Nem a tristeza sul-africana pára a festa no Gugulethu
São eles e uma bola num cemitério. Indiferentes à pobreza que os rodeia, aos cheiros intensos e aos jazigos ali ao lado, os miúdos do Gugulethu jogam à bola. (...)

Nem a tristeza sul-africana pára a festa no Gugulethu
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: São eles e uma bola num cemitério. Indiferentes à pobreza que os rodeia, aos cheiros intensos e aos jazigos ali ao lado, os miúdos do Gugulethu jogam à bola.
TEXTO: Não querem saber dos jogos Inglaterra-Eslovénia e Estados Unidos-Argélia, que decorrem àquela hora. "Prefiro jogar a ver os jogos", diz ao PÚBLICO Yanga, de 17 anos, o porta-voz dos rapazes que neste fim de tarde jogam no caminho lateral do enorme cemitério de Gugulethu, uma township (bairro pobre), a 20 quilómetros da Cidade do Cabo. Durante o regime do apartheid, os negros não podiam viver na cidade e foram confinados a townships, onde hoje se acumulam barracas de lata, casas modestas, lixo e muitas bancas de venda de fruta. No Gugulethu (que significa "o nosso orgulho", em xhosa), há água e electricidade. As portas entreabertas de algumas casas deixam perceber que há televisões sintonizadas nos jogos de futebol. Não é, pois, por falta de TV que os miúdos preferem estar a jogar do que a ver o Mundial. É mesmo por puro gozo, embora saibam muito bem o que se tem passado no campeonato. "Os 'Bafana bafana' foram eliminados e agora torço pela Argentina", diz Yanga, que gosta de Messi e Tévez, dois jogadores que também já foram meninos num bairro pobre da Argentina. Ao lado da pobreza e dos miúdos, o Gugulethu também tem sítios para turista ver. Como um bar transformado em atracção turística. As grades separam a rua do espaço da clientela. Os seguranças estão à porta e lá dentro há mais estrangeiros do que sul-africanos, embora todos concentrados nas mesmas coisas: a cerveja, o churrasco e os modernos ecrãs de televisão em que passam os jogos. Mbyelo, Xolisa e Themz são três amigos sul-africanos. Estão sentados com um pack de cervejas à frente e já decidiram quem apoiam, agora que a África do Sul foi eliminada. Mbyelo, de 22 anos, prefere o Brasil. "Foram campeões cinco vezes e têm os melhores jogadores do mundo", diz este funcionário do aeroporto, que ontem trocou a camisola dos "Bafana bafana" pela dos Orlando Pirates, o clube do coração. Xolisa, um estudante de 30 anos, vai torcer pela Argentina e Themz, de 38, apoia o Gana, enquanto a equipa africana estiver em prova, e depois vira-se para a Espanha, porque joga "bonito". Os sul-africanos ainda estão a digerir a eliminação dos "Bafana bafana", embora se sintam orgulhosos da sua equipa. "Caíram com dignidade", diz Xolisa, repetindo as manchetes dos jornais sul-africanos de ontem. Mas nem só a África do Sul está fora do Mundial. O primeiro campeonato do mundo em solo africano está a ser uma desilusão para as equipas do continente: das seis que iniciaram a prova, apenas o Gana se qualificou para os oitavos-de-final e a Costa do Marfim tem poucas hipóteses. "Os jogadores jogam individualmente e querem brilhar. E as equipas trocam muito de treinador", diz Mbyelo, numa análise igual à de Roger Milla, antigo jogador camaronês, que ontem criticou a falta de disciplina e preparação das selecções africanas. Mesmo sem África do Sul e quase sem equipas africanas, o Mundial não acabou. Os sul-africanos já estão a escolher novas selecções e garantem que apoiam o Mundial até ao final. "É o nosso sonho", sublinha Themz. "A festa continua até ao fim. "
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
“Não se pode defender apenas algumas igualdades”, pedem as feministas negras
Ainda “estamos na fase da infância” do feminismo negro em Portugal, mas há um novo contributo de peso. O Inmune, o Instituto da Mulher Negra, nasce da vontade de várias mulheres de tomar a palavra na produção de conhecimento, sem deixar de fora a acção comunitária. (...)

“Não se pode defender apenas algumas igualdades”, pedem as feministas negras
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 Homossexuais Pontuação: 11 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ainda “estamos na fase da infância” do feminismo negro em Portugal, mas há um novo contributo de peso. O Inmune, o Instituto da Mulher Negra, nasce da vontade de várias mulheres de tomar a palavra na produção de conhecimento, sem deixar de fora a acção comunitária.
TEXTO: “Somos uma entidade feminista interseccional e somos uma entidade anti-racista. Isto é o que nos une e o que nos caracteriza”, descreve Joacine Katar Moreira, presidente — ou “presidenta”, como pede para ser tratada — do recém-criado Inmune, o Instituto da Mulher Negra em Portugal. “O facto de sermos o instituto da mulher negra não significa que todas as nossas preocupações tenham que ver especificamente com questões do racismo e do sexismo. Não se pode defender apenas algumas igualdades”, defende a investigadora do ISCTE, sublinhando a importância de olhar para outras formas de discriminação — que atingem as mulheres negras e não só —, como o preconceito contra pessoas LGBT, pessoas com deficiência e as desigualdades económicas estruturais. “Temos que ser educados para ouvir. ”Actualmente, o núcleo duro do Inmune é composto por 27 fundadoras, às quais se juntam outras associadas. Estão distribuídas por oito departamentos — da ciência ao queer, da cultura à infância —, tantos como as áreas em que cada uma sente que pode contribuir para melhor conhecer e apoiar outras mulheres negras em Portugal. São académicas, artistas, designers ou técnicas de serviço social; há portuguesas e de outras origens, muitas residentes em Lisboa mas também de outras regiões e até emigradas. A designação de “instituto” não é meramente estética. Além da intervenção comunitária, há na sua missão uma componente de reflexão, uma aposta na produção de conhecimento sobre as vivências das mulheres negras na sua diversidade. Educação, acesso à saúde, ao emprego, habitação, universidades, justiça — são várias as áreas em que têm encontrado discriminação e invisibilização, ou seja, o não reconhecimento e aceitação da sua presença. São muitas vezes olhadas com surpresa quando mostram outras faces além destas duas dimensões da sua identidade — mulheres e negras. “Retiram ao sujeito negro o lugar de multiplicidade”, lamenta a designer Neusa Trovoada, do departamento de comunicação da Inmune. “É como se só pudéssemos ser uma coisa, e quando somos diversas coisas, as pessoas espantam-se. ”Neusa Trovoada, 45 anos, é natural de Angola e vive em Portugal desde os sete anos, com uma passagem por Inglaterra. Numa voz doce que não denuncia a idade, fala sobre a solidão que pautou o seu percurso, em espaços como a universidade ou o mercado de trabalho qualificado, e sorri ao recordar os momentos de encontro que lhe mostravam que não era a única. Contudo, olha para raparigas mais novas na família e vê que pouco mudou nas suas vivências. É isto que a motiva a abraçar a militância — para provocar o abanão necessário para que as coisas mudem. Joacine Katar Moreira reconhece que ainda “estamos na fase da infância” do feminismo negro em Portugal, sublinhando a importância do florescimento de novos colectivos que possam trazer perspectivas diferentes. “As mulheres negras são diversas, quantas mais associações, melhor. ” Vários contributos chegam através do activismo e do conhecimento que é produzido em outros países, como o Brasil — uma das inspirações do Inmune é o Geledés, o Instituto da Mulher Negra brasileiro —, mas “é necessário que haja um enquadramento, uma readaptação”. E mais estudos sobre as características deste cruzamento entre racismo, sexismo e outras discriminações na vida das mulheres negras em Portugal. Outro contributo que o Inmune pretende dar é repensar a forma como olhamos para o mundo. Uma das ideias para o próximo ano é criar um manual de comunicação inclusiva, para reflectir sobre a linguagem “masculina e colonizada”, das palavras aos conceitos — porque não são apenas as palavras que importam, mas as ideias que nos levam a escolhê-las. Joacine Moreira recorda o momento em que decidiu reivindicar a palavra “presidenta”, a exemplo de Pilar Del Rio, que sugeria que este feminino não existia porque não era um cargo ocupado por mulheres. É preciso também olhar de outra forma, afirma a investigadora, para a História. Nos tempos da escola, estranhava a narrativa de que as pessoas negras tinham sido docilmente escravizadas. E, de facto, não o foram, mas “há uma omissão da resistência”. Um apagamento que vai desde as revoltas dos povos africanos até ao presente, ao não reconhecimento das resistências quotidianas de muitas mulheres. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É precisamente com o objectivo de repensar alguns conceitos que surgem as “Conversas às escuras”, reuniões regulares que não se querem “um encontro de egos, mas um encontro de almas”. A primeira conversa aconteceu no sábado e juntou a “presidenta” da Inmune e a investigadora Inocência Mata, da Universidade de Lisboa. Joacine Moreira explica que “normalmente o obscuro, o oculto, o sombrio, estão associados ao mistério, mas igualmente a algo negativo, algo que, mesmo existindo, não pode ser reconhecido”. “Qual é o problema em ser uma ovelha negra?”, brinca a investigadora. É preciso, portanto, retirar a carga negativa a estas expressões — uma reconceptualização que não é de agora, bebendo, por exemplo, do movimento francês que se apropriou do conceito de negritude. Por vezes, diz, também é preciso “transformar as palavras em expressões revolucionárias”. Não tem medo de que a ideia seja considerada radical? Joacine Katar Moreira ri-se calorosamente, acolhendo a palavra. “A evolução nunca se fez com os conformados e os conservadores. Se não houvesse pessoas radicais, não haveria liberdade. ”Notícia actualizada às 13h15
REFERÊNCIAS:
O caos chegou a Baltimore, onde a indignação se juntou à pobreza
Grupos de jovens queimam e pilham lojas, numa reacção violenta à morte de mais um negro num incidente com a polícia. (...)

O caos chegou a Baltimore, onde a indignação se juntou à pobreza
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501195620/http://www.publico.pt/1693916
SUMÁRIO: Grupos de jovens queimam e pilham lojas, numa reacção violenta à morte de mais um negro num incidente com a polícia.
TEXTO: A cidade norte-americana de Baltimore acordou esta terça-feira em estado de sítio, com as ruas patrulhadas por milhares de polícias e membros da Guarda Nacional, e debaixo de um recolher obrigatório que vai limitar os movimentos dos seus mais de 600. 000 habitantes durante uma semana. A declaração do estado de emergência foi a resposta do governador do Maryland e da mayor de Baltimore a uma noite de extrema violência a apenas 60 quilómetros da capital, Washington D. C. , numa onda de protestos marcada pela morte de mais um jovem negro após um incidente com a polícia, mas que explodiu em actos de vandalismo e pilhagens com mais causas do que as que cabem em mensagens emotivas disparadas nas redes sociais, e também em notícias dos jornais e das televisões. O pano de fundo foi a morte de Freddie Gray, um jovem negro de 25 anos detido pela polícia no dia 12 de Abril no bairro de Sandtown, um dos mais problemáticos da zona Oeste de Baltimore, onde a pobreza quase faz esquecer que ali viveram estrelas do jazz como Billie Holiday e Cab Calloway. Nesse dia, precisamente às 8h39 da manhã, Gray trocou um olhar com um agente da polícia de Baltimore durante um momento e tomou a decisão de fugir na direcção contrária, à medida que se aproximavam outros três agentes, montados em bicicletas. O que se passou depois está ainda a ser investigado, e a versão dos polícias envolvidos não é contrariada pelas poucas imagens captadas no local, por câmaras de telemóveis e por uma câmara de vigilância – Gray foi detido sem oferecer resistência, arrastado para uma carrinha da polícia aos gritos e a pedir ajuda, enquanto uma testemunha chamava a atenção dos agentes para o estado de uma das pernas do jovem. Apesar de nenhum vídeo revelar o que aconteceu momentos antes de Gray ter sido arrastado para a carrinha, uma testemunha identificada como Tobias Sellers disse ao jornal The Baltimore Sun que os seis agentes envolvidos "tiraram os bastões e bateram-lhe". Pouco se sabe sobre o que aconteceu na viagem de meia hora entre aquela esquina no bairro de Sandtown e a esquadra da polícia, a não ser que a carrinha fez duas paragens até chegar ao destino, e que os agentes dizem ter amarrado os pés de Freddy Gray devido ao seu estado "irado". A primeira vez que o jovem foi observado por um médico foi já na esquadra, meia hora depois do encontro inicial com os agentes. Pouco depois estava a ser levado para o hospital, onde chegou com "graves lesões" no cordão da medula espinal e na laringe, que especialistas citados pelo The Baltimore Sun dizem ser compatíveis com os efeitos de um acidente de automóvel, provocadas por uma "força significativa". Gray viria a morrer por causa dessas lesões no dia 19 de Abril, e os agentes envolvidos foram suspensos até ao fim das investigações. Desde o dia 12, mas principalmente desde que se soube da morte do jovem, as ruas de Baltimore foram palco de vários protestos, com momentos de tensão que deixavam adivinhar um cenário semelhante ao que aconteceu na cidade de Ferguson, no Mississippi, em Agosto do ano passado. As mortes do adolescente Michael Brown e do jovem Freddy Gray ocorreram em situações distintas, e ambas foram também muito diferentes das que levaram à morte de Walter Scott, um homem de 50 anos, também negro, e também morto por um polícia branco, há menos de um mês, no estado da Carolina do Sul – Brown foi baleado por um agente que actuou dentro da lei, de acordo com um grande júri e com um relatório do Departamento de Justiça (que, no entanto, identificou um padrão de atitudes e comportamentos racistas no corpo de polícia de Ferguson); Gray pode ter sido vítima de violência policial extrema, mas a investigação está em curso; e Scott foi baleado oito vezes pelas costas, "abatido como um animal", nas palavras do seu irmão, Anthony Scott. Seja como for, a sensação de que a polícia norte-americana (ou a prova de que essa sensação é bem real, no caso do relatório sobre Ferguson) visa essencialmente cidadãos negros, recorrendo ao uso da força – muitas vezes até à morte – com chocante leviandade, tem provocado protestos um pouco por todo o país. Na segunda-feira, foi a vez de Baltimore. Os media norte-americanos dizem que na manhã de segunda-feira, antes do funeral de Gray, começou a circular nas redes sociais uma convocatória para uma "purga", numa referência a um filme de 2013 cujo argumento gira à volta de uma América totalitária, num futuro próximo, em que os cidadãos têm 12 horas por ano, entre as sete da noite e as sete da manhã, para poderem matar quem quiserem sem sofrer consequências.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte lei violência ajuda negro homem adolescente corpo pobreza morto animal
OMS não recomenda restrições aéreas para travar ébola, mas países avançam com medidas individuais
Número de casos continua a crescer, mas Associação Internacional de Transportes Aéreos fala num "baixo risco" de transmissão em viagens de avião. (...)

OMS não recomenda restrições aéreas para travar ébola, mas países avançam com medidas individuais
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Número de casos continua a crescer, mas Associação Internacional de Transportes Aéreos fala num "baixo risco" de transmissão em viagens de avião.
TEXTO: Apesar das medidas de controlo de fronteiras que a Libéria decidiu tomar para travar o surto do vírus ébola e do estado de emergência declarado pela Serra Leoa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda ainda qualquer tipo de restrições nas viagens aéreas ou encerramento de fronteiras, justificando que o risco de transmissão entre passageiros é baixo. A informação foi avançada nesta quinta-feira pela Associação Internacional de Transportes Aéreos, que consultou a OMS para perceber junto dos peritos se existe necessidade de avançar já com medidas adicionais, numa altura em que surgem sinais de inquietação de vários países, nomeadamente depois de Hong Kong ter admitido a possibilidade de avançar com quarentenas. A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), perante a chegada do pior surto de ébola de sempre a mais países, nomeadamente à Nigéria, contactou a OMS e também a agência das Nações Unidas para o sector da aviação, a Organização da Aviação Civil Internacional. A decisão surgiu depois de um passageiro liberiano ter começado com os sintomas da doença num voo para a Nigéria. À chegada ao aeroporto foi encaminhado pelas autoridades nigerianas para uma das unidades especializadas e com ala de isolamento. O homem acabou por morrer, tendo os testes laboratoriais feitos em locais independentes confirmado a presença do vírus – naquele que se tornou o primeiro caso do surto no país mais populoso de África. “No caso raro de uma pessoa sem saber que está infectada por ébola viajar de avião, a OMS considera que o risco para os outros passageiros é baixo”, lê-se no comunicado da IATA, que cita ainda a OMS para reiterar que o risco de “desenvolver a doença depois de regressar é extremamente baixo, mesmo quando a visita inclua as zonas onde surgiram os primeiros casos. A transmissão requer contacto directo com sangue, secreções, órgãos ou outros fluidos corporais com pessoas infectadas, cadáveres ou animais”. Uma posição que vai no sentido contrário aos receios dos países, que estão a tomar mais medidas, um dia depois de a organização Médicos Sem Fronteiras dito que a doença está “fora de controlo”. Do lado da Serra Leoa, o presidente Ernest Bai Koroma decretou estado de emergência, depois de a epidemia ter feito mais de 224 mortos só nesta zona. O governante cancelou também a viagem para Washington, onde participaria na cimeira Estados Unidos/África, invocando o carácter “excepcional” da situação que justifica a programação de medidas para travar o surto do vírus que começou na Guiné-Conacri. A República Democrática do Congo vai também fazer controlos a todos os passageiros vindos da Nigéria e a Libéria optou por fechar as escolas e as fronteiras terrestres, reforçar o controlo nos aeroportos, fazer desinfecções em edifícios e dar férias obrigatórias aos funcionários públicos, diz a AFP. Já as autoridades de Hong Kong, escreve o jornal South China Morning Post, ponderam colocar em quarentena todos os casos suspeitos, isto apesar de não terem ligações directas com os países afectados. O Quénia e a Etiópia anunciaram medidas destinadas a evitar a entrada do vírus e no Reino Unido uma reunião de urgência com as autoridades sanitárias também vai resultar no reforço da prevenção nos aeroportos. Mesmo assim, a IATA contrapõe que é “altamente improvável” que uma pessoa com os sintomas consiga viajar e lembra que estão a ser feitas acções nos aeroportos com instruções da OMS, que incluem informação sobre os sintomas e formas de prevenção, o tempo de incubação do vírus (que vai de poucos dias a mais de 20) e os locais onde procurar ajuda. A infecção começa de forma semelhante a uma gripe, com mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Ao todo, desde Fevereiro, o vírus já matou 729 pessoas na África Ocidental, o que faz do surto o mais grave desde que o ébola foi pela primeira fez identificado na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão. Quase 60 das vítimas mortais foram registadas nos últimos quatro dias. Em 90% dos casos a doença é mortal, apesar de neste surto a taxa estar em cerca de 60%. A única vacina disponível só se mostrou eficaz em modelos animais.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
OMS declara epidemia de ébola "emergência internacional” e pede ajuda
Em Portugal, a Direcção-Geral de Saúde divulga esta tarde medidas concertadas com a Europa. (...)

OMS declara epidemia de ébola "emergência internacional” e pede ajuda
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-08 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140808170403/http://www.publico.pt/1665821
SUMÁRIO: Em Portugal, a Direcção-Geral de Saúde divulga esta tarde medidas concertadas com a Europa.
TEXTO: A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou que já estavam reunidas as condições para declarar a epidemia de ébola uma "emergência de saúde pública de carácter mundial". E foi o que fez nesta sexta-feira, depois de uma reunião de dois dias. Além disso, é preciso mobilizar todos os países no combate à doença. A directora-geral da OMS, Margaret Chan, pediu à comunidade internacional que ajude os países afectados a combater a epidemia de ébola, que é a pior em quatro décadas. A OMS considera que as possíveis consequências da propagação internacional do vírus são “particularmente graves”. Registada na África Ocidental, a epidemia já matou, em cinco meses, desde Março, 932 pessoas e infectou mais de 1700. A comissão de emergência da OMS, que esteve reunida durante dois dias — nesta quarta e quinta-feira em Genebra —, não teve dúvidas e foi "unânime ao considerar verificarem-se as condições de uma emergência de saúde pública de carácter mundial". Em conferência de imprensa, Margaret Chan lembrou que os países da África Ocidental mais atingidos pela epidemia — Libéria, Serra Leoa, Guiné-Conacri e Nigéria — "não têm meios para responderem sozinhos" à doença e, por isso, pediu "à comunidade internacional que forneça o apoio necessário". A mesma comissão insistiu ser necessário que os diferentes países se coordenem para travar a epidemia: "Uma resposta internacional coordenada é essencial para travar e fazer recuar a propagação mundial" do vírus do ébola. Apesar de não ter imposto restrições às viagens e ao comércio internacionais, a comissão considera que “os Estados devem estar preparados para detectar e tratar casos de ébola” e para facilitar o transporte dos seus cidadãos, especialmente os profissionais de saúde que foram expostos ao vírus. A directora-adjunta da Direcção-Geral da Saúde já disse à agência Lusa que vai divulgar na tarde desta sexta-feira uma posição concertada com os parceiros da Europa sobre esta declaração de estado de emergência mundial de saúde pública. “Estamos a concertar posições com os países que são nossos parceiros europeus, estamos a analisar bem o documento [divulgado na manhã desta sexta-feira pela OMS] e iremos emitir um comunicado às 16h”, garantiu Graça Freitas, escusando-se, para já, a adiantar que medidas poderão ser tomadas por Portugal ou pela Europa. A directora adjunta da DGS referiu apenas que os responsáveis da direcção-geral estiveram “nos últimos dois dias em audioconferência com os parceiros europeus” para concertar uma posição. O vírus do ébola transmite-se por contacto directo com o sangue, líquidos ou tecidos de pessoas ou animais infectados. A febre manifesta-se através de hemorragias, vómitos e diarreias. A taxa de mortalidade varia entre os 25 e 90% e não foi ainda produzida uma vacina contra a doença. com Lusa
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
Sussurraram-lhe “goza a vida” e ele aceitou
Rui Daniel dava aulas de piano. Agora dá voltas ao mundo. Encontramo-lo a percorrer o continente africano rumo ao Bangladesh — com uma causa. (...)

Sussurraram-lhe “goza a vida” e ele aceitou
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rui Daniel dava aulas de piano. Agora dá voltas ao mundo. Encontramo-lo a percorrer o continente africano rumo ao Bangladesh — com uma causa.
TEXTO: "A Internet aqui é espectacular. África é sempre uma surpresa. " Estamos online, via Messenger, com Rui Daniel. Nós cá, ele lá, em África, no Zimbabué (de partida para a Zâmbia), numa pousada nas cataratas de Victória, camisola da selecção portuguesa vestida, tez queimada de uma viagem que o deixa de sorriso rasgado e com vontade de pegar nos países todos e enfiá-los numa mochila para depois, como numa tômbola gigante, meter lá a mão e ir tirando sofregamente as histórias uma a uma — ou todas ao mesmo tempo. Rui tem 40 anos. Nasceu no Luxemburgo, onde viveu 15 anos, mas diz que é de Nelas, Viseu. “Dou aulas de piano”, apresenta-se. E viaja — e até já tocou piano nos sítios mais improváveis, mas isso é outra história. Já visitou mais — muito mais — de cem países e neste preciso momento está a atravessar todo o continente africano rumo ao Cairo (“vou atravessar a Palestina e tentar entrar na Síria”) e com os olhos postos no Bangladesh, onde tem um assunto pendente. O grande objectivo será chegar ao seu país preferido (“apaixonei-me pelas pessoas, senti que eram mais puras; emocionei-me com as crianças, que faziam filas para tirar fotografias comigo”) e pelo caminho angariar fundos para as crianças da Fundação Maria Cristina, ex-comissária de bordo, filantropa, a primeira mulher portuguesa a escalar o Monte Evereste e tripla titular do Guinness World Record graças a impressionantes registos como ultra-maratonista. A Fundação trabalha na educação e emancipação de crianças carentes desde 2005. Além de apoio às crianças dos bairros de lata do Bangladesh através da construção de escolas, tem vindo a conseguir introduzir com sucesso a gestão de resíduos, construção de estradas, abastecimento de água potável e saúde para os bairros de lata de Daca. “Há dois anos, ofereceram-me o livro Uma Mulher no Topo do Mundo. Contactei-a e dei-lhe os parabéns”, conta Rui, que entretanto lançou uma página JustGiving de angariação de fundos e que pretende cortar essa meta algures entre Abril e Maio de 2019. Esse é o pretexto de alguém que se foi deixando levar. “Fui-me apaixonando pelas viagens”, diz. “Fui-me apaixonando pelos países. Vai mudando a nossa mentalidade. Vejo muita gente que não tem nada e é feliz. Em casa, no Ocidente, estamos habituados a ter tudo. Temos uma casa, um, às vezes dois carros. Não sou rico nem milionário, mas penso nisso. Não acredito em vidas que chegam depois. Tenho esta”, resume este pianista em pausa sabática, um viajante no activo que usa países e cidades como vírgulas. “As pessoas, casa-trabalho-casa, chateiam-se e matam-se por tudo e por nada. Olho para o lado e vejo pessoas que gostavam de ter feito e não fizeram. ” No fundo, Rui ouve quem lhe sussurra “goza a vida”. Iniciou esta odisseia em Setembro, em Portugal. Partiu à boleia até chegar a Marraquexe e daí até Serra Leoa e Burkina Faso. Atravessou toda a África Ocidental até chegar ao Níger e voltou a Portugal para passar o Natal, cumprindo a promessa que fizera à mãe. “Infelizmente apanhei malária e estive internado durante duas semanas”, conta. Retomou a partir do Togo, em Fevereiro. “Este continente é bem mais difícil do que eu imaginava”, prossegue Rui, que carrega uma pequena tenda e que sempre que pode acampa com tribos nas aldeias. “Nas capitais apenas paro para tratar dos vistos. ” Já foi agredido na Libéria (“senti que não era bem-vindo”), foi assaltado no Burkina Faso (“já me borrei algumas vezes”) e no Mali teve que dormir com locais na berma da estrada por ser demasiado perigoso passar durante a noite numa zona de rebeldes. Bateu à porta de muitas igrejas e apelou a missionários. Cruzou a Nigéria toda a dormir em estações. Apanhou boleia de um cargueiro que o levou até aos Camarões (“disseram-me que não havia barcos de passageiros; durante 24 horas comi um ovo cozido, enquanto os tripulantes de binóculos procuravam piratas”). Tens um plano? “Sim”. Segue-lo? “Nem sempre”, brinca Rui, um “palhaço” (“gosto de me rir”). Um-dois-três-diga-lá-outra-vez: Guiné Bissau, Conacri, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Mali, Burquina Faso, Níger, Togo, Benim, Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, Congo. República Democrática do Congo, Angola, Namíbia, Botswana, África do Sul, Suazilândia, Lesoto, Moçambique, Zimbabué. . . Não é fácil acompanhá-lo. Nem na conversa, nem no mapa, nem na conta de Instagram que alimenta com paisagens avassaladoras, boleias improváveis (“táxis de três à frente e seis atrás”), transportes à pinha, lugares imperdíveis e refeições mais ou menos comestíveis. Já picou a Europa toda (só não esteve na Bielorússia) e percorreu parte de África em duas etapas de bicicleta (Senegal, Gâmbia e Guiné Bissau de uma vez, Gana, Togo e Benin da outra; no final de ambos os percursos ofereceu as bicicletas a crianças). Descobriu o Irão com as próprias mãos (“diziam que era super-perigoso; é, vais lá e não queres sair”) e foi então que decidiu que “a televisão é uma treta”. “Não tenho visto notícias nenhumas. Não sei o que se passa em Portugal. Não sei o que se passa no mundo”, repete. Ganhou “coragem” e foi ao Iraque. Foi convidado por polícias no Paquistão para beber chá. Encontrou “pessoas espectaculares” em Moçambique e o povo africano mais hospitaleiro no Níger. Fez voluntariado em Angola e criou um coro infantil no Gungo. Há uma coisa que o deixa cabisbaixo: a escravatura infantil (“ainda existe”). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Rui diz-se “descarado”. Gosta de “tudo o que é diferente”. E gosta de se aventurar. Sente-se “afortunado” por viver “uma carrada de histórias todos os dias” e o manual do desenrasque obriga-o a ser uma espécie de “mentiroso compulsivo em África” (na escala de Richter já ia em dez, “mais do que um terramoto"). Viaja com uma tenda, um adaptador universal e uma tripla, um bloco de notas e uma caneta. E pouco mais. Escreve sempre que possível e publica regularmente crónicas de viagem no site luxemburguês Bom Dia (“levar a lição estudada para este continente não serve de nada”, escreve a propósito da Guiné-Bissau). No Benin, fotografou uma miúda com um balão amarelo à frente da cara. Aparece assim coberta “para que a sua alma não fosse roubada”.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Cannabis e gays. Psicólogo da TVI volta a ser alvo de queixas
Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisa novas queixas contra declarações de Quintino Aires já depois de ter pedido à TVI para não permitir comentários que incitem ao ódio ou à discriminação. (...)

Cannabis e gays. Psicólogo da TVI volta a ser alvo de queixas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisa novas queixas contra declarações de Quintino Aires já depois de ter pedido à TVI para não permitir comentários que incitem ao ódio ou à discriminação.
TEXTO: A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recebeu até quarta-feira nove queixas relativas a comentários proferidos pelo psicólogo Quintino Aires no Você na TV, de 14 de Junho. O comentador residente do programa da TVI afirmou que “75% das pessoas que consomem cannabis têm relações com pessoas do mesmo sexo”. Entre as gargalhadas do público presente no estúdio, o psicólogo repetiu a revelação, segundo ele “recente”, que lera num “estudo científico”. Perante as queixas, foi aberto um inquérito, diz Luísa Roseira, vogal do conselho regulador da ERC. “O operador televisivo vai ser ouvido e posteriormente o regulador decidirá”, esclarece. Esta é uma questão complexa sobre o que é “opinião livre e o limite de tudo o que pode incitar ao ódio”, diz. Porém, e como já houve “decisão anterior de sensibilização do mesmo programa com o mesmo comentador, os antecedentes terão obrigatoriamente de ser tidos em conta”. Luísa Roseira admite que, desta vez, “ao operador televisivo — a TVI — poderá ser aplicada uma sanção mais grave, que não uma mera sensibilização”. Sanção de que tipo? “Poderá considerar-se que houve uma violação legal da lei da televisão e em resultado disso haver uma contra-ordenação”. Em Julho do ano passado, no programa apresentado por Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, Quintino Aires disse que “a maioria [dos ciganos em Portugal] vive dos subsídios ou trafica droga e não trabalha” A ERC recebeu então, em quatro dias, dez queixas de cidadãos e 27 outras queixas que tinham chegado ao Alto Comissariado para as Migrações. Seis meses depois, a ERC deliberou no sentido de “sensibilizar a TVI a garantir, de futuro, uma protecção cabal e constante da dignidade dos cidadãos e a não transmitir conteúdos que, de alguma forma, contribuam para a estigmatização de grupos sociais, em função da sua etnia”. Na decisão, distingue “os conteúdos de natureza informativa (. . . ) sob a alçada da direcção de informação” e que “se regem pelas normas legais e éticas da actividade jornalística” e os “conteúdos que, embora podendo possuir elementos que informam os públicos”, se inserem “na categoria de entretenimento”. Remete para “o campo do exercício da liberdade de expressão”, mas também lembra que a lei da televisão, no seu artigo referente aos limites à liberdade de imprensa, estabelece que “a programação televisiva não pode incitar ao ódio racial, religioso, político, ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência”. Em conclusão, delibera no sentido de uma sensibilização da TVI para que situação semelhante não volte a acontecer. O PÚBLICO tentou ouvir o psicólogo Quintino Aires que não respondeu a dois pedidos de entrevista. A estação televisiva, também contactada, a propósito das reacções negativas às declarações de 14 de Junho, sobre a homossexualidade e o consumo de cannabis, defende-se e lembra que Quintino Aires participa “em vários outros órgãos de comunicação social”: “O Dr. Quintino Aires expressa-se na antena da TVI com a liberdade que o sistema jurídico lhe permite, e que é própria dos países livres e das sociedades abertas e democráticas. A TVI é uma instituição firmemente comprometida com o respeito pelas normas legais aplicáveis à sua actividade e o programa Você na TV não é excepção. ”Para Carla Cruz, socióloga da Comunicação e professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, “a liberdade de expressão do Dr. Quintino Aires vai contra a responsabilidade civil que tem a TVI, enquanto emissora de conteúdos mediatizados”. “A grande questão é que [o comentador] está [neste espaço] a confundir uma opinião pessoal com uma opinião de um especialista e essa confusão passa para as pessoas, acaba por haver essa contaminação. ” Com duas agravantes: “Os programas da televisão em Portugal, apesar da massificação da Internet, continuam a ser aqueles que chegam a mais pessoas” e a maioria dos telespectadores deste programa — como se pode ver nos perfis das audiências — são pessoas com um rendimento médio familiar baixo, “que integram muito facilmente qualquer opinião sem distinguir o que é subjectivo daquilo que é científico”. E alerta: “Quando do outro lado estão pessoas sem esse conhecimento técnico, vão recolocar-se nessa posição, vão aderir a ela. A TVI tem que ter em conta que está a credibilizar informação subjectiva. ”“Este senhor está nesse programa como psicólogo e não como cidadão Quintino Aires. E é moralmente censurável estar a fazer propaganda de alguma discriminação. Está a debitar opiniões pessoais e a transpô-las para o grande público que depois mimetiza essas posições, essa discriminação”, insiste Carla Cruz sobre “o consultório aberto e gratuito que [Quintino Aires] tem na televisão”. “Muitas pessoas exacerbam o reconhecimento público de alguém pelo número de vezes que aparecem na televisão”, nota ainda a socióloga e professora universitária. “Ele vai revalidando diariamente o seu valor e a sua opinião que passa como a opinião de um especialista. ”Numa entrevista à revista Happy Woman, em 2014, Quintino Aires afirmava: “Fazer sexo com animais aumenta a ligação entre o ser humano e a natureza. Não devemos considerar a zoofilia uma perversão, mas sim uma celebração das nossas origens. No fundo somos todos animais. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nesse ano, no programa da Rádio Antena 3 A Hora do Sexo, criticou um concorrente de um reality show que não tinha iniciado a actividade sexual aos 26 anos. Qualificou a virgindade como problema de “saúde pública” e aconselhou os ouvintes a recusarem “estas patologias sociais”. Sobre isso, a revista Sábado perguntou-lhe numa entrevista em Agosto do ano passado: “Tem dados científicos ou é uma opinião sua?” O psicólogo respondeu: “Não, isso não fui eu que descobri. É um estudo publicado, tem uma base científica. ”Nestas várias ocasiões, em comentários publicados nas redes sociais, muitas pessoas se insurgiram contra o potencial efeito das opiniões de Quintino Aires na “fanatização da sociedade” e houve quem apontasse “o risco que [ele] representa para a saúde pública”. Foram lançadas petições online — no caso das declarações sobre a comunidade cigana e no da ligação da comunidade homossexual ao consumo de cannabis — nas quais os signatários consideram que “a reincidência destas práticas”, entre outros aspectos, “demonstra uma postura de impunidade que deve ser combatida”.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Centro oftalmológico no sopé do Kilimanjaro é Prémio Champalimaud
Três instituições de vários países, reunidas num megaprojecto pioneiro de luta contra a cegueira à escala do continente africano, recebem este ano o Prémio António Champalimaud de Visão. (...)

Centro oftalmológico no sopé do Kilimanjaro é Prémio Champalimaud
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Três instituições de vários países, reunidas num megaprojecto pioneiro de luta contra a cegueira à escala do continente africano, recebem este ano o Prémio António Champalimaud de Visão.
TEXTO: Tudo começou há 20 anos na imaginação de um casal de médicos norte-americanos. Cinco anos mais tarde, eles mudavam-se para a Tanzânia, em África, com dois filhos pequenos, e fundavam, na cidade de Moshi – no sopé do Kilimanjaro –, o Centro de Oftalmologia Comunitária do Kilimanjaro (KCCO). Hoje, o KCCO já trabalha numa série de países no desenvolvimento de programas sustentáveis de prevenção e tratamento da cegueira provocada pelas cataratas, o glaucoma e outras doenças dos olhos, das crianças aos idosos. E visa um dia abranger todos os países africanos, permitindo às populações daquele continente, mesmo as mais remotas, o acesso a cuidados oftalmológicos universais de qualidade. Esta rede de hospitais e de pessoas (médicos, enfermeiros, gestores, especialistas de saúde pública) é um dos galardoados do Prémio António Champalimaud de Visão 2015. E juntamente com ela, partilham o prémio – de um montante de um milhão de euros, o mais importante prémio a nível mundial nesta área – duas outras organizações, igualmente dedicadas à erradicação da cegueira a nível global e que financiaram e colaboraram com o KCCO, ao longo dos anos, no âmbito do chamado Projecto Kilimanjaro: a Fundação SEVA (com sede nos EUA) e a SEVA Canadá. “Eu adorava a medicina clínica e, de 1990 a 1994, tínhamos estado com o meu marido a trabalhar no Malawi”, disse esta quinta-feira ao PÚBLICO durante uma conversa matinal na sede da Fundação Champalimaud, em Lisboa, horas antes da cerimónia de entrega do prémio, a oftalmologista Susan Lewallen, relatando como ela e o marido Paul Courtright, especialista de saúde pública e de epidemiologia oftálmica, embarcaram nesta aventura em 2001. Foi no Malawi que eles perceberam que o problema do acesso aos cuidados de saúde ocular em África “ia muito para além da falta de médicos: desde o material de sutura acabar a meio de uma operação ao facto que muitos doentes nem sequer sabiam que estavam a cegar, nem como aceder aos cuidados disponíveis”. E acrescenta com um sorriso: “Sabe, os cirurgiões não se preocupam habitualmente com as questões de saúde pública…”O casal regressara do Malawi para os Estados Unidos, onde permaneceria durante sete anos, mas sem nunca deixar de pensar que um dia voltariam para lá para criar um centro de oftalmologia diferente. A decisão de partirem teve de ser tomada mais depressa do que tinham previsto: “Eu tive problemas de saúde naquela altura, e não sabia quanto tempo iria ter para realizar o projecto”, prossegue Susan Lewallen, hoje com 61 anos. “E como os nossos filhos eram pequenos, também achámos que devíamos partir o mais depressa possível, já que essa seria a melhor educação possível para eles. ”“Fomos imaginando e falando do projecto entre 1996 e 1998. Tivemos muitos problemas para angariar os fundos necessários mas, em Setembro de 2011, já tínhamos escolhido o nosso destino: Moshi, onde sabíamos que seríamos bem-vindos, onde existia uma universidade com um programa de formação em oftalmologia – e onde havia uma escola internacional para as crianças. ”Foi então que se deram os ataques do 11 de Setembro. “Nessa altura, já tínhamos vendido a nossa casa e eu já tinha avisado os meus colegas de consultório da minha partida por tempo indefinido para África. Por isso, decidimos ir na mesma. ”Susan Lewallen recorda ainda o choque da mudança para “quase o meio de nenhures”. “Chegámos durante a estação seca. Havia uma tal camada de pó na estrada que os meus filhos caiam quando tentavam andar de bicicleta. Choravam e pediam para voltarmos aos EUA e eu pensava: ‘Meu Deus, isto foi uma loucura…’”Mas no Natal, a família visitou uma reserva de animais e aí tudo melhorou. “Quando entramos, elefantes vieram ao nosso encontro, vimos passar umas zebras e os rapazes exclamaram: ‘Este é o nosso melhor Natal de sempre!’ Hoje, têm 25 e 23 anos; o mais velho trabalha no Peace Corp no Senegal e o outro tenciona regressar a África. ”Em 2012, o casal mudou-se para a Cidade do Cabo, na África do Sul, a partir de onde continua a gerir a investigação científica e a questões administrativas do KCCO. Susan Lewallen refere ainda como começou “a tentar ensinar os aspectos tão importantes de saúde pública” no hospital de Moshi. “Tivemos imensa ajuda do Hospital Oftalmológico Aravind, na Índia [laureado do mesmo Prémio Champalimaud em 2007]. “Íamos lá, levávamos o pessoal de Moshi para eles fazerem formação, e conseguimos adaptar o modelo deles à realidade africana. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
José ELuaty (ui, perdão) Eduardo dos Santos: E agora, Zedu?
Passaram os tempos em que chegavam angolanos a Lisboa para explicarem a terrível verdade aos empresários portugueses: “O problema de Portugal é que os políticos são corruptos.” Agora, com a quebra do petróleo, falta o dinheiro nos dois países. Mas em Luanda já se encontrou uma solução. (...)

José ELuaty (ui, perdão) Eduardo dos Santos: E agora, Zedu?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.5
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passaram os tempos em que chegavam angolanos a Lisboa para explicarem a terrível verdade aos empresários portugueses: “O problema de Portugal é que os políticos são corruptos.” Agora, com a quebra do petróleo, falta o dinheiro nos dois países. Mas em Luanda já se encontrou uma solução.
TEXTO: No alto da colina, pertinho lá do céu, ou melhor, no Futungo de Belas, juntinho do poder, o Presidente acordou preocupado e foi à varanda. Era fim de Outubro, a baía esticava-se mas os musseques à distância continuavam com aquele ar encavalitado da pobreza. José Eduardo arranjou-se, comeu um bolinho com café e mandou chamar o vice. Manuel Vicente veio depressa, pensando se desta é que seria nomeado sucessor na presidência. Às vezes parecia que era, e depois não era. Um desgaste psicológico. — Chamou, sr. Presidente?— Vamos falar da situação?E sentou-se com ar de temos a manhã toda para isto. Mau sinal: José Eduardo falava o menos possível, sempre reservado. Um chefe de Estado mundialmente conhecido por pouco se dar a conhecer. Quanto ao vice, a sua fama era a de ser um mestre dos números. — Como é que vai essa cabeça de computador, Manuel Vicente?— Vai indo, senhor Presidente, vai indo. — Vamos ver. Ano do meu nascimento, ano do meu curso, ano da minha investidura?— O senhor Presidente nasceu a 28 de Agosto de 1942 em Luanda, formou-se em Junho de 1960, em Engenharia de Petróleos, em Baku, antiga URSS, e é presidente do MPLA e Presidente de Angola desde 21 de Setembro de 1979, ena, 36 anos e parece que foi ontem!— Boa. Mais números: o que é que aconteceu ao buraco de 32 mil milhões de dólares que o FMI descobriu entre 2007 e 2010 nos teus petróleos?— Ahhh. . . eram simplesmente despesas não registadas, só não conseguimos justificar 4, 2 mil milhões. E eu já não sou presidente da Sonangol. . . — Isso sei eu, mas já vamos ao petróleo. . . Como é que vai o custo de vida em Luanda?— Talvez a cidade mais cara do mundo, à frente de Singapura, Zurique, Tóquio. O preço do aluguer de uma casa é motivo de admiração geral. Chegámos a ter um T3 ao preço fantástico de 15 mil dólares por mês! O petróleo é que. . . — Já vamos ao petróleo, a como é que anda o champanhe?— Lá em baixo na baía, à saída dos iates, parece que uma garrafa de Dom Pérignon andava pelos 2000 dólares. E uma sandes em hotel de luxo, 30 dólares. O problema é que com a desvalorização do petr. . . — Já lá vamos! Nos musseques, qual é a capitação diária?— Em que sentido?— Com quantos dólares se vive, senhor vice-presidente. — Ahhh. . . As pessoas precisam em média de dois dólares por dia. Têm de poupar bastante para beber Dom Pérignon, claro. Mas com esta maldita desvalorização do petró. . . ahhh, que dia bonito lá fora, senhor Presidente. Olhe as acácias, de folhas verdinhas como as nota de dól. . . ena, que bolinhos tão apetitosos, posso comer um?— Pare com os disparates. E a mortalidade infantil?— Bom, em 2013, íamos só em segundo lugar. Só que no ano passado atingimos, com alguma contenção de despesas, o primeiro lugar. Os recordes são para se bater. — E os negócios internacionais?— Hum. . . Oh que lindo passarinho na varanda, recortado no céu azul de Luanda!— Fiz-lhe uma pergunta, vice-presidente. — As exportações caíram 27%, o investimento português desceu 40% e os tugas estão a ir-se embora como pássaros migratórios quando chega a estação das chuvas. . . — Deixe lá os pássaros!O Presidente andava para cá e para lá. Ouvia os motores de carrões à distância, a gastar gasolina como se não houvesse amanhã. — Bom, já posso falar naquilo, senhor Presidente?— Sim. — Hum. . . o valor das exportações de petróleo será de menos 60%, este ano, senhor Presidente, essa é que é essa. — Vamos ter de cortar nalguma coisa. Ideias?— Não sei, senhor Presidente, vender algumas empresas que comprámos em Portugal?— Isso não foi Angola, foi a Isabel. — É verdade, é verdade, e aquele país não é estável como o nosso, agora até discutem quem é o Governo! Mas de qualquer modo. . . — Olhe lá. Quem vive com dois dólares também pode viver com menos, não acha, senhor vice-presidente?— O angolano é forte. — Esse. . . argh, gasp, esse Luaty Beirão e os 14 perigosos rebeldes que leram livros contra a minha pessoa estão a ser bem tratados antes da imparcial condenação exemplar pelos perigosos delitos contra a pátria?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. — Bem de mais. Ainda se põem a cometer leituras outra vez!— Um cantor de rap esteve 36 dias seguidos com um comportamento diferente em relação aos alimentos. Se ele pode estar tanto tempo em jejum voluntário, outros angolanos também poderão, ou não?— Claro, quem vive com dois dólares vive com um. É o mínimo que os angolanos podem fazer por nós nestes tempos difíceis, senhor Presidente.
REFERÊNCIAS:
Entidades FMI
Descoberto um tio-avô dos mamíferos que já era gigante
Um fóssil encontrado na Polónia mostra que um antepassado indirecto dos mamíferos (do tempo do Triásico) chegou a atingir 4,5 metros de comprimento e nove toneladas – o tamanho de um elefante-africano. (...)

Descoberto um tio-avô dos mamíferos que já era gigante
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um fóssil encontrado na Polónia mostra que um antepassado indirecto dos mamíferos (do tempo do Triásico) chegou a atingir 4,5 metros de comprimento e nove toneladas – o tamanho de um elefante-africano.
TEXTO: Ao contrário do que se poderia pensar, os dinossauros não foram os únicos herbívoros gigantes a viver durante o período Triásico. Houve uma outra criatura herbívora gigante e quadrúpede, chamada Lisowicia bojani, a habitar o planeta durante o fim do Triásico Superior, há cerca de 237 milhões de anos. Este animal não era nem um réptil nem um mamífero. Pertencia ao grupo dos dicinodontes, animais conhecidos por terem dois dentes caniformes, ou presas, a sair da boca e que pertencem à classe dos sinapsídeos. Os sinapsídeos, por sua vez, são animais vertebrados terrestres, onde também se incluem todos os mamíferos. Poder-se-á dizer que o Lisowicia bojani é um tio-avô dos mamíferos – à semelhança de outros dicinodontes, de que é também exemplo um fóssil do lago Niassa, encontrado em Moçambique em 2009 e cujo animal tinha apenas 30 centímetros de comprimento e 800 gramas. Os dicinodontes não pertencem à linha directa de descendência dos mamíferos, da qual faziam parte os nossos avós cinodontes. Ainda assim, os dicinodontes levantam o véu sobre o aparecimento e a evolução dos mamíferos, que surgiram há cerca de 220 milhões de anos, mais ou menos na mesma altura dos dinossauros. A recente descoberta é revelada num novo estudo publicado esta sexta-feira na revista Science e sugere que, durante o Triásico, os dicinodontes foram capazes de atingir tamanhos colossais, abrindo caminho a um conjunto de novas teorias sobre a sua evolução, expansão e características. A investigação, liderada por Tomasz Sulej (da Academia de Ciências da Polónia) e Grzegorz Niedzwiedzki (da Universidade de Uppsala, na Suécia), vem revolucionar a história evolutiva destes animais e “mostra que antepassados já extintos dos mamíferos eram capazes de atingir tamanhos corporais que só foram atingidos novamente por mamíferos a partir do Eoceno [entre há 55 milhões e 36 milhões de anos]”, dizem os autores. De acordo com o estudo, estima-se que o Lisowicia bojani poderia chegar a medir 4, 5 metros de comprimento e 2, 6 metros de altura na idade adulta. Quanto ao peso, poderia atingir nove toneladas, assemelhando-se ao tamanho de um elefante-africano. O maior elefante de que há registo, dizem os especialistas, media quatro metros de altura (até aos ombros) e pesava dez toneladas. Este é, portanto, um recorde aos antepassados (muito distantes) dos mamíferos. Até agora, acreditava-se que os maiores dicinodontes que já existiram teriam no máximo 3, 5 metros de comprimento e um peso de duas toneladas. Quanto ao Lisowicia, a sua postura era também distinta do que seria de esperar, visto que este animal mantinha os membros dianteiros erectos, tal como grandes mamíferos (como rinocerontes e hipopótamos) e dinossauros (como os sauropodomorfos e os ceratópsios). Anteriormente, os investigadores pensavam que os dicinodontes do Triásico mantinham os membros dianteiros afastados na horizontal, como os répteis. A análise dos ossos de Lisowicia revelou que cresciam de forma rápida e constante. Outra hipótese seria que os fósseis analisados pertenciam a juvenis com um tamanho extremamente grande, porém, os investigadores depositam as suas convicções na primeira hipótese tendo em conta a ossificação verificada no esqueleto. Escrevem os investigadores que Lisowicia bojani poderá ter assumido tal tamanho e postura de forma a proteger-se de grandes predadores. Além disso, a postura erecta diminui a pressão nas articulações e facilita a locomoção, enquanto o tamanho corporal permitia a estes animais armazenarem mais comida no organismo e reter mais energia. Os fósseis de dicinodontes eram geralmente encontrados em África, Ásia e América do Norte e do Sul e, de forma mais escassa, na Europa, pelo que a nova descoberta em território europeu revela uma maior distribuição geográfica destes animais. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O estudo mostra assim que, durante o mesmo período de tempo geológico, coexistiram na Terra antepassados dos mamíferos e dinossauros, ambos herbívoros e gigantes. “A descoberta do Lisowicia mostra que pelo menos uma linhagem dos dicinodontes também participou no ‘impulso para o gigantismo’ ao mesmo tempo que os sauropodomorfos, mas sugere também que a sua história evolutiva durante o Triásico Superior está mal documentada”, concluem os autores. Quanto aos mamíferos propriamente ditos, pensa-se que só se tornaram maiores quando os dinossauros (pelo menos alguns deles) se extinguiram com a colisão de um meteorito com a Terra, há 65 milhões de anos. Em Portugal, temos exemplos mundialmente conhecidos de fósseis de mamíferos antigos: na mina da Guimarota (perto de Leiria) descobriram-se, há décadas, fósseis de mamíferos primitivos, do período do Jurássico Superior, com cerca de 150 milhões de anos. Eram mamíferos muito pequenos, do tamanho de ouriços. Texto editado por Teresa Firmino
REFERÊNCIAS: