Tapeçaria de Katty Xiomara em leilão solidário para a Acreditar
O leilão solidário começa a licitação nos 3000 euros e reverte a favor da Associação Acreditar (...)

Tapeçaria de Katty Xiomara em leilão solidário para a Acreditar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O leilão solidário começa a licitação nos 3000 euros e reverte a favor da Associação Acreditar
TEXTO: A primeira tapeçaria de Katty Xiomara, criadora de moda portuguesa, vai ser leiloada online a partir do primeiro minuto de quarta-feira, 22 de Março. A licitação começa nos 3000 euros e o total do montante conseguido vai ser doado à Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro que abriu há um mês uma casa no Porto. Considerando o valor comercial da tapeçaria, a organização do leilão espera atingir pelo menos os 6000 euros. Os interessados têm até ao fim do dia da próxima segunda-feira, 27 de Março, para licitar no tapete em tons de azul que tem quatro metros de comprimento por dois de largura e pesa quase 50 quilos. A tapeçaria única de oito metros quadrados foi fabricada com lã neozelandesa e fio de viscosa, com “técnicas de tufagem que combinam a tradição manual com a mais moderna tecnologia de produção industrial existente em Portugal”, lê-se no comunicado da Desistart. A peça chama-se “Enamorado” e é uma representação da música “El toroenamorado de la luna”, interpretada pelos Gipsy Kings, um grupo de música cigana que toca rumba flamenca. Os tufos de diferentes alturas (entre oito e 65 milímetros) realçam as formas dos animais e da lua, num contraste entre tons azuis frios e castanhos e vermelhos escuros. A peça foi produzida pela Desistart, uma empresa portuguesa especializada no fabrico de tapeçarias de luxo e pode ser vista ao vivo no desfile de apresentação da colecção Outono/Inverno da estilista integrado nesta edição do Portugal Fashion, que se realiza na antiga Cadeia da Relação do Porto na sexta-feira, 24 de Março. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Katty Xiomara ficou contente com o resultado final da tapeçaria “pela qual toda a gente de bom gosto se irá enamorar”, diz em comunicado. A empresa e a estilista já tinham trabalhado juntas numa peça para o desfile que a organização do Portugal Fashion realizou em Nova Iorque, no mês passado. Para licitar no leilão solidário, os interessados têm de se registar previamente no site oficial da Desistart. Texto editado por Ana Fernandes
REFERÊNCIAS:
Tempo Março
“Na Galiza instalou-se uma narcocultura”
Passou-se da ostentação à discrição. Do marketing social dos “narcos” a uma quase opacidade de costumes. Mas o tráfico de droga continua. A Justiça aposta na pista do dinheiro para acabar com a lavagem. Operações a que Portugal não esteve imune. (...)

“Na Galiza instalou-se uma narcocultura”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passou-se da ostentação à discrição. Do marketing social dos “narcos” a uma quase opacidade de costumes. Mas o tráfico de droga continua. A Justiça aposta na pista do dinheiro para acabar com a lavagem. Operações a que Portugal não esteve imune.
TEXTO: É a história do narcotráfico galego a que Nacho Carretero descreve ao longo de 295 páginas em Farinha (edições Desassossego), um livro que depois de dez edições e 30 mil exemplares vendidos está apreendido em Espanha (ver texto abaixo). Tem um título fácil: Fariña, no original, Farinha em português, uma das designações cifradas da cocaína. O relato começa em finais do século XIX, na raia seca como berço do contrabando com o outro vizinho peninsular, e desagua numa costa de 1498 quilómetros recortada por enseadas, com desembocaduras tentaculares nas rias e em portos de abrigos naturais. Foi na costa que, do contrabando do tabaco se passou ao narcotráfico, numa aproximação ditada pelo domínio comum do castelhano entre os clãs da Galiza e os cartéis colombianos de Cali e Medellin. “Na Galiza instalou-se uma narcocultura”, sintetiza Carretero ao P2 a evolução da trama. As actividades ilícitas na raia galego-portuguesa ilustram a história e as vicissitudes económicas dos dois países. Não é por acaso que os territórios de Portugal e Espanha confinantes com a fronteira são dos mais pobres de cada nação. O ilícito era sobrevivência em Espanha e exercício de desenrasca em Portugal. Do contrabando de bens de primeira necessidade após a Guerra Civil (1936/39): quando a luz eléctrica de Portugal ofuscava as aldeias galegas iluminadas por lamparinas, o aroma do café era conforto e a penicilina uma urgência escassa do outro lado. Era uma economia paralela, a única possibilitada pela pobreza e ditada pela emergência, numa peculiar aproximação do mercado ao consumidor, em que o mercador – Portugal – supria pelo contrabando as misérias de um país devastado pela guerra e pela fome. Os velhos da raia ainda contam a história. Um vizinho cruzava diariamente a fronteira entre a Galiza e Portugal de bicicleta, carregando sempre um saco ao ombro. Cada vez que atravessava a raia, a Guarda Civil mandava-o parar e perguntava-lhe o que levava no saco. O homem, paciente e educado, mostrava sempre o conteúdo. ‘É só carvão’, explicava. E os agentes, ofendidos, deixavam-no passar. No outro lado a cena repetia-se: a Guarda Fiscal portuguesa (conhecida pelos “guardinhas”) também revistava o saco do homem e deixavam-no continuar a pedalar. A mesma cena repetiu-se durante anos perante o mal-estar crescente dos guardas fronteiriços. Não só eram incapazes de encontrar material de contrabando como em cada nova revista sujavam o uniforme de carvão. (…) O segredo do homem da raia esteve à vista ao longo de todos esses anos. Era um contrabandista de bicicletas. Este relato, do qual Nacho Carretero não conhece a origem e a veracidade, passou de geração em geração no imaginário galego. Lenda? Justificação? É uma espécie de ode. Nele respira a astúcia face à norma, o engenho contra a ordem, está a desobediência de mãos dadas com a sobrevivência. A partir dos anos 50, com menos carências básicas em Espanha, o contrabando passa a mercadorias que não são de primeira necessidade: sobresselentes de automóveis, cobre, lenços, arame, cola…Uma década depois, há uma inversão. A raia é procurada pelos desertores da guerra colonial a caminho do exílio. Os “carneiros”, como na Galiza são apelidados os contrabandistas reconvertidos a passadores, cobravam 131 euros pelo salto de um mancebo. Mas é no tabaco que vem de Portugal que as redes centram o seu negócio e moldam a sua estrutura. “Quando os contrabandistas galegos têm poder, as multinacionais do tabaco aliam-se a eles, passando-lhes material defeituoso e excedentário, ou seja, nos anos 50 os galegos trabalharam para os portugueses e, depois, superaram-nos, convertendo-se em distribuidores de tabaco em grande escala”, explica Carretero. Um negócio rentável, como refere o autor. Na década de 80 do século passado, 1/3 do tabaco ilegal que entrava na Europa era movimentado pela Galiza. As Finanças espanholas estimam, aliás, que por ano deixaram de cobrar o equivalente a 60 milhões de euros em impostos. E, entre 1980 e 82, as 150 tabacarias galegas deixaram de vender por ano cinco milhões de euros de tabaco legal. Esta mudança de escala dá-lhes fortaleza económica. Converteu os contrabandistas em donos daquilo tudo, em ícones de sucesso, em beneméritos sociais – um cocktail previsível. “O contrabando de tabaco em 1970 e 1980 não estava mal visto, dava emprego aos jovens de uma região que se considerava abandonada e maltratada por Madrid. Para os políticos locais, era bom ter proximidade destes líderes da comunidade”, constata Nacho Carretero. Os contrabandistas eram líderes de comunidade nas suas mais diversas facetas. Farinha dá exemplos: da reconstrução de um telhado da igreja às festas patronais – que chegaram a ser adiadas um dia para as traineiras ocupadas no contrabando do Winston regressarem a tempo de desfilar engalanadas; o apoio, patriarcal, aos que eram presos, das custas dos advogados às necessidades da família. Foi assim que uma sociedade paralela se construiu à margem dos poderes do Estado. E corroeu-o. Como sempre, os políticos correram atrás do prejuízo. “O maior contrabandista de tabaco era Vicente Otero, amigo íntimo de Manuel Fraga Iribarne (fundador da Aliança Popular, antecessora do PP, um dos pais da Constituição espanhola e presidente do governo regional durante anos), que financiou campanhas”, revela Carretero. “Um juiz disse-me que todos os partidos tinham sido financiados pelo contrabando e, mais tarde, pelo narcotráfico”, explica. Numa comunidade pobre, com problemas estruturais que a manta do Estado não cobria, uma resplandecente economia paralela ilegal dava trabalho aos locais, entrava nos partidos e convivia com a ordem institucional apurada em eleições livres. “Então havia um prometedor jovem que presidia à deputação de Pontevedra que não gostava nada que [os contrabandistas] “Terito”, “Nene” e outros estivessem tão perto (alguns dentro) do partido. Aquele díscolo chamava-se Mariano Rajoy e enfrentou Manuel Fraga devido a estes estreitos laços que o patrão tinha com os contrabandistas. Fraga não gostou do relevo de Rajoy e deu-lhe um conselho que já faz parte da história popular da Galiza: “Mariano vai para Madrid, aprende galego, casa-te e tem filhos”, relata o autor em Fariña. E assim Rajoy fez. O confronto com o chefe Iribarne ficou na memória de quem foi, até há pouco, presidente do Governo espanhol. Rezam as crónicas que o livro lhe foi oferecido quando apareceu nos escaparates, em 2015, por Pablo Iglésias, líder de Podemos. Depois da leitura, Mariano escreveu a Nacho Carretero. Caro Nacho. Obrigado por Fariña, já o li. Está muito bem documentado. Imagino que terá levado muito tempo a escrever e é um bom contributo. Oxalá não tenhas de voltar a escrever sobre o tema. Seria uma boa notícia. Um forte abraço. Muito obrigado. Mariano Rajoy. Assim agradeceu quem liderou até há uma semana o executivo espanhol. Rajoy, sempre acusado de falta de reflexos na sua acção política, quando era um jovem a começar carreira, teve a intuição do problema – de que os poderes do Estado, a economia informal e as actividades clandestinas não eram bom par de dança. Tinha razão. “Quando o tabaco perde valor, aparece uma mercadoria mais rentável, o haxixe e, depois, a cocaína”, prossegue o autor. “O salto para o haxixe e a lavagem de dinheiro na Suíça estreita os laços com os narcos marroquinos, argelinos e sírios. ” Internacionaliza os galegos, abre-lhes horizontes, quando, em finais dos anos 70 e princípios dos 80 [do século passado], era aplicada a mesma legislação do contrabando ao narcotráfico. “Afinal tinha o mesmo risco e, sobretudo, mais lucro”, destaca Carretero. Só a partir de 1982 o contrabando de tabaco passou a ser delito, até então era uma falta. Foi esta a equação que levou os contrabandistas de tabaco, “os senhores do fume” como eram conhecidos, a darem o salto qualitativo. O primeiro a entrar foi Sito Miñanco. Preso em 1984 em Carabanchel, nos arredores de Madrid, teve contacto com detidos do grupo de Pablo Escobar, do cartel de Medellín. Tinham algo em comum: era no Panamá que Escobar lavava o dinheiro da cocaína e Miñanco os proveitos do contrabando de tabaco. Não apenas os islamistas se radicalizam nas prisões – no velho presídio de Carabanchel, segundo o autor, Sito Miñanco, a quem já tinha sido sugerida a mudança de ramo, toma a decisão. Na cela ao lado tinha contactos fáceis com os fornecedores, dinheiro nos mesmos paraísos fiscais para a lavagem e um modus operandi comprovado, com barcos de pesca em alto-mar, lanchas rápidas a poucas milhas da costa, os todo-o-terreno para o transporte e uma completa infra-estrutura em terra: “estacas”, vigilantes, esconderijos e favores comprados nas forças de segurança. E um incomensurável mercado à sua espera. Recorda Nacho Carretero que no início dos anos 90 do século XX a Drug Enforcement Administration, a DEA norte-americana, que então começou a trabalhar com os espanhóis, estimava em quase 80% a cocaína a circular na Europa que entrava pela Galiza. Os barcos de pesca vindos da Colômbia fundeavam a 200 milhas das águas internacionais, onde acorriam lanchas cada vez maiores e mais potentes com pilotos treinados durante décadas no contrabando de tabaco e conhecedores de cada rocha das rias (ver infografia). De Espanha os fardos rumavam aos consumidores finais no Reino Unido, França, Itália, Suécia, Polónia, Letónia e Rússia. Tudo corria bem aos narco galegos que exibiam a sua riqueza com o mesmo à vontade que frequentavam os corredores do poder. “Têm uma impunidade total, ostentam a riqueza, conduzem Ferraris, são os reis da Galiza, têm contactos políticos, corrompem as autoridades, beneficiam de um marketing social”, lembra Carretero. Só no final dos anos 80 parte da sociedade galega começa a reagir devido à geração perdida, os jovens mortos e afectados pelo consumo”, salienta. “São os protestos das Mães contra a Droga, que despertam os meios de comunicação e as forças da autoridade. É a pressão da sociedade civil que leva à Operação Nécora”, reconhece. Na madrugada de 12 de Junho de 1990, o juiz Baltazar Garzón, o magistrado Antidroga Javier Zaragoza e responsáveis da polícia desencadeiam uma operação sem precedentes. Na noite de 11 de Junho, colunas policiais partem de Madrid no maior sigilo. Na esquadra central da Polícia Nacional de Santiago de Compostela amontoam-se agentes entre densas nuvens de fumo e de dúvidas. A ordem de partida é dada, ainda o dia não nascera. Chegados às carrinhas, os agentes encontram no volante um sobrescrito com o destino e as ordens. Que grande confusão que arranjámos. Foi esta a confidência de Garzón a Zaragoza contemplando o início da marcha das furgonetas, com agentes armados de metralhadoras. O objectivo era apanhar os narcos em pijama. E assim aconteceu. “No julgamento, a maioria viria a ser absolvida devido a problemas processuais, mas posteriormente houve novas investigações e acabaram quase todos por ser condenados”, recorda Nacho Carretero. “No entanto, a Operação Nécora foi a primeira reacção das autoridades que, finalmente, perceberam que a Galiza se estava a aproximar da Sicília, com autarcas processados, políticos nas proximidades das redes, uma teia de advogados em trânsito entre os narcos e a política; travou-se o poder político dos narcotráficos”, admite o autor. Daí o drama galego não ter a densidade dos relatos de Roberto Saviano sobre a Itália meridional. Mas houve um antes e depois no despertar das consciências na Galiza e em Espanha. Aos gritos de “Garzón, vales un montón” (Garzón vales muito) as Mães contra a Droga concentraram-se às portas dos paços e dos castelos convertidos em mansões onde residiam os barões da droga, desfilaram pelas ruas vitoriando o primeiro grande golpe e desafiaram os esbirros dos clãs. A luta de sofrimento pelos danos que a droga infligira aos seus filhos tivera uma primeira consequência – e reconhecimento. Comecei a ler, ele estava sentado com a mão na testa e a cabeça baixa. Não se movia. Quando terminei, levantou a cabeça e vi que estava a chorar. Este é o relato de Carmen Avendaño de uma reunião com Manuel Fraga Iribarne, presidente da Xunta da Galiza, o governo regional. Carmen, uma das Mães contra a Droga, acabara de expor ao governante a situação dos jovens dizimados. Anos antes, Fraga reagira mal ao reparo de Rajoy pela sua amizade com o contrabandista “Terito”. Os bens dos traficantes foram apreendidos, das frotas sumptuosas aos iates, os pasos e vinhedos ficaram sob administração judicial. Nos leilões são apenas admitidas sociedades que foram escrutinadas, para evitar a recompra. A classe política reagiu mas sem linearidade. Em 2013, El País publicou uma foto do Verão de 1995 do actual presidente da xunta, Alberto Nuñez Feijóo, e então número dois da Secretaria de Saúde da Galiza, no iate de Marcial Dorado, “um senhor do fume”, condenado pela venda do barco South Sea, que viria a ser utilizado para uma descarga de cocaína, e por lavagem de dinheiro. “É verdade que Marcial Dourado foi um contrabandista de tabaco, mas isso não quer dizer que não se dedicasse ao narcotráfico”, afirma a sentença da Audiência Nacional. Mesmo na Galiza, peritos afirmam que Marcial foi dos poucos que não passaram dos maços de tabaco para os fardos de cocaína, o que não converte o contrabando em actividade legal. Há cinco anos, Nuñez Feijóo disse que a amizade era pessoal, que não estava a par dos negócios de Marcial e que cortaram em 2003. Feijóo é um dos nomes no totobola espanhol para a direcção do PP depois do abandono de Rajoy. “Hoje, a política separou-se do narcotráfico, a convivência pode ser mortal para uma carreira política, mas a Galiza continua a ter tolerância para com o narcotráfico”, lamenta Nacho Carretero. “Na Galiza instalou-se uma narcocultura, os colombianos sempre apostaram nos galegos, confiam nas suas alianças, continua a entrar coca, mas os narcos são agora discretos e a sociedade não os apoia”, prossegue. O tráfico continua, mas mudaram procedimentos. “Os narcotraficantes agora não entram em contacto com a droga, o que a Justiça tenta é seguir o rasto do dinheiro, a lavagem do dinheiro. É muito difícil condenar alguém por narcotráfico, procura-se a condenação por lavagem de capitais e fuga ao fisco”, explica. Um clássico que já vem do tempo de Al Capone. Mas mantém-se o narcotráfico. “Na Galiza, a droga entra por lanchas, no Sul de Espanha em contentores de quatro a seis toneladas, mas agora os galegos são narcotransportadores, ficam com entre 20% a 30% da coca que vendem novamente aos colombianos, que, depois, a colocam em Espanha e pela Europa”, explica. Como sempre, fica droga na Galiza. “Há um acesso fácil e muito consumo de coca”, destaca Carretero. Também se mantém um atlas de geografia de conveniência, consoante o tipo de estupefaciente: “A Galiza está na rota da cocaína, o haxixe vem do Norte de África, a heroína tem origem no Afeganistão, é distribuída pela Turquia e entra na Europa pela Itália, Grécia e Holanda. ” É igualmente mantida uma prática de décadas. “Os grandes traficantes galegos nunca estiveram próximo da heroína, nos anos 80 diziam que matava muita gente, mas houve casos em que deram o seu beneplácito a contactos com clãs búlgaros e russos e com algumas famílias ciganas que a distribuíam por toda a Espanha”, adianta. A confiança mútua, que leva os narcos galegos a confiar a vida de um mensageiro aos clãs colombianos, enquanto a droga não chega ao destino, não vigora com os grupos do Leste. Também é diferente a língua. Durante mais de 50 anos no século XX, o contrabando mais rentável, o do tabaco, animou a raia. “Os galegos trabalharam muito tempo com os portugueses – aliás, em 1983 muitos fogem para Portugal, para a casa dos seus sócios do outro lado da fronteira”, recorda Carretero. Deste lado da fronteira também houve o salto. “Há estruturas em Portugal com ligações ao narcotráfico galego. Basta recordar o Minho Connection de Manso Preto”, prossegue. De resto, no âmbito das investigações preliminares à Operação Nécora, o juiz Garzón esteve no Porto a investigar a passagem de cocaína para Espanha através do Norte de Portugal. A proximidade, a porosidade da fronteira e o hábito ditaram outras situações, reveladas em Farinha. Cascais foi uma das escalas do iate de Marcial Dorado, no Verão de 1995, com Nuñez Feijóo no deck. Uma paragem ocasional, sem significado para além do interesse turístico, embora Dorado fosse detentor de uma empresa vinícola e de quatro quintas em Portugal. Também foi por motivos ímpares, de segurança, que Ricardo Portaballes, confidente de Garzón na Operação Nécora, viveu em Portugal e talvez por aqui ainda esteja. Mas há factos com outra casuística. Luis Falcón, “Falconetti”, com 73 anos e já retirado do negócio, passou do tabaco ao haxixe. Nos anos de 1980, quando lhe negaram uma licença urbanística no município de Vilanova de Arousa, colocou uma pistola em cima da mesa e disse ao alcaide que sempre poderia trazer uns tipos de Portugal para lhe dar uma ensinadela, o que custava apenas um milhão de pesetas. A obra avançou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Josefa Charline Pomares, filha do patriarca Manuel Charline Gama, foi detida em 2001 no Porto e condenada em Espanha a 11 anos de prisão. Dirigiu o clã dos Charlines a partir do Norte, entre 1994 e 2000, onde tinha uma empresa de vinhos. Já o chefe dos Romas, Ramiro Vásquez Roma, um marinheiro de Cambados que prosperou no negócio de embarcações de recreio, preso em 2007, estendeu a Viana do Castelo a sua actividade de construtor de lanchas. No estaleiro minhoto, construiu uma potente embarcação de 25 metros, a pedido de um grupo de traficantes marroquinos. A venda de Fariña está proibida em Espanha, pouco depois do aparecimento nos escaparates da 10. ª edição do livro, devido a uma providência cautelar aceite por uma juíza de Collado-Villalba, nos arredores de Madrid. Na acção interposta em Janeiro de 2016, o antigo alcaide da localidade galega de O’Grove, José Alfredo Bea Gondar, que fora eleito pelo Partido Popular, acusa Nacho Carretero de ter ferido a sua honra e pretende 500 mil euros de indemnização. A juíza ordenou também o encerramento da página web de apoio a Carretero entretanto aberta. O julgamento tem início a 21 de Junho. No livro, há duas referências a Bea Gondar, relativas a uma investigação do juiz Baltasar Garzón, que o acusou de ter alugado um carro, guiado por um colombiano, onde seguiam 30 quilos de cocaína. O autarca foi acusado de narcotráfico pela Audiência Nacional, sentença depois revogada pelo Tribunal Supremo, ao ser declarado inválido o depoimento de uma testemunha, o que não consta da edição. Mais tarde, o político viria a ser condenado sem possibilidade de recurso por um delito de lavagem de dinheiro. “Se ele me tivesse pedido a correcção, há uns meses atrás teria concordado. Hoje, com o pedido de uma indemnização de 500 mil euros, é claro que o seu interesse é económico”, afirma o autor. “Tudo isto, quando ele não é uma personagem importante. Foi julgado e depois absolvido e mais tarde novamente julgado e condenado por lavagem de dinheiro”, prossegue. “A apreensão do livro surpreendeu-nos”, refere Nacho Carretero. Trata-se de uma medida não usual em Espanha, onde, desde a transição democrática de finais dos anos 70 do século passado, seis obras foram apreendidas por ordem judicial. “Estamos a par dessa providência cautelar em Espanha, mas confiamos na Justiça portuguesa para o mesmo disparate não se repetir por cá. Não é a proibir livros que se chega à verdade, e os portugueses cada vez aceitam menos a impunidade com que os criminosos se passeiam pelos tribunais”, disse ao P2 Luís Corte Real, director-geral do grupo Saída de Emergência, a que pertence a editora Desassossego. Uma série televisiva de dez episódios tendo como guião Fariña foi entretanto exibida no canal espanhol Antena3 TV. “Foi emitida, gerou controvérsia e debate, mas nada judicial”, comentou Nacho Carretero.
REFERÊNCIAS:
Étnia Búlgaros
Na sala do 5.º C as provas de aferição não são motivo para nervos
Não contam para a nota. Nem chumbam. Mas são um verdadeiro teste nacional ao que os alunos sabem. Cerca de 100 mil do 5.º ano de escolaridade, com 10, 11 anos, fazem nesta quinta-feira a sua primeira prova nacional. Exames a sério só no 9.º. (...)

Na sala do 5.º C as provas de aferição não são motivo para nervos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não contam para a nota. Nem chumbam. Mas são um verdadeiro teste nacional ao que os alunos sabem. Cerca de 100 mil do 5.º ano de escolaridade, com 10, 11 anos, fazem nesta quinta-feira a sua primeira prova nacional. Exames a sério só no 9.º.
TEXTO: É um teste “para ver se sei tudo”. É um teste “para decidir se passamos”. Na sala do 5. º C da Escola Básica Paula Vicente, do Agrupamento de Escolas do Restelo, em Lisboa, as opiniões dividem-se sobre as provas de aferição que vão fazer este mês. A primeira é já nesta quinta-feira e vai estar em avaliação História e Geografia de Portugal. A 12 de Junho será a vez de Matemática e Ciências Naturais, dois conteúdos curriculares na mesma prova, o que é também uma das novidades deste ano. Para cerca de 100 mil alunos do 5. º ano será a primeira vez que realizam uma prova nacional. No ano lectivo passado deveriam ter feito o exame do 4. º ano de escolaridade, mas esta avaliação foi abolida pela actual equipa do Ministério da Educação. Na aula do 5. º C discute-se agora se a prova de aferição conta ou não para a nota. André já sabe que não, mas muitos dos seus colegas ainda pensam que sim. Foi uma das estratégias adoptadas pela professora de Matemática e Ciências Naturais, Ana Gaspar, para que os alunos valorizassem a prova de aferição. Oficialmente esta não conta para a nota final, mas no princípio do ano lectivo Ana Gaspar combinou com os pais que isto não se diria aos alunos. Com idades entre os 10 e os 11 anos, numa sala com vista para o Tejo, os 17 que no início desta semana compareceram à aula de Matemática (faltaram três) tinham 90 minutos pela frente de preparação da prova. Já haviam treinado antes, mas sem ocupar as aulas inteiras. Depois do teste final da disciplina, contudo, Ana Gaspar decidiu intensificar os preparativos. Diz que os alunos não têm evidenciado nervosismo em relação às provas de aferição. Quando questionados pelo PÚBLICO, eles também não falam de nervos, mas mais uma vez as opiniões dividem-se. Os melhores alunos estão com vontade de fazer esta avaliação e alguns deles mostram-se mesmo aborrecidos por não terem tido hipótese de fazer os exames nacionais do 4. º ano. Já outros vão dizendo que “não têm vontade” de realizar a prova, acham que ela “é muito grande”. “Matemática para mim é fácil, por isso não me importo, mas gostava que também houvesse exame a Educação Física”, remata André. Na maioria dos casos parecem estar à vontade nas lides matemáticas. Durante 90 minutos non stop passaram do cálculo decimal para as frequências, destas para as propriedades da multiplicação e depois fracções e mais tarde ângulos. João está sempre de braço no ar. Quer responder a tudo, impacienta-se, a professora tem que lhe dizer repetidamente para deixar os outros responder. Afonso, um dos seus colegas, resume-o assim: “O João é o melhor aluno a Matemática, mas também é o mais nervoso. "João está sentado ao lado de Ana, um dos sete alunos de etnia cigana da turma. Estão atentos, mas a sua produção é muito inferior à dos colegas. E também faltam mais. “Fora da escola não estudam, não têm apoios”, justifica Ana Gaspar, que diariamente tenta encontrar um equilíbrio para não deixar para trás os alunos com mais dificuldades e não desiludir aqueles que já estão mais à frente. “Não nivelo nem por baixo, nem por cima. Fico-me pelo meio”, relata. Professora há 27 anos, diz que o que mais gosta de fazer é precisamente “dar aulas”. E isso percebe-se na interacção que vai tendo com os alunos, no modo como tenta puxar por eles e até fazer incursões por matérias de anos mais avançados, como é o caso da raiz quadrada. “Já tinha feito com o meu pai”, diz uma das crianças. Quase todos as outras demoram pouco a percorrer o caminho entre as potências e a raiz quadrada. Ficam contentes. “Mas vai sair na prova?”, pergunta um. Ana Gaspar responde pela negativa, diz-lhes que esta é matéria que do 7. º ano de escolaridade. Margarida tem outra dúvida, mas desta vez não teve resposta: “Quem inventou a raiz quadrada?”A propósito do cálculo do percurso de vários animais distintos, segue-se um desvio pelas Ciências Naturais para saber quais as características dos bichos. É assim que será a prova de aferição. Ana Gaspar concorda com esta forma de fazer, diz que os cruzamentos entre as duas disciplinas são vários e que os alunos não estranharão a mistura. Na sala de aula eles mostram que assim é. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Numa carteira mais atrás, Giovana permanece calada, mesmo quando é interpelada pela professora. Chegou à escola, vinda do Brasil, apenas no final do 2. º período. Tudo ainda é novo para ela: a cidade, a escola, os colegas, os professores, as matérias. Mas nesta quinta-feira estará a fazer a prova de avaliação. Segundo o Ministério da Educação, ao identificarem o que os alunos sabem ou não sabem, as provas de aferição funcionam como uma “radiografia do sistema educativo”. São provas nacionais, elaboradas pelo Instituto de Avaliação Educativa com as mesmas questões para todos os alunos do mesmo ano de escolaridade de todo o país. Os resultados da avaliação são qualitativos (não há uma nota, mas sim uma descrição do desempenho do aluno). Tanto os pais como as escolas recebem um relatório pormenorizado sobre como se saíram as crianças. As provas de aferição realizam-se actualmente no 2. º, 5. º e 8. º ano de escolaridade (os alunos do 8. º também fazem nesta quinta-feira prova de Ciências Naturais e Físico-Química). Exames a contar para a nota final só a partir do 9. º ano, antes disso não. Esta foi uma das mudanças introduzidas pelo actual Ministério da Educação. Ana Gaspar discorda. Defende que no final de cada ciclo de escolaridade os alunos deveriam ter provas finais que contassem para a sua avaliação final. E justifica: “Estamos a preparar futuros adultos que vão ser avaliados a vida toda. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação
Inscrição de Auschwitz "Arbeit macht frei" roubada
A célebre inscrição “Arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”), afixada à entrada do campo de concentração nazi de Auschwitz, no sul da Polónia, foi roubada durante a noite por indivíduos desconhecidos, foi esta manhã revelado por responsáveis do museu histórico que ali funciona. (...)

Inscrição de Auschwitz "Arbeit macht frei" roubada
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2009-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A célebre inscrição “Arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”), afixada à entrada do campo de concentração nazi de Auschwitz, no sul da Polónia, foi roubada durante a noite por indivíduos desconhecidos, foi esta manhã revelado por responsáveis do museu histórico que ali funciona.
TEXTO: "Foi levado pelas 6h00 [locais, menos uma hora em Portugal]. Um cão polícia foi posto em busca do rasto dos ladrões”, precisou porta-voz da polícia de Auschwitz, Malgorzata Jurecka, em declarações à rádio pública Trojka. Estão agora a ser examinadas as câmaras de segurança instaladas no local, que fica encerrado durante a noite. “É uma profanação do local onde mais de um milhão de pessoas foram assassinadas. É vergonhoso”, lamentou o porta-voz do museu de Auschwitz, Jaroslaw Mensfeld, precisando que se trata do “primeiro caso de um roubo desta gravidade neste local”. As autoridades do museu - que ocupa pouco mais de um terço do espaço de cerca de dois quilómetros quadrados do campo - já instalaram uma réplica do sinal no portão, a qual fora usada já antes quando o original esteve a ser reparado, informa a edição online do diário polaco Gazeta Wyborcza. O sinal, feito em ferro forjado por prisioneiros judeus, erguia-se às portas de Auschwitz desde o início da década de 1940, por ordem de Rudolf Höss, comandante do campo, o qual – segundo o historiador britânico Laurence Rees – acreditava que o trabalho manual o ajudara a ele próprio na experiência de prisioneiro de guerra, durante o período da república de Weimar, que precedeu a ascensão dos nazis ao poder na Alemanha. O slogan nazi “Arbeit macht frei” foi colocado nos portões de vários campos de concentração sob ordem directa do general das SS Theodor Eicke, inspector dos campos e primeiro comandante em Dachau. A inscrição à portas de Auschwitz1 – o maior dos campos de concentração e extermínio de judeus durante a II Guerra Mundial – tem a particularidade de a letra “B” de “Arbeit” ser maior do que as restantes, dando-lhe a aparência de uma letra invertida. Historiadores calculam que 1, 1 milhão de pessoas, 90 por cento das quais judeus, morreram em Auschwitz entre 1940 e 1945. As demais vítimas foram sobretudo polacos não judeus, ciganos e prisioneiros de guerra soviéticos. Notícia actualizada às 8h55
REFERÊNCIAS:
Cannabis e gays. Psicólogo da TVI volta a ser alvo de queixas
Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisa novas queixas contra declarações de Quintino Aires já depois de ter pedido à TVI para não permitir comentários que incitem ao ódio ou à discriminação. (...)

Cannabis e gays. Psicólogo da TVI volta a ser alvo de queixas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisa novas queixas contra declarações de Quintino Aires já depois de ter pedido à TVI para não permitir comentários que incitem ao ódio ou à discriminação.
TEXTO: A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recebeu até quarta-feira nove queixas relativas a comentários proferidos pelo psicólogo Quintino Aires no Você na TV, de 14 de Junho. O comentador residente do programa da TVI afirmou que “75% das pessoas que consomem cannabis têm relações com pessoas do mesmo sexo”. Entre as gargalhadas do público presente no estúdio, o psicólogo repetiu a revelação, segundo ele “recente”, que lera num “estudo científico”. Perante as queixas, foi aberto um inquérito, diz Luísa Roseira, vogal do conselho regulador da ERC. “O operador televisivo vai ser ouvido e posteriormente o regulador decidirá”, esclarece. Esta é uma questão complexa sobre o que é “opinião livre e o limite de tudo o que pode incitar ao ódio”, diz. Porém, e como já houve “decisão anterior de sensibilização do mesmo programa com o mesmo comentador, os antecedentes terão obrigatoriamente de ser tidos em conta”. Luísa Roseira admite que, desta vez, “ao operador televisivo — a TVI — poderá ser aplicada uma sanção mais grave, que não uma mera sensibilização”. Sanção de que tipo? “Poderá considerar-se que houve uma violação legal da lei da televisão e em resultado disso haver uma contra-ordenação”. Em Julho do ano passado, no programa apresentado por Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, Quintino Aires disse que “a maioria [dos ciganos em Portugal] vive dos subsídios ou trafica droga e não trabalha” A ERC recebeu então, em quatro dias, dez queixas de cidadãos e 27 outras queixas que tinham chegado ao Alto Comissariado para as Migrações. Seis meses depois, a ERC deliberou no sentido de “sensibilizar a TVI a garantir, de futuro, uma protecção cabal e constante da dignidade dos cidadãos e a não transmitir conteúdos que, de alguma forma, contribuam para a estigmatização de grupos sociais, em função da sua etnia”. Na decisão, distingue “os conteúdos de natureza informativa (. . . ) sob a alçada da direcção de informação” e que “se regem pelas normas legais e éticas da actividade jornalística” e os “conteúdos que, embora podendo possuir elementos que informam os públicos”, se inserem “na categoria de entretenimento”. Remete para “o campo do exercício da liberdade de expressão”, mas também lembra que a lei da televisão, no seu artigo referente aos limites à liberdade de imprensa, estabelece que “a programação televisiva não pode incitar ao ódio racial, religioso, político, ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência”. Em conclusão, delibera no sentido de uma sensibilização da TVI para que situação semelhante não volte a acontecer. O PÚBLICO tentou ouvir o psicólogo Quintino Aires que não respondeu a dois pedidos de entrevista. A estação televisiva, também contactada, a propósito das reacções negativas às declarações de 14 de Junho, sobre a homossexualidade e o consumo de cannabis, defende-se e lembra que Quintino Aires participa “em vários outros órgãos de comunicação social”: “O Dr. Quintino Aires expressa-se na antena da TVI com a liberdade que o sistema jurídico lhe permite, e que é própria dos países livres e das sociedades abertas e democráticas. A TVI é uma instituição firmemente comprometida com o respeito pelas normas legais aplicáveis à sua actividade e o programa Você na TV não é excepção. ”Para Carla Cruz, socióloga da Comunicação e professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, “a liberdade de expressão do Dr. Quintino Aires vai contra a responsabilidade civil que tem a TVI, enquanto emissora de conteúdos mediatizados”. “A grande questão é que [o comentador] está [neste espaço] a confundir uma opinião pessoal com uma opinião de um especialista e essa confusão passa para as pessoas, acaba por haver essa contaminação. ” Com duas agravantes: “Os programas da televisão em Portugal, apesar da massificação da Internet, continuam a ser aqueles que chegam a mais pessoas” e a maioria dos telespectadores deste programa — como se pode ver nos perfis das audiências — são pessoas com um rendimento médio familiar baixo, “que integram muito facilmente qualquer opinião sem distinguir o que é subjectivo daquilo que é científico”. E alerta: “Quando do outro lado estão pessoas sem esse conhecimento técnico, vão recolocar-se nessa posição, vão aderir a ela. A TVI tem que ter em conta que está a credibilizar informação subjectiva. ”“Este senhor está nesse programa como psicólogo e não como cidadão Quintino Aires. E é moralmente censurável estar a fazer propaganda de alguma discriminação. Está a debitar opiniões pessoais e a transpô-las para o grande público que depois mimetiza essas posições, essa discriminação”, insiste Carla Cruz sobre “o consultório aberto e gratuito que [Quintino Aires] tem na televisão”. “Muitas pessoas exacerbam o reconhecimento público de alguém pelo número de vezes que aparecem na televisão”, nota ainda a socióloga e professora universitária. “Ele vai revalidando diariamente o seu valor e a sua opinião que passa como a opinião de um especialista. ”Numa entrevista à revista Happy Woman, em 2014, Quintino Aires afirmava: “Fazer sexo com animais aumenta a ligação entre o ser humano e a natureza. Não devemos considerar a zoofilia uma perversão, mas sim uma celebração das nossas origens. No fundo somos todos animais. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nesse ano, no programa da Rádio Antena 3 A Hora do Sexo, criticou um concorrente de um reality show que não tinha iniciado a actividade sexual aos 26 anos. Qualificou a virgindade como problema de “saúde pública” e aconselhou os ouvintes a recusarem “estas patologias sociais”. Sobre isso, a revista Sábado perguntou-lhe numa entrevista em Agosto do ano passado: “Tem dados científicos ou é uma opinião sua?” O psicólogo respondeu: “Não, isso não fui eu que descobri. É um estudo publicado, tem uma base científica. ”Nestas várias ocasiões, em comentários publicados nas redes sociais, muitas pessoas se insurgiram contra o potencial efeito das opiniões de Quintino Aires na “fanatização da sociedade” e houve quem apontasse “o risco que [ele] representa para a saúde pública”. Foram lançadas petições online — no caso das declarações sobre a comunidade cigana e no da ligação da comunidade homossexual ao consumo de cannabis — nas quais os signatários consideram que “a reincidência destas práticas”, entre outros aspectos, “demonstra uma postura de impunidade que deve ser combatida”.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Do infortúnio à euforia em ano e meio: o que correu bem a Portugal
Do desporto à cultura, os portugueses têm coleccionado troféus. A economia mostra sinais de retoma. O turismo disparou. O país está melhor e recomenda-se. (...)

Do infortúnio à euforia em ano e meio: o que correu bem a Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento -0.16
DATA: 2017-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Do desporto à cultura, os portugueses têm coleccionado troféus. A economia mostra sinais de retoma. O turismo disparou. O país está melhor e recomenda-se.
TEXTO: No sábado, Salvador Sobral ganhou a Eurovisão, o Papa canonizou dois pastorinhos e o Benfica sagrou-se tetracampeão. Nem dois dias depois, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que o PIB tinha crescido 2, 8% no primeiro trimestre do ano. Portugal está melhor e recomenda-se. Aliás, "o que mais pode correr bem?", questionava João Miguel Tavares na sua coluna desta terça-feira. A resposta vinha no editorial de David Dinis: "Portugal está prestes a largar os défices excessivos. E só lhe falta, para fazer bingo, que uma agência de rating tire Portugal do lixo". Já Miguel Esteves Cardoso dizia a 4 de Março, antes da última leva de boas notícias e a propósito do aniversário do PÚBLICO, que "Portugal é o melhor naco da Europa". Compilámos aqui os momentos mais extraordinários do último ano e meio. Se nos tiver falhado algum, acrescente-o nos comentários. A "geringonça", palavra do ano de 2016, é uma solução política portuguesa que tem sido falada pela Europa. Surgiu como resposta à derrota do PS nas eleições legislativas e agrega quatro cores políticas de esquerda: o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e Os Verdes. A tradução do nome não é fácil, nem a criação do tipo de Governo. Em Janeiro de 2017, jovens curiosos do Partido Trabalhista holandês (PvdA) vieram a Portugal aprender com a negociação liderada por António Costa e estudar as políticas que gostariam de implementar nos Países Baixos. António Costa, em Abril deste ano, defendeu que o modelo da “geringonça” — em que o PS governa com base no seu programa e nos acordos escritos com partidos mais à esquerda — se deve manter mesmo que os socialistas venham a ganhar a maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. Em Fevereiro de 2017, a "geringonça" fazia manchete na edição europeia do Politico. “A esquerda europeia quer uma peça da contraption ['geringonça'] portuguesa” era título o artigo do jornalista Paul Ames. “Os socialistas europeus andam à procura de uma fórmula que inverta a sua decadência eleitoral e estão a folhear os dicionários para encontrarem uma tradução da palavra portuguesa geringonça”, começa por dizer o texto. Ainda recentemente o ex-secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, elogiou a solução governativa encontrada em Portugal. O socialista espanhol elogiou a “via portuguesa” e o “acordo vanguardista de esquerdas”, liderado pelo primeiro-ministro português. Mas não só de política é feita a fama portuguesa na imprensa internacional. “Portugal está no meio de algo notável”, começa assim a reportagem especial dedicada a Portugal na edição de Março da revista britânica Monocle, que considera que o país está a ultrapassar a crise, ao manter o comércio tradicional (como o fabrico de sapatos e cortiça) e, simultaneamente, ao inovar no campo da tecnologia, da energia e da mobilidade. António Guterres foi eleito como secretário-geral da ONU no processo mais transparente de sempre, o que lhe dá uma legitimidade comparativa extra. A apresentação da candidatura de António Guterres em Nova Iorque foi elogiada pela imprensa internacional, da BBC ao Guardian (. . . ), da revista Economist à agência EFE. O perfil do antigo primeiro-ministro português combina, segundo estes meios, a solidez das convicções com a capacidade de diálogo, consideradas necessárias para combater os perigos do tempo actual — o populismo, o racismo, a xenofobia. O mandato de Guterres em Nova Iorque começou a 1 de Janeiro de 2017. Economia portuguesa acelera ao ritmo mais forte da década e cresceu 1% durante o primeiro trimestre de 2017. Mário Centeno afirmou que esta aceleração da economia "ocorre num contexto onde o défice das contas públicas atingiu o valor mais baixo da democracia". O Governo sublinha que os valores do PIB superam as expectativas inscritas no Orçamento de Estado. Também no arranque de 2017, a taxa de desemprego desceu para 10, 1%. Os dados do INE mostram que no primeiro trimestre deste ano o desemprego ficou abaixo dos 10, 5% registados no trimestre anterior e dos 12, 4% verificados no período homólogo de 2016. O emprego público aumentou 1% no mesmo período. O Stade de France, em Paris, assistiu à mais épica noite do futebol nacional. Pela primeira vez na história, Portugal conquistou um título num grande torneio e é o novo campeão europeu. Éder foi o marcador do golo que deu o título europeu à selecção portuguesa. O feito alcançado em França seguiu-se a uma época em que o Benfica se sagrou tricampeão. Uma marca pouco comum nos últimos anos para a equipa da Luz, que um ano mais tarde, a 13 de Maio de 2017, conquistou mesmo o "tetra". Uma sequência inédita para os "encarnados" — algo que não é motivo de alegria para todos os portugueses, mas é pelo menos para a multidão que encheu o Marquês, em Lisboa, quatro anos consecutivos (e merece, por isso, estar nesta lista). Cristiano Ronaldo ganhou a quarta Bola de Ouro, troféu atribuído pela revista francesa France Football, e que serve para distinguir o melhor futebolista do mundo nesse ano. Vencedor em 2008, 2013 e 2014, o português do Real Madrid ganha o troféu relativo a 2016 e fica a apenas uma Bola de Ouro do jogador com mais distinções – o argentino Lionel Messi. Do relvado para os pavilhões, Ricardinho foi eleito pelo terceiro ano consecutivo o melhor jogador do mundo de futsal, prémio atribuído pelo site Futsal Planet. Leonardo Jardim foi eleito, na quarta-feira, treinador do ano referente à época de 2016/2017 em França. O galardão é atribuído pelo Sindicato de Jogadores Profissionais que distinguiu o percurso do técnico do Mónaco — que acabou por vencer a Ligue 1, o primeiro português a consegui-lo desde Artur Jorge (1993/94). Nelson Évora contrariou as expectativas e voltou a ganhar um título europeu indoor no triplo salto, na última jornada dos Campeonatos Europeus de Atletismo, que decorreram em Março. Também em Belgrado, Patrícia Mamona obteve a prata na prova do triplo salto, a sua terceira medalha europeia na disciplina, depois das conquistadas ao ar livre em 2012, em Helsínquia (prata), e em 2016, em Amesterdão (ouro). Em Abril, Jéssica Augusto venceu a maratona de Hamburgo, na Alemanha, garantindo mínimos para os Mundiais de 2017, que se vão disputar em Londres. Telma Monteiro conquistou a medalha de bronze na categoria de -57kg, após derrotar a romena Corina Caprioriu nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em Agosto de 2016. Aos 30 anos, a glória olímpica é algo que a judoca pode meter na pilha das coisas que já conquistou, juntamente com cinco títulos europeus e quatro medalhas de prata em Mundiais. Em cinco meses, Portugal foi apontado como um exemplo na Educação pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) por duas vezes. A primeira, em Dezembro de 2016, nos resultados do PISA, os alunos portugueses ficaram pela primeira vez acima da média europeia. O director do departamento de Educação da OCDE, Andreas Schleicher, sublinhou que Portugal teve “progressos incríveis” no programa internacional de avaliação de alunos. Na terça-feira, Portugal voltou a receber elogios no seguimento da iniciativa do Ministério da Educação de ouvir os alunos no âmbito da definição de um novo perfil de competências à saída da escolaridade obrigatória e da flexibilização curricular que está a ser preparada. No que diz respeito ao ensino superior, as faculdades de economia da Universidade Católica Portuguesa e da Universidade Nova de Lisboa estão entre as 50 melhores do mundo, segundo o ranking de programas de formação de executivos do jornal britânico Financial Times, publicado em Maio de 2017 (a Porto Business School também consta da lista, mas está um pouco mais abaixo, em 69. º). O Papa Francisco visitou Portugal, onde permaneceu apenas 23 horas. Em Fátima, canonizou Francisco e Jacinta Marto, que passaram de beatos a santos. O Papa encontrou-se com Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, logo à sua chegada à base aérea de Monte Real, e com o primeiro-ministro, António Costa, no dia 13, já no Santuário de Fátima. Chegou a dizer-se que era impossível e a música foi considerada pouco festivaleira. Mas Salvador Sobral de 27 anos venceu mesmo a Eurovisão, deixando de parte os adereços. O músico colou um país inteiro à televisão, para voltar a ver a Eurovisão, e foi recebido por milhares no aeroporto de Lisboa. No início de 2017, Portugal teve a maior representação de sempre no festival Eurosonic em Groningen, na Holanda. O evento serviu de montra para a música europeia e contou com a presença de 5 mil profissionais da indústria musical. Este ano teve Portugal como país em destaque. Os 23 nomes que fizeram parte da armada portuguesa que atuou na Holanda eram nomes tão diferentes como Glockenwise ou Gisela João, DJ Ride ou Noiserv, Marta Ren ou Rodrigo Leão, The Happy Mess ou Octapush, Batida ou Best Youth. Este acontecimento foi apenas mais um sintoma da cada vez maior presença internacional da música feita em Portugal. Nuno Lopes ganhou prémio de melhor actor em Veneza com São Jorge, filme de Marco Martins que retrata os anos de intervenção da troika. O actor interpreta um boxeur que, no cume da crise financeira em Portugal, trabalha para uma empresa que cobra dívidas difíceis. O Urso de Ouro de Berlim para melhor curta, em 2016, foi para Leonor Teles com a Balada de um Batráquio, uma curta-metragem de dez minutos sobre as superstições, os mal-entendidos e a xenofobia para com a etnia cigana. O mote é a colocação de estatuetas em forma de sapos de louça à porta das lojas para impedir a entrada de ciganos. Este ano, foi a curta-metragem Cidade Pequena a ser distinguida com o prémio Urso de Ouro no Festival de Berlim. O realizador, Diogo Costa Amarante, filma a relação entre uma mãe (Mara Costa Amarante) e um filho (Frederico Costa Amarante) que descobre na escola, aos seis anos, que as pessoas morrem quando o coração delas pára. De Locarno, João Pedro Rodrigues regressou com um prémio — Melhor Realizador, por O Ornitólogo, sucedendo nesta categoria a Pedro Costa, que ganhou na edição de 2014 por Cavalo Dinheiro. Há sete novos restaurantes com estrela Michelin em Portugal e mais dois que alcançam a segunda. A novidade foi anunciada em Novembro de 2016 em Girona, Catalunha. Os restaurantes Alma e Loco, em Lisboa, LAB by Sergi Arola, na Penha Longa, Sintra, Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, Antiqvvm, no Porto, e William, no Funchal, são as novidades absolutas no lote das estrelas do novo guia, aos quais se junta o regresso do L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, que tinha saído da lista na última edição. Os novos duas estrelas são o The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e o Il Gallo d’Oro, no Funchal. Três vezes nomeado. Três anos eleito. O Porto voltou vencer a competição de melhor destino europeu do ano, promovida pela European Consumers Choice, ficando em primeiro lugar na votação online. Os turistas gastam cada vez mais dinheiro no Porto e no Norte, segundo um estudo elaborado pelo IPDT — Instituto de Turismo, em parceria com o Turismo do Porto e Norte de Portugal (PNP) e o Aeroporto do Porto, o Perfil dos Turistas do Porto e Norte de Portugal durante o Inverno IATA 2016-2017 reporta um aumento de 222 euros no consumo médio por estada face ao mesmo período de 2015/16, altura em que a estada média se situou em seis noites. Portugal também tem a piscina mais bonita da Europa. O site European Best Destinations (EBD) elegeu a piscina do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, como a mais bonita da Europa. Num ranking com oito lugares está outra piscina situada em solo nacional: a do The Vine Hotel, no Funchal. Depois do título de melhor destino europeu, de melhor praia e de melhor piscina, os prémios do European Best Destinations (EBD) continuam. Desta vez, os Açores foram eleitos a melhor paisagem da Europa. O Vale do Douro ficou em 11. ª posição na lista. A Praia de Galapinhos foi considerada a melhor da Europa. O Prémio European Best Destiantions escolheu a praia de Setúbal, três meses depois da eleição do Porto como melhor destino europeu. A Web Summit decorreu em Novembro de 2016, em Portugal, ao ritmo do crescente ecossistema de startups. Um evento que contou com a presença de mais de 50 mil participantes de 166 países. A cimeira tecnológica que nasceu em 2010 na Irlanda, e que se realizou pela primeira vez em Portugal, vai manter-se em Lisboa até 2020 e poderá prolongar-se por mais dois anos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na cimeira da tecnologia estiveram 66 star-ups nacionais e 15 mil empresas estiveram presentes. E o resultado do ano passado é tão positivo que a organização da próxima edição decidiu ter mais espaço disponível e contará com um programa de voluntariado que vai pôr 500 jovens a acompanhar os mais importantes oradores do encontro. Texto editado por Hugo Torres
REFERÊNCIAS:
Um ano depois do #MeToo, como vai o feminismo português?
Patrícia Martins, Luísa Barateiro, Lúcia Furtado e Patrícia Vassallo e Silva acordam e vão dormir com o activismo na cabeça, na voz e nas mãos. As quatro mulheres não poupam críticas à justiça portuguesa e relembram que a luta feminista não se faz sem o combate à precariedade, ao racismo ou à LGBT-fobia. (...)

Um ano depois do #MeToo, como vai o feminismo português?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 21 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Patrícia Martins, Luísa Barateiro, Lúcia Furtado e Patrícia Vassallo e Silva acordam e vão dormir com o activismo na cabeça, na voz e nas mãos. As quatro mulheres não poupam críticas à justiça portuguesa e relembram que a luta feminista não se faz sem o combate à precariedade, ao racismo ou à LGBT-fobia.
TEXTO: Um ano depois de Harvey Weinstein ter sido publicamente acusado de violação, abuso e assédio sexual por dezenas de mulheres e de o #MeToo ter nascido, o feminismo inundou as redes sociais, vulgarizou-se nas mensagens de t-shirts e fez-se tema (ainda mais) recorrente na cultura pop. Mas por que caminhos anda a luta feminista em Portugal? Em busca dessa resposta, o P3 foi falar com quatro feministas portuguesas que estão envolvidas na luta pela igualdade há vários anos e que acordam e vão dormir com o activismo na cabeça, na voz e nas mãos. “O movimento feminista em Portugal teve muita força na altura da despenalização do aborto — ligou associações feministas, a partidos políticos, a activistas individuais. Depois, esteve um bocadinho adormecido. Mas com esta 'Primavera Feminista', com movimentos a surgir na Argentina, nos Estados Unidos, no Brasil, começamos a assistir a um rejuvenescimento da luta, que está a juntar muitas pessoas diferentes e a chamar muitos jovens. ” Quem o diz é Patrícia Martins, activista portuense de 30 anos e militante do Bloco de Esquerda, associada à Colectiva, à Marcha de Orgulho LGBT do Porto, mas também aos Precários Inflexíveis e ao Porto não se Vende. Olhando para os últimos anos, Patrícia não tem dúvidas de que a luta feminista ganhou um novo fôlego em 2017. Relembra a Marcha das Mulheres, que aconteceu no dia seguinte à tomada de posse de Donald Trump em seis cidades de Portugal, as centenas que saíram à rua em Maio na sequência de um presumível caso de abuso sexual num autocarro no Porto, ou até os protestos de Outubro contra um acórdão judicial do Tribunal de Relação do Porto, no qual se censurava uma mulher vítima de violência doméstica e se minimizava a culpa do agressor devido à relação extraconjugal da vítima. Já em 2018, um outro acórdão do mesmo tribunal motivou mais protestos. “A justiça em Portugal não está a acompanhar uma consciência social relativamente aos crimes de violência de género”, conclui a activista. Há já uma década que Patrícia se diz feminista. Mas nunca isolou esta luta de outras paralelas: “Não é possível concretizar o feminismo sem termos outras leis laborais de protecção dos direitos dos trabalhadores ou sem outras políticas públicas de combate ao racismo em Portugal. Porque num sistema precário, de exploração e opressão, são sempre as mulheres que vão ser as mais afectadas. ”Do activismo feminista deste ano, Patrícia destaca o primeiro Encontro de Mulheres, que reuniu 200 mulheres numa escola secundária do Porto para que elas pudessem falar, na primeira pessoa, sobre as discriminações que vivem no quotidiano, mais ou menos visíveis. De lá saiu um compromisso ambicioso: organizar uma Greve Feminista a 8 de Março de 2019, semelhante à greve que aconteceu na mesma altura neste ano, em Espanha, e que contou com a adesão de mais de cinco milhões de pessoas. A activista tem dado ainda um especial apoio às marchas de orgulho LGBT no interior — “contextos onde a visibilidade e a representatividade das pessoas LGBT ainda é mais complicada” —, organizando autocarros para levar gente do Porto a cidades como Vila Real, Bragança e, pela primeira vez neste domingo, 7 de Outubro, a Viseu. Com apenas 12 anos, Luísa Barateiro passou por “uma situação grave de assédio sexual e de stalking”. Dois anos mais tarde, quis ajudar as pessoas que passaram pelo mesmo e fez-se activista. Hoje, com apenas 18 anos, a estudante de Biologia pertence à organização do Festival Feminista e está ligada ao Movimento Democrático de Mulheres e à União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). No último sábado, 29 de Setembro, foi uma das que segurou cartazes a reivindicar “Fascismo Não”, na Praça Gomes Teixeira, no Porto, na mesma altura em que, no Rio de Janeiro, milhares de mulheres saíam à rua num protesto contra Jair Bolsonaro, candidato à presidência brasileira. “Estamos num momento histórico em que podemos ter um grande retrocesso caso pessoas como esta conquistem poder”, lamenta a feminista portuense. “Aquilo que ele diz sobre as mulheres, a visão que tem da sociedade e do mundo é muito preocupante. Está a oprimir as mulheres de uma forma. . . Pensávamos que já não íamos ter de passar por isto. ”Com o #MeToo, o movimento feminista ganhou visibilidade, reconhece. Mas, ao mesmo tempo, a sociedade polarizou-se. “O machista dos dias de hoje é mais orgulhoso, está mais consciente de o ser. Se antes tínhamos um pouco de desconhecimento — com comentários como ‘Eu luto pela igualdade, mas feminismo não, não vamos exagerar’ —, agora temos pessoas completamente radicalizadas”, explica ao P3. Por outro lado, há cada vez mais divisões na luta feminista, com grupos a fazerem “reivindicações cada vez mais concretas”, afirma: “Por vezes separamo-nos um pouco e esquecemo-nos que é a nossa união que dá resistência ao movimento. ” O Festival Feminista, criado em 2015 no Porto, quer contrariá-lo e virar os holofotes para temáticas mais camufladas dentro da luta feminista e para preocupações específicas de mulheres pobres, negras, ciganas, lésbicas, trans, entre outras, adianta Luísa. Olhando para o trabalho que ainda falta fazer, a feminista não tem dúvidas: “Falta atingir a igualdade plena”. “A sociedade está muito feminizada, já há muitas mulheres em cargos políticos, muitas mulheres a conseguirem a exprimir a sua opinião. Mas falta libertar a sociedade do patriarcado, mudar a forma como ela está organizada”, acrescenta. E a justiça é um dos sectores que precisa de uma reforma dos pés à cabeça: “Afinal, como é que vamos querer que um patrão respeite a trabalhadora se a justiça não respeita a mulher?”“Em qualquer evento feminista, ainda vemos um público maioritariamente branco. Isto acontece porque o feminismo mainstream ainda tem pouco em consideração o que está fora do contexto da mulher branca de classe média-alta e acaba por não conseguir reter mulheres de outras raças e etnias. ” Estas são palavras de Lúcia Furtado, feminista e contabilista de 36 anos, que, deparada com a pouca representatividade das mulheres negras no movimento feminista português, decidiu fundar – em conjunto com outras mulheres – a FEMAFRO. Foi em 2016, após a organização do 1. º Encontro de Feministas Negras, em Lisboa, que a associação se oficializou. Mais de 100 mulheres negras, africanas e afro-descendentes juntaram-se para discutir e partilhar experiências sobre o racismo e o feminismo. Isto porque a luta feminista “não se faz sem a intersecção”, explica. “As questões de género são importantes, mas não são as únicas a afectar as mulheres. A questão da classe, da orientação sexual, da raça – todas as opressões acabam por se fundir. E, se queremos combater algo, não nos podemos centrar somente numa questão, é preciso trabalhá-las em conjunto. ”A 15 de Setembro, cerca de 2500 pessoas responderam ao apelo de mais de 60 organizações e juntaram-se no Largo de São Domingos, em Lisboa, numa mobilização contra o racismo. Lúcia esteve lá. Aliás, a lisboeta chegou mesmo a tirar férias “para estar completamente concentrada na organização da mobilização”, que partiu de reuniões de um grupo de mulheres negras “com vontade de fazer algo relativamente ao julgamento dos polícias de uma esquadra de Alfragide”, acusados de tortura e racismo a seis jovens da Cova da Moura, adianta. Ao pensar na evolução do movimento feminista no país, Lúcia — também activista da Djass – Associação de Afrodescendentes — destaca a “pluralidade de movimentos” que nasceram, mas também a “vaga de jovens que tem vindo do Brasil” nos últimos anos, para estudar ou trabalhar: “Eles têm dado tanto ao movimento negro como ao movimento feminista um boost muito grande, porque têm um longo historial de activismo e militância em várias áreas que nós não temos. ” Mas ainda há muito trabalho pela frente, ao nível da “desconstrução pessoal de preconceitos”. “Tem de haver uma maior capacidade de ouvir o outro e de se pôr no lugar do outro”, acredita. “Nem sempre a nossa função é falar. Por vezes é sentar, ouvir e apoiar. ”E isso passa também pela educação, conclui Lúcia. A pretexto da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), no último ano lectivo, a FEMAFRO, com o apoio da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, esteve nas escolas Gustave Eiffel (Amadora) e Gil Vicente (Lisboa) para discutir temas como a igualdade de género, discriminação racial, xenofobia e discurso de ódio. E, ainda neste ano, será publicado um conteúdo audiovisual resultante da iniciativa, pensado e produzido pelos alunos. Patrícia Vassallo e Silva, de 33 anos, iniciou-se no mundo do feminismo quando começou “a sentir machismo na pele”. Electricista de profissão, desde a formação que começou a ter “problemas de assédio”. Foi a partir daí que começou a procurar associações, a ir a encontros. Pouco depois, em 2016, levantou-se o “Por todas elas”, um movimento brasileiro que ganhou força após a violação colectiva de uma adolescente, no Rio de Janeiro. Do outro lado do oceano, Patrícia sentiu vontade de sair à rua. Como viu que ninguém dava o primeiro passo na organização de uma manifestação, decidiu avançar. E assim se fundou o colectivo feminista “Por Todas Nós”, a que actualmente chegam “pessoas que sofreram assédio, violações e que, com a ajuda do activismo, conseguem lidar melhor com as suas experiências”, conta a feminista lisboeta. Hoje, fica feliz por ver “cada vez mais jovens a aparecerem nas reuniões” feministas. “Lembro-me de que quando comecei, só via gente dos 40 e tal anos para cima. Nessa altura pensava ‘Onde é que estão as pessoas da minha idade?’. E isso mudou imenso, tem sido uma grande conquista. As activistas mais velhas já estão muito mais ligadas às mais novas e vice-versa. ”Quando se pergunta a Patrícia onde é que o país continua a falhar, a activista traz a resposta na ponta da língua: “É na justiça. ” “A sociedade tem de mudar. E já tem mudado, ao nível da sensibilidade. Mas enquanto a justiça apoiar o violador, isto não vai para a frente. Não estamos protegidas”, comenta. E como se faz isto? “A mulher tem de mostrar que está atenta a estas situações, que não lhe são indiferentes. E se está indignada, tem de mostrar que o está. Sem medos. É ir para a rua, para o espaço público. Mas também falar dentro da sua casa. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Janeiro deste ano, em pleno protesto das trabalhadoras da fábrica da antiga Triumph, Patrícia estava lá. O Por Todas Nós comprou mantimentos, fraldas para bebés e acompanhou as mulheres na vigília. A activista confessa que ainda “fica arrepiada” só de pensar nisso: “Nós chegávamos lá para dar apoio, mas sem respostas. E elas diziam-nos que isso era suficiente, que precisavam de pessoas que acreditassem nelas e na força delas. Diziam que aquilo até podia não dar em nada, porque iam para o desemprego, mas que ao menos passavam a mensagem às activistas. Mas as activistas eram elas. ”Desde o início do Verão que o colectivo fundado por Patrícia tem trabalhado com a Câmara Municipal de Lisboa, para discutir o que se pode mudar no município ao nível das questões LGBT. Para além disso, a feminista também está envolvida na preparação de uma marcha contra todo o tipo de violência na mulher, marcada para 25 de Novembro, em Lisboa. Sobre o #MeToo, Patrícia resume: "Foi um movimento fantástico. Mas o que eu pensei quando ele surgiu foi 'Espero mesmo que abra portas a outro tipo de mulheres também'. Quero que as mulheres de Hollywood sintam força para denunciar, mas também o quero para mulheres de classe baixa, que não têm voz na sociedade. "
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Homem armado ameaça comunidade imigrante da cidade sueca de Malmo
Os 30 por cento de habitantes da cidade sueca de Malmo com origem no estrangeiro parecem estar a ser o alvo de um homem armado que durante este último ano foi referenciado pela polícia. (...)

Homem armado ameaça comunidade imigrante da cidade sueca de Malmo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-10-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os 30 por cento de habitantes da cidade sueca de Malmo com origem no estrangeiro parecem estar a ser o alvo de um homem armado que durante este último ano foi referenciado pela polícia.
TEXTO: As autoridades estão a investigar quem é que será o indivíduo, ou eventualmente o grupo, na origem de 18 incidentes de que foram vítimas pessoas pertencentes a minorias étnicas, as quais na Suécia tanto englobam ciganos como turcos, finlandeses, bósnios, croatas e sérvios. Existe uma tensão crescente quanto à política imigratória, num país onde um partido que é contra os estrangeiros, o Sverigedemokraterna (Democratas da Suécia), obteve o mês passado votos suficientes para entrar no Parlamento. As primeiras vítimas referenciadas, em Outubro do ano passado, foram uma mulher de 20 anos e um homem de 21 que se encontravam sentados num automóvel, não tendo ela conseguido sobreviver aos tiros que levou. Os elementos da minoria étnica da cidade de Malmo, no Sul do país, frente à Dinamarca, já foram avisados de que devem tomar precauções especiais, depois de mais duas mulheres terem sido alvejadas quinta-feira à noite quando se encontravam na cozinha. Dias antes, dois negros haviam sido atingidos a tiro nas costas quando aguardavam autocarros, em dois incidentes separados, mas que a polícia concluiu ter envolvido a mesma arma de elevado calibre. Só nesta última semana é que a polícia sueca começou a seguir a pista de grupos de extrema-direita poderem ter algo a ver com estes crimes de carácter racista que se estão a acumular. As autoridades procuram muito em especial um homem de 20 a 40 anos que testemunhas viram a fugir dos locais de alguns dos incidentes deste tipo. E Tahmoures Yassami, dirigente da Associação Irano-Sueca da cidade de Malmo, afirmou ao site de língua inglesa “The Local” que muitas famílias imigrantes se encontram aterrorizadas. Erik Ullenhag, o novo ministro da Integração, já se deslocou à cidade, tendo observado ser “ainda muito cedo para se tirarem quaisquer conclusões políticas”. Só no bairro de Rosengård, erguido nas décadas de 1960 e 1970, 86 por cento dos cerca de 22. 000 habitantes são imigrantes. E o aglomerado urbano de Malmo é o que mais estrangeiros tem, em toda a Suécia, a começar pelos naturais dos países que fizeram parte da ex-Jugoslávia e pelos iraquianos. Mas também há polacos, iranianos, libaneses, húngaros e romenos.
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Palavras-chave mulher homem minoria mulheres racista
Itália ameaça rever financiamento à UE se nada for feito quanto aos migrantes
Salvini, ministro do Interior de Itália e líder do partido de extrema-direita Liga, pede à Europa que "defenda as fronteiras" dos migrantes vindos de África. (...)

Itália ameaça rever financiamento à UE se nada for feito quanto aos migrantes
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Ciganos Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Salvini, ministro do Interior de Itália e líder do partido de extrema-direita Liga, pede à Europa que "defenda as fronteiras" dos migrantes vindos de África.
TEXTO: O ministro do Interior italiano e líder do partido de extrema-direita Liga, Matteo Salvini, pediu à Europa que “defenda as fronteiras” dos migrantes que chegam do continente africano, ameaçando rever o financiamento à União Europeia se nada for feito, refere o diário britânico The Guardian nesta quinta-feira. “O objectivo é proteger a fronteira externa, não é partilhar o problema com os outros países europeus, mas sim resolver o problema na origem”, afirma Salvini. “Se alguém na União Europeia pensa que a Itália deve ser um ponto de chegada e um campo de refugiados, estão enganados”, diz, acusando “traficantes humanos e bons samaritanos” de serem os responsáveis pelas mortes no Mediterrâneo. Matteo Salvini tinha anunciado uma campanha anti-refugiados no início de Junho. “Ou nos dão uma mão para controlar as fronteiras e pôr em segurança o nosso país, ou teremos de escolher outras vias”, exigia, dirigindo-se à União Europeia, enquanto anunciava o encerramento dos portos italianos aos barcos das organizações não governamentais que realizam operações de socorro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O tema da imigração é um dos que mais mobilizam a base eleitoral da Liga; num comício, Salvini afirmava: “Acabou o recreio para os clandestinos. Façam as malas e partam. ”Mais tarde, Salvini desviou as atenções do tema dos migrantes para os ciganos no país, mostrando vontade de fazer um recenseamento de todos os ciganos em solo italiano. “Os estrangeiros em situação irregular serão expulsos”, dizia em entrevista à televisão regional TeleLombardia. “Quanto aos ciganos italianos, infelizmente teremos de ficar com eles”, prosseguiu, descrevendo a situação como “um caos”. “Temos de ver quem são, quantos são os ciganos. Fazer um registo civil. ” Para um senador do Partido Democrata, Franco Mirabelli, a ideia evocava “a limpeza étnica”. Já nesta quarta-feira, o ministro do Interior considerava “repugnante” a campanha publicitária da Benetton, em que são mostradas duas fotografias do resgate dos migrantes a bordo da embarcação Aquarius — a entrada destes migrantes tinha sido negada pelo Governo italiano e pelo Governo de Malta, até que Espanha os acolheu.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Orbán vai suceder a Orbán na Hungria, após quatro anos de conflito com a UE
A oposição de esquerda uniu-se, quase em cima das eleições, para tentar fazer frente ao partido do primeiro-ministro que foi alvo de tantas críticas da UE. Mas isso de pouco deve adiantar. A extrema-direita ganha terreno. (...)

Orbán vai suceder a Orbán na Hungria, após quatro anos de conflito com a UE
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501205158/http://www.publico.pt/1631131
SUMÁRIO: A oposição de esquerda uniu-se, quase em cima das eleições, para tentar fazer frente ao partido do primeiro-ministro que foi alvo de tantas críticas da UE. Mas isso de pouco deve adiantar. A extrema-direita ganha terreno.
TEXTO: Após quatro anos de sucessivos conflitos com a União Europeia do governo de Viktor Orbán, quem vai ganhar as eleições deste domingo na Hungria? Viktor Orbán, pois claro, e é provável que volte a ter uma maioria absoluta, ou mesmo de dois terços, fruto das alterações da lei eleitoral e da falta de entusiasmo dos eleitores pelas alternativas políticas. Mas também por causa da sociedade que o primeiro-ministro refez a seu gosto, e que se assemelha cada vez menos a uma democracia normal, como diz o ex-chefe de Governo Gordon Bajnai. “Estas eleições serão livres no sentido em que se poderá colocar o voto secreto numa urna, mas não serão justas”, diz Bajnai, que liderou um Executivo tecnocrata de transição, entre Abril de 2009 e 29 de Maio de 2010, após o primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsány ter anunciado a sua demissão. “Orbán está a tentar construir um país pós-soviético, seguindo o modelo das repúblicas da Ásia Central, da Ucrânia ou da Bielorússia. A Hungria está a caminho de se tornar uma democracia altamente danificada”, disse à revista The Economist. O Parlamento Europeu aprovou em Julho um relatório do eurodeputado português Rui Tavares que censurava as medidas mais controversas tomadas pelo populista Orbán e recomendava 30 iniciativas para que se ajustasse às normas, comunitárias, citicando as mais de 500 alterações efectuadas à lei húngara logo no primeiro ano de governação, que tiveram efeito sobre a justiça, as liberdades públicas, religiosa e de imprensa. Propunha também medidas para a União Europeia lutar contra futuras ameças ao Estado de direito no espaço dos Vinte e Oito. Mas, contra ventos e marés, Orbán mantém-se firme. Já governação do economista Bajnai deixou boas recordações, pelo contraste em relação a Gyurcsány. A impopularidade do primeiro-ministro socialista era enorme, porque tinha enviado tropas de choque contra os protestos violentos em Budapeste depois de terem sido tornadas públicas gravações de uma reunião do Partido Socialista Húngaro (MSZP), em que dizia ser “óbvio que andámos a mentir durante o último ano e meio a dois anos”. Bajnai esteve vários anos nos Estados Unidos, e quando voltou fundou um partido político – o Juntos 2014, centrista. Mas não conseguiu mobilizar a oposição. No entanto, após muitas negociações, que na verdade duraram os quatro anos de mandato de Viktor Orbán, os principais partidos da oposição conseguiram formar uma aliança eleitoral contra o Fidesz, de Orbán, que tem uma sólida base eleitoral fora de Budapeste. Ao Juntos 2014 de Bajnai uniram-se o Partido Socialista, a Coligação Democrática de Gyurcsány, o partido verde-liberal LMP (cuja sigla significa, em húngaro, a política pode ser diferente) e o Partido Liberal. O líder formal da aliança é o socialista Attila Mesterhazy. Mas só em Janeiro conseguiram anunciar esta aliança, o que lhes deu muito pouco tempo para passar a mensagem de oposição unida. O Instituto de sondagens Median dá-lhe 23% das intenções de voto, enquanto o Fidesz deverá ter 47%. Outras sondagens dão-lhe apenas 36% – mas ninguém duvida de que continuará a dominar o Parlamento, pois a nova lei eleitoral, dizem os especialistas, favorece este partido. A reforma da lei eleitoral era necessária: a antiga era ainda uma amálgama do sistema comunista com algumas actualizações. Nenhum governo tinha conseguido a maioria de dois terços necessária para fazer as mudanças. Mas a forma como foi feita suscita preocupações. O número de deputados foi reduzido de 386 para 199, suprimiu-se a segunda volta, e os círculos eleitorais foram redesenhados de uma forma que deverá favorecer o Fidesz. A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) manifestou-se preocupada. Com menos de 50% dos votos, Viktor Orbán pode facilmente obter uma maioria de dois terços no Parlamento, sublinha a especialista em sistemas constitucionais da Universidade de Princeton (EUA) Kim Lane Scheppele, que tem escrito muito sobre a Hungria no blogue do economista Paul Krugman no New York Times. Jobbik limpa imagemO terceiro elemento deste jogo é o partido de extrema-direita, anti-semita e anti-ciganos Jobbik, a quem as sondagens atribuem um máximo de 21% dos votos (em 2010, tinham tido 17%), graças a uma estratégia de limpeza da sua imagem, como a empreendida em França pela Frente Nacional, de Marine Le Pen. Menos discursos racistas, mais sorrisos: este é o lema não oficial da campanha do partido liderado por Gabor Vona. Famílias, jovens e estudantes são os seus alvos privilegiados. “Há cerca de um ano, decidiram refazer a sua imagem, afastar-se do extremismo, para sobreviverem e progredirem”, explicou à AFP Kristof Domina, presidente do Instituto Athena, um observatório dos movimentos extremistas na Hungria.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA OSCE