Tecnologia à flor da pele com Arca
O que é que Björk, Kanye West e FKA Twigs têm em comum? Um produtor de 24 anos, natural da Venezuela, chamado Alexandro Ghersi, ou seja Arca, que se estreia agora com o álbum Xen. (...)

Tecnologia à flor da pele com Arca
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O que é que Björk, Kanye West e FKA Twigs têm em comum? Um produtor de 24 anos, natural da Venezuela, chamado Alexandro Ghersi, ou seja Arca, que se estreia agora com o álbum Xen.
TEXTO: Alguns dos temas mais aventureiros de “Yeezus”, o último álbum do rapper Kanye West, têm o seu toque, e as canções de EP2 de FKA Twigs, o disco do ano passado da cantora britânica que antecipava o seu estoiro em 2014 com o álbum LP1, eram produzidas por ele. Também a sempre atenta Björk deu por ele e convidou-o para co-produzir o seu nono e novo álbum. No entanto não é crível que muitas pessoas saibam o seu nome. Acontece com alguns dos melhores produtores. Mas Alejandro Ghersi, nascido na Venezuela, de 24 anos, mais conhecido por Arca, não vai ficar na sombra. E para o provar aí está a assinar o primeiro álbum a solo, Xen. Até aqui era conhecido por providenciar sonoridades bizarras e futuristas a figuras que se movimentam no centro do mercado, ou com potencial para o virem a fazer – para além dos mencionados, poder-se-ia falar também da cantora americana Kelela ou de Mykki Blanco. Dito assim, poder-se-ia imaginar alguém com um estilo especial capaz de agradar a uma larga fatia de ouvintes, mas não é por aí. A sua música é alienígena, com qualquer coisa de elástico, viscoso e metálico. É um som de configurações digitalizadas retorcidas, ângulos rítmicos inesperados, muito espaço, orquestrações com qualquer coisa de glaciar e uma adrenalina sensual alienígena. O álbum agora lançado é como reunir aleatoriamente um acervo de microrganismos digitais que foram arremessados ao chão, e depois de repescados, o resultado final produzir sentido. Mais pensar do que dançar“O que é isto!!?”, “isto não é sequer humano!” ou “que doideira de música!” são algumas das expressões de estranheza mais correntes que se podem ler a acompanhar a sua música e vídeos na internet. Ele costuma dizer que a última coisa que deseja é que a sua música seja recebida passivamente e está a consegui-lo. Faz parte de uma geração de misteriosos produtores (de Actress a Oneohtrix Point Never ou Andy Stott) que começaram por fazer híbridos electrónicos no quarto, mas os seus temas são ambíguos, desviando-se das convencionais noções de melodia e ritmo, fazendo mais pensar do que dançar. Deu-se a conhecer com os EPs Stretch 1 e Stretch 2, vagamente inspirados no hip-hop, a que se seguiria a mixtape “&&&&&” o ano passado. Nessa altura ainda habitava em Nova Iorque. De há um ano a esta parte está em Londres, uma mudança operada por querer estar perto do namorado (o fotógrafo e artista multimédia Daniel Sannwald), mas também do artista e videasta Jesse Kanda – responsável por alguns dos notáveis vídeos de FKA Twigs – de quem é amigo e colaborador. Parte da adolescência passou-a em Caracas, a capital da Venezuela, ouvindo Aaliyah, Autechre ou Nine Inch Nails, antes de ser admitido, aos 17 anos, na Escola de Artes e Ciências da Universidade de Nova Iorque. Ali começou a criar canções electrónicas inspiradas pela vida e música de Arthur Russell ou pelas composições mais estranhas de Aphex Twin ou Björk. Depois surgiu o convite de Kanye West. Ao lado de Evian Christ e Hudson Mohawke, ele era a carta electrónica do artista de massas que não receia rodear-se de agentes das margens. Nas raras entrevistas que tem dado refere que quando foi convidado a enviar música ao americano optou pelo material mais estranho que tinha. O rapper gostou e deu-se então o encontro. Com FKA Twigs a junção foi mais instantânea. Conheceram-se em Nova Iorque e, segundo ela, quinze minutos depois de começarem a conversar resolveram de imediato trabalhar em conjunto. “Entendemo-nos naturalmente”, afirmou ela, acrescentando que até aí todas as pessoas que lhe haviam sugerido melodias ou letras, tinham levado uma nega. Dizia-lhes: “peço desculpa, são as minhas canções, escrevo as letras e componho as melodias. ” Mas com ele foi diferente. “Com Alejandro senti de imediato que podia existir uma relação de confiança e abertura mútua e ficámos grandes amigos. ”No álbum de FKA Twigs existem estilizações que remetem para Arca ou vice-versa. Mas o álbum de estreia dele é outra coisa. Ainda se vislumbram vestígios de hip-hop por entre ritmos desorientadores e alguns fragmentos vocais, mas a maior parte são temas instrumentais desafiadores, tão contemplativos quanto singulares, qualquer coisa de pós-humano, numa construção desengonçada de orquestrações e teclados sintéticos. Em termos sonoros e visuais movimenta-se nos interstícios: entre apresentar um som enegrecido ou de clarões brancos, entre ser homem ou mulher, entre ser inteligível ou alienígena. A sua relação com Jesse Kanda faz lembrar a de Aphex Twin com Chris Cunningham, música e imagens participando no mesmo imaginário. Para Arca, como já havia feito com FKA Twigs, o canadiano Jesse Kanda cria imagens distorcidas, corpos ambíguos, robotizados ou hiper-humanos, dependendo da interpretação. Não é difícil perceber porque é que a islandesa Björk se deixou enredar na sua música. As suas inquietações filosóficas tocam-se e existe a mesma vontade de dotar a música popular de qualquer coisa de novo. Numa altura em que o acesso instantâneo ao passado criou a ideia que tudo é derivativo, eis Arca a criar uma identidade sonora singular. A forma como trabalha a tecnologia é diferente, qualquer coisa de tangível, sensual, à flor da pele. No cinema a possibilidade de experimentar uma nova sexualidade, maquinal, já havia sido ensaiada, por exemplo em Crash (1996) de David Cronenberg. Dir-se-ia que, agora, Arca consegue-o com música, através da erotização das máquinas, numa lógica de moldagem onde os corpos sonoros retorcidos expõem uma música sensual de superfície metálica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola humanos mulher homem sexualidade cantora
E afinal o que é um livro infantil?
“O que pode um livro?”, perguntámos a profissionais do sector. “Tanto, tanto”, “abrir o mundo”, “segurar a casa”, “dar músculo”, “ser o colo da mãe”, “um livro pode tudo”. Que livros são estes? (...)

E afinal o que é um livro infantil?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: “O que pode um livro?”, perguntámos a profissionais do sector. “Tanto, tanto”, “abrir o mundo”, “segurar a casa”, “dar músculo”, “ser o colo da mãe”, “um livro pode tudo”. Que livros são estes?
TEXTO: Livros ilustrados, álbuns, livros-jogos, livros-brinquedos, histórias (só) visuais, livros-objectos, pop-ups, livros interactivos e livros-livros enchem, nas livrarias e nas grandes superfícies, os espaços cada vez mais alargados dedicados ao público infanto-juvenil. O livro infantil está diferente, mas continua a ser um bom primeiro olhar sobre o mundo. “Em 2015, as editoras da Leya editaram cerca de 200 livros infantis e juvenis, aproximadamente mais 30% do que em 2014”, informa por email a direcção de comunicação daquela empresa. Vítor Silva Mota, editor da ASA infantil, que pertence ao grupo, acrescentou mais tarde que no ano passado a facturação no infanto-juvenil “foi de 10, 8 milhões de euros”, correspondendo este valor “a 25% da facturação global da Leya”. E concluiu: “Estamos bem, em curva ascendente no mercado. ”Para a sua principal concorrente, a Porto Editora, o negócio também se mostra positivo. “A aposta no infanto-juvenil tem corrido bem”, diz Paulo Gonçalves, responsável pelo Gabinete de Comunicação e Imagem. Informa que em 2015 editaram 98 livros, mais quatro do que em 2014, mas não fornece dados de facturação nem do peso deste segmento no total da editora. Dizer a “percentagem no conjunto das edições é muito complexo, considerando a abrangência do nosso trabalho, que chega a praticamente todas as áreas editoriais”, justifica. As mudanças na oferta e na procura neste sector motivaram a 5. ª edição dos encontros O Que Um Livro Pode, que decorreu no final de Novembro em Lisboa e teve como título Os Livros não Têm Idade. Durante três dias, o mercado nacional do livro infantil esteve em discussão, no que foi acompanhado pela mostra de ilustração para a infância Rodapé, comissariada por Pedro Moura e com a particularidade de os trabalhos estarem expostos a um metro do chão, ao nível do olhar das crianças. David Guéniot, da organização dos encontros e editor da Ghost (especializada em livros de artista), não tem dúvidas de que “houve um grande boom nos últimos dez anos” no segmento da edição destinada às crianças. E conta que cada vez mais encontra “livros de editoras portuguesas nas livrarias de Paris, de Londres e de outras cidades, prova do reconhecimento da qualidade do que se faz aqui”. Para este francês que escolheu viver em Portugal, “o livro infantil representa a utopia do livro” e quis, neste “passeio ilustrado pela infância”, mostrar “que hoje há um tratamento mais arriscado e arrojado em termos de construção do livro infantil e também maior cuidado na própria produção”. José Oliveira, editor responsável pela literatura infanto-juvenil das Edições Caminho até 2011, recordou, naqueles encontros, a forma “algo amadora” como iniciou nos anos 1990 “a primeira colecção de livros para crianças da Caminho com ilustrações a cores, Histórias Tradicionais Portuguesas, cada uma delas ilustrada por seu ilustrador”. Ao mesmo tempo que ia relatando processos, motivações e limitações desses tempos, mostrava os livros, começando por Os Anéis do Diabo, com texto de Alice Vieira e ilustrações de André Letria. “Como vêem, isto é muito quadrado. Tanto quanto me lembro, até era eu que fazia umas maquetes, no Pagemaker, e punha o texto. ” Depois, com o espaço que sobrava, dizia ao ilustrador: “Você que se arranje!”Divertido, contou: “Eu não conhecia o André, mas tinham-me dito que era ‘um rapaz com muito jeito’. ” Ouviram-se risos na sala e entre os oradores, onde se encontrava o próprio André Letria, convidado enquanto ilustrador, mas também como editor da Pato Lógico. José Oliveira mostrou outros títulos da mesma colecção, com ilustrações de Alain Corbel (“o primeiro livro dele em Portugal”, O Pássaro Verde, 1994) e Henrique Cayatte (Rato do Campo e Rato da Cidade, 1992). Neste último caso, contou, houve uma solução “mais solta e mais livre, ele passou por cima das minhas maquetes iniciais, fez bem”. Com o tempo, foi “aumentando o interesse e o cuidado na ligação entre texto e imagem”. José Oliveira enumera algumas das decisões que se esperam de um editor: “Conforme o formato, isto é, as dimensões, o ser de capa mole ou capa dura ou o tipo de ilustrações que se usa, o livro ganha uma ou outra natureza, e o horizonte de recepção que nós esperamos modifica-se. ”Houve mudanças que resultaram de “questões técnicas”. Exemplo: “Deixou de haver livros de 16 páginas, as tipografias que os faziam já não existem. Os livros maiores, com 32 págs. , ganharam outro fôlego de ilustração. Essa alteração e as crescentes preocupações com o design levaram a Caminho a iniciar uma colaboração com o atelier de Danuta Wojciechowska para a colecção Histórias Tradicionais Portuguesas. ” José Oliveira “livrou-se” das maquetes. Há uma obra que editou, uns anos mais tarde, que lhe dá grande satisfação, “juntou tudo o que eu queria fazer como editor”, diz. É o Romance do 25 de Abril, com texto de João Pedro Mésseder (alter ego de José António Gomes) e ilustrações de Alex Gozblau. “Um livro sobre o fascismo e sobre o 25 de Abril, com um texto bastante concreto, sob a forma de um romance como a ‘Nau Catrineta que tem muito que contar’. Um texto narrativo que nos conta a história da repressão do fascismo e depois a libertação. ”João Pedro Mésseder não conhecia Alex Gozblau. “Fiz essa ponte [entre eles] e trabalhei muito de perto com o ilustrador. Trabalhámos muito a caracterização dos rostos: o rosto deste militar deve ser plano ou deve ser rugoso? O Alex tem tendência para o escuro. . . foi tudo muito negociado”, conta com orgulho e entusiasmo. Esta obra materializa em pleno o editor que quis ser (e foi), gostando e valorizando “aquilo sobre que se escreve, o modo de escrever e a ilustração”. Mais um pormenor que muito agrada a José Oliveira, as guardas do livro (fólio que acompanha a parte interior de cada uma das capas do livro encadernado). “Quando abrimos a primeira guarda, não sabemos o que é [vê-se apenas um traço verde]; na guarda final, revela-se e conclui-se a história [o traço verde é o pé de um cravo vermelho]. ”Esse livro — idealizado por um editor que sempre se preocupou em dignificar o trabalho dos ilustradores, acautelar as suas condições de trabalho e garantir-lhes remuneração por direitos de autor — ganhou o Prémio Nacional de Ilustração em 2007. Se continuasse a editar, era ao livro ilustrado que se dedicaria. E afinal o que é um livro ilustrado? Dora Batalim, coordenadora da Pós-Graduação em Livro Infantil da Universidade Católica, divide as obras em três categorias, com base no “observar do comportamento da imagem”: o livro “imagiário” (palavra que cunhou do francês), em que “a imagem é absolutamente referencial — uma bola é uma bola, a Miffy é a Miffy e está a chorar”; o álbum, “em que a imagem tem preponderância sobre o texto, mas já tem valores de construção, jogos semânticos e conotativos”, e o livro ilustrado, em que “o texto tem preponderância sobre a imagem”. Para esta doutoranda de Literatura Infantil na Universidade Autónoma de Barcelona, “o mercado nacional está bom, no sentido em que está melhor, surgiram algumas editoras, pequenas, com critérios de qualidade e muito cuidado na parte gráfica”. Refere ainda que “se trazem para cá expoentes de qualidade”, através de compras de direitos de livros internacionais. Não quer nomear editoras em particular, mas vai dando exemplos de livros e autores que sabemos pertencerem, por exemplo, à Planeta Tangerina, à Bruaá, à Kalandraka ou à Gatafunho. Dora Batalim interessa-se em particular por livros dos 0-3 e dos 0-5 anos e diz que há muito pouca produção nacional para essas idades. A Edicare e a Gatafunho são dois exemplos onde a Revista 2 encontrou livros de qualidade para bebés, mas confirmou terem origem externa. A também professora na Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich (Lisboa) nota que, “de repente, chegaram ao mercado, ao mesmo tempo e por via de várias editoras, muitos livros-jogos, livros para brincar, para mostrar o que está escondido”. Recorrem a lupas, óculos para ver em 3D, encaixes, etc. Conclui que estas apostas resultam da presença das editoras portuguesas nas feiras internacionais. “O conceito de ‘livro inteligente’, não são pop-ups, foi premiado na mais recente Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, é natural que se aposte em formatos desta natureza”, mas surpreende-se com o facto de não haver produção digital, “zero”. Sente algumas faltas no mercado: “Estamos a perder a palavra. Precisamos de histórias de várias latitudes e diferentes universos. Também falta poesia, texto poético, há excesso de álbuns. ” Reclama a ausência de “narrativas tangíveis, onde se conjuguem o insólito, o inesperado, o humor e até o humor negro”. Gostava que houvesse mais abordagem de alguns temas sociais e contemporâneos, “mas sem pendor educativo, dos que exigem que todos sejamos bondosos e piedosos”. Prefere abordagens feitas “com subtileza, mas que saibam comunicar e formar”. Perguntamos-lhe “o que pode um livro?” “Tudo. Pode ser o colo da mãe, que ali não está e fica materializado. Pode ser o primeiro olhar para o mundo registado, com o peso de um volume e de um papel. ” Mas avisa: “É preciso ter cuidado com o que se dá. Porque é uma voz próxima e um primeiro olhar. Não tem a velocidade frenética da televisão. São momentos ao teu ritmo, tu danças com ele [o livro], usas quando tu quiseres. Impõe-se como noção de leitura da criança. É preciso cuidar de que os canais estejam sempre limpos: o informativo, o imaginário, o imaginário maravilhoso, o da palavra, o da esfera do visual e o do texto. ”Dora Batalim observa que “os pais estão confusos” perante tanta oferta nas livrarias, nas grandes superfícies e na Internet. Sobre a orientação que o Plano Nacional de Leitura (PNL) pode dar, legitimando alguns títulos, diz: “Os selos do PNL são estritamente escolares. É um olhar, mas não o único. ”Quem acredita que “o PNL foi o melhor que aconteceu para criar hábitos de leitura nas escolas” é Paulo Gonçalves, da Porto Editora. “A nossa estratégia junto das escolas passa pela educação, mas também pela fruição, dando a conhecer obras literárias, do 1. º ao 12. º ano, produzidas com grande cuidado editorial. ”A editora quer “promover hábitos de leitura nos mais novos, já que serão os leitores do futuro, a próxima massa crítica”. E tentam “associar o lúdico ao educativo”. Editam “histórias para diferentes ambientes” e daí integrarem a chancela digital Cool Books, “que está a correr bem”. Segundo Paulo Gonçalves, têm “uma colecção única no país, a Educação Literária, onde se reúnem todas as obras de alguns escritores e obras obrigatórias ou recomendadas no ensino básico e secundário”. Como tendências, enuncia: “Temos vindo a apostar nos autores nacionais com obras adequadas à criação de leitores, claramente nos consagrados — Sophia de Mello Breyner Andresen, Álvaro Magalhães, Luísa Ducla Soares, Maria Alberta Menéres —, mas também em autores de ficção de grande qualidade que fazem incursões nesta área, como Valter Hugo Mãe, Richard Zimmler ou Mário de Carvalho. ”A promoção de autores menos conhecidos e mais jovens também faz parte dos objectivos da editora: “Carlos Garcia (Cancioneiro da Bicharada), Miguel Morais (colecção O Ano mais Estúpido do Meu Irmão mais Novo), Isabel Ricardo (O Coelhinho Avarento) e Ana Rita Faustino (O Cotão Simão, distinguido com o Prémio Branquinho da Fonseca — Expresso e Fundação Calouste Gulbenkian). ”Para o pré-escolar, os livros-objectos são a prioridade, “ajudam [a criança] a familiarizar-se com as palavras e o som, por exemplo, são livros que respondem a essa necessidade de estímulos nas idades mais baixas”. Depois, passam a “histórias com uma forte presença da ilustração”, o livro-álbum. “À medida que a idade avança, o livro vai dando primazia ao texto, em detrimento da ilustração”, conclui Paulo Gonçalves. A Porto Editora tenta “um equilíbrio entre autores portugueses e estrangeiros, mas com prevalência para autores portugueses”. À pergunta “o que pode um livro?”, aquele responsável de comunicação responde: “Pode tanto, mas tanto. Um excelente meio de se conhecer o mundo em que se está. O livro abre-nos o mundo. ”A direcção da Leya não tem dúvidas de que “a importância das edições infantis e juvenis é decisiva, porquanto se trata do principal motor da criação de hábitos de leitura e de construção de futuros leitores, tendo um importante peso económico e cultural”. E faz uma aposta clara deste segmento nos países lusófonos: “O facto de a Leya estar presente em Angola, Moçambique e Brasil tem permitido um trabalho muito relevante de promoção e publicação dos autores portugueses naqueles países, sobretudo no Brasil, onde alguns autores já encontram um maior número de leitores do que em Portugal. ”Ao mesmo tempo que promovem autores e ilustradores lusófonos, também representam “marcas internacionais de referência no âmbito das edições infantis e juvenis, como DK, Disney, Enid Blyton ou Roald Dahl”. As apostas são divididas em “interactividade (formatos e recursos que contribuam para enriquecer a experiência de leitura, como realidade aumentada, paginação criativa e passagem para o mundo digital), conhecimento (novos e bons livros que, sem serem as enciclopédias visuais de antigamente, conseguem captar a atenção dos mais novos por terem uma forma organizada e cativante de apresentar a informação) e colecções juvenis (geradoras de leitores de longa duração e fiéis às suas colecções preferidas)”. O editor da ASA infantil reconhece como principal concorrente “no segmento juvenil, sobretudo em livros traduzidos no domínio da ficção, a Editorial Presença”, editora que não aceitou falar com a Revista 2 para este artigo. A Leya existe desde 2008 e, sobre a junção das várias editoras, Vítor Silva Mota, que já integrava os quadros da ASA, recorda que “se fizeram ajustamentos, pois eram muitas as disparidades entre as diferentes editoras”. No entanto, considera que “houve sensibilidade e cuidado para não ferir susceptibilidades perante os hábitos e procedimentos de cada editor”. Conta ter havido “uniformização de critérios, mas preservando a identidade própria de cada uma das editoras”. As escolas são um dos caminhos para o sucesso das editoras e do mercado do livro para os mais novos. Explica Vítor Silva Mota: “A literatura infantil e juvenil é muito importante no ensino. A existência de textos de autores lusófonos nos manuais escolares, por um lado, e a presença física dos autores nas escolas de todo o país, por outro, são dois factores de grande relevo para a formação dos alunos, bem como para fazer com que conheçam os autores portugueses e para que cultivem o gosto pela leitura e pelo conhecimento. ”A Leya promove “mais de 650 encontros de autor por ano nas escolas portuguesas, o que resulta numa média superior a três encontros por dia de aulas”. Adélia Carvalho, editora da Tcharan e livreira da Papa-Livros (Porto), considera que “as escolas estão muito sobrecarregadas” na busca de espaços para “escoamento de todo o tipo de livros”. Em conversa com a Revista 2, chamou “poluição das escolas” à constante investida, “sobretudo por parte de quem faz edições de autor”, para mostrar e vender livros sem critérios de qualidade. Não se referia às grandes editoras, mas “às que exploram o sonho de quem quer ter um livro editado”. Olha para o mercado com optimismo e reconhece que houve “um aumento de qualidade e um crescimento brutal no álbum, que revolucionou o conceito da ilustração e transformou o livro num objecto mais bonito”. Para Adélia Carvalho, que é também autora, “um livro pode com uma casa, pode fazer com que a casa mude de sítio e pode encher a casa de gente”. A Tcharan edita três a quatro livros por ano (com tiragens de 1500 exemplares, mais cem exemplares em espanhol e outros cem em inglês, para representações em feiras e vendas internacionais). No mercado nacional, teve um crescimento de 15% em relação ao ano passado, e no internacional cresceu 30% (com venda de cinco livros para o Brasil, Coreia, Colômbia, Espanha e Alemanha). A editora mantém parcerias com a Vista Alegre (Era Uma Vez Um Cão, Adélia Carvalho e João Vaz de Carvalho; Chá, Café e Etc. , Rui Reininho, Armando Teixeira e Marta Madureira), a Cruz Vermelha Portuguesa (A Inocência das Facas, vários), Câmara Municipal do Porto (Wonderporto, Adélia Carvalho, Cátia Vidinhas, e Senhoras e Senhores, Meninos e Meninas, Bem-Vindos ao Palácio de Cristal, vários), Direcção Regional da Cultura do Norte (Era Uma Vez Um Castelo) e o Colégio do Sardão (Abrigos, Adélia Carvalho e Maria Remédio). A Papa-Livros não teve crescimento face ao ano passado, “talvez porque agora a cidade do Porto tem mais oferta e o público dispersa”, justifica a livreira, que se queixa da plataforma que a Fnac criou para a gestão dos livros, em que “cobra pacotes de mensagens online sobre as vendas e penaliza em 5 euros, desde Novembro de 2014, o envio de factura em papel”. O fim do Plano Nacional de Leitura é visto como um problema, porque “os pais, os educadores e os professores seguiam as listas que saíam e compravam alguns títulos”. Agora, “com o fim do Ler+, vamos ressentir-nos com certeza”, diz. Por isso, vai continuar a organizar exposições, actividades e lançamentos na Papa-Livros. Nestes últimos, consegue, por vezes, “vender logo 50 livros”. Os lançamentos da Planeta Tangerina rendem mais, como nos conta Isabel Minhós Martins, autora e editora, “são sempre grandes festas com belos lanches”. Aí, aproveitam para “conhecer os novos leitores e conviver com os amigos”. Nesses dias, conseguem vender mais de uma centena de títulos. “Levamos outros livros já editados, mas também os nossos postais e cartazes. Normalmente, vendemos bastante. E ajuda a pagar o lanche…”Para esta editora nacional pioneira em projectos de concepção de álbuns em articulação directa e de raiz entre autores e ilustradores, “o negócio não piorou em relação ao ano passado, nem nas livrarias portuguesas nem na loja online”. Continuam a apostar na “venda de direitos na Feira de Bolonha” e têm “títulos que não morrem”. Segundo Isabel Minhós Martins, “tem sido um processo de internacionalização lento e gradual, agora temos vendas para a Alemanha e Suécia”. Embora já estejam na Holanda, Brasil, Coreia, no Reino Unido e EUA, “Espanha, aqui ao lado, é um país que não está muito explorado”, afirma. “Mas continuamos a precisar do mercado nacional. ” Começaram a actividade como atelier e editora em 2004 e até hoje publicaram 50 títulos. A partir de certa altura, começaram a editar seis livros por ano. “A editora tem vindo a tomar mais espaço e já traz mais retorno do que o atelier”, revela. Quando lhe falamos da forma como a Planeta Tangerina contribuiu para a mudança na oferta dos livros para a infância em Portugal, explica: “Nós construímos um modelo que tem que ver com auto-edição, que nos torna mais ágeis e permite uma relação mais próxima com os leitores. Conseguimos fazer álbuns. Foi aí que fomos inovadores. ”Fazem tiragens de 1500 a 2000 exemplares e algumas reedições, com um preço médio de capa de 13, 60 euros. “Neste primeiro semestre houve melhorias. Tivemos um volume de negócios de 350 mil euros e fechámos 40 contratos de venda de direitos. ”Para Isabel Minhós Martins, o aparecimento de outras pequenas editoras de qualidade foi bom e melhorou o panorama da edição. “É melhor o negócio estar distribuído por muitos do que concentrado em poucos”, diz, considerando que “o mais interessante que está a acontecer é feito pelos projectos mais pequenos, as grandes editoras têm apostado em livros mais clássicos”. Depois da edição do livro Lá Fora (sobre a natureza), que foge ao álbum, estão a planear o Lá Dentro (sobre o cérebro e as emoções). “Queremos fazer livros informativos e rigorosos, mas um pouco diferentes. Também temos um projecto sobre o consumo”, conta. Na parte das edições para jovens, lembra que prevalece a importação de títulos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. À pergunta “o que pode um livro?” preferiu responder por escrito: “Mesmo quando nos encolhem e entristecem, os livros são capazes de nos aumentar, naquele sentido em que nos dão mais vidas (como num jogo de computador). Os livros conseguem preencher essa lacuna, essa falha que é não podermos viver mais, ainda mais. Dão-nos a possibilidade de calçarmos as sandálias do outro, de vestirmos outras peles e de nos tornarmos um pouco mais completos. Os livros também nos dão músculo, ferramentas e força para lidar melhor com a realidade. Os livros podem ser um lugar onde nos refugiamos quando a realidade não nos preenche ou nos fere, mas para mim, mais do que isso, podem ser como lanternas que iluminam zonas escuras. Hoje, mais do que nunca, pode ser no silêncio de um livro, afastando com os dois braços toda a poluição que nos rodeia (visual, sonora, comunicacional), que conseguimos ver as coisas de uma forma mais límpida. Menos baça. Mais luminosa. ”O Que Um Livro Pode continuará o debate à volta da edição de livros infantis, de 11 a 13 de Março, em Lisboa (Espaço Rua das Gaivotas, 6), mas centrando-se em projectos internacionais. A organização é partilhada pela editora Ghost, a associação de artes gráficas Oficina do Cego, a plataforma Tipo. pt e a livraria Stet.
REFERÊNCIAS:
O segredo do donut de David Lynch
Espaço para sonhar é a nova biografia de David Lynch, escrita num pingue-pongue entre o cineasta e a jornalista e crítica de arte Kristine McKenna. Um capítulo dela, um capítulo dele, e uma conversa com ela para perceber como é ser avatar ou intérprete circunstancial de David Lynch. Todos os detalhes, nenhuma explicação, e um donut. (...)

O segredo do donut de David Lynch
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Espaço para sonhar é a nova biografia de David Lynch, escrita num pingue-pongue entre o cineasta e a jornalista e crítica de arte Kristine McKenna. Um capítulo dela, um capítulo dele, e uma conversa com ela para perceber como é ser avatar ou intérprete circunstancial de David Lynch. Todos os detalhes, nenhuma explicação, e um donut.
TEXTO: David Lynch é magnético. Tem o porte do homem mais simples e mais especial – pelo menos é o que parece ao longe, nas entrevistas, nas aparições, nas conversas dos outros e nos ecrãs distantes. Kristine McKenna é a sua biógrafa, suficientemente amiga para ter sido autorizada a entrar na sua mente e para não insistir em falar do que ele não quer. Sim, sobre o bebé perturbador de Eraserhead ou sobre a animada vida amorosa. A escritora americana é momentaneamente o seu avatar nas conversas sobre Espaço para sonhar, o livro com capítulos dela e capítulos dele, “basicamente uma pessoa a ter uma conversa com a sua própria biografia”. Andar à procura do sr. Lynch, num livro ou num festival de cinema, é pura pornografia Lynch. “Ele tem um ego de artista ferozmente forte. É indómito no que toca ao seu trabalho e sabe o que deve ser e ninguém lhe pode dizer o contrário”, diz Kristine McKenna numa manhã límpida de Lisboa, convidada pela editora Elsinore e pelo Leffest – Sintra & Estoril Film Festival a vir a Portugal para apresentar Espaço para sonhar e participar num festival de cinema com duas exposições sobre o cineasta (em Sintra até final de Dezembro), um cartaz e um programa intitulado “Waiting for mr. Lynch” - afinal, ele até veio em 2007, mas não voltou em 2018. “Noutros aspectos, é muito humilde. Gosta de viver de forma simples. Gosta de varrer. Gosta de mexericar com coisas. Adora arranjar coisas. É tão engraçado, estava com ele numa coisa há dois meses e o meu sapato estragou-se. Os olhos dele iluminaram-se e ele disse ‘posso arranjar-te isso’. Fui para casa só com um sapato e ele levou o meu sapato para casa dele e arranjou-o. ”É nesta dualidade que vive Espaço para sonhar, cuja estrutura - um capítulo da jornalista e crítica de arte seguido de um capítulo do realizador e pintor, apenas ordenados cronologicamente - foi ideia de McKenna, para dar proeminência à voz de David Lynch. Dá espaço ao fétiche Lynch - a frases ou revelações com o encanto corriqueiro de quem procura num génio os traços do dia-a-dia. Em Junho, numa rara e longa entrevista à revista New York, o entrevistador até da sanita tão especial de David Lynch fala com enlevo. Haverá, por isso tudo, dois livros em Espaço para sonhar? “É uma pergunta interessante… Se fossem só os meus capítulos, o David pareceria ausente. E se fossem só os capítulos do David, o leitor não teria muitos factos – o David não se interessa nem se lembra de coisas como orçamentos, datas, esse tipo de coisa. E eu queria que fosse um livro definitivo. ” Kristine McKenna esteve na origem de Espaço para sonhar e “não foi preciso nada para o convencer. Fiquei muito espantada. Tive a ideia de fazer o livro, telefonei-lhe e disse ‘há toneladas de livros sobre ti, estas pessoas estão a fazer dinheiro com a história da tua vida, porque é que não fazemos o nosso próprio livro. Será a tua versão, e tudo estará correcto e tu farás algum dinheiro com ele’”. E ele disse que sim. ”A partir daí, trabalharam. Entre sandes repetitivas e a honra. “Ele cumpre sempre com a sua palavra. ”O jogo foi aparentemente simples e dele saem muitas pepitas Lynch sobre as primeiras namoradas, a sexualidade, os filmes e a televisão que o influenciou, a infância em Boise, no Idaho. O nascimento de alguns dos seus vocábulos estéticos - “Quando visualizo Boise na minha cabeça, vejo o optimismo cromado e eufórico dos anos 1950” - ou a mulher nua e ensanguentada que viu na rua e que “apesar de estar traumatizada, era linda”. Quando tiveram de se mudar de Boise, “a música parou”. A obsessão por café, cigarros e batidos do Bob’s, os quatro casamentos, ter estado no leito mortal de Federico Fellini, a sua teoria sobre quem matou John F. Kennedy (o vice-presidente Lyndon B. Johnson, que sucedeu a Kennedy na presidência), ou aquela noite em que conduzia com amigos e ficou hipnotizado pelos traços da auto-estrada até parar em plena via, num preview de Lost Highway: Estrada Perdida (1997). Ter a primeira filha, Jennifer, “não foi como ter um cão, mas como ter uma nova textura em casa”. As dificuldades com Anthony Hopkins na rodagem de O Homem Elefante (1980), a cuja estreia nem foi de tão nervoso que estava. O amor da sua vida: o cão Sparky. Os muitos empregos e biscates, a entregar jornais ou a fazer suportes para paus de incenso, quando o cinema não lhe dava sustento. Ou como foi aos Óscares perder “para Oliver Stone, que ganhou com Platoon – Os Bravos do Pelotão”, mas como nessa festa de derrota de Veludo Azul (1986) conheceu e beijou demoradamente, numa primeira de várias vezes, Elizabeth Taylor, o seu sonho. É expansivo quanto a Duna (1984), uma adaptação do clássico de ficção científica que foi um flop a todos os níveis, e graças ao qual nasceu um novo Lynch, que só filmava o que podia controlar do princípio ao fim. “O [produtor do filme] Dino de Laurentiis não entendia conceitos abstractos nem poéticos, de forma nenhuma – ele queria acção. (…) O Dino queria ganhar dinheiro”, diz Lynch em Espaço para sonhar. “Só quando se tratava de filmes é que eu e o Dino não nos entendíamos. O Dino ama o cinema, mas não o meu tipo de filme. ” Lynch e McKenna conversam sobre as marés, os elogios e a perda dos favores da crítica, a importância de encontrar o público certo, a fama depois da televisão. Estes relatos, e os que McKenna coligia falando com toda a gente desde os primeiros agentes, melhores amigos de infância, mulheres, Sting ou Mel Brooks, compuseram-se em duas mesas. “Eu fazia um capítulo, dava-lho e ele supostamente lia-o. Mas nem sempre o fazia”, ri-se a autoria no Chiado lisboeta. “Depois encontrávamo-nos, ele almoçava – eu levava-lhe o almoço, uma sandes de salada de ovo, ele comia sempre a mesma coisa ao almoço - e era suposto ele responder [ao capítulo anterior] no [seu] capítulo. Mas às vezes ele nem sequer o lia. E noutras vezes, mesmo que o tivesse lido, simplesmente ia para outro lado. É assim que ele é. ” Na entrevista à New York, apura-se que o tema alimentar mudou ligeiramente. “para almoço, como uma fatia de pão torrado com maionese e frango. Só isso. Depois, ao jantar, como uma fatia de pão com maionese e frango e como sopa de legumes. Todos os dias. ”McKenna esteve em todas as filmagens de David Lynch desde Veludo Azul. “Foi simplesmente mágico, estar lá. Porque foi uma rodagem muito longa para eles, durante nove meses, ficaram todos muito próximos, o David estava felicíssimo por estar a fazer aquilo depois de Duna. Na noite em que levam Jeffrey Beaumont [Kyle MacLachlan] de carro, Dennis Hopper beija-o e borra-o de baton - nessa noite foi espantoso estar lá. Estava muito frio, a [stripper] Bonnie estava a dançar em cima do carro, foi espectacular. ”O sorriso não se desvanece. “Em Coração Selvagem, a cena no Palomino em Los Angeles, em que Lula [Laura Dern] e Sailor [Nicolas Cage] estão a dançar e é um speed metal, louco, lembro-me muito bem disso. ” Mais recentemente, para televisão: “Em Twin Peaks: O Regresso, estava lá em algumas das filmagens na Sala Vermelha. Os plateaus dele são divertidos”. Uma sala vermelha também seria o centro do trailer que David Lynch, cineasta com mais de 80 créditos como realizador que não toca numa longa-metragem para o cinema desde 2006, com Inland Empire, fez para Dangerous (1991), 30 segundos para o álbum de Michael Jackson. “Tudo o que ele queria fazer era falar do Homem Elefante”, escreve Lynch. A ausência de descodificação de uma obra é tudo menos invulgar no cinema, ou nas artes em geral, mas num autor como David Lynch, que tanto toca o culto quanto atinge o mainstream, essa despreocupação didáctica no seu trabalho torna-se num mistério. E um mistério é algo a descodificar, a resolver, é um puzzle com satisfação garantida. Há mais biografias de Lynch, e livros onde se tenta descobrir mais sobre como foi feito o bebé de Eraserhead - No céu tudo é perfeito (1997), “esse Santo Graal dos obsessivos de Lynch”, como descreveu o crítico do Guardian John Patterson, e Kristine McKenna está consciente das leituras e duplas leituras de Espaço para sonhar. E também está ciente das críticas ao livro que assina com Lynch e que, em alguns casos, lamentam uma suposta ausência de profundidade. “Todos ansiamos compreender-nos, particularmente aos artistas. São fascinantes. Sinto que as pistas estão lá. Mas não as disse directamente nem as sublinhei. Algumas críticas disseram que é um livro superficial, mas… quando ele era criança experienciou violência, o pai era uma espécie de rancheiro, havia armas, tiros em animais. E também era doido por raparigas desde o jardim-de-infância e essas duas coisas ainda estão no seu trabalho. Acho que passa a ideia de quem ele é. ”Assinar um livro com Lynch, o Godot do Leffest e de tantos outros eventos que com gostariam de contar com o homem que tem um toque de agorafobia e pouco sai da sua rotina americana, é saber em parte que será lido em busca de pistas, que o subtexto será tão importante quanto o discurso à superfície? “Não é que o David tenha segredos que está a proteger, não está é interessado em explicar-se nem em explicar a vida. Vê ambos como inexplicáveis e isso é central no seu trabalho. Ele não quer que o seu trabalho seja uma experiência de ligar dos pontos, quer que seja experiencial, não uma ferramenta didáctica. Está perfeitamente confortável com o facto de haver aspectos do seu trabalho que as pessoas não compreendem. ”McKenna, que já entrevistou e compilou em vários livros conversas com Brian Eno ou Leonard Cohen e fez a crónica, nos anos 1970, da cena punk de Los Angeles, recorda como mergulhou nos adereços que Lynch faz à mão para todos os filmes. “De Twin Peaks: O Regresso há um frasco de feijões. Perguntei-lhe: ‘O que é isto, por que é que fizeste isto?’. E ele disse: ‘Bom, é uma pista’. ‘Queres dizer que pode ser descodificado?’. E ele diz: ‘Sim, claro, tudo pode ser descodificado’. O que significa que tudo o que ele faz tem um significado mais profundo. Mas ele não vai dizer-te o que é. ”No livro, McKenna resume a certa altura, a propósito de o próprio Lynch não entender inteiramente a história de Veludo Azul, durante cujas filmagens andava sempre com M&Ms de amendoim nos bolsos: “Lynch prefere operar na fenda misteriosa que separa a realidade quotidiana e o reino fantástico da imaginação humana… Quer que os seus filmes sejam sentidos e experienciados em vez de compreendidos”. Na vida, por vezes, repete frases que o próprio Lynch emprega. “A vida não pode ser explicada. Simplesmente não pode. ” Di-lo quando falamos sobre se o fascínio colectivo por David Lynch residirá em parte nessa ausência de explicações, nesse mistério sem chave. Essa impossibilidade de explicar “esse ciclone de beleza e horror” que é a vida - “e todos lutamos para passar por ela” -está no trabalho do realizador. O rio que corre entre as linhas de Espaço para sonhar afinal sempre esteve à superfície, recorda Kristine McKenna. “O David quereria que o subtexto fosse: ‘você devia meditar’. É a mensagem dele na vida, que toda a gente estaria melhor se meditasse. Isso está no livro até certo ponto, mas ele falaria sobre isso largamente e eu não o deixei. ” O hinduísmo e suas crenças filtram a forma como se retrata e como se conduz na vida. Acredita no karma, na reincarnação. “É muito tolerante. Não tem qualquer problema em dizer ‘aquele gajo é uma besta’, mas também é muito tolerante com as pessoas, não acalenta rancores. Não o conhecia antes de começar a meditar, conheci-o em 1979 e ele começou em 1973. Era uma pessoa muito zangada antes, mas ainda se zanga. Não gosta que ninguém mexa com o trabalho dele. Ele é uma pessoa muito pacífica e amorosa, é invulgar nesse sentido. É por isso que toda a gente que trabalha com ele o adora. ”Em Estrada Perdida, a personagem Fred Madison comenta: “Gosto de me lembrar das coisas à minha maneira”. “David lia as recordações dele de outras pessoas e dizia ‘Não me lembro disso dessa maneira’, mas percebia. [Só] houve um par de casos que disse ‘isso não aconteceu’. Esses cortámos”, explica Kristine McKenna, que vive na mesma Los Angeles cuja luz tanto enfeitiça David Lynch, sobre o processo de edição do livro. A área verdadeiramente sensível para tratar em Espaço para sonhar foi a vida amorosa “incrivelmente complicada” de Lynch, confirma McKenna. David Lynch é focado e concentrado a trabalhar, e as suas mulheres e namoradas testemunham a sua facilidade em apaixonar-se, um homem disponível para a alegria e para o encantamento em todos os aspectos da vida, mas também de se desligar. Delas, de um casamento, de um longo namoro como o que terminou com Isabella Rossellini com um seco telefonema. O trabalho está sempre primeiro e, como diz a sua mulher actual, a actriz Emily Stofle, “ele é muito egoísta”. “E ele sabe que é”, diz Kristine McKenna. “Tenho o olhar fixo no donut, não no buraco do donut”, escreve Lynch. A sua história é uma história americana. “Lynch é, em primeiro lugar, um artista americano, e embora os temas do seu trabalho sejam universais, o território das suas histórias é a América – onde foram impressas, de forma indelével, as memórias da infância que caracterizam o seu trabalho; e onde Lynch viveu os casos amorosos e arrebatadores da sua juventude, que moldaram as suas representações subsequentes do amor romântico como um estado de exaltação. Depois, há o próprio país: as árvores enormes do noroeste do Pacífico; os bairros suburbanos do centro-oeste e o som dos insectos nas noites de Verão; Los Angeles, onde o negócio do cinema devora as almas; e Filadélfia, a terrível provação em que foi forjada a sensibilidade estética do realizador durante a década de 1960. ”É assim que Kristine McKenna resume, em parte e em Espaço para Sonhar, o seu biografado. Esse terreno é o da imagem de Lynch, e inscreve-se na sua linguagem: “A cena precisa de um pouco mais de vento”, diria a certa alguma num plateau. A autora acrescenta-lhe “o fascínio pela complexidade do corpo humano”, desde Eraserhead a Um Coração Selvagem passando pelo pedido, dentro da sua obsessão por texturas, a Raffaella de Laurentiis sobre se podia ficar com o seu útero depois de uma histerectomia (os médicos não deixaram). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Jennifer Lynch, que colaboraria com o pai e passou parte da infância nas filmagens, lembra a McKenna nas páginas de Espaço para Sonhar que “o seu cérebro funciona segundo a ideia de que as coisas devem acontecer de uma certa forma e de que existem pequenos milagres. O seu interesse por matrículas de carros e superstições? Tudo isso são estratégias que ele usa para fazer algo mágico e transformador. Foi sempre assim”. David Lynch produz aforismos com facilidade, e sempre o fez nos seus 72 anos de vida. “Podemos dizer que a Laura Palmer é a Marilyn Monroe e que Mulholland Drive [2001] também é sobre a Marilyn Monroe. Tudo é sobre a Marilyn Monroe. ” Ou: “sinto que há muito de rock ‘n’ roll em Um Coração Selvagem. O rock é ritmo e amor, sexo e sonhos, tudo junto. Não é preciso ser-se jovem para o apreciar, mas o rock é uma espécie de sonho de juventude sobre aproveitar a vida em liberdade”. Parte do fetichismo sobre a personagem David Lynch é deliciar o leitor com os seus hábitos - afinal, era um adolescente que andava sempre de blazer e gravata, ou laço. “Sempre apertei o primeiro botão das camisas porque não gosto de sentir o ar no pescoço e não gosto que ninguém toque no meu pescoço. Deixa-me louco, não sei porquê. ”Kristine McKenna, amiga de décadas de David Lynch, sabe que está a falar nesse lugar onde se procura outrem. “Tento representá-lo como ele quereria ser representado, mas ele é tão imprevisível. É muito difícil saber o que ele vai dizer a cada minuto. ” Quis contar a sua história “de uma forma com a qual ele conseguisse viver. E tentar transmitir quão cómico ele é, porque ele tem um óptimo sentido de humor”. Quem é David Lynch? “David Lynch é uma pessoa mesmo boa. É generoso e dado. Isso, e arranjou-me o sapato. ”
REFERÊNCIAS:
Morreu o escritor Urbano Tavares Rodrigues
Em Dezembro faria 90 anos, tinha 61 anos de carreira literária. (...)

Morreu o escritor Urbano Tavares Rodrigues
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Dezembro faria 90 anos, tinha 61 anos de carreira literária.
TEXTO: O escritor, jornalista e militante do PCP Urbano Tavares Rodrigues morreu na manhã desta sexta-feira, no Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Estava a poucos meses de completar 90 anos. O escritor estava internado há três dias. A notícia foi conhecida através da página de Facebook "Urbano Tavares Rodrigues - escritor" e foi publicada pela filha, a escritora Isabel Fraga: "O meu pai acaba de nos deixar. Estava internado nos Capuchos há três dias. Não tenho mais informações. Soube agora mesmo. " O PÚBLICO confirmou. O corpo de Urbano Tavares Rodrigues estará em câmara ardente a partir das 19h desta sexta-feira, na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa. Numa entrevista ao Ípsilon, em Outubro do ano passado, Urbano Tavares Rodigues dizia: “Mereço amplamente o Prémio Camões”. A frase saiu a meio de uma conversa sobre livros e política. Reflectia o sentimento de uma justiça por fazer. Não era a primeira vez que deixava cair o desabafo. Fazia, então, 60 anos de obra literária e 89 de uma vida cada vez mais frágil fisicamente devido a uma insuficiência cardíaca. Continuava a escrever e continuou a editar até ser internado. Urbano Tavares Rodrigues nasceu em Lisboa, a 6 de Dezembro de 1923, filho de uma família de grandes proprietários agrícolas de Moura, Alentejo. Foi, aliás, em Moura que fez a escola primária. Depois, já em Lisboa ingressou no Liceu Camões, onde foi colega de Luís Filipe Lindley Cintra e do irmão de Vasco Gonçalves, António. Licenciou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde cursou Filologia Românica. Desde cedo começou a militar na oposição ao Estado Novo. Isso valeu-lhe o impedimento de trabalhar como professor. Passou pela prisão em Caxias e foi para um longo exílio em França. Em Paris, conheceu alguns dos intelectuais da década de 1950, caso de Albert Camus, de quem foi amigo e que era presença frequente nas suas conversas. Foi professor na Faculdade de Letras, crítico literário e esteve sempre ligado ao Partido Comunista Português. Mários Soares: "Pessoa com muitas virtudes"O escritor, autor de Os Insubmissos, era amigo de Mário Soares. “É para mim uma grande e profunda tristeza o falecimento de Urbano Tavares Rodrigues, de quem fui amigo desde a minha juventude. Era um amigo íntimo e muito querido, uma pessoa com muitas virtudes”, disse esta sexta-feira ao PÚBLICO o antigo Presidente da República. “Tivemos divergências políticas, naturais, sobretudo porque ele a partir de uma certa fase da vida transformou-se, tornou-se comunista. Mas quando nos víamos éramos os amigos de sempre, tínhamos conversas óptimas, discutíamos política”, acrescentou Mário Soares, que foi visitar o amigo há uns meses e que, por isso, já esperava a "notícia triste". “Nessa altura já o tinha achado muito em baixo, fiquei convencido de que ele estava numa fase derradeira. De qualquer maneira é sempre uma tristeza muito grande saber da morte de um amigo querido. Um amigo que o foi até ao fim porque, apesar das nossas diferenças ideológicas, nunca deixámos de o ser. Tínhamos muito contacto. Era extremamente humano, dado. Estimo-o como escritor, como homem. Estimo-o muito. ”Manuel Alegre: "Um escritor que marcou o século XX"Autor de uma vasta obra, onde se destaca o romance, a prosa poética, o conto e a poesia, Urbano Tavares Rodrigues era um crítico atento e presença regular nas páginas dos jornais. Ao PÚBLICO, Manuel Alegre lembra que foi Urbano o autor do primeiro texto publicado sobre a Praça da Canção. “Saiu no República, em pleno fascismo”, lembra o poeta, recordando “um grande amigo, grande camarada, um escritor que marcou o século XX; um grande prosador que sempre tomou partido e não se fechou nunca numa torre de marfim e que combateu pela liberdade, pela acção e pela palavra. ”O escritor e ex-deputado salienta ainda a enorme atenção de Urbano Tavares Rodrigues às novas gerações de escritores. Foi para ele que José Luís Peixoto enviou um exemplar da edição de autor de Morreste-me, o seu primeiro livro publicado em edição de autor. E seria Peixoto a apresentar o último título de Urbano Tavares Rodrigues, A Imensa Boca dessa Angústia e outras Histórias, editado em Abril passado pela D. Quixote. “A minha mãe era leitora do Urbano. Havia muitos livros dele lá em casa. Parte da minha formação foi feita a lê-los. Na minha adolescência encontrava ali o Alentejo que era a minha realidade”, disse o escritor ao PÚBLICO. Mário Cláudio: "Nos anos 50/60 foi uma lufada de ar fresco na literatura portuguesa"O escritor Mário Cláudio, lamenta muito a sua morte, mesmo se ela estava anunciada devido à sua doença. "Foi um amigo do coração, mestre de escrita, de coragem, de profissionalismo, de companheirismo, de humanidade, de espírito de conciliação para além de todo o sectarismo", disse ao PÚBLICO o escritor num depoimento por telefone. Urbano Tavares Rodrigues "era alguém de quem se dizia bem em vida – o que não é habitual entre nós –, não só como escritor mas também no plano cívico. Nunca usou o seu posicionamento político, que era bem conhecido, para fazer qualquer espécie de segregacionismo. Há melhor? Não há. Parecido? Também não. Quase não se acredita que fosse português. Mas era. Por isso, nem toda a esperança está perdida. "O que Mário Cláudio também acha admirável em Urbano Tavares Rodrigues é que ele manteve a sua oficina de escrita até ao fim, e também o seu contacto com os amigos e companheiros de escrita. "Nos anos 50/60, ele surgiu como uma lufada de ar fresco na literatura portuguesa, tendo conseguido superar o modelo neo-realista, estabelecendo pontes com a literatura francesa da época e o realismo mágico da América Latina. E enfrentou de forma aberta, sem falsos pudores, o tema do sexo e do erotismo. ""Uma figura assim não podia escapar a determinadas agressões: morderam-lhe os calcanhares – era fatal que isso acontecesse. Mas Urbano Tavares Rodrigues foi sempre superior a tudo isso. Deixou um itinerário de excelência", concluiu Mário Cláudio. Uma carta sobre tolerância para o filho de sete anosDa Amazónia, onde está a participar num festival, José Luís Peixoto lamenta a morte do amigo, lembra a generosidade do homem que nos últimos anos tinha “alguma mágoa por ver a vida afastar-se de si”. Sinal dessa vitalidade que agora se manifestava apenas na escrita, lembra, Peixoto, é o filho de Urbano Tavares Rodrigues, António. Para ele Urbano deixou uma carta. Falava muito dela. Dizia que era a grande herança que lhe deixava. António que agora tem sete anos, deveria abri-la aos dez anos. A mensagem é a da tolerância. A académica Maria Alzira Seixo foi sua aluna no primeiro ano da Faculdade de Letras de Lisboa. Contou ao Ípsilon que o professor passava por ela e dizia: "Sabe, trago sempre comigo a pasta de dentes e o pijama. ”A aluna naquela época, finais dos anos 50, achava desconcertante o desabafo. E nesse artigo do Ípsilon, em 2007, explicava ainda que quando, em 1958, apareceu Uma Pedrada no Charco, com que Urbano Tavares Rodrigues ganhou o seu primeiro prémio, o Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências, percebeu o que o seu professor lhe queria dizer: “No mesmo dia o Urbano era chamado e às vezes preso pela PIDE [a ex-polícia política da ditadura de Salazar]. ”“Portugal perde um grande escritor e um homem exemplar. Lutou sempre pelas suas convicções com um grande sentido humanista”, diz ao PÚBLICO o editor Manuel Alberto Valente que perdeu um grande amigo. “Julgo que Portugal não lhe prestou a merecida homenagem em vida e espero que agora se lembre de lha prestar”, acrescenta o director da Porto Editora. “Enquanto isso, espero que as pessoas o possam homenagear lendo os seus livros”. A despedida no novo livro: "E tudo será luz"Em 2007 começaram a ser publicadas pela Dom Quixote as suas Obras Completas. Nessa altura, Urbano Tavares Rodrigues disse ao Ípslion que era a concretização de um sonho antigo. No início de Julho passado fez chegar à sua editora na Dom Quixote, Cecília Andrade, aquele que será o seu último livro, Nenhuma Vida, a publicar ainda este ano, divulgou nesta sexta-feira a editora. Esse romance, que será lançado para assinalar os 90 anos do escritor aborda questões que Urbano Tavares Rodrigues tratou na sua obra, mas também ao longo da sua vida, como as lutas políticas e sociais, a solidariedade, as relações humanas, mas também a sexualidade e o erotismo. “É um romance muito curto e onde está todo o espírito do autor”, diz Cecília Andrade, acrescentando que apesar de as personagens não serem auto-biográficas, as questões abordadas têm muito da experiência do autor. Tem um prefácio escrito pelo próprio e que é já uma despedida. "Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz".
REFERÊNCIAS:
Partidos PCP
Miley Cyrus continua imparável: a polémica agora é com Sinead O’Connor
Sinead O'Connor afirmou que Cyrus está a ser prostituída pela indústria mediática. Esta respondeu com alusões a um desiquilíbrio psiquiátrico de O'Connor. (...)

Miley Cyrus continua imparável: a polémica agora é com Sinead O’Connor
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sinead O'Connor afirmou que Cyrus está a ser prostituída pela indústria mediática. Esta respondeu com alusões a um desiquilíbrio psiquiátrico de O'Connor.
TEXTO: Miley Cyrus disse à Rolling Stone que o vídeo de Wrecking ball, o seu novo single, foi inspirado no famoso teledisco da Nothing compares 2 you cantada por Sinead O’Connor. E eis então O’Connor a ver-se também atraída para o furacão Miley. Foi o início da mais recente polémica envolvendo a cantora de We can’t stop. Realmente, ela não pára. Para aqueles que a criticam, está com a sua nova imagem hiper-sexualizada a prostituir o seu talento e a legitimar a visão do corpo feminino enquanto mero objecto sexual. Para os defensores que se têm erguido recentemente e a que o New York Times dava voz num artigo publicado a 2 de Outubro, está a expor a sua sexualidade de uma forma sincera e a chocar de frente com o puritanismo social em relação ao sexo e à nudez. Sinead O’Connor está, claramente, do lado dos primeiros. No início da semana, a cantora irlandesa escreveu uma carta aberta na sua conta do Facebook em que alertava para os perigos de Miley Cyrus estar a usar a sua sexualidade em benefício de uma indústria mediática que não a protegerá. “Irão prostituir-te em tudo o puderem, e habilmente fazer-te pensar que era isso que querias”, escreveu. Miley, aparentemente, não apreciou os conselhos. Respondeu repescando tweets de Sinead O’Connor de há dois anos, quando a cantora atravessava uma crise psiquiátrica. Sob os tweets citados, a frase “Antes de existir Amanda Bynes [jovem celebridade televisiva americana actualmente internada para tratamento psiquiátrico]… havia O’Connor”. Algumas trocas de palavras pelas redes sociais depois, Sinead O’Connor ameaça agora Miley Cyrus com um processo judicial se não lhe forem apresentadas desculpas públicas. Miley Cyrus não liga nenhuma: tweetou estar demasiado ocupada a trabalhar como anfitriã do histórico programa Saturday Night Live para continuar a conversa. Demasiado ocupada com o programa mas não só. Esta semana protagonizou nova sessão de fotos, da autoria de Terry Richardson, que, pela quase nudez e pose soft-porn, certamente alimentarão a controvérsia, o debate, o falatório, nas próximas semanas. Entretanto será editado dia 8 de Outubro um novo álbum, Bangerz. Porque Miley Cyrus é, afinal, uma cantora. E uma marca que está a saber construir-se na perfeição, como defendeu no New York Times a directora editorial do Hollywood Reporter, Janice Min. “Ela quer horrorizar as mães em toda a América. Essa é a sua marca. Ela tem estado numa campanha incessante para deixar de ser Hannah Montana [a personagem que primeiro a celebrizou na Disney] e para se tornar um símbolo de rebeldia e tumulto”. Até a artista Marina Abramovic, apesar de considerar a sua actuação nos últimos MTV Video Awards “vulgar e não original”, considera que Cyrus “capta algo sobre ser jovem e rebelde”, declarou ao New York Times. “Há ali energia, e consigo ver um talento”. Tudo isto começou, recordemos, com a supracitada aparição nos MTV Video Awards, no final de Agosto, mas essas imagens em que Miley Cyrus, 20 anos, a antiga celebridade pré-adolescente adorada pelos pré-adolescentes chamada Hannah Montana, simulava masturbação com um dedo de borracha e dançava, de língua de fora e rabo bamboleante na pélvis do cantor Robin Thicke (o já conhecido mas agora mui célebre movimento de dança chamado twerking), parecem coisa distante na era da informação ao tweet. Desde essa altura que a discussão em torno de Miley Cyrus tem sido incessante. Ela ocupa agora o lugar da última polemizadora pop da era das redes sociais, Lady Gaga. Sexta-feira, o site Entertainment News, adiantava que, nas 24 horas anteriores, na sequência da exibição na MTV do documentário Miley: The Movement, a cantora tinha sido objecto de 900 mil tweets. Se já era uma campeã de receitas enquanto Hannah Montana (o documentário Hannah Montana & Miley Cyrus, de 2008, por exemplo, está em nono na lista dos mais lucrativos de sempre nos Estados Unidos), a sua nova imagem e a polémica associada multiplicou o interesse que suscita. We can’t stop, o primeiro single do novo álbum, bateu com cem milhões de visualizações o recorde da plataforma online Vevo. Wrecking ball , o segundo, contabilizou os mesmos cem milhões em meros seis dias, levando Cyrus a bater o seu próprio recorde. No meio de tudo isto, a cantora, capa recente da Rolling Stone, omnipresente na imprensa e redes sociais, confessava à revista: “Julgo que este não é o melhor momento para me googlar”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave adolescente social sexo sexual corpo sexualidade cantora
Mulier tacet in eclesia ou a discriminação sexual
Joseph Ratzinger, cardeal alemão, é o Papa há uns anos. Resignou há dias mais pelas atribulações internas da Igreja Católica que governa do que tão só pela sua debilidade física própria de um homem de 85 anos. Penso eu. O Papa enfrentou, e pela primeira vez, e de forma universal, essa vergonha que se chama pedofilia. Vergonha e crime em todo o mundo. Mas não menos relevante, Ratzinger teve a força e energia morais para tomar uma medida que não menos cobria, se ainda não cobre, a sua Igreja com um manto de negócios cinzentos ou até de cores muito mais carregadas: O Banco do Vaticano, eufemisticamente chamado Insti... (etc.)

Mulier tacet in eclesia ou a discriminação sexual
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.5
DATA: 2013-02-25 | Jornal Público
TEXTO: Joseph Ratzinger, cardeal alemão, é o Papa há uns anos. Resignou há dias mais pelas atribulações internas da Igreja Católica que governa do que tão só pela sua debilidade física própria de um homem de 85 anos. Penso eu. O Papa enfrentou, e pela primeira vez, e de forma universal, essa vergonha que se chama pedofilia. Vergonha e crime em todo o mundo. Mas não menos relevante, Ratzinger teve a força e energia morais para tomar uma medida que não menos cobria, se ainda não cobre, a sua Igreja com um manto de negócios cinzentos ou até de cores muito mais carregadas: O Banco do Vaticano, eufemisticamente chamado Instituto Para as Obras da Religião (IOR). E não terá sido porque Ratzinger despertou um dia indisposto que, 15 dias antes de anunciar a sua resignação, o Papa nomeou um novo gestor dos dinheiros de Deus na terra: um também alemão. Deixe-se, porém, os dinheiros de Deus e a pedofilia, acentuando, com felicitações e agrado, a pregação do Papa, não há muito tempo atrás, sobre a igualdade entre os povos, a solidariedade universal, a paz, a justa distribuição da riqueza na Terra. Todavia, Ratzinger – um cardeal que nos avezámos a ver sofredor, com um sorriso sempre triste de homem de Deus que carregava nos ombros os pecados das suas ovelhas tresmalhadas –, não foi capaz ou não o deixaram, como filósofo, teólogo e homem de cultura que é, de abolir um princípio de milénios vigente na sua Igreja: a mulher estar calada. O que quer dizer que a discriminação sexual é um princípio estrutural da Igreja Católica, igreja onde os cargos da hierarquia são exclusivamente destinados à virilidade masculina, assente no postulado segundo o qual a mulher é, na escala de valores da Igreja, um ser de graduação abaixo. Ora, liderando o Papa de Roma milhões de gentes por esse mundo fora, não se estranhe que os poderes da Terra perfilhem tal princípio. Apesar da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a europeia dos mesmos direitos, as declarações das Nações Unidas e já agora a Constituição da República Portuguesa, invocada quando dá jeito e excomungada quando o não dá. Antero de Quental, que era também “antero”, o disse nas Conferências do Casino, por meados do século XIX: o atraso de Portugal também se deve a alguns “dogmas“ da Igreja Católica e nesses também a perfilhação de um tal princípio. E a desigualdade entre sexos, cá por casa, já ninguém tem a ousadia de, publicamente, a defender mas muitos, obscuramente, a praticam. Salvo, vejam lá, o Estado, se excluirmos a coutada dos partidos que capturaram, como é por demais evidente, os lugares genuinamente de natureza política e muitos que o não são. Conquistas de Abril, agora recordado, por forças “instrumentalizadas”, é óbvio que, aqui e ali, enfrentam e afrontam o poder ao som de José Afonso: Grândola Vila Morena. Apenas um exemplo: após Abril, as mulheres entraram nas magistraturas e no Ministério Público constituem já uma percentagem superior à dos seus colegas da “virilidade”. E nas empresas privadas? Aqui vigora, com algumas excepções, o princípio genuinamente católico: mulier tacet in eclesia. Até quando?É que, por mais bem desenhadas e inspiradas em princípios justos e universais, as leis e declarações não passam de papel, se e enquanto, o Homem não lhes der forma, passe a expressão, material. O autor é Procurador-Geral Adjunto
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Palavras-chave crime direitos cultura mulher homem igualdade sexual mulheres vergonha discriminação
Morreu Gerry Goffin, o letrista cujos versos ajudaram a definir a pop clássica americana
Em parceria com Carole King compôs The loco-motion, Will you love me tomorrow ou (You make me feel) Like a natural woman (...)

Morreu Gerry Goffin, o letrista cujos versos ajudaram a definir a pop clássica americana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.083
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em parceria com Carole King compôs The loco-motion, Will you love me tomorrow ou (You make me feel) Like a natural woman
TEXTO: Will you love me tomorrow, das Shirelles. The loco-motion, de Little Eva. Pleasant valley Sunday, dos Monkees. (You make me feel) Like a natural woman, de Aretha Franklin. I wasn’t born to follow, dos Byrds. Uma diversidade de intérpretes, dois factos a uni-los. Foram êxitos de relevo na década de 1960 e todas foram obra da mesma dupla. Carole King, a compositora da música, e Gerry Goffin, o autor das letras. Goffin-King é uma das assinaturas clássicas do período áureo, clássico, da pop americana. Inseridos nessa verdadeira linha de produção de música e fábrica de criatividade chamada Brill Building (o edifício de escritórios da Broadway onde compositores, produtores, músicos e agentes colaboravam e concorriam pelo próximo single a invadir as rádios), o casal Carole King e Gerry Goffin criou várias canções que ajudaram a definir uma era. Casaram-se em 1959, ela com 17 anos, ele com 20, e separaram-se em 1968, mas os créditos nas canções supracitadas, pequena porção das dezenas que criaram ao longo da parceria, tornam-nos inseparáveis. Quinta-feira, a actual mulher de Gerry Goffin deu a notícia à AP: Goffin morreu esta quarta-feira, aos 75 anos, de causas naturais, na sua casa em Los Angeles. Carole King não demorou a emitir um comunicado. “Gerry Goffin foi o meu primeiro amor. Teve um profundo impacto na minha vida e no resto do mundo. Gerry era um bom homem e um dínamo de energia, cujas palavras e influência criativa ressoarão através das gerações vindouras”, escreveu a compositora que, após a separação, se tornaria uma artista a solo de relevo entre os cantautores americanos da década de 1970. “As suas palavras expressaram aquilo que muitas pessoas sentiam, mas não sabiam como dizer”, afirmou. Gerry Goffin nasceu em Brooklyn em 1939 e o seu percurso até ao final da adolescência não prenunciava a carreira musical hoje celebrada. Alistou-se na Marinha americana, que abandonou para estudar Química no Queens College. Foi na universidade que conheceu Carole King. Nessa altura, a música já se atravessara no seu caminho. Procurava alguém que compusesse a música para um musical sobre a geração beat. Carole King, por sua vez, procurava quem escrevesse letras para as canções pop que criava ao piano. Começou aí uma colaboração que não tardaria a dar frutos, já Goffin abandonara a ideia do musical beatnick. Certa noite, chega a casa e depara-se com um recado deixado por Carole King num gravador. Pedia-lhe que escrevesse uma letra para a melodia tocada ao piano que se seguia, composta para o girl group Shirelles. Estávamos em 1961. A assinatura Goffin-King não tardaria a revelar-se em grande estilo. Will you love me tomorrow foi o primeiro Nº 1 nas tabelas americanas composto pela dupla. No ambiente criativo do Brill Building, onde a pressão por novos êxitos era uma constante, Gerry e Carole trabalharam freneticamente. A Will you love me tomorow sucedeu, no mesmo ano, Take good care of my baby, gravado por Bobby Vee e outro número um nas tabelas – ainda em 1961, ofereceriam Some kind of wonderful, mais tarde gravado por Marvin Gaye, aos Drifters. Nesse período, tanto criavam canções para estrelas como as Crystals, produzidas por Phil Spector (He hit me (it felt like a kiss)), como, confiando totalmente no poder de uma canção, pediam à babysitter que se transformasse em cantora – e eis que surge, em 1962, uma Little Eva a cantar The loco-motion, hoje um standard que conta com versões de músicos tão díspares quanto os Grand Funk Railroad ou Kylie Minogue). Seguir-se-iam Don’t bring me down, gravada pelos Animals, Goin’ back, ouvida na voz de Dusty Springfield, ou as citadas Pleasant valley Sunday, (You make me feel) Like a natural woman e Wasn’t born to follow. A separação do casal, em 1968, provocada pelas infidelidades de Gerry e por problemas psiquiátricos provocados pelo uso de LSD, que levaram a um internamento e ao diagnóstico como maníaco-depressivo, abriu caminho para o início da carreira a solo de Carole King. Gerry Goffin, apesar de um álbum em nome próprio lançado em 1973 (It Ain’t Exactly Entertainment), continuaria a ser essencialmente um letrista, compondo com Barry Goldberg I’ve got to use my imagination (um clássico de Glady’s Knight & The Pips), com Michael Masser Do you know where you’re going to, da banda-sonora de Mahogany, cantada por Diana Ross, ou Save my love for you, interpretada por Whitney Houston. Gerry Goffin casou com aquela que era a sua actual mulher, Michelle, em 1995. Para a história da pop, porém, é à sua união a Carole King que está reservada a eternidade. Juntos, compuseram mais de cinquenta canções que encontraram lugar no top 40 americano. Juntos, ajudaram a definir a banda-sonora da era clássica da pop americana.
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Palavras-chave mulher homem cantora
Billy Idol cumpriu e os Gogol Bordello levantaram pó
Cantor inglês apresentou os seus maiores sucessos, enquanto a banda de rock cigano exibiu um andamento imparável. Ebony Bones surpreendeu pela positiva. (...)

Billy Idol cumpriu e os Gogol Bordello levantaram pó
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cantor inglês apresentou os seus maiores sucessos, enquanto a banda de rock cigano exibiu um andamento imparável. Ebony Bones surpreendeu pela positiva.
TEXTO: Na noite mais concorrida até ao momento do festival Marés Vivas, no Cabedelo, em Vila Nova de Gaia, nenhuma banda falhou os “mínimos olímpicos”. Billy Idol foi o rockeiro de serviço que se aguardava, enquanto o punk cigano dos Gogol Bordello encheu o recinto de dança e muita poeira. Destaque ainda para Ebony Bones, autora do concerto mais inventivo do certame, ainda antes dos portugueses Os Azeitonas celebrarem 10 anos de carreira. Às 21h, Ebony Bones subiu ao palco acompanhada de duas bateristas, um teclista, um guitarrista e dois percussionistas nos timbalões, com máscaras representando cavalos. Estes últimos tinham uma função tanto musical quanto cénica, que Ebony Bones, também actriz, assumiu como parte integrante do espectáculo. Navegando entre o punk e o funk, linhas de sintetizador bizarras e ritmos tribais, a britânica – que já tinha marcado presença, em Portugal, na Casa da Música e nos festivais Super Bock em Stock e Sudoeste – assinou um concerto intenso, apesar de pouca atenção que a reduzida assistência lhe ofereceu. Explorando Bone of My Bones, disco de estreia lançado em 2009, apresentou “W. A. R. R. I. O. R. ”, suportada por um riff quase metal, “We know all about U”, algures entre o rap e o trip-hop, e ainda uma contida versão de Enjoy the silence, dos Depeche Mode. Apesar de estar algo deslocada no âmbito do cartaz, ninguém retira a Ebony Bones, dona de uma farta cabeleira loira, o título de espectáculo mais surpreendente e aventureiro. Os Azeitonas tomaram o palco por volta das 22h. Resultado de uma miscelânea de influências, desde a pop anglo-saxónica dos anos 1960 ou 1970 até ao nacional-cançonetismo e o mais que o valha (ouviram-se, por exemplo acordes de "All the Young Dudes", de David Bowie), a banda portuense viu a sua popularidade subir em flecha graças a “Anda comigo ver os aviões”. Por isso, não foi de estranhar que reunissem muito mais público do que Ebony Bones, satisfeita que estava a fome na zona de alimentação. Fazendo a ronda pelos temas mais conhecidos, como “Dança, menina dança” ou “Quem és tu miúda?”, o colectivo pareceu confortável, até porque repetiu um modelo de concerto já testado na Queima das Fitas. Rui Veloso, convidado especial, cantou os versos finais de “Nos Desenhos Animados” e um dos seus grandes sucessos, “Paixão”, o que motivou uma cantoria colectiva e muitos telemóveis no ar. Mas o ponto alto chegou mesmo no fim, com “Anda comigo ver os aviões”, cujas vocalizações estiveram novamente a cargo de Rui Veloso. Tratou-se de um concerto simpático, mas as atenções estavam viradas para Billy Idol, que tinha actuado pela última vez em Portugal há quase 19 anos, quando fez a primeira parte dos Bon Jovi no Estádio de Alvalade, em Lisboa. Em suma, tratava-se de um espectáculo para maiores de 40 anos, “condenado” à partida a girar em torno dos grandes êxitos do britânico. Não é aos 56 anos que ele irá conquistar novos adeptos, por isso interessa-lhe sobretudo que os fãs de sempre regressem a casa satisfeitos. Julgámos que foi isso que aconteceu. Rodeado de músicos rodados e competentes, Idol protagonizou um espectáculo em que estiveram presentes grande parte dos clichés rock & rol: o casaco de cabedal, o vocalista em tronco nu, longos solos, o guitarrista tocando em modo windmill (como Pete Townshend dos Who) e o uso constante do calão (“I’m Billy fucking Idol”, despediu-se o músico, no termo do concerto). Idol apresentou-se em boa forma física e vocal. O passar dos anos é notório, mas ainda lá está o cabelo loiro e espetado e o ar rebelde. Os sucessos surgiram todos em interpretações escorreitas: Dancing with myself, a balada Sweet sixteen, Eyes without a face, Rebel yell, White wedding, Mony mony e uma versão eléctrica de L. A. Woman, dos Doors. No cômputo geral, pode falar-se em missão cumprida.
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Étnia Cigano
Kusturica: “Fazer filmes é como construir pirâmides”
Fazer filmes é difícil, diz Kusturica, e arriscamo-nos a perder o realizador para as framboesas. Mas esperando que isso não aconteça, vemos como o cinema era há muito, muito tempo: On the Milky Road, história de amor com Monica Bellucci. Conversa com o realizador-actor e a actriz em Veneza. (...)

Kusturica: “Fazer filmes é como construir pirâmides”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fazer filmes é difícil, diz Kusturica, e arriscamo-nos a perder o realizador para as framboesas. Mas esperando que isso não aconteça, vemos como o cinema era há muito, muito tempo: On the Milky Road, história de amor com Monica Bellucci. Conversa com o realizador-actor e a actriz em Veneza.
TEXTO: Fala-se no seu comeback – On the Milky Road, primeira longa-metragem em nove anos, estrategicamente colocada no final da competição do 73. º Festival de Veneza para sairmos daqui enganados pelo seu sabor –, mas Emir Kusturica diz que, tendo vários projectos, não sabe quando os fará e se os fará. A não ser. . . “O meu principal projecto é uma plantação de framboesas e maçãs, começarei a fazer produção biológica. . . ”“É muito difícil fazer filmes. Sou um cineasta cuja mise-en-scène é desencadeada pelo espaço, é difícil. Fazer filmes é como construir pirâmides, se levamos o cinema a sério. " No seu caso também podia ser como destruí-las. Não se trata só de criar um cenário, animá-lo antes de escolher o cantinho que vai aparecer no filme, trata-se de construir um cenário e a seguir deitá-lo abaixo porque ele não funciona. Foram três anos de rodagem, 2013, 2014, 2015, várias fases de reshooting, de recomeço. Lembras-te de Emir Kusturica? Sim, merece ganhar o Leão de OuroPrimeiro por causa de um falcão que não havia, e o filme começou a ser desenvolvido com essa ausência nas primeiras semanas. Quando chegou o falcão, Kusturica quis partir do zero. “Depois houve 47 dias de chuva, há dois anos [na região onde filmaram, na Sérvia], e não aceito rodar sem sol. Mas o mais difícil foi ser alguém que observa e é observado”, isto é, que realiza e interpreta. Kusturica, em On the Milky Road, tem o papel principal, um leiteiro que se fechou em si mesmo no início da guerra dos Balcãs, que se esqueceu de quem tinha sido, até que encontra uma mulher de passado misterioso e sem indícios de futuro (sem nome, apenas A Noiva, e é Monica Bellucci). Ele, com o seu amigo falcão, avista uma igual. História de amor, o tonitruante carrossel de música e animais (os gansos continuam a ser predilectos) vai amainando, os amantes que fogem à guerra aprendem a respirar debaixo de água – todo um maravilhoso aquático que, assegura Kusturica, não teve toque de efeitos especiais, “é tudo real” – e começa a ouvir-se o vento na lindíssima hora final do filme. Que é um comeback porque procura novo tom para uma melodia já conhecida, como se quisesse efectivamente recomeçar (esse projecto das framboesas e maçãs é inquietante, ameaça o horizonte que o filme abre; houve já quem se dedicasse ao vinho e o cinema perdeu com isso). “Sou cada vez mais fã de Chaplin e de todos os tipos que realizavam e interpretavam nos seus filmes. Como é que eles faziam, transcendendo-se de cada vez?” Ele consegue. “Quando trabalha há prazer e há sofrimento”, conta Monica Bellucci. “É a sua maneira de fazer filmes. Entrar na água fria, depois sair da água em direcção à câmara de filmar, depois regressar de novo à água fria, depois voltar à câmara. . . e quando o dia chega ao fim, ele diz: ‘Vemo-nos amanhã, vou dar agora um concerto. ’”As pirâmides. . . ou como Kusturica coloca de outra maneira, o “obsessive world of cinema”. “Os filmes são feitos com uma imagem obsessiva do mundo na nossa cabeça e no set. Na montagem, apenas podemos melhorar isso. O decisivo é a imagem obsessiva do mundo que temos na rodagem. O segredo é evitar o artificialismo, como combinar a força do plano com a elegância da expressão. Renoir, Truffaut, Tarkovsky poderiam dizer algo sobre isso. Não é por acaso que os filmes finais dos grandes mestres são algo distanciados da vida, mesmo que esteticamente bem-feitos. ” Várias vezes nesta conversa com um grupo de jornalistas em Veneza, Kusturica, 62 anos, natural de Sarajevo, fala do cinema, tal como o pratica, como arte antiga e em vias de desaparecimento. Uma das coisas imponentes e solitárias de On the Milky Road é lembrar-nos de como já foi. “Há um método americano em que se cobre a cena filmando através de cinco ângulos diferentes para depois escolher na sala de montagem. Oponho-me a isso. Cada ingrediente que se mistura no set, seja um plano curto ou um plano sequência, tem de ser filmado sabendo em que lugar o vamos colocar na arquitectura final. Montamos o filme enquanto o filmamos. E o dia é organizado de véspera. Quando chegamos de manhã ao set, tentamos concretizar com os actores o que pensámos na noite anterior, e a realidade do set dá-nos novas maneiras para concretizar o objectivo. E começamos a destruir tudo o que construímos antes. O script é blá-blá-blá, é para ser destruído. Depois chega o produtor, que tenta, por sua vez, impedir que façamos o que queremos. Temos de ser fortes a manter a nossa visão. Este filme foi um risco, poderia perder tudo, a minha vida e a vida dos outros. Com cada filme levamos toda uma equipa ao limite. Gasta-se muita energia de muita gente, pede-se muito. Fiz dez filmes, com grandes equipas, muito poucos me abandonaram antes do fim, porque sentiam que eu também me estava a gastar, com sinceridade e em nome de uma visão. Quando assim é, as pessoas seguem-nos. ”É aquilo a que Monica Bellucci chama a “autoridade natural” do realizador de O Tempo dos Ciganos (a “obra-prima” dele para ela. ) “As pessoas seguem-no como a um comandante. Nada a fazer. Tem aura. A cada cinco minutos aparecem-lhe ideias. Depois de eu estar três dias a memorizar uma cena, ele chegava com alterações, mais três frases de diálogos, minutos antes de filmar. A cabeça dele é rápida e temos de estar preparados para mudar tudo. ‘Mas Emir. . . ?’ ‘Não, não, vais ali para um canto, consegues fazer isso. ’ No meio disso, há uma parte dele que é uma criança. Ele vem de uma terra de beleza. Uma terra de violência, é claro, mas querendo acreditar que a beleza existe. É o seu lado de criança. ”Monica mergulhou na Sérvia durante três anos. On the Milky Road, como anuncia o genérico, é baseado “em três histórias reais e muita imaginação” – tendo Kusturica construído o filme a partir do que imaginou do passado da personagem que estava numa curta, o seu segmento Our Life para o filme colectivo Words with Gods (2014). “Deparamo-nos com histórias horríveis, tantas que é muito difícil, quando se é de fora, ter algum julgamento”, continua Monica. “Há tantas culturas que ali se sobrepõem, não podemos ter um julgamento, podemos apenas constatar a energia que por lá existe e que como actriz absorvi. Ali, as pessoas, para sobreviverem, precisam de outro nível de realidade. É a esta loucura e sofrimento que chega a minha personagem, A Noiva. No meio da guerra. Mas é uma líder, uma vencedora. É uma mulher difícil de encontrar. Há um mistério, não se sabe de onde vem. Sabemos que foi amante de um poderoso general que matou a mulher por causa dela, ela denunciou-o e quando ele sai da prisão quer apanhá-la viva ou morta. É uma história verdadeira. ”A acreditar em Kusturica, Monica mergulhou pela primeira vez por causa deste filme, atirou-se à água saltando de vinte metros de altura, foi desafiada a improvisar uma canção. (E chorou com cara de chorar, e cantou, e “não fez apenas isto. . . ” – e o realizador congela o rosto numa pose provocante). “Quanto temos um instrumento, devemos abrir todas as possibilidades quando o tocamos. ”Monica confirma que nunca se aborreceu. “Trabalhar com Emir é desafiador porque o script é apenas um ponto de partida, tudo se passa na rodagem. Na verdade, eu na vida prefiro um prato de pasta ao ginásio, mas com ele tive de esquecer isso. Não corri grandes riscos, mas o que se passa num filme é que somos encorajados a fazer aquilo que não fazemos normalmente na vida. Estamos para além da realidade. E com ele estamos sempre nessa dualidade de realidade e fantasia. Não nos enganemos: embora neste filme haja sempre muita coisa a passar-se, é uma experiência íntima. Há espaço para duas pessoas olharem uma para a outra. Não sou já uma mulher nova [51 anos], por isso o que me agrada é que é uma história de amor entre duas pessoas que já passaram por muito, que já viram muito, nada têm a perder, mas acontece algo de mágico. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E não acontece sexo, orgulha-se Kusturica. Que desde o início da sua carreira se vê como director de um zoo: gansos, cobras, moscas, falcões, galinhas, um urso com que a sua personagem partilha uma refeição de laranjas. “Animais e natureza, eis a minha determinação. Somos animais sociais, e o instinto que trocamos com os animais é o elemento fundamental. A personagem que interpreto é um tipo perfeitamente relaxado em relação aos medos da natureza. O urso come da minha mão, essa cena é real. Não foi coragem da minha parte, é apenas entender alguma coisa. Se lhes damos de comer, eles tornam-se nossos. ”Conhece este urso há cinco anos, era um bebé, rolavam juntos, hoje é um volume de centenas de quilos que come da sua mão. “A equipa estava assustada. . . mas há truques: quando se encontra um urso no bosque, temos de gritar. Ele aceita a autoridade de quem grita. Não se deve correr. Eles são mais rápidos. Gritem, alto, dêem-lhe uma lição. Quanto às mulheres, não sei. ”Veja aqui todos os textos sobre a 73. ª edição do Festival de Cinema de Veneza
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Pussy Riot em greve de fome: “As prisioneiras da colónia nº 14 têm medo das próprias sombras”
Nadezhda Tolokonnikova, das Pussy Riot, entrou em greve de fome. Explica que o método "extremo" é o único possível num lugar onde o silêncio é imposto pelo terror. (...)

Pussy Riot em greve de fome: “As prisioneiras da colónia nº 14 têm medo das próprias sombras”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nadezhda Tolokonnikova, das Pussy Riot, entrou em greve de fome. Explica que o método "extremo" é o único possível num lugar onde o silêncio é imposto pelo terror.
TEXTO: Nadezhda Tolokonnikova, uma das duas Pussy Riot ainda presas, entrou em greve de fome. “É um método extremo” mas “a única forma de sair da situação em que me encontro”, escreve numa carta aberta em que detalhadamente denuncia as condições desumanas da colónia prisional da Mordóvia, para onde foi transferida no Outono passado. Uma situação também ela extrema, diz, perante a violência infligida a si e às outras prisioneiras, ainda mais indefesas por não serem, como ela, um foco da atenção do público. Em Agosto de 2012, as três Pussy Riot foram consideradas culpadas da acusação de hooliganismo e incitamento ao ódio religioso, por terem cantado, uma “oração punk” na Catedral do Cristo Salvador, em Moscovo, na qual criticavam a Igreja Ortodoxa russa e Vladimir Putin. Nadezhda Tolokonnikova foi então condenada a dois anos de prisão, juntamente com Maria Aliokhina e Iekaterina Samutsevich, entretanto libertada. Dentro da colónia penal nº 14, “o silêncio é imposto” pelo terror, diz nesta carta aberta publicada no jornal britânico The Guardian. As prisioneiras “têm medo das próprias sombras, vivem aterrorizadas". Não se ouvem queixas. Ou pelo menos, as queixas não atravessam os muros da prisão. Entrar em greve de fome era “a única forma” de se fazer ouvir. “A administração da colónia prisional recusa ouvir-me”, expõe. “E eu recuso baixar os braços. Não ficarei em silêncio, resignada a ver colegas da prisão a desfalecer sob a pressão de condições de escravatura. Exijo que sejamos tratadas como seres humanos. ”Nadezhda Tolokonnikova lembra que chegou aqui há um ano, vinda do centro de detenção de Moscovo, onde a colónia prisional nº14 já era tristemente célebre por dela se dizer: “Quem nunca cumpriu pena no campo da Mordóvia, simplesmente não cumpriu pena. ”Violações flagrantesNada parecia, pois, comparar-se a este lugar, onde “os níveis de segurança [prisional] são os mais altos, os dias de trabalho mais longos e as violações de direitos humanos mais flagrantes. ” Na colónia penal nº14, “ninguém ousa desobedecer”, onde o trabalho forçado ocupa dois terços das horas do dia, se dorme quatro horas e se tem uma folga a cada mês e meio. Aqui onde as mulheres podem ser espancadas por tudo e por nada – quando, por exemplo, não conseguem cumprir o nível irrealista de produção diária exigido na fábrica de uniformes da polícia onde Nadezhda Tolokonnikova trabalha. O corpo desfalece perante a brutalidade e, quando os sinais de doença surgem, as súplicas são atendidas sim, mas com humilhação e insultos. Uma prisioneira de 50 anos, que sofria de tensão alta e se sentia mal, pediu um dia para terminar o turno mais cedo e dormir uma noite completa de oito horas, conta Tolokonnikova. Em vez disso, foi insultada e acusada de ser “parasita”. Noutro caso, uma mulher cigana foi espancada até à morte, há um ano. “A administração encobriu a morte [declarada na unidade médica da prisão]: a causa oficial foi uma trombose. ”Forçar à submissãoAlgumas prisioneiras são instrumentalizadas pelos responsáveis. A mando destes ou com o seu consentimento, são elas que agridem as colegas que ficam abaixo das quotas exigidas num dia de trabalho de 16 ou 17 horas. Os maus tratos são “um método conveniente” para a administração “forçar as prisioneiras à submissão total perante os sistemáticos abusos de direitos humanos”, continua a activista, antes de descrever a “atmosfera ameaçadora, de ansiedade que invade a [sua] área de trabalho”. E os casos de mulheres que, derrotadas pela falta de sono, “pela interminável luta de cumprir quotas de trabalho desumanas”, ficam à beira do esgotamento e se agridem mutuamente, pelas mais pequenas coisas do dia-a-dia ou, fora de controlo, se autoflagelam. Nadezhda Tolokonnikova lembra-se de ter sido acolhida pelo chefe-adjunto da colónia, tenente-coronel Kupriyanov, que é na realidade, quem administra a prisão: “Devia saber que, no que diz respeito à política, sou um estalinista”, disse-lhe já depois de pressionada a “confessar a culpa”. E quando ela respondeu que apenas trabalharia o previsto no código laboral, oito horas por dia, o outro responsável da administração, coronel Kulagin, prontificou-se a esclarecer que na colónia, a regra era outra. “A nossa força de vontade é maior do que a tua. ” Violações "intermináveis"O desrespeito pelos direitos e necessidades básicas – como o repouso, a alimentação ou a higiene – são “intermináveis”, escreve Tolokonnikova. “As condições de vida e de higiene do campo são calculadas para as prisioneiras se sentirem como um animal imundo e sem direitos”, denuncia ao mesmo tempo que relata momentos em que a sua unidade perdeu o direito a um banho durante duas ou três semanas. “A administração força as pessoas ao silêncio”, diz Tolokonnikova. "Todos os outros problemas derivam deste. A administração sente-se intocável. ” A activista diz que não compreendia por que toda a gente ficava em silêncio. Até ao dia em que ela própria se deparou “com uma avalancha de obstáculos que se abate sobre quem decide falar”. E continua: “As queixas simplesmente não saem da prisão”, diz sem especificar como conseguiu publicar esta carta. Uma revolta é, porém, impensável. “Ninguém ousa desobedecer. ” A uma exposição, pedido ou queixa por escrito, como fez Tolokonnikova, através do seu advogado, a solicitar o respeito dos direitos humanos das prisioneiras, a administração prisional sobe o nível de ameaça e opressão. Em resposta pela acção individual da activista, aplica o castigo colectivo que inibe, paralisa. O efeito do castigo colectivo“É possível tolerar qualquer coisa desde que nos afecte a nós apenas. Mas o método do castigo colectivo é maior do que isso. Significa que toda a unidade ou mesmo toda a colónia é submetida ao mesmo castigo. Isto inclui, pessoas a quem entretanto nos ligamos”, escreve, dando exemplos de amigas que sofreram represálias pelas queixas expressas pela activista. Uma viu recusada a passagem a liberdade condicional por que tinha lutado durante sete anos. Outra foi “atirada” para a unidade de espancamentos diários. O tenente-coronel Kupriyanov teve o cuidado de dizer a Tolokonnikova que tudo isto acontecia por causa dela. Nesse momento, ela decidiu parar: “Pus fim ao processo de interpor queixas. ”Agora, lembra que depois de uma dessas queixas, a vida na "unidade e brigada de trabalho” se tornou “impossível”. Desde então, “a pressão não tem parado de aumentar”. “Por isso”, conclui, “a partir do dia 23 de Setembro, inicio esta greve de fome e recuso participar no trabalho escravo na colónia. E assim me manterei até ao dia em que a administração decida cumprir a lei e pare de tratar as prisioneiras como gado”. Até “sermos tratadas como seres humanos”.
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