"Onde está Ai Weiwei?" Em Londres, Nova Iorque e numa prisão algures na China
Ai Weiwei não esteve ontem na inauguração da sua instalação junto à Somerset House, em Londres, tal como não estará hoje na abertura da exposição na Lisson Gallery, a mais importante sobre a sua obra realizada até hoje no Reino Unido. O mais famoso artista chinês da actualidade está preso na China - em parte incerta e sem direito a advogados ou a contactos com o exterior - desde o dia 3 de Abril. (...)

"Onde está Ai Weiwei?" Em Londres, Nova Iorque e numa prisão algures na China
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2011-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ai Weiwei não esteve ontem na inauguração da sua instalação junto à Somerset House, em Londres, tal como não estará hoje na abertura da exposição na Lisson Gallery, a mais importante sobre a sua obra realizada até hoje no Reino Unido. O mais famoso artista chinês da actualidade está preso na China - em parte incerta e sem direito a advogados ou a contactos com o exterior - desde o dia 3 de Abril.
TEXTO: "É terrível montar a exposição na ausência de Ai Weiwei", desabafou, no The Guardian, Nicholas Logsdail, director da Lisson Gallery. Logsdail conta que a última conversa que teve com o artista foi em Janeiro, em Pequim. Weiwei, feroz crítico do regime chinês, que estivera em prisão domiciliária e fora entretanto libertado, estava preocupado com a eventualidade de não conseguir sair do país para as exposições que tinha agendadas nos Estados Unidos e na Europa. Os receios tornaram-se realidade, mas nem os colaboradores de Ai Weiwei na China nem as galerias ocidentais desistiram: na semana passada inaugurou em Nova Iorque a escultura pública Circle of Animals/Zodiac Heads (semelhante à que inaugurou ontem na Somerset House), e ontem e hoje acontecem as inaugurações em Londres. Mais: a Tate Modern exibe uma mensagem onde se lê "Libertem Ai Weiwei", a galeria Neugerriemschneider, em Berlim, inaugurou uma exposição do artista e colocou na fachada um pano com a pergunta "Onde está Ai Weiwei?", e em Paris, na segunda-feira, o artista britânico Anish Kapoor inaugurou no Grans Palais uma escultura monumental, intitulada Leviathan, e dedicou-a a Ai Weiwei, ao mesmo tempo que apelava aos museus e galerias de todo o mundo para fecharem um dia em protesto contra a detenção do artista chinês. Serão estes protestos eficazes? João Fernandes, director do Museu de Serralves, no Porto, e Pedro Lapa, director do Museu Berardo, em Lisboa, têm muitas dúvidas sobre a eficácia deste tipo de acções. "Não podemos deixar de nos sentir revoltados. Mas julgo que a China é mais sensível a argumentos mais pragmáticos", diz João Fernandes ao PÚBLICO. "Acho que todos os que têm qualquer relação económica com a China, que colaboram com o sistema oficial de arte e cultura, deviam sistematicamente confrontá-la com a questão do Ai Weiwei, que é escandalosa. " Como? Não indo à China, por exemplo. "Se fosse convidado, não iria a um país que tem um artista na prisão", afirma. João Fernandes deixa uma pergunta: "A China terá um pavilhão na Bienal de Veneza quando tem um artista preso? É espantoso que o mesmo mundo que atribuiu o Nobel da Paz a um dissidente [Liu Xiaobo] se mexa agora tão pouco. "Pedro Lapa assinou uma petição, subscrita por vários artistas e curadores, de apoio ao artista chinês, mas diz ter consciência de que "serve para muito pouco", sobretudo porque "estamos a lidar com uma ditadura tenebrosa, que conta com a escandalosa complacência do mundo ocidental". O que poderia, então, ser eficaz? "Talvez uma acção conjunta por parte, por exemplo, dos ministros da Cultura de toda a Europa. Seria preciso uma acção política, com boicotes muito efectivos. "Mas, para já, o que há é a mobilização da comunidade artística - ontem em Londres, artistas, directores de galerias e académicos juntaram-se na Somerset House para ouvirem ler textos de Ai sobre a liberdade de expressão. Na Lisson Gallery, os responsáveis colocaram uma fotografia gigante do artista e os visitantes podem ser fotografados com um sinal dizendo "libertem Ai Weiwei". E há, claro, o próprio trabalho de Ai - as doze cabeças de animais do zodíaco em bronze agora no exterior da Somerset House, réplicas de esculturas feitas no século XVIII pelo jesuíta Giuseppe Castiglione para os jardins de um imperador da dinastia Qing, e que foram pilhadas por tropas francesas e inglesas no século XIX, acabando por aparecer em leilões de colecções ocidentais, como a do estilista Yves Saint Laurent. E, na Lisson Gallery, um conjunto de vídeos e esculturas que, escreve o crítico de arte Adrian Searle no Guardian, são "belos e assombrados, assombrados sobretudo pela ausência de Ai" - duas cadeiras vazias, um caixão vazio, longos vídeos de ruas de Pequim, vazias, uma câmara de vigilância praticamente igual (só que em mármore branco) às que Ai tinha no exterior do seu estúdio e através das quais era vigiado pelas autoridades chinesas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura prisão comunidade chinês
O genoma do porco foi desmanchado ao fim de nove anos
Quando o javali surgiu há cerca de quatro milhões de anos, no Sudeste asiático, não iria adivinhar que iria ter uma ligação tão estreita com um hominídeo que nessa altura evoluía em África. Há dez mil anos, o homem começou a domesticar esta espécie que hoje faz parte da alimentação global. Agora, o porco doméstico e também o javali viram os seus genomas sequenciados ou, para usar uma expressão apropriada, desmanchados. O estudo está na revista Nature desta semana. Além das implicações para a história evolutiva deste mamífero e a pecuária, o trabalho é importante para a investigação de doenças que nos afligem. (...)

O genoma do porco foi desmanchado ao fim de nove anos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-11-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando o javali surgiu há cerca de quatro milhões de anos, no Sudeste asiático, não iria adivinhar que iria ter uma ligação tão estreita com um hominídeo que nessa altura evoluía em África. Há dez mil anos, o homem começou a domesticar esta espécie que hoje faz parte da alimentação global. Agora, o porco doméstico e também o javali viram os seus genomas sequenciados ou, para usar uma expressão apropriada, desmanchados. O estudo está na revista Nature desta semana. Além das implicações para a história evolutiva deste mamífero e a pecuária, o trabalho é importante para a investigação de doenças que nos afligem.
TEXTO: Só faltava a sequenciação do genoma do porco para ficarmos a conhecer profundamente o ADN das três fontes de carne mais importantes para alimentação humana. O genoma da vaca e da galinha já eram conhecidos, e desde 2003 que o Consórcio de Sequenciação do Genoma do Porco trabalhava neste objectivo. "De todas as carnes utilizadas na alimentação, a do porco é a mais popular e, com o crescimento da população global, precisamos de melhorar a sustentabilidade da produção alimentar. O conhecimento melhorado da composição genética do porco deverá ajudar-nos na procriação de animais mais saudáveis e mais produtivos", disse um dos coordenadores do projecto, Alan Archibald, do Instituto Roslin da Universidade Edimburgo, e que é um dos 136 investigadores que assinam o artigo. O genoma do porco tem 21. 640 genes. Apesar de o número ser semelhante ao dos humanos, o genoma do porco, mesmo das raças mais comerciais, tem duas a três vezes mais variabilidade do que o nosso. Isto pode-se explicar pela grande diminuição do número de humanos que aconteceu há cerca de 120. 000 anos, antes de a nossa espécie ter saído de África, para se espalhar pela Terra. O principal trabalho de sequenciação centrou-se na T. J. Tabasco, uma fêmea de porco doméstico, da raça europeia duroc, que estava na Universidade do Illinois (EUA), uma das instituições envolvidas na investigação. Do ponto de vista genómico, os investigadores identificaram uma rápida evolução de genes ligados à defesa imunitária. Dos 158 genes relacionados com a actividade imunitária estudados pelo consórcio, 17% "demonstraram uma evolução acelerada". Um fenómeno também encontrado nos humanos e nas vacas. Um olfacto poderosoOutra característica descoberta, esta distintiva do porco, explica a sua capacidade de descobrir trufas, um cogumelo que vive escondido no solo. Os cientistas identificaram 1301 genes que comandam a produção de proteínas de receptores olfactivos, importantes na identificação de diferentes odores. Até agora, nunca se tinha sequenciado o genoma de um animal com tantos genes do olfacto. "Este número reflecte provavelmente a forte dependência do olfacto que os porcos têm quando procuram comida", escrevem os cientistas. A equipa não restringiu a análise a um único porco doméstico e, além disso, sequenciou ainda genomas de javalis, que são porcos selvagens. Ao comparar os dois tipos de genomas, conseguiu olhar para o passado da domesticação do porco. Existe uma diferença genética significativa entre o genoma do javali na Europa e o do javali na Ásia, que reflecte a separação das duas populações há um milhão de anos. Esta diferença está patente nos genomas dos porcos domésticos da Europa e da Ásia e reforça um fenómeno de que já se desconfiava: a domesticação dos porcos ocorreu mais do que uma vez na Europa e na Ásia. Além disso, os porcos domésticos foram-se cruzando com o seu antepassado selvagem ao longo dos milénios. "Ao contrário da vaca doméstica, cujos antepassados, os auroques, estão agora extintos, ainda resta muita diversidade genética à linhagem suína. Facilmente encontramos genes que ainda estão em javalis que poderão ser utilizados para fins reprodutivos", explica Lawrence Schook, da Universidade do Illinois. Mas o genoma do porco pode também ajudar no estudo de várias doenças humanas, já que a sua fisiologia é mais parecida com a nossa do que a dos ratinhos. "Observámos 112 posições [de aminoácidos, os tijolos das proteínas] onde as proteínas têm o mesmo aminoácido implicado em doenças humanas", lê-se no artigo. Os genes que comandam a produção destas proteínas estão relacionados com a obesidade, a diabetes, a dislexia, a doença de Parkinson ou a de Alzheimer. Estes genes identificados agora podem tornar o porco um modelo biomédico ainda mais importante.
REFERÊNCIAS:
Uma rapariga, uma carrinha e muitas estradas até à China
Susi Cruz desistiu da faculdade, deixou o trabalho e fez-se à estrada, sozinha. Há um ano que a alemã de 25 anos viaja na carrinha que converteu em casa sobre rodas. O objectivo é chegar à China. Mas acaba sempre por voltar a Portugal (e, agora, a um português). (...)

Uma rapariga, uma carrinha e muitas estradas até à China
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Susi Cruz desistiu da faculdade, deixou o trabalho e fez-se à estrada, sozinha. Há um ano que a alemã de 25 anos viaja na carrinha que converteu em casa sobre rodas. O objectivo é chegar à China. Mas acaba sempre por voltar a Portugal (e, agora, a um português).
TEXTO: Há um mês que a carrinha de Susi Cruz está parada numa oficina nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia — e para quem anda na estrada há um ano, um mês com o mesmo cenário é “mesmo muito tempo”. Como é que uma jovem alemã que quer chegar à China por terra vai parar à garagem no meio do nada do Sr. Manuel, já reformado? Susi, 25 anos, tira a máscara, sacode o pó da roupa e estende a mão. “Uma lição: as coisas nunca acontecem como tu imaginas”, ri-se. Com Peño, um cão de porte pequeno e grande energia, partiu de Düsseldorf, na Alemanha, em Setembro de 2017. Já passou pela Bélgica, França, Espanha, Portugal e Marrocos. Desistiu da universidade quase no final do curso — “design de moda não era 100% o que eu gostava” — deixou o trabalho — “a vida é mesmo muito curta para não fazermos o que queremos, não é?” — e pegou no dinheiro que tinha juntado durante dois anos a servir às mesas e a gerir Airbnbs (continua a ser uma forma de rendimento durante a viagem). Os pais, a razão pela qual fala chinês e quer chegar à China, “eram completamente contra”. Mas Susi Cruz procurava, na vida real, a mesma “liberdade” das publicações marcadas pela hashtag #vanlife, que lhe apareciam no Instagram. Famílias inteiras que partilhavam as viagens por parques naturais ou estradas desertas, a bordo de uma carrinha que “tem o conforto de uma casa”. Casais que tentavam perceber se conseguiam viver de forma minimalista, num espaço confinado, onde têm de estar sempre na cara um do outro. Jovens que se recusavam a pagar uma renda e a voltar sempre ao mesmo sítio, no final do dia. “Eu vi aquelas histórias e só disse: tenho de fazer isto. Vou construir a minha carrinha. E vou viajar pelo mundo. ”Foi descobrindo o "como" pelo caminho. Spoiler: “Não foi assim tão difícil. ” “É incrível o quanto eu aprendi só porque estava realmente interessada em aprender”, partilha. Comprou a camper van Vw T3 com a caixa vazia e remodelou-a, sozinha, ao longo de quatro meses. Leu muito sobre mecânica, viu tutoriais no YouTube (agora faz os dela), aderiu a grupos no Facebook de pessoas que estavam a tentar fazer o mesmo. “A entreajuda é um valor muito importante neste estilo de vida”, aprendeu. No início da viagem, “ligava pouco às redes sociais". Um ano depois, passa duas horas por dia só a responder às mensagens que lhe chegam, de desconhecidos. “Apercebi-me que quando viajas sem parar torna-se um bocadinho aborrecido. ” Interrompe-se rapidamente: “É estranho dizer isto, porque toda a gente quer viajar. Mas eu estava habituada a um horário de trabalho muito pesado, a ter aulas ao mesmo tempo e comecei a sentir-me muito vazia. Houve alturas em que em vez de achar que estava a aproveitar a vida, achei que a estava a desperdiçar”, justifica. “É bonito veres esta cidade. É muito bom estares nesta praia, mas depois de 200 cidades, 400 praias, só dizes: ‘Boa, mais uma’. ”Como parar não estava nos planos, arranjou maneira de transformar “paixões numa ocupação”. Gostava de vídeo, fotografia e divertia-se com o “poder de inspirar” das redes sociais. “Fico muito contente por termos esta oportunidade, hoje em dia. ” Agora, concentra-se em fazer crescer a comunidade que, a partir de um ecrã, entra directamente na sua carrinha: 60 mil seguidores no Instagram e 120 mil subscritores no YouTube. A porta de entrada, defende, é “a honestidade”. “Não tens a noção profunda do que é a van life se só vês fotografias bonitas, em paisagens espectaculares e onde tudo parece um sonho. O feed faz com que te sigam, porque ninguém quer ver pessoas tristes o tempo todo. Mas quando vês os meus vídeos, percebes que uma carrinha antiga avaria muitas vezes, que a minha experiência em Marrocos não correu nada bem, que às vezes me sinto sozinha, que choro. Ou que não tenho uma casa de banho e que parte do meu tempo é passado a arranjar uma solução para isso”, brinca. “Quero encorajar as pessoas a serem honestas e a fazerem o que gostam e não o que acham que é suposto fazerem. Mas não lhes vou mentir. ”No canal de YouTube apresenta receitas fáceis para cozinhar na carrinha (foi uma das participantes na versão alemã do Masterchef); mostra o processo de conversão da camper van; explica como se consegue sustentar a viver a tempo inteiro na carrinha; fala da rotina diária; de como é ser mulher e viajar sozinha (“Meninas, de que estão à espera?”); das pessoas que conhece ao longo da viagem; de como, sem querer, começou uma relação à distância. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E isso traz-nos de volta à oficina em Portugal. E à resposta à pergunta no início do texto: na primeira vez que veio ao Porto, Susi conheceu João, o rapaz português que começou a aparecer ao seu lado, em algumas fotografias. “Não era suposto isto acontecer”, ri-se. “E tenho adorado o tempo que passo aqui, com ele. Mas, para mim, acho que está na hora de continuar. ”A carrinha está a passar por uma segunda remodelação. O interior, cuidadosamente decorado, está um caos. Vai ser pintada, desta vez com tinta própria para carros, já que Susi Cruz a pintou de cor-de-rosa só com um pincel e tinta para paredes. É ela que vai para a garagem trabalhar todos os dias, e que fica lá, mesmo depois de a oficina fechar. Espera que para a semana já esteja pronta. “Ter um namorado não muda o meu sonho. Dá-me alguém com quem o partilhar”, sorri, a espreitar para ver se João está ou não a fazer um bom trabalho na carrinha onde ela vai seguir viagem, outra vez sozinha. Dali ao Reino Unido ainda são quase três mil quilómetros. Muita coisa pode acontecer pelo caminho.
REFERÊNCIAS:
Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019
Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou. (...)

Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.099
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou.
TEXTO: Com um nome demasiado grande até para padrões alemães, a nova líder da CDU (União Democrata-Cristã, partido da chanceler Angela Merkel), Annegret Kramp-Karrenbauer, é mais conhecida como “AKK”. Não tem nada contra as iniciais; a ex-chefe de governo do estado federado do Sarre que a chanceler decidiu fazer sua sucessora — para já, na CDU; Merkel espera que o mesmo aconteça no governo quando ela sair de cena, em 2021 — só não quer que lhe continuem a chamar “mini-Merkel”. “Tenho 56 anos, criei, com o meu marido, três filhos, há 18 anos que tenho responsabilidades governativas. Não tenho nada de ‘mini’”, diz a dirigente, que nunca esconde o sotaque regional. Descrita como mais decidida e dinâmica do que Merkel, não hesitou quando esta a escolheu para o cargo de secretária-geral do partido, em Fevereiro, arriscando deixar o seu pequeno estado (o mais pequeno dos 16 estados federados alemães) a caminho de Berlim. Católica, nascida numa grande família e formada em Ciência Política, é mais emotiva do que Merkel, gosta de AC/DC, mascara-se no Carnaval e não foge a uma polémica, apesar de ser elogiada por colegas e rivais pelo seu espírito conciliatório. “Não tem um ego desmesurado, mas faz avançar os seus peões com tranquilidade. Como Merkel, que toda a gente subestimou”, lembra a politóloga francesa Isabelle Maras, sublinhando “as suas capacidades de análise, o seu sentido político e habilidade”. Militante na CDU desde os 18 anos, aos 38 foi a primeira mulher ministra do Interior na história dos estados federados. Entretanto, teve a pasta da Educação e a do Trabalho, antes de ser eleita ministra presidente, em 2011. Em 2012, governou em coligação com os Verdes e com o FDP (Partido Liberal-Democrata), mas decidiu convocar eleições antecipadas logo depois e ganhou. Nas eleições de 2017, as sondagens não lhe eram favoráveis, mas acabou por ganhar novamente. Entretanto, todos sabem quem é. Mas a política que não tem “nada de ‘mini’” sabe que herda um legado gigante e que tem mesmo de convencer muita gente do seu próprio valor e capacidades. Também sabe que agora é que vai começar a mostrar-se — aos alemães e aos europeus. Sofia LorenaAs mais recentes sondagens dão-lhe uma margem de conforto político, mas falta um ano e… tudo pode mudar. Não mudar nada — ou manter as peças do xadrez actuais mais ou menos com o mesmo alinhamento — será um dos grandes desafios de António Costa, a quem não compensa a existência de grandes agitações em 2019. Mas o mundo anda a correr rápido, e em Portugal os indicadores mostram um aumento da insatisfação em muitas classes profissionais, que pode deitar por terra o sonho não verbalizado de conseguir a segunda maioria absoluta para o PS na história. O ano de 2019 é uma espécie de prova dos nove para o primeiro-ministro e por isso é a personagem política a ter em atenção no ano que está prestes a começar. Os desafios eleitorais são três: eleições europeias em Maio, regionais da Madeira em Setembro e duas semanas depois, já em Outubro, as legislativas. Desde o congresso do partido em Maio que a estratégia de António Costa para o resto do mandato foi a de posicionar o partido como charneira. Puxou para si o discurso das contas certas, do crescimento económico, da redução do desemprego, do crescimento económico, mas sobretudo da credibilidade e da estabilidade. Tudo argumentos que usa para se distanciar da direita e dos seus parceiros de esquerda, com quem diz que quer continuar o caminho, não se percebendo ainda o que quer fazer ou com quem o quer fazer. Tem negado o bloco central, mas tem ao mesmo tempo quebrado as intenções do BE de vir a fazer parte de um Governo. Enquanto PCP e BE acenam com as suas vitórias nos orçamentos do Estado e apontam o que falta fazer, o PS responde a esse discurso com a bandeira do equilíbrio e fomentando o medo dos efeitos de uma nova crise. Valerão estes argumentos em 2019? António Costa tem visto sinais na sociedade de uma crescente insatisfação. As classes profissionais do Estado exigem melhores condições de trabalho e as greves, ameaças de greve e protestos marcados não param de aumentar. A gestão do tempo que falta para as eleições terá de ser feita com pinças nesse limbo entre encostar mais à esquerda ou mais à direita. Com os orçamentos aprovados, o trabalho será sobretudo político, onde Costa se move melhor. Ele e Marcelo Rebelo de Sousa, que tem dado sinais de não lhe agradar a aproximação dos socialistas a uma maioria absoluta. O ano de 2019 será intenso na política portuguesa e terá particularidades que ainda não foram testadas, com novos partidos a poderem ter um papel perturbador no estável espectro partidário logo nas europeias, que podem apontar caminho para as legislativas. Liliana ValenteNinguém poderia ter vez imaginado que He Jiankui seria um dos nomes a destacar na ciência em 2018. O cientista chinês anunciou em Novembro que tinha ajudado a fazer nascer os primeiros bebés geneticamente editados e, da noite para o dia, um perfeito desconhecido tornou-se mundialmente famoso. A ciência tem esse encanto irresistível da imprevisibilidade. De milhões de experiências que são levadas a cabo nos laboratórios de todo o mundo, nunca se sabe quais vão correr bem e quais serão notícia. A única coisa que podemos dar como certa é que em 2019 todos os caminhos da ciência vão (de uma maneira ou outra) dar a um único personagem: o ser humano. Dizem os cientistas que a edição genética com a ferramenta CRISPR/Cas9 — que permite um jogo de corta e cola no ADN — é algo relativamente fácil de fazer e não muito dispendioso, o que a torna especialmente atractiva. No entanto, as consequências (ainda) são imprevisíveis. Já foi experimentada em vários modelos animais e, em 2015, foi noticiada a primeira experiência com embriões humanos inviáveis que depois foram destruídos. Este ano terá acontecido o que todos sabiam ser inevitável. O cientista chinês He Jiankui preparou cuidadosamente o anúncio do nascimento dos dois primeiros bebés geneticamente editados. Mais tarde, acrescentou que existe um terceiro bebé editado que ainda não nasceu. O que temos é pouco mais do que a palavra do cientista e muitas críticas e controvérsia à volta de uma experiência que a comunidade internacional condenou e considerou “irresponsável”. Os bebés, a existirem, terão sido sujeitos a modificações que lhes darão a vantagem de serem resistentes à infecção por VIH. Mas, entre outros riscos, existe o perigo de carregarem o chamado “efeito mosaico” (com algumas células editadas e outras não) e de terem sofrido mutações em genes que não eram o alvo (off-target). É fácil concluir que He Jiankui será um cientista a seguir atentamente em 2019, se voltar a trabalhar depois do escândalo e da vergonha internacional a que expôs a China. Mas mais do que os pormenores (que ainda desconhecemos) deste caso em particular, sobra a certeza de que estamos cada vez mais perto de uma realidade com o homem geneticamente editado. Há ensaios clínicos na Europa, EUA e China e a aposta das empresas é na tentativa de correcção de erros genéticos associados a doenças que não têm qualquer outro tipo de resposta. Além do potencial para a saúde humana, a tecnologia tem ainda outras aplicações muito vantajosas para a alimentação e agricultura, para manipular (melhorar) culturas. Andrea Cunha FreitasMais do que procurar diferenças, estar atento aos vínculos. Eis de forma sucinta o segredo da música de Pedro Simões, mais conhecido por Pedro Mafama. Em vez de apontar o dedo às dissociações musicais ou socioculturais entre músicas urbanas globalizadas ou idiomas localizados com história, trata-se de reflectir com naturalidade as convergências, criando-se a partir daí uma nova linguagem que vai sendo construída com generosidade. No final de 2017, despertou curiosidade com o lançamento do EP Má fama. Já este ano seguiu-se outro EP de quatro temas, intitulado Tanto sal, e há duas semanas ficou a conhecer-se a canção Arder contigo. Tudo sintomas fortes que o apontam como uma das promessas do próximo ano no campo da música que vai sendo feita em Portugal. É verdade que terá beneficiado do interesse global em torno da espanhola Rosalía ou localmente do acontecimento Conan Osíris, mas aquilo que tem vindo a propor possui solidez e não nasceu do acaso. Antes já havia uma conexão ao hip-hop com o nome Pedro Simmons e uma ligação à editora e estrutura Enchufada que viu nascer os Buraka Som Sistema. E acima de tudo, falando com ele, ou vendo-o em palco, percebe-se com facilidade que faz parte de uma geração que se foi pacificando com o passado da música portuguesa, personificado pelo fado, ao mesmo tempo que incorporou a narrativa de que Portugal, e em particular, Lisboa, é um lugar onde se sente uma presença musical vibrante das novas gerações afrodescendentes. E é assim que, na sua música, e na forma como canta, se pressentem traços de fado, de melodias orientalizadas, mas também de linguagens como o hip-hop, e derivações como o trap, ou de kuduro, kizomba, afro-house, tarraxo e demais nomenclaturas que remetem para músicas físicas e erotizantes, que por vezes apenas ouvidos experimentados conseguem destrinçar. Em simultâneo, na sua postura, tanto entrevemos o intérprete introspectivo, virado para dentro, como o performer arrebatado, que é capaz de fazer acontecer festa em colectivo. No fim de contas, é como se Pedro Mafama tivesse activado, através da sua música, uma bricolagem sociocultural que há pouco mais de dez anos era mais desejo do que realidade, fazendo-a sua, de uma maneira dinâmica, plural, festiva e rica. Vítor BelancianoTalvez por ironia, o sobrenome do juiz que tem o futuro do ex-primeiro-ministro José Sócrates nas mãos coincide com a cor que o Partido Socialista escolheu para o identificar. Ivo Rosa, juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), é o responsável pela instrução da Operação Marquês, que certamente marcará o próximo ano. Esta fase facultativa pretende avaliar se há indícios suficientes para levar os 28 acusados deste mediático processo a julgamento. E se o magistrado concluir que é mais provável os suspeitos serem absolvidos, encerra o caso. Apesar disso, Ivo Rosa nunca terá a palavra final sobre este processo. Se o enviar como está para julgamento, colocará nas mãos de outros colegas a tarefa de considerar ou não provadas as acusações do Ministério Público. Se arquivar o caso ou diminuir as acusações, a decisão será recorrível e a última palavra caberá ao Tribunal da Relação de Lisboa. Mesmo assim, os holofotes estão apontados a Ivo Rosa. O juiz, seleccionado por sorteio electrónico, agradou às defesas, nomeadamente à de Sócrates, que nem escondeu o entusiasmo. E não é de admirar. O madeirense de 52 anos é persona non grata de muitos procuradores, conhecido por não autorizar muitos dos pedidos dos titulares da acção penal, como aconteceu inúmeras vezes na investigação às rendas pagas pelo Estado à EDP. Também não é a primeira vez que o juiz diminuiu de forma significativa os crimes que o Ministério Público imputa aos arguidos ou arquiva simplesmente uma investigação complexa. Exemplo disso é o recente caso de um marroquino acusado de oito crimes ligados ao terrorismo por pertencer e recrutar para o Estado Islâmico em Portugal. As graves acusações foram resumidas por Ivo Rosa a falsificação de documento e contrafacção, o que lhe valeu uma reprimenda do Tribunal de Relação, que anulou a sua decisão. Apesar de ser conhecido pela rapidez, Ivo Rosa, que está em exclusividade com este megaprocesso, só marcou um máximo de quatro sessões por mês. O arranque da instrução está previsto para o final de Janeiro e já há diligências marcadas até Maio. Mas até lá a Operação Marquês ainda promete fazer correr muita tinta. Mariana OliveiraÉ uma medida que promete revolucionar a mobilidade nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto em 2019: um passe vai permitir circular entre concelhos destas áreas (18 em Lisboa, 17 no Porto), sem ser preciso pagar mais. Os créditos desta “medida revolucionária” têm sido atribuídos ao autarca de Lisboa, Fernando Medina, que é também presidente da Área Metropolitana de Lisboa (AML) mas a criação de um passe de transportes único intermodal para a Grande Lisboa é um pedido de longa data da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa. E a AML começou a estudá-la um ano antes de Medina a ter anunciado. A criação deste passe único acabou por ser acordada em Março num encontro que juntou as duas áreas metropolitanas. Quando a medida foi anunciada por Medina, houve protestos de alguns autarcas que acusaram o Governo de, mais uma vez, investir nas grandes cidades esquecendo o resto do país. O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, esclareceu então que a medida seria para aplicar em todo o território. Mas não se sabe ainda como se concretizará. A previsão é que os passes estejam disponíveis em Abril, o que não deve acontecer em todo o país, ao mesmo tempo. Em Lisboa, o passe para circular dentro do concelho custará 30 euros. Para viajar por toda a área metropolitana, custará 40 euros. As famílias pagarão no máximo o valor de dois passes, ou seja, 80 euros. As crianças até aos 12 anos não pagam. O Governo vai reservar 83 milhões de euros para a redução do preço dos passes em todo o país. No entanto, está ainda por saber como será feita a distribuição pelas áreas metropolitanas e pelas comunidades intermunicipais. Para Lisboa, esse valor deverá rondar os 50 milhões de euros. Mas já se sabe que este valor será insuficiente para compensar a redução nas tarifas, pelo que os municípios terão de alocar parte dos seus orçamentos para financiar a criação do passe único. Além do cepticismo dos autarcas, também os operadores privados de transporte olham para a medida com cautela. Na Grande Lisboa, o sistema de bilhética está a ser redefinido. Haverá um novo mapa da rede, tendo em conta os movimentos pendulares entre os concelhos, e integrando também as ligações a meios de transporte, como o comboio, metro ou barco. É expectável um aumento da procura, obrigando a um reforço da oferta. Os utilizadores vão reivindicar um melhor serviço, pontual e com mais frequência. Será o suficiente para tornar mais atractivos os transportes públicos? Cristiana Faria MoreiraÉ inevitável que a pessoa a seguir em 2019, na Economia, seja o responsável político que serve de barómetro às ambições eleitoralistas em Portugal, mas também às crises europeias que espreitam a cada mudança de governo nos Estados-membros da zona euro. O próximo ano promete ser inesquecível na vida de Mário Centeno. O mandato do actual ministro das Finanças chega ao fim no próximo ano. E a pré-campanha eleitoral que marcou a negociação do Orçamento do Estado para 2019 deverá estender-se desde o primeiro dia de Janeiro até ao dia das eleições, marcadas para 6 de Outubro. Todos os sinais que Centeno for emitindo da Praça do Comércio marcarão o ritmo no equilíbrio entre o cumprimento de metas definidas com Bruxelas e a satisfação de necessidades do Estado português ou dos direitos dos contribuintes. Esses sinais também marcarão o ritmo de protestos, greves, reclamações de funcionários públicos, pensionistas, empresas e particulares, que atingiram um pico no final de 2018, mas que se prevê que voltem a acelerar com a aproximação das eleições. Mário Centeno deverá ainda enfrentar tensões internas no Governo do PS, a que pertence como independente e que procura não só renovar o seu ciclo de poder, mas fazê-lo de forma solitária, com uma maioria absoluta. Para isso, serão intensas as movimentações no sentido de anunciar mais medidas eleitoralistas ou simplesmente de justiça social que chocam com os objectivos de equilíbrio de contas públicas traçado desde o primeiro dia por Centeno. Um processo que poderá culminar com a sua recondução na pasta das Finanças, um desejo já assumido internamente pelo primeiro-ministro mas que terá de ser validado não só pelos portugueses, mas sobretudo pelo próprio. Na Europa, onde o ministro português preside ao Eurogrupo, a tarefa não será mais simples. O final de 2019 poderá ser muito diferente do seu arranque, entre um “Brexit” de consequências imprevisíveis em termos económicos para toda a região e as fragmentações que se prevêem na sequência dos processos de política interna na Alemanha, França e Itália, sobretudo. Em paralelo, a reforma do euro continua sem ultrapassar os obstáculos de sempre (sem consensos sobre orçamento único e sistema europeu de garantia de depósitos) e, quando o ano chegar ao fim, Centeno estará já muito perto do fim do seu mandato (meados de 2020, se ficar como ministro das Finanças), enquanto espera pela reforma deste organismo, que criará uma presidência permanente, cargo que poderá ser seu, independentemente das funções que desempenhe em Portugal. Pedro Ferreira EstevesO talento nem sempre é óbvio para todos. E em 2015 ninguém no departamento de formação do FC Porto se esforçou muito para manter um rapaz de 16 anos chamado João Félix Sequeira, habilidoso, mas baixinho e fininho. Jogava pouco e o seu sonho de futebol não era esse. Por isso saiu e rumou a sul, em direcção ao Seixal. “É pegar num pau e dar na cabeça a quem o deixou sair”, disse há uns meses na SIC Notícias Rodolfo Reis, antigo capitão dos “dragões”. O que o FC Porto deixou passar, o Benfica aproveitou e, três anos depois, João Félix é tido como uma das grandes esperanças do futebol português, um talento que fomos vendo a espaços nos últimos meses de 2018 e que iremos ver com maior frequência em 2019. Se há mérito em Rui Vitória nestes anos ao comando do Benfica é o de olhar com muita atenção para o que sai do Seixal. Sejam soluções de emergência que se tornam definitivas, ou promoções planeadas, a verdade é que o Benfica tem colhido os frutos desportivos e financeiros da sua formação e João Félix pode ser mais um desses casos, a juntar-se a nomes como Renato Sanches ou Bernardo Silva. E em boa hora Luís Filipe Vieira lhe renovou contrato até 2022 e lhe meteu uma cláusula de rescisão de 120 milhões de euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por enquanto, João Félix tem tido uma utilização intermitente, sobretudo no lado esquerdo do ataque, com 453 minutos em 13 jogos, cinco deles como titular. Depois de ser um fenómeno de culto para quem acompanhava a formação do Benfica, João Félix apresentou-se verdadeiramente marcando o golo que daria o empate ao Benfica no seu primeiro derby frente ao Sporting, na Luz. Para além de ter marcado no primeiro confronto lisboeta da época, João Félix também marcou no primeiro jogo em que foi titular no campeonato (ao Aves) e tornou-se no mais jovem marcador do Benfica na Taça da Liga (ao Paços de Ferreira). João Félix já não é o miúdo fininho que saiu da formação do FC Porto. Cresceu e ganhou um corpo mais preparado para servir uma técnica superlativa, que se percebe a cada finta, a cada passe e a cada remate. E é alguém que gosta de arriscar, de ser imprevisível, fazer no campo coisas que ninguém espera. Essa também é uma marca dos sobredotados. Marco Vaza
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Partidos PS PCP BE
Estados Unidos já são o maior produtor mundial de petróleo
É a primeira vez desde 1975 que os EUA retomam o título de maior produtor, com a produção diária a aumentar em 1,6 milhões de barris em 2014. (...)

Estados Unidos já são o maior produtor mundial de petróleo
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DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151229184025/https://www.publico.pt/1698598
SUMÁRIO: É a primeira vez desde 1975 que os EUA retomam o título de maior produtor, com a produção diária a aumentar em 1,6 milhões de barris em 2014.
TEXTO: Os Estados Unidos já são os maiores produtores mundiais de petróleo. A conclusão é da BP no seu relatório anual Statistical Review of World Energy, publicado na quarta-feira. A produção norte-americana atingiu os 11, 644 milhões de barris, com um aumento de 1, 6 milhões de barris de petróleo por dia e superou a da Arábia Saudita e da Rússia, devolvendo ao país, pela primeira vez desde 1975, o título de maior produtor mundial. É a primeira que algum país consegue aumentar a produção em mais de um milhão de barris diários por três anos consecutivos, refere a análise da BP. “Se, para a China, 2014 foi o ano do cavalo, para os Estados Unidos foi o ano da águia americana [símbolo nacional do país], já que a produção de petróleo foi de crescimento em crescimento”, afirma o economista chefe da petrolífera, Spencer Dale, numa apresentação disponibilizada no site da BP. Foi graças essencialmente ao aumento da produção norte-americana que a oferta mundial de petróleo cresceu para níveis recorde em 2014: 2, 1 milhões de barris por dia. Uma vez que a produção de gás natural também subiu, os norte-americanos conseguiram igualmente bater os russos na produção combinada de hidrocarbonetos, algo que, segundo apontam os dados revistos do relatório de 2014, poderá ter acontecido já em 2013. “As implicações da revolução do xisto nos Estados Unidos são profundas”, refere Dale, ex-economista chefe do Banco de Inglaterra. Não só se está a assistir a um “render da guarda” dos maiores fornecedores globais de energia, como os Estados Unidos deixaram de ser os maiores importadores mundiais de petróleo, cedendo essa posição à China (apesar da desaceleração da procura registada no mercado chinês). Assim, além das importações norte-americanas de petróleo caírem para menos de metade dos níveis recorde de 2005, houve um ressurgimento da indústria transformadora no país graças aos menores custos energéticos: os Estados Unidos produziram cerca de 90% da energia que consumiram no ano passado. Segundo a BP, o volume de investimentos no sector chegou a 120 mil milhões de dólares em 2014 (aproximadamente 106 mil milhões de euros, mais do dobro em cinco anos). Isto apesar de os preços internacionais do crude terem descido cerca de 40% no ano passado, uma evolução provocada em larga medida pela decisão da organização dos países produtores e exportadores de petróleo, OPEP, de manter os níveis de produção, mesmo num cenário de excesso de oferta. Mas, apesar de considerar que a descida da cotação poderá levar a que alguns produtores encerrem a actividade em campos menos rentáveis, o presidente executivo da BP, Bob Dudley, entende que a maioria dos projectos é viável aos preços actuais e que “a revolução do xisto ainda não perdeu o gás” nos Estados Unidos. O número de plataformas activas nos campos de xisto norte-americanos caiu para metade dos valores máximos de Outubro e deverá estabilizar no final do Verão, disse Bob Dudley, citado pela Bloomberg, numa apresentação em Londres. Ainda assim, apesar de se prever que a produção de petróleo continue a aumentar (além dos Estados Unidos, a BP destaca os crescimentos registados em países como o Canadá e o Brasil), ficam as dúvidas sobre como irá evoluir o consumo de energia em 2015. O relatório da BP refere que 2014 ficou marcado por “um crescimento surpreendentemente fraco da procura”, apesar de a economia mundial ter crescido 3, 3%. O crescimento do consumo cifrou-se em 0, 9%, naquele que (retirando a crise financeira) foi o menor crescimento registado desde o final dos anos de 1990, um factor a que não é alheio a desaceleração chinesa (um aumento de 2, 6%), nem tão pouco o mau desempenho europeu (a procura caiu 3, 9%). Em 2013, a procura global tinha aumentado 2%, com o crescimento médio dos últimos dez anos a situar-se nos 2, 1%.
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É oficial: cientistas modificaram o ADN de embriões humanos
Corriam rumores de que várias equipas estariam a utilizar uma nova técnica para alterar os genes de embriões humanos. Os primeiros resultados acabam de ser oficialmente publicados, confirmando as suspeitas. (...)

É oficial: cientistas modificaram o ADN de embriões humanos
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Corriam rumores de que várias equipas estariam a utilizar uma nova técnica para alterar os genes de embriões humanos. Os primeiros resultados acabam de ser oficialmente publicados, confirmando as suspeitas.
TEXTO: Até há poucos anos, a ideia de alterar a cor dos olhos – ou qualquer outro atributo genético – de um futuro bebé não era praticável. Mas com a invenção, em 2012, de uma técnica simples e rápida (chamada CRISPR/Cas9) que permite “editar” o ADN – alterando e corrigindo genes-alvo previamente escolhidos –, este objectivo ficou de repente muito mais próximo. Há uns meses, começaram a surgir rumores de que várias equipas no mundo estariam a testar esta hipótese com embriões humanos – pondo novamente na ordem do dia o debate em torno da obtenção de bebés “feitos à medida". E no mês passado, duas cartas foram publicadas por dois grupos de cientistas, respectivamente nas revistas Nature e Science, contra as tentativas de utilização da nova técnica para esse tipo de manipulação genética, dita da linha germinal, que afectaria não apenas o próprio embrião, mas a sua descendência. Na Nature, os cientistas iam mais longe, apelando a uma moratória voluntária sobre quaisquer investigações deste tipo até se debaterem as questões éticas. Porém, até há dias, ninguém sabia ao certo se essas investigações estavam efectivamente a ser realizadas. Mas agora, já não há margem para dúvidas: uma equipa de cientistas chineses acaba de publicar, na revista Protein & Cell, um artigo onde é descrita, pela primeira vez, a manipulação genética experimental, graças à referida técnica, de dezenas de embriões humanos. “Penso que esta é a primeira publicação de resultados sobre a aplicação da técnica CRISPR/Cas9 a embriões humanos numa fase de pré-implantação e, como tal, este estudo constitui um marco e ao mesmo tempo um alerta”, diz George Daley, especialista em células estaminais da Universidade de Harvard (EUA), co-signatário da carta na Science, citado numa notícia da Nature. “Este estudo deve servir como um aviso muito sério para qualquer profissional que ache que a tecnologia está pronta a ser testada para erradicar genes causadores de doenças. ”Diga-se já agora que, segundo o seu autor principal – Junjiu Huang, da Universidade Sun Yat-sen em Guangzhou (China) –, o artigo fora rejeitado tanto pela Nature como pela Science, em parte devido a considerações éticas. Quanto à Protein & Cell (que a Science qualifica de "obscura revista online chinesa"), tê-lo-á publicado, segundo a revista New Scientist, apenas um dia após o ter recebido. Ou seja, sem que tenha havido tempo para detectar possíveis falhas de metodologia. Seja como for, estes autores tomaram diversas precauções para não ser acusados de transgredir as regras éticas internacionais em vigor. Nomeadamente, utilizaram embriões que não eram viáveis porque tinham sido fecundados por dois espermatozóides, possuindo portanto um número anormal de cromossomas. Os embriões provinham de uma clínica de fertilidade e iriam ser descartados. Todavia, esses embriões conseguem desenvolver-se até um estádio muito preliminar, mas suficiente para os fins do estudo. Recorrendo à nova técnica – que, quando utilizada para fins terapêuticos em células humanas adultas ou em modelos animais, tem demonstrado grande potencial para a medicina personalizada –, a equipa de Huang decidiu tentar “editar” um gene, chamado HBB, cujas mutações provocam uma doença do sangue, a beta-talassemia, potencialmente mortal. Como relata ainda a Nature, injectaram para isso, utilizando a técnica CRISPR/Cas9, os fragmentos genéticos necessários para localizar e “corrigir” o gene em questão. E a seguir, esperaram 48 horas – o tempo suficiente para a técnica agir e os embriões chegarem a ter oito células. Dos 71 embriões que sobreviveram à operação, a equipa testou os genes de 54 e constatou que apenas 28 tinham sido “editados” no sítio certo. E que desses, apenas quatro embriões tinham integrado o gene HBB no seu ADN. Para estes autores, isso significa que a técnica ainda está muito longe de ser aplicável a embriões humanos. Não só a taxa de sucesso é muito baixa, como os cientistas detectaram um grande número de mutações noutros locais do ADN embrionário, literalmente “fora do alvo” – o que coloca claramente em dúvida a segurança da técnica em embriões para fins de procriação. Huang disse ainda à Nature que ele e a sua equipa quiseram “mostrar os seus resultados ao mundo para que as pessoas soubessem o que se passaria realmente, em vez de continuarem a falar da questão sem informação concreta”. Agora, estes cientistas tencionam melhorar a eficácia da técnica recorrendo, a partir daqui, a células adultas e experiências com animais, algo que em si não levanta considerações éticas imediatas. O que não impede que, na opinião de todos, a publicação dos resultados só venha reforçar a urgência de abordar as implicações éticas futuras.
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Entidades EUA
Montijo: estudo alerta para risco de dependência das low cost
Estudo da Roland Berger demonstra necessidade de tornar infraestrutura secundária competitiva para garantir a permanência de companhias como a Ryanair. (...)

Montijo: estudo alerta para risco de dependência das low cost
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DATA: 2017-02-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo da Roland Berger demonstra necessidade de tornar infraestrutura secundária competitiva para garantir a permanência de companhias como a Ryanair.
TEXTO: O estudo encomendado pela Autoridade Nacional de Aviação Civil à consultora Roland Berger aponta para os perigos que pode trazer a solução escolhida pelo Governo para fazer face aos actuais constrangimentos de capacidade aeroportuária da região de Lisboa: a opção por um aeroporto complementar ao aeroporto Humberto Delgado só funciona se ele for competitivo para atrair as companhias de aviação low cost. Mas, ao mesmo tempo, e tal como já aconteceu noutros casos, há o risco de se ficar demasiado dependente de uma só companhia, a irlandesa Ryanair, que já tem uma quota de 27% do número de passageiros transportados em Lisboa. De acordo com o estudo da Roland Berger, um dos vários entregues na última sexta-feira pelo Governo ao Parlamento, esta dependência não é, sequer, uma originalidade. Foi o que sucedeu em Frankfurt –Hahn e a experiência acabou por correr mal. A quebra da Ryanair naquele aeroporto acabou por provocar um desempenho negativo na infraestrutura portuária. Em 2015 os prejuízos registados superaram os 17 milhões de euros, e aeroporto está em vésperas de ser vendido aos chineses da Hainan Airlines (HNA). Trata-se do mesmo grupo que já está a caminho do capital da TAP, através da associação a David Neelman no consórcio Atlantic Gateway. A Roland Berger analisou no seu estudo vários exemplos de cidades europeias em que coexistem duas ou mais infraestruturas aeroportuárias, onde demonstra como estes segundos aeroportos são normalmente verdadeiros aceleradores de tráfego. Entre os exemplos estudados estão as cidades de Roma (Ciampino), Milão (Bergamo), Paris (Beauvais) ou Bruxelas (Charleroi), apontadas como exemplos de aumento da capacidade de infraestruturas até então congestionadas, mas também porque são construídos de forma a optimizar a eficiência operacional das low cost (que querem estar o menos tempo possível em pista, o chamado tempo de rotação). Nos seis países em que a Roland Berger analisou os casos de aeroportos duais encontrou sempre a EasyJet a posicionar-se como as companhias de bandeira, sempre nos aeroportos principais e, ocasionalmente, tendo até terminais exclusivos, como é o caso do aeroporto de Milão. Já a Ryanair revelou ser a companhia de referência que assume o motor de desenvolvimento dos aeroportos secundários, e é neste ponto do relatório que surge o alerta que sublinha “ser essencial evitar uma dependência excessiva”. Foi a Ryanair quem garantiu aumentos de tráfego em Bergamo, Beauvais e Charleroi - e segundo o mesmo estudo da Roland Berger é expectável que faça o mesmo no aeroporto do Montijo. A Ryanair começou a voar para Lisboa em 2013 e dois anos depois já era a segunda maior companhia, responsável por 41% dos passageiros movimentados no Humberto Delgado. Foi também uma das principais impulsionadoras do tráfego registado em Frankfurt-Hahn, uma base aérea militar que abriu à operação civil em 1993 e chegou a registar movimentos de quatro milhões de passageiros em 2007. Mas, aponta a Roland Berger, “a quebra da Ryanair [neste aeroporto] deu origem a um desempenho negativo do aeroporto”. Em 2016 o número de passageiros foi de 2, 6 milhões de passageiros. Os últimos prejuízos reportados apontam para 17 milhões de euros em 2015. Depois de uma tentativa de venda falhada em 2015, as últimas notícias dão conta do interesse da HNA na aquisição da infraestrutura. Cabe agora à ANA conseguir mobilizar as companhias low cost a mudarem e a manterem a sua operação no Montijo. Contactado pelo PÚBLICO, o director da Easyjet em Portugal, José Lopes, lembrou que solução que está em cima da mesa “é uma solução integrada de aumento de capacidade de Lisboa como um todo - Portela e Montijo - e irá beneficiar todos os operadores, pois permitirá que o tráfego continue a crescer”, mas só a partir de 2021/2022. José Lopes diz que só depois de conhecidas as condições que a ANA vai dar aos operadores é que estes poderão tomar uma decisão, “consoante as opções de crescimento de cada um”. “Nenhum operador será obrigado a mover-se, uma vez que todos têm direito a usufruir do espaço em que operam actualmente”, termina. No seu “Projecto de instalação de uma infra-estrutura aeroportuária complementar ao aeroporto de Lisboa”, também entregue esta sexta-feira ao Parlamento e onde a ANA faz a apologia do Montijo, a empresa defende a edificação de um hotel dentro das novas instalações. “No caso concreto do Montijo”, lê-se no documento, “sobretudo pelas acessibilidades, conjugada com um pico de tráfego que será de antever entre as 6h e as 8h da manhã, julga-se ser de considerar a existência de uma unidade hoteleira dentro do perímetro do aeroporto”. Embora nada seja referido no que respeita ao modelo de negócio, este deverá ser concessionado a uma empresa especializada, ficando a ANA com uma espécie de renda. “Habitualmente, um hotel que se enquadra no segmento de hotelaria económica situa-se em zonas secundárias do aeroporto mas com facilidade de acesso às principais vias de comunicação”. No caso do hotel previsto para o Montijo, esclarece-se que “o estudo opta por o localizar o mais próximo possível do terminal de passageiros”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De resto, e apesar de faltar ainda etapas como o estudo sobre migração das aves e o de impacto ambiental, tudo está já pensado. Os parques de estacionamento, por exemplo, terão espaço para cerca de 2500 veículos - sem contar com táxis e autocarros (funcionando este últimos também como acesso ao cais fluvial) - na fase de arranque e até 2025. Um veículo particular, por exemplo, estará quatro minutos na zona de chegada, tempo que encurta em um minuto no caso dos táxis. Uma optimização do tempo, e do espaço, que está patente em toda a estratégia da empresa: pretende-se “minimizar as distâncias dos percursos dos passageiros”, que, numa óptica de “rápida rotativade”, farão “embarques e desembarques a pé”; e vai-se “optimizar a área de retalho, a sua penetração e visibilidade”. Neste último caso, enquanto modelo de suporte ao negócio da ANA, por via das concessões, fica desde logo esclarecido que “os trajectos de circulação dos passageiros serão concebidos de maneira a maximizar a exposição dos passageiros aos espaços comerciais”. Segundo a ANA, antevê-se que haja a capacidade para movimentar cerca de 2300 passageiros “na hora de ponta de abertura” e 3800 passageiros na fase de expansão. Entre 2025 e 2050, segundo a empresa, haverá “ampliações faseadas de acordo com a procura”. Para já, uma coisa é certa: com os aviões civis a aterrar no Montijo haverá como atesta o documento da ANA, “acréscimo de ruído na (área) envolvente devido à grandeza dos níveis sonoros resultantes da operação das aeronaves. Os aglomerados mais afectados serão Barreiro, Montijo, Samouco e Alcochete”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo espécie aves
A de Antonia, D de dodó, T de tigre-da-tasmânia, U de urso...
Coreógrafa alemã regressa a Portugal para mostrar o seu Abecedarium Bestiarium no Auditório de Serralves. (...)

A de Antonia, D de dodó, T de tigre-da-tasmânia, U de urso...
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Coreógrafa alemã regressa a Portugal para mostrar o seu Abecedarium Bestiarium no Auditório de Serralves.
TEXTO: Pode não ser evidente para os espectadores portugueses que Antonia Baehr tenha uma vida dupla como mulher (coreógrafa, performer, curadora, produtora…) e como animal selvagem. Mas o nome de família da coreógrafa que esta tarde, pelas 18h, traz o seu Abecedarium Bestiarium (2013) a Serralves significa “urso” em alemão – e, para ajudar à festa, o símbolo da cidade onde nasceu, Berlim (que foneticamente vai lá dar), também é o urso. “O cartão que os meus pais mandaram imprimir a participar o meu nascimento tinha ursinhos desenhados. Não brinquei com bonecas, brinquei com ursos de peluche. E como se não bastasse, as pessoas dizem que eu me pareço bastante com um urso, forte e grande – e a minha família idem”, conta ao PÚBLICO sentada num das poltronas do bar do auditório, lugar onde dificilmente avistaríamos o animal que parece feliz por carregar às costas desde que nasceu. Não necessariamente por causa de todas essas coincidências, em 2012 criou uma peça, My Dog Is My Piano, em que analisava a longa coabitação (e a longa contaminação) entre a sua mãe e o cão dela, Tocki; a peça com que hoje regressa a Portugal (passou pelo Festival Materiais Diversos em 2010 com um espectáculo, Rir, em que passava 50 minutos a rir-se) é uma reflexão paralela sobre a forma como o ser humano se relaciona com os animais, e em particular com os animais que têm uma história de extinção para contar. “My Dog Is My Piano era sobre as afinidades entre dois seres vivos; um dueto que tem lugar 24 horas sobre 24 horas há mais de 14 anos. Abecedarium Bestiarium é sobre as afinidades intemporais entre nós e um conjunto de animais desaparecidos que funcionam sobretudo como metáforas, superfícies de projecção do nosso imaginário individual e colectivo, até porque pouco sabemos sobre eles. Nalguns dos casos não há sequer fotografias; as únicas representações que existem são desenhos”, explica. Nisso, a origem desta peça mistura-se de facto com a infância de Antonia Baehr – uma infância muito particular, passada no campo, em França, rodeada de animais por todos os lados e a curta distância de algumas das mais extraordinárias grutas rupestres da Europa, onde pelo menos uma das histórias de extinção que aqui se contam, a do cavalo selvagem (Equus sylvestris) foi resgatada. “Parte tudo daquele jogo muito comum que fazemos quando somos crianças: ‘Se fosses um animal, que animal serias?’”, continua. Para uma das amigas que convidou a co-criar este álbum colectivo que é Abecedarium Bestiarium, a resposta foi óbvia: Dodo escolheu o dodó (Raphus cucullatus) porque Antonia queria saber como é viver debaixo do nome (e da asa) do animal extinto mais famoso do mundo. Ao contrário do nome da coreógrafa, e do rato que também é um nome de família comum, o nome de Dodo conta uma história de inadaptação: “O rato adapta-se a tudo, funciona sempre; a sua adaptabilidade está até relacionada com o desaparecimento de alguns animais, que os ratos transportados nos barcos dos colonizadores contaminaram com as doenças europeias. Há uma eficácia na sobrevivência do rato que os animais extintos não têm – a marginalidade matou-os, sobrevivem apenas enquanto fantasmas. ”Exaustivo, o abecedário que a coreógrafa construiu a partir das partituras curtas encomendadas aos amigos de acordo com uma instrução simples – deviam inspirar-se no animal extinto que melhor representasse a sua ligação pessoal com Antonia – documenta, usando meios muito diversos, o desaparecimento do golfinho-chinês do rio Yang-Tsé (Lipotes vexilifer), do tigre-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus), da pomba-fruta de bigode vermelho da ilha de Hivaoa, da vaca-marinha de Steller (Hydromalis gigas) descoberta em 1741 no Estreito de Bering… Em Serralves, apresenta-se na sua versão incompleta de recital – oito letras para outros tantos animais que são outras tantas metáforas das amizades que a coreógrafa alemã construiu na vida e no trabalho, algumas remontando à infância no Sul de França, outros aos seus tempos de squatter em Berlim – e na sua versão completa de livro paralelo. Quis rodear-se destas pessoas porque não lhe apetecia estar sozinha neste solo: “Ainda assim, há sempre uma sensação de vazio… Os amigos não estão, os animais também não. Mas o teatro é talvez o melhor lugar para fazermos aparecer os ausentes, os invisíveis. ”Entretanto, Antonia não teve de descobrir que animal seria se fosse um animal. O urso está lá desde sempre: não o urso verdadeiro, directo e perigoso, mas o urso do imaginário colectivo, lento e caloroso. Depois de Abecedarium Bestiarium, ela já só tem uma dúvida: “Será que te transformas em urso porque te chamas urso ou chamas-te urso porque o teu antepassado se parecia com um urso?”.
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Empresas vão tentar mostrar ao mundo que a fruta portuguesa é única
Portugal leva maior delegação de sempre à maior feira de frutas e legumes do mundo. Colômbia e México são os próximos a autorizar a entrada de pêra rocha. (...)

Empresas vão tentar mostrar ao mundo que a fruta portuguesa é única
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal leva maior delegação de sempre à maior feira de frutas e legumes do mundo. Colômbia e México são os próximos a autorizar a entrada de pêra rocha.
TEXTO: É o país convidado da Fruit Logistica, a maior feira de frutas e legumes do mundo, e isso deverá ser suficiente para atrair as atenções de alguns dos 65 mil visitantes que são esperados, até sexta-feira, em Berlim, num espaço tão grande como sete campos de futebol. O stand da Portugal Fresh, que representa as empresas do sector, tem 44 empresas, a maior delegação desde que, em 2011, a associação se estreou no certame. Nos cartazes dentro e fora da capital alemã, a fruta portuguesa tem o slogan “atlantic breeze taste”. E é essa a mensagem que se quer passar aos clientes estrangeiros. “Em 2010 exportávamos 780 milhões de euros. Em Novembro de 2014 chegámos aos mil milhões. Trata-se de um crescimento de 41%. São números brilhantes para o sector”, diz Manuel Évora, presidente da Portugal Fresh. As empresas estão preparadas para mostrar a fruta e os legumes que produzem, “não em termos de grandes volumes, mas de qualidade”. “O que queremos vender são produtos diferenciados”, continua. Os adjectivos são muitos: cor, crocante, aroma e sabor, proporcionados “pela posição [geográfica] única de Portugal”. O sector parece estar preparado para exportar cada vez mais, contudo, falta ainda desbloquear inúmeras barreiras sanitárias em países fora do espaço europeu. A pêra rocha, por exemplo, não entra na Índia, na Indonésia ou no Irão. “Neste momento, temos mais dificuldade em ultrapassar as barreiras sanitárias do que em encontrar clientes”, admite Domingos dos Santos, da Frutoeste, uma das seis empresas que compõem a Unifarmers, criada especificamente para procurar mercados fora da Europa, numa reacção à crise do mercado interno e ao embargo russo. O Governo garante estar a trabalhar no assunto e, de visita à feira de Berlim, Assunção Cristas, ministra da Agricultura, anunciou que nas próximas semanas a Colômbia e o México deverão autorizar a entrada de pêra rocha. “Para a Colômbia em concreto há 14 dossiês em curso e o da pêra rocha é o mais avançado. A abertura dos mercados internacionais fora do mercado europeu é um trabalho que não termina. Tem processos muito exigentes do ponto de vista fitossanitário”, afirmou. A ministra dá outros exemplos de negociações em curso, como o Brasil, com quem Portugal tenta há muito desbloquear a venda de uva de mesa. Para a China já foi possível abrir as exportações de leite, mas as da carne de porco, um ano após o início do processo, ainda não foram autorizadas. Ainda assim, Assunção Cristas salienta que nos últimos anos o Governo teve “dossiês abertos de cerca de 150 produtos ou grupos de produtos para 70 mercados diferentes”. “É um mercado muito intenso e não tem fim”, disse. Ameaça chinesa?Esta semana na Alemanha, os portugueses vão tentar vender maçãs de Alcobaça, pêra rocha, morangos, melões e abóboras, polpas de fruta ou uvas. Cada empresa traz o que a distingue no mercado e ninguém parece incomodado com a forte presença de concorrentes chineses, instalados em grande força mesmo ao lado do espaço português. “É o maior produtor de uva do mundo, mas não chega por enquanto à Europa. Nenhum país nos assusta. Portugal tem condições para fazer produtos distintivos de outros países”, diz Mário Rodrigues, da Frutalmente, uma organização de produtores sedeada em Vila Franca de Xira que factura 3, 5 milhões de euros (2014). João Pereira da Silva, da Cooperfrutas (Cooperativa de Produtores de Frutas e Produtos Hortícolas com 102 produtores) também desvaloriza. “Vendem mais para a Ásia”, diz. No stand da Goodfarmer, da província chinesa de Shandong, há 32 pessoas prontas a vender fruta. O responsável pela comercialização da fruta, que no seu cartão de visita se apresenta como Andy, admite que por ano vende mil toneladas de pêra para a Europa. “É pouco. Vendemos muito para a Índia, Malásia, Bangladesh, Singapura ou Indonésia”. Andy destaca a maçã qinguan, a mais barata que tem no seu portefólio, a 0, 80 euros o quilo. E admite que não espera fazer grande negócio na Fruit Logistica. Os produtores de fruta e legumes querem chegar a 2020 com dois mil milhões de euros de exportação. As vendas internacionais cresceram 11, 2% entre Janeiro e Novembro de 2014, em comparação com o mesmo período do ano anterior e excluindo flores. No total, as empresas venderam ao estrangeiro 996 milhões de euros.
REFERÊNCIAS:
Comprar é um voto. Sabemos usá-lo?
“Temos de questionar muito os nossos alimentos”, diz um jovem pai de família. “Precisamos recuperar o domínio da alimentação”, defende o director-geral da FAO. E como é que isso se faz? Sazonal, local, bio, barato, sem plástico, sem glúten, sustentável — o que é que procuramos, afinal? Hoje, Dia Mundial da Terra, iniciamos uma série de cinco reportagens à procura de respostas sobre a alimentação nas cidades. (...)

Comprar é um voto. Sabemos usá-lo?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Temos de questionar muito os nossos alimentos”, diz um jovem pai de família. “Precisamos recuperar o domínio da alimentação”, defende o director-geral da FAO. E como é que isso se faz? Sazonal, local, bio, barato, sem plástico, sem glúten, sustentável — o que é que procuramos, afinal? Hoje, Dia Mundial da Terra, iniciamos uma série de cinco reportagens à procura de respostas sobre a alimentação nas cidades.
TEXTO: Em 2050, seremos 9, 5 mil milhões, a maior parte a viver em cidades (66%, segundo previsões das Nações Unidas, contra 54% actualmente e 30% em 1950) e, em muitos casos, em megacidades, com 10 ou 20 milhões de pessoas. Como vamos alimentar uma população mundial em crescimento? Os cálculos da ONU indicam que será preciso aumentar a produção em 60%. Mas como iremos produzir alimentos suficientes se a área agrícola tende a diminuir, engolida pelo avanço urbano, e se muitos dos solos produtivos correm o risco de ficar esgotados por uma agricultura intensiva?A China é um dos países mais atentos ao problema. Para alimentar uma população de 1, 4 mil milhões, com uma dieta que tem vindo a aproximar-se da ocidental, com um aumento do consumo de proteínas animais (as vendas de carne de vaca aumentaram 19. 000% numa década, indica um artigo da Bloomberg), o Governo chinês está a comprar terras agrícolas noutras zonas do mundo, nomeadamente em África. Até porque, ainda de acordo com a FAO, entre 1997 e 2008, a China perdeu 6, 2% da sua terra cultivável para a construção (uma evolução que tentou, entretanto, travar) e cerca de 20% da que lhe resta está altamente contaminada pelo uso excessivo de químicos. Grande parte da produção de cereais e grãos no planeta destina-se à alimentação animal, sendo a pecuária uma das principais causas de emissão de gases com efeito de estufa. Além disso, a produção de 1kg de carne de vaca consome de 1500 litros de água — e dos 263 milhões de toneladas de carne produzidas por ano no mundo, cerca de 20% é desperdiçada. A estes números soma-se outro alerta, deixado pelo World Wildlife Fund (WWF): 70% da água doce do planeta é usada para a irrigação de campos agrícolas e a agricultura é a maior causa de desflorestação. Ou seja, o sistema alimentar que temos hoje é “responsável por 60% da perda global de biodiversidade”. O mesmo alerta chegou recentemente a Portugal pela voz do director-geral da FAO (Food and Agriculture Organization, das Nações Unidas), o brasileiro José Graziano da Silva, que veio dizer que um dos grandes problemas do sistema alimentar que criámos nas últimas décadas é “a concentração da produção em quatro ou cinco produtos: arroz, milho, soja, batata são 80% do que comemos no mundo”. Não pode ser assim, diz. “Temos 36 mil plantas e animais que fornecem alimentação. Não podemos estar concentrados em cinco. ” E conclui: “Hoje quem alimenta o mundo não são os agricultores, são as cadeias da agro-indústria. Temos de mudar isso. ”E conseguiremos fazê-lo? Todos somos consumidores. Teoricamente, isso dá-nos algum poder. Mas sabemos usá-lo?Quisemos perceber como é que nos alimentamos hoje numa cidade. Essa comida que todos os dias entra, por diversas vias, e se espalha, por mercados, mercearias, super e híper mercados, restaurantes e que, por fim, chega a cada uma das nossas casas, sabemos de onde vem, quem a produz? Que relação temos com o que comemos?“Nós, consumidores, temos cada vez menos controlo sobre o sistema alimentar e os produtos que estão na nossa mesa. É isso que queremos?”, pergunta Cecília Delgado, urbanista e investigadora da Universidade Nova de Lisboa. Conversamos com Cecília em frente a uma mesa cheia de frutas e legumes que comprámos num supermercado local — decidimos começar por aí, uma cesta de compras básica semelhante à que cada um de nós leva para casa. Temos sobre a mesa um pouco de tudo, vindo de muitos sítios diferentes do mundo: cebolas da Holanda e do Peru, abóbora portuguesa, aipo espanhol, batata francesa, beringela espanhola, cenoura portuguesa (havia a opção de comprar a espanhola, ligeiramente mais barata), morangos espanhóis, melão do Brasil, maçã de três variedades, uma portuguesa, uma italiana, outra francesa, abacate espanhol, uvas da África do Sul e do Chile, tomates de Marrocos e de Espanha, limões também espanhóis, feijão-verde vindo de Marrocos, courgette de Espanha. Tivemos alguma preocupação em olhar para os rótulos do que comprámos, em perceber se era nacional ou não, em identificar o que era biológico. O processo dá algum trabalho, claro, tudo demora mais tempo quando temos de ler com atenção rótulos em letras pequenas (embora a origem dos produtos esteja mais visível nas caixas onde eles se encontram). Mas, muitas vezes, não tínhamos alternativas — não estava disponível nenhuma batata ou cebola de produção portuguesa, por exemplo. Há muitos consumidores a ter este tipo de preocupações e a fazer escolhas mais conscientes? Tudo indica que são cada vez em maior número, mas o que é que isso implica, exactamente? Como é que podemos saber mais?Foram muitas as perguntas com que partimos para esta série de cinco reportagens, inspirada pelo trabalho que está a ser feito pelo Colégio F3 (Food, Farming, Forestry) da Universidade de Lisboa para perceber como se alimenta uma cidade — e que tem sido apresentado num ciclo de seminários mensais sobre Planeamento Alimentar Urbano, no Centro de Informação Urbana de Lisboa. Uma das questões que têm surgido é se o sistema alimentar que temos hoje poderia ser mais racional. Fomos à procura dessa resposta também. “Estamos a viver num cenário de produção em quantidade, que não é feita no sentido de aumentar a resiliência do sistema, mas no sentido de aumentar a sua eficácia”, prossegue Cecília Delgado. “Estamos a comer coisas do mundo global, alimentos com grande pegada ambiental. Supostamente pagamos um contributo para reduzir a pegada quando compramos um bilhete de avião, mas depois, no dia-a-dia, não temos consciência do que estamos a fazer. E se o fizermos correctamente, será que nos conseguiremos alimentar? Tenho algumas dúvidas. ”Contornar o plásticoRicardo e Catarina Medeiros Rodrigues têm dois filhos, a Leonor, de quatro anos, e o Artur, que acabou de nascer, e são um casal de Lisboa que tenta precisamente fazer o que acredita que é o mais correcto. Tem sido um caminho, que começou por razões de saúde e que têm vindo a construir, mas, garante Ricardo, não é tão complicado como pode parecer. “Quando a Catarina ficou grávida da Leonor, logo no primeiro mês foram-lhe diagnosticados diabetes gestacional”, conta Ricardo. “Tínhamos dois caminhos: ou tomávamos insulina ou melhorávamos a dieta. Decidimos seguir o plano alimentar da dietista, que era rigoroso e correu muito bem. ”Catarina fica em casa a tomar conta do bebé e nós vamos com Ricardo e Leonor até à mercearia do bairro, um dos lugares onde se abastecem, a par dos supermercados que vendem a granel e do cabaz da Fruta Feia que recebem. “Normalmente não faço compras a correr, venho aqui com tempo, sobretudo para comprar fruta e legumes, que são a base da nossa alimentação”, diz Ricardo, enquanto vai mostrando a Leonor que há uma lata de milho que veio da Alemanha e por isso “andou mais de carro”. “Vamos levar esta que é de Portugal?”Neste momento, uma das preocupações essenciais de Ricardo e Catarina é a de evitar tanto quando possível comprar coisas que venham em plástico. “Quando descobri o projecto da Bea Johnson e do movimento Zero Waste, foi muito motivador”, conta Catarina. “Comecei devagarinho, em algumas coisas minhas, pequenas mudanças, substituí o champô, as escovas de dentes. O Ricardo também quis experimentar e lancei o desafio de tentarmos reduzir o plástico noutras coisas da nossa vida. ”(Segundo dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física, de 2017 — citados no documento Alimentar o Futuro, da Associação Portuguesa de Nutrição-, 71, 2% do material de embalagem usado pelos portugueses é de plástico e apenas 9, 4% é de vidro. )Nem sempre as opções são evidentes. “No nosso grupo de amigos, costumamos dizer que cada um de nós escolheu uma luta. Alguns são vegetarianos, ou vegan, há outros que não comem produtos processados, nós somos da luta contra o plástico. Há produtos que podem ser bons, que são bio e que podiam ser uma alternativa, mas para nós deixam de o ser porque têm uma embalagem. ”É uma atitude que exige planeamento, admite Ricardo. “Não se pode deixar os produtos irem até ao fim, é preciso planear para ter as coisas em casa. ” Na mercearia, tenta informar-se olhando para as fichas dos produtos. “Vale o que vale, porque se pode pôr isto noutra caixa, mas normalmente percebo de onde vêm. Comecei a notar que nestas pequenas mercearias, muitas vezes de chineses ou paquistaneses, há mais produtos portugueses do que nos grandes supermercados. ”O sazonal é bomOutra preocupação da família Medeiros Rodrigues é a da sazonalidade. “Damos sempre prioridade ao que é da estação. ” E como é que sabem isso? “Não sabemos de cor”, responde Ricardo, com um sorriso. “Não tivemos essa relação com a terra para sabermos, mas a informação está disponível e temos uma tabela na porta do frigorífico. ”“Nos produtos da época é tido em conta o tempo de produção de cada alimento”, sublinha, por seu lado, Cecília Delgado. “Se comermos produtos da época, estamos a reduzir a pegada ecológica e a garantir que comemos alimentos nutricionalmente mais interessantes. ” A investigadora acredita que o debate sobre a alimentação nas cidades está cada vez mais na ordem do dia. Mas, lembra, “há um papel pedagógico do Estado que deve ser feito e as crianças são, no núcleo familiar, o detonador dessa mudança”. Na casa dos Medeiros Rodrigues, Leonor vai com o pai à mercearia e ouve-o fazer perguntas sobre o que está a comprar. Mas será assim com todas as crianças? Cecília Delgado sublinha: “Se eu não souber que não é altura de tomate, vou querer comer tomate. Temos de introduzir a temática do que é sazonal, isso pode ser trabalhado nas cantinas escolares. Mas estarão as nossas crianças preparadas para comer feijão-verde só na época do feijão-verde?”Parecem, de facto, estar a consolidar-se algumas tendências no comportamento dos consumidores portugueses. Dados de 2018 da Kantar Worldpanel mostram que há uma preocupação crescente com a saúde — aumenta, por exemplo, o número (84%, mais 4, 5%) dos que dizem que “os alimentos sem conservantes ou aditivos são mais seguros para as crianças” e também do que dizem comer menos gorduras (77, 5%), menos sal (69, 3%) e fazerem dieta regularmente (21, 8%). Mas, se há um crescimento nos produtos biológicos e nos que são apresentados como saudáveis (sem glúten, sem lactose, granolas, etc. ), há uma quebra na venda de legumes e frutas (que pode estar associada a um aumento do consumo fora de casa). Os dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física indicam também que os portugueses comem menos fruta e legumes do que o recomendado pela Roda dos Alimentos: 11% de hortícolas quando deveriam consumir 23% e 14% de fruta quando deveria ser 20%. Também os cereais e tubérculos e as leguminosas estão abaixo (16% versus 28%, para os primeiros, e 1% versus 4% para as segundas). Quanto à carne, ovos e pescado, estão claramente acima, representando 15% da dieta dos portugueses quando não deveriam ultrapassar os 5%. A Câmara Municipal de Lisboa tem um programa chamado Vamos ao Mercado, através do qual alunos do ensino básico das escolas da capital visitam o Mercado de Alvalade acompanhados por duas nutricionistas, que os levam a conhecer as bancas do peixe, dos legumes, das frutas e, no final, brincam de vendedores e compradores. Marline, uma das nutricionistas, aponta para uma banca com frutas exóticas, chamando a atenção das crianças. “As mangas e as papaias vieram de avião ou de barco. Foi assim que chegaram cá. Agora vamos ver frutos portugueses, está bem? No nosso país temos as estações todas certinhas, não é? Consoante a época em que estamos, vamos ter frutos diferentes. Ainda não estamos na estação dos morangos, por isso é que os senhores ainda não têm muitos. Se vierem cá na Primavera, o mercado vai estar cheio de morangos e cerejas. ”Algumas crianças já chegam aqui com um conhecimento razoável, mas outras não. “Muitos dizem que já comeram peixe e carne, mas quando lhes mostro uma pescada não fazem ideia de que dali vêm os filetes ou as postas”, diz Goretti Lopes, outra das nutricionistas que organizam as visitas. “Quando mostram conhecimento, é bom sinal, significa que têm contacto com os alimentos na cozinha. Não é muito frequente verem o processo de cozinhar, provavelmente porque estão muito ocupados com outras tarefas. ” Mas, acrescenta, “não podemos mudar se não tivermos conhecimento, se eu sei que devo ter determinado comportamento, vou fazer uma escolha”. Antes de deixarmos o mercado, passamos pela banca de legumes e frutas de Maria de Fátima Soares. Os clientes perguntam-lhe de onde são os produtos? “Sim, sim, é quase tudo nacional na minha mercadoria. Até porque tenho clientes que se eu não tiver as coisas nacionais não levam. Se disser que é espanhol, preferem não levar. Não é que seja mau, também há coisinhas boas, mas pronto, enquanto houver o nosso, os meus clientes preferem o nacional. ”Também os chefs de cozinha se mostram cada vez mais atentos a estas questões e tentam sensibilizar os seus clientes para temas como a sazonalidade ou a importância de comer produtos de proximidade. Mas, tal como acontece com o Ricardo e a Catarina, também num restaurante isso exige um esforço suplementar. Tudo, todos os dias, sempreAntónio Galapito, chef do Prado, em Lisboa, explica como faz. “Tudo o que usamos é da estação, a não ser umas cebolas de vez em quando. ” E é complicado gerir isso? “Não é tão fácil, mas é mais divertido, pelo menos. Estás fechado naquele círculo do que queres usar. Queres fazer coisas com tomates, mas não podes, o que é que os teus clientes diriam? E para quê usá-los, se não estão bons? É melhor usar brócolos, couves. ”Muitas vezes não sabe como vai usar o que recebe. Mas é precisamente isso que lhe estimula a criatividade. Nas carnes, por exemplo, tenta comprar animais inteiros. “É mais divertido para a malta aprender coisas. Descobres imensas coisas ao trabalhar assim, e é mais rentável. Por exemplo, hoje vamos ter picanha mas é a única picanha num carregamento de 100 quilos de carne e vamos usá-la esta noite e esta noite apenas. ” Amanhã, haverá outros pratos, feitos com outras peças, menos nobres (mas não menos boas), do mesmo animal. Mesmo assim tem dificuldades quando quer trabalhar com certas raças autóctones ou com produtos diferentes. Um exemplo: “Batatas. Somos provavelmente a nação que pior trata as batatas. Vais ao supermercado e é batata para cozer, assar ou fritar. Nenhuma batata tem nome ali, apesar de as variedades terem um nome. Não faz sentido. ”Porque é que não se limita a encomendar os produtos de que precisa a um grande fornecedor? “Um, pela qualidade, que é imbatível. E depois estás a ajudar as pessoas, a mostrar o trabalho delas através do teu. ”Sazonal, local, biológico. Cada pessoa pode ter uma prioridade diferente. António Galapito coloca o sazonal à frente do local, Ricardo e Catarina preocupam-se com o plástico. “O que muitos estudos indicam é que esta ligação entre as questões do ambiente e as da saúde é a que funciona melhor”, diz Susana Fonseca, da Associação ambientalista Zero. “Quando, em restaurantes da Finlândia, se fez um cálculo sobre a pegada de carbono por refeição, as pessoas escolhiam a que tinha menos carbono por acharem que era também a mais saudável. ”Uma das propostas feitas pela Associação Zero para que os consumidores possam comprar de forma mais informada foi, por exemplo, a de que estivesse disponível informação mais fidedigna sobre a forma como os animais são criados, para saber se foi num regime intensivo ou não intensivo. E o que dizem sobre isto os produtores, os que estão no início desta cadeia que termina no consumidor e nas escolhas que este é, ou não, capaz de fazer? “Há maneiras de se funcionar melhor dentro do que está instituído”, defende Joana Macedo, da Quinta do Poial, um projecto de agricultura biológica em Azeitão, iniciado pela sua mãe, Maria José Macedo. “Acredito que tem de haver mudanças e que o consumidor tem um poder. Acho que falamos do poder de compra de maneira errada. O poder de compra não é o poder que temos para comprar. O comprar é uma escolha. É dar o dinheiro a esta pessoa ou àquela. O problema é que agora queremos tudo, todos os dias e sempre. ”Uma das pessoas mais envolvidas no debate sobre estas questões é Alfredo Cunhal Sendim, da Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo. Fomos encontrá-lo na herdade, num dia em que recebia aqueles a que chama co-produtores — trata-se, na realidade, de clientes, compradores, que, neste caso, têm uma relação diferente com o produtor, no âmbito do programa CSA Partilhar as Colheitas. Andamos pela herdade, a conhecer o novo galinheiro (Alfredo pede às crianças mais pequenas que ajudem a tirar alguns ovos, o que as deixa encantadas), a apanhar bolotas (“somos dos únicos povos do mundo que temos bolotas doces e somos dos únicos que não comemos as bolotas”, lamenta o produtor, que tem feito um grande trabalho em torno da recuperação da bolota para a alimentação). O grupo é composto por algumas pessoas que já conhecem o Freixo do Meio e outras que vêm pela primeira vez. São compradores dos cabazes de produtos biológicos da herdade, mas Alfredo acredita que é preciso ir mais longe. “Com os co-produtores, isto funciona através de um compromisso de parte a parte”, explica. “Os produtores comprometem-se a fazer as coisas de determinada forma e os co-produtores a usar os produtos durante seis meses. Há aqui uma aliança. E o consumidor deixa de estar apenas focado em fazer a melhor escolha na compra, passa a estar também preocupado com a seca no Alentejo. ”Há um almoço, com hambúrgueres feitos de bolota, uma tarde de convívio e troca de ideias. “Aqui as pessoas podem vir perguntar quanto é que eu ganho, porque é que os alimentos são tão caros, porque é que se faz de uma maneira e não se distribui de outra, quem é que cá trabalha”, continua Alfredo. “A palavra mais importante é ‘responsabilização’. ”Reconhece que, apesar de termos cada vez mais consciência dos impactos sociais e ambientais da agricultura, “um consumidor em Lisboa tem muita dificuldade em poder actuar consentaneamente com a sua consciência. Pensa: ‘Eu sei disto tudo, mas o que é que posso fazer?’ O que o Freixo do Meio propõe é um caminho”. “O Agostinho da Silva dizia: nós só comemos como sabemos e como podemos. É fundamental não apenas sabermos, mas criarmos plataformas que permitam às pessoas actuar consentaneamente com o que sabem. ” Alfredo acredita que o consumidor precisa disso, dessas plataformas de participação. “E o agricultor também precisa dessa aliança, de outra forma não sobrevivemos. ”“Comprar é um voto”A ideia aqui é oferecer uma alternativa a um sistema alimentar industrial, de grande escala e sem rosto, permitindo que se conheça a pessoa que cultiva os legumes com que vamos fazer a sopa. Jaime Ferreira, da associação de agricultura biológica Agrobio, explica porque é que considera isso importante: “Um consumidor mais informado vai consumir alimentos mais seguros para ele, mais saudáveis e que respeitem o ambiente. Nós temos um poder enorme, o de decidir aquilo que de facto consumimos. O agricultor também não sabe quem é o destinatário, aqui na cadeia perdeu-se alguma coisa, é a tal agricultura sem rosto. O consumidor consciente destes problemas deve perceber a origem dos produtos. Não é só dizer que vem da Alemanha, é ter um código e nós vamos à Internet e, se quisermos, vamos até à quinta de onde veio o produto. ”A consciência da importância dos pequenos agricultores e da agricultura familiar chegou já à FAO. Diz José Graziano da Silva: “Precisamos de recuperar o domínio da alimentação. Saber o que comemos é um problema de educação alimentar, mas também um esforço por comer de forma saudável, comida saudável — mais frutas, mais verduras, mais produtos frescos. ”Ricardo e Catarina Medeiros Rodrigues estão empenhados nesse esforço: “Se uma empresa me informa que está a mudar as suas práticas, eu também posso mudar os meus hábitos de consumo e voltar a deixar lá o meu dinheiro. É muito questionável comprarmos uma lasanha que custa um euro e meio. Para custar isso, quanto é que a empresa pagou aos trabalhadores? Não sei se tenho coragem de dar uma lasanha que custou um euro e meio aos meus filhos. Temos de questionar muito os nossos alimentos. ”E concluem: “Comprar é um voto. Quando compramos um produto a uma empresa, estamos a concordar com as políticas dela, ambientais, sociais, estamos a dizer que queremos mais disto, que queremos que essa empresa continue a fazer o que está a fazer. ” Do outro lado da cadeia, em Montemor, Alfredo Sendim acredita no mesmo. Será este um caminho?A percepção de que há mais produtos importados do que nacionais nas prateleiras dos super e híper mercados não coincide com o retrato que faz a grande distribuição. Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores do Continente, afirma que, “dependendo da categoria, podemos ter até 100% de produtos nacionais nas lojas”, sublinhando que “cerca de 80% dos fornecedores são portugueses” (em 2017, as compras a membros do Clube dos Produtores foram de 140 milhões de toneladas, segundo números fornecidos pela marca). Ondina Afonso explica que “a preferência recai sempre nos produtos nacionais e até locais” e que “a dimensão do produtor não é problema” porque “as pequenas quantidades são sinónimo de edições limitadas”. O Grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce) diz que em 2017 “manteve-se a aquisição de, no mínimo, 80% de produtos a fornecedores locais, que, na sua maioria, são produtores”. E adianta ainda que “cerca de 96% da fruta e vegetais foram comprados a fornecedores locais”, valor que “subiu para 99% no caso dos legumes frescos”. Pode acontecer que o país não produza certos produtos em quantidade suficiente ou que os clientes os procurem fora de época, o que exige que sejam importados. “O consumidor hoje quer ter o máximo de variedade disponível em qualquer altura do ano”, explica o grupo através do seu gabinete de comunicação. Já o Intermarché chama a atenção para o seu Programa Origens, com o qual “promove o desenvolvimento do património agrícola e gastronómico português” e que passa por “parcerias directas com vários produtores locais”, sendo depois os produtos identificados com o respectivo selo. Além disso, criou um prémio para a produção nacional e tem tomado algumas medidas relativamente a produtos específicos. “Ciente das dificuldades por que passa a fileira do leite no nosso país […] todo o leite de marca própria vendido nas embalagens tetra é 100% português […] e o Intermarché mudou a receita de todos os iogurtes líquidos Páturages para que estes incorporem única e exclusivamente leite nacional. ”Por seu lado, a associação ambientalista Zero fez, através dos seus associados, um inquérito que resultou numa amostra — “não representativa” dado o seu pequeno universo, sublinha Susana Fonseca, da Zero — que aponta para que no caso das frutas a produção nacional represente nos super e híper mercados cerca de 50% e no caso dos legumes 65%. “Precisávamos destes dados para argumentar que poderíamos ter em Portugal políticas mais activas de produção de certos legumes que são de uso comum”, diz Susana Fonseca. A ambientalista reconhece, contudo, que está a haver uma evolução. “Há uns anos não víamos as grandes cadeias de supermercados a usar tanto o argumento do produto nacional como hoje se vê. Acreditamos que muitas grandes cadeias já perceberam que este é um argumento de venda. ”
REFERÊNCIAS: