Homens homossexuais lidam pior com o estigma social
Os homens mostram maiores dificuldades em lidar com uma orientação sexual diferente da heterossexualidade. O estigma associado a um comportamento sexual divergente da norma tem reflexos numa insatisfação identitária, aponta um estudo sobre a população Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT) em Portugal, que é hoje apresentado na Conferência contra a Homofobia promovida pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), em Lisboa. (...)

Homens homossexuais lidam pior com o estigma social
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento -0.18
DATA: 2010-05-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os homens mostram maiores dificuldades em lidar com uma orientação sexual diferente da heterossexualidade. O estigma associado a um comportamento sexual divergente da norma tem reflexos numa insatisfação identitária, aponta um estudo sobre a população Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT) em Portugal, que é hoje apresentado na Conferência contra a Homofobia promovida pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), em Lisboa.
TEXTO: O trabalho feito junto da população LGBT em Portugal foi coordenado pela professora da Universidade do Minho (UM) Conceição Nogueira e pelo investigador João Manuel Oliveira - teve ainda a colaboração do deputado do PS Miguel Vale de Almeida - e concluiu que, para os homossexuais e transexuais, Portugal continua a ser um país homofóbico. "Estas pessoas ainda se sentem ameaçadas e discriminadas em função da sua orientação sexual e identidades de género", refere o documento, a que o PÚBLICO teve acesso. O Sul e as áreas metropolitanas de Porto e Lisboa são as regiões onde há uma maior abertura para falar sobre a sexualidade. As regiões do Centro e Norte mostram valores inferiores, mas são as ilhas as regiões do país onde a abertura ao tema é menor. Face a esta realidade, homossexuais e transexuais optam pela ocultação da sua orientação, concluiu o mesmo trabalho: "É uma das modalidades a que recorrem para evitar o peso do estigma social. ""O insulto é das mais recorrentes formas de estigmatização efectiva a que as pessoas LGBT estão sujeitas", avançam ainda os investigadores. As pessoas que responderam aos inquéritos que estiveram na base do estudo dizem já ter sido insultadas três ou mais vezes em função da sua orientação sexual. Por outro lado, para homossexuais e transexuais, as instituições religiosas, especialmente a Igreja Católica, são aquelas que mais discriminam com base na identidade sexual, seguindo-se o Estado. A população LGBT considera-se discriminada por quase todas as instituições, excluindo os bancos, as instituições de saúde e os meios de comunicação social. "Bastante discriminados"O Estudo sobre a População LGBT em Portugal teve por base um inquérito respondido por 972 pessoas LGBT e demonstra uma "elevada sensibilidade ao estigma" por parte destes indivíduos. A identidade é um aspecto importante e central na vida destas pessoas, que demonstram uma "concordância elevada com a privatização do comportamento sexual". O estudo feito pela UM para a CIG avaliou também a imagem social das pessoas LGBT e a opinião da população face ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. As respostas de 1498 pessoas a um segundo inquérito revelam que as mulheres apresentam atitudes mais positivas que os homens em relação ao casamento homossexual. Os dados mostram ainda que, quanto mais à esquerda for o posicionamento ideológico de quem responde, maior é a concordância com o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os investigadores apontam também que o maior contacto com a diversidade sexual faz aumentar o grau de acordo com esta questão. O estudo identifica um peso considerável da religião nas opiniões dos portugueses. Ateus e agnósticos apresentam médias superiores de respostas em que valorizam o movimento LGBT e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Pelo contrário, entre aqueles que se assumem como religiosos há um maior relevo de respostas que se identificam com o heterossexismo tradicional, aversão a lésbicas e fobia face a pessoas transexuais. Quanto à imagem social que os portugueses têm das pessoas LGBT, o estudo observa que a percepção das pessoas é a de que os transexuais são "o grupo mais discriminado", seguindo-se-lhes os ciganos. Gays, lésbicas e bissexuais são também considerados "bastante discriminados", encontrando-se no mesmo intervalo das pessoas deficientes. Apesar desta percepção da discriminação, a grande maioria dos participantes revelaram nunca ter tido comportamentos insultuosos ou de ataque a alguém em função do género. O estudo nota também que "parece haver uma concordância relativamente à igualdade moral da homossexualidade" e à "não condenação da homossexualidade masculina" percebida entre a população portuguesa. "Tendencialmente, as respostas vão no sentido do igualitarismo, em que gays e lésbicas e pessoas heterossexuais deverão ter igualdade de oportunidades", afirmam os investigadores, no relatório que hoje será apresentado.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Marco Martins leva um murro da realidade
O filme São Jorge e o projecto teatral Great Yarmouth serão uma maneira de o realizador/encenador reiterar, em 2017, o seu desejo bipolar pela ficção e pela realidade. Ao encontro dos "despojos da crise". (...)

Marco Martins leva um murro da realidade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O filme São Jorge e o projecto teatral Great Yarmouth serão uma maneira de o realizador/encenador reiterar, em 2017, o seu desejo bipolar pela ficção e pela realidade. Ao encontro dos "despojos da crise".
TEXTO: Marco Martins chocou de frente com a realidade naqueles anos em que a crise se tornou soberana e de repente éramos um país de desempregados, emigrantes, novos pobres e banqueiros falidos — estes anos, corrige, apontando para a desolação ainda bem em carne viva dos lugares que com ele havemos de frequentar em 2017. Havia a crise, em 2012, Marco chocou de frente com ela quando se envolveu, no projecto teatral Estaleiros, com 16 trabalhadores dos parados Estaleiros Navais de Viana do Castelo a quem devolvia auto-estima, a quem suspendia a angústia do desemprego, dando-lhes o protagonismo numa encenação de À Espera de Godot, de Samuel Beckett, que rapidamente se tornou num auto sobre o trabalho, ou a ausência dele. 2012 acabou, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo também (história terrivelmente mal contada, essa, que em Abril levou a Polícia Judiciária a fazer buscas no Ministério da Defesa e nas instalações da empresa por suspeitas de corrupção e administração danosa; mas quem a contará?). Continuava a não haver rosto para a crise, apenas números, o mal-estar. Marco Martins começou então a pensar num vulto perdido que se movimentava nessa paisagem em mutação, sem saber para onde, sem saber o que deflagrava dentro dele. A seu lado, cúmplice no projecto de Viana do Castelo (e, antes e depois dele, no grupo de teatro que é a família artística de ambos, o Arena Ensemble), um actor que não escondia o desejo de interpretar no cinema um boxeur, porque tinha corpo capaz de aguentar pancada. As resistência iniciais do realizador (o boxe não lhe interessava. . . ) foram cedendo, a ideia de um filme sobre estes tempos começou a impor-se (vencendo as dúvidas sobre a associação entre a “crise” e o “boxe”), e Nuno Lopes, era ele o actor, meteu-se no ginásio e no crossfit, entrou pela noite dentro de personagens violentamente divididas, esmurradas — boxeurs que trabalham como polícias e seguranças e que, para subsistirem, colocam o corpo à frente para resolverem cobranças “difíceis”. Foi conversar para a Margem Sul, para o Bairro da Bela Vista, gravando no iPhone horas e horas de histórias, preocupações e problemas, encontrando os rostos daqueles números. Nascia a personagem de São Jorge, o filme de Marco Martins que chegará às salas portuguesas em Março e que valeu a Nuno Lopes, em Setembro passado, o prémio de interpretação na secção Horizontes do Festival de Veneza. Fica a impressão digital de uma personagem, Jorge, e simultaneamente de um actor, Nuno, porque quando se fala de um está-se a comprometer o outro: um boxeur (Jorge) que, para ficar com o filho, para ficar com a mulher, imigrante brasileira, deixa a sua passividade e atravessa a fronteira da moral, ele, tipo cheio de dívidas que ameaça quem tem dívidas; um intermediário, alguém de quem o realizador se serve para a realidade se pegar à ficção, alguém que, como um generoso distribuidor, está nos planos do filme para permitir que os outros contem as suas próprias histórias reais, aquelas, sobre a política e sobre o bairro, que tinham sido elencadas, discutidas, faladas entre todos durante horas de improvisação. Eis a impressão digital deste filme, declinação singular — belíssima — das chamadas “ficções do real”: São Jorge pode parecer filme de género, film noir, especificamente, com aqueles passos dados em direcção ao documento da realidade como deram nos anos 40 e 50 Jules Dassin, Robert Rossen ou Henry Hathaway, mas resulta justo, nobre, a ficção garante e contém a vitalidade das histórias reais. (E se encontramos em Jorge a angústia existencial do insone e vigilante Travis Bickle do Taxi Driver, de Scorsese, faz todo o sentido, foi um dos filmes na cabeceira do actor Nuno Lopes, que em declarações ao PÚBLICO explicitava uma genealogia, “são santos no inferno”). Com a personagem de Jorge, Marco Martins continua a olhar Nuno como obsessivo guardião do espaço familiar — recordam-se de Alice, a colaboração entre os dois há uma década? A família é o espaço onde tudo vai acontecer. E com São Jorge o realizador continua a fazer de uma cidade uma aventura plástica no desconhecido. Mas 2017 será também o ano em que Marco Martins se aventura numa outra cidade, num outro país, numa outra crise, ainda que infiltrada pela nossa, pela dos nossos (Nuno Lopes irá com ele, mas para ficar nos bastidores, como em Estaleiros — e Beatriz Batarda também): o vaivém entre ficção e realidade, entre os processos experimentados no cinema e o desejo de os prolongar no teatro, em objectos genuinamente comunitários como o de Viana do Castelo (ou, antes, o que o pôs a desconstruir um Shakespeare, Romeu e Julieta, com uma comunidade cigana de Santa Maria da Feira, no projecto Baralha), continuará muito longe daqui, numa decrépita estância balnear vitoriana do Norte da Inglaterra onde desde 2005 cerca de dez mil portugueses passam nove horas por dia a retalhar e a desossar perus por salários impróprios para locais (pelo menos até vir o “Brexit”). Great Yarmouth (ou Bernardo Mateus, o título ainda está em construção) é o grande projecto de Marco Martins para 2017, na sequência de um convite — do mesmo Renzo Barsotti que o levou em 2009 à Baralha e em 2012 aos estaleiros — para montar uma peça de teatro com um grupo de 20 imigrantes portugueses no coração da indústria de transformação alimentar britânica. Que é também, descobriu Marco entretanto, quando Great Yarmouth fez o seu vistoso coming out como a quinta cidade mais eurocéptica de toda a Inglaterra (71, 5% de votos “leave” no referendo de 23 de Junho), o coração do eleitorado “Brexit”. O que isso fará à comunidade que a crise em Portugal para ali deslocou é uma incógnita, e é em cima disso, dessa “realidade em mutação”, que trabalharão, o que torna tudo, diz o encenador, “mais aliciante”. Ao longo do ano, Marco Martins e a sua pequena equipa de dois actores-facilitadores tratarão de levantar as histórias reais dos homens e das mulheres (de todas as idades, de todos os graus de escolaridade, de todas as classes sociais, de todas as regiões do país) que de dia prepararam perus de Natal em gigantes como a Bernard Matthews (Bernardo Mateus, na muita peculiar língua-franca destes deslocados, outro assumido objecto de trabalho, antecipando um espectáculo entusiasticamente bilingue) e à noite disputam os karaokes de restaurantes, bares e cafés que antes da explosão dos voos low-cost serviram gerações de ingleses em veraneio e agora servem bacalhau com natas (os hotéis e os parques de campismo “gigantes”, entretanto, transformaram-se em enormes unidades de alojamento para trabalhadores deslocados). Depois da estreia em Maio de 2018 no Norwich & Norfolk Festival, a peça que estará todo este ano em construção passará pelo LIFT — London International Festival of Theatre e acabará por chegar ao Teatro Maria Matos, em Lisboa. Talvez possa vir também a ser um filme, diz Marco Martins, por enquanto incapaz de dissociar do cinema de Mike Leigh ou de Ken Loach a depressão que o efeito combinado do declínio do turismo e da subida acentuada da imigração (sobretudo do Sul e do Leste da Europa) foram agravando nesta cidade definitivamente working class (casais de fato-de-treino com carrinhos de bebé numa marginal já muito descaracterizada e sempre batida pelo vento, descreve-nos, muito graficamente). Essa Great Yarmouth — a do colossal desemprego não-qualificado do Reino Unido, mas também do seu bem mais avantajado sistema de protecção social, “apesar das Thatchers e dos Camerons” — estará sempre lá, mas não será, não é essa a ideia, o centro dos acontecimentos. A Inglaterra tem os seus cineastas políticos, Marco Martins está lá para documentar outra coisa: como a família portuguesa se está a transformar lá fora, por exemplo. “Há transformações muito interessantes nas pessoas que para lá emigraram, nalguns casos por efeito dos mecanismos de protecção social: mais casamentos, mas também mais divórcios. Ou muita gente que volta a estudar, por causa dos incentivos. ” Muito mais tatuagens, muito mais piercings, muito mais saídas à noite do que quando estavam “cá”. Para ele, enquanto autor, o projecto Great Yarmouth será — como o foi São Jorge, como o são todas as suas idas ao cinema, todas as suas idas ao teatro — uma maneira de reiterar o seu desejo bipolar pela ficção e pela realidade. “Nunca fugi ao trabalho de actor — tenho aliás um grande fascínio por ele. Mas todos estes processos com não-actores deram-me a descobrir que é possível trabalhar com a verdade. Quando começo a fazer o São Jorge e a ir para o bairro, para o boxe. . . eu não quero ter actores a fazer as pessoas que lá fui encontrar. Mas posso ter actores a contracenar com elas em vez de as reproduzir — o que põe tudo num sítio muito diferente. ” De resto, o que acaba de fazer no teatro (uma encenação de As Criadas, de Genet, em que pela primeira vez dispensou figurinos e cenários, para ter tudo mais cru) e o que lá fará a seguir (um espectáculo a estrear também em 2018, mas no São Luiz, totalmente centrado no trabalho de actor, instância que cada vez lhe interessa mais do que a da personagem) continuará a ir por aí. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E continuará a ir em direcção a estas pessoas que são “os despojos da crise” — uma crise que está longe de ter acabado, também é essa a verdade que ele quer contar desde que lá atrás, numa galáxia que nunca deixou que se tornasse muito distante (alguns dos 16 trabalhadores dos estaleiros de Viana do Castelo com que em 2012 fixou a lenta morte da empresa voltam a ser actores no seu novo filme), descobriu um poderoso meio termo entre a ficção e o documentário. Desvincular-se dessas pessoas, aliás, “não se faz, nunca se faz”: “Continuo a acompanhar a vida dos trabalhadores dos estaleiros de Viana, continuo a acompanhar a vida das pessoas do bairro onde fiz o São Jorge, continuo a ir ao boxe — e já passou um ano desde as filmagens. Ficam parte da tua história, ficam parte da tua família. ”Não, não estaria certo dizer que Marco Martins nunca mais se refez do choque com a realidade; o que está certo é dizer que nunca mais deixou de o provocar.
REFERÊNCIAS:
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As vidas pendulares de Cristina e João têm geografias e sonhos sem fronteiras
No ano em que Cristina Botana chegou ao Porto, João Nuno Brochado saiu. Ela deixou a Corunha para estudar modos de habitação informal. Ele foi para Macau para dar aulas e lastro à criatividade de cineasta. Duas histórias sobre cidades em movimento com o Porto em comum. (...)

As vidas pendulares de Cristina e João têm geografias e sonhos sem fronteiras
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: No ano em que Cristina Botana chegou ao Porto, João Nuno Brochado saiu. Ela deixou a Corunha para estudar modos de habitação informal. Ele foi para Macau para dar aulas e lastro à criatividade de cineasta. Duas histórias sobre cidades em movimento com o Porto em comum.
TEXTO: Este é o primeiro de uma série de artigos sobre pessoas que chegaram e saíram de cidades portuguesas durante o ano de 2018. Acompanhe o dossier O que chega e o que vai. No mapa mental de Cristina Botana, a fronteira entre a Galiza e Portugal sempre foi invisível. A distância da sua cidade à raia era abreviada por uma mesma história, cultura, modo de ser. E, talvez por isso, desde cedo se imaginou a viver em terras lusas sem prever sentimentos de quem se muda para lugar estranho. Com bagagem de turista, fez algumas vezes a viagem entre a Corunha e o Porto. Enamorou-se de uma cidade cartão-postal. Mas quando em Outubro se mudou para ficar, descobriu uma outra narrativa. Chegar, diz, foi mais difícil do que partir. Tecer do zero uma rede de amparos, formar ninho noutro território, construir rotinas em busca de segurança. Nas ruas do Porto, a arquitecta já não se cruzou com João Nuno Brochado. Um mês antes, o cineasta levantara voo rumo a Macau, com sentimento contrário ao da galega: “Foi muito mais difícil partir. Seria mesmo que fosse para Coimbra ou Lisboa. Existe algo no Porto que não se encontra em lado nenhum, esta coisa de sermos uma grande família. ”Há qualquer coisa de errante na vida das cidades. Geografia em contínua mudança, cais de partidas e chegadas, de alegrias e amarguras, de sonhos e desistências. Um permanente movimento, gente que se cruza ou se perde. João Nuno Brochado nunca tinha equacionado sair do Porto. Mesmo quando viveu em Lisboa alguns meses, por causa de um estágio, sentiu como urgente o regresso ao ponto de partida. Mas eis o ano 2018 e um dilema a moer-lhe o pensamento: na sua cidade já tinha feito tudo o que queria – ou, melhor dito, os sonhos profissionais por concretizar pareciam não caber, por agora, naquelas coordenadas. O convite para dar aulas feito por um docente da Universidade de Saint Joseph, em Macau, veio dar um empurrão. A 1 de Setembro, apanhava um avião para percorrer mais de 10 mil quilómetros entre as nuvens. Assumia a condição de emigrante. Filho de mãe professora primária com a aspiração da arquitectura por resolver e de pai arquitecto com desejos de ver o filho seguir-lhe as pisadas, João Nuno teve sempre “claríssimo” qual era o seu caminho. Em miúdo, fazia brincadeiras com a câmara de filmar do pai, resguardo de memórias dos natais e outras festas de família. E cedo encontrou no cinema uma “forma de expressão única”, junção da sua faceta de “nerd” com a de amante das artes. Tinha uns 15 anos quando realizou o seu primeiro documentário, sobre o Teatro Nacional de São João, cuja pintura do tecto tem dedo do seu tio-avô, o pintor Acácio Lino. Foi uma coincidência feliz. Uma visita de estudos levou-o ao imponente edifício e, em resposta ao trabalho da escola, que pedia um relato do passeio, perguntou se podia fazê-lo com imagem em movimento. Poucos anos depois, entrava na Escola de Artes da Universidade Católica. Seria cineasta. Para Cristina Botana o futuro não era tão óbvio. Olhando pelo retrovisor, recorda a menina a “fazer construções com as peças de madeira” do pai carpinteiro. Mas o encanto pela arquitectura andava lado a lado com outros. Tanto que na candidatura ao ensino superior juntou a essa primeira opção coisas tão variadas como “Política, Biologia, História e Ciências do Mar”, conta sorridente. “Podia ter sido muita coisa. ” Entrou no curso de Arquitectura na Corunha com fantasias de um ofício onde desenharia belas casas, encantada com a ideia de urbanismo e construção de cidades. E só com o voluntariado na ONG Arquitectura sem Fronteiras percebeu a possibilidade de abraçar outra missão. “Demorei muito a entender o lado social da profissão, no curso não se falava disso”, lamenta. E era assim mesmo numa cidade onde o direito à habitação não era assunto resolvido. “Faz falta um código de ética para arquitectos. Porque as consequências do que construímos devem ser cobradas. ”Cristina decidiu fazê-lo mesmo sem regulamentos decretados. Na sua cidade começou a prestar atenção à habitação clandestina e informal e descobriu uma longa matéria para tratar. A quantidade de barracos e casas muito precárias era significativa. Tanto que, além do trabalho com os Arquitectos sem Fronteiras, decidiu fazer do tema a sua tese de doutoramento. No terreno, em contacto com quem habitava nesses lugares, deparou-se com algo inesperado: “Muitas famílias eram de Portugal, sobretudo de Trás-os-Montes: Chaves, Bragança, Vila Real”, relata. E à conta dessa descoberta mudou o foco do estudo: “Queria perceber por que razão havia tantos portugueses a viver ali, que políticas havia cá para enfrentar esta situação, se a incapacidade de agir era semelhante à espanhola ou não. ”Em pouco tempo, estava em frente a um computador a mandar emails para todas as pessoas que pudessem ter contactos na área. Do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto chegaram relatos importantes e a possibilidade de ali se acomodar como investigadora externa. E então ela viajou. Tecendo uma rede outra cidade. Criar laços em Macau não foi tarefa complexa para João Nuno Brochado. O portuense já lá tinha ido e estabelecido um “grande fascínio” pela mistura das culturas portuguesa e oriental. Por vezes, por causa dessa proximidade, quase pode fingir não estar longe: a comunidade lusa é grande e unida, nos supermercados encontra várias marcas portuguesas e até já descobriu três restaurantes onde comer francesinha e enganar as saudades. Do outro lado do mundo, encontrou uma “positividade” que lhe fazia falta. Ao contrário do que acontece em Portugal, “onde as relações entre as pessoas se concentram muito na desgraça”, o foco a oriente soou-lhe menos pesado e mais colorido. “Voltei a acreditar que podia ser diferente”, conta, numa conversa durante as férias de Natal no Porto. Esse é um dos aspectos positivos. Em Portugal, João Nuno tinha conseguido “uma vida segura e estável” depois de um tempo difícil, quando há coisa de dez anos decidiu assumir o risco de criar uma empresa. Por essa altura a produção audiovisual no Porto era escassa, mas ele e três amigos queriam “mostrar o talento e potencial” da cidade. À “ferramenta” chamaram Cimbalino Filmes – prova mais do que suficiente da proximidade à urbe – e foram ganhando espaço no mercado: fizeram documentários, publicidade, programas de televisão, videoclipes. Em 2014, João Nuno lançava a sua primeira longa-metragem documental, Uma Montanha do Tamanho do Homem, onde conta a segunda vida da aldeia de Drave. No Porto, Cristina Botana passou os últimos meses a fazer trabalho no Lagarteiro, com a companhia de outra investigadora da Universidade do Minho, o apoio do assistente social José António Pinto e a “general” Bininha, habitante de Azevedo de Campanhã, como aliada fundamental para que as portas se abrissem. Em breve, irá para o São João de Deus. Tem falado com famílias, muitas delas ciganas, que foram realojadas em bairros depois de as suas habitações clandestinas e informais, os barracos, serem destruídas. Faz inquéritos, mapeia o problema. E entre a Corunha o Porto diagnosticou um princípio comum: os habitantes dos barracos da cidade eram famílias sem resposta habitacional que tinham, com os seus meios, improvisado um tecto. “Vi muitas semelhanças”, conta: “Se o Estado não funciona estas pessoas substituem o Estado. ”É uma não-solução. “Tirar alguém de um barraco para a colocar num bairro não é, por si só, uma resposta. Ajuda a dar dignidade às pessoas, mas a exclusão é estrutural e mantém-se”, lamenta a arquitecta de 34 anos. Em Espanha, as respostas têm-se centrado nos “despejos”, afirma, numa espécie de “chantagem” apresentada como hipótese única: “Ou renunciam ao seu modo de viver ou não têm nada. ” Por cá, há também muito por fazer. Por causa da sua tese, Cristina Botana alargou horizontes. Do Porto cidade turística, da Torre dos Clérigos e Casa da Música, foi até Porto oriental. “À cidade real. ” Quando olha para a doutoranda em início de trabalhos vê ilusões sem fim: “A minha intenção era fazer uma proposta de solução. Tinha ideias maravilhosas de como resolver as coisas”, recorda. Mas entre a teoria e o terreno a distância revelou-se imensa: “O que falhava não era tanto a política ou o programa de integração com o espaço, mas sim o sistema”, analisa: “É a nossa forma de fazer cidade que está a afastar as pessoas”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A frustração revelou-se grande. Se havia várias políticas, algumas bem-intencionadas, e mesmo assim tanta gente continuava sem habitação digna, “o que estaria a condenar estas pessoas à exclusão?” Cristina Botana esboça um leve sorriso, entre o inconformismo e a desilusão. A sua tese apresentará conclusões apenas no próximo ano, mas a arquitecta já sabe que elas terão raízes em várias áreas do saber. E serão sempre abstractas. Ficará pelo Porto, pelo menos, até Fevereiro. Mas já foi avisando a família da relação séria criada com Portugal, como quem antevê a continuidade da ligação. Porque nunca se sentiu estrangeira na cidade. Porque se encantou com o “espírito cidadão” mais apurado do que aquele que encontrava na Galiza: “Não sei se foi por em Portugal ter sido a cidadania a derrotar a ditadura enquanto em Espanha ela foi enterrada”, interroga-se. João Nuno Brochado há-de regressar ao Porto um dia. Não faz pontaria no calendário, avesso que é a previsões excessivas, mas a sensação de casa ele sabe onde encontrará sempre. No ano da sua saída, que foi o da chegada de Cristina Botana, ele viu projectos pessoais ganharem corpo (“às vezes os anos parecem salas de espera, onde apenas aguardamos que algo aconteça. Neste pude fazer o que quis”), ela arriscou trocar um emprego seguro por um futuro interrogado e um sonho de satisfação (“mais do que dedicar toda a minha energia a tentar encontrar um êxito laboral, tarefa ingrata nesta realidade, percebi que me fazia mais feliz abrir caminho na área que realmente me motiva e onde acho que posso fazer algo”). Para os dois, 2018 foi ano de “inquietação”. É que se a viagem deles se fez em direcção aos sonhos, a do mundo parece mover-se no sentido dos extremismos. E esse é o único movimento que não lhes interessa.
REFERÊNCIAS:
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Presidente do Conselho de Ética defende revisão da lei do aborto
Miguel Oliveira da Silva defende que é preciso coragem para rever pontos negativos da lei de interrupção da gravidez. (...)

Presidente do Conselho de Ética defende revisão da lei do aborto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Miguel Oliveira da Silva defende que é preciso coragem para rever pontos negativos da lei de interrupção da gravidez.
TEXTO: É favorável à legalização do testamento vital. Defende a importância da revisão dos “aspectos negativos” da lei do aborto. E considera que a distribuição de preservativos nas escolas só deve ser feita no âmbito de uma “educação sexual digna”. São afirmações do médico e professor universitário de ética, Miguel Oliveira da Silva, na sua primeira entrevista desde que assumiu, há nove meses, a presidência do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), o órgão que analisa os problemas éticos suscitados pelos progressos científicos. Suponha que há alguém que tenta suicidar-se. E deixa escrito que, no caso de sobreviver, não quer que o reanimem. O que acaba por acontecer. O senhor está no serviço de urgência e recebe-o. Respeita o pedido?Em primeiro lugar tentava reconstruir a vontade da pessoa com a família mais chegada. Se a família me confirmar esta vontade e não houver grandes dúvidas de interpretação e partindo do princípio que é uma primeira tentativa, acho que é boa prática clínica chamar um psiquiatra para quando ela voltar a si. Supondo que vai voltar a si. Baseio-me no conhecimento geral de cultura médica de que em 95 por cento das tentativas de suicídio, a pessoa agradece não morrer. Então não respeitava o pedido. . . Não foi isso que eu disse. Tinha é de ver a situação, se era uma situação aguda ou crónica, se era uma vontade manifestada recentemente ou há muito tempo. . . Centremo-nos na questão do testamento vital. . . ( documento com indicações dadas por alguém que esteja lúcido sobre os procedimentos médicos a adoptar no caso de doença, quando ele já não puder expressar a sua vontade). Falávamos de uma ordem para não reanimar na sequência de uma tentativa de suicídio. Mas na sequência de uma doença grave, oncológica, cardio-respiratória ou degenerativa em que o doente de uma forma clara, consciente, sabendo as consequências, faz um pedido para não o reanimar, acho que se deve respeitar. Apesar de ainda não estar legalizada, pode-se dizer que é uma prática que já existe nos hospitais portugueses? Claro que acontece muito mais vezes do que aquelas em que é escrito na ficha clínica. Quer por iniciativa médica, quer a pedido do doente. É a favor da legalização? Claro que sou desde que estejamos todos a falar da mesma coisa. Pode ser um documento escrito que remeta para o reconhecimento legal. Pode ser a escolha de um chamado procurador dos cuidados de saúde ou as duas coisas. Mas quantas pessoas vão assinar o testamento vital sem perceber o que vão assinar? A esmagadora maioria das pessoas não percebe sequer a bula dos medicamentos que compra. E uma das grandes críticas feitas ao testamento vital é a linguagem que pode ser hermética, crítica, propositadamente crítica para que as pessoas não percebam. Assinam de cruz, é um documento jurídico, o médico e a instituição estão defendidos e a pessoa não percebeu as consequências do que assinou. O testamento vital assim não serve. É preciso a pessoa perceber o que está a assinar e o documento escrito por iniciativa própria ou adaptado de uma minuta funcionar como um instrumento de diálogo entre o médico e o doente. Se houver dúvidas relativamente ao testamento vital, o procurador dos cuidados de saúde pode esclarecê-las. O que acho é que nós, médicos, não podemos ter a pretensão de ter a última palavra sobre a vida dos doentes. É contra o paternalismo dos médicos. . . Contra o excessivo paternalismo. Um bocadinho acho que é bom, até pode ser saudável. Paternalismo absoluto, radical de quem acha que o médico é que vai decidir e que o testamento vital é uma afronta à capacidade de decisão médica, acho que não. Isto levanta o problema da objecção de consciência para o testamento vital. Se para o aborto há cerca de 80 por cento de médicos obstetras e ginecologistas objectores de consciência, o que vai acontecer com o testamento vital?Prevê que haja uma larga percentagem de objectores de consciência? Acho que não vai ser inferior a 80 por cento. E atribui isso a quê? Não sou profeta, estou a fazer especulação. . . atribuo esta grande percentagem ao facto dos próprios médicos terem dúvidas, em si próprios sobre a sua própria vida, dúvidas pessoais. Também porque qualquer mudança legal em Portugal não é acompanhada da mudança de uma prática. Contrariamente a outros países em que a mudança da prática antecedeu a uma mudança legal, aqui a situação não é bem assim. Também porque muitos médicos podem não estar de acordo mas cumprirão por questões de conveniência. Se o chefe decidir não, a maioria dos subordinados decidirá não. O Conselho a que preside vai dar um parecer sobre esta questão do testamento vital? O anterior deu um parecer há um ano. Este já falou várias vezes com a ministra. Está para breve o aparecimento de vários projectos lei de vários partidos. Não demos parecer ainda porque tendo havido um há menos de um ano, é bom que haja um certo tempo de digestão até que outro surja. O Conselho anterior chumbou a lei do testamento vital. Esta tomada de posição inibe o actual Conselho de se pronunciar? Não temos problema nenhum em que o actual conselho tenha outro parecer, eu pelo menos, não tenho. Quando surgir o pedido há duas hipóteses: ou reenviamos o parecer de há um ano ou reanalisamos e fazemos um segundo parecer. E parece-me que a segunda hipótese é mais correcta. O doente deve ter sempre acesso livre ao seu processo clínico? Livre, completamente. Haverá casos em que isso será desaconselhável, mas na esmagadora maioria de casos, com certeza que sim. Por rotina acho que sim. O acesso pelas seguradoras é que tenho a maior das dúvidas, a maior das inquietações éticas. . . Porquê? Que dados tem para ter essas inquietações? Não trabalho no privado, não tenho conhecimento sobre a forma como as seguradoras funcionam na privada mas muitos doentes , muitos colegas têm partilhado as suas inquietações. Achamos que as seguradoras sabem demais sobre o processo clínico do doentes e que devem saber menos. Ao saberem de mais, isso pode prestar-se a discriminações e arbitrariedades, o prémio sobe, etc. Há conhecimento de casos desses? Há, mas não há conhecimento de doentes que ponham as seguradoras em tribunal por causa disso, que eu saiba. “A distribuição de preservativos nas escolas, só por si, não é educação sexual” Tem-se pronunciado contra a distribuição de preservativos nas escolas, mas sempre foi a favor da educação sexual nas escolas. . . Acho que a distribuição de preservativos nas escolas, só por si, não é educação sexual. Mas não sou a favor nem contraPorquê que não é a favor? Acho que essa medida, só por si, é enganadora. Eu sei que não é por um jovem ter um preservativo no bolso que vai ter relações sexuais, sei que o acesso aos meios contraceptivos não antecipam as relações sexuais, sei que o acesso a contraceptivos eficazes não aumenta o numero de parceiros sexuais, não estou nessa fase. Não estou como aquelas pessoas que dizem: estão a dar pílulas e preservativos, estão a antecipar o início das relações sexuais, nada disso. Acho é que só deve haver preservativos dentro das escolas se isso for enquadrado numa educação sexual digna desse nome que não sei se existe. A questão que se põe é saber o que fazer para que a educação sexual avance. Para que haja um declínio de infecções por HIV, da venda da pílula do dia seguinte, do número de abortos em jovens, etc. E isso é que me parece importante. E sobretudo para que as pessoas sejam mais felizes por ter uma vida sexual activa. O que é que falta para que isso corra assim? Que muitos dos professores envolvidos nessas sessões de formação, vivam em paz com eles próprios. Com os seus valores, os seus afectos, com a forma como vivem o amor, a vida. E se calhar muitos deles não vivem assim, reduzem as aulas de educação sexual ao ensino da fisiologia sexual, dos métodos contraceptivos. E já não é mau. Porque eu fico assustado quando vejo o número de alunos, génios iluminados que entraram para aqui [faculdade de medicina]com 19, a nata das natas dos alunos de Portugal e eles não conseguem identificar a altura certa de uma ovulação. E isto é educação sexual igual a zero. Dir-me-á educação sexual não é só isto. Mas sem isto não há educação sexual. Podemos falar sobre os afectos, sobre a ternura, sobre a fidelidade, sobre o crescimento a dois mas de que tipo de educação sexual estamos a falar se uma mulher não sabe identificar a ovulação?O que acha que podia alterar esta situação? O documento sobre a introdução da educação sexual nas escolas em cuja redacção participou, não vai ajudar? Esse documento tem muitas cedências da minha parte. Apesar de tudo revejo-me na parte dos chamados conteúdos mínimos da educação sexual e que fala da ovulação, da menstruação, etc. etc. Que cedências fez? Gostaria que isso ficasse dentro do grupo que integrei. Mas acho que a avaliação dos alunos e dos professores devia ser mais exigente e com mais consequências. E não devia incluir apenas a avaliação da aprendizagem, mas da metodologia. Ensino sem avaliação não existe. De forma que proporia que a avaliação fosse mais contundente. Tem salientado a importância da “abstinência voluntária” dos jovens. Porquê? Dois adolescentes de 15, 16 ou 17 anos, numa relação de namoro, podem sentir-se muito atraídos um pelo outro intelectualmente, espiritualmente, afectivamente, sexualmente mas acham que não querem ter já relações sexuais. Só daqui a uns meses, daqui a um ano ou um ano e meio. E acha que esse aspecto não é referido? Eu gostaria que fosse muito. Porquê que é tão importante? Porque estou profundamente convencido que ninguém é mais feliz por começar a ter relações sexuais cedo. Cedo é muito relativo, eu sei. Para um cigano não é o mesmo do que para um caucasiano. Mas na cultura dominante, penso que ninguém é feliz por começar a ter relações com 13 ou 15 anos. Porquê que acontece? Há um apelo social para isso. . . Um apelo nos media, um erotismo disseminado pela sociedade toda, um apelo difuso subconsciente de que o sexo é bom, que o prazer sexual é bom. . . E é, é magnífico, mas deve ser enquadrado numa relação de afectos e não consumido como quem come um bife com batatas fritas. E deve ser inserido num projecto, não necessariamente de vida, mas num projecto. Penso que adolescentes de 12, 13, 14 anos não têm qualquer vantagem em começar a ter relações sexuais. É o que penso como cidadão e como pai de ex adolescentes, mas não é a minha posição como ginecologista. Nunca direi isto a uma miúda de 13 anos que me aparece na consulta. “Não tenhas relações sexuais”. Era o que faltava. Mas tentarei saber se tem uma relação com alguma estabilidade com o namorado, se não há violência, se ele a respeita, se há satisfação e informa-la-ei para que não engravide nem tenha doenças de transmissão sexual. Três anos depois da lei do aborto. Que balanço faz? Um balanço muito contido. Em termos de saúde pública, acho que há ganhos. As mulheres deixaram de morrer por aborto (até às dez semanas) e as sequelas diminuíram imenso. São ganhos indiscutíveis que ninguém pode contestar. Do ponto de vista de cidadania, as mulheres deixaram de poder ser levadas a tribunal por fazerem um aborto. É um ganho imenso. Estes os ganhos. As preocupações, são muitas muitas. Nomeadamente. . . O estatuto de objector de consciência. A percentagem de mulheres que falta à consulta de planeamento familiar, obrigatória 15 dias depois. Cerca de 50 por cento falta. Inquietante. É um sinal de que vão correr risco de novo aborto? Não é um sinal, é a certeza e os próprios dados da Direcção Geral de Saúde indicam isso. Que há mulheres que fazem dois e três abortos num ano. O que nos levanta questões difíceis do ponto de vista ético. Alguns defensores da despenalização do aborto há três anos, médicos, enfermeiros, questionam-se sobre se o aborto deve ser gratuito nos segundos e terceiros casos. O espantoso é que os partidos que se opuseram à despenalização há três anos se tenham esquecido de falar nisso na última campanha eleitoral. Dão isto como assente, como um dado adquirido ou querem reflectir sobre isto? E mesmo os outros, que estão a favor. Eu que dei a cara pela despenalização, tenho dúvidas sobre o estatuto de objector de consciência. As maiores dúvidas de que seja o mais adequado e isto, aliás, pode vir a aplicar-se, daqui a uns meses, no caso do testamento vital. Porque em Portugal, o estatuto de objector de consciência diz que quem faz um aborto, tem de fazer todos e quem se recusa a fazer um, tem de se recusar a fazer todos. Acho que neste estatuto que tem algumas virtualidades, o que se pretende? Quer-se evitar que o médico recuse, de manhã, fazer um aborto num hospital do Estado e o faça, à tarde, numa clínica privada. Mas isto faz com que muitos médicos que poderiam aceitar, nalguns casos, interromper a gravidez, (uma mulher que engravida com um dispositivo intra-uterino, ou que tem o azar que um preservativo se rompa, que tomou um antibiótico e não sabia que os antibióticos interferem no metabolismo da pílula, etc) o recusem porque sabem se forem fazer um, têm de fazer todos. (Há entre 75 a 80 por cento de médicos obstetras objectores de consciência). Se eu aceitar interromper a gravidez a uma mulher que engravidou com um dispositivo intra-uterino, tenho de aceitar fazer um aborto a uma mulher que não toma a pílula porque não quer, e que tem um comportamento permissivo e irresponsável. Então acha que esta lei devia ser alterada? Acho que é importante ter coragem de rever aspectos negativos desta lei. E não vejo ninguém com vontade de lhe mexer, nem os que votaram a favor, nem os que votaram contra. O Conselho vai ter alguma iniciativa nesse sentido? Neste momento não está previsto. Pessoalmente teria muito gosto em que o Conselho pensasse sobre isso. Mas sou um em 19. Apesar de ser o presidente, não posso impor a minha vontade aos outros 18. Não faço ideia se os outros estão muito interessados em pensar nisso. Mas enfim ainda temos mais quatro anos e meio de mandato e é possível que tomemos posição sobre o assunto. E esta é a sua principal preocupação, três anos depois da lei do aborto? Tenho outra inquietação. O número de abortos está a subir. De 12 mil passou para 18 mil em 2008 e para 19 mil em 2009. Aumentaram os abortos ou a visibilidade sobre eles? Está a subir o registo legal do número de abortos até às dez semanas. Era expectável. . . É expectável durante dois a três anos que isso aconteça porque são muitas mulheres que vêm do aborto clandestino e que o deixam de fazer às escondidas. Mas vamos ver até quando vão continuar a subir. Se os números continuarem a subir, a subir, é o total falhanço do planeamento familiar. E não acha que é preciso mais tempo para perceber isso? Pouco mais tempo. O máximo, um ano. Quando tivermos os dados de 2010 em 2011, se a tendência ascendente continuar, acho que alguém terá de ter coragem de dizer que é tempo de pensar sobre isto e que há algo não está a funcionar em termos de contracepção. Por ignorância? Ainda por alguma ignorância, também. Se as pessoas não sabem quando têm a ovulação, se há mulheres que tomam três pilulas do dia seguinte no mesmo mês, três vezes contracepção de emergência num mês. . . ninguém tem três ovulações num mês! É ignorância total, abuso, mau uso. A questão é que, além de muita ignorância que ainda existe, temos de saber se o recurso ao aborto vem, nalguns casos, na sequência de uma política irresponsável de contracepção. Acho que quando tivermos quatro anos de lei do aborto é tempo mais do que suficiente de parar para pensar. Não é para mudar a lei. É para avaliar. E não vejo ninguém a querer fazer isso. É surpreendente. Contra a Maternidade de SubstituiçãoConcorda que a lei da procriação medicamente assistida exclua as mulheres solteiras e homossexuais?Concordo. Porque sou contra a maternidade de substituição. E se sou em casais de heterossexuais, também sou contra em casais de homossexuais. Que razões são essas que o levam a ser contra? Razões filosóficas, éticas, genéticas. Cada vez mais a ciência, a filosofia, a bioética falam de uma coisa chamada epigenética, quer dizer a genética depois da concepção. E imagine duas mulheres, a A e a B, e uma placa de petri (prato de vidro) com um embrião com oito células, mais ou menos com três dias de vida. Que surgiu por fertilização in vitro. E há duas mulheres candidatas a este embrião, em cuja útero o embrião vai poassar até 38 semanas. Elas não lhe vão dar apenas o útero, mas o ambiente hormonal, um ambiente bioquímico. Os genes vão ser alterados, activados, reactivados. Aquelas mulheres vão-lhe dar ainda diferentes ambientes emocionais e psicológicos, há toda uma alteração genética que faz a diferença. E quanto à adopção? Acho que adopção deve estar aberta apenas aos casais heterossexuais. E a lei devia ser repensada porque a prática mostra que há muitos cidadãos solteiros homossexuais que adoptam crianças, escondendo à Segurança Social que têm uma relação estável com um parceiro do mesmo sexo. Estou farto de conhecer uniões de facto de homossexuais com crianças adoptadas. Acho que se deve ter a coragem de alterar a lei da adopção. Como cidadão, a minha sensibilidade não é favorável a essas situações. Porquê? Acho que em termos de antropologia sexual, temos uma dualidade masculina e feminina. E precisamos de ter no nosso desenvolvimento uma referência feminina e uma referência masculina. E com os casais homossexuais isso não existe. Ser homossexual não é uma escolha e muito menos uma doença. Ninguém opta por se sentir atraído por outro homem ou por outra mulher. Assim com na heterossexualidade ninguém opta por nada. Ou opta por muito pouco. Ninguém pode ser criticado por ser homossexual. Mas é uma situação que traz limitações. E estas têm de ser levadas em conta em algumas opções que tomam e que não tomam. E portanto, para mim, não há qualquer razão de fundo, à partida, para que um casal homossexual deva adoptar uma criança. São referidas estudos que mostram que crianças educadas por casais homossexuais não têm mais problemas do que as que vivem com heterossexuais. . . Não sei. . . Para já, acho que não há tempo suficiente para isso. Quanto tempo é que tem de durar esse estudo? Dois anos, 20 anos? Não conheço nenhum estudo, por exemplo de há 18 anos. . . aliás, quais eram os casais homossexuais que há 18 anos assumiam a educação de uma criança? Mas se houver estudos em contextos sócio-culturais diversos, em geografias diversas, que demonstrem que a evolução e a maturação do desenvolvimento dos adolescentes, educados ao longo de 15 e de 20 anos por casais homossexuais, são semelhantes ao dos heterossexuais, estou disponível a rever a minha posição. Que reflexão faz sobre os mais recentes escândalos de pedofilia na Igreja? Acho que a Igreja tem de pensar muito na vivência da sexualidade no seu interior e fora dela e que para aconselhar a vivência da sexualidade fora dela, tem de fazer um grande exame de consciência sobre o que se passa no seu interior. Os padres têm de poder casar e ter filhos, as mulheres têm de ter acesso ao sacerdócio, as pessoas divorciadas têm de ter acesso à comunhão e poder voltar a casar, etc. O que diz o Papa é que convém ter mais atenção aos jovens seminaristas. Penso que isso é manifestamente insuficiente e penso que a pedofilia na Igreja não é mais frequente do que na sociedade em geral. Até pode ser mais rara em termos estatísticos, só que a Igreja é uma instituição com grandes obrigações morais, tem de fazer escola, dar o exemplo moral e portanto as pessoas não podem de maneira nenhuma pactuar com isso. O anterior Conselho de Ética tinha muito mais visibilidade. Este tem sido bastante mais discreto. Por opção? Acho importantíssimo o Conselho ter visibilidade e protagonismo. Falando por mim, foi inteiramente voluntário um estilo “low profile”. A transição do outro mandato para este foi muito polémica, muito controversa e portanto interessa-me muito mais apresentar resultados do trabalho do Conselho. Já aprovámos o nosso primeiro parecer sobre realização de autópsias a pedido de particulares, sobretudo de familiares. E qual foi?É razoavelmente favorável. Mas esta semana será público.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Conan Osiris: o 2018 dele foi tão silly e deep que o mundo podia acabar amanhã
Foi uma das apostas do Ípsilon para 2018, e foi certeira. Deu dezenas de concertos pelo país, as suas canções chegaram a várias pessoas, dos oito aos 70 anos. Viveu muita vida, valeu muito a pena – na alegria e na tristeza. (...)

Conan Osiris: o 2018 dele foi tão silly e deep que o mundo podia acabar amanhã
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi uma das apostas do Ípsilon para 2018, e foi certeira. Deu dezenas de concertos pelo país, as suas canções chegaram a várias pessoas, dos oito aos 70 anos. Viveu muita vida, valeu muito a pena – na alegria e na tristeza.
TEXTO: Retoca o cabelo, ajeita os brincos dourados, baixa as mangas do casaco e faz poses para a câmara. Tiago Miranda, 29 anos, mais conhecido por Conan Osiris, parece que nasceu para isto, para ser fotografado. “Acredito bué que uma fotografia te imortaliza”, diz. Num banco do Kit Garden de Joana Vasconcelos, no Largo do Intendente, em Lisboa, vira-se de cabeça para baixo, pernas para cima, faz olhar matador. Muitos dos que passam param, observam. Há quem reconheça bem esta cara. Afinal, goste-se ou não, 2018 pertenceu-lhe. Desde o primeiro concerto, esgotadíssimo, na ZDB, com fãs a cantarem as letras do início ao fim do álbum Adoro Bolos, até à actuação no Tivoli, durante o Super Bock em Stock, com casais de 70 anos, crianças de oito, pessoas dos 20 aos 50 nas primeiras filas. Pelo meio deu dezenas de concertos, sobretudo em Portugal mas também no Brasil, no festival SIM São Paulo. Entrou num anúncio da NOS, recebeu vídeos de velhotes no Alentejo a ouvir a sua música. “Isto é quase tudo o que sempre quis: conseguir comunicar com as pessoas na boa. Ver que a minha música está a conseguir fazer isso por mim. Daí que se o mundo acabasse amanhã, tá-se bem: já consegui conectar-me com pessoas tão diferentes de mim. É que bué tempo da minha vida foi não conseguir falar com as pessoas por causa de entraves e, para mim, não poder comunicar é mortal. ” Conan Osiris já conseguiu fazer boa parte do que sempre quis, mas não vai abrandar em 2019. É um dos compositores escolhidos para o Festival da Canção, vai ser o programador de música na Semana de Programadores partilhada pelo Festival DDD – Dias da Dança e o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), no Porto, e vai continuar a trabalhar no quarto disco. Entre muitas outras coisas que não pode revelar. Uma coisa é certa: ele vai andar por aí. No início de 2018 disse que se o mundo acabasse amanhã se ia "estar a cagar”. Depois de um ano em que tocou e foi falado em todo o lado, diria a mesma coisa?Diria, se calhar até diria com mais força. Porque fiz ainda mais cenas, vivi ainda mais vida, então valeu ainda mais a pena. Porque já interagi com mais gente. Refere-se às pessoas que conheceu ao longo deste ano e ao alcance da sua música?Exacto. Pessoas que me vieram dizer cenas, pessoas que sentiram cenas por me conhecer…Qual foi a reacção que mais o marcou?Não consigo apontar uma… Há uma rapariga que costuma vir a bué shows meus e tinha mandado mensagem a dizer que tinha acontecido uma cena um bocado má na vida dela, mas que ia na mesma ao concerto. Vi-a na primeira fila, a chorar. E eu sabia a razão. Tive de deixar de olhar para ela porque…Porque se não começava a chorar?Provavelmente. A sua música dá para chorar?Sim. Não só porque eu acho, como bué gente me vem dizer que ficou tocada. Depende da sensibilidade. Há quem vá achar que é uma cena bué silly, há quem vá achar que é uma cena bué deep. Que parte de Conan Osiris é personagem e que parte não é?Nada é e tudo é. Qualquer pessoa, com qualquer trabalho, é e não é. Mas o Tiago Miranda e o Conan Osiris são a mesma pessoa?É a mesma coisa. Não ia fazer música e dizer: “Lancei um álbum, sou o Tiago Miranda. ” Era ridículo. Por causa do nome?Sim. Primeiro, porque é o nome que me deram, não aquele que escolhi. Logo aí, não é cem por cento eu. Não me representa como um todo. Já Conan Osiris representa-me mais. É o que escolhi para me representar. Se um dia houver viagens no tempo, no passado vai representar-me, no futuro também. Já que fala no passado: foi vítima de bullying na adolescência e quando andava na escola já se vestia de forma considerada diferente. A roupa não era assim tão diferente, era roupa que existia, normal. O que para mim não é normal são coisas como a violência, a destruição. Vestia-me normal, agia normal, falava para as pessoas normal, se calhar ria-me de coisas que mais ninguém achava piada ou ouvia música que muita gente ao pé de mim não ouvia, mas aquela música existia e não era só eu que a ouvia. Portanto, vou continuar a bater nessa tecla da normalização das coisas que não são destrutivas. O bullying não vinha daí, então. Vinha, é óbvio. Vinha de eu ter o cabelo pela cintura, de usar três terços ao mesmo tempo… Na realidade, a escola é um sítio violento, desde sempre. Não quero dizer que vai continuar a ser, porque os miúdos agora estão mais evoluídos. Cada vez mais sinto que a ignorância é opcional. Tem-se acesso a tudo, temos um telemóvel, temos mais pólos de educação para nos ajudar a perceber a via que podemos querer seguir ou não. Independentemente do contexto familiar?Ya. Com a net consegue-se chegar lá. Podemos construir a nossa educação, e notamos isso nos putos de hoje. Isso é bom. É esperançoso. Se pelo menos tentar não perpetuar coisas que têm de acabar, já estou confortável. Tem a ver com promover a tolerância, a convivência. Está errado vermos algo de uma cultura que não está próxima da nossa e encararmos isso como uma piada. Uma coisa não pode ser um objecto de humor só por ser externa à nossa cultura. Essa questão leva-nos para a música: no Adoro Bolos, além de fado, há kuduro, música cigana, do Médio Oriente, dos Balcãs. Não está a apropriar-se disso, a fazer objectos de humor?Acredito que quando começamos a levar uma coisa demasiado a sério, com trâmites demasiados rígidos, aí é que nascem certas implicâncias. Eu tenho bué planetas em Sagitário, bué planetas na Casa 5 [do mapa astral], e isso tem muito a ver com o humor. Eu tive tanta tristeza na minha vida como humor. Não consigo tirar o humor só para as pessoas pensarem que é uma coisa mais séria. Estou-me a cagar para essa merda. Imagina, quis meter um bocado de humor naquela música, mas não quer dizer que seja jocoso. Porque é que gosta de cruzar tantos tipos de música?Isso espelha o que ouço. Para mim é o normal. O que não suporto é ver as pessoas a dançarem bué uma cena e isso ser uma piada. Dançar ironicamente. Exacto. As cenas que mais detesto são as expressões “gostar ironicamente”, guilty pleasures. Odeio essa merda. Tudo é cultura. Tipo, és guilty de quê? Eu adoro a Rebeca, da [canção] O meu nome é Rebeca. É uma mulher que tem não sei quantos anos de carreira, que trabalha imenso, que faz as músicas dela… que direito é que tenho de chamar àquilo um guilty pleasure? É mesmo um pleasure. E é assim desde que ouve música?Exacto. A minha educação musical foi assim. Quando andava na escola, no Cacém?Quando fui para o Cacém foi quando começaram a surgir as trocas mais multiculturais. Eu vivia em Lisboa e já tinha começado a surgir o kuduro, mas lá as coisas estavam muito mais à frente. Foi todo um novo mundo. Comecei a ouvir música que nunca tinha ouvido. Se não tivesse estado lá não tinha nem metade da minha cultura musical. Por muitas situações más que tenham acontecido, apesar do bullying, não olho para trás e vejo isso como coisa má. Foi uma coisa má na altura, mas sinceramente eu tinha uma vida em casa tão má que era tudo mau. Pelo menos na escola estava com os meus amigos e ria-me. Era bué bittersweet, e sempre foi, porque afinal de contas a vida é bué bittersweet. E também é um bocado essa a cena da minha música. A música funcionou como um mecanismo para ajudar a lidar com isso tudo?Totalmente. A música tem mudado de disco para disco. O primeiro, Silk (2014), tinha sobretudo músicas que fez para desfiles de moda, apesar de terminar com a Amália, que é mais próxima do que faz agora. No segundo, Música, Normal (2016), a preocupação com as letras parece-me menor e não canta apenas em português. E por fim Adoro Bolos, lançado no final de 2017. É como se estivéssemos a acompanhá-lo numa procura de identidade, de um som. Não acho que seja tanto uma procura, mas a minha gaveta do ser português sempre esteve com uma fechadura um bocado estragada. O que é mesmo ser português? Demorou-me vinte e tal anos para perceber. Com o Adoro Bolos se calhar consegui perceber o que é eu ser português. E o que é?Acho que agora estamos a saber o que isso é. A aceitar e curtir ser português. Mas demorou. Há dez anos sei perfeitamente que não ia cantar em português porque tinha vergonha. Tenho super-respeito por quem cantava em português nos anos 80, tipo Lena d’Água. Nos anos 90 achávamos que cantar em inglês é que era fixe e depois lembramo-nos que “oh pá, baza lá sermos nós próprios”. Nesse sentido, os artistas que nos últimos anos fizeram questão de cantar em português, da FlorCaveira ao B Fachada, passando pela Cafetra, foram uma influência?Sim, mas isto também tem a ver comigo, porque eu tinha vergonha da minha voz e comecei a perder isso na Amália. Quando fiz a Amália fiquei duas semanas a pensar: “Eu não vou pôr isto [no disco], eu a cantar em português, é bué pessoal, faz-me chorar demasiado. ” Mas se isto resulta para mim, porque não hei-de mostrar às pessoas e elas que sintam o que sentirem? Foi a partir daí que pensei: “Acalma-te. A tua voz não é assim tão feia. Talvez melhore. ”E o quarto disco? Já há canções?Isso agora… Não gosto de fazer projecções, gosto de respeitar o presente. Mas claro que já estou a trabalhar. E editoras, já andam atrás?Isso também não posso dizer. Mas há conexões. Na marcação desta entrevista percebemos que dá muita importância às fotografias. Porquê?Acredito que uma fotografia te imortaliza. E às vezes tenho dificuldade em lembrar-me de coisas quando não há fotos. Não é só uma fotografia, aquilo está a marcar um ponto. Daqui a 50 anos, quando não te lembrares de como era a tua cara, o teu cabelo, a cor da tua roupa, vais olhar para aquelas fotos e dizer: “Uau, eu era assim. ” Vivemos num mundo visual. Não respeitar isso ou fingir que não se dá importância a isso é hipócrita, na minha opinião. Por outro lado, não tem nenhum vídeo oficial. Pois [risos]. Talvez o vá fazer, mas este álbum [Adoro Bolos] não foi ainda o lugar para isso. Vejo este álbum como um livro. Um livro do género “quem é que eu sou”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É um dos compositores convidados do Festival da Canção de 2019. Interessa compor e escrever para outras pessoas?Sim. Infelizmente, tenho muitas coisas pendentes de pessoal que me pediu e não tenho tido tempo. Mas dá-me gozo e é lisonjeador um artista – principalmente pessoal que já está aí há bué tempo – vir ter comigo porque confia em mim o suficiente para haver uma brecha em que me torno ele e eu estou a falar por ele. E já consegue viver da música ou ainda trabalha na sex shop?Já não trabalho, mas tenho boa relação com eles e estou sempre a dizer: “Olhem, se precisarem de horas extra, por favor chamem-me. Tenho saudades. ” Deu-me educação, mesmo sobre a humanidade. E sobre coisas que nunca iria saber se não tivesse ido para lá. A sexualidade é importante para as canções?É. Ao trabalhar lá consegui perceber que não existe a sexualidade. É uma coisa que está em ti e que devia ser muito mais naturalizada. A sexualidade somos nós próprios, é a dança, a maneira como movemos a boca; tudo é sexualidade. Se tens problemas com a tua sexualidade a tua vida está fodida. Essa aprendizagem foi fulcral para mim. Eu fui trabalhar para a loja e era virgem. Isso já diz muito.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola violência cultura educação mulher género sexualidade rapariga vergonha
Deputado municipal do Porto multado por post no Facebook sobre romenos "energúmenos"
Comissão para a Igualdade aplicou coima de 428 euros a António Santos Ribeiro por discriminação racial. (...)

Deputado municipal do Porto multado por post no Facebook sobre romenos "energúmenos"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Comissão para a Igualdade aplicou coima de 428 euros a António Santos Ribeiro por discriminação racial.
TEXTO: A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) aplicou uma coima ao deputado municipal do Porto António Santos Ribeiro pela “prática de discriminação racial”. Em causa está um post de Julho na página de Facebook do deputado, eleito nas listas de Rui Moreira, intitulado “Ciganos romenos no Porto”. A informação foi avançada na sexta-feira pela associação SOS Racismo, que apresentou a queixa e que pretende agora que o deputado municipal se demita. "O SOS Racismo foi hoje [28 de Dezembro] notificado da decisão proferida pela CICDR, da condenação do deputado à Assembleia Municipal do Porto, António Santos Ribeiro, na coima de 428, 80 Euros, pela prática de actos de discriminação racial, sob a forma de assédio", pode ler-se no comunicado. A associação cívica exige, ainda, que a condenação leve o deputado municipal a apresentar a demissão, considerando “particularmente grave que um responsável autárquico, com funções de representação do povo que o elegeu, difunda e torne públicas mensagens de natureza discriminatória, em afirmações pontuadas por preconceitos e insultos”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O PÚBLICO não conseguiu chegar à fala com António Santos Ribeiro. Na publicação de Julho, o deputado referia-se a um “grupo de 20 a 30 romenos”, na sua maioria jovens e mulheres que, segundo ele, seriam um “autêntico martírio” para comerciantes e residentes da zona da Boavista, no Porto. Dias após as declarações, a polémica passaria das redes sociais para a Assembleia Municipal. Seria a própria associação SOS Racismo a apresentar uma queixa junto da CICDR, que instaurou ao deputado um “processo de contra-ordenação” com o objectivo de “apurar a natureza discriminatória das declarações proferidas publicamente”. “Não, não sou racista nem xenófobo, mas sou declaradamente contra quem recusa qualquer tipo de ajuda social e prefere continuar a viver da mendicidade, do pequeno furto e a dormir em jardins e espaços públicos, conspurcando os terrenos que são de todos os cidadãos”, escreveu na publicação do Facebook, onde usa o nome David Ribeiro. O texto termina com um apelo: "[É preciso] encontrar rapidamente formas eficazes de proteger os cidadãos destes energúmenos”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda racismo social igualdade mulheres racista assédio discriminação
Post no Facebook sobre romenos "energúmenos" vale processo a deputado municipal do Porto
Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial abriu processo de contra-ordenação contra António Santos Ribeiro. Em causa estão declarações de "natureza discriminatória". (...)

Post no Facebook sobre romenos "energúmenos" vale processo a deputado municipal do Porto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-08-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial abriu processo de contra-ordenação contra António Santos Ribeiro. Em causa estão declarações de "natureza discriminatória".
TEXTO: As declarações apreciadas como sendo de natureza discriminatória foram proferidas pelo deputado António Santos Ribeiro num post na sua página de Facebook, em Julho, e espalharam a discórdia na própria Assembleia Municipal (AM) do Porto dias depois. Agora, no seguimento de uma queixa apresentada pela SOS Racismo, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial instaurou ao deputado eleito nas listas de Rui Moreira um “processo de contra-ordenação” com o objectivo de “apurar a natureza discriminatória das declarações proferidas publicamente” por Santos Ribeiro, confirmou a comissão ao PÚBLICO. O processo, acrescenta, decorrerá "de acordo com os trâmites previstos na Lei n. º 93/2017 de 23 de Agosto", que estabelece o regime jurídico da prevenção, da proibição e do combate à discriminação, em razão de ordem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem. Num post entretanto eliminado, cuja primeira frase, uma espécie de título, era “ciganos romenos no Porto”, o deputado referia-se a um “grupo de 20 a 30 romenos, maioritariamente mulheres e jovens” que, segundo ele, seriam um “autêntico martírio” para residentes e comerciantes na zona da Boavista, no Porto. “Não, não sou racista nem xenófobo, mas sou declaradamente contra quem recusa qualquer tipo de ajuda social e prefere continuar a viver da mendicidade, do pequeno furto e a dormir em jardins e espaços públicos, conspurcando os terrenos que são de todos os cidadãos”, escreveu no Facebook, onde usa o nome “David Ribeiro”. O texto termina com um apelo: [É preciso] encontrar rapidamente formas eficazes de proteger os cidadãos destes energúmenos”. Em comunicado, a SOS Racismo, que recebeu uma notificação a comunicar a abertura do processo, já se congratulou com a decisão da comissão, esperando agora que “o processo de contra-ordenação cumpra os seus trâmites legais, com a celeridade que a gravidade do caso implica”. A associação solicita ainda aos deputados da AM e ao movimento de Rui Moreira que “tomem uma posição pública sobre o sucedido”. Na altura, em declarações à agência Lusa, António Santos Ribeiro considerou que o texto em nada indicava que era "racista, xenófobo ou que tenha incitado ao ódio". O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar o deputado das listas de Rui Moreira e o próprio presidente da AM, Miguel Pereira Leite. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O tema passou das redes para a assembleia na reunião de 31 de Julho quando, ao pedir a palavra, uma munícipe foi avisada pelo presidente da AM das condições da sua intervenção. Tatiana Moutinho começou por desistir de falar, mas acabou por pegar no microfone para acusar António Santos Ribeiro de racismo e incitamento ao ódio. Miguel Pereira Leite, que tratou várias vezes a munícipe por “senhora candidata”, referindo-se ao facto de Tatiana Moutinho ter integrado as listas do Bloco de Esquerda, argumentou, a dado momento, que a cidadã em causa poderia intervir “sobre assuntos de interesse para o município”, mas convidou-a a assumir o lugar de um dos bloquistas. Vários deputados da oposição e plateia reagiram à posição de Pereira Leite com críticas. Já o deputado visado limitou-se a dizer: "Se eu, que até sou adepto do Boavista, disser que um jogador mexicano do FC Porto não joga nada é considerado racismo?"
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei ajuda racismo social igualdade espécie mulheres racista discriminação
“O racismo é o crime perfeito: quem o comete acha sempre que a culpa é da vítima”, diz ministra da Justiça
Aumento da escolaridade em Portugal não eliminou discurso de ódio, diz Francisca Van Dunem. Ministra da Justiça e secretário de Estado das Autarquias defendem que é necessário recolher mais informação sobre como se manifestam fenómenos de discriminação. Relatório preliminar sobre racismo apresentado esta terça-feira no Parlamento. (...)

“O racismo é o crime perfeito: quem o comete acha sempre que a culpa é da vítima”, diz ministra da Justiça
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.462
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aumento da escolaridade em Portugal não eliminou discurso de ódio, diz Francisca Van Dunem. Ministra da Justiça e secretário de Estado das Autarquias defendem que é necessário recolher mais informação sobre como se manifestam fenómenos de discriminação. Relatório preliminar sobre racismo apresentado esta terça-feira no Parlamento.
TEXTO: A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, afirmou nesta terça-feira, no Parlamento, que o racismo atravessa “transversalmente” todos os estratos da sociedade portuguesa mas que é essencial ter informação para perceber a sua dimensão. “É redutor e pode ser indutor de erros que cada um de nós fundeie a sua opinião em percepções e na análise da realidade limitada que conhece”, disse a deputados, académicos, activistas e membros de organizações não-governamentais que estiveram esta terça-feira no Parlamento. E deixou um recado para quem nega a sua existência: “O negacionismo, a persistência na desvalorização do fenómeno conduz ao desastre e à radicalização de posições (. . . ) A maior expressão de preconceito racial consiste, precisamente, na negação deste preconceito. ”A ministra encerrou a apresentação do Relatório sobre Racismo, Xenofobia e Discriminação Étnico-Racial em Portugal que identifica as áreas em que é necessário intervir: justiça e segurança, educação, saúde, habitação e trabalho. O documento é preliminar e a sua relatora, a deputada do PS Catarina Marcelino, ainda irá incorporar sugestões mas para já deixa em cima da mesa o estudo sobre a hipótese de se criar quotas nas universidades para afrodescendentes e ciganos, uma das medidas de “acção positiva” que identifica como necessárias. Na sessão, a proposta de quotas foi rejeitada expressamente apenas por uma intervenção, a do deputado do PSD Duarte Marques, presidente da Comissão para as Diásporas do Conselho da Europa, que defendeu que não resolvem o problema da discriminação. Na sua intervenção que foi aplaudida de pé por várias pessoas na plateia, Francisca Van Dunem referiu o facto de ter sido “realizados alguns estudos sectorais”, mas não haver “informação ampla e abrangente” que permita “extrair conclusões seguras sobre a realidade”. Enumerou não haver resposta para “perguntas tão simples como as de saber quantos são os membros destas comunidades; que idade têm, quantos nasceram em Portugal; quantos os que não nasceram, há quantos anos aqui residem, onde e como vivem, quanto auferem, que graus de escolaridade detêm, que acesso a empregos, a habitação, a cuidados de saúde ou a bens e serviços lhes são negados”. A ministra deu ainda o exemplo do artigo de opinião da historiadora Fátima Bonifácio, publicado no PÚBLICO e denunciado por veicular mensagens racistas, para referir a pertinência deste relatório. Afirmou que o grau de escolaridade não elimina estes fenómenos, que a escola não é a única solução: houve um aumento dos níveis de escolaridade em Portugal mas isso não diminuiu o discurso de ódio ou a reacção perante a diferença racial ou étnica, disse. “Pelo contrário, parece ter-se refundado”. Acrescentou: “Um grau de escolaridade mais elevado poderá tornar as reacções mais subtis, menos primárias ou grosseiras, mas não tem a faculdade de as eliminar”. E continuou: “O racismo é o crime perfeito: quem o comete acha sempre que a culpa é da vítima. ”Aquele artigo foi, aliás, dado como exemplo da pertinência do relatório ao longo das intervenções nos vários painéis, onde participaram mais de uma dezena de pessoas. O secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, de manhã, começou a sua intervenção dizendo ser “português de etnia cigana” com “muita honra”. “Se houvesse dúvidas sobre a importância e actualidade do relatório, as más notícias [do dito texto] com incentivos ao ódio, ao racismo, à separação de uns e outros justificavam este debate”. Carlos Miguel falou de habitação e foi bastante crítico em relação a um dos pontos do 1. º Direito Programa de Apoio ao Acesso à Habitação, ao prever que as autarquias financiem dois terços do orçamento. Dessa forma “não vamos ter habitação social para ninguém”, disse. Como Van Dunem, também falou da necessidade de recolher informação: “É muito importante saber como somos, onde estamos, como vivemos. Um Estado que não responde a estas questões está a discriminar a etnia cigana”, sublinhou. De seguida, Sérgio Aires, sociólogo e perito em pobreza e exclusão, sublinhou que “são os ciganos que estão a tentar criar a ponte”, afastando as ideias que veiculam o preconceito de que “não se querem integrar”. E reiterou uma pergunta feita de manhã pela académica Iolanda Évora, na plateia: “Para que serve o relatório?” Criticou o facto de o combate à discriminação de ciganos estar sob a alçada do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), um “organismo que diz que os ciganos não são portugueses”. Fez ainda a crítica à construção de habitação social com “paredes de sete centímetros” que ao fim de meses estão destruídas devido à falta de qualidade mas depois são responsabilizados os ciganos. Já o advogado José Semedo Fernandes, que esteve no grupo do censos como representante das comunidades afrodescendentes, falou de um tema que o relatório não aborda, a lei da nacionalidade, e questionou o porquê de se ter criado uma medida que permite a reparação histórica da discriminação de judeus permitindo hoje a descendentes de judeus sefarditas obterem a nacionalidade portuguesa — mas deixou-se de fora a geração que nasceu em Portugal entre 1981 e 2006. Isto porque esta geração foi abrangida por uma lei “mais prejudicial para os filhos de estrangeiros nascidos em Portugal” do que a lei de 1959 publicada durante o salazarismo e que limitava o acesso à nacionalidade a filhos de portugueses nascidos no estrangeiro, afirmou. “A lei da nacionalidade exige que seja feita uma reparação histórica imediata”, afirmou, propondo que se crie um artigo que permita a quem nasceu entre 1981 e 2006 tenha acesso à nacionalidade originária. “Isso ajudaria a que muitos afrodescendentes em Portugal passassem a sentir-se portugueses. Só assim acredito que se fará alguma justiça”. A relatora acolheu a crítica e referiu que essa questão estará no “relatório final”. Também convidado a intervir, Manuel Morais, agente da PSP que foi forçado a demitir-se do seu cargo como vice-presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Policia por ter referido a existência de racismo na PSP, foi bastante aplaudido durante a sua intervenção. Sublinhou a dificuldade de falar neste tema em alguns meios como o seu. Disse ainda que se sente “revoltado” pelo facto de “a sociedade encolher os ombros” perante os fenómenos de discriminação e pediu que se “arregacem” as “mangas” e se passe “à acção”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sugeriu ainda que é “urgente” remodelar o programa das escolas de polícias e enriquecê-las com uma componente de formação em humanismo, elaborado fora da polícia. Reforçou a necessidade de se aplicarem testes psicotécnicos no recrutamento de agentes e de uma monitorização dentro da PSP que permita identificar e filtrar quem “demonstra claramente sentimento de ódio”: “Não merecem a confiança deste povo e não merecem exercer este tipo de funções”, afirmou. Da plateia, onde estavam activistas, académicos e representantes de organizações não-governamentais, surgiram algumas críticas e perguntas feitas directamente a alguns dos intervenientes, várias relacionadas com questão da recolha de dados étnico-raciais. Foi também criticada a falta de representatividade de mulheres afrodescendentes na mesa, por exemplo. O relatório nasceu de uma proposta do PS, feita em Setembro do ano passado, e para o qual foram ouvidas 31 entidades e personalidades, e feitas visitas nas quais se envolveram 28 organizações e 18 deputados de todos os partidos políticos com assento parlamentar. O documento fará recomendações que a deputada Catarina Marcelino espera que sejam incorporadas nos programas dos partidos.
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Partidos PS PSD
Criança loura encontrada na Grécia renova esperança dos pais de Madeleine
No Reino Unido, o caso de Maria remete para o da criança desaparecida há seis anos em Portugal. "Dá a Kate e Gerry grande esperança", disse um porta-voz dos pais. (...)

Criança loura encontrada na Grécia renova esperança dos pais de Madeleine
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: No Reino Unido, o caso de Maria remete para o da criança desaparecida há seis anos em Portugal. "Dá a Kate e Gerry grande esperança", disse um porta-voz dos pais.
TEXTO: A polícia grega está a tentar descobrir a identidade de uma menina loura, com cerca de quatro anos, encontrada numa família com a qual não tem laços biológicos. As autoridades suspeitam que seja vítima de rapto ou tráfico de crianças. O caso renova as esperanças dos pais de Madeleine McCann, a criança desaparecida em 2007 em Portugal. Maria, é esse o nome pelo qual a criança foi identificada, foi encontrada na quarta-feira, durante uma rusga da polícia a um acampamento cigano, por suspeitas de actividade delituosa, perto de Farsala, centro da Grécia, 280 quilómetros a norte de Atenas. A BBC contou que os agentes suspeitaram do enorme contraste físico entre a criança de cabelos louros e olhos azuis e os pais. E que ficaram ainda mais desconfiados quando analisaram os documentos da família — o casal registou diferentes crianças em diferentes registos familiares regionais. A mulher alegou também ter dado à luz seis crianças num período de dez meses. No total, o casal, ela com 40 anos, ele com 39, alega ter 14 filhos. Incluindo Maria, tinha actualmente quatro consigo. A Sky News, citando Costas Giannopoulos, director da instituição que tem agora ao seu cuidado Maria, apresenta uma versão ligeiramente diferente, mas não contraditória, do modo como foi detectada a presença de Maria. Foi, disse, a procuradora que acompanhou a operação policial quem reparou na criança: “Ela viu uma cabecinha loira saindo de debaixo dos lençóis. Pareceu-lhe estranho, e foi assim que tudo começou”. Testes de ADN confirmaram que Maria não é filha do casal com quem estava a viver. Giannopoulos explicou que a criança está confusa e chocada com o que se passa à sua volta. Era usada para mendigar nas ruas de Larissa, por ser loura e bonita, disse também. Interrogado sobre a origem da criança, o casal que se apresentava como sendo os pais “mudou constantemente de explicação”, afirmou, citado pelo site da BBC, o director da polícia da província de Thessalia, Vassilis Halatsis. A Sky adianta que disseram primeiro que tinha sido encontrada num cobertor, depois que lhes tinha sido entregue por estranhos e, por fim, que tinha pai estrangeiro. Ficaram presos, por suspeita de rapto de menor e falsificação de registos. Pais procuram-seAs autoridades gregas divulgaram uma foto como forma de ajudar à sua identificação. Adiantam também outros dados sobre Maria: pele branca, nascida em 2009, um metro de altura, 17 quilos. Uma hipótese colocada pelos investigadores é que a criança seja oriunda do norte ou leste da Europa. No Reino Unido, o caso levou a associações à situação, que continua bem presente e sob investigação, de Madeleine McCann, a criança desaparecida em 2007 de um aldeamento turístico na Praia da Luz, no Algarve. Um porta-voz dos pais de Maddie disse ao jornal Daily Mirror que o caso de Maria lhes dá alento. “Isto dá a Kate e Gerry grande esperança de que Madeleine possa ser encontrada viva”, declarou. Motivo de discussão é também a facilidade em obter documentos oficiais para crianças, mesmo quando não há qualquer parentesco com elas. “Estamos chocados com o quão fácil é registar crianças como se fossem delas próprias”, disse Costas Giannopoulos à televisão grega Skai. “Há muito mais a investigar. . . Acredito que a polícia irá desvendar uma trama que não tem apenas a ver com esta menina. ”A Grécia, nota a Sky, só desde há cinco meses tem um sistema central de registos. Na rusga ao acampamento de Farsala foram encontradas drogas e armas de fogo, informou também a polícia.
REFERÊNCIAS:
Étnia Cigano
Possíveis pais biológicos de Maria foram interrogados na Bulgária
Um dos filhos do casal Rusev confirmou que nasceu uma filha quando viveram na Grécia e que não ficaram com ela. (...)

Possíveis pais biológicos de Maria foram interrogados na Bulgária
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um dos filhos do casal Rusev confirmou que nasceu uma filha quando viveram na Grécia e que não ficaram com ela.
TEXTO: Os possíveis pais biológicos de Maria, a rapariga encontrada a viver numa comunidade cigana na Grécia, foram interrogados na Bulgária. A polícia não revelou o que se passou nas conversas, mas um dos filhos do casal disse à televisão Nova que eles deixaram "uma criança na Grécia", que não chegou a ser registada, porque não tinham dinheiro. Esta estação de televisão mostrou imagens de dois filhos de Sasha e Atanas Rusev (um de 15 anos e outra de dois; no total são dez) que vivem numa casa muito pobre no acampamento cigano na cidade de Nikolaevo - a Nova diz que se trata de um "gueto" onde se vive na "miseravelmente". O filho de 15 anos, Isus, disse que os pais reconheceram a criança na televisão – foram mostradas imagens de Maria quando era bebé e de todas as fases do seu crescimento; terá entre quatro e seis anos. E explicou que a mãe decidiu abandonar a filha por não ter dinheiro. Os vizinhos, ouvidos pelos meios de comunicação social búlgaros, confirmaram que a família Rusev viveu na Grécia e alguns disseram saber que a bebé foi vendida por 250 euros. Maria foi encontrada na Grécia a viver com um casal cigano num acampamento em Farsala, no Centro da Grécia. O casal que a criava foi acusado de rapto. Porém, nas declarações feitas à polícia, Christos Salis e Eleftheria Dimopoulou disseram que a criança lhes foi dada pela mãe biológica, pouco depois de nascer. Maria foi encontrada durante uma rusga ao acampamento cigano em Farsala. A polícia, que procurava droga, viu a menina loira e de olhos verdes e estranhou não haver, naquela família, outra pessoa com as mesmas características físicas. Testes de ADN provaram que não era filha biológica do casal, que a registou depois de assinar um documento a dizer que o bebé tinha nascido em casa. Na terça-feira, o Supremo Tribunal grego ordenou uma investigação a todas as certidões de nascimento passadas nos últimos seis anos a partir de declarações feitas pelos pais a dizerem que os seus bebés nasceram em casa, por considerar que Maria pode não ser "um caso isolado" e estarem activas no país redes de tráfico de crianças. Há dois anos, uma delas foi desmantelada – os traficantes levavam mulheres búlgaras grávidas para a Grécia, vendiam as crianças quando nasciam e as mães regressavam ao seu país. As investigações motivadas pelo "caso Maria" permitiram ainda às autoridades gregas perceberem que há crianças registadas mas que não existem – existem apenas no papel, para que os "pais" recebem os respectivos abonos.
REFERÊNCIAS:
Étnia Cigano Búlgaros