Pterossauro do Brasil tinha crista que parecia a vela de um barco
Esqueletos de meia centena de répteis extintos, pertencentes a uma espécie nova para a ciência, foram descobertos no estado brasileiro do Paraná. (...)

Pterossauro do Brasil tinha crista que parecia a vela de um barco
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esqueletos de meia centena de répteis extintos, pertencentes a uma espécie nova para a ciência, foram descobertos no estado brasileiro do Paraná.
TEXTO: Um réptil voador antigo, cuja cabeça estava coroada com uma grande crista óssea com a forma de uma vela de um iate, fazia voos rasantes pelos céus do Brasil há cerca de 90 milhões de anos. Cientistas brasileiros anunciaram a descoberta extraordinária, no Sul do Brasil, de cerca de 50 esqueletos fossilizados de uma criatura a que chamaram Caiuajara dobruskii e que identificaram como uma espécie nova de pterossauro, répteis do tempo dos dinossauros. Os novos pterossauros, que podiam atingir uma envergadura de asas de até 2, 35 metros, habitavam nas margens de um lago existente num oásis numa grande região deserta durante o período do Cretácico. Viviam em colónias barulhentas com outros animais da mesma espécie, de todas as idades. “Isto permitiu dar-nos um vislumbre da variação anatómica desta espécie, desde os jovens até aos velhos”, sublinha Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos autores da descoberta. Muitos pterossauros, principalmente os que apareceram tardiamente, exibiam na cabeça cristas elaboradas e, por vezes, grandes. Ora a cabeça do Caiuajara dobruskii estava encimada por uma enorme crista triangular que parecia uma “vela óssea”, conta Alexander Kellner. “Tinha um aspecto bizarro. ”Não há nenhuma indicação de que a crista existisse apenas nos machos ou nas fêmeas, mas parece ter-se tornado ainda maior em relação ao resto do corpo à medida que o pterossauro crescia. “O tamanho da crista era pequena nos animais jovens e muito grande nos velhos”, acrescenta o paleontólogo brasileiro. Os pterossauros foram os primeiros vertebrados voadores da Terra, uma vez que as aves e os morcegos só apareceram muito mais tarde. Surgiram há cerca de 220 milhões, na mesma altura dos dinossauros, e despareceram há 65 milhões de anos, quando um meteorito atingiu a Terra e extinguiu muitas formas de vida, incluindo também os dinossauros. Num artigo científico publicado esta semana na revista PLOS ONE, assinado à cabeça por Paulo Manzig, da Universidade do Contestado, no estado de Santa Catarina, a equipa brasileira descreveu 47 esqueletos do Caiuajara dobruskii e disse que identificou outros dez esqueletos que não foram descritos neste trabalho. Os ossos foram encontrados nas redondezas do município do Cruzeiro do Oeste, no estado do Paraná. O Caiuajara dobruskii, que viveu há cerca de 80 a 90 milhões de anos, não tinha dentes, alimentando-se provavelmente de frutas, explica Alexander Kellner. Os esqueletos dos juvenis indicam que estes animais podiam voar desde muito novos. O conhecimento dos pterossauros é bastante fragmentado, uma vez que, sendo animais voadores, os seus ossos frágeis não fossilizavam bem. O número elevado de indivíduos de Caiuajara dobruskii agora descobertos no Brasil e a variedade de idades permitiram que este pterossauro seja o mais bem estudado até ao momento. Em Junho, cientistas chineses tinham anunciado a descoberta de nada menos do que 40 indivíduos adultos de outra espécie de pterossauro também acabada de identificar, bem como de cinco ovos de pterossauro – o que é realmente muito raro – maravilhosamente preservados a três dimensões, e não espalmados como os quatro ovos isolados de pterossauros que até então se conheciam em todo o mundo. No Cruzeiro do Oeste não se encontraram ovos de pterossauro. “Ainda não. Mas podemos sempre sonhar, não é?”, diz Alexander Kellner.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave espécie corpo aves
Portugal-Camarões: um teste a sério para conquistar os pessimistas
Portugal tenta igualar recorde de oito encontros sem sofrer golos. Queiroz prometeu "aventuras" no jogo de hoje com os Camarões. (...)

Portugal-Camarões: um teste a sério para conquistar os pessimistas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.233
DATA: 2010-06-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal tenta igualar recorde de oito encontros sem sofrer golos. Queiroz prometeu "aventuras" no jogo de hoje com os Camarões.
TEXTO: Um bom resultado, uma boa exibição e, acima de tudo, que nenhum jogador se lesione. É isto que Carlos Queiroz deseja para o jogo de hoje (19h30) frente aos Camarões, o teste mais a sério de Portugal antes do começo do Mundial e que marca o fim do estágio na Covilhã. O seleccionador promete fazer algumas experiências, porque o "produto final" será apresentado no dia 15, frente à Costa do Marfim, e não hoje ou no dia 8, contra Moçambique. "O jogo de amanhã [hoje] serve para criar algumas aventuras, ver e experimentar. Temos de observar certas opções antes de começar a competição", disse, ontem, Queiroz, sem especificar que alterações serão essas. O jogo com os Camarões, no entanto, será importante para reactivar a ligação com os adeptos, depois do nulo frente a Cabo Verde. E será também um teste à defesa (que se tem destacado pela positiva) e ao ataque (que tem sido pouco produtivo). DefesaEduardo é o titular da selecção portuguesa. Não se sabe se Queiroz vai hoje dar oportunidade a Beto ou Daniel Fernandes, mas é provável que não o faça, se tiver em conta que o guarda-redes do Sporting de Braga está perto de igualar um recorde. A selecção não sofre golos há sete jogos e pode igualar a série de oito encontros da equipa de Humberto Coelho entre 1998 e 1999. Vítor Baía (668 minutos), Pedro Espinha (58") e Quim (45") ficaram 771 minutos sem sofrer golos - entre o minuto 90 do Portugal-Roménia (0-1) e o minuto 50 Azerbaijão-Portugal (1-1). Na série actual, a selecção soma 677 minutos sem sofrer golos, desde que Bentdner marcou a Eduardo no Dinamarca-Portugal (1-1), em Setembro do ano passado. Desde então o guarda-redes do Sp. Braga ficou 632 minutos sem sofrer golos nos encontros com a Hungria (duas vezes), Malta, Bósnia (duas vezes), China e Cabo Verde, ao que se juntam 45 minutos de Hilário, na segunda parte frente aos chineses. Ou seja, se Portugal não sofrer golos ante os Camarões, igualará a melhor série de jogos e ficará a cinco minutos de ultrapassar o melhor registo de minutos com as redes invioláveis. A segurança defensiva, ainda que vá no Mundial ser posta à prova por equipas bem mais poderosas, tem sido uma das imagens de marca da equipa de Queiroz. Com Pepe destinado ao meio-campo (quando estiver recuperado), Ricardo Carvalho e Bruno Alves estão garantidos como defesas-centrais. Paulo Ferreira parte em vantagem à direita, embora Miguel possa hoje ter uma oportunidade. À esquerda, residirá a principal dúvida. Coentrão, em boa forma, destacou-se frente a Cabo Verde mas contra os Camarões deverá ser a vez de Duda mostrar serviço. Meio-campoPepe e Tiago, por razões físicas, não entram hoje em campo, pelo que este é o sector em que Queiroz tem mais "baixas". Ainda assim, Pedro Mendes, Veloso e Meireles podem ser utilizados como "trincos", sendo os dois últimos também candidatos ao posto de médio-interior. Meireles foi o mais utilizado na fase de qualificação e partirá em vantagem. Deco é o titular na posição dez, embora hoje possa haver oportunidade de Danny ou Simão serem testados como alternativa ao luso-brasileiro, isto se o técnico mantiver o habitual 4x3x3. AtaqueA responsabilidade pode não ser apenas dos avançados, mas eles têm sido a face mais visível da menor produção ofensiva. A equipa marcou apenas 19 golos em 12 jogos de qualificação. A média foi de 1, 6 golos por jogo, subindo ligeiramente se somarmos os jogos particulares (1, 7). Ainda assim, Queiroz fica aquém dos últimos três seleccionadores: Scolari (1, 95), António Oliveira (2, 32) e Humberto Coelho (2, 33). Cristiano Ronaldo é, talvez, o rosto desta relação menos conseguida com a baliza. O jogador do Real não marca pela selecção desde Fevereiro do ano passado, quando concretizou um penálti frente à Finlândia. Hoje, se jogar, Ronaldo pode dar início à promessa de fazer golos. Liedson, que tem dois apontados em oito jogos, e Hugo Almeida, com sete remates certeiros em 25 internacionalizações, também ainda não atingiram a velocidade de cruzeiro.
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O Português quer estar nos liceus estrangeiros ao lado do Inglês e Francês
Era vista como uma língua de especialistas, mas agora há um novo objectivo: tratar o Português como valor acrescentado no mercado global de trabalho. (...)

O Português quer estar nos liceus estrangeiros ao lado do Inglês e Francês
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.047
DATA: 2010-06-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Era vista como uma língua de especialistas, mas agora há um novo objectivo: tratar o Português como valor acrescentado no mercado global de trabalho.
TEXTO: A mudança, estratégica, tem a ver com a ideia de que o Português é a sexta língua mais falada do mundo e que, por isso, os outros países entenderão a vantagem de a oferecer integrada nos seus sistemas de ensino. Conseguir que um aluno do secundário em Espanha, França, Alemanha ou outro país escolha o Português como língua de opção nos seus estudos, é, neste momento, um dos grandes objectivos do Instituto Camões (IC). "[Até agora] tínhamos uma política de apoio às comunidades [portuguesas] que direccionava muito o ensino para as questões da identidade", explica Ana Paula Laborinho, presidente do IC desde Janeiro. A mudança, profunda, foi iniciada ainda com a anterior presidente, Simonetta Luz Afonso. Implicou uma nova lei orgânica (desde 1 de Janeiro) que transferiu para o IC (até aqui muito centrado no ensino superior através de uma rede de leitorados e centros de língua) competências ligadas ao ensino básico e secundário que eram do Ministério da Educação. Novas responsabilidades acompanhadas de mais dinheiro: um orçamento de cerca de 45 milhões de euros, ou seja, mais 30 milhões do que em 2009. É uma opção que "parte da percepção de que o Português é uma grande língua de comunicação global e portanto tem um papel estratégico em termos internacionais", afirma Laborinho. E depois do Inglês?É um processo lento, diplomático (envolve os embaixadores e a rede do Ministério dos Negócios Estrangeiros) e ainda a começar. Mas posiciona-nos na luta pelo lugar de segunda ou terceira língua de estudo nos países estrangeiros, uma luta central nos próximos tempos. A tese é de David Graddol, autor de dois relatórios sobre o futuro da língua inglesa para o British Council: é incentivando o seu ensino como língua estrangeira que os governos podem ter um papel mais relevante no crescimento da respectiva língua. O Inglês é introduzido cada vez mais cedo no ensino e já quase não é visto como uma língua, mas como uma competência básica, ao nível, por exemplo, da Matemática - já não é uma mais-valia falar Inglês porque toda a gente fala, a mais-valia passa a ser falar Espanhol ou Português, Árabe ou Chinês. As outras línguas têm, assim, neste momento, uma oportunidade para se impor. E para que o consigam é importante, diz Graddol, a oferta de um "pacote" de certificados e exames aceites internacionalmente no mercado de trabalho. Um exemplo concreto de como o Português pode ser visto como uma boa aposta: há cada vez mais empresas chinesas a investirem em Angola, e isso tem levado a um crescimento do interesse pelo estudo do português. A melhor forma de responder a este tipo de interesse é, defendem Rui Machete e António Luís Vicente, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), a criação de centros culturais de porta aberta que, à semelhança do que fazem institutos como o Cervantes, o British Council ou a Alliance Francaise, ofereçam cursos a qualquer pessoa interessada, independentemente de frequentar ou não a universidade. Ou seja, uma estratégia diferente daquela em que Portugal tem apostado. A hipótese não está no horizonte do IC. Há, no entanto, uma aproximação a esse modelo, explica Ana Paula Laborinho. "Estamos a usar os nossos centros de língua nas universidades [em vários pontos do mundo] para incluir a oferta de Português para quem não frequenta a universidade mas está interessado na língua. E também os cursos para fins profissionais, Português para médicos, para juristas, para negócios. Uma das minhas apostas é alargar esta oferta extracurricular". Nada disto significa, contudo, um desinvestimento nas comunidades portuguesas. "Não vamos acabar com os cursos de língua materna, o que vamos é qualificar essa rede com a adopção de políticas adequadas. Vamos estudar a situação escola a escola". Dispersão é "desastrosa"Fala-se muito nos "mais de 200 milhões de falantes" de Português, mas para uma política da língua eficaz ainda há muito a fazer, defende Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta e autor de um estudo de 2008 encomendado pelo Governo sobre estratégias para a promoção da língua e cultura. "Falta reconhecer que o tema da política da língua não pode ser uma moda sazonal para adornar cimeiras. Falta entender que a dispersão de esforços é desastrosa em termos de bom aproveitamento dos recursos humanos e financeiros", diz este especialista. Que lança perguntas: "Quantos ministérios intervêm na política da língua?" O IC é tutelado pelo MNE, mas o Acordo Ortográfico tem sido um processo liderado pela Cultura, em coordenação com a Educação. "A quem cabe a coordenação de esforços e vontades? Falta apostar a sério na formação de professores de Português como língua estrangeira. Falta aprofundar a noção de que uma política da língua não se esgota no ensino da língua. " E falta ainda, segundo Reis, "dotar o Instituto Camões de meios humanos e financeiros que lhe permitam ser, de facto, uma grande instituição, concebendo e articulando uma política da língua de modo a que se possa ir além da gestão corrente do ensino do português no estrangeiro". Há o exemplo do Cervantes espanhol, e, embora reconheça que este investimento "talvez pareça desmesurado em tempos de crise", Reis lembra o estudo O Valor Económico da Língua, de 2008, que diz que a língua tem um valor económico equivalente a cerca de 17 por cento do PIB. Carlos Reis lamenta, nomeadamente, as "paragens e omissões" na aplicação do Acordo Ortográfico, que "mostram bem que a abordagem da política da língua sofre de falta de energia", embora exclua da crítica o Ministério da Cultura. Precisamente, esta semana a ministra da Cultura Gabriela Canavilhas apresentou o Lince, um conversor para a nova ortografia encomendado pelo Governo, pago pelo Fundo da Língua Portuguesa (criado em 2008) e elaborado pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC). Em declarações ao PÚBLICO, Canavilhas disse que está a avançar o processo para a criação de uma Academia das Letras, que não existe em Portugal.
REFERÊNCIAS:
Entidades MNE
Crise: a vida deles era topo de gama e agora cada euro conta
Ganhavam acima da média, tinham património e hábitos dispendiosos. A crise obrigou-os a abdicar de uma vida confortável. Têm vergonha do presente, medo do futuro e saudades do passado com dinheiro. (...)

Crise: a vida deles era topo de gama e agora cada euro conta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2010-07-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ganhavam acima da média, tinham património e hábitos dispendiosos. A crise obrigou-os a abdicar de uma vida confortável. Têm vergonha do presente, medo do futuro e saudades do passado com dinheiro.
TEXTO: Carlos Figueiredo construía casas e vendia-as. Depois, deixou de as conseguir vender. Agora, deve cinco milhões de euros. Tirou os filhos do colégio privado e desfez-se da vivenda onde moravam há mais de 13 anos. José António Soares geria uma multinacional em Portugal. A crise levou-lhe o emprego e as poupanças, investidas no falido BPP. Filipa Guimarães era grande repórter de televisão. Ficou sem palco. Aos 39 anos, voltou a viver da mesada dos pais. José Morgado Henriques é sócio de uma empresa que já foi ícone, mas teve de declarar insolvência. É no armazém da centenária Papelaria Fernandes que hoje tenta, euro a euro, sair de uma crise que não poupou as classes mais altas. São histórias de um país que enfrenta um período de grande fragilidade económica. Um país onde uns são mais afectados do que outros, mas todos temem. Temem palavras como "desemprego", "cortes salariais", "impostos", "endividamento", "austeridade". Mais protegidas pelo património, mas também mais expostas pelos investimentos e dívidas elevados, as pessoas com rendimentos acima da média viram-se obrigadas a descer à terra e a abdicar de um modo de vida herdado ou conquistado. A recessão faz-se sentir nos seus bolsos, mas também deixa marcas profundas na vida familiar, nos sonhos e na forma como se olham, todos os dias, ao espelho. O reflexo de José António Soares diz-lhe que a vida mudou. Mudou de uma forma "monstruosa". Hoje, aos 67 anos, é um homem que reprova o consumismo sem regra. "É uma doença, uma droga como outra qualquer", diz. Mas nem sempre foi assim. Até há oito anos, este homem conduzia carros topo de gama, vivia numa quinta com a mulher e gastava milhares de euros por ano a jogar golfe e em bens culturais. Tinha rendimentos mensais de 8000 euros, excluindo outras regalias, como os prémios de gestão e o automóvel de serviço. Era director-geral de uma multinacional de origem sueca, que ajudou a instalar em território nacional. Em 2002, o grupo IFS tomou uma decisão radical. Era preciso reduzir custos e uniformizar a operação a nível ibérico. De um dia para o outro, Portugal deixou de fazer parte dos planos e o gestor ficou sem emprego. Recorda-se de ter sentido "um choque". Na altura, começava a notar-se, ainda ao de leve, a fuga de multinacionais do país, mas "o negócio corria bem. Não se tratou de falta de clientes", assegura. A crise tem vindo a despertar mais casos de empresas internacionais que trocam o mercado nacional por terrenos mais competitivos ou que simplesmente dão por terminada a actividade. No caso de José António, o encerramento da empresa foi apenas o princípio do fim da vida que levava. Saiu em conflito com a administração e, depois de um processo que se arrastou anos a fio nos tribunais, o salário ao fim do mês não foi o único conforto que perdeu. "Não recebi um cêntimo de indemnização, apesar de ter movido um processo contra a empresa por despedimento ilícito", conta. Como estava a chegar aos 60, decidiu-se pela reforma antecipada. Ganharia menos, é certo, mas teria tempo. "Tempo para apreciar a vida em família, cultura, viagens. Tempo para mim", imaginou. A pensão que recebe, desde então, é muito inferior à remuneração de director-geral. De 8000 passou para 2000 euros mensais. Muito acima da média nacional, mas muito abaixo daquilo a que estava habituado. "Sei que, se olhar em volta, não me posso queixar, mas é tudo uma questão de perspectiva", diz. A redução de orçamento obrigou-o a tomar medidas drásticas. Tornou-se insustentável pagar a prestação do crédito à habitação da quinta onde morava com a mulher. Por isso, decidiu desfazer-se da casa e mudou para um apartamento arrendado, onde também vive a sua mãe. A mais-valia realizada com a venda do imóvel, 80 mil euros, serviria como garantia de uma vida desafogada, "caso fosse novamente apanhado na curva", pensou. Os conselhos de um sobrinho, que trabalhava no Banco Privado Português (BPP), levaram-no a depositar todas as poupanças na instituição financeira. "O resto da história já se sabe. Perdi o dinheiro todo porque foram à falência. Ainda estou a lutar para ter de volta aquilo que é meu", lamenta. História de azaresOs últimos anos de vida de José António dariam para contar uma "história de azares", como o próprio a descreve. Mas o azar, e a sorte, nunca caminham sozinhos. Também neste caso as circunstâncias que contam a história deste reformado fazem parte de uma circunstância maior. Foi a crise nas contas da multinacional sueca, afectadas por uma crise na indústria, que ditou o encerramento da operação em Portugal. E foi a crise no BPP, provocada pela crise financeira e pela impossibilidade de pagar os investimentos de retorno absoluto, que fez desaparecer as suas poupanças. A crise tem destas coisas. Ninguém escapa. Dos mais pobres aos mais ricos. Todos sentem, no trabalho e em casa, os seus impactos. As pessoas com rendimentos mais elevados "têm naturalmente mais protecção e segurança", afirma João César das Neves. No entanto, o economista e professor universitário explica que isso não as ampara por completo, pois foi na classe alta que a recessão "bateu com mais força, porque uma crise financeira afecta quem mais investimentos e dívidas tem". Mudar de estrato social é, por isso, "um efeito inevitável", assegura César das Neves. Esta mudança tem vários efeitos práticos, cada vez mais visíveis a olho nu. Recentemente, o presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) revelou que têm chegado às escolas públicas cada vez mais pedidos de transferência de crianças que estudavam em colégios privados. O Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Limpeza (STAD) alertou para o facto de as empregadas domésticas estarem a ser dispensadas por causa do desequilíbrio no orçamento das famílias. Foi anunciado que as receitas obtidas pela indústria do golfe caíram 17 por cento em 2009. Um estudo da consultora Gfk concluiu que dois terços dos portugueses vão ficar em casa durante as férias. E ficou-se a saber que os portugueses devem mais de 200 milhões de euros de condomínio, de acordo com a associação do sector. São apenas alguns dados dispersos, de entre muitos outros, que confirmam que o que antes era tido como conforto adquirido é agora visto como um luxo por causa da recessão. De empresário a perseguidoCarlos Figueiredo (nome fictício) conhece bem esta realidade. Depois de ter erguido um império na construção civil, viu-o desabar, como se de um castelo de cartas se tratasse, em apenas dois anos. Tinha imóveis espalhados um pouco por todo o país e "vendia-os com lucro", até que o mercado imobiliário entrou em colapso, por causa dos preços inflacionados, da diminuição do poder de compra e das dificuldades de acesso ao crédito bancário. "Nunca pensei que isto acontecesse, tanto que, tudo o que ganhava, investia. Não tinha grandes poupanças", conta. Foi em 2008 que começou a perceber que o negócio não sobreviveria. As dívidas à banca começaram a acumular-se e os imóveis continuavam à espera de compradores, de quaisquer compradores, aos quais chegou a oferecer descontos de 30 por cento. De empresário de sucesso passou a "perseguido por cobradores". De homem rico a homem endividado, com créditos de cinco milhões de euros. No início do ano passado, disse basta. "Todos os dias tinha pessoas a pedirem-me dinheiro à porta de casa, os telefones não paravam de tocar, deixavam-me bilhetes, recados aos vizinhos", recorda. Pediu a insolvência das três empresas de construção que detinha e enquanto pessoa singular está, actualmente, a pagar as dívidas faseadamente. Até a crise lhe bater à porta, retirava rendimentos de 5000 a 6000 euros mensais com a actividade. Hoje, o rendimento do agregado familiar (que inclui o salário da mulher) não ultrapassa os 1300 euros. E a este montante, que tem de ser comunicado ao juiz que está a acompanhar o processo de insolvência, é depois subtraída uma percentagem para pagar aos credores. Assim será durante cinco anos - o período estipulado para o plano de pagamentos. "É difícil, mas é a única forma de os ressarcir, porque todos os imóveis que tinha já passaram para os bancos. Pelo menos, vivo mais descansado. Não tenho de andar a trocar de número de telefone para fugir às ameaças dos cobradores", conclui. Endividamento psicológicoCarlos, de 55 anos, diz que hoje vive "com as unhas cortadas, com a pele esticada". A família, que é composta por quatro filhos, teve de se mudar da vivenda onde moravam há 13 anos e arrendar um apartamento mais pequeno. As crianças saíram do colégio privado e, agora, estudam numa escola pública. Deixaram de ter dois carros, um Mercedes e um Toyota, e agora andam de Fiat. Há muitas inibições nas compras de supermercado e no lazer. E as férias são apenas lembranças do passado. "Isto mexe muito com a família", avisa o antigo empresário. Mexe com a família e com ele, que admite ter pensado em suicidar-se. Está a ser acompanhado por médicos para combater o estado depressivo a que chegou. Apesar de todos os meses ter de entregar os frutos do seu trabalho a terceiros, foi na insolvência que encontrou a saída possível. Uma pesquisa na Internet levou-o ao site www. endividamento. pt, um dos muitos que têm surgido nos últimos tempos e que prestam apoio a pessoas que estão mergulhadas em dívidas. Mais um fenómeno dos tempos. Foi nesta plataforma, gerida pela Associação Portuguesa para a Observação, Investigação e Apoio na Reeducação em Matéria de Endividamento (APOIARE), que encontrou as respostas que procurava. Contactou-os e foi encaminhado para um advogado especialista em insolvências. Sónia Varela, presidente da associação, nota que "há cada vez mais pessoas de classes mais altas envolvidas nestes problemas" e que os pedidos de ajuda de pessoas com rendimentos mais elevados "têm aumentado". A responsável explica que isto acontece porque "têm mais dificuldade em pedir ajuda a tempo, por vergonha" e porque "não querem abdicar do nível de vida a que estão habituados". Às vezes, sofrem de "endividamento psicológico", que deriva da pressão da envolvente social, "obrigando estas pessoas a manter as aparências para não serem excluídas". Quando dão o primeiro passo e percebem que não vão conseguir ultrapassar a instabilidade financeira sem um apoio mais especializado, a APOIARE tenta "perceber que soluções há para cada caso". A insolvência é apenas uma delas. Pode conseguir-se um acordo prévio com os credores, sem ter de chegar a tribunal. Recomeçar a vidaLuís M. Martins é advogado e lida diariamente com casos de endividamento. "São pessoas que andam a alimentar dívidas durante anos. Agora está pior porque não conseguem ir buscar mais dinheiro aos bancos. Há pessoas que devem 30 milhões de euros", explica. Na página que criou na Internet, publica artigos sobre o tema, dando conselhos a quem procura sair "de situações que muitas vezes nem sabe como criou". No fórum, caem comentários, pedidos de ajuda de portugueses que têm os bens penhorados, cobradores à porta e famílias despedaçadas. O advogado recebe-os no escritório e apresenta-lhes caminhos. A insolvência é uma prática comum no mundo das empresas, quando chegam a um ponto em que não conseguem pagar às instituições financeiras, aos fornecedores ou aos trabalhadores. Porém, ainda "há um grande desconhecimento por parte das pessoas singulares" quanto à possibilidade de se declararem insolventes. É a oportunidade de "não viverem à margem, a fugir às dívidas, a esconder o património", afirma Luís M. Martins. Uma vez declarada a insolvência de uma pessoa singular, é definido um plano de pagamentos pelo tribunal, em função dos seus bens e rendimentos. "Paga-se durante cinco anos o que se puder pagar, e depois recomeça-se a vida", acrescenta o advogado, que acredita que, regra geral, os endividados "não têm recaídas". Aprendem "uma lição de vida" e dificilmente voltam a mergulhar numa situação idêntica. No final do processo, o juiz faz uma apreciação do seu comportamento e, se tiverem respeitado o plano de pagamentos, "as dívidas são perdoadas" e volta-se à casa de partida. Accionista com vergonhaÉ esta a esperança de José Morgado Henriques, um dos principais accionistas da Papelaria Fernandes, uma marca centenária que não teve outra escolha que não declarar-se insolvente, em Abril de 2009, após mais de uma década a apresentar prejuízos. Com perto de 25 por cento do capital, o empresário foi escolhido, em 2008, para liderar esta nova fase na vida da empresa, que, nos últimos meses, foi obrigada a dispensar perto de 300 trabalhadores e a fechar duas lojas. Muitas das que permanecem abertas estão atrasadas no pagamento das rendas. A queda da empresa acabou por arrastar o gestor, que, além da Papelaria Fernandes, tem uma empresa de construção civil cuja facturação caiu de três milhões para 1, 5 milhões de euros no ano passado. Morgado Henriques nunca escondeu que "se arrepende" de se ter tornado accionista, em 2007, por indicação de outro sócio com quem tinha relações próximas, a Fundação Lourenço Estrada. "Sinto-me envergonhado por não estar a cumprir aquilo que me propus a cumprir e estou naturalmente condicionado pelo que vai acontecer a seguir", admite. A Papelaria Fernandes, à semelhança de muitas outras empresas, não resistiu à crise. Em 2009, as vendas apresentavam quedas de 49, 9 por cento, os prejuízos ultrapassavam os 17 milhões e as dívidas, maioritariamente contraídas junto da banca, chegavam aos 63, 5 milhões. Além de uma quebra na facturação, a história desta empresa centenária, fundada em 1891, também está envolta em acusações de má gestão, que têm como alvo a anterior equipa de administração, nomeada pelo accionista que vendeu a participação a Morgado Henriques, a Inapa. Contas feitas, o gestor diz que o seu orçamento mensal sofreu um corte de 2500 euros, sem contar com o dinheiro que tem investido na Papelaria Fernandes e que, se os credores se decidirem pela falência, será perdido. É no armazém, no Cacém, que tenta recuperar, euro a euro, o negócio pelo qual dá a cara. Montou uma loja com os produtos que nunca chegaram às lojas, muitos deles com décadas de existência, passadas no esquecimento das prateleiras da empresa. Há mochilas do Fido Dido, cadernos de 2001 com a selecção italiana na capa, rolos de fita colorida sem fim. Está tudo a ser vendido muito abaixo do preço de mercado, a associações de solidariedade e as outras empresas que vêm nisto uma oportunidade de encher os seus próprios armazéns a um custo reduzido. Os 110 trabalhadores que permanecem nas instalações "e que têm mãos hábeis" também dão um contributo. "Fazem cadernos e envelopes a partir do papel que ficou para aqui deixado", conta Morgado Henriques. Em casa do gestor, o esquema é o mesmo. Aproveita-se, recupera-se, enfim, economiza-se. Há três menores para criar, um deles tem meses. "Noto que temos uma perspectiva diferente sobre o orçamento. Há, sobretudo, mais consciência, mais preocupação", diz. Não nega que têm uma vida confortável, em comparação com o comum dos portugueses, mas mostra-se apreensivo quanto ao futuro. "Tenho receio de ser obrigado a tirar os meus filhos do colégio. É preciso tomar já algumas medidas de prevenção, como diminuir os gastos com restaurantes. "Mas o que mudou, realmente, foi a propensão de José Morgado Henriques para o investimento. Depois da experiência na Papelaria Fernandes, cujo desfecho se decidirá ainda este mês, sente-se "menos disponível para pôr dinheiro em novos projectos". O economista João César das Neves afirma que "toda a sociedade tem de reduzir o seu consumo, ajustando-o à realidade" e que "as classes mais altas terão de acompanhar e, em certos casos, liderar esse processo". O problema é que também é do investir que vive a economia e, sem isso, a recuperação do país torna-se ainda mais difícil. Vender jóias, comprar chinêsO investimento é apenas um dos muitos propulsores para sair da crise. Há algo ainda mais profundo que, quando falta, impede estas pessoas de dar a volta por cima. Há quem lhe chame força de vontade. Filipa Guimarães prefere chamar-lhe confiança. "Confiança no todo, para que nos sintamos instados a sair disto. E confiança em nós, que é o que a crise nos tira de mais precioso", diz a antiga grande repórter da SIC, que se despediu voluntariamente da estação de televisão privada, convencida de que "outro trabalho de certeza surgiria". Não foi isso que aconteceu, porém. E, aos 39 anos, voltou a viver da mesada dos pais, que, por pertencerem a um estrato com rendimentos elevados, dão-lhe 1000 euros por mês para se governar. Esta vida que hoje leva é muito diferente da que conheceu, sob os holofotes da caixinha mágica. Mais do que um bom salário, que rondava os 2000 euros, Filipa Guimarães era grande repórter. Algo que nem o dinheiro consegue pagar, porque lhe abria portas para um mundo de "deslumbramento". Traz um vestido vermelho, que comprou há cinco anos, na altura em que saiu da SIC. "Estavam a rescindir contrato com algumas pessoas e eu aproveitei para me vir embora, porque não estava satisfeita", conta. Saiu de cara levantada. Certa de que apareceriam outras oportunidades. Guiões de telenovelas, textos para jornais e, quem sabe, mais reportagens televisivas, agora independentes. A crise mostrou-lhe portas fechadas, pedidos sem resposta e trabalhos mal pagos. Lembra-se das extravagâncias que cometeu quando "o dinheiro parecia chegar para tudo". Uma viagem ao Brasil que pagou à prima, uma ida ao astrólogo, só por curiosidade, que lhe custou 250 euros. A vida mudou. Filipa também. Passa os dias em casa, "sem ninguém com quem falar". Nunca mais foi de férias, "quanto mais pagar viagens a alguém". Os programas sociais, que lhe preenchiam os dias, "deixaram de existir", assim como "pessoas que julgava amigas". E admite que está a ponderar "vender jóias da família". Descobriu as lojas dos chineses. Riscou as compras mais supérfluas da agenda. E recicla o que antes lhe parecia lixo. Hoje, o que lhe dá realmente prazer é andar com produtos baratos, mas com sentido de humor, como o porta-chaves que traz na carteira: um animal colorido ao qual saltam os olhos, quando apertado com força. "É isto que me dá alegria. " Está a escrever um livro sobre a reviravolta que sofreu a sua vida, para que "as pessoas percebam que não estão sozinhas e que há sempre caminhos alternativos". Mas, no fim, lá confessa: "Tenho saudades de dinheiro. "
REFERÊNCIAS:
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Alemanha quer ter um milhão de carros eléctricos até 2020
A Alemanha quer assumir a liderança do mercado de carros movidos a electricidade, e já traçou como meta ter um milhão de veículos deste tipo até 2020, num congresso realizado hoje em Berlim para criar uma plataforma nacional. (...)

Alemanha quer ter um milhão de carros eléctricos até 2020
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2010-05-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Alemanha quer assumir a liderança do mercado de carros movidos a electricidade, e já traçou como meta ter um milhão de veículos deste tipo até 2020, num congresso realizado hoje em Berlim para criar uma plataforma nacional.
TEXTO: Na conferência participaram, além da chanceler, Ângela Merkel, e de vários ministros federais, representantes dos principais fabricantes automóveis e empresas energéticas do maior país da União Europeia. O tema central dos debates incidiu sobre as novas tecnologias para substituir os combustíveis fósseis nos motores dos automóveis, nomeadamente a energia eléctrica e as células de hidrogénio. A questão das infra-estruturas para o novo tipo de veículos, a respectiva formatação, a reciclagem e os materiais a utilizar no fabrico foram questões também abordadas. No Primeiro Congresso da Electromobilidade, em Berlim, os fabricantes de automóveis deixaram claro, no entanto, que são necessárias bonificações fiscais e outros apoios do Estado para acelerar a entrada no mercado dos novos veículos. Indústria pede subsídios europeusO presidente da Confederação da Indústria Automóvel, Matthias Wissmann, advogou “uma via comum europeia” para desenvolver os carros eléctricos, no que se refere aos subsídios à indústria. A chanceler, Angela Merkel, não respondeu directamente às propostas dos industriais, mas admitiu que “sobretudo a investigação” dos novos veículos possa ser fomentada. O objectivo do congresso era “coordenar melhor a concepção e produção de carros eléctricos”, disse o ministro federal dos transportes, Peter Ramsauer. Para concretizar estes planos, foram formados sete grupos de trabalho com a participação de responsáveis políticos e das indústrias envolvidas, os quais começarão a funcionar em finais de Maio. Fabricantes preparam novos modelosTodos os fabricantes de automóveis alemães, excepto a Porsche, estão a trabalhar intensivamente na investigação de carros eléctricos, e esperam ter vários modelos no mercado em 2013. A BMW anunciou o lançamento do “Megacity Vehicle”, e testa actualmente uma frota de 600 carros de dois lugares movidos a electricidade. A Daimler quer produzir em série uma versão eléctrica do Smart, a partir de 2012, e no ano seguinte quer colocar um carro eléctrico no mercado chinês, em cooperação com o fabricante local BYD. A Audi lançará o primeiro veículo deste género no mesmo ano, o e-tron, um carro de desporto da gama alta, com 330 cavalos de potência, e uma velocidade de ponta de 230 quilómetros por hora, que custará mais de 100 mil euros. Além disso, a fábrica de Ingolstadt projecta também uma versão eléctrica do A1, cuja versão a gasolina estará à venda ainda este ano. A Volkswagen, maior fabricante europeu, já anunciou também o mini-carro Up, a partir de 2012, e no mesmo ano versões movidas a eletricidade do “bestseller” Golf e do Jetta, além do E-Lavida, para o mercado chinês, este último talvez ainda mais cedo. Quanto à Opel, já revelou que comercializará na Europa, também até 2013, uma versão híbrida do Ampera (Volt norte americano), a electricidade e com um pequeno motor a gasolina para carregar a bateria, semelhante ao Volt, que começará a ser vendido em 2011 nos EUA.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
A história da amizade entre uma marmota e uma ave
No Inverno, uma hiberna, a outra supõe-se que parte em migração. Na Primavera e no Verão encontram-se e partilham o mesmo condomínio. Segunda e última parte de uma expedição científica por Xinjiang. (...)

A história da amizade entre uma marmota e uma ave
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: No Inverno, uma hiberna, a outra supõe-se que parte em migração. Na Primavera e no Verão encontram-se e partilham o mesmo condomínio. Segunda e última parte de uma expedição científica por Xinjiang.
TEXTO: O relato que ouviu de um cientista estrangeiro, de visita a Portugal no ano passado, encantou-o tanto que quis ver se era verdade — e foi assim que Nuno Monteiro acabou numa pradaria na China, 2500 metros acima do nível do mar. A história é esta: na pradaria de Bayanbulak, que fica num planalto da cordilheira Tianshan, na região chinesa de Xinjiang, existe uma espécie de marmota que partilha a casa com uma ave durante a Primavera e o Verão. É por essa altura que ambas cuidam dos filhos que acabaram de nascer. Com a aproximação do Inverno e da neve que cobre o planalto, a marmota hiberna na sua toca e a ave pensa-se que parte para terras mais quentes. Talvez até África. Há agora uma planície de gramíneas, um rio que corre em meandros, cada vez mais fortalecido pelo degelo da neve, uma montanha em redor que continua branca nos picos, o sol que desponta pela manhã fria, a brisa que se sente no rosto, um casal de cisnes que pousa na água, uma única casa nesta parte da pradaria, com vista desafogada, onde vive um guardador de lobos — e no chão muitos buracos, as tocas das marmotas, que são roedores. Nunca tal associação surgiu descrita num artigo científico, mas foi esse o relato que Nuno Monteiro ouviu a Ablimit Abdukadir, quando este investigador do Instituto de Ecologia e Geografia de Xinjiang visitou, em meados de 2009, o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto. “Relações tão próximas entre espécies tão distintas são raras. Envolvendo mamíferos, creio que não foram ainda descritas”, diz o biólogo do Cibio e docente de Parasitologia na Universidade Fernando Pessoa, no Porto. “Achei a história apaixonante”, continua Nuno Monteiro. “Cresci a ver os documentários da BBC, invejando intensamente o David Attenborough pela sua capacidade de surgir entre a câmara e o mais exótico dos animais. Ouvia-o imediatamente a narrar a história desta amizade improvável, e achei que íamos para a frente com o projecto. ” Foram mesmo para a frente, ele e Albano Beja Pereira, zootécnico também do Cibio, e assim incluíram nos objectivos de uma expedição por Xinjiang, no coração da famosa Rota da Seda, o estudo da convivência invulgar entre uma marmota e uma ave. À espreita no planalto “Professor, isto são ‘caganitas’ de marmota?”, pergunta o biólogo português, perto de uma toca na planície de tufos rasteiros, a Ablimit Abdukadir. “Oh, sim. ” “Vou recolhê-las. ” Pela planície vagueiam outros olhos atentos ao chão. Enquanto Ablimit Abdukadir, da etnia uigur, muçulmana e minoritária na China mas dominante na região de Xinjiang, se ocupa a identificar excrementos, Albano Beja Pereira traz mais tubos para guardar amostras destinadas a estudos de ADN. Com eles está Chen Shanyuan, estudante chinês de pós-doutoramento de Beja Pereira no Cibio há alguns anos, e que já conhecia Abdukadir. E Adil Tohti, outro uigur, o contacto local, que conduz os recém-chegados pelo território das marmotas. Adil Tohti vive na única casa de tijolos nesta parte da pradaria, sozinho com os 14 lobos que apanhou e gosta de manter em jaulas no quintal, com vista para os meandros do rio Kaidu. E já tem uma marmota enjaulada à espera da equipa. Diz ser proprietário de mil ovelhas, uma gota de água entre os 200 mil animais (vacas, iaques e cavalos, além de ovelhas) que pastam no imenso planalto habitado por 30 mil pessoas. Ao fundo, a poucos minutos de jipe, avista-se a cidadezinha de Bayanbulak. A rua principal, de terra batida, é uma sucessão inesperada de hotéis e restaurantes, ao fim da travessia de algumas horas pelo planalto salpicado de manadas de iaques e de vacas e rebanhos de ovelhas brancas de cabeça preta. Muitas vezes atrás do gado seguem pastores a cavalo. As iurtes, tendas circulares dos mongóis, povo nómada que partilha o vale com uigures e cazaques, deslumbram. As suas chaminés em forma de tubo fumegam, principalmente de manhã, e ao lado das tendas encontram-se sinais dos avanços tecnológicos. Estão munidas de painéis solares dispostos no chão. A cidade congrega dez mil habitantes, muitos dos quais mineiros na região, e à noite o ar está impregnado de um cheiro a carvão vindo das lareiras de casas modestas, nas ruas mais recuadas. Os hotéis albergam os turistas que nos meses de Verão procuram estas paragens, afinal esta pradaria, uma das maiores da China, tem uma famosa reserva natural de cisnes, constituída por inúmeros pequenos lagos. Concentram-se aqui mais de um milhão de cisnes, mas as aves de diversas espécies podem chegar aos dez milhões. Numa rua lateral, há um cinema e à sua frente dispuseram-se mesas de bilhar. Cibercafés também existem; e se pesquisarmos no Google a palavra “Xinjiang” o resultado na Wikipédia, em inglês, menciona os confrontos étnicos entre os uigures e os chineses hans, a etnia dominante na China, há um ano na capital da região, de que resultaram oficialmente quase 200 mortos e mais de mil feridos. Esses confrontos foram a manifestação mais violenta do clima de tensão étnica latente em Xinjiang. O Facebook ou o YouTube encontram-se, no entanto, bloqueados. Passeando o olhar por cima do terreno com as tocas, avistam-se duas iurtes. Como serão por dentro? E, zás, as marmotas aparecem e desaparecem — confundindo-se na paisagem ou entrando numa das várias aberturas das tocas. Percebe-se que têm o pêlo amarelado, com laivos negros. É a Marmota baibacina, o nome científico da sua espécie. O que dá ela exactamente à ave, uma espécie de chasco? “Um T0”, brinca Nuno Monteiro. “Os chascos fazem os ninhos em buracos. Mas esta paisagem não tem grande diversidade para fazerem o ninho. Os chascos já têm um apartamento nos buracos das marmotas. ” E a ave, o que dá à marmota em troca? “Sendo herbívora, quanto mais a marmota sobe em altitude, menos alimento tem disponível. Se vivesse sozinha, não adiantaria subir muito, porque o esforço para procurar alimentos seria tanto que suplantaria os benefícios e em grande parte do tempo estaria preocupada com os predadores. Associada com um pássaro, pode ocupar novos territórios”, explica Nuno Monteiro. A ave põe-se em guarda e avisa as marmotas de potenciais predadores. “Mas ainda não vimos ave nenhuma”, lamenta o biólogo a Beja Pereira, ao fim de algum tempo. Tivesse dito isto mais cedo e o seu desejo ter-se-ia já cumprido. Ali está uma. Contente? “Não, ainda não a vi entrar na toca. Mas está a emitir chamamentos. ” São os humanos que representam perigo. O biólogo caminha na direcção da ave, observando-a: ela voa rente ao chão para aqui, para ali, e vai pousando. “Segue um padrão: tem uma série de sítios de pouso. ” Embora sem certezas ainda, deve ser um chasco da espécie Oenanthe isabellina, meio esbranquiçado por baixo, acastanhado no dorso e com pontas pretas na cauda. Come insectos. Ave e marmota protagonizam as conversas. “Uma família de marmotas pode ter quatro ou cinco buracos”, diz Ablimit Abdukadir. “Quantos filhos têm?”, pergunta-lhe Beja Pereira. “Quatro a seis. ” As dúvidas surgem. “Não tenho a certeza de que a ave e a marmota vivam tão próximas como eu penso, porque as aves que vimos emitiam sons de alarme para muitos buracos”, questiona-se o biólogo. As dúvidas logo se desfazem, quando uma ave aprece junto a um buraco. “Olha, entrou! Saiu e voltou a entrar. ” Timidamente, ela assoma-se e esconde-se ainda algumas vezes. Outras duas aves, um casal, prendem a atenção de Nuno Monteiro e Beja Pereira, especados no meio da planície, de costas voltadas para o resto da equipa, com casacos até aos joelhos. Afinal, a história da amizade entre uma marmota e uma ave é mesmo a sério. “Uma coisa é ouvir [um relato], outra é ver com os próprios olhos. Fico satisfeito”, diz Monteiro. Se um ninho estiver perto da entrada da toca, será fácil esticar o braço e apanhar um ovo para tirar ADN. Mas nenhum está. Já da marmota, além dos excrementos, os cientistas não tardariam a ter um tipo de amostras algo inesperado. Tudo porque, no seu carro, Adil Tohti avança pela planície a grande velocidade, guinando para aqui, para ali, enquanto se dirige às duas iurtes que despertaram tanta curiosidade. Pelo caminho as marmotas que andam na pradaria assustam-se, desatam em correria, e uma acaba debaixo dos pneus — Chen Shanyuan e Ablimit Abdukadir aproveitam então para cortar pedaço das orelhas para recolher ADN e tirar as medidas ao bicho. “Que idade tem o animal?”, pergunta Beja Pereira. “Quase três anos”, diz-lhe Abdukadir ao inspeccionar os dentes. “E viveria quanto tempo?” “Cinco a sete anos. ” (Dentro de uma das tendas mongóis, ocupada por uma família nómada, dispõem-se duas camas, roupas meticulosamente dobradas, alguidares, fotografias emolduradas, uma lâmpada eléctrica pendurada do tecto ou uma salamandra no centro que aquece o espaço). Um D. Juan da montanha Interessado nas questões de evolução e nos laços de parentesco entre indivíduos de uma espécie, para Nuno Monteiro esta amizade improvável entre uma marmota e uma ave representa um sem-fim de especulações científicas. Por exemplo, os descendentes da família da marmota e a da ave continuam a viver juntos de ano para ano ou os seus laços são mais efémeros? Espera-se que o ADN de ambas dê algumas respostas. “Com esse ADN, obtemos um perfil, uma espécie de impressão digital única para cada indivíduo. Quando amostrarmos as crias, saberemos quem são os pais e as mães. Teremos uma indicação do sistema reprodutivo das duas espécies”, explica o cientista português. “Serão os agregados familiares bem comportados (monogâmicos), ou existirão facadinhas no matrimónio? De uma época reprodutiva para a seguinte, os casais mantêm os laços ou escolhem-se novos parceiros? Quem é o ‘D. Juan’ da montanha? Em resumo, poderemos compreender em detalhe a biologia destas populações de aves e marmotas, e a intensidade da sua relação. ” Será que estas populações co-evoluíram? “Se a ligação for realmente profunda, poderá já estar escrita nos genes. Interessa-nos saber quão dependentes estão uma da outra, neste habitat específico. ” Muito antes de terem uma resposta, os cientistas portugueses ainda têm pela frente uma certa tarefa mais premente, no final da viagem que os levou a percorrer quase cinco mil quilómetros por Xinjiang, atrás de marmotas e aves (e dos burros selvagens da Ásia, como contámos na primeira parte do relato desta expedição, a 24 de Junho). Sempre atrás de excrementos, tudo pelo ADN. Pelo que é já longe de Bayanbulak, de regresso a Ürümqi, a capital de Xinjiang, após quase duas semanas na estrada, que a expedição tem o desfecho oficial. Nas escadas de um hotel, à noite, Nuno Monteiro e Beja Pereira retiram de uma geleira os excrementos guardados em tubos e embrulhados em papel de alumínio, para estudos de genética e de parasitas. Destapam o que recolheram ao longo da expedição, preparando e dividindo amostras, que vão seguir para Portugal de avião. “Os da marmota estão podres, eia, que bedum. . . ”O P2 foi convidado a acompanhar a equipa do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto. No Ano Internacional da Biodiversidade, vamos publicar quinzenalmente, e até Novembro, reportagens sobre os trabalhos que investigadores portugueses desenvolvem em Portugal e no estrangeiro na conservação da Natureza. Os conteúdos são da inteira responsabilidade do P2.
REFERÊNCIAS:
Palau dá o exemplo e cria primeiro santuário de tubarões com área da Península Ibérica
São 600 mil quilómetros de mar no Oceano Pacífico, um pouco mais do que Portugal e Espanha juntos, que vão tornar-se num local seguro para várias espécies de tubarão. Palau, um país com 200 ilhas a Norte da Indonésia, não hesitou. “Palau vai declarar as suas águas territoriais e estender a zona económica para ser o primeiro santuário oficial reconhecido para os tubarões”, disse à AP o Presidente do país, Johnson Toribiong. Algumas nações já tinham implementado limites na pesca e medidas de restrição na procura de barbatanas, mas este é um passo importante saudado pelos conservacionistas. “Há um efeito de demonstr... (etc.)

Palau dá o exemplo e cria primeiro santuário de tubarões com área da Península Ibérica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2009-09-26 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20090926091624/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1402453
TEXTO: São 600 mil quilómetros de mar no Oceano Pacífico, um pouco mais do que Portugal e Espanha juntos, que vão tornar-se num local seguro para várias espécies de tubarão. Palau, um país com 200 ilhas a Norte da Indonésia, não hesitou. “Palau vai declarar as suas águas territoriais e estender a zona económica para ser o primeiro santuário oficial reconhecido para os tubarões”, disse à AP o Presidente do país, Johnson Toribiong. Algumas nações já tinham implementado limites na pesca e medidas de restrição na procura de barbatanas, mas este é um passo importante saudado pelos conservacionistas. “Há um efeito de demonstração, de começo e isso é particularmente importante”, disse ao PÚBLICO por telefone Francisco Ferreira, dirigente da Quercus, acrescentando que a decisão “serve de exemplo para outros [países] tomarem medidas. ”Para Francisco Ferreira o novo santuário ocupa “uma área bastante grande”. Um estudo de 2006 mostra que todos os anos são mortos 73 milhões de tubarões para o corte das barbatanas, utilizadas para fazer sopa de barbatana de tubarão, uma iguaria da gastronomia chinesa. Os pescadores apanham os tubarões, cortam as barbatanas e largam-os no mar, onde acabam por morrer. “Estas criaturas estão a ser massacradas e podem estar à beira da extinção a não ser que tomemos acções positivas para protegê-las”, disse o Presidente Toribiong à BBC News. Palau só tem um navio para controlar toda a área, recentemente foi reportado que 70 navios ilegais pescavam na região. “Vamos fazer o melhor que pudermos, dado os nossos recursos”, disse Toribiong. Existem naquele local do Pacífico 130 espécies de tubarões e raias ameaçados. A nível mundial 21 por cento dos tubarões estão ameaçados, 18 estão quase ameaçados e desconhece-se o que se passa com 35 por cento. As espécies em maior perigo são as que vivem nas águas à superfície, mais sujeitas à caça. Uma das dificuldades da recuperação das populações é o tempo de vida longo dos tubarões e a sua lenta capacidade de reprodução. Carl-Gustaf Lundin, que está à frente do programa marinho da União Internacional para a Conservação da Natureza, defende que existem outras medidas que podem ajudar a combater a pesca ilegal. “Não é necessário apanhar as pessoas no oceano. Todos necessitam de aportar os seus navios por isso, desde que a maioria das nações se juntem para se opor a pesca ilegal, as hipóteses de apanhá-los são bastante boas”, disse à BBC News. Apesar deste activismo, Palau não é contra a caça à baleia. O Presidente disse que ao contrário do tubarão, ainda não encontrou fundamentos científicos para a protecção, apesar de haver mais estudos. Preferindo também não falar das relações com o vizinho Japão, onde a carne de baleia é comum na alimentação. Mas com o tubarão, a gastronomia não é argumento: “Sentimos que a necessidade de proteger os tubarões é maior do que a de comer um prato de sopa. ”
REFERÊNCIAS:
“A maior parte dos chineses está ainda a tentar perceber onde fica Portugal”
Como é que um país como Portugal entra num mercado gigantesco como o asiático? Debra Meiburg, uma profunda conhecedora deste mercado complexo, veio a Portugal para o Must – Fermenting Ideas e deixou algumas conselhos. Para começar: manter um discurso simples e esquecer as harmonizações. (...)

“A maior parte dos chineses está ainda a tentar perceber onde fica Portugal”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 16 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como é que um país como Portugal entra num mercado gigantesco como o asiático? Debra Meiburg, uma profunda conhecedora deste mercado complexo, veio a Portugal para o Must – Fermenting Ideas e deixou algumas conselhos. Para começar: manter um discurso simples e esquecer as harmonizações.
TEXTO: Trinta anos a viver em Hong Kong e a viajar por toda a Ásia dão à jornalista, autora de livros, consultora e Master of Wine norte-americana Debra Meiburg uma segurança rara ao falar de um mercado complexo, variado – mas cada vez mais atraente para os produtores de vinho – como é o da Ásia. Na wine summit Must – Fermenting Ideas, uma iniciativa do crítico de vinhos Rui Falcão e do jornalista Paulo Salvador, que aconteceu entre os dias 20 e 22 no Centro de Congressos do Estoril, reunindo vários oradores nacionais e internacionais, Debra Meiburg fez uma excelente apresentação, durante a qual descreveu o estado do mercado do vinho em vários países asiáticos. Se, por um lado, chamou a atenção para as oportunidades que existem e aconselhou estratégias, por outro alertou contra os mais comuns erros de abordagem de um mercado culturalmente tão diferente dos outros. No final, conversou com a Fugas sobre o que pode fazer um país como Portugal perante um desafio tão complexo como é o de entrar neste universo com milhões de consumidores, na sua maior parte ainda pouco familiarizados com o vinho. Na sua conferência, disse que no caso da China, o melhor é uma abordagem província a província. Sendo Portugal um país pequeno, com um problema de escala de produção, o que é que aconselha?No mercado chinês há poucos importadores que consigam distribuir por todo o país. Os que o conseguem querem trabalhar com as grandes marcas, por isso só as maiores marcas portuguesas deveriam abordar estes importadores. Os produtores mais pequenos precisam de encontrar pessoas que tenham o coração com Portugal. E, nesse caso, seria muito importante convidá-los a visitar a adega, a conhecer o que Portugal tem para oferecer. A boa notícia é que na China ninguém tem nenhuma ideia sobre o que é Portugal e não sabem nada sobre vinho português, o que também é um desafio. Não há primeira impressão do vinho português, por isso os produtores podem tornar a história sua. É como ter uma tela branca para começar a pintar. O vinho português é muito de blends, com muitas castas diferentes e nomes difíceis. Isso complica a comunicação?Infelizmente, os países com blending complicado têm mais dificuldades. É o que acontece também com Itália, por isso a minha sugestão é manter as coisas simples. Os produtores têm sempre a tentação de mostrar toda a sua gama mas eu sugiro que procurem algumas garrafas de que se orgulhem particularmente, com nomes simples de pronunciar e concentrarem-se aí. Não tentem convencer os importadores a ficar com a gama toda. Será um fracasso. É demasiado confuso. É preciso não esquecer que a maior parte das pessoas na China está ainda a tentar perceber onde fica Portugal. A educação deles não inclui grande conhecimento geográfico da Europa, por isso o primeiro passo é garantir que eles ficam a saber onde é que fica Portugal, o que é Portugal, que elementos culturais podem contar a história. O que é maravilhoso em Portugal é ser um país de mar, que é algo com que as pessoas na Ásia se relacionam muito. Uma das vantagens de Portugal é a sua história na Ásia, poderiam jogar com isso, nunca conquistaram um país mas estiveram sempre na Ásia. É preciso uma história. A minha empresa trabalha com diferentes regiões. No caso da Geórgia, por exemplo, o trunfo são 8000 anos de história, para Portugal pode-se falar dessa longa relação de amizade com a Ásia e do comércio marítimo. O marisco, por exemplo, é algo que as pessoas compreendem bem nas regiões da China que são compradoras de vinho. Para os jovens, temos que pensar no que torna o estilo português cool. Mas essa é uma resposta que eu ainda não tenho. [Neste momento, o produtor de vinho Luís Pato aproxima-se e interrompe para pedir um conselho sobre se na Ásia será melhor apresentar brancos, tintos ou espumantes. Debra Meiburg explica que "a Ásia sempre foi um mercado de tintos, onde as pessoas acham que o tinto dá sorte e saúde e vêem-no como mais sofisticado; na China, em particular, 68% do mercado é tinto". Luís Pato argumenta que o branco combina melhor com a cozinha chinesa, mas Debra esclarece que os chineses "não fazem harmonização entre comida e vinho". O produtor português conta que uma vez esteve no Japão num "jantar fantástico" com comida local e os seus vinhos e que os brancos e os espumantes funcionaram muito bem, mas o tinto nem por isso. "A doçura e o salgado da comida conjugam-se muito melhor com os brancos e com vinhos com boa acidez e por vezes alguma doçura", diz. Debra sugere o vinho tinto "iria bem com bife Kobe" e lembra, por outro lado, que "no Japão têm uma longa história de saké, pelo que estão mais habituados a bebidas brancas e frias". Terminada a conversa, seguimos com a entrevista]. Disse também que era muito importante fazer a ligação com o turismo. Como?Há muitas facetas diferentes ligadas do turismo. Um bom exemplo é o grupo de produtores portugueses Douro Boys. Vieram para a Ásia com energia, apoiando-se uns aos outros. A primeira coisa que é importante é a capacidade de trabalharem juntos. Chegaram ao nosso mercado com excitação e energia e quando eu provava um dos vinhos o produtor dizia, se gostou prove o do meu amigo. Apoiaram-se e essa energia fê-los conquistar fãs na Ásia. Trabalhar em conjunto funciona, seja para uma região, seja apenas para um grupo de produtores que queiram convidar alguém para vir a Portugal e começar a história. Mas é importante que os responsáveis do Turismo o tornem friendly para os chineses, criando actividades que eles adoram, como comer marisco, por exemplo. O Brasil fez uma campanha na China apostando no sol e na praia e as pessoas não reagiram com interesse. Qual é a explicação?Os chineses não gostam de estar ao sol. Ainda há um preconceito contra isso. A pele mais escura é para classes mais baixas, está relacionada com pessoas que trabalham no campo, com o trabalho manual. Por outro lado, os chineses preocupam-se muito em parecer jovens e bonitos e em proteger a pele. Muitas das minhas amigas chinesas se vão para o sol, usam luvas e chapéus para tapar tudo, excepto os olhos. Por isso, promover a praia não é bom, mas promover marisco fresco, é. Jantar fora, historicamente, é para pessoas mais pobres. As pessoas bem sucedidas comiam em casa, com ar condicionado. Agora começam a ir mais jantar fora para tentar perceber o amor dos europeus por isso. Já trabalhou com regiões portuguesas?Fiz algumas coisas para a região do Tejo, no Sul da China. Foi muito interessante porque fomos para cidades não muito conhecidas, mas grandes. Mas foi apenas uma apresentação, não uma estratégia completa. O meu principal conselho é: tragam duas garrafas, mantenham a mensagem simples, tragam materiais didácticos mas muito simples, encontrem formas de ajudar as pessoas a memorizar os vinhos. Por exemplo, trabalho com a Geórgia, que foi uma enorme história de sucesso na China. Em quatro anos passámos de 700 mil garrafas para dez milhões. Uma das coisas que fizemos foram vídeos para ajudar as pessoas a memorizar os nomes das castas. Um dos nomes é Rkatsiteli – eu fiz um vídeo com o meu gato, contei que tinha quatro e que um deles gosta de ver televisão – A cat see teli – e tenho uma imagem do meu gato com o controlo remoto a ver televisão e assim agora toda a gente aprendeu o nome. Se for um blend, o que eles precisam de identificar é apenas a região. E quanto à imagem dos vinhos? É preciso fazer adaptações para o mercado chinês? Usar mais o vermelho, por exemplo?O vermelho já foi mais importante do que é hoje, as pessoas compravam muito vinho para oferecer e embrulhavam-no, com vermelho e dourado, para se perceber que era algo de festivo. Hoje bebem cada vez mais vinho como um estilo de vida, por isso o importante é garantirem que a garrafa tem um ar sofisticado. Não precisa de ser pesada mas o rótulo tem que ser sofisticado. Acho que a maior parte dos rótulos portugueses adequam-se bem, mas deixe-me comparar com a Austrália: adoram fazer rótulos engraçados, com piadas ou animais, porque querem tornar o vinho divertido. Mas os chineses bebem-no porque o acham sofisticado. Por isso, aconselho que olhem para os rótulos e pensem: se fossem propor casamento a alguém, qual seria o rótulo que gostariam de ter na foto quando colocassem o anel no dedo?Referiu a importância na Ásia dos chamados KOL’s ou Key Opinion Leaders. Até que ponto é que são conhecedores de vinho?Alguns deles têm conhecimentos de vinho mas muitos dos mais influentes não são pessoas do mundo do vinho, são mais do lifestyle, são influencers. Para eles, é importante que o vinho seja sofisticado mas divertido. Não precisa de ser fine wine, mas é bom que tenha alguma história, que tenha sido bebido por alguém importante ou que alguma pop star goste dele. Disse que outros países, como o Vietname, podem ser boas oportunidades. Para Portugal também?Adorava ter tempo para pensar numa estratégia para Portugal, mas, francamente, acho preferível uma estratégia regional. Portugal tem muitas regiões diferentes, é demasiado complexo. Adorava que Portugal apresentasse algumas regiões que definissem a imagem do país. Muitas instituições de promoção de vinho cometem erros porque têm que ser justos para todos, mas eu preferia que durante três anos Portugal seleccionasse três regiões e pusesse o seu esforço aí. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A tendência, geralmente, é para pensar que o melhor é apresentar primeiro o país e depois entrar no detalhe das regiões. Sim, mas pense nos Estados Unidos, Nappa Valley foi um sucesso. A África do Sul criou um sub-grupo chamado PWSA (Premium Wines of South Africa), produtores de diferentes regiões escolhidos para dizer: estes são alguns dos nossos melhores vinhos, isto é a África do Sul. Eu não trabalho directamente com eles mas costumava dizer: mandem as estrelas primeiro, não deixem que sejam os vinhos mais baratos a criar a imagem do vosso país. O Chile entrou no mercado com volume e isso é uma armadilha. França fez o contrário – apesar de nem sequer ter sido uma estratégia pensada, começou com Bordéus e a seguir veio a Borgonha. Os produtores mais pequenos acabaram por beneficiar porque os grandes, Lafite, Latour, Margaux, chegaram primeiro e definiram a imagem.
REFERÊNCIAS:
Cientistas chineses obtêm proteína albumina a partir do arroz
Cientistas de uma universidade chinesa anunciaram que conseguiram obter a partir do arroz a proteína albumina, encontrada no sangue humano e que é frequentemente usada para tratar queimaduras e doenças de fígado, entre outras. (...)

Cientistas chineses obtêm proteína albumina a partir do arroz
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-11-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cientistas de uma universidade chinesa anunciaram que conseguiram obter a partir do arroz a proteína albumina, encontrada no sangue humano e que é frequentemente usada para tratar queimaduras e doenças de fígado, entre outras.
TEXTO: Quando extraída de sementes de arroz, esta proteína é “fisicamente e quimicamente equivalente a albumina derivada do soro sanguíneo humano (HSA)”, concluíram os responsáveis, que publicaram o seu estudo na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”. Esta descoberta poderá levar a uma revolução da produção de HSA, que tipicamente só é possível de obter com doações humanas. A necessidade de albumina é de cerca de 500 toneladas por ano em todo o mundo e a China já viveu, no passado, alturas em que não conseguia obter a quantidade necessária desta proteína. Este novo método foi desenvolvido por cientistas da universidade de Wuhan, na China, em parceria com colegas do National Research Council do Canadá e do Center for Functional Genomics da Universidade de Albany, em Nova Iorque. Inicialmente, os cientistas modificaram, geneticamente, as sementes de arroz a fim de que estas produzissem altos níveis de HSA. Depois os cientistas descobriram um método de purificarem as sementes da proteína, conseguindo obter cerca de 2, 75 gramas de proteínas por quilo de arroz. Quando os cientistas testaram a proteína obtida a partir do arroz em ratos com cirrose hepática - uma doença em que é normalmente usado o soro sanguíneo humano - descobriram que os resultados terapêuticos eram idênticos aos levados a cabo em humanos, usando desta feita o HSA obtido a partir do arroz. “Os nosso resultados sugerem que o biorreator de uma semente de arroz produz HSA recombinante com custo-benefício que é seguro e capaz de satisfazer a crescente necessidade de albumina humana", destacou o estudo. Esta proteína é frequentemente usada na manufactura de vacinas e medicamentos e é dado a doentes que sofreram queimaduras, em choque hemorrágico ou com doenças de fígado, indicam os cientistas. Em 2007 houve falta desta proteína na China, o que fez com os preços disparassem. Esta descoberta poderá ainda servir para limitar as potenciais transmissões de doenças como a sida e a hepatite. Os cientistas ressalvam, porém, que é necessário avaliar a segurança deste novo método em animais e humanos antes de esta descoberta estar pronta para ser comercializada. Notícia actualizada às 10h50
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos doença estudo
Bo Xilai nega ter aceitado subornos milionários
Antigo dirigente chinês começou a ser julgado nesta quinta-feira. (...)

Bo Xilai nega ter aceitado subornos milionários
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Antigo dirigente chinês começou a ser julgado nesta quinta-feira.
TEXTO: O julgamento mais mediático na China e politicamente relevante nas últimas décadas começou nesta quinta-feira. No banco dos réus, um antigo dirigente chinês, Bo Xilai, caído em desgraça por suspeitas de corrupção e abuso de poder. , negou as acusações e disse que a confissão que teria feito na fase de inquérito foi produzida "contra a vontade". Bo Xilai foi formalmente acusado, em Julho último, de ter aceitado "uma soma elevadíssima" em dinheiro e propriedades e de desviar fundos públicos. Segundo a revista Caijing, uma das publicações mais respeitadas na China, entre outros crimes de que é suspeito Bo vai responder pelo desvio de 25 milhões de yuans (cerca de três milhões de euros) quando na década de 90 dirigia a cidade de Dalian, nordeste da China. "Espero que este julgamento seja justo, de acordo com as leis do país", disse Bo no tribunal de Jinan, onde começou a ser ouvido. O tribunal está a divulgar os momentos principais das audiências através do seu blogue. Depois de negar que tenha recebido dinheiro de dois empresários, Xu Ming e Tang Xaolin, Bo classificou este último como "mentiroso", segundo diz a AFP, acrescentando. "Ele disse o que disse simplesmente para reduzir a pena dele. E isso é porque ele morde em todas as direcções, como um cão enraivecido. "O julgamento teve início sob fortes medidas de segurança, com muita polícia dentro e fora do tribunal, onde houve também protestos de apoiantes de Bo Xilai. O julgamento é visto por estes como uma mera encenação, considerando que o facto de o PC Chinês o ter expulsado significa que os principais responsáveis políticos do país já o julgaram e condenaram. Além das acusações de corrupção, Bo enfrenta uma acusação de abuso de poder por alegadamente ter tentado evitar uma investigação judicial de um caso que envolvia a própria esposa. Bo foi em tempos uma das principais figuras do aparelho político chinês, mas caiu em desgraça no último ano e meio, acabando por ser expulso do partido na sequência do homicídio do empresário britânico Neil Heywood. A sua mulher, Gu Kailai, foi acusada e condenada em Agosto de 2012 a pena de morte suspensa pelo homicídio do empresário (a pena capital será comutada para prisão perpétua em 2014, mas Gu deverá poder sair em liberdade condicional ao fim de nove anos de prisão). Em Novembro de 2012, o Comité Central do Partido Comunista Chinês anunciou a expulsão do antigo governador da província de Chongqing e em tempos figura promissora do aparelho político do país. A expulsão de Bo Xilai do PCC e do Politburo (o segundo mais importante centro de decisões da política chinesa, a seguir à Comissão Permanente) foi vista como um escândalo quase sem precedentes na história política da China e como a maior crise que o partido no Governo enfrentou desde o massacre na Praça Tiananmen, em 1989. Antes da expulsão do PCC, Bo Xilai já tinha sido afastado da liderança do secretariado do partido na província de Chongqing, no dia 14 de Março.
REFERÊNCIAS: