Discursos anti-ciganos em França provocam ameaça de sanções de Bruxelas
Ministro do Interior, Manuel Valls, disse que “a maioria dos Roma devia ser reconduzida à fronteira”. (...)

Discursos anti-ciganos em França provocam ameaça de sanções de Bruxelas
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-09-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ministro do Interior, Manuel Valls, disse que “a maioria dos Roma devia ser reconduzida à fronteira”.
TEXTO: A Comissão Europeia voltou a ameaçar a França com sanções, lembrando que as pessoas de etnia cigana, cidadãos europeus, têm o direito a circular livremente em todos os Estados-membros da União Europeia. “A livre circulação, como a liberdade de residir num outro país, são direitos fundamentais […]. Se esses princípios inscritos nos tratados não são respeitados, a comissão utilizará todos os meios à sua disposição para sancionar essas violações”, avisou nesta quarta-feira o porta-voz da Comissão, Olivier Bailly. A polémica sobre os Roma da Roménia e da Bulgária está ao rubro em França, alimentada pelas declarações do ministro socialista do Interior, Manuel Valls, sobre a sua impossível integração na sociedade gaulesa e a sua inevitável expulsão. “A maioria dos Roma devia ser reconduzida à fronteira”, voltou hoje a dizer Valls em declarações à televisão BFMTV. “É ilusório pensar que conseguimos resolver o problema unicamente através da inserção social”, tinha dito o ministro na terça-feira, evocando os seus “modos de vida extremamente diferentes dos nossos e que entram evidentemente em confronto” com os dos franceses. “É na Roménia e na Bulgária que, em certa medida, os projectos de inserção devem ser desenvolvidos”, sugeriu o ministro. “Há eleições no ar”Em ambiente pré-eleitoral para as autárquicas de Março de 2014, o tema dos ciganos entrou no debate, como, aliás, acontece recorrentemente em França em véspera de eleições. O caso mais polémico a chegar aos jornais foi o do presidente da câmara de Croix (norte, perto de Lille), Régis Cauche, da UMP (direita), que disse que “apoiaria” um habitante da sua cidade que cometesse “o irreparável” em nome da “legítima defesa” contra um cigano. A totalidade da classe política em Paris condenou as declarações de Cauche, que o deputado da UMP Sébastien Huygue classificou de “apelo ao ódio racial”. Mas os habitantes de Croix apoiaram o seu presidente da câmara: “Os ciganos roubam por todo o lado”, resumiu Marie, uma reformada, ao jornal Libération. O acumular de declarações mais ou menos inflamadas sobre os Roma, mas principalmente as afirmações do ministro Valls, levaram Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia, a arriscar uma justificação: “Há eleições no ar em França. ”“De cada vez que não querem falar das coisas importantes como o orçamento ou a dívida pública, falam dos Roma”, acusou Reading. A também Comissária da Justiça lembrou os “50 mil milhões” que a União Europeia pôs à disposição dos Estados-membros para a inserção dos Roma. “Acontece que o dinheiro não chega lá, às cidades, às câmaras municipais, onde há instalações ilegais que deviam ser desmanteladas. ”Cinco mil expulsões este anoEm Julho, foi o ex-ministro das questões europeias de Nicolas Sarkozy, Pierre Lellouche (UMP), que acusou a Roménia de desbaratar os fundos europeus para a inserção dos Roma, qualificando o país de “Estado-ladrão” numa carta ao embaixador de Bucareste em França. Lellouche denunciou as “condições perfeitamente indignas” em que vivem os Roma, “apesar dos milhões de euros desembolsados pela Europa para ajudar a Roménia a integrar correctamente” esta minoria étnica. Em França, os ciganos “continuam a ser vítimas de expulsões forçadas” dos seus acampamentos, apesar de uma decisão interministerial de Agosto de 2012, e essas expulsões estão a aumentar, denunciou também nesta quarta-feira a Amnistia InternacionalNo país vivem entre 15 mil a 20 mil Roma, e cerca de cinco mil, segundo associações citadas pelo Libération, foram expulsos durante o segundo trimestre de 2013.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Altas temperaturas provocaram desmaios em crianças e idosos na comunidade cigana de Beja
Sem água potável nem a sombra de uma árvore, cerca de uma centena de pessoas enfrentam desafios acrescidos perante o calor extremo dos últimos dias. (...)

Altas temperaturas provocaram desmaios em crianças e idosos na comunidade cigana de Beja
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.16
DATA: 2018-08-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sem água potável nem a sombra de uma árvore, cerca de uma centena de pessoas enfrentam desafios acrescidos perante o calor extremo dos últimos dias.
TEXTO: Mais de uma centena de pessoas, que habitam barracas e tendas e que não têm acesso a água potável, vivem assustadas de que um dia o fogo se propague no mato que os rodeia. Já se conhecia a dureza do dia-a-dia da comunidade cigana que vive no bairro das Pedreiras, em Beja, onde nos invernos rigorosos o frio afecta sobretudo as crianças e a chuva e o vento destrói as tendas e barracas cobertas com lonas, plásticos e chapas metálicas. Quando a secretária de Estado da Habitação Ana Pinho, acompanhada de Rosa Monteiro, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, do alto-comissário para as Migrações, Pedro Calado e do presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, se deslocaram ao bairro no final de Janeiro, o panorama era desolador: as crianças estavam mal agasalhadas, eram acossadas por tosses persistentes e os pais reclamavam por uma habitação que os libertasse de vidas inteiras a viver debaixo de toldos. Faltava conhecer o quotidiano da comunidade durante o período estival. Com a chegada do calor extremo, a realidade que se observa no referido bairro “é de penar”. Quando o PÚBLICO se deslocou ao local pelas 11h deste domingo, com a indicação de que crianças e pessoas mais velhas desmaiavam por não terem acesso à água, a temperatura ambiente era mais uma vez “insuportável”. No espaço onde vivem mais de cem pessoas, na sua maioria crianças e idosos, em tendas e barracas rodeadas de montes de entulhos deixados pelos serviços municipais, que tem nas proximidades o seu parque de materiais, não há uma única árvore. O mato seco e denso rodeia e intercala o espaço entre as barracas e as tendas. O ponto de água que abastecia estas famílias encontra-se a quase dois quilómetros de distância, na fonte de Suratesta, mas tem uma placa a dizer que estava imprópria para consumo humano. Entretanto, dizem os que dela se serviam, “foi secando e ficando verde e deixamos de lá ir”. Na última reunião do executivo municipal de Beja, realizada na passada quarta-feira, o PÚBLICO alertou o presidente da câmara, Paulo Arsénio, da ausência de acesso a água potável, que patenteava um evidente risco de saúde pública. Estava por cumprir a promessa feita pelo vereador Luís Miranda, quando no início de Junho se comprometeu perante dezenas de famílias ciganas que se tinham deslocado aos Paços do Concelho, reclamando o direito a habitação e, no imediato, o acesso à rede eléctrica e a um ponto de água. Decorridos dois meses, Luís Miranda adiantou ao PÚBLICO que estava a ser “muito difícil” levar a água à zona das barracas, escusando-se a entrar em mais pormenores, acrescentando apenas que a promessa que fez não era em nome da câmara mas “em nome pessoal”. Paulo Arsénio escusou-se a fazer comentários à situação relatada. Na manhã de hoje, a falta de água não era compensada com a colocação na passada sexta-feira de uma torneira a cerca de uma centena de metros do aglomerado de barracas. A “fonte” revelou-se inadequada e insuficiente para satisfazer as necessidades das pessoas. Por estar colocada junto à zona onde a Câmara de Beja construiu em 2006, um bairro com 50 habitações para alojar cerca de 250 pessoas de origem cigana e que hoje acolhe o dobro, o novo ponto de água é disputado para todo o tipo de necessidades. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ofélia Barão ainda conseguiu lavar a roupa da família, e encher a pequena banheira insuflável para “meter os dois filhos lá dentro” para os refrescar. A disputa do novo ponto de água passou a servir para "matar o calor”. Adultos, crianças e jovens passaram a tomar banho vestidos e calçados. “É a única maneira da gente fugir por um bocadinho ao calor”, explicaram ao PÚBLICO. A família de Júlio Martins conta como a falta de água e as temperaturas muito elevadas acabaram por matar à sede as galinhas que tinham. "Até o cavalo lhe secou a boca”. E para o animal não morrer à sede, dois jovens da família foram buscar água numa pequena banheira para bebés. “O bicho despachou-a num instante”, observou uma das netas de Júlio Martins. Contudo, o problema maior está na frequência de desmaios em crianças e idosos. "Veio-lhe o desmaio e depois vimos que não tinha água na garrafa”, disse uma filha de Júlio Martins, apontando para uma idosa que se arrastava à procura de sombra, afectada por um problema de diabetes. Mal conseguia falar. “Os bebés ficam escaldando”, acrescentam os relatos. “Nem para a assear a casa temos água”, acrescenta uma jovem mãe. Ofélia Barão diz que o mais a assusta são as cobras, mas sobretudo o medo de um incêndio. Em redor das barracas, e até entre elas, o mato denso e seco apresentam um risco eminente de incêndio que a comunidade cigana tenta acautelar. “Se uma chama chega às nossas casas, morremos todos assados” receia Ofélia Barão.
REFERÊNCIAS:
Comunidade cigana denuncia discriminação e ameaça fazer uma concentração nacional
A Câmara de Beja construiu um muro à volta do bairro, que ficou transformado num gueto. Uma ONG europeia fala em segregação e critica as condições "deploráveis" daquele espaço. (...)

Comunidade cigana denuncia discriminação e ameaça fazer uma concentração nacional
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Câmara de Beja construiu um muro à volta do bairro, que ficou transformado num gueto. Uma ONG europeia fala em segregação e critica as condições "deploráveis" daquele espaço.
TEXTO: As condições "deploráveis" em que moram as famílias ciganas que, desde 2006, vivem no Bairro das Pedreiras, em Beja, deram origem a uma queixa contra Portugal. A denúncia foi apresentada em Abril, pelo European Roma Rights Centre (ERRC) junto do Comité Europeu dos Direitos Sociais (CEDS). A União Romani Portuguesa, que representa as comunidades ciganas, ameaça com uma concentração nacional às portas de Beja, caso a autarquia não resolva vários problemas, a começar por um muro construído pela câmara e que acaba por isolar o bairro do resto. As autoridades nacionais são acusadas de casos de segregação, da baixa qualidade das habitações e da falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação. Mais grave ainda é a construção de um muro de 2, 5 metros de altura que, num dos lados, esconde este bairro marcado pela polémica desde que, em 2005, foi apresentado como projecto. O muro, afirma o ERRC - uma organização não-governamental que combate a discriminação de comunidades ciganas na Europa - é um claro exemplo de "exclusão e discriminação social". A queixa feita em Abril pode chegar ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. "Diga lá se isto não parece uma cadeia", denuncia um dos residentes à reportagem do PÚBLICO. "Tantos anos a lutar contra o muro de Berlim e temos um muro em Beja", acentua o presidente da União Romani, Vítor Marques, criticando a forma como se tenta "isolar uma população" como se "sofresse de lepra ou de outra doença contagiosa". O projecto de "reinserção social" dinamizado pela Câmara de Beja, para instalar 53 famílias ciganas que residiam no bairro de lata nos arredores daquela cidade, não cumpriu o objectivo de "integrar aquelas famílias sem ofender a sua cultura", observa Vítor Marques. "Estamos perante um caso evidente em que soluções remediadas degeneraram em situações xenófobas. " "Queremos evitar a todo o custo o conflito social, quando sabemos que são outros a promovê-lo". Mas "se as coisas não arrepiarem caminho faremos uma concentração nacional em Beja da comunidade cigana", adverte. As famílias que ali vivem foram instaladas nas traseiras do parque de materiais da Câmara de Beja e junto ao canil/gatil municipal. O amor e os ratos"As reclamações são mais que muitas, mas a câmara não lhe dá sequência" queixa-se Armando Marques, pai de nove filhos e que tem ainda a seu cargo a sogra com 90 anos. Outro problema grave é que "os ratos são tantos que davam para encher um camião", insurge-se, agastada, Nazaré Reis, enquanto o PÚBLICO visita a sua habitação, exígua para uma família com cinco crianças. No único quarto que a casa dispõe, amontoam-se as "camas" - um eufemismo para os cobertores que, à noite, são estendidos no chão. As 53 habitações do bairro onde vivem cerca de 400 pessoas têm todas a mesma configuração e o mesmo número de divisões: um quarto, uma casa de banho e uma sala. É neste espaço com cerca de 50 metros quadrados de área que se amontoam agregados familiares com oito, nove e até 12 elementos. Em Maio, a câmara ordenou o desmantelamento, com apoio das forças policiais, de pequenos anexos e barracas construídos pelos moradores para alojar pessoas e animais. Armando Marques já foi obrigado a facultar o quarto a um dos filhos que casou recentemente, e colocou a sogra a dormir numa tenda que ergueu junto à residência, contrariando desta forma a orientação do município que proíbe este tipo de soluções, "Não tenho outra solução. Jogamos os moços fora?", pergunta, antes de um último desabafo: "As condições a que nos obrigam a viver não nos deixam ter intimidade. Para fazer amor com a mulher tenho de ir para o campo. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos cultura exclusão campo concentração tribunal educação mulher homem comunidade social doença discriminação canil
Relatório do Parlamento propõe estudar quotas em universidades para negros e ciganos
Documento preliminar redigido pela deputada do PS Catarina Marcelino resulta de colaboração de todos os partidos. Foram ouvidas mais de 30 entidades e pessoas. Vieira da Silva e Jorge Lacão sublinham necessidade de o Estado intervir. (...)

Relatório do Parlamento propõe estudar quotas em universidades para negros e ciganos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Documento preliminar redigido pela deputada do PS Catarina Marcelino resulta de colaboração de todos os partidos. Foram ouvidas mais de 30 entidades e pessoas. Vieira da Silva e Jorge Lacão sublinham necessidade de o Estado intervir.
TEXTO: O documento é preliminar e a sua relatora, a deputada do PS Catarina Marcelino, ainda irá incorporar sugestões, mas para já deixa em cima da mesa propostas como a criação de quotas nas universidades para afrodescendentes e ciganos. Diz o documento: “Desenvolver um estudo sobre a integração de jovens afrodescendentes e ciganos no Ensino Universitário, com vista a avaliar possibilidades de integração de medidas de acção positiva. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Quatro neonazis condenados na Hungria por crimes contra ciganos
Seis assassínios cometidos durante 13 meses, enquanto a polícia atrasava as investigações. (...)

Quatro neonazis condenados na Hungria por crimes contra ciganos
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DATA: 2013-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Seis assassínios cometidos durante 13 meses, enquanto a polícia atrasava as investigações.
TEXTO: Os quatro acusados levaram a cabo os ataques, planeados com minúcia, durante 13 meses, entre 2008 e 2009. Mataram seis ciganos, deixaram outros feridos, incendiaram casas, semearam o medo na comunidade. Esta terça-feira foram condenados por um tribunal de Budapeste: três a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, o quarto a 13 anos. O caso levou a acusações à polícia húngara, que não conseguiu proteger uma minoria (cerca de 7% numa população de 10 milhões) da violência, quando já sofre de discriminação e frequentemente vive na pobreza. O juiz Laszlo Miszori disse que os criminosos se viam a si mesmo como vigilantes, impondo uma “solução de tipo étnico”, como retribuição pelos crimes cometidos por ciganos. “Para levar a cabo os seus planos primeiro compraram armas, depois começaram a ‘reinstalar a ordem’, querendo dizer ataques armados em locais onde ciganos tivessem cometido crimes contra húngaros”, disse o juiz. Num dos ataques, vários homens incendiaram uma casa perto da aldeia de Tatarszentgyorgy, numa floresta a 30 minutos de Budapeste. Quando os habitantes da casa fugiram, foram atingidos a tiro. Robert Csorba, de 29 anos, e o seu filho de quatro anos, foram mortos. Uma das filhas ficou ferida com gravidade. A mãe de Robert, Erzsebet Csorba, contou à Reuters na véspera da leitura do veredicto (que pode ser modificado em recurso) que não tinha esperança de uma mudança para melhor da tensão entre os ciganos e os húngaros. “É tal como há quatro anos”, disse, sentada na sua casa, ao lado das paredes que eram a casa em que o seu filho morreu. Ainda há estranhos a andar pelos bosques à noite, rodeando a sua casa. As autoridades demoraram a investigar o caso, ainda que tivesse havido já ataques anteriores. Só seis meses depois, com o assassínio de uma jovem cigana, é que os criminosos foram detidos. Os ciganos foram especialmente atingidos pelo fim do comunismo e da indústria pesada na Hungria. São uma comunidade com altas taxas de desemprego e analfabetismo. Muitos húngaros dizem que vivem à base de pequeno crime, subsídios do Estado, que têm mais filhos do que os que conseguem suportar. A hostilidade foi captada pelo partido de extrema-direita Jobbik, que em 2010 se tornoun o terceiro partido mais votado, com 17% nas legislativas. Dois dos assassinos tinham estado ligados a um grupo de vigilantes relacionado com o Jobbik, a Guarda Húngara – mas aparentemente decidiram que este era pouco eficaz e decidiram lançar-se nos seus próprios ataques.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens violência filho tribunal prisão comunidade medo minoria pobreza desemprego assassínio discriminação
Eurodeputado do PS chama "cigana" e "não só pelo aspecto" a deputada socialista
PS de Bruxelas diz que Manuel dos Santos não falou enquanto eurodeputado. O socialista acusou Luísa Salgueiro de "pagar os favores" a António Costa e Manuel Pizarro com votos junto aos "centralistas". Deputados do PS indignam-se. (...)

Eurodeputado do PS chama "cigana" e "não só pelo aspecto" a deputada socialista
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: PS de Bruxelas diz que Manuel dos Santos não falou enquanto eurodeputado. O socialista acusou Luísa Salgueiro de "pagar os favores" a António Costa e Manuel Pizarro com votos junto aos "centralistas". Deputados do PS indignam-se.
TEXTO: Em Maio, todos os deputados aprovaram um voto de saudação à iniciativa de candidatar a cidade de Lisboa a receber a Agência Europeia do Medicamento. Entre os votos por unanimidade estava a deputada do PS Luísa Salgueiro, eleita pelo distrito do Porto. Esta sexta-feira, a parlamentar foi insultada na rede social Twitter pelo eurodeputado socialista Manuel dos Santos. O socialista, também ele do Porto, acusa a deputada de votar com os "centralistas". Até aqui eram apenas críticas entre deputados do mesmo partido, contudo, nos tweets, Manuel dos Santos chamou "cigana" à deputada e vai mais longe nos comentários racistas dizendo que é cigana "não só pelo aspecto", mas porque "paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas". Luisa Salgueiro, dita a cigana e não é só pelo aspecto, paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas. Em causa está o facto de os deputados socialistas eleitos pelo Porto (na verdade, todos os deputados de todos os partidos, uma vez que a proposta foi votada por unanimidade) terem votado a favor da candidatura de Lisboa para receber a Agência Europeia do Medicamento. Uma agência que tem estado no centro da polémica. Ora, para o eurodeputado, esta actuação dos representantes do partido é "uma verdadeira vergonha". Os deputados socialistas do Porto votaram a candidatura de Lisboa a sede da Agência Europeia do Medicamento. Uma verdadeira vergonha. Luísa Salgueiro, que votou em conjunto com as restantes bancadas, não é de etnia cigana nem tem família de etnia cigana. Na série de tweets, Manuel dos Santos critica violentamente a deputada dizendo que ela "é protegida por Costa e Pizarro [presidente da federação do PS do Porto]. A deputada socialista não sabia dos insultos quando contactada pelo PÚBLICO e preferiu não fazer comentários. Luísa Salgueiro tem esta sexta-feira um dia agitado com a inauguração da sua sede de campanha em Matosinhos, onde vai ser candidata do PS à Câmara Municipal. O PÚBLICO tentou contactar o eurodeputado, mas até à hora de publicação desta notícia não foi possível. Entretanto, Manuel dos Santos escreveu novo tweet a dizer que "claro" que não é "racista". "Não respondo a grupos organizados das redes sociais, dedicados a reverter (excelente expressão) afirmações fora de contexto para ataques. Podem continuar se quiserem: não me demovem nem me atemorizam. Claro que não sou racista. "Socialistas indignados com eurodeputadoCarlos Zorrinho, líder da delegação do PS no Parlamento Europeu, disse ao PÚBLICO que Manuel dos Santos fez essas declarações noutro plano que não o de eurodeputado. "Pessoalmente, não considero que esteja a fazer essas declarações como eurodeputado", disse quando questionado se o PS irá agir perante declarações racistas de um eurodeputado eleito nas suas listas. Zorrinho remete esses tweets para a disputa autárquica dizendo que "a terra das eleições autárquicas não está na agenda do Parlamento Europeu". Depois de esta notícia estar publicada, Zorrinho publicou um tweet a repudiar as declarações do colega. Como cidadão e socialista acho lamentáveis e chocantes as declarações de Manuel dos Santos sobre Luisa Salgueiro. Por cá as declarações de Manuel dos Santos levaram ao desagrado do porta-voz do PS, João Galamba. O deputado, respondendo a um tweet de Rui Tavares (fundador do LIVRE), em que diz que não pode aceitar "que um deputado do Parlamento Europeu se exprima nestes termos racistas", responde dizendo que Manuel dos Santos "é uma vergonha de MEP". Não achas tu e não acha ninguém. Uma vergonha de MEPSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além de Galamba, também o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, deputado do PS eleito pelo círculo do Porto diz claramente que se trata de um caso de "misoginia, racismo e xenofobia. Misoginia, racismo e xenofobia. Mais um triste episódio deste eurodeputado. Uma vergonha para os socialistas. pic. twitter. com/Q2E4MTl7FbNão foram no entanto os únicos. O deputado socialista Porfírio Silva criticou as palavra de Manuel dos Santos. No Facebook, o deputado defende que Manuel dos Santos não merece ser sequer militante do PS. "Um eurodeputado eleito nas listas do PS que usa o qualificativo "cigana" como insulto, não merecer sequer continuar a ser militante do PS. Seria assim mesmo que o "insulto" não fosse dirigido a uma deputada e a uma dirigente nacional do PS", escreveu.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS LIVRE
Costa defende expulsão de eurodeputado do PS que chamou "cigana" a deputada
Líder do PS acusa Manuel dos Santos de "preconceitos racistas" e de ser "uma vergonha para o PS". (...)

Costa defende expulsão de eurodeputado do PS que chamou "cigana" a deputada
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 10 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Líder do PS acusa Manuel dos Santos de "preconceitos racistas" e de ser "uma vergonha para o PS".
TEXTO: O secretário-geral do PS, António Costa, criticou nesta sexta-feira o eurodeputado socialista Manuel dos Santos, afirmando que se tornou "uma vergonha para o PS", e defendeu a sua expulsão do partido por "preconceitos racistas". “Há muito que Manuel dos Santos desonra o seu passado. Hoje tornou-se uma vergonha para o PS. Espero que a Comissão Nacional de Jurisdição rapidamente nos liberte da companhia de quem partilha preconceitos racistas”, afirmou, numa declaração à agência Lusa. Costa referia-se à queixa que Carlos César, presidente do partido, fará ao Conselho de Jurisdição do PS. Além de Carlos César, o PS/Porto, com quem Manuel dos Santos tem discordado nos últimos tempo, lhe retirou a confiança política. Perante o caso, os socialistas no Parlamento Europeu vão "analisar internamente" o que fazer ao eurodeputado socialista Manuel dos Santos na reunião da delegação no próximo dia 27 de Junho. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. tudo começou porque esta sexta-feira, o eurodeputado socialista Manuel dos Santos chamou “cigana” à deputada do PS Luísa Salgueiro, “não só pelo aspecto", mas porque "paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas", num tweet. Em causa estava o facto de a deputada, eleita pelo distrito do Porto, ter votado, em maio, a favor da saudação à iniciativa de candidatar a cidade de Lisboa a receber a Agência Europeia do Medicamento. O socialista, também ele do Porto, acusou a deputada de votar com os "centralistas". As críticas e Manuel dos Santos a Luísa Salgueiro já vêm de trás e prendem-se com a escolha da deputada para encabeçar a lista do PS à Câmara de Matosinhos. O PÚBLICO tentou falar com o eurodeputado, mas não foi possível. Contudo, Manuel dos Santos foi escrevendo vários tweets. Perante toda a polémica, o eurodeputado não se retractou e virou a agulha a acusar quem o criticou: “Afinal, há mesmo racismo em Portugal: chamar a alguém “cigano(a) é considerado um insulto e serve para construir narrativas”. Narrativas essas que ao acusarem-no de “pseudo-racismo” se tornaram mais “importantes” que a posição dos deputados em relação à AEM.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Todas as semanas há um jovem de 16 anos que se casa
As raparigas protagonizam a maior parte dos enlaces celebrados em tão tenra idade. (...)

Todas as semanas há um jovem de 16 anos que se casa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 11 | Sentimento 0.175
DATA: 2017-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: As raparigas protagonizam a maior parte dos enlaces celebrados em tão tenra idade.
TEXTO: A idade média do matrimónio subiu dos 27, 1 para os 32, 8 em 30 anos. O número de jovens de 16 anos que se emancipam por essa via caiu a pique, mas ainda tem significado. No ano passado, em cada semana houve em média uma rapariga ou um rapaz dessa idade a casar-se. Foram 55. As raparigas protagonizam a maior parte dos enlaces celebrados em tão tenra idade. Em 1996, casaram-se 701 raparigas de 16 anos. Quase todos os dias, uma média de duas davam esse passo. Em 2006, a realidade já era bem distinta. Nesse ano, o Instituto Nacional de Estatística somou 155 casos. No último ano, a conta ficou-se pelos 41, o que corresponde a menos de uma por semana. O número de rapazes de 16 anos que se emancipa pelo casamento é diminuto. A tendência de descida revela oscilações. O Instituto Nacional de Estatística contabilizou 35 em 1996, 7 em 2006, 14 em 2016. Juntando os rapazes e as raparigas obtém-se uma média nacional de uma por semana. O número de matrimónios em geral tem estado a descer. Há 30 anos, houve 63 mil. Dez anos depois, 47 mil. Volvidos outros dez, 31 mil. E nem só a população de nacionalidade portuguesa responde pelos enlaces mais precoces. Também as comunidades oriundas de outros países, como, por exemplo, do Bangladesh, do Paquistão ou da Índia, onde a idade média de casamento das mulheres é de 16 anos. Impossível saber quantos daqueles casamentos envolvem membros das comunidades ciganas portuguesas, como no caso que foi agora apreciado pelo Tribunal da Relação do Porto (o Ministério Público entendia que uma rapariga de 16 anos tinha que ir à escola, que é obrigatória até aos 18, apesar de se ter casado e, por essa via, emancipado). Por questões legais, o Instituto dos Registos e Notariado não colige informação sobre etnias. Estudiosos como Maria José Casa-Nova, da Universidade do Minho, têm tentado em vão obter financiamento para realizar um estudo que abranja toda a população cigana. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O primeiro Estudo Nacional Sobre as Comunidades Ciganas – em 2013 realizado pelos investigadores Manuela Mendes, Olga Magano e Pedro Candeias para o Alto Comissariado para as Migrações – aponta para uma idade média do casamento bem abaixo da registada na sociedade em geral: 16 anos para as mulheres e 18 anos para os homens. Esse estudo tem por base um inquérito, por questionário, aplicado a 1599 representantes de agregado familiar. Na amostra, havia uma grande proporção de indivíduos que se se tinham casado entre os 15 e os 19 anos (51, 9%). Só 25% se tinha casado com 19 ou mais anos. O peso daqueles enlaces na estatística nacional será mínimo. Dos 1446 inquiridos que se identificaram como sendo casados, 82, 8% referiram sê-lo apenas pela “lei cigana”. Tão-somente 8, 2% disseram estar casados pelo civil. Um número ainda mais baixo (6, 3%) declarou ter contraído matrimónio religioso. O resto aliou casamento civil e cigano. A centralidade do casamento é uma das principais causas do abandono escolar nas comunidades ciganas. Os investidores referem também “a preocupação extrema com a educação das meninas e o inerente controlo social”, sobretudo desde a primeira menstruação. E as “sucessivas reprovações registadas no 1º ciclo, que conduzem a uma inadaptação às turmas”.
REFERÊNCIAS:
Étnia Cigano
A música da Lisboa invisível tem milhões de cliques no YouTube
Fazem música à margem da indústria, mas não são underground. Têm milhares – ou milhões – de visualizações no YouTube, andam em concertos por vários países, mas nem uma biografia disponível na Internet. Percurso pelos subúrbios de Lisboa à procura dos (outros) grandes hits do momento. (...)

A música da Lisboa invisível tem milhões de cliques no YouTube
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Ciganos Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fazem música à margem da indústria, mas não são underground. Têm milhares – ou milhões – de visualizações no YouTube, andam em concertos por vários países, mas nem uma biografia disponível na Internet. Percurso pelos subúrbios de Lisboa à procura dos (outros) grandes hits do momento.
TEXTO: São jovens, vivem na periferia de Lisboa, fazem música praticamente sozinhos. Muitos começaram no computador, em casa. O circuito comercial oficial não os conhece. Não estão nos tops de vendas das grandes lojas de discos. Funcionam como uma espécie de mercado paralelo da música, mas poucos conseguem viver do que criam. Os seus hits têm milhares de visualizações – alguns chegam aos milhões. Actuam no bairro onde vivem, só que a dimensão da popularidade extrapola esse território: há quem faça concertos em França, Luxemburgo, Suíça, Espanha, Cabo Verde, Angola…Isto mesmo foi o que notou o investigador em Estudos Urbanos António Brito Guterres na sua Tedx Talk do ano passado, A cidade invisível de Lisboa – a TED é uma organização dedicada ao lema “ideias que merecem ser compartilhadas”, e a Tedx é um programa organizado localmente de forma independente com o mesmo espírito. Nesta intervenção que pode ser vista no YouTube, Brito Guterres passa em revista as mudanças da cidade-centro e a formação das periferias, marcadas pelas migrações internas e pelas imigrações. Conta a história de uma professora de um dos subúrbios que queria conhecer melhor os seus estudantes através da música, mas não conseguia encontrar o que ouviam em lado nenhum (justamente porque o que ouviam estava nos circuitos que ela desconhecia). Mostrando o top 10 da loja Fnac, o investigador escolheu seis dos singles dos artistas aí representados, como David Fonseca ou Ornatos Violeta (no YouTube há vários anos) para concluir que têm pouco mais de 100 mil visualizações. Comparou com os dados de alguns singles de rappers feitos nos subúrbios, gravados em armários de quarto, cantados em crioulo e com letras duras sobre a realidade, e chegou a números muitíssimo superiores: nenhum abaixo dos 500 mil, três a bater ou a superar o milhão. “Não conhecer a cidade toda é normal, agora não conhecer algo a esta escala…”, comentava. “Um artista que tem um milhão de visualizações é artista aqui, em Londres, em Nova Iorque…” – e em todo o lado. Afinal, quem são estes artistas que estão à margem da “cidade vigente”, têm milhares de fãs, mas nem uma biografia sobre eles está disponível na Internet? O que cantam que os torna tão populares? Como gerem essa popularidade desconhecida pela indústria formal? Visita guiada por vários territórios onde a música da “cidade invisível” se faz ouvir alto e bom som. Do bloco onde vivem os pais de Loreta miram-se o castelo e os prédios de Sintra – daí o nome dado a esta localidade, Mira-Sintra. Loreta, que canta sobretudo em crioulo, tem videoclips como Mata um genio, onde aparece de armas em punho, ao lado de uma mulher loira que carrega uma espingarda, ou outros, como Vida sta mariado, a partir de uma música de Orlando Pantera, num cenário mais descontraído e de lazer. Estava em casa a fazer beat, deu-me uma "nóia" e gravei. Fui-me deitar. Depois a música ficou quatro, cinco meses em casa a apanhar pó. E quando saiu foi o boom, explodiu!Com contas no Spotify e no iTunes, duas plataformas que colocam à disposição do utilizador um cardápio vastíssimo de música, tem uma legião de seguidores – no Facebook são mais de 17 mil fãs, no Instagram cerca de 12 mil, a página do seu colectivo KBA tem 26 mil likes e há vídeos com mais de meio milhão de visualizações no YouTube – um dos vídeos, Nha identidade, chegou a ter um milhão. O fundador dos KBA, 28 anos, dois filhos, mudou-se recentemente do apartamento dos pais, no Bairro Fundação D. Pedro IV, mas é lá que nos recebe, com a mãe a abrir a porta. A população é maioritariamente composta por pessoas realojadas no início de 2000, misturando raças e etnias – brancos, ciganos, negros, afro-descendentes. Loreta começou a tentar fazer música aos 11 anos, no bairro de lata onde vivia. Experimentava com cassetes, tentava repetir partes de músicas que ouvia. O pai toca acordeão e funaná. “Cresci a ouvir música. Lembro-me de ser pequeno e os meus irmãos porem música de Cabo Verde. "A partir dos 13, com um amigo cantavam em festas da comunidade. Começaram a ganhar gosto e a ser convidados para outras festas. Gravaram pela primeira vez com o estúdio móvel do produtor e músico Primero G, num mini-disc – tinham uns 15 ou 16 anos. Mais tarde organizou-se com outros amigos para “juntar as pontas”: um comprou o microfone, outro comprou uma torre, outro comprou um ecrã e montaram o home studio, que ia girando por casa uns dos outros. A primeira mixtape que criou, “para aí em 2007 ou 2008”, nem foi ele que a colocou na Internet. Eram cerca de 11 músicas e Loreta lembra-se de ter ficado surpreendido com os convites para tocar em outros bairros. “Começámos a acreditar: o people está a gostar disto, também gostamos, vamos continuar. ”As coisas mudaram quando conheceu o “Katana” das Katana Produções, que tinha um estúdio em Odivelas onde gravaram o primeiro álbum em 2013: Desde Sempre para Sempre. Depois veio Buling, e a seguir Loreta iniciou-se a solo com os álbuns DMT, Last Hope, e, agora, Santos e Pecadores. Loreta foi mobilizador comunitário, colaborou com a organização não-governamental Olho Vivo e com o programa Escolhas, do Alto Comissariado para as Migrações, trabalhou nas obras, mas neste momento está no desemprego. A música não chega para pagar as contas. “Tenho uma casa arrendada, só com a música é impossível viver. ”Numa loja tradicional não é possível comprar a música de Loreta. Antigamente, ia a uma fábrica, fazia uns 500 CD e em cada espectáculo vendia 20. “Não sinto que tenha uma obra digna de estar à venda num circuito mainstream, porque é preciso money, horas de estúdio, é mais a qualidade do produto final, ter qualidade suficiente para passar numa rádio. ”Foi só em 2014 que actuou pela primeira vez em Cabo Verde. Quando chegou à Cidade da Praia, tinha pessoas no aeroporto à espera, a tirarem fotos em cada passo; na rua era reconhecido, os miúdos abordavam-no em massa. Abriram o concerto de Anselmo Ralph, e foram actuar em mais um par de sítios na ilha de Santiago. “Sempre a abarrotar. No show do Tarrafal estivemos duas horas para sair do palco. ”Loreta tem mais de 200 músicas que nunca pôs na Internet, trabalha a “toda a hora”. Acha que é popular por ter conseguido dar uma versão “século XXI à cabo-verdianidade”, “fácil de perceber para quem é de Cabo Verde e para quem nasceu na Europa”. Filho de cabo-verdianos que nasceu em Portugal mas não tem nacionalidade portuguesa, sente que pertence a uma geração de “afro-tugas”, um “bocado sem terra”. Da música que faz diz que é um diário ou uma chamada de atenção, “o trabalho do jornalista”, coisas que observa e acha que estão erradas. “Não sigo uma linha. Faço intervenção, mas também vou falar sobre um dia espectacular que tive. ” Fala sobre realojamentos, injustiças, violência policial. “A violência e brutalidade policial são das coisas que mais me indignam. Isso significa pôr tudo no meu saco. Todos os dias brancos roubam, todos os dias pretos roubam. Não se vê o puto de mochila branco a ser encostado à parede e revistado, mas vês acontecer isso aos jovens africanos ou descendentes de africanos. " Disso trata A bófia apontou-me uma arma. Mas, diz, só “30% a 40%” das músicas falam de temas mais duros. “Quando somos músicos 100% de intervenção, não nos tornamos populares, e isso faz com que nem toda a gente consiga ouvir a nossa voz. Se conseguir tornar-me popular para que quando abrir a boca um milhão de pessoas me ouça, então consigo intervir. ”Vai cantar no Algarve, no Porto, em Lisboa, tem um público diverso, mas acha que “a grande força” são jovens como ele, “descendentes de cabo-verdianos”. A maioria dos likes na sua página do Facebook é de Lisboa; em segundo lugar vem Luanda, depois Paris, Cidade da Praia… Já foi cantar várias vezes ao Luxemburgo e a França, à Espanha, à Suíça, a Cabo Verde, com “casa sempre acima da média”. Há um lado nele que não tem a certeza de querer fazer parte da indústria. “O CD para vender a um público maior tem de fugir um bocado ao que tenho feito. Tinha de fazer mais músicas em português, que dessem para passar num clube, e com outros conteúdos, não tão crus. ” Mas não se importava de ter os seus discos em lojas como a Fnac, “claro!”. O que ganha com visualizações no YouTube “é mínimo”: "Menos de meio cêntimo por visualização…”Não sinto que tenha uma obra digna de estar à venda num circuito mainstreamO que era preciso para viver da música? Ter alguém que lhe agendasse dois concertos por mês, pelo menos. “Os organizadores de eventos ainda têm o pé atrás por o rap ser uma música de rua, de bandidagem, e ainda não perceberam que é um mercado novo por explorar e tem muitos seguidores. ”O segredo da sua popularidade é “bastante básico”: “A música quando é boa tem pernas próprias. Quando se ouve uma boa música, mostra-se ao amigo, que mostra ao amigo, e aquilo alastra-se. ”De Mira-Sintra ao Vale da Amoreira, na Moita, são quase 2h30 de caminho em transportes públicos, comboios. Atravessamos a ponte sobre o Tejo de carro, numa manhã de sol. Do centro de Lisboa não demora mais de 30 minutos. Passamos de uma localidade com uma população de pouco mais de cinco mil pessoas para outra com cerca de dez mil, segundo os dados oficiais. Aqui vivem maioritariamente portugueses. Há também população cigana e de origem cabo-verdiana, angolana, guineense. Deejay Telio, 19 anos, e o seu colectivo Somos a Família (SAF) são mesmo uma família – a entrevista será feita em grupo, num dos pátios dos prédios do bairro, com Deedz, Dino e Ericsson. O lema dos SAF é: “Pomos a lealdade acima de tudo. ”– É aquela história do pão, né?, diz Ericsson– Eh! Já esqueci!, comenta Telio. O pão é o essencial. Estava no Minipreço a comprar pão. Este estava a comprar o fiambre – aponta para Ericsson –, este o queijo, o outro manteiga, vai apontando para os outros membros do grupo– No meio disso a gente se encontrou na caixa e viu que dava para formar uma coisa, completa Ericsson, a rir. O single oficial de Deejay Telio e Deedz, Não atendo, tem quase cinco milhões de visualizações. Que safoda, só áudio, tem quase três milhões – a mesma música, noutro clip, chega quase aos 3, 5 milhões, ou seja, mais de seis milhões no total. “Muita gente pensa que gravei o Que safoda bêbado”, ri-se Telio, cinco mil amigos e 13 mil seguidores no Facebook, 44 mil no Instagram. “Estava em casa a fazer beat, deu-me uma ‘nóia’ e gravei. Fui-me deitar. Depois a música ficou quatro, cinco meses em casa a apanhar pó. E quando saiu foi o boom, explodiu!” O segredo do sucesso? “É mais pela palavra, que 'safoda', ‘não quero saber de nada’. "Começou a fazer música no dia em que o primo lhe disse que tinha descoberto o programa com que o rapper americano 50 Cent fazia os seus beats, conta a rir. Já dançava kuduro, tinha uns 11 ou 12 anos. “Fiquei duas semanas no PC, era escola-casa, escola-casa, faltava ao treino e tudo. " O computador era da escola, tinha “uns phones normais”. E sozinho pôs-se a fazer beats para kuduro. “Lembro-me da minha primeira batida. A primeira música completa foi em 2009. ”Telio saiu de Angola com uns quatro anos, cresceu na mesma casa do Vale da Amoreira em que vive, cresceu com o “povo PALOP”. A mistura no bairro, até mesmo dos calões angolano e cabo-verdiano, reflecte-se na música. No ano passado, lançou Karanganhada – um EP que não chegou a ir para as lojas de música, foi vendido online, e em cabeleireiros e outros estabelecimentos, num circuito informal; este ano sairá Karanganhada 2, uma palavra de origem cabo-verdiana que quer dizer “festa, curtição, ambiente de convívio”. Telio quer que o seu estilo seja identificado como “karanganhada”, embora as influências nos seus beats sejam várias: pode ter trap, bongos, trompete, funaná… Fala sobretudo de animação e festa. Não aborda problemas. “Para quê falar de problemas? Quando estou ao microfone, esqueço o que está lá fora. ”Os SAF estão mais próximos do circuito comercial oficial do que nunca. Os lucros já dão para pagar as contas dos quatro elementos. Vendem música mas também t-shirts, óculos, bonés… No dia em que os encontrámos, tinham acabado de chegar de um concerto em Paris, no Vila Moura Club. O seu público é muito variado. “Estava cheio, umas 1500 pessoas. E foi a segunda vez que fomos para essa discoteca. Já estamos na fase em que damos voltas a discotecas em que estivemos. " O mercado é sobretudo em Portugal, e tocam maioritariamente em discotecas. Mas já actuaram em Angola, França, Luxemburgo, Suíça, Inglaterra – e têm marcação para Cabo Verde no Verão. Neste momento, querem negociar com as grandes cadeias como a Fnac. O estúdio, porém, ainda é caseiro. Na Arrentela, Seixal, há quase 30 mil pessoas, segundo os dados oficiais. Subimos as escadas do prédio de Primero G que tem os corredores com ventilação natural. É aqui que tem o seu estúdio Ligação Directa, uma divisão do apartamento onde vive com a mulher e o filho há nove anos. É preciso subir mais escadas dentro de casa para ir até ao sótão onde estão o computador, o material de produção, e uma colecção de vinis que são usados para samplar, com Quim Barreiros, Roberto Carlos, o hino da Internacional Socialista e muitos outros. Há cadeiras e almofadas, mas o espaço é exíguo. Primero G é o produtor de muita malta nova, alguns estão a começar, outros não. Foi fundador dos TWA, participou em filmes como Outros Bairros, de Inês Gonçalves, Vasco Pimentel e Kiluanje Liberdade. O vídeo está natural e fez com que as pessoas comentassem: "já foste ver aquele cigano de pulseira a cantar?’’Com o estúdio consegue ir conhecendo (e influenciando) novos talentos. Serve-lhe também para ir ganhando algum dinheiro nos intervalos de outros trabalhos. Faz de “tudo” naquela divisão: álbuns, EP, batidas, misturas, design para os artistas, tudo como autodidacta. O do-it-yourself é regra neste percurso que fazemos por alguns dos territórios do rap. Primero G é do tempo em que não havia Internet. Lançou o seu primeiro CD sem essa alavanca. Neste momento trabalha com cerca de dez artistas, organizando-os e orientando-os. Muitos querem falar do que ele falava há 20 anos: vida de rua, fumar ganzas, revolta com a polícia, falta de oportunidades…Há uma faceta de líder em Primero G que está bem presente e que ele não esconde. Assume o papel de monitor social, ou melhor, de mentor, até no estúdio – uma pele que vestiu quando vivia na Pedreira dos Húngaros, o grande bairro de lata na zona de Algés/Miraflores, desmantelado no final dos anos 1990. Também ele trabalhou para vários projectos de intervenção territorial e de acção social. “Tive a sorte de ter várias direcções ao longo da minha vida, se não… Cedo aprendi a sair do bairro e a conhecer outras pessoas que não têm nada que ver comigo. " E fê-lo através da música, cantando em vários espaços, e depois convidando pessoas de Lisboa para irem cantar ao bairro. “O que a gente passa toda a gente sabe. O que fazia sentido era levar isso para fora do bairro. ” No bairro onde vive agora, a polícia não incomoda, é só “pais e avós”, não se passa nada; mas nos bairros sociais as coisas são um pouco diferentes, porque a polícia entra quando quer, desabafa. Muitos rappers apareceram no estúdio de Primero G com a cena do trap, um estilo americano que ele caracteriza como mais “básico” na construção – no rap é preciso saber samplar, no trap não. "Trap" quer dizer ratoeira. Mais músicos querem fazer trap, mas é uma música “muito dark”. “Os miúdos falam de coisas muito agressivas, porque passam por coisas muito agressivas. A gente tem de interpretar: aquilo é uma forma de promoção, de ganharem moral, ou de ‘venham ver’? Toda a gente quer uma vida bacana. ” Ele próprio quando era jovem fez músicas mais negras, mas hoje fica contente por não as ter gravado, não sentiria orgulho, se o filho as ouvisse. Primero G não consegue fazer contas exactas a quanto ganha com o estúdio – é sazonal e variável. Vive também de pequenos biscates. Sente que precisava de mais tempo e espaço para desenvolver de forma sustentável aquilo que faz. Ainda não vive da música. Mas espera um dia viver. Tem um disco no circuito comercial, um álbum que chegou à Fnac: Miraflor, de 2002, com Lord G e DJ Kronic. Foi criado numa altura que era importante mostrar que se podia fazer música em casa – o single é um clássico do rap crioulo, e fala da experiência de realojamento da Pedreira dos Húngaros. Tem mais material na gaveta, mas está à espera do momento certo para lançar. Na Internet e no YouTube tem “bué de coisas”. “Por exemplo, este ano estou em dez trabalhos, porque produzi, participei. ” Deu passos em momentos importantes, agora é preciso diversificar, defende. Quer escrever um livro. Qual o impacto da música que ele produz e cria? “Não se vê, mas é grande. Temos miúdos que estiveram connosco há não sei quantos anos e que hoje estão a rebentar – por exemplo, Vado do Bairro 6 de Maio, o Loreta… Quando eles brilham, a gente também está ali, fizemos parte desse processo. "Brilham não no circuito comercial, mas noutros lugares. “O que acontece é que eles não retiram da indústria o que ela consegue dar. A gente cresceu revoltados com a indústria. Hoje em dia olho para os rapazes do Rapública e não os vejo muito diferentes de nós. No entanto, expuseram-se. Olho para a indústria como autodestrutiva: dá bué dinheiro, mas também suga muito, põe-te lá em cima, mas também te tira. ”No Monte da Caparica há blocos de prédios que foram construídos em várias fases e que pertencem a cooperativas, são realojamentos, edifícios dos anos 1990, habitados por quem se mudou do interior do país e por imigrantes. Juana na Rap, nome artístico, 24 anos, cresceu a ouvir crioulo, algo que integrou de forma natural. “Aconteceu. Nasci e cresci nesse meio, é claro que me identifico com a cultura em si”, responde, admirada, quando lhe perguntamos sobre a sua relação com a cultura negra. Portuguesa, branca, sem ligação familiar a Cabo Verde, fala e canta na língua cabo-verdiana. “A ouvir aprende-se”, diz. “Desde a infância no bairro, de tanto ouvir percebe-se. " Mas claro que existiu um esforço, embora houvesse o convívio diário. “Sinto-me muito mais à vontade a divulgar o que tenho para dizer em crioulo do que em português. Em crioulo consigo explicar e especificar o assunto. ” Também tem temas (poucos) em português. Olho para a indústria como auto-destrutiva: dá bué dinheiro mas também suga muito, põe-te lá em cima, mas também te tiraDe vez em quando Juan na Rap vai trançar o seu cabelo louro e liso, mas hoje tem-no apenas apanhado em rabo-de-cavalo. Está vestida com roupa desportiva. Nos vídeos produzidos pela Ligação Directa de Primero G é assim que aparece. Muitos foram filmados na rua onde estamos agora para a conhecer. Rodeada de homens nesses vídeos, Juana na Rap canta a vida da “street”. Acabou de lançar o seu segundo álbum. Leva-nos para debaixo de umas arcadas onde foi filmado outro vídeo, e é lá que conta, sentada no muro, que viveu no Bairro do Beato, em Lisboa, na Charneca e agora no Monte da Caparica, onde está desde os 13 anos. Começou a fazer rimas na escola, “freestyle”, improvisava com amigos. Tinha uns 15 anos e alguma “vergonha”. Disseram-lhe que podia escrever letras e assim foi. Ela e outra rapariga eram as duas únicas no meio de rapazes. “Começávamos a improvisar na escola, vinham todos a correr a pensar que era porrada”, lembra, a rir. Juana na Rap escrevia músicas em que falava da escola ou de amizades, sem um “tema directo a alguma coisa”, como agora. Agora fala de injustiças, do Estado, do Governo, da polícia, do que vê no bairro e não acha correcto. Exemplo: “Estamos aqui, se passar um carro da polícia se calhar vai parar, quer revistar, e só porque não temos documentos quer-nos levar para a esquadra. "Também ela, actualmente desempregada, não consegue viver da música. Os seus CD, um lançado em 2013, Juana na Rap (“A falar mais de mim”), e outro no início de 2016, Tcheu Barreras, onde trata temas mais gerais, dão-lhe de lucro "zero" cêntimos. “Quem não gostava de viver da música?” Entrar na kizomba ou noutro estilo mais comercial não está nos seus planos: “Tenho o meu estilo, quero manter aquela inocência. "Passou uns anos sem conhecer ninguém que a produzisse, até que um amigo, Klicklau, a levou a Primero G. “Foi uma evolução rápida, porque não tinha tido oportunidade. Antes de ir ao Primero G gravei duas ou três vezes, mas não era o trabalho que tinha em mente fazer. ”Hoje, Juana na Rap inspira-se no que vê à sua volta, na vida de rua. Ser mulher num mundo essencialmente masculino não faz dela uma rapper diferente, diz. “O que se passa no dia-a-dia é mais ou menos o mesmo. O que interessa é o que se está a dizer, mas não sinto diferença. Eu estou na luta!”Talvez seja difícil uma mulher sobressair no mundo dominado por homens, reconhece sem querer desenvolver. “Sou uma rapariga que cresceu no meio dos rapazes, sempre joguei à bola, sempre fui maria-rapaz. Nunca senti aquela diferença e no rap também não sinto. ”É Primero G quem diz: “[Juana] é tropa, pensa como nós. ” O nós são os homens. “Não se nota essa sensibilidade, mas ela existe”, comenta. É preciso deixar passar o tempo. Mynda Guevara é o grito de guerra dela. Aliás, na sua página de Facebook tem como tagline “female power”. O apelido, inspirado em Che Guevara, apareceu porque ela quer fazer uma revolução no rap: não quer ser mais uma. “Quero levar o rap feminino o mais longe possível, quero revolucionar o rap feminino”, diz, com convicção. Sentada no Espaço Jovem da Associação Cultural Moinho da Juventude, o premiado projecto social da Cova da Moura, Mynda, 19 anos, estudante de Marketing e Comunicação e estagiária na Fnac, fala com assertividade de um percurso que começou aos 14 anos. É fim de tarde de Maio e há muitos jovens a entrar e sair do estúdio onde ela se iniciou na música: um dia estavam a precisar de uma voz feminina, e ela apareceu. Desde então começou a cantar com Ridell, Dani G e outros – há vídeos no YouTube onde Mynda aparece neste bairro da Amadora habitado maioritariamente por afro-descendentes, sobretudo de Cabo Verde, com uma população estimada em cinco mil pessoas. O facto de ali haver um estúdio de gravação ajudou muito, foram lá as suas primeiras experiências. Quero levar o rap feminino o mais longe possível, quero revolucionar o rap femininoMynda e Ridell fizeram uma dupla e há “dois/três anos” arriscou lançar-se sozinha com Mudjer na rap krioulo, primeiro som a solo. A música fala justamente do facto de ser mulher e cantar rap, da forma como teve de “marcar o terreno” e de se “impor”. “Queria que quando se falasse em rap não se lembrassem que existem só rapazes a cantar, ou que o rap tem género. O rap não tem género, é para quem quiser libertar o que sente através de rimas e melodias. ”O objectivo é conseguir que cada vez mais mulheres cantem rap, “provar que têm tanta ou mais ambição do que os homens”. Para Mynda Guevara o rap é a vida. “Não consigo passar um dia sem ouvir rap. Acordo, estou a ir para o estágio e a ouvir rap. ”Recebe mensagens de vários sítios, já teve convites para ir tocar a Cabo Verde, Luxemburgo e Londres. Tem cantado à noite em eventos de rap crioulo, onde habitualmente o cartaz é feito de homens. Por enquanto não sabe contabilizar visualizações – uma pesquisa rápida mostra que as suas músicas têm milhares. O seu grande hit a solo é Li sta mudjer, com mais de 19. 500 visualizações; Objectivos, parceria com Ridel, tem cerca de 220. 500. Defende que o rap tem como objectivo ensinar e tem uma vertente activista. “Eu escrevo para ensinar, não escrevo para desviar. "Quando acabar o curso, quer fazer algo “mais elaborado”, que vá além das sete faixas soltas que já tem. “Não quero que vão ao YouTube, escrevam o meu nome e apareçam só as participações. Quero um trabalho elaborado, uma mixtape ou um álbum. Isso ajuda. ” O seu sonho: cantar em Cabo Verde, de onde são os pais. Foi na sala de sua casa que Nininho Vaz Maia, 28 anos, gravou um vídeo que se tornou viral, Música linda cigana. Aparece sentado no sofá em tronco nu, com uma guitarra e um pormenor no tornozelo: uma pulseira electrónica. Atravessamos o pátio onde miúdos jogam à bola e subimos ao apartamento de Nininho, agora orgulho da família. Tinha ido ao ginásio de manhã. Vê-se que gosta de cuidar do corpo e há até um vídeo recente de um amigo na sua página do Facebook a brincar com isso. Não são raros os comentários femininos ao seu aspecto físico. A filha brinca com um iPad onde mostra vídeos do pai. Incrustado na parede está um ecrã plasma onde passam programas da tarde. Estamos no bairro que hoje ocupa a extinta Curraleira, em Lisboa, onde vive com dois filhos e a mulher. Foi a circunstância de estar em prisão domiciliária que fez Nininho começar a cantar. O primo gravou o vídeo, a prima colocou-o no YouTube em Outubro de 2013. E, de repente, tinha-se tornado num hit. Música linda cigana é uma canção de amor com dois minutos, 800 mil visualizações e quase 500 comentários. Hoje Nininho tem duas páginas no Facebook com milhares de seguidores: na sua página pessoal são cinco mil amigos e mais de oito mil seguidores, na página de artista tem quase 10 mil likes. A história do tal hit não tem nada de extraordinário: um dia ouviu o primo, que vive na casa ao lado, cantarolar uma música. Estava a escovar os dentes às 6h, desceu as escadas, e pôs-se a tocar aquilo que assim “saiu” naturalmente, conta. “Sei que não são modos para estar no vídeo, em calções. Mas tenho a noção que ajudou, o vídeo está natural e fez com que as pessoas comentassem: ‘Já foste ver aquele cigano de pulseira a cantar?'”Segundo conta, esteve preso porque foi sair à noite, um amigo começou “à porrada” e ele acabou apanhado pela polícia. Em casa passou “muitas horas sozinho”, durante um ano e 15 dias. Descobriu que sabia compor e que “o ser humano acaba por se adaptar a tudo”. Em tempos um monitor que orientava jovens nos trabalhos de casa, num projecto social do bairro, Nininho sente que continua a ser um bom exemplo, apesar de ter estado preso. “Agora ainda sou mais. "O que se passa no dia-a-dia é mais ou menos o mesmo [que no mundo masculino]. O que interessa é o que se está a dizer. Eu estou na luta!Na Curraleira, um bairro maioritariamente de habitação social, vive a “família toda”. Da parte do pai, de etnia cigana, são uns 50 primos. A família da mãe, não cigana, também é enorme. Desde muito pequeno que canta em festas. Depois do tal vídeo, fez outro, e a seguir outro – até ser convidado para cantar ao vivo no ano passado. Hoje “está cada vez mais sério”. Já vive da música, mas também de um negócio de venda de carros que tem com o primo. “O que me alegra é estar a alegrar outras pessoas. Tirar milhares de fotografias, ser conhecido em todo o lado: isso já cansa!”Quando o vídeo foi para o YouTube, achava que ia ter um par de visualizações no bairro. Logo no primeiro dia teve mil, ficou “cheio de vergonha”. “Nunca imaginei que ia ter centenas de pessoas a pagar para me ir ver, pessoas em filas, a chover, à espera. ”Músicas suas tem umas “dez ou 11”. Mas não canta muito do repertório pessoal – canta mais covers de kizomba e outros géneros de música, algumas que adapta “para cigano”, muitas nem sabe de que autores são. “Tanto canto cigano como canto à senhor, como dizemos. Misturo. E isso vende. ” Também é criticado por não cantar só “à cigano”, ou só “à senhor”. Seja como for, já notou que há uma mudança: as pessoas estão a procurar mais música cigana. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Alentejo é a região que o mais convida para cantar em discotecas e em festas. “Digo muito que o Alentejo ficou a minha segunda casa. ” Dá concertos todas as semanas para um público vasto, diz que é “ouvido por toda a gente: brancos, ciganos, africanos”. E por todas as classes sociais: por exemplo, foi à Feira da Golegã actuar para uma plateia muito diversa com umas 800 pessoas. Não é assim tão diferente a escala de muitos destes músicos e a de alguns artistas agenciados, com empresas discográficas e marketing a trabalhar para eles. O que é diferente é a legitimação que alguns conseguem ou não atingir do circuito mainstream – um carimbo que nem todos procuram necessariamente, mas que acaba por funcionar como bitola. É através da Internet, do Facebook ou do YouTube que chegam aos fãs e aos outros músicos. O mercado paralelo da música acontece aqui – mas será que é mesmo paralelo?
REFERÊNCIAS:
Para que diabo é preciso referir a etnia?
O uso do condicional — ou de expressões como “supostamente”, “alegadamente”, “presumivelmente” — não é um capricho. É um compromisso ético entre o dever de informar e o dever de respeitar o princípio da presunção de inocência que está consagrado na Constituição. (...)

Para que diabo é preciso referir a etnia?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 Ciganos Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O uso do condicional — ou de expressões como “supostamente”, “alegadamente”, “presumivelmente” — não é um capricho. É um compromisso ético entre o dever de informar e o dever de respeitar o princípio da presunção de inocência que está consagrado na Constituição.
TEXTO: Não era um caso tratado com tempo. Era aquilo a que na gíria jornalística se chama um “caso do dia”. A primeira informação viera da PSP, via agência Lusa. Tudo teria começado às 16h56. Quatro familiares de um aluno teriam invadido a Escola Básica do Lagarteiro, um bairro social situado no extremo oriente do Porto, e agredido ao soco e ao pontapé uma professora de Educação Física que o teria repreendido. Não dava para ir lá. Já passava das 19h. Os intervenientes já lá não estavam. Já não dava para falar com a professora, nem com os familiares do aluno de oito anos. Aproximava-se a hora do fecho da edição de papel. Era preciso arranjar o número do director do agrupamento, da coordenadora da escola, da associação de pais, de quem quer que pudesse ajudar a esclarecer o que acontecera. Já só consegui falar com o oficial de dia da PSP, o presidente da junta e alguns moradores. Fiz uma pequena notícia. Qualquer jornalista que queira preservar a sua sanidade mental sabe que não deve ler comentários aos seus textos. “Há um motivo para tipicamente ficarem na parte de baixo da página”, como alguém escreveu numa conta do Twitter que se chama Don’t read the comments. “Ninguém se esconde ali a não ser almas furiosas e inquietas. ” Só que nem sempre resisto. Aquela pequena notícia deu origem a um chorrilho de comentários preconceituosos. Havia uns quantos reparos sobre os tempos verbais que eu escolhera, muitíssimas suposições sobre os suspeitos e uma grande dose de ódio. Que fazer? Ignorar, como era suposto? Recolhê-los e fazer uma espécie de estudo-de-caso? Podia ser útil para uma oficina sobre diversidade nos media ou sobre literacia mediática — ou para uma crónica. 1. “O que eu acho ‘estrondoso’ nesta notícia é o uso da expressão ‘terão agredido’, como que a pôr em causa a agressão presenciada e testemunhada por populares e confirmada pela autoridade”, escreve um leitor na caixa de comentários do PÚBLICO. “Concordo plenamente e obrigada pelo comentário. Desejo à professora agredida uma recuperação rápida e sem sequelas”, escreve outro leitor. O uso do condicional — ou de expressões como “supostamente”, “alegadamente”, “presumivelmente” — não é um capricho. É um compromisso ético entre o dever de informar e o dever de respeitar o princípio da presunção de inocência que está consagrado na Constituição. O artigo 32. º estabelece que “todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação”. Merece menos cuidado quem ainda nem sequer é arguido?O capítulo sobre deveres do Estatuto dos Jornalistas é claro: compete ao jornalista "abster-se de formular acusações sem provas e respeitar a presunção de inocência". O Livro de Estilo do Público também: "O direito ao bom nome e a presunção da inocência até condenação em tribunal — ou, no caso de uma investigação própria do jornal, até prova absolutamente indiscutível — são escrupulosamente garantidos nas páginas do PÚBLICO. "2. “Por que motivo não dizem que foram ciganos? Têm medo?”, pergunta um leitor na página do PÚBLICO no Facebook. “É pena é ninguém dar cabo dessa ciganada toda”, comenta outro. E logo outro: “Notícia politicamente correcta para não ofender os coitadinhos. ” E logo outro: “Ora, se me permitem extravasar a minha veia preconceituosa. . . Os agressores eram ciganos (etnia, claro) não eram? Então a notícia acaba assim? Os jornalistas não acabaram de fazer a cobertura total do acontecimento?” Mais um exemplo: “Porquê que o jornalixo não diz se são ciganos? Proteger essa gente para que continuem a receber casas e subsídios de borla?” E outro: “Para a notícia não fugir à verdade deviam esclarecer que são todos de etnia cigana e que mais uma vez provam que não respeitam nada nem ninguém, é que se acham com direito a tudo. ” Ainda outro: “Os mesmos de sempre e ninguém faz nada e com esta cambada de jornaleiros que não têm a coragem de dizer qual a etnia dos atacantes e ainda os defende. Estamos feitos. O jornalixo ataca de novo. Será que o SOS Racismo vai dar a cara agora?”A não referência a características étnico-raciais também não é um capricho. É outro compromisso ético. “Ninguém deve ser qualificado pela sua origem étnica, naturalidade, confissão religiosa, situação social, orientação ou preferências sexuais, deficiências físicas ou mentais — excepto quando essa qualificação for indispensável à própria informação, isto é, se não é relevante, não se menciona; se se menciona, tem de se justificar”, dita, por exemplo, o Livro de Estilo do PÚBLICO. Naquele caso concreto, que importava se os quatro suspeitos faziam ou não parte de um grupo minoritário? Nada. Havia alguma motivação étnico-racial? Não. Quanto muito descontrolo emocional, crueldade, contexto explosivo. Se a etnia fosse relevante para entender o sucedido, seria necessário fazer o enquadramento, isto é, deixar claro o motivo pelo qual tal referência estava a ser feita. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 3. O que acabo de apontar são dois princípios muito básicos do jornalismo, mas às vezes parece que temos de lembrar o óbvio para não nos perdermos do essencial. Ao leitor não familiarizado com os códigos da profissão bastará pensar na razão pela qual algumas pessoas assumiram de imediato que aqueles quatro adultos eram de etnia cigana. Todas as agressões a professores são atribuíveis a ciganos? Não. A população cigana portuguesa não chega a constituir 1% da população total do país. Padece de grande invisibilidade na sociedade em geral, algo por certo inseparável da pobreza e da exclusão em que vive a esmagadora maioria. Tem, contudo, uma grande visibilidade nas notícias. As notícias que a envolvem tendem a incidir sobre pobreza, absentismo e abandono escolar, casamento precoce e, nalguns media que insistem em referir a etnia quando não é relevante, tráfico de droga, roubos, rixas. Há mais ciganos do que não ciganos a traficar, a roubar ou a andar à pancada? Não. Se nuns casos é repetidamente referida a etnia e noutro não, que ideia fica?Não quero desvalorizar o espírito crítico de cada um. Quero, apenas, recordar que grande parte daquilo em que cada um de nós acredita sobre realidades alheias ao nosso quotidiano vem da informação produzida pelos órgãos de comunicação social e, cada vez mais, de outros conteúdos difundidos pelas redes sociais. Devem os jornalistas, de forma deliberada, reproduzir preconceitos e estereótipos e fomentar discriminação? Não me parece. Já basta o que reproduzimos sem querer — por ignorância e falta de tempo para pensar.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP