A Pepa e o Zico ou a futilidade e o bom senso
Quem acredita que as redes sociais nos tornam mais inteligentes e democráticos fazia melhor em dedicar o seu tempo a pensar em malas Chanel ou nos sentimentos de cães que matam crianças. É revelador constatar como uma campanha da Samsung, que é apenas fútil, gerou uma onda de indignação tão generalizada a ponto de a marca ter sido obrigada a retirar os vídeos que se tornaram virais. E, ao mesmo tempo, dezenas de milhares de pessoas estão dispostas a encontrar “motivos” que justifiquem que um cão tenha matado uma criança de 18 meses, acusando a família de negligência e pedindo uma segunda oportunidade para o anima... (etc.)

A Pepa e o Zico ou a futilidade e o bom senso
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.3
DATA: 2013-01-11 | Jornal Público
TEXTO: Quem acredita que as redes sociais nos tornam mais inteligentes e democráticos fazia melhor em dedicar o seu tempo a pensar em malas Chanel ou nos sentimentos de cães que matam crianças. É revelador constatar como uma campanha da Samsung, que é apenas fútil, gerou uma onda de indignação tão generalizada a ponto de a marca ter sido obrigada a retirar os vídeos que se tornaram virais. E, ao mesmo tempo, dezenas de milhares de pessoas estão dispostas a encontrar “motivos” que justifiquem que um cão tenha matado uma criança de 18 meses, acusando a família de negligência e pedindo uma segunda oportunidade para o animal. Dito de outra maneira, é censurável que uma blogger de moda, chamada Pepa sonhe com malas Chanel, mas é pensável que um cão chamado Zico possa ser desculpado por uma morte. Os dois casos mostram como as redes sociais são férteis em desencadear correntes que desafiam o bom senso e a racionalidade. A Samsung ficou incomodada com o efeito negativo da sua campanha, que foi vítima do preconceito social contra as "queques" e as "pseudoqueques" que falam "à tia". Esse preconceito é profundamente moralista e autoritário: é crime sonhar com uma mala Chanel em tempos de crise. Mesmo que continue a haver pessoas que sonham com malas Chanel ou outra futilidade qualquer, é preciso pôr a máscara e dizer que se tem piedade dos pobrezinhos ou se é contra o capitalismo. Por isso, a única coisa censurável que a Samsung fez foi retirar a sua campanha e ceder a uma pressão pública que num certo sentido é uma forma de censura. Mas se queremos falar em piedade, é igualmente estranho que, em vez de ser a morte de uma criança de 18 meses a suscitar pena, seja o cão que a matou a ser objecto de uma campanha de solidariedade. O animal não é condenado, é abatido por ser um perigo público. No entanto, os subscritores desse abaixo-assinado agem como se o animal devesse ser absolvido em nome de valores morais. Há qualquer coisa estranha quando tratamos a futilidade com uma fúria quase animal e tratamos a fúria de um animal como se fosse uma causa humanitária. Correcção Pepa é blogger de moda e não modelo.
REFERÊNCIAS:
Não, isto não tem de ser assim
“Não há dinheiro”, “vivemos acima das possibilidades”, “dependemos dos credores” – quase dois anos depois da assinatura do Memorando de Entendimento entre as troikas, continua a ser este o diapasão pelo qual afinam todos os subscritores e respectivos acólitos. Um coro cada vez mais fraco e isolado porque a realidade entra pelos olhos dentro todos os dias: um milhão e meio de desempregados, um quarto dos portugueses a viver na pobreza, a procura interna a cair quase 20% em três anos, o défice e a dívida agravam-se a cada novo dado que é conhecido. E, no entanto, é este mesmo país pobre e onde não há dinheiro que a... (etc.)

Não, isto não tem de ser assim
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-03-20 | Jornal Público
TEXTO: “Não há dinheiro”, “vivemos acima das possibilidades”, “dependemos dos credores” – quase dois anos depois da assinatura do Memorando de Entendimento entre as troikas, continua a ser este o diapasão pelo qual afinam todos os subscritores e respectivos acólitos. Um coro cada vez mais fraco e isolado porque a realidade entra pelos olhos dentro todos os dias: um milhão e meio de desempregados, um quarto dos portugueses a viver na pobreza, a procura interna a cair quase 20% em três anos, o défice e a dívida agravam-se a cada novo dado que é conhecido. E, no entanto, é este mesmo país pobre e onde não há dinheiro que até ao final do ano vai pagar mais de sete mil milhões de euros de juros da dívida pública; que pôs quase seis mil milhões de euros nos últimos meses nos buracos do BCP, do BPI e do Banif, para já não falar do escândalo do BPN, que ameaça chegar aos sete mil milhões de euros; em que o Orçamento do Estado prevê oferecer mais de 1300 milhões de euros de benefícios fiscais no offshore da Madeira, ou em que as PPP vão engolir mais de 500 milhões de euros até ao final do ano. São opções. A receita de austeridade em cima de cortes não vai, de repente, gerar outra coisa que não seja pobreza, desemprego, dependência. Pedir mais tempo à troika, acrescentar inteligência à austeridade, reforçar o federalismo da União Europeia, dar uns retoques no memorando, não só não resolve nada como eterniza a situação em que estamos. Assumir os cortes como definitivos agrava todos e cada um dos problemas do país e da vida dos portugueses. Do Governo PSD/CDS não se ouve uma frase que dê sequer sinal de que consideram inverter a situação. As declarações piedosas de Gaspar sobre o desemprego não passam de hipocrisia: de que serve dizer que é um “flagelo pessoal” se tudo o que o Governo faz empurra mais gente para o desemprego?O PS enreda-se na sua condição de subscritor do memorando, dizendo tudo e o seu contrário, incapaz de assumir claramente, sem hesitações nem ambiguidades, a ruptura com este rumo e a urgência da demissão deste Governo. São cada vez mais os portugueses que exigem o fim do Governo de Passos Coelho e Portas. Vejam-se os muitos milhares que participaram nas mais diversas manifestações, greves e protestos nas últimas semanas exigindo que o Governo vá embora. É por isso que as mais diversas espécies de troikos se empenham tanto em agitar o fantasma da instabilidade – como se a situação que o povo vive tivesse ponta de “estabilidade” – e da falta de alternativas, silenciando e descredibilizando todos os que as apresentam. Mas a verdade é só uma: não há saída para os problemas do país sem uma ruptura com a política de direita. É necessário construir uma política patriótica e de esquerda. O PCP tem apresentado propostas sérias e de grande alcance ao povo português:– A imediata renegociação da dívida pública nos seus prazos, juros e montantes;– O aumento dos salários, das pensões e dos apoios sociais, para corrigir as desigualdades na distribuição da riqueza e para que as pessoas tenham mais dinheiro para consumir e fazer crescer a economia;– Pôr Portugal a produzir, na agricultura, na indústria e nas pescas, substituindo importações por produção nacional, controlando os custos dos factores de produção, facilitando o acesso das PME ao crédito através da Caixa Geral de Depósitos;– O fim das privatizações e a recuperação da propriedade social dos sectores básicos e estratégicos da economia, a começar pela banca;– A alteração radical da política fiscal, rompendo com o escandaloso favorecimento da banca, da especulação financeira, dos lucros dos grupos económicos nacionais e transnacionais e aliviando a carga fiscal sobre os trabalhadores e os pequenos empresários;– A valorização das funções sociais do Estado como condição para o desenvolvimento das condições de vida;– O efectivo cumprimento da Constituição da República e a intransigente defesa da soberania nacional face às imposições e condicionalismos impostos pelas grandes potências e pela União Europeia. Não, isto não tem de ser assim. Há alternativas e um povo preparado para as pôr em prática. Margarida Botelho é membro da Comissão Política do Comité Central do PCP
REFERÊNCIAS:
Felicidade Pública - n.º4
Das novas teorias do amor às emergentes políticas públicas de fraternidade. Tradução pessoal de anúncios publicados no The New York Review of Books, que celebrou em Fevereiro o seu 50º aniversário com o retomar de uma secção de “Anúncios de Amor”, lançada em 1968 (Where the Literati Find Love): “FriskyPuma, 84, procura companhia, 72 a 76, que partilhe caminhadas de parques de estacionamento até consultórios médicos. Deve gostar de descrições detalhadas de doenças; desfrutar de sonos soltos em matinés; condução diurna essencial; deve apreciar e compartilhar fotos de netos. Limitada flatulência, sendo o bater de de... (etc.)

Felicidade Pública - n.º4
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.35
DATA: 2013-03-29 | Jornal Público
TEXTO: Das novas teorias do amor às emergentes políticas públicas de fraternidade. Tradução pessoal de anúncios publicados no The New York Review of Books, que celebrou em Fevereiro o seu 50º aniversário com o retomar de uma secção de “Anúncios de Amor”, lançada em 1968 (Where the Literati Find Love): “FriskyPuma, 84, procura companhia, 72 a 76, que partilhe caminhadas de parques de estacionamento até consultórios médicos. Deve gostar de descrições detalhadas de doenças; desfrutar de sonos soltos em matinés; condução diurna essencial; deve apreciar e compartilhar fotos de netos. Limitada flatulência, sendo o bater de dentes ok. Não antecipar relação de longa duração. ” “Mulher com um só peito procura homem com um só braço. ”I – Há um par de anos, uma directora de uma escola pública e não confessional da zona de Coimbra contava-me como se tinha batido, determinada, por ter a palavra “amor” no projecto de escola – e não “amor aos livros”, nem “amor à aprendizagem”, vitais que são, mas sim e também “amor entre as pessoas”. A luta filosófica e ideológica que se seguiu foi intensa, e as discussões entre docentes fogosas, já que a estranheza grave de ter essa palavra no projecto educativo, fora de um contexto religioso, abalou a fragilidade de visões menos reflectidas e olhares mais insípidos sobre a educação. A aprovação acabou por acontecer e ser celebrada. O amor é mais uma palavra em desuso, ameaçada pela racionalidade fria e distanciadora destes tempos, ambivalentes e simultaneamente estéreis e fecundos. Na ciência, foi sempre, digamos. . . mal-amado. Em termos públicos, vemo-lo presente com frequência nos anúncios de jornal, impressos e online, e nos rituais capitalistas dos anúncios televisivos ou dos dias celebrativos – neste comércio rouco e repisado do dia dos namorados, dia do pai, da mãe. . . – e num permanente convite a associá-lo ao mercado das coisas perenes, descartáveis, de massas, impessoais. No imaginário conjunto, e apesar disso tudo e disso mesmo, desejamo-lo duradouro, íntimo, dual, fiel, recíproco, fraternal, intenso. Barbara Fredrickson, reconhecida investigadora da Universidade da Carolina do Norte e especialista em emoções positivas, lançou em Janeiro de 2013 um livro intitulado Love 2. 0. Nele desafia-nos a repensar o amor, deitando por terra, como defende, as visões pouco imaginativas, limitativas e de construção social distraída sobre o que é amar. Para isso mergulha na vida amorosa das pessoas em relação e na busca de uma definição fisiológica, e submerge no funcionamento do coração, na corrente sanguínea e nas células brancas, as tais que são protectoras do sistema imunitário, em busca de um entendimento orgânico da experiência do amor. Sem estorvos, defende que o amor – descrito como dinâmicos mas austeros micromomentos de relação, fortemente integradores de mente e corpo – é uma onda de emoção positiva e de cuidar mútuo, que flui entre dois cérebros e corpos ao mesmo tempo. É na ressonância positiva que os une e os alimenta a ambos – tão vital quanto a actividade motora ou a comida – que quem ama evolui em felicidade e saúde. Amar é partilha positiva; isso já (alguns) sabíamos. Mas amar não é uma experiência privada, confinada, limitada a fronteiras próprias ou decisões pessoais: é sim sincronicidade emocional, de gestos e bioquímicas, com reflexos neuronais espelhados, e efeitos duradouros, em verdadeiros círculos virtuosos – apesar e para além da brevidade e relampejo temporal que encerra. O amor não dura, diz a investigadora. . . mas quando acontece – e pode acontecer muitas vezes num dia, entre os que se definem como amantes e amados, ou entre desconhecidos – há um fortalecer da relação entre mente e coração. Quanto mais micromomentos amorosos sintonizados com alguém, muitos "alguéns", mais mimetizamos as emoções uns dos outros, influenciando mutuamente os padrões neurológicos, e mais estes laços sociais têm impacto na fisiologia e nutrem a saúde. Maior saúde traz em seguida mais capacidade para amar. O amor que se sente hoje, diz Fredrickson, pode literalmente mudar a nossa arquitectura celular no futuro. Mas a autora adverte: tudo isto acontece, se for em interface real. Enviar uma mensagem de texto a dizer “amo-te” não nos alimenta da mesma forma este amor fecundo e permutado. Ele não é por isso um horizonte longínquo e impossível para muitos, mas é uma possibilidade diária, frequente, viável a todos, isto se nos encontrarmos, se nos contemplarmos, se nos cruzarmos, se pararmos para fundear na emoção mútua. Este pedaço de ciência leva-nos a repensar os aspectos básicos das conexões humanas, suportadas logo no acto mais simples: o olhar reciprocado com o Outro. Este vai bem além da felicidade opulenta que criámos e cimenta-se no gratuito e numa nova ocupação dos espaços entre nós, através desta forma relacional confiante que é o amor. E aqui entram duas outras actrizes da nossa peça de hoje: a fraternidade e as políticas públicas. “Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos). ” Bernardo Soares – heterónimo de Fernando Pessoa. "O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. " Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Parte 1 – Página 141, Fernando Pessoa – Publicações Europa-América, 1986. II – O tríptico da modernidade, erigido aquando da enunciação dos princípios políticos na Revolução Francesa, deixou de fora um pilar: a fraternidade. Este desequilíbrio de atenção com as irmanadas liberdade e igualdade, pode muito bem ter fundeado algumas das fragilidades das sociedades actuais, que hoje sentimos como ferro em brasa nas nossas formas éticas de ser e de viver coesos. A fraternidade tem sido evocada em muitas práticas públicas e privadas, mas muitas vezes serviu apenas para ligar pessoas com o intuito de potenciar redes de poder económico, político ou religioso, para fomentar classismos, ou para disfarçar paternalismos e discriminações. Um vasto grupo de investigadores da América Latina (compondo a Red Universitaria para el Estudo de la Fraternidad) começou em 2007 a investigar este “princípio esquecido”. Recentemente tive ocasião de aprender com alguns deles em Roma numa conferência internacional. Estes investigadores defendem que a fraternidade é uma exigência e uma pergunta; uma experiência e um recurso. A exigência emerge do esgotamento dos modelos políticos pré-existentes, com o fraquejar da democracia e a consequente necessidade de encontrar alternativas de vida colectiva. A pergunta, porque se procura entender cientificamente o conceito e a teoria que o sustenta, nas suas dimensões – interpelando as respostas políticas e sociais marginalizadoras que hoje detemos, e levando à precisão rigorosa do conceito. Só que um conceito abstracto podia ter a riqueza de se transformar num ideal comummente defendido, mas excedente de inutilidade. Por isso a fraternidade deve ser entendida também como uma experiência, porque a vida política nos mostrou já a sua viabilidade em memórias históricas como a do pós-apartheid na África do Sul. Aí, a práxis fraterna deu respostas a situações concretas e o mal humano deu lugar a um novo Ethos. Finalmente, a fraternidade como recurso, ferramenta investigada e passível de trazer propostas políticas reais, num utilitarismo consequente, mas fundado em princípios e na virtude. A sua aplicação concretiza-se em áreas tão diversas como a educação, a ciência política, a gestão de pessoas ou o direito internacional. Entendida a fraternidade como um princípio político, concretizado na possibilidade real de uma cuidadosa solicitude e num reconhecimento recíproco entre cidadãos iguais e livres, voltamos ao amor. Esse amor que acontece pontualmente mas que transforma, que existe entre quem vive próximo e quem se desconhece mas se cruza, e que introduz pautas de vitalidade e reinterpretação da vida. Quem sabe se a fraternidade como princípio político não acontece quando há condições para microamores?Quem me conhece sabe que anseio com amazónias de utopias críticas, para avançarmos, como nos diz Eduardo Galeano. Mas se a utopia é o “não lugar”, precisamos então também do “bom lugar”, a "eutopia", onde haja espaço e tempo para olhares abundantes e receptivos, complacentes com a sensibilidade do outro, num festim de conexões lúcidas, que abram ocasião para a alteridade, na base de que o outro é meu igual e livre. Não defendo – nunca! – o alimentar a pão e circo demagógicos de novas morais de convivência. Mas apaixona-me cada dia mais uma ciência inclusiva, que traga guias e roupagens mais oportunas para as nossas vidas reais e dê voz ao silenciado. Acredito que entre a letra tantas vezes fria da ciência e o quotidiano quente as pontes se aproximam e os olhares se encontram. Pergunto-lhe por isso, leitor: Consegue imaginar um horizonte político fraternal, que permita uma confiança generalizada, sustentada numa proliferação intencional de actos amorosos mútuos, na concepção de Fredrickson, e de possibilidades reais, como as vividas na prática das comissões de Verdade e Reconciliação da África do Sul?Como dizia há dias Júlio Pomar, imaginar e acreditar noutras possibilidades é como manter “uma estúpida esperança, contra a aparente evidência”. E será talvez isso que nos abre, a nós cientistas e teóricos, a novas transcendências. E aos políticos, o que os desperta para a intersubjetividade fraterna?
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
O regresso do engenheiro de superfícies
José Sócrates falhou o seu regresso à política, após o tão celebrado "silêncio de dois anos". Por duas razões muito simples. Não tinha nada de novo para dizer. E mostrou que não mudou nada. O país está à beira de mais uma enorme tempestade política, por causa do Tribunal Constitucional e da sétima avaliação da troika. Não precisa para nada de um velho líder que voltou para resgatar as suas culpas. Em particular as suas culpas no resgate em que estamos metidos. Já são poucos os que têm ilusões na gestão da crise dos sucessores de José Sócrates. Porque estamos na Quaresma, o primeiro-ministro que emigrou para Paris... (etc.)

O regresso do engenheiro de superfícies
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-03-29 | Jornal Público
TEXTO: José Sócrates falhou o seu regresso à política, após o tão celebrado "silêncio de dois anos". Por duas razões muito simples. Não tinha nada de novo para dizer. E mostrou que não mudou nada. O país está à beira de mais uma enorme tempestade política, por causa do Tribunal Constitucional e da sétima avaliação da troika. Não precisa para nada de um velho líder que voltou para resgatar as suas culpas. Em particular as suas culpas no resgate em que estamos metidos. Já são poucos os que têm ilusões na gestão da crise dos sucessores de José Sócrates. Porque estamos na Quaresma, o primeiro-ministro que emigrou para Paris podia ter feito o seu acto de contrição. O número do cordeiro pascal. Nada disso. Continua o mesmo de sempre. Agressivo, arrogante, zangado. Sempre a corrigir os entrevistadores e a querer impor uma linha para o debate: a sua. José Sócrates tem razão quando diz que tem o direito a fazer a sua narrativa dos anos em que foi primeiro-ministro e da crise que o fez cair. Ou quando diz que estão errados os que dizem que a culpa dessa crise é apenas do que o seu Governo fez ou deixou de fazer. Mas isto nós já sabíamos há dois anos. Ao contrário de várias previsões, Sócrates poupou Seguro e até o desculpou por não defender o seu legado. Concentrou-se em Cavaco e na história do PEC IV. Mas o PEC IV - em que o PSD, como é sabido, não se portou nada bem - foi o fim de um filme. Para trás ficaram meses e meses de cegueira e obstinação perante a crise que se agravava. E isso José Sócrates ignorou. O PEC IV era o melhor tiro que Sócrates tinha neste regresso. Já o usou. Como um Narciso ferido, Sócrates, o animal feroz, veio então mostrar-nos a sua narrativa. Mas o engenheiro do inglês técnico continua a ser acima de tudo um grande engenheiro de superfícies. Um homem que procura moldar a realidade até que ela se transforme numa superfície que reflicta exactamente o que ele quer ver nela. Veio para reivindicar o seu direito a falar e diz não visar qualquer cargo político - este sim, foi o momento cordeiro pascal da entrevista na RTP1. E se tem todo o direito a falar, em nome da pluralidade, começou já a zurzir em toda a imprensa de que não gosta. Tal como fez no passado. Nem todas as narrativas cabem no espelho do engenheiro de superfície. Foi o prefácio, segue-se a obra. E voltamos à cena do ódio. O regresso de Sócrates despertou ódios e paixões exacerbadas. A tudo isto Sócrates acrescenta um outro ódio: o seu próprio ódio por quem não partilha a sua narrativa. Não tem mais nada a dizer aos portugueses. Mas o engenheiro de superfícies ficou prisioneiro da sua própria narrativa. E não percebeu como Portugal mudou. E o país pode estar sem futuro mas não é por isso que precisa de regressos ao passado.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Os carros eléctricos
Em 1879, Thomas Edison construiu a primeira lâmpada convencional comercializável. Cerca de um ano e meio depois, Ayrton e Perry criam o primeiro carro eléctrico, três anos antes do primeiro automóvel a combustão interna. Hoje, 130 anos passaram e ainda falamos na indústria dos carros eléctricos com uma mão cheia de dúvidas. A questão é até quando!Todos sabemos da dificuldade em começar um novo negócio. Muito mais complexo é lançar uma nova indústria baseada num produto cuja utilização altera a vida de meio mundo e belisca tantos interesses instalados. É o caso dos carros eléctricos. Haveria uma dificuldade eviden... (etc.)

Os carros eléctricos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-01 | Jornal Público
TEXTO: Em 1879, Thomas Edison construiu a primeira lâmpada convencional comercializável. Cerca de um ano e meio depois, Ayrton e Perry criam o primeiro carro eléctrico, três anos antes do primeiro automóvel a combustão interna. Hoje, 130 anos passaram e ainda falamos na indústria dos carros eléctricos com uma mão cheia de dúvidas. A questão é até quando!Todos sabemos da dificuldade em começar um novo negócio. Muito mais complexo é lançar uma nova indústria baseada num produto cuja utilização altera a vida de meio mundo e belisca tantos interesses instalados. É o caso dos carros eléctricos. Haveria uma dificuldade evidente de “ameaça” à indústria dos petróleos, cuja retaliação se tornou visível no financiamento das campanhas para evitar uma rede pública de abastecimento dos carros eléctricos, mas este é só um exemplo. Ainda hoje, que tantas empresas já investiram nesta indústria, temos a dúvida se o futuro dos carros eléctricos passará pela massificação e substituição do tipo de automóveis que usamos hoje ou se se limitará à construção dos carritos que vemos nos campos de golf e pouco mais. Na minha opinião é um processo irreversível, daqui a uma dúzia de anos 10% dos automóveis serão eléctricos, primeiro, caros, porque será moda, depois, económicos, por economia e necessidade! Para já temos os problemas típicos do arranque da indústria, por um lado a questão das infra-estruturas para o abastecimento e por outro o custo elevado dos carros. Para que os carros eléctricos se tornem vulgares serão precisas três coisas: primeiro uma autonomia razoável, pelo menos à volta dos 500 ou 600 Km, segundo uma infra-estrutura que permita o carregamento rápido e por último um preço razoável. Parte disto até já temos mas precisaremos de uns dez anos para que as implícitas economias de escala permitam a venda destes carros a um preço verdadeiramente interessante. Portugal beneficiou dum interesse político que saúdo em relação à questão das infra-estruturas para o carregamento dos carros eléctricos. Parece um pouco um investimento para ninguém, um pouco parecido com a construção de estradas onde quase não passam carros e que tantos euros nos levam. Admito que assim pareça mas o retorno a prazo é inevitável. Temos já disponível uma rede de postos de abastecimento para veículos eléctricos que permite o abastecimento dos carros mediante a utilização de um cartão de carregamento. A cobertura do país já é razoável mas claro que gostaríamos que fosse ainda melhor. É natural que tenha que existir uma componente política numa decisão de aumentar a cobertura da rede para o abastecimento dos carros eléctricos. Se é certo que não faz sentido investir na rede de abastecimento sem um número de carros que o justifique, também não será fácil surgirem interessados em comprar este tipo de carros sem um rede melhor que a actual. A autonomia média dos carros eléctricos disponíveis no mercado ronda os 200 Km. Não parece assim tanto mas é mais que suficiente para a grande maioria dos automobilistas, que conduzem menos que 50 Km diários. Alguns fabricantes já anunciam autonomias que rondam os 500 Km diários, para além de um sistema mais eficiente de carregamento que permite “encher” metade da bateria em cerca de meia hora. O preço é o maior entrave para a massificação deste tipo de automóveis. A tecnologia usada na construção das baterias é cara, em especial quando os fabricantes querem oferecer maiores autonomias. Os especialistas na indústria dizem que falta economia de escala para tornarem os carros eléctricos mais baratos, em especial mais baratos que os carros com motores de combustão. Estamos portanto na fase da pescadinha com rabo na boca, os carros são carros e por isso a procura é limitada, para se tornarem mais baratos era preciso que existisse um mercado maior, para existir um mercado maior era preciso que não fossem tão caros. Claro que a racionalidade económica e ambiental não será o único factor de decisão para quem compra um carro novo. Já nos carros de combustão assistimos a muitos factores não económicos e mesmo não racionais que afectam as decisões de compra. Mas sem dúvida é uma questão de tempo. Os carros eléctricos estão aí, serão cada vez mais e, provavelmente, um dia, serão os únicos!Consultor em projectos de investimento e seguros de crédito
REFERÊNCIAS:
Países Portugal
Nómadas, mas nem tanto
Cerca de 100 famílias cham formadas por pescadores e nómadas deslocaram-se para capital do Camboja, Phnom Penh, à procura de melhores condições de vida. Vivem nos seus pequenos barcos atracados numa península onde o rio Mekong se encontra com o Tonle Sap, mesmo em frente ao centro da cidade. Esta comunidade tem sido forçada a mudar-se várias vezes em Phnom Penh, à medida que os terrenos em redor da capital se tornam mais cobiçados. Agora temem uma nova mudança contra a sua vontade, porque o local onde estão instalados, no distrito de Chroy Changva, fica perto de um hotel de luxo que ainda está em construção.... (etc.)

Nómadas, mas nem tanto
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2013-08-02 | Jornal Público
TEXTO: Cerca de 100 famílias cham formadas por pescadores e nómadas deslocaram-se para capital do Camboja, Phnom Penh, à procura de melhores condições de vida. Vivem nos seus pequenos barcos atracados numa península onde o rio Mekong se encontra com o Tonle Sap, mesmo em frente ao centro da cidade. Esta comunidade tem sido forçada a mudar-se várias vezes em Phnom Penh, à medida que os terrenos em redor da capital se tornam mais cobiçados. Agora temem uma nova mudança contra a sua vontade, porque o local onde estão instalados, no distrito de Chroy Changva, fica perto de um hotel de luxo que ainda está em construção.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade
Gente e paisagens que Lisboa não vê e os meandros do Tejo escondem
O que ali está, nos rebordos do rio, frente a Lisboa, entre o Barreiro e a Moita, entre a velha indústria e a pesca da sobrevivência, é um mundo a desaparecer. Embora os que dele fazem parte sejam cada vez mais. Um sítio para pensarOs homens dos binóculos não param. À tona de água, lá longe, no enfiamento da pista da Base Aérea do Montijo, avistam o que procuram. "Aí vão eles!" É uma lancha da Polícia Marítima que lá vai, a grande velocidade, a voar sobre o mar que é o estuário do Tejo. O mar que a uns dá peixe, mas que a muitos mais dá frutos proibidos. Amêijoas, sobretudo, mas também peixes que não cabem nas ma... (etc.)

Gente e paisagens que Lisboa não vê e os meandros do Tejo escondem
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-05 | Jornal Público
TEXTO: O que ali está, nos rebordos do rio, frente a Lisboa, entre o Barreiro e a Moita, entre a velha indústria e a pesca da sobrevivência, é um mundo a desaparecer. Embora os que dele fazem parte sejam cada vez mais. Um sítio para pensarOs homens dos binóculos não param. À tona de água, lá longe, no enfiamento da pista da Base Aérea do Montijo, avistam o que procuram. "Aí vão eles!" É uma lancha da Polícia Marítima que lá vai, a grande velocidade, a voar sobre o mar que é o estuário do Tejo. O mar que a uns dá peixe, mas que a muitos mais dá frutos proibidos. Amêijoas, sobretudo, mas também peixes que não cabem nas malhas das restrições regulamentares. "Antes querem que um gajo ande a roubar. " Nesta primeira manhã de Agosto, entre pescadores e polícias, joga-se mais uma vez ao gato e ao rato na Barra à Barra, assim mesmo. Um sítio que só visto. Um caldo de paisagens, vidas e visões, contradições. No extremo do Barreiro industrial, decrépito, uma carcaça ferrugenta da indústria química de um lado; milhões de metros cúbicos de resíduos a que ali chamam gesso logo à frente; o lago imenso a entrar e sair pela terra a toda a volta; o casario do Montijo à direita, da banda de lá do rio, que também o é; a ilha do Rato pelo meio; os antigamente proletários, e agora sabe-se lá o quê, Lavradio e Baixa da Banheira à retaguarda, ali mesmo. E no centro, a própria Barra à Barra, já no concelho da Moita. Um lugar inesperado entre esteiros e hortas: um louvor à imaginação e à inventividade de pescadores mais ou menos profissionais, desempregados e operários reformados, para uns; um amontoado de barracas com lixo pelo meio, para outros. A emoldurar a margem ziguezagueante, os passadiços palafíticos que nascem no mar onde ficam os botes e levam a precárias arrecadações, por vezes acolhedores refúgios, assentes em estacas e barrotes de madeira cravados no lodo que a água cobre na maré cheia. Tudo são sobras de fábricas e obras, madeiras, chapas, plásticos, ferros. São às dezenas, as barracas/arrecadações de aprestos de pesca, redes, motores, remos, ganchorras, ancinhos, bóias. Umas são pouco mais do que caixotes mal-amanhados com uma porta. Outras são casinhas de bonecas em que também se dorme e convive, amplas janelas para o Tejo, varandas e miradouros, cataventos artesanais e uma parafernália de penduricalhos nos beirais, mini-hortas e canteiros de flores, tomates ou morangueiros em banheiras recicladas a debruar as fachadas. Estirados ao sol estão os gatos, muitos, em todo o lado. À sombra são os cães, até um Beethoven, que o calor não deixa ladrar, mas também os pombos, correios, aristocráticos, nos pombais e nos telhados. "Engraçado? Onde é que está a graça? Faz-se uma maré, três horas no lodo com as mãos, rapas, ancinhos, olhos, pés. Vale tudo e vem-se de lá com 20 ou 30 euros de amêijoas, ou com uma multa de 2500 euros. " Desalento é o que transmite, sem parar, este homem. Desempregado ao fim de 14 anos na Coca-Cola, pesca e marés na Barra à Barra e mais o pai desde os 16, com 38 agora, filhos para criar, renda para pagar, mão estendida na junta de freguesia e nome escondido "porque nunca se sabe". O sítio não tem graça, insiste. "Aqui é só luta", pela sobrevivência. "É o salve-se quem puder. É a Polícia Marítima, mas é também o pessoal que anda aí a roubar, uns aos outros. " E como se isso não bastasse, a ameaça do despejo, o espectro do bulldozer que tudo reduza a pó, paira no ar. A terra é do Porto de Lisboa, as barracas estão ali já ninguém se lembra desde quando, mas eles, conformados, sabem que um dia tudo acabará. Ali a palavra requalificação significa condenação, sem apelo. Mas não é assim para todos estes homens, talvez meia centena, ou mais, contando com os que já só usam as barracas "para se distraírem e não morrerem nos cafés". Também os há que querem o fim "desta merda", como diz António Damásio, de 60 anos, um dos sete, segundo ele, pescadores profissionais da Barra à Barra. Para este alentejano, com três décadas de pesca no Tejo, "as barracas já deviam ter acabado há muito e o Porto de Lisboa já devia ter feito um pontão e abrigos como deve ser para os profissionais". Os outros, os da pesca desportiva ou a "maralha da amêijoa", que tratem da vida deles. "Quanto mais maralha anda por aí, pior. Não respeitam ninguém. " E quanto às regras que amarram quem se queixa de não poder ganhar a vida, Damásio, sem ironia, diz ele (mas sabe-se lá), também mostra que o pensamento único não faz escola naquele cais: "Se não fossem os homens (Polícia Marítima) ninguém se governava aqui. Era uma bandalheira. " O que acontece, acusa enquanto descarrega a rede, é que "uns pagam os impostos e outros apanham o peixe. "Francisco Faria, Xico da Canôa, de 79 anos, reformado da Lisnave, onde foi soldador, também por ali pescou toda a vida. À porta da barraca em cujo passadiço ainda prende dois barcos só pede é que "avisem com antecedência". Antes de acabarem com este pedaço do seu mundo. Gostava que a Barra à Barra fosse arranjada, que houvesse condições para ali continuar, mas já viu afundar-se o sonho do clube náutico que ajudou a criar para isso mesmo. Agora já se resignou. O desempregado da Coca-Cola que ainda há oito meses pôs a frente da sua barraca a fazer inveja também já não vai fazer lá mais nada. "Eles querem deitar tudo abaixo, uma pessoa é obrigada a entrar para a malandrice!"
REFERÊNCIAS:
Um troféu de guerra britânico que Espanha nunca desistiu de tentar recuperar pela espada ou pela caneta
Há 300 anos que Gibraltar, "o Rochedo", é um território espanhol em posse do Reino Unido, nos termos do Tratado de Utrecht, que pôs fim à Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714), que envolveu praticamente todas as potências europeias da época. Mas isso não quer dizer que Madrid alguma vez tenha desistido de recuperar este território na entrada no Mediterrâneo Ocidental, cuja ocupação por Londres o general Francisco Franco considerava "um punhal cravado na espinha de Espanha". O lema de Gibraltar é "nenhum inimigo nos expulsará" e assim tem sido, desde que o almirante George Rooke capturou aquela praça em 1704, l... (etc.)

Um troféu de guerra britânico que Espanha nunca desistiu de tentar recuperar pela espada ou pela caneta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-13 | Jornal Público
TEXTO: Há 300 anos que Gibraltar, "o Rochedo", é um território espanhol em posse do Reino Unido, nos termos do Tratado de Utrecht, que pôs fim à Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714), que envolveu praticamente todas as potências europeias da época. Mas isso não quer dizer que Madrid alguma vez tenha desistido de recuperar este território na entrada no Mediterrâneo Ocidental, cuja ocupação por Londres o general Francisco Franco considerava "um punhal cravado na espinha de Espanha". O lema de Gibraltar é "nenhum inimigo nos expulsará" e assim tem sido, desde que o almirante George Rooke capturou aquela praça em 1704, liderando uma força naval anglo-holandesa, em nome do arquiduque Carlos, um dos pretendentes ao trono espanhol. Este não foi o vencedor da guerra sucessória, mas o artigo X do Tratado de Utrecht estabeleceu que Espanha concedia ao Reino Unido "a plena e inteira propriedade da cidade e castelo de Gibraltar, juntamente com o seu porto, defesas e fortalezas. "A titularidade seria "para sempre, sem excepção nem impedimento algum", embora com algumas regras. Espanha tem o direito a recuperar a plena soberania se o Reino Unido quiser "dar, vender ou alienar de qualquer modo" a sua propriedade, o que tem sido usado por alguns para defender que, se Londres quiser conceder a independência, está a alienar o território aos seus habitantes. "Pode entender-se que a cessão de Espanha terminou e se recuperaram os direitos sobre o território cedido", escreveu em Julho, no El País, Martín Ortega Carcelén, professor de Direito Internacional na Universidade Complutense de Madrid. Espanha tentou recuperar pela força o território várias vezes, ainda no século XVIII, enquanto o Rochedo se foi enchendo com uma população de origem variada, não necessariamente britânica: muitos genoveses, mas também gente de Malta, portugueses, judeus e de várias origens do Norte de África. Em 1830, tornou-se oficialmente uma colónia britânica e, com a abertura do Canal do Suez, em 1869, que liga o Mediterrâneo ao mar Vermelho, permitindo a navegação entre a Europa e a Ásia através do Egipto, a importância de Gibraltar ganha um novo fôlego. É do fim do século XIX e do conturbado início do século XX que data a ocupação - contestada por Espanha - do terreno onde Gibraltar construiu o aeroporto, cuja inclusão no espaço único europeu Madrid ameaça agora vetar, dizendo que o Reino Unido não cumpriu o acordo de 2006 sobre a gestão conjunta do aeroporto. Durante a II Guerra, a população civil foi evacuada para Londres, Irlanda do Norte, Casablanca, Madeira e Jamaica, e Gibraltar tornou-se um ponto estratégico para os Aliados, cobiçado pelos alemães: Operação Félix era o nome de um plano alemão concebido em conjunto com Espanha, para ocupar Gibraltar, mas nunca chegou a ser executado, pois Franco recusou-se a entrar na guerra. Na década de 1960, ainda durante a ditadura franquista, Espanha levou Gibraltar até ao comité de descolonização das Nações Unidas. A Assembleia Geral da ONU aprovou várias resoluções apelando ao início de negociações entre Espanha e Reino Unido para pôr fim ao colonialismo em Gibraltar. Isto levou ao referendo de 1967, em que 99, 64% dos llanitos (como em Espanha se designam os habitantes de Gibraltar) disseram querer continuar a ser britânicos. Em 1969, passou a ser um território ultramarino britânico, com Constituição própria e um governo local com competências nos assuntos internos. Apenas a Defesa e os Negócios Estrangeiros ficavam a cargo do representante da Coroa britânica. Espanha, no entanto, não desistiu das suas pretensões sobre o território. Em 1981, o rei Juan Carlos boicotou o casamento de Carlos e Diana porque o casal dos herdeiros à coroa britânica planeava iniciar a lua-de-mel em Gibraltar. Em 2002, os habitantes de Gibraltar tiveram nova oportunidade de se pronunciarem sobre o seu futuro, numa nova época de negociações entre Madrid e Londres em que foram consideradas opções de partilha de soberania. A ideia foi rejeitada pela maioria dos habitantes (98, 48%). Os confrontos por causa da pesca - Gibraltar considera como suas uma extensão de águas territoriais que Espanha não reconhece - continuam a ser frequentes. O desenvolvimento de Gibraltar como centro financeiro off-shore, que é ao mesmo tempo território da União Europeia mas isento da cobrança de IVA e que fica à margem da união aduaneira, desperta as suspeitas de ser um paraíso fiscal. As autoridades do território esforçam-se para desmontar essa imagem, mas Madrid não desarma as suspeitas, e exige transparência fiscal. Mais de 6700 habitantes de Gibraltar têm domicílio fiscal no Rochedo e residência em Espanha, o que lhes permite ter os benefícios de ambos os países.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Caiu o glamour das grandes festas de praia. Agora são os sem-abrigo e desempregados
Ervas daninhas crescem em jardins abandonados. As fontes das rotundas secaram. Na praia da Rocha, Camarinha ainda sonha com escadas rolantes para levar turistas a ver o marO homem, de 71 anos, está sentado na ponta do cais Gil Eanes, indiferente ao que se passa em redor. "Não voto há anos, não quero saber deles", dispara, quando interrogado sobre as eleições autárquicas. Tem o olhar fixo na linha de pesca como se tivesse a vida suspensa por um fio. E, na verdade, é do peixe que cai no anzol que depende a sorte de ter, ou não, direito a almoçar. "Vida de pobre", diz Manuel Carrusca, um conterrâneo de Cavaco Silva,... (etc.)

Caiu o glamour das grandes festas de praia. Agora são os sem-abrigo e desempregados
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20130820160303/http://www.publico.pt/j1742960
TEXTO: Ervas daninhas crescem em jardins abandonados. As fontes das rotundas secaram. Na praia da Rocha, Camarinha ainda sonha com escadas rolantes para levar turistas a ver o marO homem, de 71 anos, está sentado na ponta do cais Gil Eanes, indiferente ao que se passa em redor. "Não voto há anos, não quero saber deles", dispara, quando interrogado sobre as eleições autárquicas. Tem o olhar fixo na linha de pesca como se tivesse a vida suspensa por um fio. E, na verdade, é do peixe que cai no anzol que depende a sorte de ter, ou não, direito a almoçar. "Vida de pobre", diz Manuel Carrusca, um conterrâneo de Cavaco Silva, nascido em Boliqueime. Inconformado com a situação política, desabafa: "Perdi a esperança. "É tempo de férias, chegou a "Festa da Sardinha" e, durante os dez dias em que decorre o evento, puxa-se a brasa à sardinha. Nos restaurantes, junto à ponte velha de Portimão, há música, comes e bebes. Manuel Carrusca carrega o fardo da solidão, com preocupações acrescidas, "Costumava passar as noites, debaixo da ponte, tive de ir procurar outro poiso", lamenta. Desde há quatro anos, quando entrou em falência a empresa de construção onde trabalhava, passou à condição de cidadão ambulante na cidade. "Podia estar reformado, mas não posso tratar dos papéis, porque me roubaram todos os documentos e não tenho dinheiro para pedir a renovação", justifica. Desloca-se numa velha bicicleta a pedal, transportando numa caixa todos os apetrechos de que necessita para a pesca. "Apanho uns peixinhos, e assim vou andando - pedir, isso não é comigo. " A onda dos sem-abrigo está a passar por aqui. As seis instituições de solidariedade social do concelho procuram minimizar o impacto, oferecendo refeições. Com a queda do sector imobiliário/turístico foram lançadas no desemprego milhares de pessoas, seniores e jovens, sem perspectivas de futuro profissional. Até há dois ou três anos, Portimão ainda era vista como a cidade do glamour - grandes eventos e festas de Verão na praia, atraindo o chamado jet set sazonal. A áurea de sofisticação, trazida pelo programa Allgarve, ajudou a projectar no espaço mediático figuras que viraram as costas à região mal acabou o pagamento dos cachets. O projecto da realização de uma "cidade do cinema", a rivalizar com Hollywood, é apenas um dos exemplos das grandes iniciativas, frustradas, que ficaram pelo caminho. Agora, no jardim Visconde Bívar, na Baixa da cidade, crescem as ervas daninhas. A situação de abandono repete-se por outros pontos da cidade, com rotundas de fontes secas e jardins descuidados. A degradação dos espaços verdes é a face mais visível de uma câmara endividada. "Não há dinheiro", reconhece José Ventura, um maquinista da CP, reformado, sentado no banco do jardim, a ver passar os barcos, com turistas, a subir o rio Arade, rumo ao interior do concelho. No cais Gil Eanes, onde é proibido pescar, está Manuel Carrusca, curvado, silencioso, a aguardar que o peixe "pique" o isco. Umas centenas de metros à frente, nos Paços do Concelho, a vereação lança o "anzol" aos bancos para que aprovem o pedido dos empréstimos, sem os quais mais empresas locais cairão na falênciaNa praia da Rocha surge Zezé Camarinha à frente de um estabelecimento de venda de gelados e crepes, a gozar a fama e o proveito de ter estado no Big Brother. Na qualidade de empresário, lança uma sugestão aos futuros eleitos locais. "Devia haver aqui um elevador - ou uma escada rolante como está em Albufeira - para levar as pessoas para a praia", diz, revelando que é de sua iniciativa a existência do comboio turístico que faz o roteiro da cidade. "Precisamos de mais turismo, e a câmara deve investir na animação", enfatiza. Já no que toca à clientela, deixa cair um lamento: "Não há dinheiro para gastar. " À noite, as ruas enchem-se de gente a passear, mas o consumo é diminuto: "Ficam horas com uma bica na mesa. "Na esplanada da Casa Inglesa, um grupo de seis homens, três dos quais com jornais adquiridos no quiosque ao lado, passa em revista, antes das 9h, a actualidade. O mais falador, assumindo o papel de pivot, atira-se aos "políticos que entram no Governo com uma mão à frente e outra atrás, saem de lá ricos e vão para grandes empresas". Lançado o mote, a conversa desliza para o poder local. E por cá também não temos um com pulseira electrónica? Pergunta um dos convivas, numa alusão ao vice-presidente da câmara, Luís Carito, que foi constituído arguido e detido preventivamente, por envolvimento na sociedade municipal Portimão Urbis. "Corrupção é o que há mais por aí", comenta outro, desviando as atenções para a agricultura: "Este ano quase não há figo, e as ameixeiras também deram pouco. " José António, trabalhador da construção civil, a gozar férias sem sair de casa, atravessa a esplanada e vai fazer companhia ao antigo maquinista da CP, sentado no banco do jardim: "Dantes, havia aqui jardineiros em permanência, agora nem há dinheiro para comprar combustível para as máquinas de cortar relva", lamenta. Dali até à fábrica Feu, onde a mãe trabalhou, vai apenas um salto no espaço e no tempo. "Tenho saudades de ver as fábricas a trabalharem noite e dia. " A velha unidade industrial, transformada em museu, é hoje um dos principais pólos de atracção da região. Ao final da manhã, Manuel Carrusca arruma a trouxa e parte para lugar incerto. A faina rendeu uma dourada e um robalo. O que vai fazer com a pescaria? "Vou vender ao restaurante, e talvez leve umas sardinhas para almoçar. " Com a troca, explica, "ganho algum dinheiro para comprar pão - não vê que não tenho dentes para peixe fino?"Manuel Carrusca nasceu em Boliqueime, mas foi em Portimão que desenvolveu a actividade profissional: "Trabalhei com gruas, fiz quase todos os tipos de trabalho na construção. " O seu percurso de vida é comum ao de milhares de outros algarvios que saíram dos campos para a cidade, em busca de melhores salários. Os sonhos ruíram.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador homens homem social consumo desemprego
A partir de hoje, a CNN tem um novo rival: Al-Jazira América
A estação árabe quer ser um líder de informação a nível global, mas para isso precisa de conquistar os Estados Unidos. O seu novo canal americano arranca esta tardeSerá que um canal de informação que há poucos anos era visto como um veículo de propaganda da Al-Qaeda pode vir a ser celebrado nos Estados Unidos como um canal americano?A partir de hoje, a televisão árabe Al-Jazira terá o seu próprio espaço nos ecrãs americanos: um canal de notícias criado especificamente para um público americano. Durante anos, a Al-Jazira procurou integrar a oferta dos operadores da televisão por cabo americana, sem qualquer êxito,... (etc.)

A partir de hoje, a CNN tem um novo rival: Al-Jazira América
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2013-08-20 | Jornal Público
TEXTO: A estação árabe quer ser um líder de informação a nível global, mas para isso precisa de conquistar os Estados Unidos. O seu novo canal americano arranca esta tardeSerá que um canal de informação que há poucos anos era visto como um veículo de propaganda da Al-Qaeda pode vir a ser celebrado nos Estados Unidos como um canal americano?A partir de hoje, a televisão árabe Al-Jazira terá o seu próprio espaço nos ecrãs americanos: um canal de notícias criado especificamente para um público americano. Durante anos, a Al-Jazira procurou integrar a oferta dos operadores da televisão por cabo americana, sem qualquer êxito, com o seu canal internacional falado em inglês. Mas em Janeiro, a estação financiada pelo Governo do Qatar comprou a Current TV, um canal da televisão por cabo, para começar o seu próprio canal. Os seus produtores e jornalistas são maioritariamente americanos - a Al-Jazira foi buscar nomes respeitados a estações tradicionais, como a ABC e a CNN - e a estação abriu uma série de delegações por todo o país, incluindo cidades com pouca cobertura noticiosa permanente, como Detroit ou Nashville. O nome deste cavalo de Tróia? Al-Jazira América (Al Jazeera America, no original). Os planos do novo canal são ambiciosos: competir com os três "grandes", CNN, Fox News e MSNBC, mas segundo um modelo que vai contra todas as tendências da actual informação televisiva americana. A Al-Jazira América promete reportagens originais, jornalismo de investigação e menos intervalos publicitários do que qualquer outro canal de notícias. Numa altura em que os canais de informação da televisão por cabo dedicam mais tempo a reagir aos acontecimentos do que a noticiá-los (isto é, dedicam mais tempo à opinião do que à recolha de hard news) e são desavergonhadamente ideológicos (à excepção da CNN, onde a visão de um convidado de direita e um convidado de esquerda aos berros é habitual), as intenções da Al-Jazira soam como a fantasia de um professor de Jornalismo, notava ontem o New York Times. A estratégia de promoção da Al-Jazira América, com a sua promessa de investir em jornalismo sério, soa como uma crítica implícita às outras opções de informação televisiva. Numa conferência de imprensa telefónica, o director executivo do novo canal, Ehab Al Shihabi, garantiu que a Al-Jazira terá "menos opinião, menos gritaria e menos histórias sobre gente famosa". É verdade que as queixas sobre o jornalismo praticado pela Fox News e CNN se tornaram numa espécie de passatempo favorito da opinião pública americana, mas essas críticas têm tido virtualmente efeito zero porque ninguém acredita que um modelo diferente seja lucrativo. E estes não são tempos animadores para a indústria da televisão paga nos Estados Unidos, que está a tentar lidar com as mudanças no comportamento dos espectadores trazidas pelas novas tecnologias. O número de espectadores que estão a cancelar a televisão por cabo (cuja assinatura mensal pode facilmente custar 200 dólares) e a migrar para sites onde podem ver programas ou filmes a um custo acessível tem vindo a aumentar. As audiências da CNN atingiram o seu nível mais baixo dos últimos 20 anos. Para muitos observadores, só a Al-Jazira, financiada pelos recursos ilimitados de um pequeno país do Golfo Pérsico rico em petróleo, se poderia dar ao luxo de tão arriscada experiência. Como Philip Seib, autor de um livro sobre a estação do Qatar, explicou recentemente ao Politico, a Al-Jazira está interessada em ser o que a CNN era há 20 anos, um líder de informação a nível global, e para isso precisa de ter uma presença nos Estados Unidos. "Não existe qualquer expectativa de que vão fazer lucro. Eles só querem ser notados. "Para já, a Al-Jazira sofre de um problema de imagem nos EUA. Muitos americanos ouviram falar da estação pela primeira vez depois dos atentados de 11 de Setembro, quando a Al-Jazira se tornou notória por transmitir os vídeos de Osama bin Laden, com as suas mensagens antiamericanas. Durante a guerra do Iraque, o Governo de George W. Bush acusou a televisão árabe de ser um veículo de propaganda do inimigo. Os representantes da Al-Jazira América dizem estar conscientes dessa percepção, mas acreditam que ela se vai dissipar à medida que os espectadores se familiarizarem com o novo canal. A prova? Recentemente, a Al-Jazira realizou uma sondagem de opinião com perguntas como "O que pensa sobre a Al-Jazira?" e "Vê a Al-Jazira?" Setenta e cinco por cento das pessoas que não viam o canal tinham uma opinião negativa. Mas 90 por cento das que viam tinham uma opinião favorável.
REFERÊNCIAS: