Nobel da Paz atribuído a Denis Mukwege e Nadia Murad contra a violência sexual na guerra
Os dois galardoados "fizeram uma contribuição crucial para combater este tipo de crimes de guerra", justificou o Comité Norueguês do Nobel. (...)

Nobel da Paz atribuído a Denis Mukwege e Nadia Murad contra a violência sexual na guerra
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os dois galardoados "fizeram uma contribuição crucial para combater este tipo de crimes de guerra", justificou o Comité Norueguês do Nobel.
TEXTO: A atribuição do Prémio Nobel da Paz a dois dos mais destacados activistas contra a violação sexual em contexto de guerra vem trazer alguma luz para uma das dimensões menos conhecidas, mas igualmente atroz, dos conflitos em todo o mundo. O Comité Norueguês do Nobel decidiu atribuir o galardão a Nadia Murad, uma iraquiana yazidi que foi raptada e escravizada pelo Daesh, e a Denis Mukwege, um médico congolês que operou dezenas de milhares de mulheres violadas de forma bárbara. “Cada um deles contribuiu à sua maneira para dar maior visibilidade à violência sexual em tempo de guerra para que os seus responsáveis respondam pelas suas acções”, justificou o comité quando apresentou o prémio. "Nadia é a testemunha que denuncia os abusos cometidos contra si e outras", afirmou a porta-voz do Comité Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen. Mukwege tornou-se no "símbolo mais unificador da luta para acabar com a violência sexual nas guerras". A escolha mereceu elogios consensuais por parte de dirigentes políticos e activistas em todo o mundo. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que a atribuição do Nobel da Paz integra um “movimento crescente que reconhece a violência e as injustiças” contra mulheres e crianças em todo o mundo. Os dois activistas, declarou Guterres, “ao defenderem as vítimas de violência sexual nos conflitos, estão a defender os nossos valores partilhados”. A Alta-Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michele Bachelet, disse ser “difícil pensar noutros dois vencedores mais dignos do Prémio Nobel da Paz” que não Murad e Mukwege. O Presidente iraquiano, Barham Saleh, disse que a entrega do Nobel a Murad “é uma honra para todos os iraquianos que combateram o terrorismo e a intolerância”. O deputado yazidi, Vian Dakhil, afirmou tratar-se da “vitória do bem e da paz sobre as forças da escuridão”. “As violações nas guerras são um crime há séculos”, disse à Reuters o director do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), Dan Smith. “Mas era um crime na sombra e os dois laureados lançaram luz sobre isso”, acrescentou. Apesar dos elogios, o trabalho dos dois activistas está longe de estar terminado e as suas missões continuam a enfrentar muitos desafios. Mukwege tem sido uma voz crítica do Presidente congolês Josepho Kabila, que acusa de querer eternizar-se no poder. Kabila devia ter abandonado o cargo no final de 2016, mas tem adiado a marcação de novas eleições. A reacção do Governo congolês à atribuição do Prémio Nobel ao médico não escondeu o mal-estar. "Estamos muitas vezes em desacordo com Denis Mukwege, de cada vez que tenta politizar a sua obra que, todavia, é importante do ponto de vista humanitário”, afirmou o porta-voz do Governo, Lambert Mende, citado pela AFP. Kabila não se pronunciou. A própria situação na República Democrática do Congo permanece preocupante. Embora a guerra civil tenha terminado oficialmente em 2003, há grupos armados que continuam a aterrorizar aldeias e cidades. O Nobel também traz à memória os inúmeros casos que envolvem missões de capacetes azuis da ONU em várias zonas do planeta, desde a República Centro-Africana ao Haiti. Em 2016, quando foi revelado que membros da missão de pacificação na República Centro-Africana pagavam a crianças por sexo, o então secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse tratar-se de “um cancro no sistema”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Nadia Murad, o seu trabalho também está longe de terminar. Com a derrota do Daesh, a atenção do mundo em relação às escravas sexuais dos extremistas esmoreceu. Porém, milhares de mulheres e crianças yazidis continuam desaparecidas e muitas outras permanecem em campos de refugiados com pouco apoio médico e psicológico. A própria sobrevivência deste povo – uma das minorias religiosas mais antigas a habitar o actual território iraquiano – continua a correr perigo. Quando recebeu o Prémio Sakharov de 2016, em Estrasburgo, Nadia disse que a única solução para preservar o seu povo é a “criação de uma zona de protecção em coordenação com o Governo iraquiano e com o governo autónomo do Curdistão”. Depois de um ano marcado pela sucessão de casos de abusos sexuais e num clima de uma abertura inédita para que sejam denunciados – conhecido como movimento “Me Too” – o comité Nobel fez questão de separar as águas, embora não negue pontos de contacto. “O ‘Me Too’ e os crimes de guerra não são bem a mesma coisa”, afirmou a presidente do comité, Berit Reiss-Andersen, durante a conferência de imprensa. “Mas ambos têm em comum verem o sofrimento das mulheres, os abusos contra as mulheres e que é importante que as mulheres deixem de lado o conceito de vergonha e falem”, acrescentou.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Até onde vai a impunidade dos capacetes azuis acusados de crimes sexuais?
Investigação da Associated Press, centrada numa rede de exploração sexual criada por tropas cingalesas em missão no Haiti, diz que continua impune o antigo secretário-geral da ONU descreveu como "um cancro no sistema" da organização. (...)

Até onde vai a impunidade dos capacetes azuis acusados de crimes sexuais?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.05
DATA: 2017-04-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigação da Associated Press, centrada numa rede de exploração sexual criada por tropas cingalesas em missão no Haiti, diz que continua impune o antigo secretário-geral da ONU descreveu como "um cancro no sistema" da organização.
TEXTO: A pobreza era total e a comida praticamente inexistente para o grupo de crianças que viviam num antigo resort de luxo, onde há 30 anos Mick Jagger ou Jackie Onassis apanhavam sol junto à piscina, mas agora abandonado e reclamado pela selva. Sobreviviam do pouco dinheiro acumulado a pedir nas ruas e dos pedaços de comida que recuperavam dos caixotes de lixo. Até que um contingente de capacetes azuis se mudou para as proximidades. Traziam com eles alimentos e ofereciam-nos às crianças. Muitos, porém, não a ofereciam de forma gratuita. Mais de uma centena de capacetes azuis formaram uma rede de exploração sexual que se prolongou por, pelo menos, três anos. No início de 2016 correu mundo o escândalo que envolveu os capacetes azuis da ONU enviados para a República Centro-Africana, acusados de terem pago para ter sexo com crianças de 13 anos de um campo de refugiados. A notícia voltou a trazer à tona uma questão que o então secretário-geral da ONU, Ban-Ki Moon, classificou como “um cancro no sistema” da organização, a dos casos de violência sexual exercida por tropas de pacificação no exercício das suas funções. Uma investigação publicada esta quarta-feira pela Associated Press é reveladora da vastidão do problema e da impunidade de que gozam os capacetes azuis acusados de tais práticas. O cenário é agora o Haiti onde, entre 2004 e 2016, foram registadas 150 suspeitas de abuso e exploração sexual. Consequências? Dada a protecção conferida às tropas perante a justiça do país onde estão estacionadas e a pouca vontade demonstrada pelos responsáveis dos exércitos e tribunais dos países de origem em investigar e castigar os responsáveis, as consequências são praticamente inexistentes. A rede de exploração sexual referida no primeiro parágrafo foi criada no seio do contingente cingalês estacionado no país caribenho. A investigação da AP, que se deteve nas missões da ONU à volta do mundo nos últimos doze anos, regista duas mil suspeitas de exploração e abuso sexual por parte dos capacetes azuis e outro pessoal. Os acusados são de vários países - Sri Lanka, Brasil, Bangladesh, Nigéria, Jordânia, Paquistão e Uruguai – e, segundo a AP, haverá nacionais de outros países envolvidos, tendo em conta que as Nações Unidas só começaram a revelar essa informação nos seus relatórios em 2015. Os depoimentos recolhidos revelam cenários de total degradação humana e de crime continuado. Uma rapariga haitiana conta que, entre os 12 e os 15 anos, manteve relações sexuais com cerca de 50 soldados cingaleses (um deles, comandante, "gratificou-a" com 75 cêntimos). Quando a rede formada entre os capacetes azuis do Sri-Lanka foi denunciada, a investigação da ONU levou ao seu desmantelamento. Cento e catorze foram enviados de volta para o país de origem, sem que nenhum tivesse sido preso. Casos como este, ou de o do adolescente haitiano violado em grupo por capacetes azuis uruguaios – “foi uma brincadeira que acabou mal”, alegaram, negando as acusações de violação -, ou o da mulher violada aos 16 anos por um soldado brasileiro, que agora transporta a filha do homem que a violou sob ameaça de arma, depois de a atrair com a promessa de lhe dar um pão barrado com manteiga de amendoim, são alvo de toda a atenção de um advogado haitiano, Mario Joseph, que tenta obter compensações para as vítimas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Joseph teve em mãos o caso de um surto de cólera mortífero (terá atingido cerca de dez mil pessoas) ligado a capacetes azuis nepaleses, e ocupa-se agora em conseguir suporte parental para mulheres haitianas que engravidaram após violadas por funcionários da ONU. “Imaginem se as Nações Unidas fossem até aos Estados Unidos e violassem crianças e espalhassem cólera? Os direitos humanos não são apenas para pessoas brancas ricas”, afirmou o advogado à AP na capital haitiana, Port-au-Prince. A missão da ONU no país envolve actualmente um contingente de cinco mil pessoas, entre tropas e outros profissionais. Em Março, o novo secretário-geral, António Guterres anunciou uma luta sem tréguas para acabar com casos como os relatados nesta investigação. “Declaremos a uma só voz: não toleraremos que ninguém cometa ou perdoe a exploração e abuso sexual. Não deixaremos que ninguém cubra estes crimes com a bandeira da ONU”. O novo secretário-geral terá muito trabalho pela frente. A começar pela sistematização da informação recolhida nas investigações levadas a cabo pela própria organização. Num relatório de 2008 eram assinalados 19 casos só no Haiti, mas nas suas contas oficiais a ONU inscreveu apenas dois envolvendo menores no mundo inteiro. Os números totais relatados na investigação são insuportáveis, tendo em conta a natureza e estatuto das missões dos capacetes azuis. E não batem certo. Nada bate certo.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
A guerra de Marie Colvin está nos cinemas para nos obrigar a ver
O filme chama-se Uma Guerra Pessoal. A guerra é a da jornalista que viveu a correr para lugares de onde outros querem fugir – dela e daqueles a quem nunca parou de dar voz. Até ser apanhada por Assad, há seis anos, em Homs. (...)

A guerra de Marie Colvin está nos cinemas para nos obrigar a ver
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O filme chama-se Uma Guerra Pessoal. A guerra é a da jornalista que viveu a correr para lugares de onde outros querem fugir – dela e daqueles a quem nunca parou de dar voz. Até ser apanhada por Assad, há seis anos, em Homs.
TEXTO: Hudheida, com 600 mil pessoas encurraladas num Iémen a morrer. Campos de deslocados no Nordeste da Nigéria, onde aos confrontos entre o Exército e o Boko Haram se juntou a cólera e meningite. Noroeste e Sudoeste dos Camarões, as duas regiões anglófonas do país em que protestos separatistas se transformaram numa guerra que já matou 500 pessoas e obrigou 400 mil a fugirem. Se pudesse, Marie Colvin estaria com grande probabilidade num destes lugares. O Iémen vive a maior crise humanitária do mundo, a guerra étnica nos Camarões é talvez o conflito menos noticiados da actualidade. As três crises arrasam áreas de acesso difícil e de onde os civis têm muita dificuldade em sair. Como acontecia em Fevereiro de 2012 no bairro de Bab al-Amr, em Homs, cercado pelas forças de Bashar al-Assad e debaixo de fogo permanente. “Esta é a realidade. São 28 mil civis, homens, mulheres e criança escondidos e indefesos. Aquele pequeno bebé é uma das duas crianças que morreram hoje […]. Não há alvos militares aqui [. . . ]. É uma mentira absoluta que não estejam a bombardear civis. O Exército sírio está a atacar civis esfomeados e com frio. ” Vemos imagens de um menino de dois anos a morrer depois de ter sido atingido por estilhaços no peito e ouvimos Marie, em directo para a CNN. No testemunho à BBC, a jornalista compara Homs com Srebrenica, lembrando que o mundo disse que “nunca mais seria possível”. Marie fez o que muito poucos tentaram na altura – entrar em Homs. Depois, o que quase ninguém ousou fazer – ficar. Houve uma evacuação do centro de media improvisado onde se encontrava com o fotógrafo Paul Conroy. Paul fez o que pôde para convencer Marie a sair. Há gritos a avisar para um ataque iminente e parece que todos vão embora, a correr pelo mesmo sistema de túneis subterrâneos por onde tinham entrado. Até que Marie pára. “Tenho de voltar ao hospital, conseguir mais imagens. ” Paul diz que ficar é morrer. Ela volta para trás, ele vai com ela. Isto é o que acontece no filme Uma Guerra Pessoal; na realidade, eles chegaram mesmo a sair e foi quando se percebeu que não tinha havido nenhum ataque contra o centro que Marie quis voltar. Paul, o fotógrafo com que trabalhava desde a invasão do Iraque, em 2003, teve “um mau pressentimento” e tentou dissuadi-la. “Vivemos com o medo de um massacre”, é o título do último artigo que enviou para o seu jornal de sempre, o Sunday Times, a 20 de Fevereiro. No filme Uma Guerra Pessoal vemos e ouvimos as vozes das mulheres sírias que Marie cita nesse texto. A reportagem onde ficamos a conhecer Noor, de 20 anos, que conta como perdeu o marido e uma filha e se agarra à pequena Mimi, de três anos, ao mesmo tempo que Mohamed, o filho de cinco, não lhe larga a abaya, foi a última que Marie assinou. “Seria errado chamar a isto guerra. É um cerco medieval e uma chacina”, diria dias depois, em Londres, Paul, sobrevivente do ataque que matou Marie e o fotógrafo francês Rémi Ochlik (28 anos) a 22 de Fevereiro. A nova-iorquina que passou a maior parte da vida em Londres foi exemplo para gerações de jornalistas em diferentes partes do mundo. Ia onde era preciso. Escrevia com todas as letras o que via e ouvir. Marie gostaria de ver mulheres sírias nos ecrãs de cinemas em todo o mundo. São sírias as mulheres que aparecem no filme sobre a sua vida que estreia esta quinta-feira em Portugal. As suas tragédias e lágrimas são verdadeiras, garante o realizador Matthew Heineman, que filmou as cenas de guerra na Jordânia, com refugiados sírios e iraquianos. Afinal, era por causa das pessoas que Marie corria na direcção de onde quase todos fogem – um filme sobre ela que não desse voz às vítimas não lhe faria justiça. Em Homs, contou depois o colega e amigo Bill Neely, da ITV, Marie estava frustrada porque o texto só podia ser lido por assinantes e não podia estar disponível na Internet, e ela “queria que as suas palavras da Síria chegassem à maior audiência possível”. Talvez tenha sido por isso que voltou atrás e insistiu em falar para televisões. Amigos e colegas veteranos jornalistas de conflito passaram muito tempo a questionar-se sobre essa decisão. Marie tinha 56 anos e um problema de alcoolismo alimentado pelo stress pós-traumático que nunca tratou. Talvez tivesse perdido a capacidade para avaliar os riscos. Nunca saberemos. Há o azar e há a teimosia. Marie foi morta por ambos. Ou então por se ter convencido que poderia realmente salvar aquelas pessoas. Marie foi morta por Bashar Al-Assad, que não terá perdoado a crueza da sua descrição. Afinal, Marie não era uma repórter qualquer. Era muito respeitada. Marie foi morta por Assad e pela impunidade que o mundo lhe permitiu. Líbia em revolta contra Muammar Kadhaffi, hotel onde se reúnem os jornalistas: alguns passam a carregar os corpos de outros. “Ele era sempre o primeiro a chegar e o último a sair”, diz Marie. No filme “ele” é Norm Coburn, o amigo fotojornalista. É uma personagem compósita: inspirada em Tim Hetherington, o britânico que morreu ao fotografar a frente de combate em Misurata. “Ele” é um pouco de todos os colegas que Marie viu morrer em 30 anos. “Em Timor ele fez-me uma T-shirt que dizia ‘Sou jornalista, não dispare’. Ele era invencível”, diz uma Marie arrasada a Paul. “Há jornalistas ousados e há jornalistas velhos. Não há jornalistas velhos e ousados”, responde-lhe Paul. “Tu sabes isso. ”Claro que “ele” não era invencível tal como Marie não era imortal. Afinal, “é preciso ser completamente doido varrido” para fazer o que ela fazia, diz-lhe no filme a personagem do editor de Internacional do Sunday Times. Ela estava doente mas não era “doida varrida”. Se fosse não tinha pesadelos nem bebia demasiado nem se questionava sobre o que fazia. Ela era humana, muito humana, como tem de ser alguém que consegue que outros lhe abram o coração e a alma e contem das suas tragédias. Adorava divertir-se, “tinha sentido de humor e uma imensa alegria de viver”, descreveu o seu verdadeiro editor, John Witherow. Faz sentido, é difícil ter-se empatia sem humor. Como é impossível passar num checkpoint de soldados de Saddan Hussein fingindo ser enfermeira e “provando-o” com o cartão do ginásio sem frieza e coragem. E como riem Marie e Paul e Mourad, o tradutor iraquiano que os acompanha, passado o perigo. "Bravura não é ter medo de ter medo”, afirmou um dia Marie. “Eu vejo estas coisas para que tu não tenhas de as ver”, grita a personagem na conversa com o editor. É isso que faz um jornalista que vai a zonas em conflito, vê tudo e depois escolhe o que partilha. Nas palavras de Colvin, a jornalista, não a personagem, “cobrir uma guerra significa ir a sítios devastados pelo caos, pela destruição e pela morte, e tentar ser testemunha”, e, “sim, correr riscos”. Nas palavras da jornalista que abrem e fecham o filme, num depoimento em que lhe perguntam como quer ser lembrada: “Bem, penso que [era bom] olhar para trás e dizer que me preocupei o suficiente para ir a estes lugares e, de alguma forma, escrever algo que possa fazer com que outra pessoa se preocupe tanto como eu na altura”. No caso de Marie, estes “lugares” podiam ser aqueles onde mais ninguém ia. Como em 2001, no Sri Lanka, quando insistiu em entrar no território controlado pela guerrilha dos Tigres Tâmiles, onde não havia ocidentais. Não o fez para cobrir confrontos mas a fome e a doença que aniquilavam os civis tâmiles. Os 48 km que percorreu a pé pela selva para evitar as tropas do Governo não foram suficientes: atingida no rosto, perdeu a visão do olho esquerdo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A pala negra que passou a usar só fez crescer o mito da jornalista guerreira, nunca fanfarrona mas absolutamente determinada. A nova-iorquina (“da parte pobre” de Long Island, diz no filme a Paul) cujo instinto a levava a conseguir histórias que outros não procuraram por não acreditarem ou julgarem que não valia a pena. Marie Colvin foi uma jornalista excepcional. Hoje, teria 62 anos. Com ou sem pala, armada de caderno, caneta, telefone e computador, continuaria certamente a trabalhar. Se não estivesse no Iémen, na Nigéria ou nos Camarões estaria provavelmente a tentar entrar em Idlib, a grande cidade que ainda escapa a Assad e para onde fugiram mais de 1, 5 milhões sírios. “Estas pessoas não têm voz”, disse Marie, anos antes de morrer. “Sinto que tenho uma responsabilidade moral, que seria cobarde ignorá-las. Se os jornalistas têm uma hipótese de salvar as suas vidas devem fazê-lo. ” Muito poucos têm a certeza que o fizeram, como Marie. Foi em 1999, quando decidiu ficar no complexo de Díli onde a ONU ameaçava abandonar 1500 civis aos quais prometera protecção. O resto é uma tentativa permanente de chegar a pessoas suficientes para que alguém, em algum lugar, decida fazer alguma coisa. E sim, isso pode tornar-se numa “guerra pessoal”.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Lampedusa: 25 pessoas encontradas mortas em barco oriundo do norte de África
Guardas costeiros italianos descobriram 25 cadáveres a bordo de um barco de migrantes que tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa, anunciaram as autoridades do porto. (...)

Lampedusa: 25 pessoas encontradas mortas em barco oriundo do norte de África
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2011-08-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Guardas costeiros italianos descobriram 25 cadáveres a bordo de um barco de migrantes que tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa, anunciaram as autoridades do porto.
TEXTO: O barco tinha 271 pessoas vivas a bordo, incluindo 36 mulheres e 21 crianças, que tinham partido da Líbia há três dias, relata a Reuters. Os migrantes viajavam num barco sobrelotado. Os migrantes foram encontrados na casa das máquinas: morreram asfixiados pelo fumo. Os cadáveres foram descobertos quando os passageiros faziam o transbordo para um navio da guarda-costeira italiana. Milhares de pessoas fogem actualmente da Líbia e os barcos que os migrantes africanos usam para fazer a travessia para a Europa são de fraca qualidade. A viagem de barco da costa norte de África até à ilha de Lampedusa dura cerca de dois dias. A agência das Nações Unidas para os refugiados estima que um em cada dez migrantes que fogem do conflito na Líbia arrisca morrer afogado ou de fome e exaustão durante a travessia.
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Palavras-chave fome mulheres
Shulamit
Não minimizo o sofrimento da população de Gaza, mas qualquer analogia com o genocídio nazi tem apenas um nome: anti-semitismo. (...)

Shulamit
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0
DATA: 2014-07-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140724155447/http://www.publico.pt/mundo/noticia/shulamit-1663853
SUMÁRIO: Não minimizo o sofrimento da população de Gaza, mas qualquer analogia com o genocídio nazi tem apenas um nome: anti-semitismo.
TEXTO: Shulamit (nome fictício) é mãe de três filhos. Vive no Sul de Israel, não muito longe da Faixa de Gaza. Há muito que o seu dia-a-dia deixou de ser determinado pelo seu horário de trabalho ou pela campainha da escola dos filhos. O que marca os seus dias é o som das sirenes. As sirenes que a obrigam a correr com os filhos até ao abrigo mais próximo, interrompendo, ao longo do dia e da noite, qualquer tipo de actividade ou descanso. Há anos que é assim: escolas com funcionamento intermitente, actividade económica constantemente interrompida, crianças traumatizadas pelo estrondo dos mísseis vindos de Gaza espalhando o pânico, vidas bloqueadas pelo medo. Mas Shulamit e a sua família continuam vivas. Milagre? Precaução por parte do Governo de Gaza, liderado pelo Hamas? Todos sabemos a resposta: não morrem mais civis em Israel devido exclusivamente ao esforço do Estado judaico na protecção dos seus cidadãos. Todas as casas, todos os prédios, todas as aldeias, vilas e cidades têm abrigos individuais e colectivos. Mas isso não seria suficiente sem o sofisticado antimíssil desenvolvido por Israel que intercepta e faz explodir no ar os mísseis e rockets inimigos. Sem este sistema de defesa, cujo sucesso ronda os 85%, seria incalculável o número de mortes causadas pelos cerca de 2 mil mísseis lançados apenas nestes últimos 15 dias pelo Hamas. Mas, para as boas almas, quem não morre é sempre culpado. Não lhes ocorre perguntar por que motivo os túneis que percorrem toda a Faixa de Gaza, e nos quais o Hamas gasta os milhões que recebe dos seus amigos árabes, servem não para a protecção da sua população mas para abrigar os lança-rockets ou para tentar infiltrar os seus militantes até território israelita para cometerem atentados terroristas. Ainda hoje, segunda-feira, dia em que escrevo, foram descobertas várias dezenas de túneis que penetram em território israelita, um dos quais terminava no subsolo do refeitório de um kibutz. Não ocorre a essas almas de consciência tranquila perguntar por que motivo o Hamas enterra as suas instalações militares em casas, em hospitais, em escolas – como recentemente foi denunciado pela UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinianos. Não lhes ocorre perguntar por que razão desde 2005, data em que Israel evacuou Gaza, em vez de se dedicarem a construir uma vida para os seus cidadãos, consagram todos os seus esforços e dinheiro a tentar destruir a dos israelitas. Mas talvez a própria população de Gaza se coloque ela própria essas questões: um inquérito feito a palestinianos de Gaza e da Cisjordânia pelo Washington Institute for Near East Policy, e cujos resultados foram publicados pelo jornal israelita Haaretz de 30 de Junho, revelava que, entre os palestinianos dos dois territórios, e principalmente entre os de Gaza, Mahmoud Abbas era muito mais popular do que Ismail Haniyeh, líder de Gaza; o primeiro com 32, 4% de apoio, o segundo apenas com 11, 7%. O mesmo inquérito revelava também que a grande maioria da população de ambos os territórios era a favor de uma “resistência popular” – manifestações e greves – em vez da utilização da violência, da qual é a primeira e principal vítima. Porque é disso que se trata. Não tenho a menor dúvida em reconhecer que, neste conflito sem fim, a população de Gaza é a principal vítima. Que a morte de civis, e sobretudo das crianças, é insuportável. Mas é preciso dizer com toda a clareza que os civis de Gaza são vítimas em primeiro lugar do Hamas, que os expõe, utiliza e instrumentaliza, certo como está de que são os números e as imagens de morte e destruição que impressionam as mentes compassivas ocidentais – embora, reconheça-se, de forma algo selectiva, porque já a mesma compaixão deixa um pouco a desejar quando se trata de sírios, iraquianos, cristãos massacrados ou meninas africanas e indianas violadas…“Holocausto”, “genocídio”, “limpeza étnica”, “racismo” e “apartheid”, as acusações a Israel são fáceis e sem custo para quem o preconceito, o ódio e a ignorância deliberada comandam a vida. E não, senhor embaixador Fernando Neves, não há nenhuma similitude entre a realidade do Holocausto nazi e a de Gaza e qualquer analogia, seja ela qual for, é abusiva e insustentável. A diferença essencial não está apenas nas imagens, nos olhares, nem sequer nos números: está na intenção dos seus autores. E essa não é apenas uma diferença, é um abismo intransponível. Será ainda necessário repetir que o plano nazi era o de eliminar um povo da face da terra, na sua totalidade, enquanto o objectivo de Israel é eliminar, não a população palestiniana, mas sim a infra-estrutura militar inimiga? E, quer queiramos quer não, apesar das trágicas perdas de vida humanas em Gaza, as consequências práticas são radicalmente diferentes: basta lembrar que o povo judeu foi amputado de 2/3 da sua população europeia. Felizmente, é o contrário que se passa com a população palestiniana.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Angélique Kidjo veio a Sines dar uma lição de vida, Gisela João mostrou a que soa uma história
Angélique, Fatoumata e Gisela: foi o no feminino que se despediu mais uma edição do Festival Músicas do Mundo que deixará saudades. Balkan Beat Box e Mohamad Reza Mortazavi asseguraram o resto da festa. (...)

Angélique Kidjo veio a Sines dar uma lição de vida, Gisela João mostrou a que soa uma história
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Angélique, Fatoumata e Gisela: foi o no feminino que se despediu mais uma edição do Festival Músicas do Mundo que deixará saudades. Balkan Beat Box e Mohamad Reza Mortazavi asseguraram o resto da festa.
TEXTO: Era quase matemático: num momento em que a situação na Faixa de Gaza se tornou (uma vez mais) dramaticamente incontrolável, não custava adivinhar que despontaria entre o público do Festival Músicas do Mundo (FMM) qualquer forma de protesto perante a banda israelo-americana Balkan Beat Box. Não foi preciso esperar muito para se levantarem nas primeiras filas da derradeira noite do FMM no Castelo de Sines uma bandeira da Palestina e mensagens como “Gaza Resist, Stop the Genocide” viradas para os músicos. A resposta, vinda do palco, foi a esperada: antes de uma canção intitulada War Again, Tomer Yosef, vocalista do grupo, usou da palavra para condenar o conflito e pedir ao público que se lhe juntasse a gritar pela paz na Palestina e em Israel. Simples, eficaz, sem se implicar em declarações sobre colonatos, muros, reconhecimento de Estados ou Jerusalém, e uma forma de varrer do caminho o incómodo em que o festim preparado pelos Balkan Beat Box poderia tropeçar. O que era espectáculo, espectáculo continuou. A partir daí, e embalado desde logo pelo habitual fogo-de-artifício final que abençoou a sua entrada em palco, o colectivo reunido em Nova Iorque apresentou um concerto pensado ao milímetro para não dar descanso a um público sedento de festa. A fórmula, aliás, é infalível: saxofones que se socorrem das tradicionais bandas de metais europeias e da música klezmer para dar corda a um carrossel que nunca abranda, sugando para o seu interior rítmicas hip hop, rap avulso, uma energia rock e umas chispas de punk. O fogo-de-artifício fica-lhes bem: é música de excesso e espectacularidade. O movimento contrário, de querer trazer a política para o palco, coube a Angélique Kidjo, naquele que foi o concerto mais emotivo da noite – ombreando com Fatoumata Diawara e Roberto Fonseca. Kidjo quer falar do mundo. E quer falar das mulheres no mundo – daquelas que não se sentam à mesa de negociações pela paz ou pela reconstrução dos países, daquelas que em África não parecem “cabides” – palavras dela: “Venham a África ver mulheres que se parecem com mulheres reais”. E quer falar de não deixar morrer as democracias cada vez mais vergadas e mantidas sob a trela da finança, e de como devemos celebrar as diferenças e não entendê-las como ameaças. Como leva o seu próprio discurso à letra, dá ordem de soltura à banda que trata por igual o cardápio de ritmos tradicionais africanos, o funk e a soul, e desce até ao público, abraçando e deixando-se beijar por quem encontra pela frente, sem deixar de projectar uma voz que juraríamos não ter fim nem precisar de microfone, abastecida pela mesma energia sem-fim com que a vemos rodopiar, cantar e dançar do início ao fim do concerto. Pouco depois, pede homens e (sobretudo) mulheres no palco para dançarem a sua música. E tudo se concentra e revela neste momento que, não sendo de absoluta originalidade, em Angélique Kidjo é fácil de perceber querer dizer isto: uma recriação de África em palco, do espírito resiliente que enaltece nas mulheres do seu continente, uma vitória da celebração e da vida sobre a mesquinhez e a podridão de uma humanidade promotora de desigualdades e subjugações várias, uma lição de como na comunhão e na festa há um sentido para a passagem pelo planeta e para a superação dos tropeções diários, uma proposta de ritual a replicar cada adversidade. Entre os temas, Kidjo vai reforçando o seu discurso pela igualdade, marcadamente feminista mas muito além disso, logo seguindo para cantar a sua heroína Miriam Makeba (Pata Pata – “nem vou anunciar esta canção porque se não a conhecerem é porque não vivem no planeta Terra”, avisa) e Cesária Évora (Sodade) e despede-se com a música da sua aldeia no Benim refeita pelo funk. Todo um banho de humanidade. As histórias de Fatoumata e GiselaImediatamente antes, a cantora maliana Fatoumata Diawara e o pianista cubano Roberto Fonseca (ela trouxe as cordas, ele a secção rítmica) voltariam a desenhar o encontro inicialmente previsto entre músicos dos dois países no disco que ficou conhecido por Buena Vista Social Club (a participação dos malianos seria boicotada pelo atraso na obtenção dos vistos). Menos explosiva e telúrica do que Kidjo, Fatoumata é um prodígio de elegância musical, uma voz que encanta sem esforço e que casa sem atrito com a linguagem de jazz latino capitaneada por Fonseca. Ele, teclando-lhe camas sonoras de um Gershwin filtrado por Tom Waits oferece-lhe, por exemplo, a possibilidade de se fingir Ella Fitzgerald. É um concerto em que manda a beleza, infiltrada por dedicatórias a Nelson Mandela e às crianças refugiadas a quem a normalidade é sonegada, ou histórias sobre clandestinidade.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens social igualdade mulheres feminista cantora
Chade: população manifesta-se contra tráfico de menores
Centenas de pessoas manifestaram-se hoje em Abeche, no Leste do Chade, contra o tráfico de crianças, numa altura em que 16 europeus continuam detidos na cidade, acusados de sequestro de menores. “Não ao comércio de escravos! Não ao tráfico de crianças!”, gritavam os manifestantes, na sua maioria mulheres, concentrados durante várias horas junto ao edifício do governador. Segunda-feira, o Ministério Público de Abeche acusou de sequestro e fraude nove cidadãos franceses, três jornalistas e seis trabalhadores da associação humanitária Arca de Zoe, que pretendia transportar para fora do país 103 crianças, alegadament... (etc.)

Chade: população manifesta-se contra tráfico de menores
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2007-10-31 | Jornal Público
TEXTO: Centenas de pessoas manifestaram-se hoje em Abeche, no Leste do Chade, contra o tráfico de crianças, numa altura em que 16 europeus continuam detidos na cidade, acusados de sequestro de menores. “Não ao comércio de escravos! Não ao tráfico de crianças!”, gritavam os manifestantes, na sua maioria mulheres, concentrados durante várias horas junto ao edifício do governador. Segunda-feira, o Ministério Público de Abeche acusou de sequestro e fraude nove cidadãos franceses, três jornalistas e seis trabalhadores da associação humanitária Arca de Zoe, que pretendia transportar para fora do país 103 crianças, alegadamente órfãos de guerra na vizinha província de Darfur. Os sete tripulantes do avião fretado para fazer a viagem e dois polícias locais foram acusados de cumplicidade e permanecem detidos na cidade à espera de transferência para N’Djema. A missão não seguiu os procedimentos habituais e as autoridades acusam a associação de pretender vender as crianças para adopção ou mesmo para redes de pedofilia. Paris, que se apressou a condenar a forma como a Arca de Zoe agiu, diz não existirem provas que confirmem estas suspeitas, mas admite que os seus cidadãos deverão responder pelos seus actos. “Não podemos aceitar estas barbaridades e este vandalismo. Seja no século VIII ou no século XX não podemos aceitar este tipo de actos em África, gritava um manifestante, esta manhã, em Abeche, enquanto outros exigiam que o julgamento tenha lugar na cidade e não na capital ou em França. Vários manifestantes responsabilizam o Governo francês pelo sequestro dos menores e foi necessário o governador Touka Ramadan sair ao seu encontro para garantir que Paria “nada teve a ver” com as acções da Arca de Noé. “O Governo francês e o Governo do Chade estão solidários neste caso”, garantiu, atribuindo toda responsabilidade “aos membros da Children Rescue [o nome da operação montada pela Arca de Zoe] e os seus cúmplices”. Se dificilmente este caso terá consequências no relacionamento próximo entre França e a sua antiga colónia africana, admite-se que possa prejudicar a acção de outras organizações humanitárias a trabalhar nos campos de refugiados na zona de fronteira junto a Darfur. O incidente surgiu também numa altura em que se aguarda a chegada de uma força de manutenção de paz europeia para a zona fronteiriça, que deverá contar com 1500 soldados franceses.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra mulheres humanitária
Naufrágio de navio com imigrantes faz mais de 130 mortos em Itália
Embarcação com 500 pessoas afundou-se perto de Lampedusa. Governo italiano quer resposta da União Europeia a este fluxo de pessoas. (...)

Naufrágio de navio com imigrantes faz mais de 130 mortos em Itália
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 18 | Sentimento 0.5
DATA: 2013-10-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Embarcação com 500 pessoas afundou-se perto de Lampedusa. Governo italiano quer resposta da União Europeia a este fluxo de pessoas.
TEXTO: Mais de 130 imigrantes, entre eles três dezenas de crianças, morreram no naufrágio de um navio que transportava quase 500 pessoas e se incendiou, na madrugada desta quinta-feira, perto de Lampedusa, na Sicília, Sul de Itália. O número de vítimas está a subir de hora a hora. "Há 250 desaparecidos", disse, a meio da manhã, fonte das entidades envolvidas nos socorros, citada pela edição digital do La Repubblica. Entretanto foram resgatos do mar 40 corpos. "O mar está cheio de corpos", afirmou a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini. "É horrível, é como um cemitério, continuam a trazê-los", disse aos jornalistas. As primeiras informações indicam que a maioria dos passageiros que seguiam na embarcação era de origem africana, muitos somalis e eritreus. O gabinete do alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados informou depois que serão, na sua maioria, eritreus, provenientes da Líbia. O naufrágio terá sido provocado por um incêndio a bordo. Informações da polícia indicam que passageiros do navio terão pegado fogo a cobertores para assinalarem a sua presença a navios de mercadorias que navegavam na área e que as chamas se terão descontrolado. O alarme foi dado por um pesqueiro que salvou cerca de 60 pessoas. Quatro navios da guarda costeira e da polícia e dois helicópteros continuam as buscas. Foram já resgatadas com vida pelo menos 151 pessoas. O Papa Francisco já reagiu a mais esta tragédia, através de uma mensagem no Twitter: "Rezamos a Deus pelas vítimas do trágico do naufrágio ao largo de Lampedusa. " Mais tarde, após um discurso em que evocou a encíclica papal Pacem in Terris, de João XXIII, escrita em 1963, voltou ao assunto: "A palavra que me vem à cabeça é vergonha. É uma vergonha. "A primeira visita pastoral do actual Papa foi precisamente a Lampedusa, onde, no início de Julho, denunciou a indiferença pela morte de imigrantes. O vice-primeiro-ministro italiano, Angelino Alfano, lançou um apelo à União Europeia para que ajude a Itália. Este é "um drama europeu, não apenas italiano", disse. No mesmo sentido, mas de modo mais acutilante, o Presidente italiano, Giorgio Napolitano, defendeu a intervenção europeia para parar com esta "sucessão de massacres de pessoas inocentes". "Estamos diante de mais um desastre de inocentes, talvez o mais arrebatador. Não podemos ficar às voltas em torno da discussão sobre a necessidade absoluta da comunidade internacional, e principalmente da União Europeia, de adotar medidas para evitar estes acidentes", disse Napolitano. Segundo o presidente, é "indispensável reprimir o tráfico criminoso de seres humanos através de uma cooperação com os países de proveniência e com os que solicitam asilo". "Não é o momento de acusar ninguém mas de dizer aos países da União Europeia que façam a sua parte", disse a ministra italiana da Integração, Cecile Kyenge, acrescentando que no segundo semestre de 2014 a Itália terá a presidência da União e porá a imigração na agenda. Já houve contactos com outros países, nomeadamente a Grécia e o Luxemburgo, para se debater a chegada de imigrantes à Europa (e em concreto a Lampedusa, onde há milhares de pessoas num campo de imigrantes e refugiados) e encontrar medidas para "intervir, ao abrigo dos acordos europeus, com a noção de que a nossa costa é a porta de entrada na Europa". Na segunda-feira, 13 outros imigrantes, maioritariamente eritreus, morreram afogados quando tentavam alcançar a costa depois de terem saltado, ou sido atirados, da embarcação em que seguiam, que transportava cerca de 200 imigrantes e refugiados, a ocidente da Sicília. Nesta altura do ano, navios com imigrantes e refugiados provenientes do Norte de África, mas também do Médio Oriente - muitos a fugirem à guerra na Síria - procuram diariamente chegar à Europa através da ilha de Lampedusa, que fica a apenas 113 quilómetros da costa da Tunísia. São frequentes os naufrágios de navios sobrelotados, sem condições de navegação seguras. Segundo as Nações Unidas, em 2012, quase 500 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas no mar, quando tentavam chegar à Europa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra humanos imigração campo comunidade vergonha
Erros em catadupa deixaram dezenas de imigrantes ilegais a morrer no mar
Uma série de falhanços cometidos por barcos da NATO, navios comerciais e várias guardas-costeiras europeias conduziram à morte de dezenas de pessoas, deixadas à deriva no mar Mediterrâneo enquanto tentavam imigrar clandestinamente, denuncia um relatório hoje divulgado pelo Conselho da Europa. (...)

Erros em catadupa deixaram dezenas de imigrantes ilegais a morrer no mar
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 16 | Sentimento -0.25
DATA: 2012-03-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma série de falhanços cometidos por barcos da NATO, navios comerciais e várias guardas-costeiras europeias conduziram à morte de dezenas de pessoas, deixadas à deriva no mar Mediterrâneo enquanto tentavam imigrar clandestinamente, denuncia um relatório hoje divulgado pelo Conselho da Europa.
TEXTO: O inquérito – que se focou no desastre de um barco oriundo de Trípoli em Março passado, com 72 africanos a bordo – concluiu, ao fim de nove meses de investigações, que vários erros humanos e institucionais se amontoaram, conduzindo a que a embarcação de refugiados, com destino à ilha italiana de Lampedusa, fosse deixada à deriva sem nenhuma resposta dada durante 16 dias aos seus pedidos por ajuda. Apenas nove pessoas sobreviveram. O autor do documento, o sueco Tineke Strik, descreveu o acidente como “um dia negro para a Europa”, tendo exposto o que definiu como “diferentes padrões no julgamento do valor da vida humana” – reiterando aqui as críticas já antes feitas pelo presidente da assembleia parlamentar do Conselho Europeu (organismo que tutela o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos), Mevlüt Çavusoglu, o qual condenou as autoridades transatlânticas por os imigrantes clandestinos terem sido “deixados a morrer”. “Podemos falar tanto quanto quisermos sobre direitos humanos e a importância de cumprir as obrigações internacionais, mas se ao mesmo tempo deixarmos pessoas a morrer – talvez porque não sabemos quem são ou porque vêm de África – tal revela o quão insignificantes são essas palavras”, criticou aquele responsável do Conselho Europeu, citado pelo diário britânico The Guardian. Segundo o inquérito foram cometidos erros por barcos militares e comerciais que navegam na área em que se encontrava a embarcação de refugiados. O documento denuncia também falhas por parte das guardas costeiras que receberam os pedidos de ajuda assim como “uma total confusão sobre quais eram as autoridades responsáveis para pôr em execução uma operação de salvamento”. Tudo isto, é argumentado no relatório, “expõe a falta de planeamento a longo prazo pelas Nações Unidas, pela NATO e países europeus sobre o inevitável aumento de refugiados a abandonarem o Norte de África, durante a intervenção militar internacional na Líbia”, que levou à queda do regime de Muammar Khadafi.
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO
UE dá razão a França por ter travado comboio italiano com imigrantes de África
A comissária europeia do Interior deu hoje razão a França por ontem ter fechado as suas fronteiras ao tráfego ferroviário para evitar a entrada no seu território de imigrantes procedentes do norte de África. De acordo com a Comissão Europeia, Paris tem “o direito” de fechar temporariamente a sua fronteira com Itália. (...)

UE dá razão a França por ter travado comboio italiano com imigrantes de África
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A comissária europeia do Interior deu hoje razão a França por ontem ter fechado as suas fronteiras ao tráfego ferroviário para evitar a entrada no seu território de imigrantes procedentes do norte de África. De acordo com a Comissão Europeia, Paris tem “o direito” de fechar temporariamente a sua fronteira com Itália.
TEXTO: A comissária do Interior, Cecilia Malmström, deu hoje aval à decisão francesa dizendo: “Recebemos hoje de manhã uma carta das autoridades francesas que nos explicam que [o corte do tráfego] se deveu a uma questão de ordem pública, que foi uma interrupção temporária e única e que agora o tráfego circula normalmente”. De acordo com esta informação - acrescentou a comissária - as autoridades não violaram a abertura do espaço Schengen. A França bloqueou ontem temporariamente a entrada de comboios provenientes de Itália, através da localidade de Mentone, na fronteira entre os dois países. O objectivo é impedir a entrada de imigrantes. Poucas horas depois, França voltou atrás na sua decisão para evitar incidentes por causa de uma manifestação espontânea e não autorizada na estação de Mentone. A decisão inicial francesa enfureceu as autoridades italianas que, desde que começou a onda de revoltas no mundo árabe, tem-se visto a braços com milhares de refugiados e de imigrantes africanos que chegam às suas costas, especialmente à ilha de Lampedusa. A concessão de permissões de residência temporárias foi a única forma encontrada pela Itália para dar resposta ao grande fluxo migratório vindo do Norte de África, mas a medida não foi aceite de bom grado por alguns membros da UE, nomeadamente França e Alemanha. Malmström adiantou ainda que o Executivo comunitário “está a acompanhar de perto” a situação e já pediu a Paris e Roma que dialoguem para resolver a sua disputa. Roma acusa o parceiro europeu de falta de solidariedade e ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Franco Frattini, instou o seu embaixador em Paris a expressar o seu “firme protesto” pelo sucedido. Numa entrevista ao diário italiano “La Repubblica”, Frattini declarou “surpreendente” o encerramento de Ventimiglia e exigiu a Paris que aclare as coisas. “Se a situação continuasse, seria melhor assumir-se que se passa a página da livre circulação, que é um dos fundamentos da União Europeia. Mas estamos convencidos que França vai esclarecer tudo”, disse o governante. Falando sobre a polémica, o ministro do interior francês, Claude Guéant, declarou que Paris “não deseja” nenhuma espécie de tensão com Itália e que o fecho temporário de Ventimiglia se ajusta aos acordos de Schengen. O governante acrescentou, porém, que os imigrantes deverão dispor de recursos suficientes para pagar a sua estadia num segundo país [neste caso França] e regressar a casa e que, se não os tiverem, poderão ser reconduzidos ao país de entrada, neste caso Itália.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE