Tornar o Mundo um lugar melhor, 67 minutos de cada vez
Assinala-se hoje o Mandela Day, o dia internacional dedicado ao líder sul-africano que conseguiu, através do diálogo e da integração, mudar o futuro da África do Sul, no dia em que o estadista completa 93 anos. Neste dia, a Fundação Nelson Mandela pede a todos os cidadãos que dêem 67 minutos do seu tempo a ajudar os outros. (...)

Tornar o Mundo um lugar melhor, 67 minutos de cada vez
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.5
DATA: 2011-07-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Assinala-se hoje o Mandela Day, o dia internacional dedicado ao líder sul-africano que conseguiu, através do diálogo e da integração, mudar o futuro da África do Sul, no dia em que o estadista completa 93 anos. Neste dia, a Fundação Nelson Mandela pede a todos os cidadãos que dêem 67 minutos do seu tempo a ajudar os outros.
TEXTO: Por quê 67 minutos? Porque cada minuto corresponde a um ano de trabalho do líder sul-africano em prol da causa pública. Neste dia em que se celebra o aniversário de Rolihlahla Mandela - nascido a 18 de Julho de 1918 - e em que se assinala o Mandela Day, a Fundação propõe uma série de acções que cada um de nós poderá praticar para tornar o Mundo um melhor lugar. Eis alguns exemplos:- Faça um novo amigo. Conheça alguém de um contexto cultural diferente do seu. Só através do entendimento mútuo é que as nossas comunidades se livrarão da intolerância e da xenofobia;- Leia para alguém que o não pode fazer. Visite uma instituição para cegos e abra um novo mundo para outra pessoa;- Dê uma ajuda no seu canil local. Cães sem dono também precisam de passear e de um pouco de atenção;- Ajude alguém a arranjar um emprego. Crie-lhe um currículo ou ajude-o na preparação da entrevista;- Muitas pessoas com doenças terminais não têm ninguém com quem falar. Reserve algum do seu tempo a falar com elas;- Leve alguém que conhece - e que não tem recursos para o fazer - a uma consulta de oftalmologia ou de medicina dentária;- Doe uma cadeira de rodas ou um cão-guia a quem precise;- Compre alguns cobertores, ou dê os que já não precisa a alguém em dificuldades. Estas são apenas algumas das 67 sugestões propostas pela Fundação Nelson Mandela no seu site. Poderá encontrar mais sugestões aqui: http://www. mandeladay. com/static/join Detido durante 27 anos por lutar contra o regime de apartheid na África do Sul, Mandela foi libertado em 1990 e mais tarde (1994) eleito para a presidência da África do Sul. Exerceu apenas um mandato como Presidente, até 1999, e retirou-se depois da actividade política. Em 1993, Mandela recebeu o Nobel da Paz e tornou-se, em definitivo, um símbolo planetário da reconciliação e da luta anti-segregação racial. Uma das citações mais famosas de Mandela é esta: “Nós podemos mudar o mundo e transformá-lo num lugar melhor. Está nas tuas mãos fazer a diferença”.
REFERÊNCIAS:
Assassínio de Terre'Blanche ameaça Mundial de futebol com terrorismo de direita
O assassínio, no sábado, do líder do Movimento de Resistência Afrikaner (AWB) cria o potencial para actos terroristas da extrema-direita branca durante o Mundial de futebol de 2010, alertou um académico sul-africano. (...)

Assassínio de Terre'Blanche ameaça Mundial de futebol com terrorismo de direita
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-04-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: O assassínio, no sábado, do líder do Movimento de Resistência Afrikaner (AWB) cria o potencial para actos terroristas da extrema-direita branca durante o Mundial de futebol de 2010, alertou um académico sul-africano.
TEXTO: André Thomashausen, professor de Direito Internacional Comparado na Universidade da África do Sul (UNISA), declarou à agência Lusa que “o assassínio brutal e extremamente violento de Eugene Terre'Blanche se insere num quadro de homicídios igualmente brutais e sistemáticos de brancos de origem Afrikaner proprietários de fazendas, com um saldo de cerca de 4 mil vítimas desde 1994”. “Nesse sentido, e uma vez que o ANC tem permitido que o seu líder da Juventude, Julius Malema, ande a gritar slogans exortando à morte dos brancos, sem o criticar nem o calar, este incidente pode mobilizar as franjas de brancos empobrecidos pela política de acção afirmativa do Governo, e que se sentem marginalizados e sob ameaça física, a recorrer a acções que chamem a atenção do mundo durante o Mundial”, acrescentou aquele académico. O Campeonato Mundial de futebol 2010 disputa-se de 11 de Junho a 11 de Julho na África do Sul, com Portugal a disputar o Grupo G, juntamente com o Brasil, a Costa do Marfim e a Coreia do Norte. Tal ameaça, referiu Thomashausen, seria totalmente imprevisível, “uma vez que não viria dos suspeitos habituais neste tipo de eventos, como a esquerda radical ou os fundamentalistas islâmicos”. Apesar de o Presidente Jacob Zuma ter apelado à paz e ter enviado para Ventersdorp (local do crime ocorrido sábado) o seu ministro da Polícia e o comissário nacional dos Serviços de Polícia, o académico e analista político acusou o Chefe do Estado sul-africano de ter responsabilidades na actual polarização da cena política e racial no país. Para André Thomashausen, Zuma é um líder fraco, que representa apenas uma facção dentro do ANC e que não tem tido a coragem nem a força política para calar os que andam a polarizar a situação há vários meses. “Zuma não só não proibiu Malema (o líder da Juventude do ANC) de cantar slogans como Morte ao Boer, como ainda o tentou desculpar, afirmando que até Nelson Mandela quando era mais jovem entoou slogans radicais. Tem sido com o dinheiro e a bênção do partido no poder que Malema tem viajado, ainda a semana passada ao Zimbabué, afirmando que aquele país é um modelo para as nacionalizações necessárias na África do Sul”, insistiu Thomashausen. Para o analista, as condições socioeconómicas criadas pelo actual quadro político e a linguagem cada vez mais radical de responsáveis do Congresso Nacional Africano (ANC), com apelos à nacionalização das terras dos brancos e das minas, “auguram tempos difíceis para a África do Sul”. “Esperemos que os sectores mais moderados do ANC, como os sociais-democratas, e homens como o actual ministro das Finanças, Pravin Gordhan, ponham cobro a esta radicalização que está a assustar muitos sectores e alarmar os brancos e, até mesmo, os indianos e mestiços. Quando líderes afirmam que o Zimbabué é o modelo e a solução para os problemas da África do Sul, isso equivale a criar o potencial para encaminhar o país para o abismo”, concluiu o professor Thomashausen. O líder da extrema-direita sul-africano, um firme partidário do ‘apartheid’, foi morto no sábado na sua exploração agrícola por dois trabalhadores, na sequência de uma aparente discussão sobre salários, segundo a polícia.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Oito jogadores lutam por quatro lugares em aberto na selecção
Paulo Ferreira, Coentrão, Pedro Mendes e Nani tentam ganhar vantagem nas quatro vagas. Cabo Verde é o primeiro de três adversários africanos. (...)

Oito jogadores lutam por quatro lugares em aberto na selecção
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DATA: 2010-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Paulo Ferreira, Coentrão, Pedro Mendes e Nani tentam ganhar vantagem nas quatro vagas. Cabo Verde é o primeiro de três adversários africanos.
TEXTO: No futebol nada é garantido, mas, à primeira vista, há pelo menos sete jogadores que têm lugar praticamente assegurado na selecção portuguesa. Para fechar o "onze" titular que no dia 15 se estreará no Mundial de futebol, frente à Costa do Marfim, Carlos Queiroz precisa de desfazer as dúvidas em quatro posições: os dois laterais, o trinco (embora Pedro Mendes leve vantagem caso Pepe não esteja ainda em condições) e um extremo. O jogo particular de hoje (19h30) frente a Cabo Verde, no Complexo Desportivo da Covilhã, é o primeiro de três testes antes da estreia no Campeonato do Mundo. Paulo Ferreira, Fábio Coentrão, Pedro Mendes e Nani vão ser titulares e têm uma boa oportunidade de mostrar serviço, tentando conquistar um lugar na equipa. Paulo Ferreira, na teoria um lateral mais defensivo, poderá partir em vantagem sobre Miguel para o encontro com a Costa do Marfim. E o mesmo se pode dizer de Pedro Mendes. Partindo do princípio de que Pepe poderá não estar ainda com ritmo para alinhar no primeiro encontro do Mundial, o médio sportinguista é o principal candidato a ser titular: Miguel Veloso pode ser outra alternativa. Já Coentrão e Nani, que hoje serão titulares, estarão teoricamente em desvantagem face aos concorrentes, Duda e Simão. O lateral do Benfica e o extremo do Manchester estão, aparentemente, em melhor forma do que o esquerdino do Málaga e o avançado do Atlético de Madrid, mas a favor destes dois joga o facto de ambos terem sido titulares em boa parte da qualificação. E Queiroz ainda ontem lembrou que Simão não alinha hoje porque é um dos jogadores mais sobrecarregados nesta época. Titulares frente a Cabo VerdeCarlos Queiroz até já revelou as escolhas para o encontro de hoje. Eduardo defende a baliza, atrás dos defesas Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Bruno Alves e Fábio Coentrão. Pedro Mendes, Miguel Veloso e Deco formam o meio-campo. Nani, Cristiano Ronaldo e Liedson são o trio de ataque. Estas escolhas, porém, não são ainda muito reveladoras quanto aos lugares em aberto. É que Carlos Queiroz explicou, ontem, em conferência de imprensa, que houve dois critérios para formar a equipa: dar prioridade aos jogadores que chegaram mais cedo ao estágio e dar ritmo aos que mais necessitam. Resumindo, seis dos sete futebolistas que já estão na Covilhã desde o dia 14 serão titulares. São eles Eduardo, Coentrão, Pedro Mendes, Veloso, Nani e Liedson. A excepção (inevitável, porque a equipa só pode alinhar com um guarda-redes) é Daniel Fernandes. No segundo critério de Queiroz parecem enquadrar-se Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Deco, três jogadores do Chelsea que não jogaram muito tempo nesta época, necessitando de ganhar ritmo, especialmente o central, parado desde Março. Restam Bruno Alves e Cristiano Ronaldo para completar o "onze", situação que estará relacionada com o reforço do entrosamento destes dois jogadores com o resto da equipa. A equipa titular frente a Cabo Verde reflecte ainda a preferência por um esquema táctico em 4x3x3, que Queiroz vê como o "modelo base" da selecção, embora o facto de muitos jogadores estarem habituados a alinhar em 4x4x2 permita alterar a táctica. O encontro frente a Cabo Verde servirá para a equipa se adaptar ao estilo do futebol africano. Depois do encontro de hoje, Portugal jogará ainda com os Camarões, no dia 1 de Junho, na Covilhã. E já na África do Sul, no dia 8, enfrentará Moçambique, no derradeiro teste antes do embate com Drogba e companhia.
REFERÊNCIAS:
Entidades DECO
Detido suspeito do assalto a jornalistas portugueses em Magaliesburg
A polícia sul-africana anunciou que deteve um suspeito do assalto ao hotel em que estavam alojados jornalistas portugueses destacados para a cobertura do Mundial 2010. (...)

Detido suspeito do assalto a jornalistas portugueses em Magaliesburg
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia sul-africana anunciou que deteve um suspeito do assalto ao hotel em que estavam alojados jornalistas portugueses destacados para a cobertura do Mundial 2010.
TEXTO: O suspeito foi detectado através de um sinal de um telemóvel roubado durante o assalto ao complexo de casas de campo Nutbush, em Magaliesburg, onde se encontravam os jornalistas. Na operação, a polícia conseguiu recuperar a credencial do jornalista fotográfico António Simões, da Global Imagem. O assalto terá sido levado a cabo por vários homens armados, cerca das 04h00 locais (03h00 em Lisboa). A polícia sul-africana montou depois uma operação para tentar encontrar os assaltantes, estando no local do alojamento dos jornalistas um forte contingente policial - as forças de segurança utilizam cães e mobilizaram também um helicóptero. Os assaltantes levaram material fotográfico, passaportes, credenciais do Mundial 2010 e roupa dos quartos onde dormiam dois jornalistas portugueses e um espanhol, que, contudo, não foram alvo de violência.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência campo cães assalto
O Mundial de A a Z
AyobaA expressão nasceu nas “townships” de Joanesburgo e vulgarizou-se com o primeiro Mundial africano. Os sul-africanos usam-na quando estão eufóricos. Contra todas as expectativas, o Campeonato do Mundo foi um sucesso. Ontem, em jeito de resumo, Blatter atribuiu-lhe nota nove “porque a perfeição não existe”. Mas os estádios merecem nota dez. Porque a perfeição existe. (...)

O Mundial de A a Z
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: AyobaA expressão nasceu nas “townships” de Joanesburgo e vulgarizou-se com o primeiro Mundial africano. Os sul-africanos usam-na quando estão eufóricos. Contra todas as expectativas, o Campeonato do Mundo foi um sucesso. Ontem, em jeito de resumo, Blatter atribuiu-lhe nota nove “porque a perfeição não existe”. Mas os estádios merecem nota dez. Porque a perfeição existe.
TEXTO: Bafana BafanaPela primeira vez, uma selecção anfitriã não passou dos quartos-de-final da competição. A contratação de Carlos Alberto Parreira não chegou para disfarçar as fragilidades da selecção sul-africana, que se despediu com uma derrota, um empate e uma vitória. CristianoA publicidade da Nike transformou-se numa maldição. Drogba, Canavarro, Rooney, Ribéry, Cristiano Ronaldo. . . Eles (mais Messi, Kaká. . . ) foram alguns dos fracassos do Mundial. Deus“Eu e os argentinos olhamos para ele como bebés à frente de um biberão”, disse Signorini, preparador físico da Argentina. Nós também. Deus há só um. Maradona. Dele se continuará a falar durante mil anos. Eduardo“Eduardo mãos de tesouro”. Título feliz o do PÚBLICO que resume a dedicação de um dos quatro jogadores portugueses que saíram do Mundial valorizados. Eduardo, Coentrão, Raul Meireles e Tiago. FrançaQuando se arrastou para fora da África do Sul, a selecção francesa saiu por uma porta tão pequena que teve de engolir um comprimido para encolher, como na história da Alice. Não há memória de uma prestação tão frustrante. GanaQuando a África do Sul se despediu do Mundial, a jovem equipa do Gana tomou o seu lugar nos corações dos sul-africanos, que a adoptaram. Chamaram-lhe Bagana Bagana. Mas Milovan Rajevak ficou a um triz de conseguir um recorde para uma selecção africana. O Gana ficou nos quartos-de-final, na mesma etapa onde tinham ficado os Camarões e a Nigéria. HondurasDuas equipas saíram da prova sem festejarem golos: Honduras e Argélia. A Coreia do Norte foi a equipa que mais golos sofreu. Ao todo foram 12. InvernoBarretes, cachecóis, luvas, até cobertores. Há muito que os adeptos não sentiam na pele um Mundial com temperaturas abaixo de zero (e com chuva torrencial). JabulaniNão deve ter havido uma conferência de imprensa (e eram diárias) em que os jornalistas não falassem da bola mais polémica de sempre. Bola de supermercado. Bola de praia. Jogadores e treinadores insultaram-na de tudo. A bola mais redonda de sempre, vendeu a Adidas. A FIFA prometeu mediar uma conversa entre o fabricante e os treinadores das selecções presentes. KloseUma dor nas costas impediu Klose (cinco golos em 2002, cinco em 2006 e quatro em 2010) de tentar marcar o 15. º golo em fases finais do Mundial que lhe permitiria igualar a marca recorde do brasileiro Ronaldo. O alemão, 32 anos, já não deve participar no Mundial 2014, no Brasil. LarriondaNa lista negra de futuros compêndios do Mundial surgirá o nome de Jorge Larrionda, árbitro uruguaio que deixou Lampard de boca aberta e a Inglaterra de cabelos em pé (se é que já não estava antes). Vinte e sete de Junho. Dia negro para a arbitragem, que deixou passar um golo de Tévez num escandaloso fora-de-jogo. Tecnologias para 2014? Blatter assume que sim, que a linha de golo terá de ser mais vigiada. MüllerVan Gaal, treinador do Bayern Munique, sentiu saudades de Thomas Müller, um jovem que faz tudo bem. Vencedor da Bola de Ouro e do prémio de melhor jogador jovem. NaniEstá neste alfabeto porque não esteve no Mundial - e fez falta - e porque simboliza uma série de imbróglios, linhas cruzadas e diz-que-disse entre jogadores (lesionados, frustrados, mimados) e Queiroz. OlegárioO árbitro tinha avisado que uma das duas equipas portuguesas iria para casa mais cedo. Olegário Benquerença (que formou equipa com Bertino Miranda e José Cardinal) resistiu até aos quartos-de-final. PaulFoi o Mundial do Twitter e do Facebook, mas quem amealhou mais fãs foi o polvo Paul, o animal mais famoso do Mundial depois do cão Pickles. Não recuperou o troféu roubado como o cão britânico, mas este polvo alemão antecipou todos os movimentos do placard. Sem uma única falha. A Nova Zelândia também fez um pleno (foi a única equipa que não perdeu nenhum jogo). E a Suíça orgulha-se de ter batido a nova campeã. QuagliarellaEsteve em campo 44’ e pode gabar-se de ter feito o que muitos italianos não conseguiram. Entrou de cabeça erguida, marcou um excelente golo (e mais dois, anulados), suou a camisola e saiu lavado em lágrimas. A Itália de Marcello Lippi não honrou o título que conquistara em 2006. RioO Mundial volta à estaca zero. Algumas horas depois de Casillas erguer o troféu, a FIFA referiu “alguns problemas” a resolver no projecto brasileiro para 2014. São as estradas, os estádios, os aeroportos e, sobretudo, a segurança. Será também a oportunidade de a selecção brasileira se redimir de mais um Mundial frustrante. SeppQuando ontem o confrontaram com os apupos no Soccer City, durante a cerimónia de abertura, Sepp Blatter fez ouvidos de mercador. “Não ouvi, percebi apenas que havia menos vuvuzelas. ” Sobre as costas do suíço, presidente da FIFA, caiu a bola mais redonda de sempre, as tecnologias e os erros de arbitragem. Tiqui-tacaOitenta anos, 19 edições e finalmente mais um nome na lista de vencedores. Espanha junta-se a Brasil, França, Inglaterra, Alemanha, Uruguai, Argentina e Itália. Foi a vitória do tiqui-taca, o estilo que todos aprenderam a apreciar no Europeu de 2008 e que foi transportado quase intacto para o Mundial 2010. UruguaiConsta que só o seleccionador norte-coreano tinha um salário menor do que Óscar Tabárez, um herói no Uruguai, quarto classificado. Foram muitos os protagonistas de uma selecção preparada para “lutar até à morte”. O mais mediático foi Forlán, eleito Bola de Ouro do torneio, que poucas vezes tinha fugido às duas equipas da final para escolher o melhor. VuvuzelaUm enxame de vespas. Uma manada de elefantes. Primeiro estranha-se, depois odeia-se. As vuvuzelas são uma praga. Ponto final. WesleyPalavras para quê? O ano de 2010 foi dourado. Título e taça italianos, vitória na Liga dos Campeões e uma exibição marcante (cinco golos) na África do Sul. Se a Holanda não foi mais longe foi porque Robben, outra das suas mais-valias, não quis nada com mais uma assistência exemplar de Wesley Sneijder. XaviHoras antes da final, o voto do PÚBLICO para o melhor jogador do Mundial foi para Xavi. Iniesta marcou o golo decisivo (dedicou-o a Jarque, falecido capitão do Espanyol). E eles são o pêndulo, o início de todas as estatísticas. Dos 121 remates à baliza, dos 3803 passes completos, do título que fez com que os espanhóis fossem à lua, do regresso de Espanha ao primeiro lugar do ranking da FIFA. Mantemos o voto. YeboSignifica sim em zulu, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul. Sim, Nelson Mandela esteve na cerimónia de encerramento do Campeonato do Mundo que o próprio sonhara para o continente africano. Mandela, que completa 92 anos no próximo dia 18, sorriu sempre para os mais de 85 mil espectadores que encheram o Soccer City e em troca recebeu um coro “Madiba! Madiba! Madiba!”. Foi o momento mais alto do Mundial. ZumaO presidente sul-africano acredita que o país não irá parar com o desaparecimento do Mundial. Jacob Zuma passou os últimos meses a falar de desafios sociais e um deles é a educação de cerca de 72 milhões de crianças. Até 2015, o país pretende reduzir esse número para metade.
REFERÊNCIAS:
Melhorar é a palavra de ordem para Portugal e Marrocos
Selecção africana, com o toque de Hervé Renard, tenta sobreviver no Grupo B. Fernando Santos quer equipa ao nível do Euro 2016. (...)

Melhorar é a palavra de ordem para Portugal e Marrocos
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DATA: 2018-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Selecção africana, com o toque de Hervé Renard, tenta sobreviver no Grupo B. Fernando Santos quer equipa ao nível do Euro 2016.
TEXTO: Primeiro foi uma Espanha “em crise”, vítima das suas próprias idiossincrasias, mas que mostrou em Sochi ter sabido resolver os problemas antes de entrar em campo. Hoje será Marrocos, selecção que chegou ao Mundial 2018 moralizada por um ano inteiro sem qualquer derrota, mas que surpreendentemente caiu na estreia frente ao Irão, deixando presa por arames a auto-estima e a sua relação com os exigentes adeptos. Sem margem de erro, o francês Hervé Renard, seleccionador do segundo adversário de Portugal, terá, assim, que recuperar no Estádio Luzhniki os créditos que fizeram de si um dos mais cobiçados treinadores em África. Com menos problemas para resolver, Fernando Santos vai mexer no ataque e resgatar uma parceria de sucesso: Cristiano Ronaldo e André Silva. Na Zâmbia é considerado um herói; na Costa do Marfim é lembrado com saudade; em Marrocos já há quem o chame de “mágico”. Pouco reconhecido na Europa, o treinador do segundo adversário de Portugal no Mundial 2018 tem, aos 49 anos, um currículo invejável em África e é o grande responsável pela enorme evolução da selecção marroquina nos últimos anos. Em 2012, Hervé Renard conseguiu levar uma modesta selecção zambiana a uma vitória inédita na Taça das Nações Africanas (CAN). O sucesso no continente despertou o interesse do Sochaux, mas, de regresso ao seu país, Renard não foi feliz: acabou despromovido à segunda divisão francesa. O falhanço em França motivou novo regresso a África. Destino: Costa do Marfim. Resultado: Nova vitória na CAN (2015). Renard tornava-se no primeiro treinador a vencer a prova por dois países diferentes. A proeza não passou despercebida. Com nova proposta saída de França, Renard cedeu ao convite do Lille, mas seis meses depois, com 13 pontos em 13 jogos, acabou despedido. Sem clube, o técnico voltou a “casa”. Em Fevereiro de 2016, o francês foi apresentado como novo seleccionador de Marrocos e precisou de um ano para, duas décadas depois, voltar a apurar os marroquinos para um Campeonato do Mundo. E o registo, num grupo no qual estavam também a Costa do Marfim, o Gabão e o Mali, impressionou: zero derrotas e zero golos sofridos. Mas qual é o segredo do sucesso de Hervé Renard em África? O francês coloca o mérito em Claude Le Roy, actual seleccionador do Togo, de quem foi adjunto e de quem recebeu um importante conselho na primeira vez que trabalharam juntos em África: “Disse-me que o importante é ser tolerante. Não podemos chegar a África e dizer que em França se fazem as coisas desta ou daquela maneira. É preciso esquecer tudo, deixar de lado as comparações. Se mantivermos o espírito aberto sobre a cultura, as tradições e a mentalidade, podemos ter sucesso. ”Ontem, na sala de imprensa do Estádio Luzhniki, Renard mostrou que as suas qualidades não se ficam pela forma como gere o ego dos sempre problemáticos balneários africanos. Com habilidade e diplomacia, o treinador soube não hostilizar o grande trunfo do seu adversário — “Cristiano Ronaldo é um jogador excepcional, tentaremos que seja menos excepcional” —, mas fez questão de deixar claro que Portugal não se resume a um jogador, por muita qualidade que tenha: “Se colocar três a marcarem o Ronaldo, quem marca os outros? Ele lesionou-se na final do Euro 2016 e Portugal venceu a França”, recordou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E um dos “outros” que os marroquinos terão de marcar no palco da final do Mundial 2018 será, muito provavelmente, André Silva. Fernando Santos escondeu o jogo na antevisão da partida, mas o avançado do AC Milan deverá ser titular em Moscovo, contra Marrocos, reeditando, com Cristiano Ronaldo, uma dupla que foi de enorme sucesso ao longo da fase de qualificação. A outra previsível alteração em relação ao jogo com a Espanha é a entrada de João Mário, relegando Bruno Fernandes para o banco de suplentes. Neste cenário, o médio que na última época esteve emprestado pelo Inter Milão ao West Ham deverá ocupar o corredor esquerdo, com Bernardo Silva a surgir novamente do lado oposto. “Temos capacidade para fazer melhor do que fizemos contra a Espanha”, anotou ontem Fernando Santos, garantindo que “Portugal está pronto e preparado” para o segundo jogo no Mundial. O técnico português reconhece que Marrocos “tem um treinador experiente, jogadores de qualidade, que actuam nos melhores campeonatos europeus, e é uma equipa muito organizada”, que “disputa o jogo no limite”. Independentemente dos predicados do adversário, para o selecionador de Portugal só há um caminho a seguir, o mesmo que tem trilhado a selecção nos últimos anos: “Basta jogar ao melhor nível, como fizemos no Europeu. Se fizermos isso, acredito que vamos ganhar. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura campo ataque marfim
O bolsonarismo na favela
O novo Presidente do Brasil atacou verbalmente mulheres, gays, negros e pobres. Jair Bolsonaro, que toma posse no dia 1 de Janeiro, teve forte apoio da elite branca. Mas nem por isso a periferia deixou de votar nele. O que terá levado tantos moradores de favelas a escolhê-lo? O P2 esteve em algumas do Rio de Janeiro à procura de respostas. (...)

O bolsonarismo na favela
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O novo Presidente do Brasil atacou verbalmente mulheres, gays, negros e pobres. Jair Bolsonaro, que toma posse no dia 1 de Janeiro, teve forte apoio da elite branca. Mas nem por isso a periferia deixou de votar nele. O que terá levado tantos moradores de favelas a escolhê-lo? O P2 esteve em algumas do Rio de Janeiro à procura de respostas.
TEXTO: Na sede do circo Crescer e Viver onde trabalha Richard Gomes Estrela, 20 anos, há uma enorme tenda de lona azul de onde sai e entra gente. Hora de almoço e a cantina serve carne, feijão, legumes grelhados. Estão a organizar um festival e a actividade é intensa. Richard acabou de ganhar um prémio na mostra competitiva de abertura do festival com um número de acrobacia e lira. Passando pelos cartazes a anunciar espectáculos, aponta orgulhoso para um deles, onde um corpo está contorcido na lira, de uma flexibilidade impressionante: “Aquele ali sou eu. ”O Crescer e Viver é um projecto que junta arte e transformação social, desde os seis anos fazendo acrobacia, contorção, aéreo, malabarismo, teatro, dança e ballet. Neste momento, Richard só se dedica mesmo ao circo, deixou de estudar. No início, o Crescer e Viver era “tudo isso aqui”, diz. Aponta para uma área onde agora há prédios altos na Praça Onze, à boca do metro. É uma zona com carências sócio-económicas e privações habitacionais, onde as casas estão visivelmente degradadas. Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal) chegou a Presidente da República — toma posse a 1 de Janeiro — e a extrema-direita no Brasil venceu em várias frentes, com grande apoio de cidades mais ricas, incluindo o Rio de Janeiro, mas nem por isso deixou de ter votos da população mais desfavorecida e discriminada. No estado do Rio de Janeiro chegou quase aos 68% e na capital passou os 66%. Entre quem estava no escalão económico mais baixo de todos, segundo uma sondagem do Ibope, a maioria votou Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores, PT) mas na fatia seguinte — a de quem ganha até dois salários mínimos, 440 euros — Bolsonaro teve uma ligeira vantagem (47% contra 53%). Foi também entre os jovens dos 25 aos 34 anos que o candidato da extrema-direita conseguiu a maior aceitação, com 49%. As mulheres também preferiram Bolsonaro a Haddad. Não foi o único candidato com posições extremistas a vencer. Estando no Rio, há que acrescentar a eleição de Wilson Witzel, com quase 60% dos votos como governador, um homem que defendeu a intervenção militar nas favelas e a licença para matar quem fosse visto com armas. “O correcto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correcto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Para não ter erro”, disse. Richard Estrela foi um dos que elegeram Bolsonaro. Leva-nos a sua casa bem no meio do bairro. Passamos por uns edifícios degradados, ele bate numa das portas de onde sai música alta. Há raparigas de biquíni a tomar “banho de lage”; usam copos de água para refrescar o corpo estendido ao sol para bronzear. A casa de Richard vai sofrer em breve remodelações. Numa das áreas da entrada, sem tecto, espalham-se latas de bebidas gaseificadas e outros objectos entre as ervas que crescem. Da cozinha saem dois gatos magros. “Estão rolando muitas críticas sobre Bolsonaro, mas a gente em casa votou nele no segundo turno”, comenta. “Pela segurança. Aqui é um bairro muito perigoso à noite por causa de traficantes e tiroteios”, diz. “Sei que ele pode acabar com projectos sociais, que ele pode liberar as armas. Mas votei mais nele para colocar respeito na sociedade, que falta. ” Como é que Bolsonaro o fará, Richard Estrela não sabe. Mas acredita que arranjará forma de colocar os bandidos na cadeia, “botar mais polícia na rua”: “Todo o momento tem assalto, alguém sendo baleado. Talvez com ele a segurança seja melhor”, responde sem grande convicção ou ideia de como, na prática, o Presidente irá resolver aquilo que ele quer que resolva. Nunca foi assaltado, mas no bairro onde vive já ouviu serem disparados muitos tiros. Jovem negro e assumidamente homossexual, Richard Estrela diz que o discurso homofóbico de um Presidente que fala em “cura gay” e fez vários comentários racistas não o impediram de votar nele. “Ofender até ofende. Eu saio à noite e tenho o maior medo de encontrar homofóbico na rua e querer me bater. Mas não acho que Bolsonaro está incentivando, não. Criaram um fake [news] em cima dos discursos dele. ”A família sempre o aceitou, tanto que chegou a apresentar o único namorado que teve. Mas Richard acha-se diferente de outros homossexuais. Não concorda “com tudo o que fazem os gays”. Por exemplo, não concorda que os casais homossexuais expressem os seus afectos como os heterossexuais, beijando-se em público em frente a crianças. Acredita, por isso, que de alguma forma Bolsonaro irá colocar ordem na “moral e bons costumes”. A dada altura, ele e o padrinho, com quem vive desde os seis anos, falaram sobre em quem votar na segunda volta. De camisa de alças, este ex-motorista que agora está reformado chega à cozinha para nos explicar que o seu voto foi para Bolsonaro por ser “uma verdadeira incógnita”. O sentimento anti-Partido Trabalhista (PT) é grande. “O Haddad sei que seria mais corrupção, uma bandalheira. ”No escritório do Crescer e Viver, o coordenador Júnior Perim, 46 anos, ex-secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro, comenta que Bolsonaro “falou ao imaginário popular porque a população é vítima de crime”. Continua: “Há uma certa hipocrisia que pode minar a democracia brasileira, uma incapacidade de os sectores progressistas da intelectualidade fazerem autocrítica sobre a ausência de uma agenda para a segurança pública pela esquerda. Não são apenas as operações policiais que geram danos colaterais, é também o cara que está a ser assaltado numa comunidade [favela] e que comprou o celular em dez meses. ”Segundo o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2016 houve mais de 62 mil vítimas de homicídio e 71, 5% foram negros. A taxa — que é superior a 30 mortes por 100 mil habitantes — é também 30 vezes mais alta do que a da Europa. No Rio de Janeiro, depois de uma descida entre 2003 e 2010 de 44, 6 para 29, 8, a taxa de homicídios voltou a subir para 31, 7 em 2016. Júnior Perim critica o Governo PT por ter estado 14 anos no poder sem resolver o problema da segurança, sem dar resposta aos homicídios no Brasil. Perim quer acreditar que “a dimensão litúrgica do cargo e a instituição Presidência da República vão reorganizar a fala de Bolsonaro”. A questão da segurança é central para muitos dos analistas. Atila Roque, historiador, ex-director executivo da Amnistia Internacional e actualmente director da Fundação Ford no Brasil, sublinha que a violência está concentrada nas periferias, com os jovens e negros a ser as principais vítimas: “Se compararmos as taxas de homicídio no Leblon [bairro rico do centro do Rio] são tão baixas quanto a Suíça mas se pegar na Baixada Fluminense [periferia da área metropolitana do Rio de Janeiro] vai chegar a patamares altíssimos. A violência é selectiva em termos territoriais e de perfil populacional. ”Apesar de o racismo, o machismo e os preconceitos fazerem parte da sociedade, a novidade foi existir um candidato que teve apoio de pessoas que não são necessariamente racistas e homofóbicas, mas que não encontraram opção e votaram nele, analisa. “Não devemos cometer o erro de achar que todo o mundo que votou Bolsonaro foi cooptado pelo pensamento dele. Temos de escutar com atenção o que é que o campo dos direitos humanos não foi capaz de conquistar ao longo destes últimos dez anos e perdeu para as igrejas evangélicas fundamentalistas: não tratámos da segurança pública e eles foram avançando. ”Com 23 anos, Luca Santana sai todos os dias às 10h de casa, na Vila Kennedy (uma favela na zona oeste) para demorar cerca de 1h30 ou 2h até ao emprego de vigilante num banco na zona sul (a zona abastada). Trabalha em part-time, ganha um salário de menos de mil reais (228 euros), que dá para “sobreviver, não para viver”. Ainda mora com os pais e com os irmãos. Muitos lá em casa — nem todos — votaram em Bolsonaro. Ele não deu o seu voto ao actual Presidente na primeira volta, apenas na segunda. “Não penso nele como um salvador, nem votei por gostar dele. Mas a gente não atura mais o PT. E não votei em Bolsonaro, votei nas propostas dele. ”Isto porque depois de ler as propostas dos dois candidatos concluiu que “entre Bolsonaro e Haddad era impossível votar em Haddad”. Por exemplo, o candidato do PT queria “reduzir as penas” de prisão — mais concretamente, sugeria alterar a lei para dar prioridade a pena de prisão para crimes violentos e ter penas alternativas para crimes não violentos. “O Bolsonaro é o oposto, o preso tem que permanecer na cadeia, não tem que ser solto. Acho que soltar o presidiário só ia aumentar o crime. Já dá para ver que ele [Haddad] não vive a mesma realidade, não fala a mesma língua do povo. A gente vive assassinato, estupro…”Assaltado duas vezes, ameaçado porque não tinha nada numa delas e “salvo” porque a polícia apareceu, Luca Santana considera que a questão da segurança no Brasil só se resolve com o “confronto directo”. Não é que concorde com tudo o que Bolsonaro defende, nomeadamente a posição de que “bandido bom é bandido morto” ou com a castração química para violadores em troca de redução da pena. Mas acha que “é preciso reprimir, apertar o cerco, não abrir o espaço para que os bandidos tenham acesso às armas”. As ideias de Bolsonaro são “as mesmas que o povo sente de revolta com toda esta situação”, diz. Porque “ele conhece esse espaço e as pessoas que enfrentam este tipo de situação”. Concorda “plenamente” com a solução que apresenta de reforçar a polícia federal e a polícia civil. Quanto ao radicalismo do Presidente, é algo que não o incomoda. “Sinto a raiva que ele tem por essa situação do Rio de Janeiro. A questão do racismo, da homofobia e misoginia, não vi nada disso. ”Embora não tenha ilusões de que Bolsonaro vá mudar o Brasil, acredita pelo menos que vai “melhorar”. Para chegar a Chapadão, em Pavuna, uma das favelas no Rio de Janeiro com menor índice de desenvolvimento humano, tem de se atravessar a cidade e andar quase uma hora de carro. Estamos em meados de Novembro e a viagem é suficientemente longa para perceber que chegámos bem à periferia, fora do centro do poder. Passamos por várias favelas com as suas casas de tijolo, fios eléctricos pendurados, contentores de água azuis, antenas de televisão a perder de vista. Na Pavuna, como em todas as outras favelas brasileiras, há néones de igrejas evangélicas. Numa das entradas do complexo onde vivem quase 209 mil pessoas está justamente o edifício moderno da Igreja Universal do Reino de Deus. Do terraço de casa de Sinara Rúbia, a vista não é muito diferente do que fomos vendo pelo caminho noutras favelas. Nem tudo na paisagem é homogéneo: há casas inacabadas e outras que podiam ser uma moradia em qualquer outra zona do centro da cidade. A Pavuna tem sido notícia sobretudo por causa de episódios de violência como assaltos, mortes ou fogos ateados em autocarros. A feijoada está pronta. Passam-nos uma cerveja e indicam-nos os pratos para encher com arroz, couve mineira e laranja, tudo o que compõe uma das mais conhecidas refeições brasileiras. À mesa sentam-se vários jovens que participam da Agência de Redes para a Juventude, um programa que estimula pessoas entre 15 e 29 anos — e que são moradores de favelas e periferias — a transformarem ideias em projectos de intervenção. Marcus Faustini, 47 anos, é o mentor. Cresceu em favelas diferentes, nomeadamente em Cesarão. Formado em teatro, faz cinema e usa a arte como metodologia, formando jovens que ajudam outros jovens. A agência já actuou em 40 favelas e pôs na rua projectos de cem pessoas, estando presente em vários locais do Brasil e Reino Unido. No grupo há vários evangélicos, todos moradores de favelas. Ao declarar o seu apoio a Bolsonaro, Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário da RecordTV, facilitou-lhe um enorme apoio. Quando o candidato da extrema-direita se tornou, então, Presidente da República, algumas igrejas evangélicas fizeram festa nos seus espaços, conta Ellen Rose, 26 anos, arquitecta. “Isso é muito grave”, comenta esta jovem, uma possível futura pastora que dirige uma célula da igreja. Tem tatuado à volta do braço “nada nos poderá separar do amor de deus que está em cristo jesus nosso senhor”. Ellen Rose está muito distante do radicalismo de algumas igrejas evangélicas no Brasil, nomeadamente as neopentecostais. Tem uma atitude bastante crítica em relação ao Presidente. “Na minha igreja tem gente que votou no Bolsonaro, mas tem gente que não votou também. ” Ela confessa que conseguiu “virar o voto” de umas 20 pessoas ao falar do lado violento do Presidente: “As pessoas caíam na real. Diziam: ‘Espera aí, de facto estou votando numa pessoa horrível, que é uma pessoa inaceitável. ’ Inaceitável pelo discurso anti-democrático, de apologia à tortura, violento, racista, xenófobo, homofóbico. Nada disto é velado, é tudo muito aberto. ”Bolsonaro disse abertamente ser a favor da tortura e da ditadura militar, proferiu discursos de ódio homofóbico e racista e não teve pudor em defender posições machistas, nem afirmar que irá banir os opositores. Estão disponíveis na Internet, em vários vídeos no YouTube, as imagens. Ellen Rose diz que alguns eleitores evangélicos se identificavam porque ele foi vendido como alguém com ética. João Baptista, mais conhecido como “Big” por causa do seu porte físico, estudante de audiovisual com 20 anos, também evangélico, sublinha que entre a comunidade os argumentos para votar em Bolsonaro passavam muito por: “Não negoceio meios princípios e Bolsonaro tem princípios cristãos. ”O discurso teve aceitação porque o Brasil é conservador, acrescenta Ellen Rose. Mas não só: “Há uma onda americanizada. Ouvi demais a galera falar que o Bolsonaro é o nosso Trump. Os evangélicos norte-americanos também elegeram Trump e há pastores que fizeram a cabeça de pastores nacionais. Nós sabemos que o povo evangélico elegeu Bolsonaro. ”Os jovens evangélicos que se sentam nesta roda de conversa não são como aqueles que defendem Bolsonaro. Foram reunindo as razões pelas quais os que lhes são próximos votaram nele. Carol Du Pré, 24 anos, lembra-se de ter ouvido como explicação dos seus irmãos a promessa de Bolsonaro poder “trazer ordem e acabar com a corrupção”. No seu projecto social, acontece muitas vezes, por causa dos tiros na favela, que algumas crianças não apareçam. “A gente vive numa favela dominada pelo tráfico. Aquilo que diziam é que Bolsonaro era o candidato que mais trazia uma ‘solução’ para a guerra das drogas. Muito moleque é preso, sai da cadeia e volta a cometer os mesmos crimes, ou então roubam e matam, mas só tardiamente são punidos ou nem chegam a pagar pelos seus crimes. A justiça é tardia, falha. E o discurso do Bolsonaro fala sobre a justiça que nos atinge directamente, que é a do tráfico”, explica. Outro tema que as irmãs falavam muito lá em casa: “Criou-se uma aversão ao PT, diziam que o Haddad ia soltar o Lula. Isso deixava elas indignadas porque ele foi preso por corrupção. ”Carol du Pré dinamiza aulas de pintura na igreja, mas o objectivo não é a doutrinação. O pastor cedeu uma sala para o seu projecto com as crianças. Aqui está um exemplo de uma das razões que faz o sucesso e crescimento dos evangélicos, apontam: o facto de ocuparem um espaço deixado vazio pelo Estado nas zonas mais pobres. Como lembra Veruska Delfino, coordenadora da agência, a igreja acolhe a comunidade, tem as suas políticas de assistência local para a melhoria da vida das pessoas. E reúne um atributo importante: “É confiável. ”É confiável porque está ali, completa Marcus Faustini. “O Governo só vai às favelas com a polícia. E a esquerda também não vai lá. ”Veruska Delfino explica: “Se um líder de uma igreja fala que tem que votar no candidato X, que ele é o cara de Deus, que o outro traz um kit gay que vem com cartilha ensinando que pode beijar menino e menina e é contra os princípios da igreja, mesmo que isso seja falso, ele vota. ”Na verdade, o Brasil “é racista, homofóbico mas estava encoberto pelo politicamente correcto”, diz César Varella, 19 anos, actor que conhece de perto pessoas mais conservadoras, como o pai. Extrovertido, falador, vai acrescentando dados a conversa: “Quando chega alguém como Bolsonaro que fala isso e não é punido, as pessoas que estão caladas há muito tempo vêem ali a oportunidade de ser quem são sem terem de se moldar, sem sofrerem represálias. ”Foi determinante, acrescenta Marcus Faustini, o tema da segurança, algo que afecta a vida das pessoas mais pobres no Rio de Janeiro que “não gostam” de acordar com armas, com tráfico e violência. “A esquerda esteve muito tempo no poder, esquecendo as favelas como qualquer outro Governo. ”Acabado de ser pai e a escrever um livro sobre essa experiência, Felipe Salsa, 27 anos, dançarino, toca noutro ponto importante, que é a capacidade de comunicação de Bolsonaro. Muitos políticos “falam bonito” mas “nem toda a gente de comunidade entende”: “Você também tem que saber traduzir, explicar. ” Já “Bolsonaro falava directamente, era simples. ”Esta é uma questão central, continua Marcus Faustini, porque as causas como o feminismo ou a luta de minorias fecharam-se sobre si próprias e entraram “numa linguagem de classe média universitária”, critica: “São lutas numa estrutura de linguagem de elite, comportamental” que não chega às favelas. Veruska Delfino complementa: “Quando a esquerda radical vem comunicar com a base, traz aquilo que acha que é bom e não procura saber como a gente constrói o mundo que a gente quer. Quem cresce na periferia sem pai quer ter uma família tradicional. Bolsonaro traz uma radicalidade que é contra esses princípios da diversidade, diz que vai botar ordem na escola. Depois aparecem as notícias falsas. Fica muito difícil lutar contra a sua candidatura. . . ”Até porque é uma candidatura que vem sendo preparada há muito tempo. Juliana Carmo, 19 anos, estudante de Engenharia de Alimentos, lembra-se de ver a cara de Bolsonaro a circular na Internet há uns anos, mas como motivo de gozo entre os seus amigos. De repente, o gozo tornou-se realidade. “A campanha dele foi toda muito virtual. Entrávamos no Twitter e as pessoas acreditavam nas fake news e replicavam-nas. Ele conseguiu mexer com gente mais jovem, mas também com o pai e a avó”, analisa. O pai “superconservador” concorda quando ele diz que não quer um filho gay ou quando fala de bandidos mortos porque isso “replica o que muita gente diz há anos”. Marcus Faustini nota ainda que Bolsonaro ganhou em favelas onde os chefes do tráfico disseram para as pessoas não votarem nele. “Então foi um voto de rebeldia, um voto revolucionário, de esquerda. De alguma maneira, Bolsonaro captou uma energia de esquerda, de oposição, anti-sistema. ” Por isso também conquistou jovens. No grupo trocam-se impressões sobre a postura física de Bolsonaro, as frases bombásticas, a rapidez com que discursava e desaparecia deixando os eleitores com “bombinhas”. Sinara Rúbia acentua: a forma de ele falar, “a irritação, a energia, o tom de voz”, o “não querer ir à televisão” aproximou as pessoas. O mais grave: “Ele não precisou de explicar qual o plano de Governo, qual o projecto dele para o Brasil. ” César continua: “Ele chegava com um textinho, só o título, enquanto a esquerda falava de segurança de uma forma que as pessoas não entendem. ”Ouviu-se muitas vezes a crítica à falta de informação dos eleitores. Na verdade, são comuns entre os apoiantes de Bolsonaro atitudes negacionistas sobre as suas posições mais radicais: “Não disse, não fez, são fake news. ” Quem votou no Bolsonaro é mal informado?Veruska Delfino acha que é necessário um maior diálogo com o eleitor que não é activista mas está preocupado com a saúde, a segurança, a educação. Não é óbvio para esse eleitor que Bolsonaro viola direitos. Até porque falta formação política no Brasil, analisa. Tem-se falado muito da radicalidade do novo Presidente, catalogado como extrema-direita, mas poucos usam a palavra “fascista”. César Varella não sabe se ele tem força suficiente para ser um fascista ou se o seu discurso já o torna um fascista. “Pessoas negras, professores e educadores votaram no Bolsonaro mesmo ele falando tudo o que ele falou. ” Isto explica-se, diz Faustini, porque é errada a ideia da esquerda de “que as pessoas se reconhecem prioritariamente na sua identidade de origem”. É um retrocesso a sua eleição: aumenta os riscos de ataques a direitos fundamentais, afirma. A questão, acrescenta Carol Du Pré, é que a Constituição no Brasil proíbe a tortura e Bolsonaro defende-a. As pessoas concordam com as ideias extremistas, aprovam-nas e “já vira lei”. Juliana: “O Bolsonaro não vai chegar aqui e matar todo o mundo, quem vai fazer é o clube de fãs dele. ”Sinara Rubia, activista do movimento negro, faz uma autocrítica. “O voto de pessoas negras ou mulheres no Bolsonaro mostra o nosso distanciamento dessas pessoas enquanto activistas. A nossa produção intelectual está falando de quem para quem?” O seu medo é de que, se não forem tomadas precauções, o risco de alastramento de fascismo seja maior. “Aí o bicho vai pegar e vai ser uma era. Eu tenho muito medo. ” Juliana vai mais longe: “Tenho medo de morrer. ”Já depois da roda, com música a tocar e a festa a começar, Sinara Rubia encosta-se ao muro do terraço, com a Pavuna e os seus telhados desalinhados a estenderem-se pelo horizonte. Com o semblante preocupado, confessa: “Acho que somos um país muito mais conservador do que a gente pensava. Hoje entendo a força da palavra ‘tolerância’. Quando você trabalha a tolerância você vai trabalhando politicamente, no imaginário das pessoas, o respeito, o tolerar aquilo a que elas têm resistência. Quando um governo como o do Bolsonaro legitimiza e impulsiona a intolerância, ninguém mais vai precisar de tolerar. ”Quem sai e quem entra do Rio de Janeiro a partir do aeroporto passa necessariamente entre o complexo da Maré, um conjunto de 16 favelas que foi artificialmente unido, com 140 mil pessoas e uma autêntica cidade dentro da cidade que começou a ser ocupada na década de 1940. A carrinha onde seguimos é parada por um jovem de espingarda em punho, sem camisola, a vigiar quem entra e sai e num cerco a quem travar o tráfico de droga e de armas. Para se ter uma ideia da dimensão, mais de 96% das cidades no Brasil não têm este número de habitantes, diz Eliana Sousa e Silva, 56 anos, que chegou à Maré com sete anos. Há 20 iniciou aquilo que viria dar origem ao projecto Redes da Maré, organização para o desenvolvimento daquele território, que se divide em várias áreas, do apoio a mulheres até às crianças e segurança. Contabilizam as violações de direitos e homicídios — por exemplo, em 2017, houve 42 vítimas de homicídios na Maré em sequência de confrontos armados com a polícia ou o tráfico, as crianças tiveram menos 35 dias de aulas (ou seja, 17% dos dias lectivos) e os postos de saúde funcionaram menos 45 dias por causa disso. Se o processo continuar, aos nove anos uma criança terá menos um ano e meio de escola, afirma Eliana Sousa e Silva. Isto numa favela em que em 1997 apenas 0, 5% tinham acesso à universidade: hoje essa percentagem cresceu e 1200 moradores já entraram para a universidade. “A favela é vista como única e por isso a polícia vem em carros blindados para enfrentar o exército inimigo que somos todos nós”, diz a fundadora numa visita às várias valências do projecto, que inclui biblioteca para crianças. “O direito à segurança pública não foi estabelecido aqui. Isso foi responsável pela violência. ”Na Redes da Maré há um projecto em que se contabilizam o número de violações de direitos pela polícia, comunicam por WhatsApp com outras redes. Por exemplo, desde que Bolsonaro foi eleito que Eliana Sousa e Silva tem recebido mais imagens chocantes nos seus grupos de chat. Mostra algumas com vídeos e fotografias de operações policiais. Numa delas vemos um monte de corpos em cima uns dos outros numa carrinha, mortos. “A relação dos políticos com a favela sempre foi muito conservadora e clientelista”, afirma. “E isso faz com que as pessoas nas favelas não tenham a noção real da importância do seu voto e de que isso vai trazer uma mudança directa para a sua vida”, analisa. “É por isso que o voto é conservador. Bolsonaro pegou um discurso muito forte de que teria de haver uma mudança, atingiu intermediários que têm acesso a essas pessoas e que passaram esse discurso muito bem. ”Há anos que Eliana Sousa Silva se debate com as diferentes oposições ao seu trabalho social. Chegou a ser questionada pelos chefes de tráfico sobre as suas intenções, é questionada por outros poderes sobre a origem dos fundos — a Redes tem financiamento de organizações internacionais como a Open Society Foundation. Analisando em maior profundidade, acha que “é chocante” o facto de a favela se identificar com um discurso que contradiz a sua própria vida e as suas escolhas — “pessoas negras, homossexuais, que foram os mais atacados”. É por isso que há uma lição a estudar, afirma, pois esse voto “foi para além da sua identidade, daquilo que as representa”. Por outro lado, “muitos que vivem na favela têm a mesma visão preconceituosa e estereotipada da favela onde vivem” do que os outros. Um dos objectivos da Redes é precisamente romper com essa representação negativa: “Porque há grupos armados, violência, acção violadora da polícia e existe a visão de que todo o mundo que mora ali tem relação com esses grupos armados e com as actividades ilícitas”, diz. A Redes da Maré conseguiu a colaboração da justiça para ajudar a cumprir direitos básicos dos cidadãos durante as operações da polícia, como a obrigatoriedade de mandado nas rusgas. “E Bolsonaro diz que a polícia pode agir do jeito que achar. Imagina um policial despreparado e doido para matar. ”Nem todos ficaram surpreendidos com a eleição do Presidente de extrema-direita. Moradora da Maré, a deputada estadual Renata Souza, do PSOL — foi chefe de gabinete de Marielle Franco, assassinada este ano —, é uma delas. “Porque não foram votos apaixonados de defesa intransigente da sua agenda. O que a gente ouviu muito foi que votariam no Bolsonaro porque ele ia atacar os corruptos, que ele era ético e que essa coisa de ele falar contra os negros e as mulheres era bobeira porque ele faz muita brincadeira. Bolsonaro foi encarado como essa pessoa de fibra que tem capacidade de fazer frente contra a corrupção. ”Agora, acrescenta, vai ser preciso mobilização, trabalhar com os sectores mais vulnerabilizados, a população LGBT, negra e as mulheres. “A gente tem que estar forte e organizado a partir de debates concretos dentro e fora do Parlamento. Vamos ter que nos reorganizar na nossa sociedade para que a barbárie não vire política pública e o medo não seja o instrumento principal dessa política. ”A análise da coordenadora pedagógica da casa das mulheres da Redes da Maré, Andreza Jorge, também moradora, é um pouco diferente. Entre um percurso pelo complexo em dia de chuva, com valões onde boiam garrafas, lixo, ratos e outros animais que são portadores de doenças contagiosas, vai comentando aquilo que moradores de outras favelas repetem: a distância do poder político com estes espaços. “Dentro desses micro-universos, o voto em Bolsonaro pode ser uma forma que os eleitores encontraram de fazer justiça contra os civis armados e contra o tráfico de que eles discordam. O lance é que esses eleitores não entenderam que ele é visto como parte do pacote. ”Falta ainda outra dimensão importante, a da comunicação e das redes sociais que chegam em força à periferia. Bolsonaro é um Presidente eleito pelo WhatsApp e pelas redes sociais, dialogando directamente por estes meios com os eleitores sem passar pelo confronto político e ideológico com os adversários. Neste momento com 8, 8 milhões de seguidores na página de Facebook, Bolsonaro tinha a maior percentagem de eleitores com acesso a redes sociais, segundo uma pesquisa do Datafolha. Também era entre os seus eleitores que estava a fatia maior de pessoas que liam notícias sobre política no Facebook e WhatsApp. Dríade Aguiar, 28 anos, é gestora de comunicação da rede de colectivos Fora do Eixo e uma das fundadoras do Mídia Ninja, um projecto alternativo de informação que tem 16 milhões de seguidores. Sempre conectada às redes sociais, a especialista divide os eleitores de Bolsonaro em vários tipos. Há os que realmente acreditam naquilo que ele diz e que, apesar de serem a maioria discursiva, em termos numéricos são uma pequena percentagem: “É essa galera que faz barulho, comenta e gera ódio” Há o grosso dos votantes, pessoas “esperançosas” — a combinação de instabilidade política, crise económica e caos mediático levou a que a maior parte votasse anti-PT. E há uma terceira fatia que “se encanta pela personagem de Bolsonaro como aquele ‘pai’ que vai resolver as coisas”. Num país onde há periferias sem água canalizada, mas com Internet, Bolsonaro tirou partido da utilização das redes sociais em grande escala, inspirado por eleições como a de Donald Trump. “A grande sacada é que ele entendeu onde estão as pessoas e como chegar a elas de forma mais efectiva. Ele sabe que na política a verdade é um detalhe e conseguiu jogar com isso. A gente está falando de um homem que tem um certo apelo carismático, extremamente menosprezado e que é limitado politicamente. A grande coisa é que ele tem uma máquina e sabe o que colocar nela. Soube fazer uma matemática que vai para além da máquina e que é uma falha que a esquerda mundial não conseguiu calcular. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Usou também, como nenhum outro candidato, o discurso identitário, forçando “todos os candidatos” a “navegar” com ele, considera esta mulher negra e defensora de direitos LGBT. O Brasil é estruturalmente um país conservador, analisa, com uma grande fatia da população que não concorda com as quotas para negros ou direitos homossexuais mas “que não votaria contra”. “A área progressista do Brasil é programa social e desenvolvimento económico, mas a disputa por direitos não é de todos. Sabia que essa é a nossa existência, mas não estava à espera de que um líder usasse isso como plataforma. Porque até agora os líderes ignoraram isso, até o Lula. Ele não falava sobre mulheres, sobre negros, era o avanço de classes. ” De qualquer forma, Dríade acha que este debate foi “de nicho”: na hora de votar, o que pesou ao eleitor foi educação, segurança, saúde. Quem ficou com medo agora foram pessoas que ainda “não tinham elaborado sobre os problemas que tiveram”. Os negros, a comunidade LGBT, as mulheres têm medo, mas não vem de agora. “Por muito tempo o medo era inconsciente: se você é uma pessoa negra, LGBT, de periferia e mulher nasce com medo. Depois passa a vida descobrindo que esse medo tem nomes: pode chamar racismo, machismo. O medo agora tem um nome próprio: Bolsonaro. ”Na Mídia Ninja, a “atitude mais revolucionária” que vão ter é continuar com os projectos. “Não estou a dizer que a gente não vai fazer uma frente de resistência. Mas se a gente parasse ia perder o grande trunfo que é sermos nós mesmos — e é justamente disso que ele tem medo. ”
REFERÊNCIAS:
Madrid vai multar quem acampar, pedir esmola ou solicitar prostitutas na rua
Um novo conjunto de proibições poderá entrar em vigor no próximo ano e as multas vão até aos 3000 euros. (...)

Madrid vai multar quem acampar, pedir esmola ou solicitar prostitutas na rua
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.416
DATA: 2013-10-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um novo conjunto de proibições poderá entrar em vigor no próximo ano e as multas vão até aos 3000 euros.
TEXTO: Abordar prostitutas; pedir esmolas; acampar em espaços públicos; fazer truques de malabarismo; alimentar ou dar banho a cães na rua. Este é parte do cardápio de proibições que a Câmara Municipal de Madrid quer pôr em prática na capital espanhola. As multas para “acabar com os costumes pouco respeitosos ou conflituosos nas ruas” vão dos 750 aos 3000 euros, de acordo com o jornal El País. Os novos regulamentos prevêem três tipos de proibições com punições em conformidade com a gravidade dos actos. As multas até 750 euros são aplicadas a quem solicite serviços de prostituição na via pública; peça esmolas à porta de um centro comercial; cuspa ou atire papéis para o chão; ofereça folhetos nos semáforos; perturbe os vizinhos enquanto rega as plantas; faça malabarismos; suba a uma fonte ou alimente ou dê banho ao cão na rua, entre outras. As multas ascendem a 1500 euros por comportamentos racistas, xenófobos ou sexistas; condutas de mendicidade perturbadoras dos transeuntes; solicitação de serviços de prostituição perto de colégios ou centros comerciais; oferta de jogos ou apostas com dinheiro; urinar ou defecar na rua; ou danificar mobiliário urbano. Finalmente, as contra-ordenações mais graves, com multas até 3000 euros, visam aqueles que têm comportamentos discriminatórios e perturbam menores, idosos ou deficientes; utilizam menores incapacitados para pedir esmolas; promovem a prostituição junto de colégios ou exercem-na na rua; transportam toxicodependentes a pontos de tráfico de droga; ou ainda que coloquem jarras nas varandas sem protecção adequada. É esperado um aumento das multas, de acordo com a câmara, mas “não existe nenhum interesse na indemnização”, garante Dolores Navarro, vereadora dos Assuntos Sociais. O município não prevê o aumento do policiamento nas ruas para assegurar o cumprimento do novo regulamento. Apesar do valor elevado das coimas, haverá uma ponderação de acordo com critérios que levam em conta a capacidade económica do infractor. Segundo o El País, desta forma, as multas leves podem chegar aos 750 euros, mas também se podem ficar pelos 90 cêntimos ou por serviços comunitários, de acordo com a decisão do município. A aprovação dos novos regulamentos está prevista para o início de 2014.
REFERÊNCIAS:
Djaimilia Pereira de Almeida: não é só raça, nem só género, é querer participar na grande conversa da literatura
Há três anos, com Esse Cabelo, apresentaram-na como representante de uma literatura acerca de raça, género, identidade. Voltou agora com Luanda, Lisboa, Paraíso e diz que quer apenas participar na longa e antiga conversa sobre literatura. Enquanto procura escrever o seu livro ideal, totalmente inventado, uma mancha de texto sem capítulos que resista a discussões acerca do presente. (...)

Djaimilia Pereira de Almeida: não é só raça, nem só género, é querer participar na grande conversa da literatura
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.8
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há três anos, com Esse Cabelo, apresentaram-na como representante de uma literatura acerca de raça, género, identidade. Voltou agora com Luanda, Lisboa, Paraíso e diz que quer apenas participar na longa e antiga conversa sobre literatura. Enquanto procura escrever o seu livro ideal, totalmente inventado, uma mancha de texto sem capítulos que resista a discussões acerca do presente.
TEXTO: O nome de Djaimilia Pereira de Almeida apareceu na literatura há três anos quando publicou Esse Cabelo (Teorema, 2015), ficção autobiográfica, situada num sub-género que recebeu o nome de auto-ficção. É uma espécie de romance-ensaio que despertou a atenção de leitores e da crítica para a que parecia uma voz inovadora de uma geração que falava de raça, identidade, género, questionando clichés associados à condição de negritude ou do que é viver num mundo de estranheza seja no lugar onde nasceu, Angola, como naquele onde cresceu e vive, Portugal. Djaimilia foi então comparada a outras escritoras femininas que surgiram nos EUA, Inglaterra, em países de África como a Nigéria ou a Etiópia; mulheres que escrevem desafiando o que se espera delas. Aos 36 anos, regressa, confirmando que aquele livro não foi um acto solitário numa obra que quer construir, assume aqui, distanciando-se desse eu narrativo inicial e autobiográfico, para se aproximar da invenção mais pura. Está a descobrir o que isso é. Luanda, Lisboa Paraíso (Companhia das Letras) é um passo nessa direcção. Em pano de fundo há a guerra, a pobreza, os retornados, os que ficaram, os que sobrevivem em território estranho, a doença, a exclusão. . . Mas há, entre tudo isto, dois homens como protagonistas, um pai e um filho, e a memória de cada um; um passado que se quer esquecer, alguém que decide que não será mais angolano. É uma construção de identidades condicionada por um presente que nunca se compadece dessa memória, que não a respeita. Esquece-se para se sobreviver no novo livro de Djaimilia Pereira de Almeida, escritora que acaba também de ganhar uma bolsa de criação literária. Esse Cabelo foi um livro muito bem recebido que a conotou, enquanto autora, com as questões de raça, feminismo, identidade, a partir da escrita autobiográfica. Como se vê no modo como a situaram na literatura?Não se pode controlar a maneira como se é recebido nem o que os leitores fazem com o que nós escrevemos. Portanto, lido com todas essas categorias, rótulos de leituras, o que for, com enorme curiosidade e também alguma surpresa. Não aconteceu, até agora, ter sentido que não me estivessem a fazer justiça. Se calhar não utilizaria todas essas categorias para descrever o que fiz, mas recebo-as com grande serenidade. Imaginemos que lhe seriam dadas a escolher categorias que a identificassem. Preferia não escolher. Há muitos aspectos da história da literatura portuguesa que são importantes para mim. É a tradição que conheço melhor e a que está na minha cabeça quando estou a escrever. A literatura portuguesa, a língua portuguesa. Mas a literatura portuguesa é uma coisa muito vasta e todos esses rótulos são leituras a posteriori. Além disso, os livros surgem num certo momento e a recepção que têm é percepcionada pelos momentos históricos que estamos a viver. Esse Cabelo surgiu num momento muito particular em que fez sentido ser abraçado por uma série de causas. Veio num tempo que o recebeu bem. Exactamente. Nessa vastidão histórica e geográfica da literatura portuguesa há espaços e temas que estão, no entanto, menos explorados, periféricos. A sua escrita traz essa experiência. Sim, reconheço-me nessa descrição de que o género de histórias que tenho contado até agora é o de história periférica, mas não me sinto periférica em relação à literatura portuguesa em geral, sobretudo como leitora. É verdade que tenho um percurso de vida parecido com o de muitas pessoas que vieram de África; algumas até nasceram cá; pertenço a esse conjunto de pessoas. Mas tive um acesso privilegiado à tradição literária que muitas dessas pessoas não têm. É natural que quando começo a contar histórias, elas venham de um lugar de onde até agora têm vindo poucas histórias, mas nunca premedito fazer isso. E também não sei se vou continuar a fazer sempre isso, porque interessa-me explorar também o atrevimento de que uma pessoa que venha de uma posição mais periférica possa contar histórias que não se cinjam à periferia. É trazer para a conversa pessoas que se calhar nem sequer chegariam a ler os livros. Interessa-me também, porventura, falar de outras coisas de um ponto de vista menos periférico. Há três anos, quando falámos, já dizia isto, que é preciso que comecemos a ouvir as histórias de pessoas de várias periferias. Tenho muita curiosidade por muitas histórias. Não só pelas de afrodescendentes, mas pelas de outras comunidades que vivem em Portugal. Por exemplo, anseio pelo momento em que comecemos a ouvir as histórias dos asiáticos que vivem em Portugal, ou das comunidades indianas. Não encaro isto como se de repente pudéssemos aceder a todas essas identidades, mas que todos possamos participar numa conversa, que é uma conversa muito antiga, a que se chama literatura portuguesa. De que nomes, dessa tradição, se sente mais próxima e a fazem ter esse sentido de pertença?Não me cinjo à literatura portuguesa, porque pude ler muitas outras coisas. Aliás, os autores a que volto mais vezes são, sobretudo, franceses. Mas na literatura portuguesa interessa-me muita coisa que vai desde Sá de Miranda até. . . nem sei por onde começar [risos], mas Raul Brandão, Fernando Pessoa, muitos poetas. Aos 18 anos, quando comecei a pensar que gostaria de escrever, de fazer isso na minha vida, andava a ler Manuel Gusmão. Sou uma pessoa de livros mais do que de autores; portanto, mais do que dizer autores, sei os livros que me marcaram. O livro do Manuel de Gusmão chama-se Teatros do Tempo [Caminho, 2001] e foi muito importante para mim. Durante certa altura o Álvaro de Campos. Noutra fase, ainda muito jovem, li muito Herberto Helder. Entretanto comecei a alargar as leituras. Mas há livros muito marcantes, Os Pescadores, do Raul Brandão, foi muito importante num certo período e acompanhou-me ao longo de muitos anos. Neste momento, no presente, volta ser muito importante para o que vou fazer a seguir. Há pouco dizia que já não se lembra do que está no seu novo livro. Acaba de sair. Como é que essa memória se apaga assim?Não sei. Mas depois do livro estar feito e publicado, normalmente não o volto a ler. Custa-me bastante, e vou-me esquecendo. No momento em que o livro está pronto sei-o todo de cor. Depois fecho e esqueço. Lendo agora o Esse Cabelo é uma surpresa ver o que lá está porque já me esqueci. Voltou a esse livro?Não. Mas quando vou, quando calha a ir por qualquer razão, já não me lembro de nada. Apagou-se. É um mecanismo de defesa, medo de encarar o texto?Não. Acho que preciso de esvaziar o espaço para o ocupar com outras coisas. Quando publico um livro estou sempre nervosa e começo logo a pensar noutras coisas. Já começou?Sim. Quando estou mais ansiosa, escrever ajuda-me muito. Nos momentos de maior tensão ponho-me a escrever. Normalmente, ponho-me a escrever outra coisa e vou esquecendo o que ficou para trás. Este novo livro traz uma grande oralidade à escrita, uma oralidade quase antiga. Concorda?Nunca tinha pensado nisso. Mas sim, não fiz nenhuma pesquisa. Se calhar são coisas que não sabia que sabia e emergem à medida que vou escrevendo, aparecendo naturalmente; modos de falar, pronúncias. . . Estão num subterrâneo qualquer e a imaginação abre uma caixa. Esta semana estava a pensar nisto, de como é esta coisa de fazer um livro. Agora que estou dedicada a um texto que é passado num outro período, noutro século, e estava a pensar que é como agarrar num prato de vidro ou um jarro de vidro, atirá-lo ao chão e ele partir-se em mil bocadinhos. O momento da escrita é como se os muitos, muitos bocadinhos de vidro vindos de muitos lugares se constituíssem num mosaico reconhecível. Há coisas que não sabia que sei, ou já não me lembro que sabia, que passei por elas. Pode ser um olhar visto não sei onde, o aspecto de uma casa que vi em qualquer lado. São vários bocadinhos que depois formam. . . Um sentido?Sim. Vem de um livro-ensaio, onde há um eu assumidamente autobiográfico, para um romance com alguma coisa de autobiografia. Os dois situam-se mais ou menos na mesma época, em comunidades mais ou menos semelhantes, onde sai do eu ficcional. Como é que isso aconteceu?Sim. O que se passou entre um livro e o outro foi que percebi que o conseguia fazer. Só não escrevi Esse Cabelo na terceira pessoa porque acho que ainda não sabia como é que se fazia isso. Passei três anos a tentar perceber como se fazia porque só me interessava fazer isso. Sair do eu?Sim. Completamente. Agora cada vez tenho menos interesse, ou já não tenho nenhum interesse, em escrever do ponto de vista do eu. Interessa-me afastar-me do meu próprio ponto de vista e virar-me para fora, para o ponto de vista dos outros e aproximar-me de outras figuras que não eu. Eu e a minha particularidade deixaram de me interessar. O que interessa é pensar em como é que se conta uma história, como é que se faz um livro e, de projecto em projecto, trabalhar isso. É como se fosse um vector que antes estava apontado para mim e agora passa a estar apontado em direcção contrária, no sentido do mundo lá fora. Há pouco tempo Zadie Smith contava a dificuldade de fazer o percurso inverso, deixar a terceira pessoa e escrever na primeira, o que só aconteceu no último livro dela. Sim, lembro-me de entrevistas antigas de Zadie Smith em que ela dizia que achava fútil estar a escrever na primeira pessoa. Para mim foi o contrário, porque eu gostava de escrever livros como os que gosto de ler e o género de histórias que gosto de ler é de aventureiros e marinheiros. Que resultam da imaginação. Sim. Homens em mar alto, piratas. Há um sentido de aventura que o ponto de vista da primeira pessoa, acabando por se centrar nas nossas próprias angústias, não permite muito. Sobretudo, interessa-me contar histórias e interessa-me contá-las do ponto de vista do número mais variado de pessoas que eu ainda não sei quem são. Como foi essa aprendizagem, por exemplo, a de construir personagens?À custa de muitas tentativas; tentativa e erro. O livro não é muito longo, mas houve muito desperdício. . . Para mim nunca é desperdício porque em todo esse caminho não deito nada fora, vou sempre buscar coisas; acaba sempre por ter um uso, tal como na costura se usa o desperdício para fazer outras coisas. Mas houve muito, muito desperdício. Sobretudo porque neste caso também tentei procurar uma forma clara, mais clara; uma frase mais clara; procurar um certo ritmo, um modo menos reflexivo de expressão. Sair mais do ensaio?Exactamente. E tentar encontrar a forma de contar adequada à natureza das vidas que eu estava a falar. Interessava-me uma escrita mais terra a terra. Talvez isso tenha sido mais difícil do que propriamente construir as personagens. Talvez a coisa mais difícil tenha sido o processo de desaprendizagem necessário para dizer as coisas de uma maneira simples. Na minha cabeça o livro teve sempre o aspecto de um balanço e, a partir de certo ponto, escrevi-o como se estivesse a contar às personagens como tinha sido a vida delas, como se elas me perguntassem: "então como foi a nossa vida?". Interessava-me contar-lhes de maneira a que elas conseguissem entender. Foi muito difícil porque tinha toda uma série de vícios e de tiquesAutoria: Djaimilia Pereira de Almeida Companhia das LetrasAcadémicos?Académicos e não só, que me interessava mandar fora. É preciso muita paciência para isso – paciência para comigo – para chegar aí. O território de Luanda, Lisboa, Paraíso, no entanto, é-lhe familiar. Não foi para um universo imaginário. Ainda não. Até um certo ponto este é um mundo que eu conheço, mas também só até um certo ponto. Não houve grande pesquisa. Houve uma grande recolha de objectos e as personagens foram construídas a partir dos seus objectos. Há a história de uma mala encontrada numa feira de velharias. Sim, está ali [aponta para outro canto da casa]. São objectos que apanho em feiras de velharias. Vou todos os domingos a essas feiras. Levo muito pouco dinheiro e vou à procura de coisas. O que lhe interessa nessa procura? Histórias?Sim, histórias, mas sobretudo gosto de velharias, mas não são coisas valiosas. Faço colecções de algumas coisas e aquilo mexe com a minha imaginação como mais nada mexe. Começo a pensar: está aqui um copo, de quem foi este copo. Dá-me muitas ideias. Faço isto há muitos anos e nunca pensei em histórias a partir daí. Foi acontecendo naturalmente. A certa altura dei conta de que estava a comprar objectos sem nexo, coisas de que não precisava para nada, lixo autêntico, tralha, e depois comecei a olhar para aquilo tudo e a pensar: isto podia ser tudo da mesma pessoa, podiam ser objectos de uma pessoa. Era como se fosse um enxoval de uma pessoa que eu não conhecia. E começou a atribuir um dono àquele enxoval. Exactamente. Tudo coisas de homens. Um cinto, uns óculos escuros. . . Foi assim que eles nasceram. Depois comecei a desenhar, uns desenhos sem interesse, uns homens; no início de tudo foi assim. Depois ganharam nome e foram nascendo. Houve também muitas imagens. Fotografas importantes da história da fotografia, que também me dão muitas ideias; ver livros de fotografia ajuda-me muito, a perceber nuances, princípios de personagens e princípios de histórias. Isso tudo, junto com leituras que estava a fazer, ajudou a chegar a este livro. Um livro em que, como referiu, os protagonistas são homens. . . Foi totalmente espontâneo. Nunca me apareceram como mulheres e, não sei porquê, mas ultimamente sempre que escrevo, escrevo sobre homens, e como não contrario. . . Como chegou à estrutura deste livro que se divide em duas partes?Essa divisão é muito tardia. Gostava de ser capaz de escrever um livro que fosse, da primeira à última linha, sem capítulos, sem interrupções, um texto contínuo. Dou muita importância à mancha; não conseguindo ainda fazer isso, divido-os por capítulos. O livro saiu há pouco tempo, as reacções estão ainda a sair. Como gere este momento?Desta vez, como não houve lançamento, fiquei menos nervosa. Opção sua?Sim. Porquê?Nunca vou a lançamentos [risos]. Não faz muito o meu género e, então, podendo não o fazer, não fiz. Ao mesmo tempo isso também foi um bocadinho estranho. Não houve nada a marcar, e de um dia para o outro o livro estava nas livrarias; ainda não o vi em nenhuma livraria não vou ver nada. Lê as críticas?Sim, algumas leio. Mas também não leio integralmente. Isso não me interessa. O que sinto é que o que eu tinha de fazer já fiz. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas interessa-lhe ser lida. Interessa-me, sim. Se houvesse um lançamento se calhar teria ficado ansiosa. Mas agora sinto-me feliz porque concluí. A maneira como giro esta fase é pôr-me a escrever. Este é um período muito produtivo, em que escrevo muito. É uma espécie de casaco com que me visto. O seu nome numa altura em que há uma curiosidade global acerca de uma escrita feita por mulheres negras e pelo que traz de novidade à literatura. É uma curiosidade que ultrapassa a literatura e é social e política. Sou leitora de algumas dessas pessoas e acho esse contributo importante. Mas quando se fala de escritores com um percurso como o meu às tantas já não se está a falar de literatura. Já só se está a falar de todo esse lado, social, político. . . Acho importante nunca perder de vista também o aspecto literário. O contributo social e político é tão mais forte e perene quanto se misturar com esta conversa; a conversa: essa conversa antiga, a conversa do que se passa nos livros. Interessa-me participar nessa conversa. É tão mais subversivo o contributo de todas essas pessoas quanto mais ele se inscrever nesta conversa e continuar para lá do momento em que as discussões fora da literatura estavam a ser tidas. Os livros preservam o sentido da discussão e mantêm entre si uma discussão própria, que nos ultrapassa, que se prolonga para lá de nós e para lá do momento que estamos a viver. Não se sente representante de algum tipo de literatura. Não. Talvez sinta uma grande responsabilidade. Mas é, antes de mais nada, uma responsabilidade em relação próprio trabalho que estou a fazer e de respeito para com as personagens de que estou a falar. Presto contas às personagens. Mas não me sinto representante de uma literatura. Sinto que estou a contribuir para uma conversa, que também é essa conversa política, social, etc. , mas quando escrevo não estou a pensar nisso. Estou a perceber como é que se faz o que eu gostava de saber fazer. E preservando um certo gozo em fazer isso. Escrever é a coisa que me dá mais alegria. É uma coisa associada à felicidade. Se ainda por cima os livros contribuírem para uma discussão, se chamarem a atenção para coisas, se forem lidos com benefício para pessoas, fico ainda mais feliz. Mas não premeditei isso, porque se me concentrar apenas nisso tenho medo que os livros se tornem maus.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Naia, o fóssil de uma ninfa da água, veio dizer como foi a colonização das Américas
Crânio de uma rapariga com mais de 12.000 anos sugere que a colonização original das Américas veio de uma única população asiática. Descoberto na Península do Iucatão, no México, a análise deste fóssil é divulgada agora. (...)

Naia, o fóssil de uma ninfa da água, veio dizer como foi a colonização das Américas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Crânio de uma rapariga com mais de 12.000 anos sugere que a colonização original das Américas veio de uma única população asiática. Descoberto na Península do Iucatão, no México, a análise deste fóssil é divulgada agora.
TEXTO: Os vestígios fósseis que permitem aos investigadores tirar conclusões sobre os momentos-chave da pré-história podem surgir nos locais mais inusitados. Naia, que em grego significa “ninfa da água, é o fóssil com mais de 12. 000 anos de uma rapariga que foi encontrado em 2007 no fundo de uma gruta submersa na Península do Iucatão, no Sudeste do México. Passados sete anos, a análise dos seus ossos sugere que a colonização original das Américas veio de uma única população, e não de populações diferentes como alguns cientistas defendiam. A partir desta população original, os humanos foram evoluindo nos nativos que habitam as Américas desde o Norte até ao Sul, refere um artigo publicado esta sexta-feira na revista Science. Permanecem muitos mistérios sobre como ocorreu a colonização das Américas, devido aos escassos vestígios arqueológicos. O conjunto de informação reunida até agora pela arqueologia, pela genética humana e pela paleontologia apontava para uma determinada hipótese sobre a entrada dos humanos naquele continente, mas com contradições: uma população vinda da Ásia estabeleceu-se há cerca de 26. 000 anos na região agora submersa do estreito de Bering, entre a ponta Nordeste da Ásia e o Alasca, na América do Norte. Naquela altura, a Terra vivia a última era glaciar. Devido ao frio, grandes glaciares estendiam-se pelos continentes e, por isso, o nível médio do mar era mais baixo. O estreito de Bering não existia, havia antes a Beríngia, uma massa de terra seca com uma área equivalente a cerca de duas vezes a Península Ibérica. Pensa-se que esta população ficou a viver aí até há cerca de 17. 000 anos. Entretanto, a Terra foi aquecendo, os gelos derreteram-se, o nível médio do mar foi subindo e aquela região acabou por ficar submersa. Na América, os vestígios arqueológicos de actividade humana mais antiga encontram-se no Alasca e têm 14. 400 anos. A partir daí, há registos a sul, mais recentes, tanto de vestígios de actividade humana como de ossadas humanas. Hoje, os estudos genéticos em várias populações humanas mostram um parentesco entre os nativos das Américas e os asiáticos, e que passa por esta população da Beríngia. Mas encontraram-se certos marcadores do ADN das mitocôndrias (fora do núcleo das células e transmitido só pela mãe) que só existem nos nativos americanos. Não existem nos asiáticos. Estas diferenças genéticas só puderam surgir se esta população da Beríngia tivesse chegado a esta região há pelo menos 25. 000 anos, mantendo-se isolada desde aí. Esta hipótese do compasso de espera de cerca de dez mil anos na Beríngia é apoiada por registos fósseis de animais e de plantas, que indicam que aquela região era habitável, mesmo durante um período tão frio da história recente do nosso planeta. O grande mistério vem dos poucos fósseis humanos com mais de 10. 000 anos na América do Norte. Normalmente incompletos, os crânios destes fósseis mostram pessoas cuja fisionomia de cara era alongada, estreita e projectada. Tinham uma fisionomia mais parecida com a de africanos, australianos nativos e polinésios actuais do que com os nativos americanos e os povos asiáticos, cuja cara é mais redonda. Esta contradição conduziu à hipótese de incursões na América provenientes de, pelo menos, duas populações diferentes: uma vinda da Beríngia há menos de 17. 000 anos, que originou os nativos actuais; e outra mais antiga, de proveniência desconhecida, originando os paleoamericanos, que não teriam deixado sobreviventes. Outra hipótese, que Naia parece agora confirmar, diz que os paleoamericanos são os antepassados dos nativos americanos actuais. Naia foi descoberta em 2007 pelo mergulhador Alberto Nava, da organização Exploradores Submarinos da Área da Baía de São Francisco, em Berkeley, na Califórnia, e por mais dois colegas que exploravam o sistema de grutas de Sac Actun. O fóssil estava no fundo de uma gruta submersa de 30 metros de altura, com o formato de um sino, e a que os mergulhadores chamaram Buraco Negro. Além do crânio, foram encontrados costelas, vertebras e ossos pélvicos. Mais abaixo na gruta, também estavam dispostos ossos de 26 grandes mamíferos, como a preguiça-gigante e espécies aparentadas do elefante. A gruta foi inundada há menos de 8000 anos. E os ossos agora analisados terão caído antes, numa altura em que o sistema de grutas não estava inundado e tinha apenas poças temporárias. As fracturas nos ossos pélvicos de Naia, que tinha 15 ou 16 anos quando morreu, levaram os cientistas a especular que ela estaria à procura de água e teria caído naquele enorme buraco. Para datar o fóssil, avaliar a sua fisionomia e fazer uma análise genética ao ADN mitocondrial, reuniu-se uma equipa de 16 cientistas de várias instituições, liderada por James Chatters, paleoantropólogo e fundador da empresa de análises forenses Applied Paleoscience.
REFERÊNCIAS: