A fanfarra de Bregovic e o voodoo de King Khan no segundo dia de Med
Aparentemente terminara o concerto. Simon Broughton, editor da revista britânica de world music Songlines subiu a palco, explicou que podia estar este fim-de-semana em Glastonbury, mas que prefere Loulé, e entregou a Goran Bregovic o prémio de artista do ano, votado pelos leitores da revista. Tudo muito bonito, tudo muito informal. Falamos, afinal de Goran Bregovic, o autor das bandas sonoras de Emir Kusturica, o músico que transformou a música balcânica em festim que o mundo celebra como se aquela fanfarra fosse também sua. (...)

A fanfarra de Bregovic e o voodoo de King Khan no segundo dia de Med
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aparentemente terminara o concerto. Simon Broughton, editor da revista britânica de world music Songlines subiu a palco, explicou que podia estar este fim-de-semana em Glastonbury, mas que prefere Loulé, e entregou a Goran Bregovic o prémio de artista do ano, votado pelos leitores da revista. Tudo muito bonito, tudo muito informal. Falamos, afinal de Goran Bregovic, o autor das bandas sonoras de Emir Kusturica, o músico que transformou a música balcânica em festim que o mundo celebra como se aquela fanfarra fosse também sua.
TEXTO: No segundo dia do Festival Med, ontem, não houve dúvidas. Sim, a música de Goran Bregovic e da sua Wedding & Funeral Band, é de toda a gente. Multiculturalidade é isto: Bregovic e seus músicos de Saravejo, com duas vozes búlgaras nos coros, a entregarem-se ao frenesim polifónico de tubas, trompetes e saxofone, que o bombo mantinha no ritmo certo, enquanto um trio de raparigas entre o público ondulava as mãos como no flamenco andaluz. Portanto, Goran Bregovic recebeu o prémio, agradeceu e, fazendo jus ao título do álbum celebrado, “Alkohol”, pediu ao público que cantasse: “vocês começam a cantar, eu começo a beber. ” E continuou a beber e o público a cantar num prolongadíssimo encore que desembocou, como seria de esperar, na inevitável “Kalashnikov”. Tudo começara com a secção de sopros irrompendo entre o público, tocando e abrindo caminho até ao palco, tudo continuara com o ritmo saltitão, contínuo, de uma música cigana a que Bregovic, de fato branco e guitarra ao colo, juntou uma morna ou uma canção-lamento com tom de Leonard Cohen. Ouviram-se canções de “Underground” ou de “Tempo dos Ciganos”, ouviu-se a melancolia das cantoras búlgaras e, principalmente, que o povo quando vê Bregovic quer festa-fanfarra, saltitou-se e dançou-se no frenesim recomendado à energia desbragada e etílica da música balcânica. No Palco Matriz, o principal do Festival Med, assistimos ao concerto mais celebrado por mais gente. Contudo, num dia em que o centro histórico de Loulé se encheu de bem mais gente que no arranque do festival, quarta-feira, Bregovic não foi tudo. Antes, Mazgani lutara contra problemas de som, mas conseguira levar a bom porto as suas canções catarse de olhos postos em Cash, Cave e Waits: o público conhecedor, na intimidade do pequeno Palco Castelo, esqueceu os estalidos irritantes das colunas e aplaudiu devidamente. Antes ainda, no palco Cerca, os Cacique 97 deram uma óptima lição de afrobeat de vistas largas (porque acolhe o funk, carrega no órgão Rhodes e sugere um pouco de disco) perante uma plateia que começou a despir-se de público à medida que se aproximava a hora do concerto de Bregovic. Mas depois, depois da “tareia” servo-croata, chegou um candidato de peso ao título de concerto do dia, King Khan & The Shrines: ou como pegar em toda a história da Stax e no “groove” de James Brown, cobri-la de electricidade “garage” e adoptar o tom sinistro de Screaming Jay Hawkins para transformar um concerto em sessão de voodoo rock’n’roll. King Khan, de moicano louro e camisa de lantejoulas douradas, foi um tresloucado mestre de cerimónias, o pastor de um gospel profano e, genericamente, um “frontman” irresistível. O concerto terminou com a banda – metais e percussões, teclas, baixo, bateria e guitarra – entregue a um turbilhão noise enquanto Khan, espanador na mão e sentado em palco na posição de Lótus possível a um homem do seu (grande) tamanho, espalhava a última “magia” sobre o público. Com King Khan & The Shrines, a música popular americana chegou ao festival de world-music e não podíamos exigir mais. Absurdamente contagiante. O encerramento perfeito do segundo dia de Med, que hoje prossegue com concertos de Legendary Tiger Man, Galandum Galundaina, Watcha Clan, Anaquim e, claro, da Orchestra Baobab, um dos grandes destaques do cartaz. Mário Lopes é crítico de música
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Palavras-chave homem
Estará a Itália finalmente pronta para "acabar com a era Berlusconi"?
A cidade de onde o primeiro-ministro partiu para conquistar o país pode estar prestes a dizer-lhe "basta". Se isso acontecer, a Itália dificilmente continuará igual. (...)

Estará a Itália finalmente pronta para "acabar com a era Berlusconi"?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2011-05-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cidade de onde o primeiro-ministro partiu para conquistar o país pode estar prestes a dizer-lhe "basta". Se isso acontecer, a Itália dificilmente continuará igual.
TEXTO: Silvio Berlusconi já fizera das eleições municipais de Milão um referendo à sua governação. Mas na campanha para a segunda volta, hoje e amanhã, conseguiu subir a parada: esteve numa só noite em cinco televisões (o que valeu a todas multas pesadas); não parou de agitar a ameaça da "extrema-esquerda" e garantiu que o candidato da oposição à câmara vai transformar a cidade numa "ciganopolis". É Berlusconi igual a si próprio. Quando acossado, dispara para todos os lados, ataca tudo e todos. E poucas vezes "Il Cavaliere" se terá sentido tão encurralado. Primeira prova nas urnas desde que foi acusado de prostituição de menores e abuso de poder ("Rubygate"), e desde que recomeçou a ser julgado por corrupção e suborno, a primeira volta das eleições municipais e regionais, há duas semanas, dificilmente lhe poderia ter corrido pior. A votos foram 1300 autarquias e 11 províncias. Os prémios grandes eram Milão, onde a direita enfrenta pela primeira vez em 15 anos uma segunda volta (e parte em desvantagem); Nápoles, onde a esquerda concorre dividida e a direita não conseguiu mesmo assim vencer à primeira (mas ficou à frente); Turim e Bolonha, que o centro-esquerda já reconquistou. No conjunto do país, o Povo da Liberdade (PdL), do primeiro-ministro, conquistou 28, 7 por cento dos votos, a mesma percentagem do PD (Partido Democrático, líder da oposição), mas menos 10 pontos do que nas últimas municipais, em 2006. Milão é de Berlusconi. Foi ali que se lançou nas televisões privadas e na construção de subúrbios de luxo, antes de se tornar no homem mais rico de Itália e no chefe do Governo mais resistente do pós-guerra. Foi em Milão que criou o seu partido e é nos arredores da capital económica do país que vive, em Arcore (hoje sinónimo de festas bunga-bunga, as tais onde Berlusconi é acusado de ter tido sexo com a dançarina Ruby Rubacuori quando esta era menor). O primeiro-ministro é cabeça de lista do PdL na cidade e perdeu metade dos votos que conquistara há cinco anos. Berlusconi sabe o que está em jogo. Antes da primeira volta dissera que a direita tinha de ganhar "para fortalecer o Governo nacional". Perder Milão, afirmou, era "impensável". Quanto à sua própria votação, brincou que ter menos do que os 53 mil votos de 2006 seria o seu "funeral político". Berlusconi já sobreviveu a muito e a notícia da sua morte política já foi por mais de uma vez exagerada. Quando perdeu o apoio de Gianfranco Fini, por exemplo, que unira a Aliança Nacional à Força Itália para formar o PdL. Fini levou deputados e senadores para o seu novo grupo político, mas "Il Cavaliere" refez a maioria no Parlamento (a oposição acusou-o de ter comprado e chantageado deputados). Mito e realidadeO mito Berlusconi é poderoso, mas pode estar prestes a desvanecer-se. "O voto de Milão abala a lenda do "Cavaleiro" capaz de vencer qualquer batalha, até a mais desesperada, com a sua própria força", escreveu Ugo Magri no La Stampa depois da primeira volta. A realidade é mais complexa. Berlusconi teve sempre aliados: para além de Fini, a Liga Norte, partido radical, secessionista e xenófobo. E o facto de ter contado com uma oposição que não conseguiu oferecer uma alternativa credível desde a derrota de 2008 (após dois anos de Governo de Romano Prodi) não é menos relevante. Os escândalos deixaram Berlusconi com a popularidade mais baixa de sempre (33 por cento). O corte com Fini tornou-o ainda mais dependente da volátil Liga Norte. Mas de nada valeriam se não fosse Giuliano Pisapia, o candidato do centro-esquerda à Câmara de Milão. Escritor e advogado, por duas vezes eleito deputado independente nas listas da Refundação Comunista, decidiu concorrer às primárias do PD em Milão, contra o candidato do partido e contra sondagens que lhe davam quatro por centro.
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Palavras-chave morte guerra homem prostituição sexo abuso
A Síria, onde tudo é lógico e nada faz sentido
John aceitou beber um café. Viveu dez anos em Damasco e quer recomeçar em Istambul. Estivemos três horas à conversa. John é fotógrafo mas não fotografou a revolução nem a guerra, sentiu que fazia parte, que era a vida dele. Tinha autorização de residência, casa, trabalho, uma galeria. No início do Verão saiu, há muito que ninguém ia à galeria e ele já não tinha dinheiro. Só quando decidiu sair é que descobriu que tinha o nome nos arquivos. “É aleatório, como não sabem bem quem pôr está lá toda a gente. ” Saiu como quem vai de férias, nem sabe bem se não veio. John sabe que Bashar al-Assad vai cair, não sabe quand... (etc.)

A Síria, onde tudo é lógico e nada faz sentido
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2013-09-28 | Jornal Público
TEXTO: John aceitou beber um café. Viveu dez anos em Damasco e quer recomeçar em Istambul. Estivemos três horas à conversa. John é fotógrafo mas não fotografou a revolução nem a guerra, sentiu que fazia parte, que era a vida dele. Tinha autorização de residência, casa, trabalho, uma galeria. No início do Verão saiu, há muito que ninguém ia à galeria e ele já não tinha dinheiro. Só quando decidiu sair é que descobriu que tinha o nome nos arquivos. “É aleatório, como não sabem bem quem pôr está lá toda a gente. ” Saiu como quem vai de férias, nem sabe bem se não veio. John sabe que Bashar al-Assad vai cair, não sabe quando. Quer pousar os pés aqui mas ainda não sabe como. Dez anos é muito tempo. Treze anos, o tempo que Bashar leva no poder, também. John conhece Damasco e o resto da Síria, o campo, o deserto, o Eufrates, Deir Ezzor. Na capital tinha muitos amigos que não conhecem o país e não percebem a revolta. Um dia, teve uma encomenda meio síria meio europeia que o levou a fotografar muitos lugares. “Essa fotografia nem pensar. O que é que estão a fazer aí esses ciganos?”, ouviu John do sírio responsável pelo projecto, a olhar para os camponeses de Deir Ezzor. Na madrugada de 21 de Agosto, um ataque com gás sarin matou muitos sírios – 1400, mais de 400 crianças, segundo os Estados Unidos, muita, muita gente, seja qual for o ângulo por que se escolha ver. Um ataque com armas químicas, três dias depois dos inspectores da ONU terem chegado a Damasco, a 7 km do hotel onde estavam hospedados, desafiava a lógica. Mesmo para Bashar, que já tantas vezes desafiara a lógica. A lógica diz que o regime está por trás do ataque, mesmo se não há provas inatacáveis. A lógica diria que os rebeldes teriam mais a ganhar – Barack Obama traçara a “linha vermelha” e não havia maneira de a pisar mais pisada. Há rebeldes que o fariam se pudessem. “Se o fizeram não foi apesar dos inspectores, mas por causa dos inspectores estarem ali”, disse John. Faz sentido. Quem pode faz, precisamente por poder. A região atingida, Ghutta, resistia há ano e meio. Bashar, acreditámos distraídos, estava a ganhar. “Como é que se pode dizer que se está a ganhar quando se perdeu 60% do país? Quando não se consegue derrotar rebeldes com a ajuda dos russos, dos iranianos, do Hezbollah?” Bashar faz o que faz porque pode. Na véspera da primeira visita dos inspectores a Ghutta, uma semana depois dos ataques, sugeri na redacção que iam ser alvejados na viagem. Foram. Só porque sim. A lógica que desafia a lógica é a lógica com mais sentido que pode haver. John conta que nos checkpoints em Damasco não se vêem soldados, só membros das Shabiha, a milícia de Bashar. “No início nem tinham uniforme. Agora têm mas nunca calçam botas, usam farda e sapatos ou ténis. ” Os milicianos marcam presença, mandam parar, verificam identificações. Mas o que mais fazem é aceitar subornos e encher os bolsos. “Quando trocam de turno, é vê-los ir embora com sacos nas mãos”, o espólio do dia. É por causa da corrupção que John sabe que o regime vai cair. “Surpreendeu-me a coesão. Esperava mais divisões, mais cedo. ” Mas o regime está podre. Por isso tremeu e acabará por cair. Entretanto, mais sírios vão morrer, mais loucos vão aparecer e muitos vão avisar que a Al-Qaeda é a grande ameaça. Há coisas que John ignora. E não é de agora. Ignorou a blogger lésbica que escrevia de Damasco, logo em 2011. Ignorou a “jihad do sexo”, a notícia de que a Tunísia estaria a enviar mulheres para os rebeldes. Ignorou os relatos da freira de Maaloula, a vila síria onde se fala aramaico, que acusou os rebeldes de desmembrarem uma menina viva e de estarem por trás do sarin. John ignora tudo o que acaba por ser desmentido, parece. “A propósito, todos os meus amigos cristãos são anti-Bashar. ”O regime há-de cair. Entretanto, talvez a ONU tenha tempo para destruir as armas químicas. É tarefa para anos. Muitos sírios recusam acreditar que Bashar ainda lá esteja depois do último sarin. Mesmo sabendo que nunca contaram assim tanto, mesmo se a estrada de Damasco tinha como objectivo Teerão, mesmo se a “linha vermelha” era mais sobre Khamenei do que sobre Bashar. O acordo entre Washington e Moscovo estabelece uma “nova norma” contra o uso de armas químicas, dizem os EUA. Se o regime não cumprir “serão impostas medidas de acordo o Capítulo VII da Carta da ONU”, repetem, sabendo que se o regime não cumprir volta tudo para o Conselho de Segurança. Bashar continua a matar, só não com armas químicas. John sabe que gostava de voltar a Damasco antes de já não haver sarin. Os sírios sabem que vai demorar até Bashar cair, perceberam a lógica muito antes de nós. Mas também sabem que nem a mais coerente das lógicas resiste a tudo para sempre.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
O último álbum da monarquia
D. Amélia fotografava e fazia-se fotografar. Exposição na Ajuda faz-nos folhear os álbuns desta mulher que parecia sentir-se tão bem numa tarde de touros e cavalos em Vila Viçosa como nos melhores estúdios de Cannes e Londres. (...)

O último álbum da monarquia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: D. Amélia fotografava e fazia-se fotografar. Exposição na Ajuda faz-nos folhear os álbuns desta mulher que parecia sentir-se tão bem numa tarde de touros e cavalos em Vila Viçosa como nos melhores estúdios de Cannes e Londres.
TEXTO: D. Amélia não se preocupava só em fotografar piqueniques de família, caçadas em Vila Viçosa, visitas de outros monarcas europeus amigos da casa, viagens pelo Mediterrâneo e tardes na praia da Adraga com direito a guitarras de fado. Organizava meticulosamente todas as imagens em álbuns que legendava com rigor, pondo muitas vezes por baixo de cada fotografia local, data, intervenientes e autor. Quem estava por trás da câmara era muito importante para esta princesa de França que veio a ser a última rainha de Portugal porque, para ela, fotografar era muito mais do que registar. “Quem folheia os seus álbuns vê que a noção de autoria está muito presente”, explica José Alberto Ribeiro, director do Palácio Nacional da Ajuda, onde acaba de inaugurar Tirée par…, uma exposição dedicada à rainha D. Amélia (1865-1951) e a fotografia (até 20 de Janeiro). “D. Amélia interessa-se muito por este meio que tem à disposição, como se interessa por desenhar. A fotografia faz parte da sua educação artística e é muito popular na casa real. ” O marido, D. Carlos, também fotografa, os filhos - os príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel - têm sempre câmaras à mão e até a rainha mãe, D. Maria Pia, é uma entusiasta. “A mãe de D. Carlos é uma verdadeira pioneira da fotografia em Portugal”, acrescenta o historiador de arte e autor de uma biografia de D. Amélia (edição Esfera dos Livros, 2013), “e é muito natural que visse com bons olhos esta inclinação da nora”. É Maria Pia, aliás, que aparece, por vezes de máquina em punho, em algumas das fotografias que estão agora na Ajuda, em grande parte expostas pela primeira vez, e que documentam os últimos 20 anos da monarquia portuguesa. São 130 imagens das colecções deste palácio nacional e sobretudo da Casa de Bragança, escolhidas pelo conservador de fotografia Luís Pavão, o comissário, e divididas em seis núcleos que vão do trabalho de estúdio ao retrato de grupo, passando pelo registo do dia-a-dia, em momentos de lazer e intimidade com familiares e amigos, pelos actos oficiais em que os reis são acompanhados por repórteres que trabalham para a imprensa nacional, como Joshua Benoliel e António Novais, e pelas viagens, sendo a mais documentada a que a rainha faz pelo Mediterrâneo, em 1903. Neste périplo, em que se faz acompanhar pelos filhos, já adolescentes, D. Amélia visita a Argélia, Tunísia, Malta, Egipto e Itália. Estão lá as fotografias que mostram a pequena comitiva da rainha num templo de Luxor, a grande necrópole, junto à esfinge do planalto de Guiza ou frente à pirâmide de Miquerinos. Está lá também a que lhe tiram a bordo de um iate, entre Nápoles e Capri, ao lado do jovem príncipe Wilhelm de Hohenzollern, ambos de câmara na mão. “O que vemos nas fotografias da exposição, para além do registo quotidiano ou oficial, é que há nesta família real uma proximidade das pessoas, do seu povo, que seria impensável noutras casas reais europeias, como a inglesa ou a russa”, diz José Alberto Ribeiro, apontando para uma das fotografias de José Goulart em que D. Amélia caminha de sombrinha entre a população do Faial, na visita dos reis aos Açores e à Madeira, em 1901. D. Carlos segue-a, sorridente, sem que seja possível ver qualquer elemento da segurança dos monarcas. “Esta é uma rainha que gosta de falar com as pessoas, que não tem medo de se aproximar. Há até um episódio que conta nos seus diários em que se cruza com um dos ciganos que fotografara em Vila Viçosa perto da propriedade da mãe, em Sevilha, e que a convida para uma sopa. D. Amélia é uma Orléans, uma Bragança, mas é também uma rainha que gosta de incutir nos filhos um sentido de serviço que a obriga a prescindir do estatuto de inalcançável. ”As fotografias e álbuns mostram-na ora descontraída e afável, em roupa de amazona no Alentejo ou a preparar o almoço num piquenique de praia em que a mesa na areia parece ter sido trazida de uma das salas do palácio, ora em poses formais nalguns dos melhores estúdios de Londres, Cannes e Lisboa, quando estava ainda noiva de D. Carlos ou já casada. Em qualquer dos casos, parece sempre haver espaço para alguma encenação. Rainha num mundo em mudança, D. Amélia presenciou o assassinato do marido e do filho mais velho, o seu preferido, assistiu ao fim da monarquia, viveu no exílio e enfrentou ainda a morte do filho mais novo, D. Manuel. Tinha 86 anos quando morreu, em Versalhes, pedindo que a sepultassem em Portugal e que queimassem os diários que manteve ao longo de 65 anos. O primeiro desejo foi cumprido, o segundo não. No próximo ano Tirée par… será instalada no Paço Ducal de Vila Viçosa, outra das casas dos Braganças, e no Centro Português de Fotografia, no Porto.
REFERÊNCIAS:
Quem tem direito a erguer uma estátua?
A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial. (...)

Quem tem direito a erguer uma estátua?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.285
DATA: 2018-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial.
TEXTO: Quem tem direito a erguer uma estátua? Quem, tomando o pulso ao território, possui autoridade suficiente para fixar um ponto singular, estabelecer aí um centro e, projetando um raio abrangente, dizer: dentro deste círculo, que hoje aqui traçamos, incluímo-nos a todos nós? Em jogo, na forma como damos resposta a esta pergunta, está a construção de um futuro livre de apartheid, em que todos os seres humanos residentes em Portugal, independentemente da forma como sejam racializados, da sua classe social, identidade de género e orientação sexual, ou mesmo do seu grau de acesso formal à cidadania, tomem igual parte no projeto comum de gestão, fruição e salvaguarda do território nacional. As estátuas refundam a nação e religam-na com a terra de onde se destacam, recentrando os polos afetivos das comunidades que se recriam em seu redor. O atual debate em torno da designação do hipotético futuro museu lisboeta, que se ramificou entretanto em muitas e esclarecedoras discussões, é de grande interesse académico e cultural (ver, por exemplo, os artigos de Ângela Barreto Xavier, Afonso Ramos, Pedro Schacht e Rui Gomes Coelho). Porém, a discussão em curso tende a não responder à pergunta inicial. O direito a erguermos uma estátua ou um memorial não é o mesmo que o direito a ter um museu que nos seja dedicado, na sua temática ou funcionamento. Apenas o primeiro necessariamente envolve uma ação ativa por parte dos promotores do futuro monumento, e certifica o reconhecimento por todos do seu estatuto de igualdade cívica e social face aos demais grupos presentes no território. O erguer de um Memorial às Pessoas Escravizadas contesta o privilégio dos grupos que têm dirigido, até há bem pouco tempo em exclusivo, as políticas da memória nacionais. Que debate suscitou a fundação dos muitos ‘Monumentos aos Campinos’ espalhados pelo território português? Ou das ‘Estátuas dos Cavadores’, ‘Monumentos ao Emigrante’ e ‘Estátuas das Varinas’? Sabemos que mesmo estes monumentos, bem menos polémicos que as belicosas estátuas equestres, não nos representam a todos por igual. Contudo, nunca contestamos o direito a erguê-los dos grupos que se recriam em seu redor. Este acesso simbólico fácil, praticamente imediato, ao território nacional é ainda um privilégio branco, nitidamente abusado no caso da implantação da estátua do Padre António Vieira no Largo Trindade Coelho. Seria tarefa simples erguer no território português um monumento ao ‘Jornaleiro Galego’, às comunidades roma ou ciganas, ou mesmo às ‘Trabalhadoras das Limpezas’, na sua grande maioria mulheres negras? Ou, porque não, à ‘Rainha Njinga’, como bem sugere Cláudia Silva?Por este motivo, é vital que a discussão em torno dos projetos museográficos da Câmara Municipal de Lisboa não engula e secundarize a nossa apreciação científica e política do momento histórico de viragem que constituiu a vitória do projeto da Djass – Associação de Afrodescendentes, no âmbito do último orçamento participativo da capital. A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial, e responde a uma necessidade mais básica, afetiva e carnal, do que aquela que dita a refundação epistemológica e metodológica da historiografia e da museologia nacionais, desbloqueando porém o caminho para estas reformas científicas. De forma a garantir que o futuro Memorial às Pessoas Escravizadas permita refundar um ‘nós’ mais vigoroso e inclusivo, é preciso ainda lutar para que a sua concretização não se condicione pelos detalhes logísticos de qualquer hipotético museu. Este memorial que, não sendo materialmente uma estátua, funciona socialmente como as ‘estátuas’ que tenho vindo a analisar conceptualmente, deve constituir um marco. Celebrando o acesso das comunidades afrodescendentes às políticas da memória que garantem vínculos simbólicos estáveis com o território nacional, ele quebra um longo monopólio que tem vindo a ser um dos privilégios da comunidade branca. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Atente-se, por um momento, à forma como as representações monumentais de africanos ou de portugueses negros são, na esmagadora maioria das vezes, o fruto de políticas da memória dominadas pelos interesses imediatos, e por vezes exclusivos, da comunidade branca. Contudo, a presença no território nacional de seres humanos racializados enquanto negros, durante um longo período sujeitos ao opróbrio da escravatura, é antiga, comprovada e contínua. Historicamente, é também permanente a negação do acesso a membros desta comunidade à igualdade plena de oportunidades e direitos, ou a medidas compensatórias e de descriminação positiva. Já no contexto das antigas colónias, depois das sucessivas etapas da abolição do tráfico negreiro (esparsas ao longo de grande parte do século XIX), os sistemas tributários diferenciados, o Código Penal de 1886 e os vários diplomas legais que instituíram o ‘Estatuto do Indígena’ garantiram a generalização do trabalho forçado até ao raiar das independências. Chegando aos nossos dias, o racismo institucional mantém vivo nas estruturas de poder o legado de todas estas iniquidades. As pessoas negras presentes em Portugal são herdeiras de vínculos seculares, estáveis e sofridos com o território, quer havendo estado os seus antepassados diretos cá fisicamente presentes, quer havendo estes contribuído à distância, com o seu trabalho, para o enriquecimento nacional. Têm portanto todo o direito a ver erguido um memorial que celebre esta história, e que refunde a nossa comunidade e os seus laços com o território num sentido mais justo. O Memorial às Pessoas Escravizadas não deve nunca ser uma mera parcela da narrativa museográfica de qualquer futuro Museu das Descobertas, da Viagem ou do Colonialismo. Um museu cumpre funções pedagógicas e científicas fundamentais, mas apenas um memorial é capaz de se constituir enquanto o centro a partir do qual possam irradiar para o território nacional todas as manifestações e lutas por uma cidadania mais justa, inclusiva e emancipatória. Restringir a presente discussão pública apenas à esfera das letras ou da museologia, e insistir em manter a conversa refém da discussão do passado, é uma forma de sofismar e adiar a transformação que este acesso direto ao território desencadeará, prolongando assim velhos privilégios. As acusações de anacronismo, de penitência histórica ou de ataque à memória coletiva meramente desviam a atenção deste simples facto: o que está hoje em jogo é o direito das comunidades afrodescendentes ou racializadas a um vínculo simbólico estável e definitivo com o território português, um que impossibilite e esvazie frases racistas como ‘volta para o teu país’, ou ‘boa viagem’, e que se materialize, de forma perene, numa ‘estátua’ ou memorial capaz de congregar e relançar no futuro a nossa comunidade nacional. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Benetton sob fogo por usar refugiados do Aquarius em anúncio
“Não sou vendedor, não quero fazer publicidade, quero ser testemunha da minha era”, defende o criador de algumas das campanhas mais polémicas da marca italiana. (...)

Benetton sob fogo por usar refugiados do Aquarius em anúncio
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Não sou vendedor, não quero fazer publicidade, quero ser testemunha da minha era”, defende o criador de algumas das campanhas mais polémicas da marca italiana.
TEXTO: Já conhecida pela publicidade provocadora, a marca de roupa italiana United Colors of Benetton lançou uma campanha com imagens dos refugiados resgatados pelo navio Aquarius – que chegaram ao porto de Valência no domingo, depois de terem sido recusados por Itália e por Malta. “A tragédia humana em causa no Mediterrâneo nunca deve ser usada para fins comerciais”, condenou a ONG franco-alemã SOS Méditerranée, envolvida nas operações de resgate. O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini – que tem ele próprio estado envolvido em polémica, por querer fazer o recenseamento dos ciganos em Itália e por querer expulsar e deter os imigrantes no país –, partilhou no Twitter a publicidade da Benetton e perguntou: “Sou só eu que acho isto repugnante?”. E obteve resposta do conhecido fotógrafo da Benetton, Oliviero Toscani, responsável por grande parte das campanhas da marca. “Veja, não é repugnante, é dramático. Infelizmente muitos não entendem o que está a acontecer. O facto de um negacionista como você criticar esta acção faz com que me aperceba de que estou correcto. ”As duas fotografias, que mostram os migrantes com coletes salva-vidas e em fila à espera de auxílio, foram partilhadas pela Benetton no início da semana nas redes sociais, tendo merecido críticas por parte de outros utilizadores; a acompanhar as duas imagens está a icónica etiqueta verde com o nome da marca italiana. Como explica a organização humanitária, estas fotografias foram tiradas a 9 de Junho, quando as equipas estavam a “socorrer pessoas em dificuldade” em alto mar, depois de terem naufragado ao largo da costa líbia. A SOS Mediterranée, que socorreu os 629 migrantes, ressalva que não tem qualquer ligação com a campanha publicitária e vinca que “a dignidade dos sobreviventes deve ser respeitada em todas as ocasiões”. Além disso, critica ainda a iniciativa dos fotógrafos de disponibilizarem estas fotografias à marca italiana. Uma das fotografias foi tirada por Kenny Karpov e outra por Orietta Scardino, da agência de notícias italiana Ansa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O PÚBLICO contactou a Benetton para saber quais os critérios que levaram à escolha destas imagens e questionou também se a empresa apoia financeiramente estas causas sociais, mas não obteve resposta até ao momento. Este tipo de campanhas da Benetton, associado ao dilema de saber se ajudam a sensibilizar para questões sociais ou se se aproveita destas crises para lucrar, já tem dado que falar no passado, em grande parte devido a Oliviero Toscani. Exemplo disso é a fotografia do activista David Kirby no leito da morte, de líderes políticos a beijarem-se, ou da roupa ensanguentada de um soldado bósnio morto na guerra. “Não sou vendedor, não quero fazer publicidade, quero ser testemunha da minha era”, adiantou Toscani ao diário italiano La Tribuna di Treviso.
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Palavras-chave morte guerra humanitária morto
Despesa da Presidência do Conselho de Ministros aumenta 13 por cento devido aos Censos
A despesa total consolidada da Presidência do Conselho de Ministros aumenta 36,8 milhões de euros em 2011, mais 13,1 por cento em relação à estimativa de execução prevista para 2010, devido à realização dos Censos 2011 (...)

Despesa da Presidência do Conselho de Ministros aumenta 13 por cento devido aos Censos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2010-10-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: A despesa total consolidada da Presidência do Conselho de Ministros aumenta 36,8 milhões de euros em 2011, mais 13,1 por cento em relação à estimativa de execução prevista para 2010, devido à realização dos Censos 2011
TEXTO: Segundo o Orçamento do Estado para 2011 entregue no Parlamento, a despesa total consolidada da Presidência do Conselho de Ministros cresce dos 281, 3 milhões de euros estimados para 2010 para 318 milhões de euros em 2011. O aumento é justificado com a “inscrição da dotação específica afecta à realização do Censos 2011, no montante de 43, 2 milhões de euros”. As verbas destinadas ao funcionamento em sentido estrito "sofrem uma redução de 8, 8 por cento, resultado que traduz as medidas de contenção da despesa”, lê-se no documento. No âmbito das políticas sob alçada da Presidência do Conselho de Ministros, no processo de simplificação administrativa Simplex continuará “a expansão da rede de Lojas do Cidadão de segunda geração a mais concelhos” e estão “previstas mais de 600 medidas” do Simplex autárquico. Ao nível da integração dos imigrantes está previsto o arranque do projecto de obras do novo Centro Nacional de Apoio ao Imigrante, em Lisboa bem como “a execução das medidas previstas no II Plano de Integração de Imigrantes. Está contemplada a “formação e da colocação de mediadores interculturais em serviços públicos”, bem como “junto das comunidades ciganas, através de parcerias com a sociedade civil e as autarquias, reforçando a colocação de mediadores ao nível municipal”, sendo também “consolidada a quarta geração do Programa Escolhas, que envolve cerca de 97000 crianças e jovens. Em 2011, o Governo iniciará a execução do IV Plano Nacional para a Igualdade -Cidadania e Género, do IV Plano Nacional contra a Violência Doméstica, o II Plano Nacional contra o Tráfico de Seres Humanos, o II Programa de Acção para a Eliminação da Mutilação Genital Feminina, e o IV Plano Nacional para a Igualdade Cidadania e Género. Para “aprofundar os mecanismos de protecção e de apoio às vítimas de violência doméstica” será “aperfeiçoada a implementação da tele-assistência a vítimas, através da rede nacional de casas de abrigo e das estruturas de atendimento”, entre outras medidas. Nas áreas da orientação sexual e identidade de género, são contempladas “acções de sensibilização para profissionais de saúde, educação e forças de segurança, bem como campanhas de sensibilização para o público em geral”. Nas políticas dedicadas à Juventude, “continuará a ser requalificada e rentabilizada a Rede Nacional de Pousadas da Juventude” e será dada continuidade do acesso ao “crédito à habitação para os jovens através do programa Porta 65 para o arrendamento jovem” bem como os “programas de colocação de jovens quadros com o objectivo de promover o emprego dos recém-licenciados”, entre outras medidas. A actividade da Comissão para as Comemorações para o Centenário da República, “prolongar-se-á por 2011, até à data do centenário da primeira Constituição republicana”, coma realização de “acções mais pontuais”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos violência educação igualdade género sexual doméstica feminina imigrante
Portugal não segue ONU nas recomendações sobre racismo
Na sua avaliação a Portugal, a ONU reforça a necessidade do país avançar com medidas específicas para afrodescendentes. E de desagregar os dados que recolhe em áreas como saúde e educação. Alto-comissariado para as Migrações afasta essa possibilidade. (...)

Portugal não segue ONU nas recomendações sobre racismo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190710170757/https://www.publico.pt/n1754277
SUMÁRIO: Na sua avaliação a Portugal, a ONU reforça a necessidade do país avançar com medidas específicas para afrodescendentes. E de desagregar os dados que recolhe em áreas como saúde e educação. Alto-comissariado para as Migrações afasta essa possibilidade.
TEXTO: No mesmo dia em que a ONU recomendou a Portugal, uma vez mais, que crie medidas específicas para os afro-descendentes — algo que o Alto Comissariado para as Migrações diz que não vai ser feito —, uma plataforma que junta 22 associações reivindicou ao Estado que adopte um Plano Nacional para estas comunidades. Depois de terem enviado há dias uma carta ao Comité das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD), na qual exigem políticas de acção afirmativa e serem envolvidas no processo, nesta sexta-feira as associações unidas na plataforma Afrodescendentes Portugal afirmaram que esperam “que da parte do Governo haja seriedade e coragem para enfrentar estas recomendações em diálogo com as pessoas que sofrem na pele estes problemas”, disse ao PÚBLICO Ana Fernandes, uma das porta-vozes do grupo. Na avaliação publicada nesta sexta-feira, o CERD continua a alertar para o racismo de que os afro-descendentes são alvo em Portugal e para o facto de não existirem programas “especialmente direccionados às suas preocupações”. Sublinha que é preocupante que os afro-descendentes sejam ainda “invisíveis nos sectores mais importantes da sociedade”. O diagnóstico é semelhante ao que já tinha feito em 2012. A plataforma recebeu com “muita satisfação” a avaliação da ONU. “Estamos disponíveis para dar contributos. Vamos fazer propostas de medidas concretas para que depois o Governo possa usar. Depois, a definição de um plano nacional não nos cabe a nós”, explicou Ana Fernandes. Não querem esperar “por outras gerações para que as coisas mudem”, disse. “Queremos mudanças agora. ”Também Mamadou Ba, do SOS Racismo, que integra a plataforma, refere a urgência na adopção de um plano para os afro-descendentes. “Estou muito satisfeito porque o relatório vai ao encontro do que pensa a sociedade civil”, comentou. “É uma chapada brutal da ONU ao Estado”, nomeadamente sobre a questão das políticas específicas. Acrescenta que todos os relatórios da ONU sobre esta matéria, desde a Conferência Mundial de Durban em 2001, “repisam as mesmíssimas recomendações”. Mas Pedro Calado, alto-comissário para as Migrações, responsável pelas políticas de integração, afasta a possibilidade de adoptar políticas específicas para os afro-descendentes: “O contexto nacional, onde os problemas como o insucesso e o abandono escolares, o desemprego ou a exclusão social afectam públicos muitos diversificados, exige respostas que, dando uma prioridade aos descendentes de imigrantes africanos, não sejam exclusivas. ”Também afasta a possibilidade de seguir outra das recomendações do CERD, como a de que Portugal deve desagregar dados estatísticos sobre minorias étnicas e raciais (de acesso à educação, saúde, justiça, etc. ) para se ter uma análise “da forma como os direitos económicos, sociais e culturais estão a ser vividos” por estes grupos. Esta é uma recomendação recorrente da CERD. A Constituição portuguesa, contudo, proíbe esta recolha, mas para casos excepcionais o primeiro-ministro poderia autorizá-la. Pedro Calado reitera que ela “colide com a Constituição” e “viola” a lei de protecção de dados. Porém, como lembram as Nações Unidas, o Estado tomou medidas para recolher informação desagregada nos seus diversos observatórios, como o das Comunidades Ciganas, Migrações e Tráfico de Seres Humanos: “Mas alguns dos dados recolhidos não cobrem os seus grupos na totalidade. ” A sugestão é de que estenda a recolha de informação estatística a outros grupos. Outra das sugestões deixadas pelo CERD é que o Estado se envolva num “diálogo aberto e construtivo” com os afro-descendentes, com o objectivo de abordar as suas queixas de “discriminação racial”. Chama, por isso, a atenção para a ausência da presença de organizações não governamentais (ONG) neste processo de avaliação de Portugal (os peritos da ONU não receberam relatórios dessas organizações, como recomendado). Para o dirigente do SOS Racismo, que já criticou o Estado por este não ter envolvido a sociedade civil, a ONU vem dizer “taxativamente” que as ONG não foram ouvidas — “e deveriam” tê-lo sido. Há mais recomendações a Portugal: que controle de forma eficaz as queixas sobre discriminação racial e investigue e puna o discurso de ódio, incluindo o de políticos. Além disso, é necessário conduzir uma efectiva investigação de cada uma das denúncias de uso excessivo da força por parte das polícias, garantir a punição de quem a pratica e indemnizações para as vítimas. O comité quer, aliás, para o próximo relatório de Portugal, obter informação detalhada sobre estes casos, bem como o número de queixas às forças de segurança e o seu desfecho. A ONU está igualmente preocupada com o número limitado de queixas relativas ao artigo 240 do Código Penal (que criminaliza o racismo). A ausência de denúncias “não significa ausência de discriminação racial”, diz. Portugal deve assim investigar quais as causas: se são as próprias vítimas que não têm informação sobre os seus direitos; se sentem medo de represálias; se têm acesso limitado à polícia; se não confiam nela e no sistema judicial ou se, por outro lado, há falta de atenção das autoridades para casos de discriminação. Refere ainda que os cortes orçamentais de que foi alvo o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), ao mesmo tempo que as funções deste organismo foram alargadas, podem sacrificar a sua missão de promover a igualdade e inclusão de migrantes. Pedro Calado esclarece que “conseguiu reforçar os seus orçamentos”, e que a extensão de funções “em momento algum colocou em causa, ou colocará, a missão de promover a igualdade e a inclusão de imigrantes ou dos seus descendentes”. O CERD elogia alguns progressos feitos em Portugal, como a adopção da Estratégia Nacional para a Integração da Comunidade Cigana e do Plano Estratégico para as Migrações 2015-2020. O facto de em Portugal não ser permitida a existência de partidos xenófobos é igualmente destacado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No capítulo sobre as comunidades ciganas, o CERD afirma que estas “continuam a ser alvo de discriminação em muitas áreas da vida, como acesso a habitação e educação” — e para isso devem ser intensificadas medidas específicas. A “ausência de consulta a pessoas de etnia cigana em todos os estágios de implementação e avaliação da Estratégia” é notada pelos peritos que consideram que o financiamento desta estratégia deve ser reforçado. Outro dos aspectos mencionados no relatório são os livros escolares, que ainda têm imagens discriminatórias e estereotipadas de ciganos e afrodescendentes e outros grupos minoritários — recomenda-se que o Estado avalie os currículos e os manuais de modo a que estes retratem melhor o passado colonial e a herança cultural dos diversos grupos, bem como o seu contributo para a sociedade e culturas portuguesas. Dizem ainda que é preciso o governo concluir a proposta de lei contra a Discriminação Racial. E mudar alguns aspectos do funcionamento da Comissão para a Igualdade e Discriminação Racial. O processo de apresentação de queixa tem de ser mais simples e é preciso rever o modo como é feita a prova: o suposto agressor é que deve provar que não cometeu aquilo de que é acusado.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
A extrema-direita e xenófoba na Europa
Da Suécia à Ásutria passando por Itália, os partidos de extrema-direita têm vindo a conquistar terreno e a impor a sua agenda política. (...)

A extrema-direita e xenófoba na Europa
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.192
DATA: 2011-01-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Da Suécia à Ásutria passando por Itália, os partidos de extrema-direita têm vindo a conquistar terreno e a impor a sua agenda política.
TEXTO: Suécia Num país que sempre se orgulhou da sua tradição de tolerância, a vitória dos democratas suecos em Setembro do ano passado deixou o sistema político em choque: a imprensa falou do "fim de uma era" e de "um salto para o desconhecido". Em cinco anos o partido passou de resultados eleitorais irrisórios para uma votação de 5, 7 por cento, o que lhes deu 20 deputados num Parlamento de 349, o suficiente para impedir um Governo maioritário da aliança de centro-direita - o país tem agora um Executivo sem maioria no Parlamento. Num país em que 14 por cento dos 9, 4 milhões de habitantes são imigrantes, o líder do partido, Jimmie Akesson, afirmou que o aumento de população muçulmana é a maior ameaça do país desde a II Guerra Mundial. HolandaGeert Wilders conseguiu atenção dentro e fora da Holanda com uma série de acções mediáticas, a maioria centradas num filme em que o islão é representado como uma religião "terrorista". A dificuldade em exibir o filme Fitna permitiu-lhe apresentar-se como um mártir da liberdade de expressão. Nas eleições de Junho do ano passado, o Partido para a Liberdade de Wilders fez campanha contra a "islamização da Holanda" e conseguiu 24 deputados em 150 deputados, com 15, 5 por cento da votação, tornando-se o terceiro maior partido no país e essencial para uma maioria. Ainda que o partido não integre o Governo, o seu grupo parlamentar apoia-o. Esse apoio teve um preço: o Executivo comprometeu-se com leis sobre o uso do véu islâmico e com limites à imigração de fora da Europa. DinamarcaPia Kjaersgaard é das mais eficazes líderes de partidos anti-imigração e anti-islão no panorama europeu. A líder do Partido do Povo da Dinamarca (200 mil muçulmanos numa população de 5, 4 millhões) recusa a expressão "choque de civilizações" porque "só há uma civilização, que é a nossa - os outros querem o primitivo, o bárbaro, o medieval". O partido conseguiu resultados expressivos desde 2001, quanto obteve 12 por cento dos votos, e embora não tenha entrado no Governo, o seu apoio parlamentar permitiu-lhe deixar marcas com as alterações de 2002 às leis da imigração, na altura descritas como as mais estritas da Europa. Desde então, a Dinamarca tem apertado as leis da imigração em média uma vez em cada oito meses e Kjaersgaard já estabeleceu um novo objectivo para as eleições, que deverão ser realizadas até Novembro: entrar no Governo. HungriaO Jobbik é um partido com uma retórica forte e imagem a condizer. As palavras são sobretudo contra o "crime cigano", embora também sejam anti-semitas, e esteve sempre ligado a uma força paramilitar, a Magyar Garda (Guarda Húngara), em que voluntários com uniformes semelhantes aos do partido fascista da Hungria durante a II Guerra Mundial patrulham cidades com populações ciganas. O líder do Jobbik, Gabor Vona, usou o uniforme ao tomar posse no Parlamento após as legislativas de 2010. A guarda foi entretanto ilegalizada mas continua a aparecer com novos nomes. O Jobbik, agora a terceira força política do Parlamento, explora o medo dos ciganos e a percepção de que os judeus têm demasiado poder. A popular eurodeputada Krisztina Morvai afirmou, em relação aos judeus do país - cerca de 100 mil , a maior população judaica da Europa Central -, que "o seu tempo acabou", sugerindo que o partido iria tratá-los "do mesmo modo que o Hamas".
REFERÊNCIAS:
Étnia Cigano
História de amor fora do normal vence IndieLisboa
Numa decisão surpreendente, “The Ballad of Genesis and Lady Jaye”, documentário da francesa Marie Losier sobre o invulgar romance entre os artistas multimedia Genesis P-Orridge e Lady Jaye Becker, é o vencedor da 8ª edição do festival IndieLisboa, anunciado na noite de sábado no Grande Auditório da Culturgest. (...)

História de amor fora do normal vence IndieLisboa
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.333
DATA: 2011-05-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa decisão surpreendente, “The Ballad of Genesis and Lady Jaye”, documentário da francesa Marie Losier sobre o invulgar romance entre os artistas multimedia Genesis P-Orridge e Lady Jaye Becker, é o vencedor da 8ª edição do festival IndieLisboa, anunciado na noite de sábado no Grande Auditório da Culturgest.
TEXTO: O júri internacional premiou como melhor longa portuguesa “Linha Vermelha”, do português José Filipe Costa, enquanto o publico preferiu o documentário de Jean-Stéphane Bron “Cleveland vs Wall Street”. Composto pela actriz Margarida Vilanova, pelos programadores François Bonenfant, Gabe Klinger e Jean-Pierre Rehm e pelo realizador Denis Côté, o júri internacional elegeu como melhor dos dez primeiros ou segundos filmes a concurso "The Ballad of Genesis and Lady Jaye". Este documentário rodado pela cineasta experimental Marie Losier aborda os quatro anos de vida em comum de Genesis P-Orridge, músico dos Throbbing Gristle e Psychic TV, e da "performer" Lady Jaye Becker. Num palmarés que deixou de fora a maior parte dos filmes mais estimulantes da selecção 2011, o júri escolheu ainda dar uma menção honrosa a “La BM du Seigneur”, híbrido de documentário e ficção na comunidade cigana francesa conhecida por "yéniche", dirigido pelo francês Jean-Charles Hue. O prémio de distribuição coube a “Morgen”, comédia dramática do romeno Marian Crisan, produzida por Cristi Puiu (“A Morte do Sr. Lazarescu”), sobre a amizade entre um segurança romeno e um imigrante ilegal turco. No que diz respeito ao cinema português, o mesmo júri internacional escolheu como melhor longa-metragem nacional “Linha Vermelha”, a investigação do documentarista José Filipe Costa sobre a história do documentário que o alemão Thomas Harlan dirigiu em 1975 sobre a ocupação da herdade da Torre Bela. Nas curtas-metragens, o júri separado da categoria (os realizadores Catarina Mourão e Bruno Safadi e o programador Thure Munkholm) deu o prémio de melhor curta nacional a “Alvorada Vermelha”, documentário da dupla João Pedro Rodrigues/João Rui Guerra da Mata sobre o Mercado Vermelho de Macau. O prémio da categoria de realização em curta nacional foi entregue, ex-aequo, também a duas duplas: Gabriel Abrantes/Benjamin Crotty, por “Liberdade”, e Marco Martins/Filipa César, por “Insert”. A curta internacional vencedora foi "The Story of Elfranko Wessels", de Erik Moskowitz e Armanda Trager. Como habitualmente, o público que assistiu aos dez dias de festival fez uma escolha diferente de filmes. Na categoria de longa-metragem, premiou o documentário franco-suiço de Jean-Stéphane Bron “Cleveland vs Wall Street”, igualmente vencedor do prémio da Amnistia Internacional. Na curta-metragem, votou em “Paris Shanghai”, de Thomas Cailley, e na secção infanto-juvenil IndieJunior atribuiu o seu prémio à curta animada holandesa Things You'd Better Not Mix Up.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra comunidade imigrante ilegal