na capital foram mais violentos do que se julgava, afirma relatório da Amnistia Internacional. França vai pedir apoio aos parceiros europeus durante a cimeira dos próximos dias.
TEXTO: Os confrontos do início do mês na capital da República Centro-Africana (RCA) fizeram cerca de mil mortos, em apenas dois dias. A contabilização publicada esta quinta-feira pela Amnistia Internacional (AI) é muito superior às estimativas apresentadas até agora e mostram um quadro bem mais dramático do conflito que assola o país. Na sequência de um ataque de grupos anti-balaka (milícias cristãs unidas para combater os Séléka, maioritariamente muçulmanos) a 5 de Dezembro em Bangui, que provocou a morte a mais de 60 pessoas, os Séléka ripostaram em grande escala. A AI refere a morte de “cerca de mil homens durante um período de dois dias”, e fala também de um pequeno número de crianças e mulheres mortas. Trata-se de um balanço muito superior ao da ONU, que contabilizava cerca de 600 mortos. A investigação da AI “não deixa margem para dúvidas de que estão a ser cometidos crimes de guerra e crimes contra a Humanidade por todas as partes do conflito”, afirma o perito para a África Central da organização, Christian Mukosa. O pico dos combates foi atingido precisamente nos dias em que a França iniciou o envio de uma força de segurança de 1200 elementos que se juntaram ao efectivo da União Africana. No entanto, “civis estão a ser mortos intencionalmente numa base diária, com 90 pessoas mortas desde 8 de Dezembro”, refere o relatório. Conflito discutido em BruxelasParis tem apelado à participação de mais países europeus no processo de contenção dos conflitos na RCA. “Teremos brevemente tropas no terreno, enviadas pelos nossos colegas europeus”, afirmou na terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius. A revelação do ministro foi, contudo, desmentida no dia seguinte pelo ministro dos Assuntos Europeus, Thierry Repentin, que precisou que apenas está assegurado o apoio logístico de outros países, entre os quais o Reino Unido e a Alemanha. O tema deverá ser discutido na cimeira europeia que arranca esta quinta-feira em Bruxelas e que se vai centrar na defesa e segurança. O Presidente francês, François Hollande, terá a difícil tarefa de convencer os seus homólogos europeus a apoiar a operação Sangaris, que conta com 3200 elementos, entre as forças francesas e africanas, e que já contabiliza duas baixas. Até ao momento, a intervenção da União Europeia na RCA fez-se exclusivamente através do financiamento. Depois de 20 milhões de euros disponibilizados há já alguns meses, a UE aprovou mais 18, 5 milhões em ajuda humanitária. Acresce ainda um financiamento na ordem dos 50 milhões destinados a apoiar as forças militares africanas, de acordo com um diplomata citado pelo portal EurActiv. O reforço do efectivo militar será algo mais complicado de obter. A Bélgica, por exemplo, mostrou-se favorável a enviar um contingente para garantir a segurança do aeroporto de Bangui, mas apenas dentro de um “quadro europeu”. À Reuters, uma fonte do Governo alemão afastou a participação no apoio às tropas francesas, justificando-se com regras europeias que impedem a partilha dos custos de missões militares. “Nesse sentido, não vejo muita necessidade para que isto se discuta”, afirmou. Esta quinta-feira, a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Samantha Power, faz uma visita à RCA onde irá encontrar-se com os responsáveis políticos. O Governo “deve apurar responsabilidades pelos abusos que foram perpetrados e pelas atrocidades que foram feitas até agora”, afirmou. A visita é feita depois de se terem tornado públicos os desentendimentos entre o Presidente da RCA, Michel Djotodia, colocado no poder pelos Séléka, e o primeiro-ministro, Nicolas Tiangaye, líder da oposição democrática.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU UE
República Centro-Africana: a "pior crise" de que quase ninguém ouviu falar
A ex-colónia francesa convive há meses com um conflito sangrento que ameaça tornar-se numa tragédia humanitária. A ajuda internacional teima em demorar à medida que o país entra em colapso. (...)

República Centro-Africana: a "pior crise" de que quase ninguém ouviu falar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento -0.33
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ex-colónia francesa convive há meses com um conflito sangrento que ameaça tornar-se numa tragédia humanitária. A ajuda internacional teima em demorar à medida que o país entra em colapso.
TEXTO: A morte aparece de todas as formas na República Centro-Africana (RCA), antiga colónia francesa de 4, 6 milhões de habitantes que vive, desde Março, um terror diário imersa numa permanente batalha. A Organização das Nações Unidas (ONU) já usou a palavra “genocídio” para descrever o que pode estar no horizonte daquele que é um dos países mais pobres dos mais pobres e cuja história se escreve com sangue. Decapitações de crianças, mulheres baleadas por Kalashnikov, jovens atirados a crocodilos, populações de cidades inteiras enclausuradas em pequenas igrejas. A RCA está mergulhada no caos das lutas armadas entre milícias sanguinárias que não hesitam na hora de disparar ou esfaquear. Ao fim de meses e meses, o Ocidente finalmente acordou e prometeu uma ajuda que peca por tardia. A situação vivida no país foi descrita, de forma acertada, pela embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, como a “pior crise de que a maioria das pessoas nunca ouviu falar”. “A RCA é parte da comunidade internacional e esta comunidade não pode permitir que os seus cidadãos sejam mortos, torturados e maltratados enquanto observa com indiferença. ” O apelo é deixado numa carta no The Guardian pelo arcebispo de Bangui, Dieudonné Nzapalaing, e não podia ser mais sério. A instabilidade está longe de ser uma novidade na RCA. Desde a independência da França, em 1960, que o país foi governado por líderes rebeldes e até por um autodenominado imperador do Império Centro-Africano, Jean-Bédel Bokassa, conhecido pelos hábitos canibais. A última insurreição ocorreu em Março, quando o Presidente François Bozizé, também ele um ex-líder rebelde, foi derrubado pela Séléka – uma aliança de três grupos rebeldes compostos quase na totalidade por membros da minoria muçulmana. Michel Djotodia tornou-se no primeiro Presidente muçulmano e governa o país desde então, mas perdeu o domínio sobre o grupo que o colocou no poder. Indiferentes às ordens de Djotodia, os milicianos da Séléka recusaram depor as armas e continuam a espalhar o terror, sobretudo na região norte do país, onde o poder central quase não conta. Calcula-se que 410 mil pessoas tenham abandonado as suas casas (10% da população) nos últimos meses, preferindo refugiar-se na selva. A alternativa é viver num temor constante, sempre à espera do dia em que um grupo da Séléka, “aliança” no idioma local sango, chegue para semear a destruição. Foi o que aconteceu a Nicole Faraganda, de 34 anos, em Outubro, na aldeia de Wikamo, na região de Ouham, no Norte da RCA. Quatro carros com rebeldes da Séléka apareceram sem aviso e dispararam sobre a população que fugia. Nicole, que tinha dado à luz na véspera, ainda estava em recuperação e atrasou-se. Morreu com um tiro na cabeça, assim como um vizinho de apenas de 12 anos. O trabalho só ficou terminado quando os rebeldes pilharam a escola e o hospital e queimaram os telhados das casas. No próprio dia, os mesmos milicianos ainda mataram 12 pessoas numa outra aldeia da região. A impunidade da matança no Norte da RCA leva a episódios como o da morte de uma criança de oito anos, na aldeia de Bombi Te, relatada ao The Guardian pelo próprio pai. "[Os rebeldes] começaram a atacar o meu filho. Tentaram matá-lo, mas a arma não funcionava. Então cortaram-lhe a garganta”, conta o homem que se identifica como Papa Romeo. “Que ameaça pode causar esta criança aos Séléka?”Crueldade dos dois ladosOs meses de ataques impiedosos levaram as comunidades cristãs a organizar grupos armados para responder às ofensivas dos Séléka. Essas milícias, chamadas "anti-balako" (antiespadas), têm enfrentado os rebeldes, acabando por radicalizar ainda mais o conflito. Assumem-se como defensores das comunidades cristãs, mas frequentemente empreendem massacres sobre aldeias muçulmanas indefesas. Numa das ofensivas dos anti-balako, em Setembro, o bairro muçulmano de Zere foi atacado. Soldados empunhando AK-47 invadiram as casas e mataram todos os homens. Tala Astita, de 55 anos, contou à Foreign Policy como viu o marido e o filho de 13 anos serem mandados deitar no chão para depois os rebeldes lhes esmagarem as cabeças com machetes. Diferem dos Séléka no credo, mas não na crueldade. Este panorama deixou em alerta a comunidade internacional, mas o auxílio pode já vir tarde para evitar um genocídio de repercussões assustadoras. A França está à espera de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para enviar mil soldados, que se vão juntar aos 410 que guardam, neste momento, o aeroporto da capital Bangui.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Nigéria adia eleições para derrotar radicais “em seis semanas”
Oposição diz que a independência da Comissão Eleitoral está comprometida. Casa Branca diz-se “profundamente desapontada”. (...)

Nigéria adia eleições para derrotar radicais “em seis semanas”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Oposição diz que a independência da Comissão Eleitoral está comprometida. Casa Branca diz-se “profundamente desapontada”.
TEXTO: A pedido das chefias militares, as eleições nigerianas foram adiadas: as presidenciais, marcadas para 14 de Fevereiro, deverão agora acontecer a 28 de Março; as legislativas passaram para 11 de Abril. Em seis semanas, afirmou esta segunda-feira Sambo Dasuki, conselheiro de segurança do Presidente, “todos os campos conhecidos do Boko Haram serão desmantelados”. Na prática, o que o Exército nigeriano está a dizer é que vai fazer em seis semanas o que não conseguiu nos últimos seis anos, desde que o grupo radical islamista Boko Haram surgiu para matar dezenas de milhares de civis, raptar centenas de meninas das suas escolas, arrasar cidades, obrigar 1, 5 milhões de pessoas a fugir de casa, conquistar território no estado de Borno, no Nordeste do país, e ameaçar e atacar países vizinhos. Os nigerianos têm poucos motivos para confiar na palavra dos seus militares. Em 2014, quando pelo menos 5000 civis foram mortos, os generais mentiram ao anunciar que tinham libertado 200 alunas raptadas pelo Boko Haram, tal como mentiram quando disseram ter chegado a um acordo de cessar-fogo com os radicais. Insistindo que não precisava da ajuda das Nações Unidas ou da União Africana, o Exército foi acumulando derrotas, ao mesmo tempo que era acusado de abusos dos direitos humanos no combate ao terrorismo. É verdade que acaba de ser aprovada uma força regional de 8700 membros do Chade, do Níger, das Camarões e do Benim para se juntarem aos nigerianos, mas grande parte destes militares e polícias vão operar nas regiões de fronteira. Só o Chade, para já, está envolvido em batalhas no Nordeste da Nigéria. O Boko Haram já reagiu, reafirmando a sua determinação em desestabilizar outros países – nomeadamente o Níger, onde tem lançado ataques quase diários, ou os Camarões. Aguardadas como as primeiras eleições realmente livres desde o fim dos regimes militares, em 1999, as presidenciais serão também as primeiras em que a vitória de Goodluck Jonathan não está garantida – as sondagens mostram que o general na reforma Muhammadu Buhari o pode derrotar. Ora, a oposição e muitos observadores acreditam que o adiamento é apenas uma desculpa para o impopular Jonathan, com mais meios para fazer campanha do que o adversário, tentar recuperar terreno. Uma sondagem do Afrobarometer (instituto independente com presença em 30 países africanos) sugere que Jonathan e Buhari, líder do Congresso Progressista, estão empatados nas intenções de voto. Nas últimas semanas, Buhari tem reunido grandes multidões nos seus comícios e recebido o apoio de figuras importantes. Um antigo presidente do Partido Democrático do Povo, no poder, Olusegun Obasanjo, retirou o seu apoio a Jonathan, defendendo que o seu camarada de partido “fracassou” como Presidente. Buhari, que já liderou o país durante dois anos após um golpe militar nos anos 1980, pediu calma aos seus apoiantes, mas considerou que a Comissão Eleitoral foi “obrigada a ceder a pressões” e viu a sua “independência gravemente comprometida”. O candidato denunciou o adiamento como “uma tentativa grosseira de sabotar o processo eleitoral” e o seu partido falou de “ataque grave à democracia”. Segurança como pretextoO secretário de Estado norte-americano, John Kerry, fez divulgar um comunicado em que diz que os Estados Unidos estão “profundamente desapontados com a decisão de adiar as eleições” e que “é inaceitável qualquer interferência política na Comissão Eleitoral e fundamental que o Governo não use as preocupações de segurança como pretexto para pôr em causa o processo democrático”. Apesar de o anúncio ter sido feito quando faltava apenas uma semana para a ida às urnas, há meses que vários membros do partido de Jonathan defendiam o adiamento. Em Janeiro, Sambo Dasuki, o conselheiro de Jonathan, dizia que a Comissão Eleitoral não teria tempo para distribuir os cartões de eleitor (que serão usados pela primeira vez) a quase metade dos 68 milhões de nigerianos que podem votar. Mas essa distribuição já foi entretanto concluída e o presidente da comissão, Attahiru Jega, garantira que tudo estava a postos. Claro que organizar umas eleições no meio de uma insurreição armada e com 1, 5 milhões de deslocados está longe de ser uma situação normal ou desejável. Difícil de perceber é o que é que poderá ser feito em mês e meio para alterar este cenário. Dasuki também garantiu que a data das eleições “não voltará a ser mudada”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos ataque ajuda
O legado da escravatura e as narrativas de Lisboa
O comércio Atlântico criou uma demanda sem precedentes que extrapolou o tráfico interno africano. (...)

O legado da escravatura e as narrativas de Lisboa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O comércio Atlântico criou uma demanda sem precedentes que extrapolou o tráfico interno africano.
TEXTO: É impossível alterar o passado. Mas podemos alterar o presente. Mas para alterar o presente precisamos compreender e reconhecer o passado. Deve-se reconhecer um legado histórico deixado pela escravatura atlântica, que é facilmente identificado nas coisas mais fundamentais, desde uma determinada linguagem quotidiana de cunho racista que usamos na língua portuguesa – talvez por herança – à toponímia de Lisboa. Há hipóteses, por exemplo, de que o nome da Rua do Poço dos Negros talvez faça referência a uma vala onde os cadáveres de escravos não batizados eram depositados. E a Rua da Preta Constança, na Ajuda? Diz-se que Preta Constança era uma “escrava trazida dos confins de África” e “viveu a fortuna, a desilusão e a desgraça neste bairro lisboeta”. Mas o que é que os nomes de ruas lisboetas têm a ver com esta discussão? Estas exemplificam um legado impregnado no espaço urbano que mal vemos, compreendemos ou sequer reconhecemos. No meio científico, há quem chame a isto de desenterrar histórias da arquitetura ou do espaço urbano de “narrativa arqueológica”. Poderemos, portanto, reconhecer a história de certos espaços urbanos se escavarmos e trouxermos à tona estas narrativas. O mesmo se passa com a história em geral. Daí a relevância de um memorial de escravos ou de um museu que exponha o tema através de documentos históricos, narrativas e imagens. Mas antes, é preciso uma compreensão do passado (e do que se quer), que passa também por reconhecer certos legados. A respeito dos legados, há quem levante o que seguinte questionamento: os portugueses foram os primeiros a levarem pessoas escravizadas de África para as Américas? Isto é um facto histórico partilhado nas publicações de historiadores portugueses (Arlindo Manuel Caldeira, no livro Escravos e Traficantes no Império Português) bem como de não-portugueses (Linda Heywood, Anthony T. Browder, John Thornton, James A. Rawley e Stephen D. Behrendt). Os portugueses foram pioneiros no tráfico atlântico em direcção à Europa e, cerca de 1520, prolongam-no para as Américas e Antilhas, com algum suporte castelhano. Mas isto não quer dizer que foram os portugueses de outrora a inventarem a escravidão em África. Naquele período, a escravidão era uma instituição legal e bem estabelecida naquele continente. Para além da África, era e tinha sido praticada noutras sociedades como na China, na Índia, na Coreia, no mundo árabe, no Império Otomano e na Rússia. De facto, os árabes-muçulmanos chegaram a escravizar não só negros como brancos católicos europeus. Os árabes também tinham ido até às costas alemãs e à Bulgária para comprar escravos eslavos germânicos. Uma pitada de etimologia dá mais sabor à nossa discussão: a origem da palavra inglesa slave (escravo em português) vem do facto de os árabes terem vendido muitos esclaves ou slavs (eslavos em português). Sabe-se que até ao século XV a maioria dos escravos são de pele branca. Voltando aos africanos da África central, é importante dizer que estes tiveram sim uma participação ativa no tráfico de africanos no Atlântico; não foram apenas vítimas, algo bem articulado na obra não maniqueísta do historiador norte-americano John Thornton. Uma diferença, no entanto, entre a escravização feita pelos africanos e a atividade comercial iniciada pelos portugueses é a escala e a dimensão transatlântica. Assim como lembrou o historiador brasileiro Luis Felipe de Alencastro numa entrevista recente, a propósito da abolição da escravatura em 1888, celebrada a 13 de maio no Brasil, em África os africanos desenvolviam comércio de escravos em localidades, limitando-se aos circuitos regionais das zonas económicas africanas. No entanto, o comércio Atlântico criou uma demanda sem precedentes que extrapolou o tráfico interno africano. Antes do tráfico atlântico, por exemplo, os escravos na África costumavam ser cativos de guerra, devedores ou criminosos. Além disso, escravos na África eram raramente usados em plantações, mas em vez disso, na maioria das vezes, foram simplesmente realocados e tratados mais ou menos como outros agricultores, em aldeias autónomas. Após a intensiva e crescente demanda de escravos pelos portugueses colonizadores, especialmente durante a colonização do Brasil e a massiva produção de café ou cana-de-açúcar, começou a existir um tráfico ilegal de africanos livres, inclusive de homens e mulheres da nobreza. Embora esta ilegalidade tenha sido criticada e combatida por alguns portugueses e africanos, a geração de guerras foi também intensificada, uma vez que os conflitos internos eram um mecanismo para a criação de escravos – afinal, os perdedores eram mantidos como cativos e escravizados. Estima-se que cerca de 11 milhões (um pouco mais do que a população atual de Portugal) de africanos escravizados foram levados para as Américas a partir do tráfico transatlântico. Portanto, a escravização de africanos passou de uma escala local/regional para uma escala intercontinental, com a invenção do comércio atlântico. Dito isto, é leviano suavizar a história do tráfico atlântico com o argumento de que já existia escravatura em África. Primeiro, porque são sistemas distintos. Segundo, e sobretudo, porque é preciso que se entenda e se reconheça que os efeitos do massivo comércio atlântico refletem-se ainda nos dias de hoje. Um destes efeitos, talvez o mais socialmente corrosivo para as pessoas com a cor escura, vem da “racialização” da escravidão, a associação de escravo com um ser de cor negra ou preta e a imaginação “do negro” como uma “categoria racial inferior”. Se até ao século XV a maioria dos escravos são de pele branca, por que é que isto acontece? Esta racialização tem origens no tráfico atlântico, em meados do século XVI, em que a cor de pele passa então a ser associada a estatuto social, de tal modo, como diz o historiador português Arlindo Manuel Caldeira e outros investigadores estrangeiros, “que a palavra ‘negro’ torna-se sinónimo de escravo”, embora haja em Portugal escravos brancos até ao século XVIII. Esta racialização tem a ver com o facto de, a partir do tráfico atlântico, a maioria dos escravizados passa a ser originária da África subsariana, de pele não-branca. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tal termo ‘negro’ associado à cor da pela e à escravatura, por sua vez, gera uma série de expressões idiomáticas de cunho racista, àquilo ao qual chamei neste jornal de “racismo idiomático”. Neste debate que se desdobra em Portugal sobre descoberta ou descobrimentos, escravatura, colonização e racismo, este legado desta racialização é um dos pontos que devemos também ter em atenção, pelos seus efeitos na sociedade contemporânea, e por ser algo que ainda podemos desmantelar, com a criação de políticas culturais e educacionais ou ainda, e sobretudo, pela conscientização das mentes, nas escolas, nos meios de comunicação social e até nas conversas de bar. Como disse antes: é impossível alterar o passado. Mas podemos alterar o presente. Mas para alterar o presente precisamos compreender e reconhecer o passado. Como maneira de reconhecer a história complexa e interrelacionada de Portugal e África, e da própria escravatura, e para contribuir para a criação de uma narrativa arqueológica das futuras gerações, faço uso de uma sugestão de Linda Heywood, historiadora e professora na Universidade de Boston, EUA. Numa palestra sobre o seu livro Nzinga de Angola. A Rainha Guerreira de África (editado em Portugal pela Casa das Letras, 2018) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa no último dia 10 de maio, a historiadora sugeriu que Lisboa tivesse uma estátua de Rainha Njinga. Creio que a sugestão deve ser considerada, uma vez que esta figura feminina africana representa a complexidade da história da escravatura. Além de ter rompido estereótipos de género ao liderar verdadeiros exércitos, Rainha Njinga possuiu escravos e também os vendeu, tendo assim participado no tráfico de escravos. No entanto, também defendia que havia limites de quem poderia ser ou não ser escravizado e também lutou contra os colonizadores portugueses. No fim da sua vida, converteu-se ao cristianismo e fez as pazes com Portugal. Quem sabe se a materialização de uma Rainha Njinga no espaço urbano de Lisboa nos ajude a despir-nos de uma visão maniqueísta da escravatura? E quem sabe se, ao despir-nos de uma visão maniqueísta da escravatura, conseguimos reconhecer melhor o passado?A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
"Se me tivesse apanhado não tinha sobrevivido.” Portuguesa relata episódios racistas na Polónia
Dez dias depois do episódio de violência, Linda Pereira ainda não sabe se vai ter ajuda jurídica por parte das autoridades portuguesas. "Nada de cabrões pretos. Só brancos", ouvi naquele bar, naquela noite. (...)

"Se me tivesse apanhado não tinha sobrevivido.” Portuguesa relata episódios racistas na Polónia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dez dias depois do episódio de violência, Linda Pereira ainda não sabe se vai ter ajuda jurídica por parte das autoridades portuguesas. "Nada de cabrões pretos. Só brancos", ouvi naquele bar, naquela noite.
TEXTO: Era uma noite banal para Linda Pereira, socióloga de 25 anos, portuguesa de origem guineense a fazer voluntariado em Sosnowiec, na Polónia. No fim de um dia de trabalho, saiu com os colegas de voluntariado. Num dos bares por onde passou, foi violentamente agredida naquilo que, acredita, se tratou de um ataque com motivações racistas. Está na Polónia há pouco mais de um mês – chegou no dia 4 de Dezembro, ao abrigo do Serviço de Voluntariado apoiado pelo Erasmus+. Este episódio de violência aconteceu na noite de 14 para 15, conforme detalha em conversa telefónica com o PÚBLICO. “A nossa cidade é um bocado mais isolada, um subúrbio”, começa por explicar. Foi a primeira vez que saiu à noite desde que chegou à Polónia. Naquele dia, pelas 21h, saiu para ir tomar um copo com os colegas, espanhóis e italianos, e explorar alguns bares. “Já estávamos a ir para casa quando começámos a ouvir a música e entrámos num bar”. O último da noite, onde se registaram as agressões. Entrou com os dois rapazes que estavam no grupo – as duas outras raparigas que estavam com ela não quiseram descer. “Eu instalei-me, deixei a mala, comecei a tirar o casaco, quando ouço uma pessoa a gritar na minha direcção. Com a música e o fumo – estava muito fumo naquele bar – só quando o homem se aproximou é que começou a ficar mais claro o que ele dizia: ‘No motherfucking black, no motherfucking black. White only’ [“Nada de cabrões pretos. Só brancos”]. ”As agressões começaram a seguir: “Para minha surpresa, ele agarrou-me no braço, atirou-me ao chão e começou aos pontapés, aos socos e eu só perguntava ‘o que é que eu fiz?’. Consegui segurar-me no balcão do bar e pus-me de pé. As três empregadas estavam a rir-se e os outros a dançar ao lado. Ninguém interveio. ”O homem, que mais tarde identificaria como o segurança do espaço, continuou a agredi-la. Nesse momento, as duas raparigas que a acompanhavam desceram para saber o que se passava, porque estavam a demorar mais tempo do que o esperado. Também foram agredidas: “A espanhola foi atirada ao chão e partiram-lhe os óculos. A colombiana foi empurrada com uma força [por um homem] e perdeu os sentidos. Nessa altura eu consegui sair do bar. ”Ainda se emociona quando fala do que aconteceu: “Já aconteceu há dias. Mas cada vez que me lembro… Ainda não ultrapassei. ”Saiu do bar para pedir ajuda, mas estava em pânico e até para chamar o 112 teve dificuldade. Não estava muita gente na rua pelas 3h, recorda, mas as poucas pessoas que passavam também não a ajudaram. Quando conseguiu ligar para a polícia só lhe perguntavam se tinha conseguido fotografar os agressores, para os identificar. “Quando a polícia chegou eram só dois e diziam que não conseguiam entrar porque já receberam denúncias daquele bar, que tem má fama. Perguntaram-nos o que estávamos lá a fazer e até parecia que éramos nós os culpados. Nós não sabíamos. E se eles sabiam que só lá ia gente má, por que é que não fecharam o clube? Agora estamos num sistema de apartheid onde os bons circulam de um lado e os maus do outro?”Depois daquela noite, tudo passou a fazer sentido para Linda. “Já tinha sentido os olhares na na rua, mas eu achava que era a diferença de cor, eu sou extremamente negra e eles são extremamente brancos. É aquela coisa, quando a gente vê. E numa cidadezinha as pessoas ainda não estão acostumadas a pessoas de outra cultura. ”Mas os olhares foram o mais inofensivo que lhe aconteceu. Relata um episódio num centro comercial, quando três homens lhe puxaram o cabelo. Outro, que lhe ficou marcado, aconteceu num eléctrico, onde um homem começou a olhar, a chamar-lhe nomes e a fazer-lhe “gestos obscenos”. “Graças a Deus tinha sempre os meus colegas aqui de Erasmus. Se ele me tivesse apanhado não tinha sobrevivido. ”Logo no dia a seguir foi aconselhada por alguns colegas de Direito a contactar a embaixada portuguesa em Varsóvia, a capital do país, a mais de 300 quilómetros de distância. Assim fez. Mas a resposta tardou. “Os italianos e espanhóis, no dia seguinte, contactaram logo a embaixada deles. Da nossa parte, enquanto portugueses é muito mais moroso. ” Enviou e-mails e ligou, mas não teve resposta imediata. No último domingo recebeu a visita do cônsul na sua casa: “O cônsul realmente veio cá a casa, ver-me mas eu sei que foram as associações em Portugal [a fazer pressão]. ”“Agora ainda não sei se vou ter ajuda jurídica, até porque não falo polaco. Os outros vão ter, assim como tradutores. Eu não sei ainda se a embaixada me vai ajudar nesse sentido ou não. ”Contactada pelo PÚBLICO, fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas confirmou que a jovem tentou contactar a embaixada em Varsóvia, sem sucesso: "Numa primeira fase não conseguiu falar com a embaixada em Varsóvia porque está a 300 quilómetros [da capital]". "No domingo foi visitada pelo nosso número dois, responsável pela secção consular da embaixada em Varsóvia, que falou com ela e aconselhou-a a apresentar queixa junto das autoridades polacas. " Conselho que Linda Pereira seguiu. “Agora, procuraremos apoiar esta cidadã para fazer valer os seus direitos, neste caso a salvaguarda de um direito fundamental, poder estudar sem que quaisquer impedimentos e atitudes possam criar qualquer obstáculo ou preconceito em relação à sua nacionalidade”, disse o secretário de Estado à Lusa, na terça-feira. Linda decidiu contar tudo nas redes sociais. “Até tirei foto ao próprio clube. Eu tenho de fazer qualquer coisa, vou pôr isto na minha página, contar o que se está a passar. E ninguém está a fazer nada. ”A maioria das mensagens foram de apoio. Mas nem todas foram boas. Recebeu mensagens a dizer que “nunca devia ter saído” do seu país, ou que se “não tiver a pele tão branca como a bandeira polaca devia sair”. “Ainda recebi mensagens ameaçadoras com a bandeira [com a cruz] suástica. Por acaso, o meu colega italiano antes de desmaiar lembra-se que um dos agressores tinha essa tatuagem. Recebemos pedidos de amizade desses perfis, mandavam mensagens a dizer que da próxima vez não terei hipótese e que isto foi um aviso. . . ”Se tudo tivesse corrido bem, ficaria na Polónia durante 11 meses. Agora, já não tem a certeza: “O voluntariado prevê-se durar 11 meses, mas eu não sei. . . Se com isso tudo eu vou aguentar. A minha liberdade que está a ser ameaçada. Aqui às 16h já é de noite. E estou com medo de sair à rua sozinha”. “E se não tiver outra chance? E se estiver sozinha? A verdade é que eu estou exposta. ”Este é um caso extremo, mas não foi único. Inês Costa tem 21 anos e fez Erasmus em Varsóvia, capital da Polónia durante a licenciatura, no ano passado. A ela nunca lhe aconteceu nada de grave, mas recorda-se de alguns episódios: “Houve algumas pessoas que me ignoraram e viraram as costas quando lhes pedi indicações para chegar a sítios e uma ou outra que me atirou o troco no supermercado, mas nunca fui insultada nem agredida. No entanto, Varsóvia é a capital e, portanto, à partida, tem mais abertura, até porque recebe mais turistas. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Noutras cidades, as reacções são mais violentas. “Sei de alguns rapazes que foram impedidos de entrar em discotecas só por serem mexicanos e conheci uns portugueses brancos que fizeram Erasmus em Lodz, uma cidade ultraconservadora, e eles contaram-me que eram constantemente intimidados. Houve ocasiões em que lhes cuspiram para os pés, atiraram garrafas de vidro e os ameaçaram com gás pimenta ou os mandaram de volta para o país deles. ”“Antes de ir para a Polónia até estava bastante apreensiva porque tinham saído notícias sobre a marcha nacionalista de Varsóvia e de mais portugueses em Erasmus que se queixavam de intimidações e agressões. Sinceramente, pensei que até estaria em risco acrescido por ser mestiça”, conta ao PÚBLICO. “É bastante preocupante porque este cenário está a tornar-se muito comum por toda a Europa, não só na Polónia”. Não há, no entanto, dados que permitam perceber se estes episódios estão a aumentar na Polónia, de acordo com o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, contactado pela Lusa. “A Polónia é um país comprometido com os valores europeus e devemos procurar contribuir para que assim aconteça”, disse.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens violência cultura ataque ajuda homem medo negra pânico
Jovem portuguesa queixa-se de agressões racistas na Polónia
As agressões aconteceram num bar. A jovem estava com o grupo de amigos, espanhóis e italianos, que foram igualmente espancados. (...)

Jovem portuguesa queixa-se de agressões racistas na Polónia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: As agressões aconteceram num bar. A jovem estava com o grupo de amigos, espanhóis e italianos, que foram igualmente espancados.
TEXTO: Uma estudante portuguesa de origem guineense queixa-se de agressões com motivação racista na localidade de Sosnowiec, região polaca da Silésia, contando que ela e os amigos, espanhóis e italianos, foram espancados num bar sem que ninguém os ajudasse. "Pisavam-me, pisavam-me. Se as espanholas não tivessem descido, acho que teria sido muito pior. Eu mal conseguia levantar-me, ele continuava a pisar-me, a pisar-me, a dar-me socos, pontapés. Ninguém o parava", contou Linda Pereira à Lusa. A agressão começou por ser dirigida a si, por parte de um alegado segurança do bar. Depois de os amigos intervirem também foram agredidos, juntando-se mais homens à agressão, perante a passividade das pessoas, que "continuaram a dançar", enquanto "as empregadas riam". Assim que conseguiu escapar para fora do bar, gritando por ajuda em inglês — "help, help" —, deparou-se com a mesma passividade: "Ninguém nos ajudava", disse. Depois de chamarem o 112 e de a polícia chegar, também a atitude das autoridades a deixou "chocada, estupefacta", referiu Linda Pereira, em lágrimas: "Pediram-nos a identificação, mas a mim, particularmente, parecia que o meu bilhete de identidade português não era suficiente para justificar que era portuguesa. Enquanto os outros mostraram o seu BI, a mim estavam a exigir o passaporte". Linda Pereira tem 25 anos, é estudante de Sociologia, já licenciada pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, e está na Polónia ao abrigo do programa Erasmus+ e também como voluntária do Corpo Solidário Europeu, lidando com crianças em situação de vulnerabilidade emocional e social. Após este episódio, em que os cinco jovens receberam tratamento médico e uma das jovens espanholas teve de ser hospitalizada, Linda tentou contactar a embaixada de Portugal em Varsóvia, mas não conseguia chegar à fala com ninguém. Expôs a situação nas redes sociais, tendo conseguido a ajuda da Associação Mulheres sem Fronteiras e da SOS Racismo. Posteriormente recebeu o apoio do cônsul português, que se deslocou a sua casa para se inteirar da situação. Linda Pereira contou que houve outros pequenos episódios de racismo ao longo da sua estadia em Sosnowiec, que foi tentando ignorar: num centro comercial, puxaram-lhe o cabelo; num eléctrico apinhado, um homem insultou-a e simulou um tiro com gestos, perante a passividade dos restantes passageiros. Após o episódio no bar, que gerou a solidariedade de associações locais, também recebeu mensagens racistas pelas redes sociais, que conseguiu perceber através do sistema de tradução automática. Uma dessas mensagens dizia: "Preta, o que é que estás aqui a fazer? Se não tens a pele tão branca como a bandeira da Polónia não devias cá ter vindo", contou. Linda Pereira está a ponderar regressar a Portugal: "Os meus familiares obviamente estão com medo. Se eu um dia estiver sozinha, posso não ter a mesma sorte. Em cada uma dessas situações, eu não estava sozinha. Um dia pode acabar muito mal". A jovem deixou de sair sozinha à noite, o que limita muito os seus movimentos num sítio em que escurece às 16h. É quando fala do trabalho voluntário no âmbito do Corpo Solidário Europeu que mais hesita na ideia de voltar a Portugal antes de concluir na Polónia os 11 meses do programa. "No meu trabalho com as crianças tenho percebido que tenho tido uma boa influência na vida delas. É uma boa influência ter alguém em termos culturais e mesmo em termos físicos diferente deles", relatou. Contactada pelo PÚBLICO, fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas confirmou que a jovem tentou contactar a embaixada em Varsóvia no dia dos acontecimentos, sem sucesso: "Numa primeira fase não conseguiu falar com a embaixada em Varsóvia porque está a 300 quilómetros [da capital]". "No domingo foi visitada pelo nosso número dois, responsável pela secção consular da embaixada em Varsóvia, que falou com ela e aconselhou-a a apresentar queixa junto das autoridades polacas. " Conselho que Linda Pereira seguiu. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Agora, procuraremos apoiar esta cidadã para fazer valer os seus direitos, neste caso a salvaguarda de um direito fundamental, poder estudar sem que quaisquer impedimentos e atitudes possam criar qualquer obstáculo ou preconceito em relação à sua nacionalidade”, disse o secretário de Estado à Lusa, na passada terça-feira. Questionado sobre se este tipo de casos estão a aumentar na Polónia, o secretário de Estado disse não ter dados nesse sentido. “A Polónia é um país comprometido com os valores europeus e devemos procurar contribuir para que assim aconteça”, disse.
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Americanos e britânicos mobilizam-se para tentar salvar alunas raptadas na Nigéria
Polícia oferece recompensa. Novo ataque islamista terá feito 300 mortos. Presidente Goodluck Jonathan preocupado com a reeleição. (...)

Americanos e britânicos mobilizam-se para tentar salvar alunas raptadas na Nigéria
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Polícia oferece recompensa. Novo ataque islamista terá feito 300 mortos. Presidente Goodluck Jonathan preocupado com a reeleição.
TEXTO: Os Estados Unidos destacaram uma equipa de especialistas civis e militares para a Nigéria, onde vão tentar localizar as mais de 200 raparigas raptadas por guerrilheiros islamistas. O anúncio sobre o envio da equipa foi feito pelo Presidente Barack Obama. Mas foi Kerry quem deu as explicações adicionais, por exemplo por que motivo esta intervenção só acontece agora, mais de 15 dias desde o rapto de 223 raparigas cristãs e muçulmanas de uma escola em Chibok, no nordeste do país, e depois de o grupo islamista Boko Haram ter raptado mais 11 adolescentes da mesma zona (da vila de Warabe), no domingo. Kerry disse que o Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, tinha “a sua própria estratégia”, tendo sido “os novos desenvolvimentos” a “convencer toda a gente de que é preciso um esforço maior”. Só no domingo à noite Johathan pediu a ajuda internacional — o Reino Unido também vai enviar uma equipa de conselheiros governamentais e a França ofereceu ajuda —, quando estava já em marcha uma campanha internacional pela sua libertação e em Abuja (a capital) e noutras cidades nigerianas se realizaram manifestações acusando o Presidente de inércia perante os raptos e a violência, crescente, dos islamistas. Neste momento, não há quem saiba onde estão as adolescentes, entre os 12 e os 18 anos. Num vídeo, o líder dos Boko Haram, Abubakar Shekau, aparece a dizer que as vai vender porque o destino das mulheres é casar e não estudar. “Deus instruiu-me para as vender”. A polícia nigeriana ofereceu, entretanto, uma recompensa de 50 milhões de nairas (equivalente a 215 mil euros) a quem der informações concretas sobre o paradeiro das raparigas levadas pelos Boko Haram, que significa “A educação ocidental é proibida” em haoussa, a língua mais falada nesta zona que é, segundo os especialistas, a zona mais negligenciada da Nigéria. A província de Borno, junto à fronteira com o Chade, é o epicentro da inssurreição islamista e ali os ataques a vilas e aldeias, a liceus e a universidades, são frequentes, mas poucas vezes os meios de comunicação social os mencionam — fizeram-no agora porque foi um rapto inédito pela quantidade de raparigas levadas de uma só vez. O rapto em massa na escola de Chibok não foi um acto isolado e surge na sequência de uma série de atentados e ataques, na província e fora dela. Noutro ataque no domingo, em Gamboru Ngala, os islamistas mataram “cerca de 300 pessoas”, disse à AFP Ahmed Zanna, senador por esta província. Testemunhas ouvidas pela agência francesa disseram ter contado mais de cem cadáveres, mas que o número iria certamente subir. Na semana passada, nas vésperas do início em Abuja do Fórum Económico Mundial (a Nigéria, o país mais populoso de África, é um dos maiores produtores de petróleo), um atentado matou 19 pessoas; uns dias antes, no mesmo local, os Boko Haram mataram 75 pessoas. "Uma infelicidade"“O nordeste da Nigéria é um dos lugares mais negligenciado do mundo”, escreveu no The Telegraph Ruchard Dowden, director da Royal African Society. Dowden defende que este abandono começa na presidência e nota que, ao fazer os primeiros comentários sobre o rapto das 223 raparigas, o Presidente disse que era “uma infelicidade”, mais nada. Quando a mãe de uma das raptadas se manifestou em Abuja contra a inacção do Governo, que acusou de nada fazer para começar a procurar as raparigas, foi detida por ordem da mulher de Goodluck Jonathan, Patience, uma mulher sem cargos oficiais mas muito influente na política nacional e que faz agora campanha contra os raptos. Mas ainda no fim-de-semana os relativizava porque prejudicavam o marido: “Vocês estão a fazer joguinhos. Não voltem a usar mulheres e crianças em manifestações. Não tragam esse assunto para fora de Borno, o assunto tem que morrer ai”, disse a primeira-dama nigeriana aos professores que organizaram uma manifestação a favor das raptadas, citada pela própria agência noticiosa nigeriana, NAN. “A forma lenta como as autoridades responderam prova que os governantes não querem investir na vida das pessoas como as alunas de Chibok, que são de uma parte do país historicamente marginalizada”, lê-se numa análise de The Washington Post. “Esta indiferença explica, em parte, o sucesso dos Boko Haram”, diz Dowden acrescentando que, localmente, os islamistas se tornaram um parceiro de negócios para os comerciantes de alimentos e para os traficantes de armas.
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Equipa internacional já procura alunas raptadas na Nigéria
Conselho de Segurança da ONU pondera agir contra o Boko Haram. Michelle Obama ocupou o tempo de antena do marido. (...)

Equipa internacional já procura alunas raptadas na Nigéria
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Conselho de Segurança da ONU pondera agir contra o Boko Haram. Michelle Obama ocupou o tempo de antena do marido.
TEXTO: Já está em campo a equipa multinacional que, na Nigéria, procura as mais de 200 raparigas raptadas pelos islamistas do grupo Boko Haram. Aos especialistas americanos, que chegaram ao país na sexta-feira, juntaram-se agora técnicos franceses. “Todas as instalações das Forças Armadas e da polícia nacional, assim como de outras entidades, estão ao serviço desta busca”, disse, em comunicado, o porta-voz do Ministério nigeriano da Defesa, general Chris Olukolade. “O maior desafio é lidar com informações equívocas que não levam a qualquer pista. Mas não nos irá desencorajar e este esforço conjunto vai continuar”, disse. O porta-voz avançou que, para participar nas operações ao lado das equipas estrangeiras — compostas sobretudo por especialistas em análise de informações e imagens —, foram destacadas duas unidades do Exército que estavam estacionadas na zona onde ocorreram os raptos, no nordeste, junto à fronteira com o Chade. O Reino Unido anunciou também o envio de “conselheiros governamentais” e o Governo da China disse que vai partilhar dados que obteve através de satélites e que poderão permitir detectar as movimentações dos islamistas nos dias dos raptos. “Se for preciso, a equipa será reforçada”, disse à agência AFP uma fonte da presidência francesa que adiantou que os técnicos enviados correspondem ao pedido feito pelo Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, ao chefe de Estado francês, François Hollande, numa conversa telefónica no passado dia 7. A mesma fonte disse que Hollande assegurou que a França reforçará a ajuda que já dá à Nigéria no combate ao terrorismo islamista. O rapto das raparigas por parte do grupo que é contra a educação das mulheres e pretende criar um estado islâmico no nordeste da Nigéria provocou um raro consenso, com os países a condenarem o acto e a exigiram a libertação das alunas. Na sexta-feira à noite, o Conselho de Segurança das Nações Unidas emitiu um comunicado exigindo a libertação imediata do grupo e admitindo vir a tomar medidas contra os islamistas — não especificava de que género. A mensagem dizia que o Conselho tem a “intenção de acompanhar de forma activa a situação das raparigas sequestradas e de considerar medidas apropriadas contra o Boko Haram”. Pelo mundo fora, muitas celebridades aderiram à campanha “Devolvam as nossas raparigas” (Bring back our girls) e, este sábado, Michelle Obama — que já tinha pousado na Casa Branca com um cartaz — leu uma mensagem sobre as alunas nigerianas no espaço que, todas as semanas, o Presidente dos Estados Unidos usa para falar aos americanos. “O que aconteceu na Nigéria não é um incidente isolado. É uma história que vemos todos os dias quando as raparigas em todo o mundo arriscam a vida para perseguir as suas ambições”, disse Michelle Obama. A primeira-dama falou no caso de Malala Yousafzai, a paquistanesa atingida a tiro na cabeça por taliban paquistaneses devido à sua campanha pela educação das mulheres no Paquistão. “A coragem e a esperança assumidas por Malala e pelas raparigas como ela em todo o mundo devem ser um chamamento à acção”.
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Palavras-chave campo educação ajuda género mulheres rapto
Nigéria disposta a negociar libertação de estudantes raptadas por islamistas
Aviões norte-americanos procuram adolescentes. Especialistas analisam "à lupa” vídeo do grupo Boko Haram. (...)

Nigéria disposta a negociar libertação de estudantes raptadas por islamistas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aviões norte-americanos procuram adolescentes. Especialistas analisam "à lupa” vídeo do grupo Boko Haram.
TEXTO: O governo da Nigéria está pronto a negociar a libertação das mais de 200 adolescentes raptadas em Abril pelo grupo islamista Boko Haram. A decisão, que representa uma mudança de atitude, foi anunciada nesta terça-feira. O ministro dos assuntos especiais, Tanimu Turaki, afirmou à BBC que, se o líder do Boko Haram estiver a ser sincero na declaração em que manifestou disponibilidade para trocar as raparigas por islamistas presos, deve enviar pessoas da sua confiança ao encontro do comité permanente de reconciliação do país, criado pelo Presidente Goodluck Jonathan e por si presidido. “O diálogo é uma opção chave” para acabar com esta crise, disse ao programa Focus on Africa. “Um problema deste tipo pode ser resolvido fora da violência. ” Turaki repetiu depois a ideia à AFP e à Reuters, à qual afirmou que está aberta uma “janela de negociação”. As declarações contrariam uma afirmação feita na terça-feira pelo ministro do Interior, Abba Moro, que reagiu a uma proposta de trocar as adolescentes por presos, feita pelo líder do grupo, Abubakar Shekau, dizendo que “não cabe ao Boko Haram impor condições”. Questionado pela AFP sobre se isso significava uma rejeição da proposta, respondeu nessa altura: "Claro". Aviões espiões dos Estados Unidos têm, entretanto, sobrevoado o Norte da Nigéria, à procura das mais de 200 adolescentes raptadas em Abril pelo Boko Haram. “Partilhámos imagens de satélites comerciais com os nigerianos e efectuamos voos de espionagem, de vigilância, e de reconhecimento, com pilotos, sobre a Nigéria, com autorização do Governo”, informou um alto responsável da administração norte-americana. Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado, tinha anunciado na segunda-feira, em conferência de imprensa, que os Estados Unidos estavam a prestar apoio às autoridades nigerianas a nível de informação, vigilância e reconhecimento. Dois responsáveis citados pela Reuters, sob anonimato, admitiram que os EUA estavam a ponderar a deslocação para a Nigéria de drones, aparelhos aéreos não tripulados. Especialistas norte-americanos estão também a analisar "à lupa" um vídeo do Boko Haram obtido na segunda-feira pela AFP, que mostra as estudantes raptadas. Além dos Estados Unidos, Reino Unido e França enviaram especialistas para colaborarem nas buscas. China e Israel ofereceram auxílio. Foi no vídeo divulgado na segunda-feira que o Boko Haram propôs trocar as adolescentes, entre os 12 e os 17 anos, pelos seus militantes que as autoridades da Nigéria têm presos. O líder islamista afirma nele que as raptadas se converteram ao islamismo. “Essas raparigas com que tanto se preocupam, de facto já as libertámos [. . . ] e sabem como as libertámos? Essas raparigas tornaram-se muçulmanas”, afirma, sorrindo. “Só as vamos libertar depois de libertarem os nossos irmãos. ” Noutra passagem, declara, porém, que a troca só incluiria as “que não se converteram ao Islão”. O governador do estado de Borno organizou um visionamento de imagens para as famílias e informou mais tarde que “todas” as raparigas que aparecem no vídeo são estudantes raptadas. A 14 de Abril foram 276 raparigas. No início de Maio aconteceu o mesmo a outras 11 em Chibok, estado de Borno, nordeste da Nigéria. Do grupo de 276, dezenas conseguiram fugir mas 223 permanecem, segundo a polícia, nas mãos do Boko Haram. Num vídeo anterior, Shekau disse que as raparigas seriam tratadas como escravas e ameaçou “vendê-las no mercado” e casá-las à força, o que indignou a comunidade internacional e tem dado origem e múltiplas reacções. Duas antigas “primeiras-damas” francesas, Carla Bruni-Sarkozy e Valérie Trierweiler, participaram esta segunda-feira, em Paris, numa manifestação a favor da libertação das adolescentes. Os ataques do grupo islamista começaram em 2009 e já causaram milhares de mortos – só este ano já são mais de dois mil. O Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, pediu esta terça-feira ao Parlamento a renovação, por seis meses, do estado de emergência que está há um ano em vigor nos estados de Adamawa, Borno e Yobe, no nordeste, e facilita medidas como a deslocação de tropas e escutas telefónicas. No domingo, o Presidente francês, François Hollande, propôs uma cimeira sobre a segurança na Nigéria em que também participariam Chade, Camarões, Níger e Benim.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
Sterling diz que afirmações racistas foram um “erro terrível”
NBA quer que Sterling deixe de ser proprietário dos LA Clippers, mas o dirigente pede uma segunda oportunidade. (...)

Sterling diz que afirmações racistas foram um “erro terrível”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento -1.0
DATA: 2014-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: NBA quer que Sterling deixe de ser proprietário dos LA Clippers, mas o dirigente pede uma segunda oportunidade.
TEXTO: O proprietário dos LA Clippers, Donald Sterling, disse esta segunda-feira ter cometido “um erro terrível” quando proferiu comentários racistas e pediu desculpas pelo sucedido. Sterling afirmou ainda que quer continuar a ser dono da equipa da NBA. Donald Sterling deu uma entrevista à CNN em que abordou publicamente pela primeira vez o escândalo em que se viu envolvido depois de uma conversa sua com a amante ter sido revelada. O dirigente criticava a namorada por se “associar a negros” publicamente, depois de ter visto uma foto sua com o ex-jogador Magic Johnson. A NBA não perdoou e baniu Sterling de assistir ao vivo a jogos de basquetebol para sempre, para além de o ter multado em 2, 5 milhões de dólares (1, 9 milhões de euros). A Liga Norte-Americana de Basquetebol Profissional iniciou também o processo para que Sterling deixe de ser dono dos Clippers. Em entrevista, o dirigente, de 81 anos, disse não ser racista e lamentou o “erro terrível”. “Sou um bom membro que fez um erro”, disse Sterling. “Estou autorizado a dar um erro, após 35 anos? É um erro terrível e nunca mais o farei outra vez”, garantiu. O dirigente considera que foi levado a tecer os comentários ouvidos na gravação. “Quando ouço aquela cassete, nem percebo como pude dizer coisas como aquelas. Não sei como é que a rapariga me fez dizer aquelas coisas. ”Sterling disse ainda ter esperanças de continuar como proprietário dos Clippers. Para que o clube saia das suas mãos será necessário o voto de pelo menos 75% dos donos de equipas da NBA. “Se os proprietários acharem que tenho direito a outra oportunidade, então eles irão dar-ma”, afirmou Sterling, que é dono dos Clippers desde 1981.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racista rapariga