Descoberto um oásis do Jurássico com mil trilhos de dinossauros
A valsa não nasceu no Jurássico, mas é fácil aludir a um salão de dança com 190 milhões de anos quando se vê tantas pegadas de dinossauros juntas. Nos Desfiladeiros de Vermillion, no Norte do Arizona, já perto da fronteira com o Utah, nos Estados Unidos, geólogos e geofísicos da Universidade de Utah descobriram muitos trilhos de dinossauros, alguns deles acompanhados de marcas de caudas. O estudo foi hoje publicado na revista "Palaios". “Terá que ter havido mais do que um tipo de dinossauro aqui”, disse Marjorie Chan, professora de geologia e geofísica na Universidade de Utah. “Era um local que atraia uma multidã... (etc.)

Descoberto um oásis do Jurássico com mil trilhos de dinossauros
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-10-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20081021130903/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1346801
TEXTO: A valsa não nasceu no Jurássico, mas é fácil aludir a um salão de dança com 190 milhões de anos quando se vê tantas pegadas de dinossauros juntas. Nos Desfiladeiros de Vermillion, no Norte do Arizona, já perto da fronteira com o Utah, nos Estados Unidos, geólogos e geofísicos da Universidade de Utah descobriram muitos trilhos de dinossauros, alguns deles acompanhados de marcas de caudas. O estudo foi hoje publicado na revista "Palaios". “Terá que ter havido mais do que um tipo de dinossauro aqui”, disse Marjorie Chan, professora de geologia e geofísica na Universidade de Utah. “Era um local que atraia uma multidão, tal como as pistas de dança”, exemplifica a cientista. Os investigadores acreditam que a atracção daquele local era a água. Há 190 milhões de anos, a Terra só tinha um super-continente chamado Pangeia. O território actualmente definido pelos Estados de Utah, Wyoming, Colorado, Novo México, Arizona e Nevada, formava um deserto maior do que o Sahara. Devido ao tamanho do continente, os investigadores acreditam que existiam ventos muito fortes que formavam dunas maiores do que as do deserto africano. “As áreas entre estas dunas de areia podiam ter poças de água – um oásis”, explica o primeiro autor do estudo, Winston Seiler, que na altura da descoberta estava a tirar o mestrado. “Para sustentar grandes dinossauros, é provável que não houvesse só uma poça de água, mas muitas. Eles caminhavam numa rede de oásis para se alimentarem e beberem água”, diz o investigador. A área tem mais de 3000 mil metros quadrados. Já foram estimados mais de mil trilhos de dinossauros. Pensa-se que existam quatro espécies diferentes, com vários tamanhos. “Os trilhos de tamanhos diferentes [de 2, 5 centímetros a meio metro] podem querer dizer que estamos a ver mães a caminharem com os seus bebés”, refere Seiler. Não é produto da erosãoMarjorie Chan visitou pela primeira vez o local em 2005 e pensou que as marcas deixadas na rocha arenítica tinham sido formadas a partir da erosão do vento. Mas na altura a investigadora suspeitou de algo mais, “eu sabia que isto não era toda a história, havia uma alta concentração de marcas e não existiam em mais local nenhum na região”. Quando em 2006 Winston Seiler visitou o local, o investigador percebeu do que se tratava. “Depois de caminhar pelo local durante cinco minutos, percebi que eram pegadas de dinossauro”, disse. Vários argumentos deram força à teoria: o tamanho dos trilhos é o indicado para animais grandes e as pegadas estão limitadas a uma única camada rochosa; encontraram-se quatro tipos diferentes de trilhos que incluíam marcas de garras, dedos e calcanhares; as marcas tinham uma orientação, o que indica uma direcção na caminhada. Os trilhos de cauda que a dupla encontrou tornam o local ainda mais especial, porque não se conhecem muitas marcas destas no mundo. “Os dinossauros não costumavam andar a arrastar as caudas”, diz Seiler. As marcas têm cerca de seis centímetros de largura e prolongam-se até mais de sete metros. Segundo os investigadores, foram feitas por dinossauros do tipo dos saurópodes – os que se movem em quatro patas, são herbívoros e têm pescoços e caudas enormes. Os trilhos não deram informação suficiente para se conseguir identificar as espécies certas de dinossauros. Um do tipo de pegadas pertencia a um animal parecido com o carnívoro Tyrannosaurus rex, mas mais pequeno, com o comprimento entre 4, 8 e seis metros. Outro trilho seria de um dinossauro que não ultrapassava os 30 centímetros de altura e um terceiro trilho de outro dinossauro que não chegava aos quatro metros de comprimento. Depois de os dinossauros terem “dançado” naquela região, a superfície foi coberta pelas dunas que estavam em constante movimento. Posteriormente as rochas que se formaram foram sendo erodidas até que as pegadas ficaram visiveis. Eventualmente, a erosão também vai apagar as pegadas. Esta descoberta alterou a concepção que Marjorie Chan tinha deste local. Em vez do deserto "vasto, seco e inabitável” que a geóloga julgava existir, agora compreende que existiram "muitas variações, e houve períodos em que os dinossauros viveram aqui”.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
“Os polícias disseram que nós, africanos, temos de morrer”
Desde quinta-feira que a Cova da Moura tem estado nas notícias. Seis jovens detidos pelos agentes da esquadra da PSP de Alfragide acusam a polícia de tortura e racismo. Pontapés, tiros, e violência verbal fazem parte da acusação. “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados”, dizem ter ouvido. Ou: “Deviam alistar-se no Estado Islâmico”. PSP e IGAI estão a investigar. (...)

“Os polícias disseram que nós, africanos, temos de morrer”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-17 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170717050633/https://www.publico.pt/1685599
SUMÁRIO: Desde quinta-feira que a Cova da Moura tem estado nas notícias. Seis jovens detidos pelos agentes da esquadra da PSP de Alfragide acusam a polícia de tortura e racismo. Pontapés, tiros, e violência verbal fazem parte da acusação. “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados”, dizem ter ouvido. Ou: “Deviam alistar-se no Estado Islâmico”. PSP e IGAI estão a investigar.
TEXTO: Os habitantes da Cova da Moura estão habituados a ver polícia neste bairro da Amadora. Volta e meia aparecem para fazer rusgas. Na quinta-feira, 5 de Fevereiro, “por volta do meio-dia”, Bruno Lopes estava na Rua do Moinho quando “pelo menos seis” agentes da polícia abordaram “duas pessoas”. Um dos polícias começa a rir para Bruno, que vira a cara. Bruno conversa com o primo e ri-se com ele. O polícia diz-lhe: ‘Estás-te a rir, olha que podes perder o sorriso”. O primo sugere que entrem no café, e em crioulo, Bruno diz que não tem de sair de onde está. O polícia quer saber do que falam, e encosta-o à parede. Vêm mais dois agentes que o agridem. Bruno não ofereceu resistência alguma. Isto é versão de Bruno Lopes, 24 anos. Da varanda de sua casa, Jailza Sousa, 29 anos, cabo-verdiana voluntária no Moinho da Juventude, vê-o “a levar chapadas”, e Bruno sem reagir, “nada que desse origem àquilo tudo”. Bruno ouviu uma voz feminina a gritar aos polícias: “Parem”. De nada serviu. – Começaram a bater até fazer sangue, lembra Jailza. Na rua em baixo, em casa, Celso Lopes ouve um, dois, três, quatro, cinco disparos. – O policial apontou para mim e disparou uma vez, tornou a carregar e a disparar, diz Jailza, com os cartuchos das balas de borracha na mão. O meu filho viu, está traumatizado. Bruno Lopes é algemado e levado para a esquadra de Alfragide, a cerca de um quilómetro dali. – Bateram-me com o cassetete, davam pontapés, conta. – Diziam-me para me candidatar ao Estado Islâmico. Chamavam pretos, macacos, que iam exterminar a nossa raça. Quatro dias depois, na segunda-feira, junto ao café ainda se vêem umas pingas de sangue. Jailza tem duas marcas das balas de borracha com que foi atingida: uma na nádega, outra no peito. Mostra-nos as sequelas, envergonhada, numa das salas de leitura da biblioteca do Moinho. Bruno seria libertado na sexta-feira. Foi acusado na altura de ter lançado uma pedra e partido um vidro da carrinha da polícia. Nega tudo. “Se estava a ser revistado, como é que podia ter lançado uma pedra?”O PÚBLICO deslocou-se à esquadra de Alfragide para confrontar os polícias com todas as acusações que aqui reproduzimos, mas o chefe desta unidade remeteu para as relações públicas da PSP. Têm uma versão contraditória dos factos. Por seu lado, a direcção nacional desta polícia garantiu-nos que o incidente foi “objecto do tratamento previsto para qualquer situação de acção/intervenção policial”. Abriu um inquérito interno. Aguarda os trâmites legais e não faz comentários, mesmo depois de confrontada com as acusações. A Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) também abriu um inquérito à actuação da PSP. O Moinho da Juventude, projecto comunitário que existe há 30 anos na Cova da Moura, já recebeu diversos prémios como o de Direitos Humanos da Assembleia da República. Flávio Almada, conhecido como Lbc na sua pele de rapper, membro da direcção, é formado em tradução, está a preparar uma candidatura a um doutoramento, e participou em projectos como o ALICE, coordenado por Boaventura de Sousa Santos. Trabalha com crianças e jovens e muitas vezes Jailza ajuda-o. Cruzou-se com ela na quinta-feira e viu-a a chorar. Perguntou o que tinha acontecido. Decidiu ir à esquadra perceber o que se passara com Bruno. Celso Lopes, também da direcção do Moinho, investigador social, acompanhou-o. Juntaram-se mais amigos de Bruno. – Chegámos à porta da esquadra e estavam três agentes. Dissemos que éramos do Moinho e queríamos falar com o chefe. A abordagem deles foi logo agressiva: ‘Esperem na porta, não vão entrar’. Dois foram para dentro e gritaram: ‘Malta! Disseram: ‘basa daqui’. Flávio não consegue reproduzir com detalhe tudo o que se passou, pois tudo se passou muito rápido. Garante que não houve qualquer tipo de provocação, agressão, violência. – Não somos malucos. Sabemos a intervenção que eles fazem. Sabe que ouviu um primeiro tiro e depois outro e Celso atingido na perna. Celso diz que mais de uma dezena de agentes apareceram a seguir. E que no meio dos insultos foi pontapeado até que:– O polícia que me baleou duas vezes fez um disparo e fez ricochete e atinge-me na perna. Quando me viro para dizer ao Flávio, ele dá um segundo tiro na perna. Dentro da esquadra há um hall que tem uma secretária e mandaram-me contra um pneu. Mas depois o polícia disse: ‘Não, a merda tem que estar no chão. ’Flávio continua:– Eu perguntei: ‘o que fizemos? Não estamos a reagir, a faltar ao respeito com ninguém’. E começaram-me a bater, fiquei no chão, colocaram as algemas, depois perdi a noção porque eram pontapés e socos e já não sabia quantos eram. Disseram: ‘O lixo e cães é para o chão’. A tortura continuou: pontapés, socos, cara no chão, parti um dente – e mostra-o. Diziam-lhes: “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados”. E: “Deviam alistar-se no Estado Islâmico”. Entretanto, Rui Moniz tinha ido tratar de umas papeladas numa loja perto, e foi “apanhado” pelos polícias, também sem justificação, diz. O jovem, que sofreu um AVC e tem um mão imóvel, acusa igualmente os agentes de lhe baterem. – Começaram a encher-me de pontapés, arrastaram-me até à esquadra. Mandaram levantar a cara, e depois deram socos. Um deles vira-se e diz: 'esse aí é português. ’ E outro: ‘Não, ele é pretoguês’. Natural de Cabo Verde e a viver em Portugal há 12 anos, Flávio acusa a polícia de lhe ter ficado com a autorização de residência e de o ter impedido de fazer uma chamada para o advogado. – A única coisa que nos deu vantagem é que antes de ir à esquadra eu liguei para o Mamadou Ba, do SOS Racismo, e para o Jakilson (da biblioteca do Moinho da Juventude). Passou tanto tempo que as pessoas começaram a preocupar-se. A PSP, entretanto, nessa tarde, emitia um comunicado citado pela Lusa, acusando um “gang” da Cova da Moura de invadir a esquadra. Celso, Flávio, Paulo, Miguel e Rui seriam detidos. Foram levados para a super esquadra da Damaia e depois para o hospital Amadora-Sintra. O Ministério Público pediria a sua prisão preventiva por resistência e coacção a funcionário, mas no sábado o Tribunal de Sintra libertou-os determinando a medida de coacção menos gravosa, o Termo de Identidade e Residência. Eles, por seu lado, apresentaram uma queixa-crime por tortura no Ministério Público de Almada. Acusam a polícia de difamação e racismo institucional pelo que se passou segundo as suas versões. – Como é que se caiu no discurso que fomos invadir uma esquadra?, questiona Flávio. Sou membro da direcção do Moinho, trabalhei sempre com jovens na prevenção, fiz voluntariado na prisão para trabalhar a inclusão através da arte, e agora vou invadir uma esquadra?Flávio lembra:– Consegui ver a expressão de um dos polícias, quando disse com uma convicção que eu não consigo reproduzir: ‘Se eu mandasse vocês seriam todos exterminados. Não sabem o quanto eu odeio vocês, raça do caralho, pretos de merda’. Nunca tinha visto um ódio, em estado bruto, daquela forma. Nunca tinha visto e já vi muita coisa. A expressão dele era um ódio completamente cego e aquilo assustou-me: como é que uma sociedade anda a produzir indivíduos deste tipo?Recorda também de um deles dizer, sobre ele: “Apanha aquele filho da puta que tem a mania que é inteligente”. – Disseram-nos várias vezes que nós, os africanos, temos que morrer. Que se a legislação permitisse nos executariam, que devíamos estar pendurados pelos pés. Já depois de mais de duas horas de entrevista a explicar-nos o que aconteceu, Flávio desabafa, com Celso, que é necessário manter vivos os acontecimentos mas que não querem estar a toda a hora a lembrá-los. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. – Deixa sequelas, diz Flávio. A ficha vai caindo. Fico indignado. E alguém tem que ser responsabilizado. Tenho curso superior, sou activista, conheço muita gente e muita gente acredita em mim. Agora um jovem que tenha pelo menos um antecedente criminal: ninguém o iria apoiar. Os moradores da Cova da Moura, o SOS Racismo e outras organizações marcaram uma concentração de protesto em frente ao Parlamento, em Lisboa, para a próxima quinta-feira, dia 12, às 17h.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Deputada do PS questiona autarquia de Moura sobre medidas para travar racismo contra ciganos
Idália Serrão quer saber se a autarquia tem desenvolvido políticas de inclusão de todos os cidadãos na comunidade. (...)

Deputada do PS questiona autarquia de Moura sobre medidas para travar racismo contra ciganos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 Ciganos Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Idália Serrão quer saber se a autarquia tem desenvolvido políticas de inclusão de todos os cidadãos na comunidade.
TEXTO: A deputada do Partido Socialista Idália Serrão questionou nesta quarta-feira a Câmara Municipal de Moura sobre as manifestações racistas e xenófobas de que tem sido alvo a comunidade cigana residente no concelho, em Santo Aleixo da Restauração. Num comunicado enviado à imprensa pelo grupo parlamentar do PS, afirma-se que Idália Serrão quer saber se a autarquia tem conhecimento do que se passa e quais as diligências que tomou para travar a situação. Sublinhando que é importante a câmara de Moura empenhar-se para “pôr cobro a estas manifestações xenófobas e racistas”, a deputada refere-se às “inscrições xenófobas" que nos últimos dias surgiram "nas paredes do edificado" de Santo Aleixo. Já anteriormente, lembra, houve queixas de "insultos a cidadãos de todas as idades, incluindo crianças e idosos, e ainda a destruição pelo fogo de habitações e viaturas e o envenenamento de animais” de famílias de etnia cigana. Idália Serrão, que tem um avô cigano, eleita por Santarém, vice-presidente do grupo parlamentar do PS e secretária da mesa da Assembleia da República, questionou ainda a autarquia sobre as políticas desenvolvidas "para a inclusão de todos os cidadãos na comunidade", e pediu informação detalhada sobre “as parcerias desenvolvidas, as medidas implementadas e os resultados alcançados, nomeadamente quanto ao trabalho desenvolvido com as comunidades ciganas”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de em Setembro ter sido alvo de ataques incendiários, que não pouparam casas, viaturas automóveis e até o edifício da igreja onde as famílias realizavam o seu culto religioso, a comunidade cigana de Santo Aleixo voltou recentemente a ser vítima de ameaças de morte. Uma das manifestações mais visíveis dos últimos dias foram as frases nas paredes de casas e muros da freguesia a exigir a sua expulsão ou a “morte aos ciganos”. São acompanhadas de cruzes e de caixões pintados a negro. Ao PÚBLICO, o presidente da Câmara Municipal de Moura, Santiago Macias, disse que os conflitos que envolvem a comunidade cigana de Santo Aleixo da Restauração revelam, essencialmente, “um problema de segurança pública”. Estes factos levaram a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que funciona junto do Alto-Comissariado para as Migrações, a apresentar ao Ministério Público uma queixa crime de discriminação racial, previsto no artigo 240. º do Código Penal.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Supremo americano impede execução no Texas por causa de testemunhos racistas
O Supremo Tribunal dos Estados Unidos suspendeu a pena de morte proferida contra um condenado por assassínio no Texas, considerando que a sentença foi aplicada com base em depoimentos racistas feitos durante o julgamento. A decisão foi tomada depois de ter sido negado um adiamento pelo governador do Texas e aspirante a candidato presidencial republicano Rick Perry. (...)

Supremo americano impede execução no Texas por causa de testemunhos racistas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Supremo Tribunal dos Estados Unidos suspendeu a pena de morte proferida contra um condenado por assassínio no Texas, considerando que a sentença foi aplicada com base em depoimentos racistas feitos durante o julgamento. A decisão foi tomada depois de ter sido negado um adiamento pelo governador do Texas e aspirante a candidato presidencial republicano Rick Perry.
TEXTO: A apenas 90 minutos da hora marcada para a execução, os juízes deram aval aos argumentos apresentados pelos advogados de Duane Buck, um afro-americano de 48 anos, no sentido de que este tinha sido “injustamente” condenado à pena de morte por causa da avaliação feita por um psicólogo, sob juramento, testemunhando que os homens negros são mais propensos do que outras raças a reincidir no comportamento criminoso após serem libertados. Para a equipa de defesa de Buck, este depoimento, feito pelo psicólogo Walter Quijano, influenciou os jurados a proferirem a condenação do arguido por motivações racistas. Reconhecendo esta argumentação como legítima, o Supremo Tribunal decidiu suspender a execução – algo extremamente raro na justiça norte-americana – e, num comunicado de apenas um parágrafo, explica que esta suspensão se mantém até os tribunais darem resposta ao recurso. A advogada de Buck crê que tal acontecerá dentro de uma semana a um mês. O caso ganhou tanto mais atenção porque os advogados de Buck apelaram igualmente ao governador do Texas, Rick Perry – agora um dos favoritos na corrida pela nomeação dos republicanos à candidatura para as eleições presidenciais do próximo ano. Perry, um apoiante da pena de morte (presidiu a 235 execuções desde que foi eleito em 2000), recusou-se a fazer uso dos seus poderes e dar o adiamento de 30 dias pedido pela defesa de Buck, para dar tempo à investigação das alegações apresentadas ao Supremo. Esta decisão do Supremo foi comunicada já depois de Buck ter tomado o que julgava ser a sua última refeição: galinha frita com batatas fritas e salada de tomate, alface e pepino, molho picante e pimentos, maçãs, chá gelado e água. Tinha a execução, por injecção letal, marcada para as 18h (locais) de ontem, na prisão de Huntsville, no estado do Texas. “Valha-me Deus. Deus é grande. A misericórdia de Deus triunfa. Sinto-me bem”, afirmou o condenado após receber as notícias, de acordo com o Departamento de Justiça Criminal do Texas. Duane Buck foi condenado, em 1997, pelo duplo homicídio da ex-namorada, Debra Gardner, e um amigo desta, Kenneth Butler, ocorrido dois anos antes. Segundo os autos, Buck matou ambos a tiro com uma espingarda, uma semana após ter terminado a sua relação com Gardner, tendo forçado a sua entrada na casa da ex-namorada e morto ambos em frente dos filhos dela. A polícia testemunhou em tribunal que ao chegar ao local, Buck afirmou: “A puta teve o que merecia. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens homicídio tribunal prisão morto
“Os filmes africanos não conseguem existir sem o interesse da Europa”
O Festival de Locarno seleccionou quatro projectos de cineastas africanos de língua portuguesa para apresentar no seu fórum de financiamento. Três observadores explicam porque é que, sem estes fóruns, talvez não possa existir um cinema africano. (...)

“Os filmes africanos não conseguem existir sem o interesse da Europa”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Festival de Locarno seleccionou quatro projectos de cineastas africanos de língua portuguesa para apresentar no seu fórum de financiamento. Três observadores explicam porque é que, sem estes fóruns, talvez não possa existir um cinema africano.
TEXTO: Quatro filmes de cineastas africanos de língua portuguesa estão entre os doze projectos da África sub-saariana seleccionados para a edição 2014 do Open Doors, o fórum de financiamento do Festival de Locarno, que decorrerá em Agosto, em simultâneo com a 67ª edição do certame. Quatro longas-metragens que vão àquela cidade suíça ser apresentadas a potenciais parceiros de produção e financiamento, assinadas por nomes com créditos no cinema africano de língua portuguesa: as ficções Aleluia do angolano Zezé Gamboa, Heart and Fire do moçambicano Sol de Carvalho e Comboio de Sal e Açúcar do moçambicano Licínio de Azevedo, e o documentário do moçambicano Inadelso Cossa, Kula, uma Memória em Três Actos. E quatro filmes que, pela sua própria presença em Locarno, exemplificam a difícil sobrevivência das cinematografias de países exteriores aos circuitos tradicionais, e sobretudo de uma África onde as dificuldades do desenvolvimento social e político têm atirado a cultura para um papel secundário ou inexistente. Como diz Fernando Vendrell, realizador e produtor português cuja companhia David & Golias tem co-produzido regularmente cinema africano, “os países de onde estes cineastas vêm não têm políticas de cinema, o que faz que sofram de forma muito agressiva com a questão dos financiamentos. ” Fóruns como o Open Doors tornam-se, assim, na melhor – por vezes na única - oportunidade possível para conseguir montar projectos. Não é uma questão que afecte exclusivamente o cinema africano, mas afecta de modo particular as cinematografias “minoritárias” que são o foco central do Open Doors, como explica por telefone ao PÚBLICO a responsável da estrutura, Ananda Scepka. “Especializamo-nos nos países do sul e do leste, zonas que enfrentam desafios complicados mas que são interessantes precisamente por isso, por serem menos visíveis. ” O fórum, que tem como parceiro principal a Direcção para o Desenvolvimento e para a Cooperação do governo suíço, escolhe anualmente um máximo de doze projectos para apresentar a possíveis produtores e financiadores; um júri escolhe igualmente um projecto para receber 50 mil francos suíços (cerca de 40 mil euros). O foco na África sub-saariana em 2014 surge na sequência de um primeiro apoio em 2012 à África francófona – que coincidiu, aliás, com uma retracção da França, o país mais activo no financiamento estatal do cinema africano, com uma política de suporte e sustentação da francofonia de assinalável impacto. Foi das antigas colónias francesas, sustentadas por fundos entretanto descontinuados como o Fonds Sud Cinéma, que surgiu toda uma geração: do Senegal, Djibril Diop Mambéty e Ousmane Sembène; do Mali, Souleymane Cissé; do Burkina-Faso, Idrissa Ouédraougo – e mesmo cineastas dos PALOP, como o guineense Flora Gomes, beneficiaram com as estruturas francesas. Mas mesmo esta geração, que procurava fazer a ponte entre África e o “primeiro mundo” ocidental, não criou descendência. O mauritânio Abderrahmane Sissako pode continuar a filmar (Timbuktu está este ano na competição de Cannes, ver trailer), mas o único cineasta africano que tem mantido produção regular é o chadiano Mahamat Saleh Haroun – também ele graças a apoios franceses. Não há salas de cinemaKate Reidy, programadora e directora do festival suíço Black Movie, é peremptória: “Na maioria dos casos, os filmes africanos não conseguem ser feitos sem financiamento europeu. Precisam de interesse do Ocidente para existirem e serem divulgados. ” Atenta à produção do continente africano, a programadora australiana abre excepções para países que conseguiram criar estruturas quase industriais: a África do Sul, “que tem uma indústria e uma influência ocidental muito claras”, e a Nigéria, cuja produção “faça-você-mesmo” levou o país a ser conhecido como “Nollywood”, mas, feita exclusivamente a pensar no público local, é impossível de exportar. São as excepções num continente onde pensar em indústria de cinema ou política cultural pode ser utópico. Kate Reidy: “O que nos dizem os cineastas é que as condições de vida, de trabalho, de economia, são impossíveis. Não é que não queiram filmar; simplesmente não têm condições, não há apoios, e não há salas de cinema. ” O Black Movie, inicialmente dedicado exclusivamente ao cinema africano, abandonou essa abordagem já há vários anos para se tornar num festival de cinema independente global, porque “a produção [africana] deixou de ser suficiente e a qualidade foi declinando. Não havia filmes bons que chegassem”. Fernando Vendrell, que produziu O Herói de Zezé Gamboa (2004), um dos filmes africanos de língua portuguesa que fez melhor carreira internacional, aponta as contradições de um sistema de apoios que força os filmes a financiarem-se inteiramente no estrangeiro e, no processo, reforça o desinteresse dos países africanos. “Os fundos do Instituto do Cinema e Audiovisual [ICA] são muito importantes para o cinema africano de língua portuguesa, mas têm o efeito perverso de fazer com que os estados não se sintam responsáveis pelos filmes. Que ficam muitas vezes como património dos institutos de cinema locais, mas nem sempre tiveram o seu apoio. ”No caso português, o apoio ao cinema africano tem sido realizado ao abrigo de acordos de colaboração e co-produção com os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), mas cuja visibilidade pública tem sido reduzida (actualmente, o ICA destina 500 mil euros às co-produções com “países de língua portuguesa”, abertas também ao Brasil). Muitas destas co-produções não chegaram às salas portuguesas - caso de O Grande Kilapy de Gamboa (David & Golias, 2012), de Por Aqui Tudo Bem da angolana Pocas Pascoal (LX Filmes, 2011, mostrado a concurso no IndieLisboa), ou do primeiro filme de Sol de Carvalho, O Jardim do Outro Homem (Fado Filmes, 2006). Quando chegam, o impacto tem sido inexistente – os casos mais recentes foram Virgem Margarida, de Licínio de Azevedo (Ukbar Filmes, 2012), ou A República di Mininus, de Flora Gomes (Filmes do Tejo, 2011), ambos estreados em 2013 perante a indiferença do público. Se é verdade que muitos destes são filmes de visível fragilidade artística, também é verdade que esbarram num mercado cuja formatação comercial não parece interessado em abrir-lhes espaço. Fernando Vendrell faz notar que muitas vezes o apoio ocidental a estes projectos se concentra no trabalho de pré-produção, desenvolvimento e rodagem, mas não abrange a difusão e distribuição. “Há muitas dificuldades de distribuição, filmes que não chegam a estrear nos seus próprios países. Mas alguns deles dão duas ou três vezes a volta ao mundo [no circuito de festivais], e acabam por ter um impacto internacional muito maior do que uma deslocação de uma comitiva a Washington. . . ”Vendrell evoca, de caminho, a incompreensão dos decisores ocidentais ao serem confrontados com estes filmes: uns exigem dos projectos africanos uma imagem turística vendável, de exotismo tribal, outros insistem em cadernos de encargos de cidadania e desenvolvimento que correm o risco de tornar os filmes em meros veículos de pedagogia social. Enquanto isso, as estruturas de produção que começam a surgir, por exemplo em Angola, acabam por se dirigir muito mais para uma dimensão televisiva que reproduz de modo mais ou menos linear os modelos ocidentais. Em Locarno, Ananda Scepka recusa quaisquer cadernos de encargos e define a escolha do comité de selecção Open Doors, que analisou este ano 190 projectos para reter apenas doze, como guiada pela “força artística” do projecto. Para além dos projectos dos PALOP, foram seleccionadas ainda obras da África do Sul, Etiópia, Gana, Uganda e Zâmbia. “Locarno apoia um certo tipo de cinema de autor, e o Open Doors insere-se inteiramente nessa visão, ” explica Scepka. “Contrariamente a outros fóruns, que exigem um mínimo de orçamento garantido, estamos abertos a projectos que ainda estejam em desenvolvimento. Alguns levam mais tempo do que outros, uns chegam a Locarno com o dinheiro quase fechado, para outros o financiamento começa aqui. Apoiamos obras que cremos serem capazes de encontrar exposição, mas quando as seleccionamos ainda está tudo por fazer. Não temos numerus clausus por países, nem escolhemos politicamente, mas como em todos os fóruns de co-produção temos que levar em conta se o projecto é realista e praticável. ”E apesar de todas as dificuldades, há uma razão para o foco do Open Doors estar este ano nesta parte do globo. “Sentimos que há uma nova geração muito dinâmica, que pega no touro pelos cornos, tem vontade de fazer coisas e procura os meios de as fazer. Já era o caso da África francófona, mas notámos uma grande actividade em muitos países, com pólos de atracção maior. ” Kate Reidy confirma: “Nos últimos quatro ou cinco anos tem havido filmes em regime de auto-produção, documentários feitos a uma escala extremamente pequena, mas que são por vezes de extraordinária qualidade. ” É por essa escala pequena que a programadora vê o futuro, mesmo admitindo que não é possível prevê-lo. “A economia mundial e a tecnologia estão a mudar tão depressa que isso tem uma influência muito grande no modo como o cinema se vai transformar e sobreviver. As fronteiras que existiam entre culturas nacionais estão a diluir-se, o modo como as pessoas contam histórias está a tornar-se cada vez mais difícil de definir. ”
REFERÊNCIAS:
Sul-africano Matthew Dyer apita Portugal-Moçambique
O sul-africano Matthew Dyer foi nomeado para dirigir o encontro de terça-feira entre Portugal e Moçambique, o último da equipa portuguesa antes do início do Mundial 2010. (...)

Sul-africano Matthew Dyer apita Portugal-Moçambique
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O sul-africano Matthew Dyer foi nomeado para dirigir o encontro de terça-feira entre Portugal e Moçambique, o último da equipa portuguesa antes do início do Mundial 2010.
TEXTO: O juiz sul-africano, de 32 anos, vai ser auxiliado por Zakhile Siwela e Lazarus Matela, também da África do Sul, enquanto Victor Gomes será o quarto árbitro. Este será o último teste da equipa orientada por Carlos Queiroz antes da estreia no Mundial 2010, frente à Costa do Marfim, a 15 de Junho, em Port Elizabeth. O encontro entre Portugal e Moçambique tem início às 16h30 locais (15h30 em Lisboa) de terça-feira, no Bidvest Wanderers Stadium, em Joanesburgo.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Um quinto das espécies africanas de água doce está ameaçado de extinção
Um quinto das espécies africanas de água doce, correspondendo a 21 por cento, está ameaçado de extinção, colocando em perigo a subsistência das populações que delas dependem, alerta um relatório divulgado hoje pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN). (...)

Um quinto das espécies africanas de água doce está ameaçado de extinção
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um quinto das espécies africanas de água doce, correspondendo a 21 por cento, está ameaçado de extinção, colocando em perigo a subsistência das populações que delas dependem, alerta um relatório divulgado hoje pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN).
TEXTO: O relatório alerta que estão em perigo mais de mil das 5167 espécies de peixes, moluscos, caranguejos, libélulas e plantas aquáticas africanas que foram registadas e avaliadas por 200 cientistas durante cinco anos. A agricultura, extracção de água, barragens, desflorestação e espécies exóticas invasoras são as principais causas deste empobrecimento da biodiversidade dos rios, ribeiros e lagos africanos, explica a UICN. A organização refere o caso do lago Vitória (Quénia, Uganda e Tanzânia), onde 45 por cento das 191 espécies de peixes avaliadas estão “ameaçadas ou dadas como extintas”, nomeadamente devido à introdução da perca do Nilo. O lago Malawi também viu a população de Oreochromis karongae, uma espécie de peixe conhecida pelos locais como Chambos, diminuir 70 por cento em dez anos. O desaparecimento dos peixes, principal fonte de proteínas e de receitas para as populações da região africana dos grandes lagos, reduz os meios de subsistência destas comunidades, sublinha a organização. O seu estudo aponta que, pelo menos, 7, 5 milhões de pessoas dependem da pesca em águas doces na África Subsaariana. “Se não travarmos” o processo de desaparecimento destas espécies, “o continente vai perder de forma irreversível a sua biodiversidade”, advertiu o director do projecto, William Darwall. Esse é já o caso da parte inferior do rio Congo, onde onze espécies de moluscos numa extensão de cem quilómetros estão “muito ameaçadas” por causa da poluição existente a montante.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo espécie desaparecimento
“África é a última fronteira do capitalismo”
Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro. (...)

“África é a última fronteira do capitalismo”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro.
TEXTO: Achille Mbembe esteve em Portugal, em Outubro, para uma conferência na Culturgest que tinha por título Para Um Mundo Sem Fronteiras. A questão da fronteira é fundamental na obra deste teórico africano, nascido nos Camarões, em 1957, com doutoramento em Ciência Política feito em Paris (na Sorbonne), professor na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, e também em Harvard, nos Estados Unidos. A sua obra, objecto de um enorme reconhecimento internacional e traduzida em todo o mundo, compreende livros tão importantes como Crítica da Razão Negra, Políticas da Inimizade (estes dois traduzidos em português e editados pela Antígona) e De la Postcolonie. Essai sur l’imagination politique dans l’Afrique contemporaine. As elaborações teóricas de Mbembe atravessam várias fronteiras disciplinares: são obra de filosofia, mas também de antropologia, de história, de ciência política, de crítica e teoria da cultura. O seu conceito de “pós-colónia”, que é simultaneamente um tempo específico e uma formação particular do poder, contribuiu certamente para acentuar uma ideia que nesta entrevista Mbembe classifica como um equívoco e explica porquê: a de que se inscreveria no campo, muito heterogéneo, dos estudos pós-coloniais. Em Crítica da Razão Negra, ele mostra que “o negro”, enquanto figura construída pela Europa, não pode ser pensado senão fazendo uma genealogia da modernidade, da racionalidade moderna (daí a referência à crítica kantiana), do universalismo e da dinâmica do capitalismo. A “razão negra” surge assim como a sombra do Iluminismo, a sua parte obscura sem a qual ele não pode ser completamente compreendido. Tentando explicar a racionalidade que inventou um “sujeito de raça”, isto é, um sujeito do qual não se sabe qual é a parte humana e qual é a parte animal, Mbembe faz explodir do interior o conceito de “raça”. Nesse livro, encontramos logo no início esta afirmação: “A Europa já não constitui o centro de gravidade do mundo. Ora é dessa perda de centralidade, da “autoprovincialização” da Europa como acontecimento fundamental — diz Mbembe — que se devem retirar conclusões para o continente africano. A África, nesta nova reconfiguração geopolítica do mundo, os desafios que ela tem pela frente para se tornar o seu próprio centro e para dissolver as fronteiras internas que interiorizou contra a sua própria cultura do movimento: eis um dos seus temas importantes. Mbembe fornece-nos assim um olhar sobre a história cultural de África, sobre os seus atributos e as suas possibilidades, numa perspectiva teórica. Na sua conferência, na Culturgest, falou da questão das fronteiras, desse paradoxo em que vivemos hoje: a tecnologia apaga as fronteiras, mas são criados condicionamentos cada vez mais fortes para as atravessar. Creio que vivemos, de facto, à escala planetária, um paradoxo. A época é a da conexão, graças aos avanços tecnológicos do nosso tempo, mas também por toda a espécie de trocas económicas e transacções monetárias, incluindo o fluxo de ideias e de imagens que irrigam hoje as sociedades do planeta. Mas tudo isso é acompanhado por um aumento das dificuldades que experimentam certos sectores da população em movimentar-se. Parece-me que há, à escala mundial, uma redistribuição completamente desigual da capacidade de circular, de se estabelecer onde se quer. E, portanto, tendo em conta a evolução do mundo, as evoluções demográficas, ecológicas e militares que se anunciam no horizonte, tenho a impressão de que um dos grandes desafios do século XXI será efectivamente o governo das mobilidades humanas. Esta questão, por agora, é mal colocada porque é posta unicamente em termos securitários. Uma parte do meu trabalho consiste em explorar as maneiras como se poderia colocá-la de outra maneira, na perspectiva de um mundo comum, a partilhar, sendo essa partilha a própria condição da sua sobrevivência. Essas restrições da mobilidade atingem de maneira muito forte o continente africano. Os africanos não são bem-vindos em nenhuma parte do mundo. . . Na história moderna, desde o século XV até hoje, os africanos sempre estiveram sujeitos a constrangimentos para se movimentarem. É sem dúvida o único povo do mundo que foi reduzido a esta condição durante tanto tempo. Sempre que tiveram de se movimentar, não o fizeram em liberdade, foi porque estavam forçados a isso: o comércio da escravatura atlântica, as corveias na época colonial e hoje o espaço colossal de mais de 50 Estados que, em média, têm cada um deles quatro ou cinco fronteiras. Essas fronteiras internas foram construídas pelo colonizador?Sim, são fronteiras herdadas da colonização que, logo a seguir às independências, foram ratificadas e consideradas inalteráveis pelos Estados independentes. . . Em suma, África interiorizou a categoria de fronteira, tal como ela foi criada na Europa. É de facto uma categoria que não corresponde a quase nada na história e na cultura dessas sociedades. Nas sociedades africanas pré-coloniais, o movimento, a circulação, é a condição de princípio de toda as dimensões da sociedade: as culturas, as religiões, os sistemas matrimoniais, os sistemas comerciais, tudo isso era o produto do movimento. O movimento precede o espaço, o território. É o movimento que fabrica o espaço. É completamente diferente da concepção europeia, em que o espaço vem antes do movimento. Em África é o contrário. Portanto, no paradigma africano pré-colonial das relações entre o espaço e o movimento, as fronteiras não existem porque a fronteira é o que bloqueia, por definição, a circulação do fluxo vital. A vida está no movimento, não está necessariamente no espaço. Se ela se traduz em espaço, é através do modo como o espaço é apreendido num movimento. Trata-se, portanto, de duas filosofias completamente opostas. Deste ponto de vista, a filosofia africana do movimento, pré-colonial, assemelha-se a uma lógica própria do mundo digital, em que, no fundo, se trata de pôr em conexão, em rede, e não de categorizar, de classificar, de hierarquizar e limitar o movimento. Disse também, na sua conferência, que África é a última fronteira do capitalismo. É como se fosse um laboratório moderno?É a última fronteira do capitalismo, no sentido objectivo das coisas, no sentido em que o regime capitalista se universalizou e não há hoje praticamente nenhuma sociedade que lhe escape, mesmo as sociedades nominalmente comunistas, com a excepção da Coreia do Norte. É um regime cujo fim é o de não ter limites. Ora, é em África que encontramos hoje as últimas jazidas de quase todos os recursos de que precisa o capitalismo para funcionar no futuro. E também os recursos demográficos, na medida em que até ao final do século uma pessoa em cada três ou quatro virá de África. E os recursos minerais, botânicos, os recursos das espécies vivas, orgânicas e vegetais. É a única parte do mundo que não foi ainda completamente capturada pela lógica da exploração infinita. É por isso que digo que é a última fronteira do capitalismo. Disse, numa entrevista, há alguns anos, que vai chegar o tempo da África. Eis uma proposição muito esperançosa, optimista. Continua a acreditar nela?Absolutamente. Quando nos inscrevemos num ciclo histórico longo, numa perspectiva de longa duração, é evidente que esse tempo da África está à nossa frente. Porque o curso histórico das outras regiões do mundo terá atingido os seus limites. Vê-se isso hoje já na Europa. Em larga medida, a Europa faz parte muito mais do passado do mundo do que do seu futuro, do qual ela não será a locomotiva. Ela já não pensa noutra coisa senão em dobrar-se sobre si própria e defender o que foi, na impossibilidade de projectar o que vai ser. A categoria do futuro desapareceu do seu horizonte. Desapareceu até do seu vocabulário. Os Estados Unidos estão mergulhados numa crise muito séria. Vemos muito bem os seus efeitos no sistema de governo, na erosão do seu modelo de democracia liberal. Também aí há um desejo de recuo em relação ao mundo, que se manifesta na guerra comercial, no fantasma das fronteiras e dos muros, no enorme medo que se apoderou de uma parte da sua população branca. Neste cenário, é claro que a Ásia está em plena ascensão, a China em particular, e sabemos que ela sabe calcular o tempo em função de uma duração quase milenar. Creio que uma grande parte do futuro da África irá jogar-se na China, nas relações que a África irá construir com a China. Não há aí o perigo de se reproduzir uma nova relação segundo um modelo neocolonial?Sim, há um perigo em toda a relação geoestratégica porque se trata sempre de uma relação de poder e não de uma relação justa. Não é uma questão de caridade, é uma questão de interesse e uma relação de antagonismo. Tratar-se-á, para África, de construir de maneira inteligente esse antagonismo com a China, para que ele seja produtivo e sirva os seus interesses a longo prazo. Podemos então colocar por agora bastantes questões. Podemos, por exemplo, pensar que África, para já, ainda não compreendeu o que é que está em jogo, a longo prazo. E não conseguiu, com a China, sair da lógica de uma relação de extracção. O drama de África, na longa duração, foi a sua incapacidade para aproveitar o melhor da sua população e o melhor do seu trabalho e o melhor das suas riquezas. E porque é que isso acontece?A questão é essa: porque é que ela não foi capaz de criar as condições que lhe permitiriam tirar proveito de tudo isso? Houve a exploração do melhor da sua população, dos mais jovens, dos que estavam na idade de trabalhar, do século XV ao século XIX, nas Américas. Retirou-se do subsolo as riquezas minerais, e uma grande parte dos melhores africanos não estão em África, estão noutro sítio, nos Estados Unidos, em França, etc. O grande enigma de África é este. A resposta à questão de saber porque é que África não foi capaz de guardar para si o melhor das suas riquezas e da sua população é complexa. Se quiser beneficiar do facto de o mundo pender agora para a Ásia, será necessário aproveitar de outra maneira as suas capacidades. Mas por agora não é o que se está a passar: a China chega, extrai as riquezas e vai-se embora. Não é assim que África vai conseguir uma relação benéfica com a China. Um dos seus livros chama-se, no original francês, De la potscolonie. E o senhor é conhecido como uma das vozes mais prestigiadas e autorizadas nesse domínio dos estudos pós-coloniais. Não, não é verdade, eu não pratico a teoria pós-colonial. Já o disse muitas vezes, mas ninguém me quer ouvir. A “postcolonie”, que dá o título a esse meu livro, não é a mesma coisa que a teoria pós-colonial. Não me oponho de modo nenhum à teoria pós-colonial, não faço como alguns que não compreendem nada desta questão, mas que se opõem ao que não compreendem, mas não me reivindico dessa herança intelectual. Em De la postcolonie, a questão não é da nossa relação com o outro, a nossa relação com o Ocidente, aquilo que constitui o coração da teoria pós-colonial. A teoria pós-colonial tenta pensar no plano literário, histórico, político, etc, a relação que terá existido entre as sociedades antigamente colonizadas e as potências coloniais. O projecto dos estudos pós-coloniais consiste em procurar o sentido do mundo que foi o produto desse encontro, da sua complexidade e da sua actualidade no tempo contemporâneo. É um projecto absolutamente necessário. Eu, o que faço com a “postcolonie” é fazer incidir a interrogação sobre si próprio, não sobre a relação com o outro. Trata-se do juízo sobre si próprio, enquanto na teoria pós-colonial toda a compreensão de si se faz em relação ao outro. Em De la postocolonie, a questão é a do processo de si sobre si próprio; o eu perante o seu próprio tribunal e não perante o tribunal do outro. E não pensa que esse pensamento muito auto-reflexivo é uma maneira muito ocidental de pensar? A Europa cultivou de maneira obsessiva o pensamento sobre si própria. Sim e não. Evidentemente, nós somos herdeiros do Ocidente, e não sou eu que me vou pôr a negar essa herança, faço parte dela e partilho-a. E creio que a força das pessoas que vêm de África advém das suas múltiplas genealogias. Enquanto muitos dos meus colegas, na América e na Europa, só conhecem a sua tradição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um dos seus livros chama-se Crítica da Razão Negra. O título remete para Kant, para a razão crítica, muito europeia, muito ocidental. Utiliza os instrumentos da razão crítica sem complexos. . . Sim. É preciso deixar de ser complexado em relação a uma herança que nos formou, mas que em contrapartida nós contribuímos para ela. Se pretendemos que há uma dose de universalidade no pensamento europeu, somos nós que lhe concedemos essa hipótese de sair das suas fronteiras e não deve haver nenhuma vergonha, do meu ponto de vista, em assumir isso. E também nenhuma vergonha em ir aos recursos críticos internos da Europa, já que o que distingue a Europa das outras regiões do mundo é que Europa desenvolveu e refinou as técnicas de autocrítica. Ela produziu os elementos que lhe permitem criticar-se a si própria. Mas também há fabulosas tradições africanas de auto-análise que não utilizam as mesmas técnicas que a tradição europeia, que se baseiam noutras formas de metafísica. Uma grande parte da metafísica ocidental são metafísicas do ser, são questões de ontologia. Boa parte das metafísicas africanas pré-coloniais é metafísica da relação, as grandes interrogações partem da categoria da relação. Daí que a auto-reflexividade proceda de maneira diferente. Procede, por exemplo, pelas técnicas de adivinhação, que são uma maneira de introspecção, mas pela mediação dos objectos. Porque se considera que o universo não é hierárquico, não é uma questão de verticalidade e de horizontalidade, considera-se que o universo é reticular. E, se o universo é reticular, isso quer dizer que o eu só acede a si pela mediação estrutural e permanentemente ambígua de alguém, de outro ser vivo. É a isto que a Europa chamou “animismo”. E quando nomeia o animismo é como se falasse de si mesma e não conseguisse sair da tautologia, das suas próprias categorias. Tudo o que disse supõe também uma outra concepção da técnica, da instrumentalidade. Evidentemente. Nós não aspiramos a ser os mestres da Terra. Partilhamos a Terra com outras entidades, que são todas vivas, não há entidades mortas porque mesmo as entidades mortas referem-se de algum modo a uma capacidade de agir, embora um agir de maneira diferente das entidades vivas. Tudo é capaz de agir, capaz de ser mobilizado em modalidades de acção diferentes. E, portanto, por princípio, a capacidade de agir é partilhada com os antepassados, com a Natureza, com a atmosfera, com as forças naturais, as tempestades, etc. Assim, se se quiser viver bem e por muito tempo é necessário aprender a coexistir com tudo, orgânico, o natural, o humano, nãohumano. É o que muitos descobrem, hoje, com a noção de Antropoceno. Os filósofos descobrem que aquilo que eles chamavam “animismo”, falando dos outros, é no fundo a condição de sobrevivência do nosso planeta. Se queremos hoje salvarmo-nos, não podemos continuar a contentar-nos com um só arquivo, é necessário ir aos arquivos do mundo inteiro. Esse é um grande desafio. Está a sugerir que a Europa está encerrada no seu arquivo?Sim, e o seu próprio arquivo não lhe permite resolver os grandes enigmas do nosso tempo, tem de sair desse fechamento num arquivo único, ter em conta de que existem outros. Por isso é que reivindico a ideia de um pensamento-mundo, que é forçosamente um pensamento da travessia e não um pensamento pós-colonial. Só um pensamento da travessia é que se pode alimentar nos arquivos do mundo, só ele pode sentir-se em casa na tradição europeia, na tradição africana, na tradição asiática. Evidentemente, isso comporta enormes riscos, mas é preciso assumi-los como parte integrante do próprio acto de pensar. Porque pensar sem riscos não quer dizer nada. E por aqui se vê que não sou um teórico pós-colonial.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Primeiro caso de ébola chegou ao país mais populoso de África
Liberiano começou com sintomas ainda durante um voo e à chegada à Nigéria foi submetido a testes e colocado em isolamento num hospital, mas acabou por morrer. (...)

Primeiro caso de ébola chegou ao país mais populoso de África
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.375
DATA: 2014-07-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Liberiano começou com sintomas ainda durante um voo e à chegada à Nigéria foi submetido a testes e colocado em isolamento num hospital, mas acabou por morrer.
TEXTO: O surto de Ébola chegou à Nigéria, o país mais populoso de África, com 170 milhões de habitantes. As autoridades do país já confirmaram que detectaram o primeiro caso mortal de infecção por este vírus altamente contagioso e mortal. A vítima é um liberiano que tinha viajado para a Nigéria em trabalho e que acabou por morrer pouco depois de chegar ao aeroporto de Lagos, no sudoeste do país, onde ficou em quarentena. De acordo com as informações avançadas pelo ministro da Saúde da Nigéria, Onyebuchi Chukwu, citado pelas agências internacionais, o homem trabalhava como consultor do Ministério das Finanças da Libéria e tinha chegado há uma semana a Lagos, a maior cidade do país, com mais de 20 milhões de habitantes. A sua irmã terá morrido também com o mesmo vírus, mas o consultor garantiu que não tinha estado em contacto com ela na Libéria. Perante alguns sintomas que apresentava durante o voo, a vítima foi submetida a testes laboratoriais e ficou, por isso, numa ala em isolamento no hospital para que foi levado, mas acabou por não resistir à doença. As autoridades nigerianas estão agora a tentar investigar o percurso do homem, para poderem entrar em contacto com todas as pessoas com quem se cruzou e que correm agora o risco de estar também infectadas. Estão também a ser estudadas mais medidas dirigidas aos voos internacionais, mas tendo em consideração o período de incubação da doença, que vai de dois a 21 dias, é difícil detectar todos os casos. No entanto, ao contrário do ministro, o comissário da Saúde daquele país, Jide Idris, adiantou que ainda aguardam os resultados de alguns contra-testes, apesar de os primeiros terem dado positivo para ébola. Do lado da Organização Mundial de Saúde (OMS) também se aguardam mais resultados de análises laboratoriais, diz a AFP. Identificado pela primeira vez na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão, o vírus transmite-se directamente pelo contacto com o sangue, fluidos ou tecidos corporais de pessoas e animais infectados e é mortal em 90% dos casos, tendo porém melhor prognóstico quando é detectado atempadamente. A doença começa por provocar sintomas semelhantes aos da gripe: mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Só desde Fevereiro já morreram quase 700 pessoas devido ao ébola na África Ocidental – um número que faz com que este seja o surto mais mortal de sempre. Este surto de ébola, que começou na Guiné-Conacri, já se espalhou para países como a Libéria e a Serra Leoa. Aliás, cerca de 100 das mortes foram precisamente na Libéria. O médico liberiano Samuel Brisbane, uma figura de destaque no país, foi uma das vítimas mortais. Também se soube que o médico norte-americano Kent Brantly, que trabalhava em Monrovia com doentes infectados pelo vírus, foi contagiado e que está a ser tratado. Curandeiros e funerais tradicionaisDa Serra Leoa também chegam mais casos que têm gerado preocupação. Uma mulher que tinha fugido do hospital depois das análises confirmarem que estava infectada acabou por morrer numa ambulância quando regressava para a unidade de saúde depois de ter sido interceptada pela polícia, diz a BBC. Saudatu Koroma, o primeiro caso confirmado na capital do país, Freetown, tinha saído do hospital na quinta-feira com a ajuda de familiares para procurar ajuda num curandeiro, explica a Reuters. Num país onde já morreram mais de 450 pessoas neste surto da doença, a maior confiança nas medicinas alternativas por parte da população tem dificultado o trabalho das autoridades de saúde. Centenas de pessoas têm tentado cercar os hospitais em protesto e tentam ajudar os doentes a fugir, pelo que a polícia está a utilizar gás lacrimogéneo para controlar a situação. Os funerais tradicionais, em que o corpo é lavado em vez de cremado, têm também contribuído para que a doença se espalhe. Já no final de Junho, a OMS tinha alertado os países vizinhos da Guiné-Conacri para a importância de se prepararem para uma chegada quase certa do ébola. A própria Guiné Bissau também já está na linha de risco da epidemia. Na altura, a OMS considerou também que o elevado número de vítimas se está a dever ao recuo em medidas de prevenção por parte dos diferentes países. “Há uma necessidade urgente de intensificar os esforços de resposta à doença, promover a partilha de informação sobre casos suspeitos e mobilizar todos os sectores da comunidade”, afirmou o director regional para África da OMS, Luís Sambo, acrescentando, porém, que ainda não estão a ser equacionadas restrições em termos de viagens. Antes, já os próprios Médicos Sem Fronteiras, que contam com cerca de 150 especialistas a trabalhar nas zonas onde há febre hemorrágica, tinham feito um alerta sobre o vírus que consideraram estar “descontrolado”.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
Médicos Sem Fronteiras alertam que ébola está fora de controlo
Organização quer mais investimento da ONU e dos governos depois do surto ter chegado à Nigéria. (...)

Médicos Sem Fronteiras alertam que ébola está fora de controlo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Organização quer mais investimento da ONU e dos governos depois do surto ter chegado à Nigéria.
TEXTO: A epidemia do vírus ébola está totalmente fora de controlo na zona oeste de África e há o risco de a doença se conseguir espalhar para mais países, de acordo com um alerta feito nesta quarta-feira pela organização Médicos Sem Fronteiras, que tem várias equipas a trabalhar no terreno. “Esta é uma epidemia sem precedentes, que não está de todo controlada e a situação não pára de se agravar, estendendo-se agora à Libéria e à Serra Leoa”, adiantou o responsável de operações da Médicos Sem Fronteiras, Bart Janssens, numa entrevista ao jornal Libre Belgique, citada pela AFP. “Estamos extremamente inquietos com a dimensão que esta situação está a ter, em especial nestes dois países onde a epidemia tem uma falta de visibilidade muito grande”, acrescentou. De acordo com Bart Janssens, se não houver uma intervenção rápida que inverta o curso dos acontecimentos, o ébola vai estender-se a mais países, ainda que admita que seja difícil de fazer previsões sobre esta epidemia, precisamente por não ter precedentes. “Falta uma visão global que nos permita compreender onde estão os principais problemas”, advertiu, defendendo que cabe à Organização Mundial de Saúde (OMS) e aos governos a disponibilização de mais meios para tentar debelar a epidemia. O alerta é feito depois de no fim-de-semana o surto de ébola ter chegado à Nigéria, o país mais populoso de África, com 170 milhões de habitantes. As autoridades do país confirmaram que detectaram o primeiro caso fatal de infecção por este vírus altamente contagioso e mortal. A vítima foi um liberiano que tinha viajado para a Nigéria em trabalho e que acabou por morrer pouco depois de chegar ao aeroporto de Lagos, no sudoeste do país, onde ainda ficou em quarentena. Ajuda suplementar da Comissão EuropeiaEntretanto, a União Europeia disponibilizou uma ajuda suplementar no valor de dois milhões de euros para ajudar a combater a epidemia em África, assegurando cuidados de saúde às pessoas afectadas pelo vírus, diz a AFP. O reforço eleva para 3, 9 milhões de euros o contributo total da Comissão Europeia. Os fundos serão distribuídos pela Organização Mundial da Saúde e por outras associações que estão a trabalhar no terreno, como os Médicos Sem Fronteiras e a Cruz Vermelha. Portugal também vai enviar 15 toneladas de medicamentos para apoiar a Guiné-Bissau na prevenção do Ébola e outras epidemias, anunciou o primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira. "Recebemos confirmação do Governo português da disponibilização de 15 toneladas de medicamentos para que o Ministério da Saúde esteja em condições de ter um programa de emergência e acompanhamento da situação de Ébola", bem como de outras "eventuais epidemias", referiu, citado pela Lusa. O envio surge depois de a Guiné-Bissau ter "lançado um SOS para reposição do stock de medicamentos, tendo em vista o programa de emergência para a epidemia de Ébola que assola a África Ocidental". Questionado sobre as medidas que o país está a preparar para se defender, o líder do Governo guineense anunciou um plano de urgência "de que consta um programa de prevenção sanitária que tem merecido a atenção especial dos responsáveis na área da saúde", referiu. Seis médicos recém-formados e dois técnicos do Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau ligados à água e saneamento receberam este mês formação de cinco dias sobre a prevenção e cuidados a ter com o vírus. A equipa está apta a deslocar-se rapidamente a qualquer parte do país para dar atendimento em caso de suspeita de contágio. A propósito do alastrar do surto a mais países, a Direcção-Geral da Saúde garantiu à Lusa que Portugal está preparado para detectar e enfrentar um eventual caso de ébola, mas sublinhou que o risco de importação e propagação é "muito baixo". Portugal está preparado, tal "como os restantes países europeus, para detectar um eventual caso que possa ser importado", disse a directora-adjunta da Direcção-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas. Mais de 700 mortes desde FevereiroIdentificado pela primeira vez na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão, o vírus transmite-se directamente pelo contacto com o sangue, fluidos ou tecidos corporais de pessoas e animais infectados e é mortal em 90% dos casos, tendo porém melhor prognóstico quando é detectado atempadamente. A doença começa por provocar sintomas semelhantes aos da gripe: mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Só desde Fevereiro já morreram quase 700 pessoas devido ao ébola na África Ocidental – um número que faz com que este seja o surto mais mortal de sempre.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS