Violência doméstica e abuso sexual: devíamos falar mais sobre isto
Mais de metade dos crimes sexuais em Portugal são cometidos sobre crianças e adolescentes. (...)

Violência doméstica e abuso sexual: devíamos falar mais sobre isto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 18 | Sentimento 0.333
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais de metade dos crimes sexuais em Portugal são cometidos sobre crianças e adolescentes.
TEXTO: Em Julho de 2018 foi divulgada uma Carta Aberta, assinada por 23 organizações da área dos Direitos Humanos, manifestando oposição à presunção jurídica da residência alternada (e não à residência alternada!) para crianças com pais separados. Este é um tema de direitos das crianças que não pode ser usado como uma pretensa bandeira de igualdade dos pais. Mas por que é que insistimos em falar de violência doméstica e abuso sexual de menores neste âmbito?Claro que não é afirmado na Carta Aberta que a generalidade dos homens são agressores. Tentar retirar essa elação da Carta Aberta é apenas tentar descredibilizar e condicionar um debate que se quer ponderado. Mas não trazer a este debate o tema da violência doméstica e abuso sexual de menores é não ter conhecimento da realidade portuguesa. Não podemos continuar a ignorar os números da violência doméstica e do abuso sexual em Portugal: 27. 000 participações de violência doméstica em 2017 e em 35% dos casos as ocorrências foram presenciadas por menores. Três mulheres mortas por mês em média nos últimos 13 anos. Três crianças órfãs de mãe por mês em média nos últimos 13 anos. Mais de metade dos crimes sexuais em Portugal são cometidos sobre crianças e adolescentes. Adicionalmente, apenas uma minoria das famílias recorre a tribunal nas questões de responsabilidades parentais, tipicamente nos casos de maior conflito e com contextos de violência. Tendo estes dados em consideração, a residência alternada não pode ser o regime regra. Tal presunção transferiria para as vítimas a obrigação de a ilidir, num contexto em que só 48 dias após a queixa é que se iniciam as investigações. Num contexto em que os processos crime duram em média três anos. E a forma como os tribunais de família estão a lidar com esta realidade é referida na Carta Aberta — como se de um mero conflito conjugal se tratasse, ignorando os processos-crime em curso. Este é um facto grave e bem conhecido das associações subscritoras da Carta Aberta. Juízes de tribunais de família que exigem que seja dada a morada da casa-abrigo na qual mãe e filhos se refugiaram, apenas considerando o superior interesse das visitas do progenitor agressor; que solicitam o levantamento das medidas de coação de proibição de contactos, por considerarem que impede o relacionamento normal (sic!) entre progenitores. Portugal é signatário da Convenção de Istambul, que reflete precisamente o reconhecimento de não se poder separar os processos de responsabilidades parentais dos processos-crime no âmbito de violência doméstica e abuso sexual de crianças e adolescentes. Acredito que, tendencialmente, se caminhará para um regime de guarda conjunta com residência alternada repartida, regime já previsto na lei portuguesa se assim for pretendido pela família. Tal irá resultar da evolução social que já se verifica e que vejo à minha volta, nomeadamente nas gerações mais novas e sem necessidade de imposição legal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Essa é também a posição do Conselho da Europa que, na Resolução 1921, insta os estados a assegurar que a lei preveja custódia partilhada, no interesse da criança, baseada em mútuo acordo, sem nunca ser imposta. Tal como referido na Carta Aberta, o modelo certo será o que melhor se adeque a cada caso concreto, salvaguardando a segurança, o bem-estar e o superior interesse da criança. A pergunta que, efetivamente, deveríamos fazer é: por que é que não falamos mais de violência doméstica e abuso sexual?
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos homens lei humanos violência tribunal social criança igualdade sexual minoria mulheres doméstica abuso agressor
Violência doméstica: quando começa é para durar
Estatísticas da APAV mostram que muitas vítimas estiveram nesta situação entre dois a seis anos. (...)

Violência doméstica: quando começa é para durar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estatísticas da APAV mostram que muitas vítimas estiveram nesta situação entre dois a seis anos.
TEXTO: As vítimas de violência doméstica não são alvo de um acto esporádico, sendo esta pelo contrário uma experiência “de vitimação continuada, com uma duração média entre os dois e os seis anos”. A conclusão é da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e tem na base 36. 528 processos que foram acompanhados pela organização entre 2003 e 2017. Numa compilação estatística divulgada nesta quinta-feira, a APAV especifica que estes processos se traduziram “num total de 87. 730 factos criminosos”. Em cerca de 80% das situações, a violência foi exercida de forma continuada. A duração da vitimação com maior peso situa-se entre dois e seis anos (15, 1%), mas cerca de 8% das vítimas indicam que esta se prolongou por 12 a 25 anos. As estatísticas da APAV confirmam que a “residência comum” (do agressor e da vítima) é o local privilegiado para estes crimes (64, 6%) e que as vítimas “eram sobretudo mulheres casadas” com idades entre os 26 e os 55 anos. Cerca de 14% das vítimas eram do sexo masculino. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este é também o intervalo etário com maior peso entre os autores dos crimes, dos quais 85% eram do sexo masculino. Os dados agora divulgados mostram que cerca de um terço dos autores dos crimes estavam empregados, sendo que em perto de 40% dos casos não foi dada resposta sobre a actividade económica exercida por estes. Dos crimes registados, os maus-tratos psíquicos são os que têm maior expressão, estando sempre acima dos 35% nos cinco anos em análise. Seguem-se os maus-tratos físicos (27%) e as ameaças ou coacção (17%). Mas os crimes de natureza sexual são os únicos que registaram uma tendência de subida continuada durante este período, embora não tenham ultrapassado uma prevalência de 2, 5%, o valor registado em 2017.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência sexo sexual mulheres maus-tratos doméstica agressor
A violência doméstica e a liberdade da vítima
Quando "o Estado não tem que bedelhar a intimidade de dois cidadãos que vivam ou tenham vivido em comum”. (...)

A violência doméstica e a liberdade da vítima
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 18 | Sentimento -0.03
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando "o Estado não tem que bedelhar a intimidade de dois cidadãos que vivam ou tenham vivido em comum”.
TEXTO: O Rui respondeu em tribunal pelo crime de violência doméstica e foi absolvido. Segundo o Ministério Público, em meados de 2016, o Rui, de punho fechado, teria desferido na Joana, com quem vivia maritalmente desde 2003, um violento murro que a atingiu no braço esquerdo, causando-lhe fortes dores, tendo-a, depois, agarrado e puxado com força para fora da cama; atirou-a, ainda, contra a parede do quarto onde embateu violentamente com a zona do peito, causando-lhe, novamente, fortes dores. A Joana conseguiu pelo telemóvel ligar para a sua advogada que, por sua vez, ligou para a GNR. E o Rui só teria libertado a Joana quando a patrulha da Guarda Nacional Republicana tocou à campainha da residência de ambos. Chegados a julgamento, Rui e Joana tinham-se reconciliado mas a Joana não podia desistir da queixa porque a violência doméstica é um crime público, isto é, é um crime que as autoridades, a partir do momento em que têm conhecimento da sua possível existência, têm a obrigação de investigar e de levar a julgamento, caso existam provas nesse sentido. Independentemente de haver queixa ou não da vítima e de haver ou não vontade da vítima em levar a julgamento o agressor. Os crimes públicos são os crimes em que a sociedade entende que a vontade dos cidadãos, mesmo daqueles que são directamente atingidos, não tem relevância porque há um interesse público na sua perseguição e punição. Certo é que a Joana não podia desistir da queixa, mas entendeu que podia evitar a condenação do Rui, recusando-se a ser testemunha. Na verdade, há uma disposição legal que determina que se podem recusar a depor como testemunhas “quem tiver sido cônjuge do arguido, ou quem com ele conviver ou tiver convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação”. E foi assim que o Rui foi absolvido: a Joana recusou-se a depor, a juíza do julgamento aceitou como válida essa recusa e não foi feita prova da agressão, uma vez que os soldados da GNR nada tinham visto quando tinham chegado à casa do casal. Quem não gostou nada desta absolvição foi o Ministério Público, que recorreu da decisão da juíza de ter aceite como válida a recusa de prestação de depoimento da Joana. Para o Ministério Público, a Joana e o Rui, embora vivessem na mesma casa, na altura da alegada agressão estavam separados de facto, como a própria Joana tinha reconhecido. E a lei, quando falava de coabitação, que justificava a recusa de depor como testemunha, era uma coabitação “equivalente à manutenção de uma relação, no sentido de uma unidade de vida familiar, com comunhão de casa, mesa e cama, o que, manifestamente, não se verificava” no caso da Joana e Rui. Para o Ministério Público, a Joana devia ser obrigada a depor e, claro, se se recusasse ou mentisse deveria ser julgada pelo crime de falso testemunho. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Rui respondeu ao recurso do Ministério Público, alegando que a Joana tinha todo o direito em se recusar a depor já que o fizera com receio que o depoimento pudesse prejudicar o bom relacionamento e a perfeita harmonia em que o casal actualmente se encontrava a viver, sendo certo que se, em determinado momento da sua relação, o casal se tinha desentendido, o que provocara um certo arrefecimento casual e transitório na sua relação, a verdade é que nunca tinham interrompido a sua coabitação. O recurso foi parar às mãos dos juízes desembargadores João Gomes de Sousa e António Condesso, do Tribunal da Relação de Évora. E estes, no passado dia 25 de Setembro, não tiveram dúvidas em afirmar que a Joana tinha todo o direito de se recusar a falar em tribunal do que se passara dentro da vida do casal, já que a coabitação “não supõe apenas a vivência em comum em plena harmonia, tem que incluir, necessariamente, os momentos de discórdia, de zanga, os intervalos de desarmonia”. E explicaram: a lei, ao prever essa possibilidade de recusa, pretende “evitar a intromissão do Estado na esfera íntima do casal”. Ou ainda: “O Estado não tem que bedelhar a intimidade de dois cidadãos que vivam ou tenham vivido em comum”. No fundo, se o Estado queria punir o Rui, seria o Estado que devia apresentar, em julgamento, provas da prática do crime, mas não à custa da liberdade e da privacidade da Joana.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Este ano já foram mortas 20 mulheres
Muitos casos continuam a ser investigados. Mas o Observatório de Mulheres Assassinadas, da União de Mulheres Alternativa e Resposta, já contabiliza 20 mulheres mortas só este ano. Destas, 15 foram-no por pessoas com quem tinham (ou já tinham tido) relações de intimidade, como companheiros ou ex-companheiros, e 5 por familiares próximos (filhos, irmãos, netos. . . ). O Observatório não conta com o caso de Moncorvo: "Em boa verdade surge a suspeita de femicidio seguido de suicídio, porém o mesmo ainda não está confirmado por parte da Policia Judiciária pelo que ainda não o podemos contabilizar", justifica. O PÚBLIC... (etc.)

Este ano já foram mortas 20 mulheres
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 18 | Sentimento -0.2
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
TEXTO: Muitos casos continuam a ser investigados. Mas o Observatório de Mulheres Assassinadas, da União de Mulheres Alternativa e Resposta, já contabiliza 20 mulheres mortas só este ano. Destas, 15 foram-no por pessoas com quem tinham (ou já tinham tido) relações de intimidade, como companheiros ou ex-companheiros, e 5 por familiares próximos (filhos, irmãos, netos. . . ). O Observatório não conta com o caso de Moncorvo: "Em boa verdade surge a suspeita de femicidio seguido de suicídio, porém o mesmo ainda não está confirmado por parte da Policia Judiciária pelo que ainda não o podemos contabilizar", justifica. O PÚBLICO recorda alguns dos crimes que marcam o ano. O Relatório de Segurança Interna de 2013 dava conta de 30 mulheres e 10 homens vítimas de violência doméstica. 3 de JunhoAires Ferreira, antigo presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, é encontrado morto juntamente com a ex-mulher. Suspeita-se de uma situação de homicídio seguida de suicídio. 1 de JunhoUma mulher de 54 anos é morta por asfixia, em Vale de Santarém. O companheiro é detido pelas autoridades sem oferecer resistência. O casal estaria em processo de separação e a mulher tinha colocado à venda a residência onde viviam. No mesmo dia, um homem esfaqueia a ex-mulher e a filha, em Margaride, Felgueiras, tendo ambas sido transportadas para o hospital. 28 de Maio Uma mulher de 28 anos é esfaqueada na clínica dentária onde trabalhava, na Rua Augusta, em Lisboa. O alegado agressor, de 39 anos, era marido da vítima e foi detido no local pela PSP. 15 de MaioUm homem de 70 anos asfixia a mulher nas Lajes do Pico. O alegado crime ocorre à porta de casa. O homem é detido. 7 de MaioUma mulher é encontrada morta na Baixa da Banheira. O homem que a terá esfaqueado, ex-companheira da vítima, é encontrado morto horas depois. 17 de AbrilUm agricultor, de 61 anos, mata a tiro a ex-sogra e a tia e fere a ex-mulher e a filha em Valongo dos Azeites, S. João da Pesqueira. Já tinha sido condenado em 2013 a pena de prisão de quatro anos, suspensa, por violência doméstica, ofensa à integridade física qualificada e ameaça agravada. 8 de MarçoUm homem de 65 anos é suspeito de matar a irmã e esfaquear a mãe, na aldeia de Meixedo, em Montalegre. 6 de MarçoUm homem de 45 anos mata à facada uma mulher de 19, em Elvas, e suicida-se de seguida. Teriam sido namorados no passado, segundo a Lusa. 4 de MarçoUma mulher é encontrada morta na banheira de sua casa, em Monte Abraão, Sintra. Dias depois a imprensa noticia a detenção do ex-marido, como suspeito de estar envolvido. 22 de FevereiroUm homem de 62 anos é suspeito de ter assassinado a mulher, de 54, em Ferreira do Alentejo, com uma arma de fogo. Terá tentado suicidar-se a seguir, ficando gravemente ferido, relata a Lusa. 1 de FevereiroUma mulher de 38 anos é encontrada morta no interior de um veículo, no concelho de Albergaria-a-Velha. A Lusa dá conta de que o suspeito é um indivíduo de 41 anos, ex-marido da vítima. 13 de JaneiroUma mulher com cerca de 20 anos é assassinada à porta da casa dos pais, em Alcochete. O suspeito é o ex-companheiro. 12 de JaneiroUma mulher de 48 anos é morta a tiro num estabelecimento comercial em Alfragide. O suspeito é um homem de 50 anos, antigo companheiro da mulher, que acaba por se entregar.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Conselho de taróloga sobre “galdérias” revela “machismo entre as mulheres”
Num programa de leitura de cartas de Tarot, Maria Helena Martins aconselhou uma mulher a manter o casamento com o seu marido adúltero. A associação UMAR considera a situação inadmissível. (...)

Conselho de taróloga sobre “galdérias” revela “machismo entre as mulheres”
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-03-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num programa de leitura de cartas de Tarot, Maria Helena Martins aconselhou uma mulher a manter o casamento com o seu marido adúltero. A associação UMAR considera a situação inadmissível.
TEXTO: “Arranje-se toda, seja muito bonita que se ele fizer muita ginástica em casa depois para a rua já sobra pouco” – foi este o conselho dado pela taróloga Maria Helena a uma mulher que ligou para o programa por estar a ser traída pelo marido. No programa Ponto de Equilíbrio, transmitido pela SIC Internacional, a cartomante sugeriu que a mulher “cansasse” o seu marido: “É assim que se faz para a gente salvar os nossos casamentos, temos de ser mais espertas que as galdérias”, concluiu. “É inconcebível que na sociedade actual ainda aconteçam situações deste género”, afirma Elisabete Brasil, activista na União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), admitindo que se trata de um discurso penalizador para as mulheres que evidencia o sexismo que ainda está interiorizado na sociedade portuguesa. “A responsável pelo casamento não funcionar é sempre da mulher porque não corresponde ao papel tradicional, enquanto o homem pode tudo – não interessa o que o homem faz, interessa o que a mulher não fez”, explica a activista. Também a socióloga Elisabete Rodrigues considera estar perante um discurso “hiper machista” que “vem desculpar a infidelidade do homem e culpa a mulher, não sendo feito nenhum julgamento ao marido para além de colocar o ónus de resolver a situação na mulher”. A socióloga diz que o episódio é “lamentável”, considerando “triste” que se assista a este “machismo entre as próprias mulheres”. Os conselhos foram dados no programa que Maria Helena Martins apresenta na SIC Internacional, chamado Ponto de Equilíbrio. De acordo com a sinopse do programa, trata-se de um talk-show que pretende "promover o bem-estar físico e emocional”, abordando temas de “medicinas naturais, astrologia e interpretação das cartas”. O segmento de vídeo foi partilhado esta quinta-feira numa página satírica do Facebook intitulada Lena das Cartas em que alguns utilizadores do Facebook mostraram o seu desagrado através de comentários, mostrando-se contra os conselhos da apresentadora do programa, ainda que também haja quem defenda as afirmações. O facto de a apresentadora apelidar as outras mulheres de “galdérias” sem que haja qualquer repreensão da conduta do marido é, para Elisabete Brasil, um indício de que ainda é considerado “errado” que as mulheres decidam o que fazer com o seu corpo e a sua sexualidade. A opinião da socióloga Elisabete Rodrigues é coincidente, pois considera que a sexualidade das mulheres tende a ser moralmente condenada e, “apesar de ter mudado muito, ainda é mais penalizada do que a dos homens”. “O adultério abala perigosamente todos aqueles pilares em que deve assentar um casamento, prática que muito condeno, seja praticado pelo marido ou pela mulher”, afirma Maria Helena na sua página de Facebook, numa publicação feita durante a tarde desta sexta-feira. A apresentadora diz que é frequentemente questionada sobre o que fazer nos casos de adultério, respondendo em primeiro lugar que o casal deve avaliar “se ainda se ama verdadeiramente”. “Se já não houver amor, já não poderá haver casamento”, adianta. Por outro lado, a apresentadora considera que se se decidir perdoar, o casal deve tentar superar a traição e recuperar a confiança perdida. Perante as declarações feitas por Maria Helena Martins no programa da SIC, Elisabete Brasil considera ser peremptório que haja um maior escrutínio de quem pode transmitir mensagens para grandes audiências, uma vez que “estes programas funcionam como um espaço de apoio e são ouvidos por milhares de pessoas que, por vezes, se encontram em momentos de grande vulnerabilidade”. A activista da UMAR diz ainda que a veiculação deste tipo de mensagens machistas perpetua a ideia ultrapassada do papel de dependência das mulheres no casamento, em que o seu corpo é visto como propriedade dos homens, estando ao seu dispor para os satisfazer sem que o contrário aconteça. “É uma ideia de que o casamento é sinónimo de felicidade e tem de ser mantido, mesmo que a mulher se tenha de submeter e subjugar sem vontade”, remata. Não é a primeira vez que uma situação deste género acontece. Já em Junho do ano passado, a taróloga Carla Duarte aconselhava uma mulher vítima de violência doméstica a ter paciência com o seu marido, procurando não discutir e gerar conflito. “Se você recebe violência, corte este ciclo e não dê violência, nem que seja por palavras ou… mime-o”, aconselhava Carla Duarte. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Após uma onda de indignação que se propagou pelas redes sociais, a SIC emitiu um comunicado afirmando “não se rever” no comentário feito pela colaboradora do programa A Vida nas Cartas. A apresentadora do programa, Carla Duarte, acabou por pedir desculpa em directo. Notícia corrigida às 21h27: os comentários escritos na página satírica Lena das Cartas estavam erradamente atribuídos a Maria Helena Martins; a taróloga não partilhou o vídeo na sua página no Facebook.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência mulher homem género mulheres doméstica corpo sexualidade casamento adultério infidelidade
Testemunhas de Jeová acusadas de incentivar mulheres a suportar violência
Revista da organização alude a pessoas que se mantiveram casadas mesmo com “a saúde e a vida” em perigo e cujo sacrifício valeu a pena. Associação diz que é “repulsiva” qualquer forma de violência. (...)

Testemunhas de Jeová acusadas de incentivar mulheres a suportar violência
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Revista da organização alude a pessoas que se mantiveram casadas mesmo com “a saúde e a vida” em perigo e cujo sacrifício valeu a pena. Associação diz que é “repulsiva” qualquer forma de violência.
TEXTO: A indignação espalhou-se com a rapidez de um rastilho de pólvora entre muitas ex-Testemunhas de Jeová (TJ) por causa do último número da revista Sentinela, que, em Dezembro próximo, há-de servir de base ao “estudo” dos membros deste grupo religioso: nas páginas 10 a 14 daquela publicação, sob o título “Respeite ‘O que Deus pôs sob o mesmo jugo”, os autores da revista peroram sobre o casamento e o divórcio e apontam, num português abrasileirado, situações em que “talvez ele [o marido] costume bater nela, colocando a saúde e a vida dela em perigo” para lembrarem os cristãos que “passaram por situações parecidas e decidiram não se separar”, isto é, “preferiram perseverar e se esforçar para melhorar o casamento”. Num cenário em que um marido “descrente” agride a mulher que acredita em Jeová, o texto garante que os que optaram por continuar casados “dizem que esse sacrifício valeu a pena, principalmente depois que o marido ou a esposa se tornou [sic] adorador de Jeová”. Trata-se, sustenta Ana Cláudia Sousa, expulsa da congregação há 16 anos depois de se ter divorciado sem “base bíblica”, de um claro incentivo a que as mulheres permaneçam casadas mesmo quando são violentadas. “Num país em que, como em Portugal, todos os meses morrem mulheres vítimas de violência doméstica, eles continuam a insistir que ela se deve manter no casamento?! Não acho isto admissível”, declarou ao PÚBLICO, fazendo eco da indignação que grassa dentro e fora dos fóruns da Internet onde os “dissociados” (membros que se desligaram desta denominação religiosa) e os “desassociados” (que foram expulsos) se reúnem. Questionado pelo PÚBLICO, Pedro Candeias, ancião e porta-voz da organização no país, recusa que se possa ler na publicação qualquer incentivo à aceitação da violência. “As Testemunhas de Jeová […] consideram repulsiva toda e qualquer forma de violência, incluindo a violência doméstica, seja na forma física, verbal ou psicológica”, garantiu por email, para explicar de seguida: “As publicações das Testemunhas de Jeová explicam a informação da Bíblia, no entanto, é da responsabilidade de cada pessoa tomar as suas próprias decisões”. “A mensagem é subliminar mas as pessoas ‘lá de dentro’ percebem-na: uma mulher que se mantenha com um marido violento é digna de elogio porque pode salvá-lo”, interpreta outro ex-membro das TJ que durante dez anos foi ancião (equivalente a um padre na Igreja Católica), para explicar que estas edições de “estudo” da Sentinela são lidas e discutidas parágrafo a parágrafo nas reuniões semanais entre anciãos e membros das TJ. “A mensagem é claríssima: deixem-se estar porque Deus odeia o divórcio e há esperança que o marido se torne Testemunha de Jeová mesmo que para isso tenham de passar anos a levar porrada”, indigna-se, por seu turno, uma advogada que foi formalmente expulsa das TJ no início deste ano por, em 2017, ter integrado uma lista candidata a uma junta de freguesia. A relação dos que se afastaram das Testemunhas de Jeová (TJ) com o seu passado está longe de ser pacífica. Enquanto membros, tendem a viver fechados sobre si mesmos e debaixo de um apertado controlo social, com interdições que muitos consideram atentatórias de direitos fundamentais, e, quando saem, muitos ex-TJ queixam-se do ostracismo a que se dizem votados pela Associação das Testemunhas de Jeová (ATJ). Este ano, e num intervalo temporal de apenas três meses, foram conhecidas duas petições reclamando a extinção da ATJ. A primeira, apresentada e discutida em Janeiro no Parlamento, pedia que o culto fosse banido por incutir o ódio e o medo nos seus seguidores e por atentar contra o direito constitucional à liberdade e segurança, mas foi “liminarmente indeferida” pela Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais sob a alegação de que violava a liberdade religiosa. Em Março, surgiu uma nova petição a reclamar a extinção da ATJ e o cancelamento do seu assento no registo de pessoas colectivas religiosas. No documento, que deverá ainda ser dirigido ao Parlamento e à Comissão da Liberdade Religiosa, sobravam referências ao ostracismo a que são votados os seus ex-membros. Onde os ex-membros lêem incentivos à manutenção do casamento custe o que custar, a socióloga Helena Vilaça, que estuda há anos a paisagem religiosa em Portugal, vislumbra outra abertura, nomeadamente nos parágrafos que apontam a “imoralidade sexual” como base bíblica para o divórcio. “Toda aquela interpretação não está distante da concepção que a Igreja Católica tem relativamente ao casamento”, relativiza. “E as Testemunhas de Jeová até vão mais longe quando põem a hipótese de a mulher deixar o marido em situação de imoralidade sexual deixando-a livre para casar novamente”, acrescenta a investigadora da Universidade do Porto, para lembrar que, tanto quanto saiba, os padres católicos também não andam propriamente a aconselhar as mulheres a divorciarem-se. “Mesmo os psiquiatras, onde quem não é religioso pode ir buscar alguma orientação, colocam a bola do lado da pessoa”, conclui. Segundo o ex-ancião que falou ao PÚBLICO, o denominador comum às diferentes congregações das TJ – e serão cerca de 600 em Portugal - é o desincentivo da denúncia às autoridades civis: “Isto passa-se sobretudo quando quem violenta é Testemunha de Jeová. Eles tentam preservar uma imagem de superioridade e qualquer coisa que lance vitupério sobre o nome de Jeová, é fortemente desaconselhada. ”Irina Pires, de 32 anos, divorciada desde 2008 depois de um casamento com um homem que era das TJ e de quem se separou ao fim de dois anos e de muitas agressões, recorda o enleio inicial. “Ele tinha sido testemunha a vida toda, porque os pais eram e os avós também. Aos 19 anos e filha de pais separados, casei-me e deixei-me levar naquela conversa da família feliz, da mulher enquanto esposa ideal, discreta, escrava”. As agressões terão começado logo na primeira semana do casamento. “Quando os anciãos com quem estudava a bíblia iam lá a casa, viam as coisas partidas e ouviam-no assumir que me batia, diziam-me que tinha que me manter fiel e discreta para não dar mau nome a Jeová. Até me diziam que aquilo era Satanás a tentar desviar-me da verdade. ”Quando os vizinhos começaram a chamar a polícia, "a preocupação dos anciãos era que não apresentasse queixa porque isso iria difamar a religião”. Quando Irina decidiu que não queria a filha numa casa onde imperava a violência e pediu aos anciãos que testemunhassem a seu favor em tribunal, a resposta foi negativa. “Infelizmente não podiam porque eu era ‘mundana’ – tinha estudado a bíblia mas recusara baptizar-me – e jamais iriam a um tribunal dizer que um irmão batia numa mundana como eu”, alega, para garantir que, nos anos em que manteve proximidade com as TJ, conheceu “muitas mulheres que levavam porrada e sofriam violência psicológica e continuavam porque eles as ensinavam que tinham de ser ‘escravas fiéis e discretas’”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A socióloga Helena Vilaça, que no final da década de 90 passou um ano a estudar uma congregação de Testemunhas de Jeová, recusa que esta seja a regra. “Não me parece que possamos concluir que as Testemunhas de Jeová são piores do que os outros ou que fazem a apologia da violência doméstica. É verdade que valorizam o casamento e a estabilidade dentro do casamento, o que contrasta com a dita ‘modernidade líquida’ em que vivemos e que não valoriza o que é sólido e o que é estável”, situa. Mas, em termos de doutrina, “e concretamente em relação ao casamento, até conseguem ser mais flexíveis quando admitem que o divórcio pode ter base bíblica quando haja adultério”, insiste a investigadora. Não significa, porém, que as TJ não tendam - “como, de resto, nalgumas paróquias católicas”, lembra a investigadora - para a rigidez e para o controlo social dos seus membros. “O facto de não serem um grupo em simbiose com a sociedade torna-os mais fechados sobre si mesmos e propicia esse controlo da vivência quotidiana das pessoas. Daí que haja muita gente que sai em ruptura, num processo que pode ser muito doloroso e que requer muita coragem”, descreve. Por outro lado, aponta casos em que esse controlo, e as interdições que o acompanham, teve resultados felizes: “Num contexto periurbano de uma família operária, a mulher era convertida mas o marido não. Quando este se converteu, deixou os vícios, como fumar e beber e, por vezes algum jogo, passou a entregar o salário em casa e a família passou a ser funcional”.
REFERÊNCIAS:
Religiões Testemunhas de Jeová
“Os rapazes precisam de ver que as raparigas podem estar em posições de poder”
Komal Singh é engenheira informática do Google e veio Portugal apresentar Ara, a Engenheira das Estrelas, o livro infantil que escreveu para incentivar as raparigas a sonhar com a programação. (...)

“Os rapazes precisam de ver que as raparigas podem estar em posições de poder”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Komal Singh é engenheira informática do Google e veio Portugal apresentar Ara, a Engenheira das Estrelas, o livro infantil que escreveu para incentivar as raparigas a sonhar com a programação.
TEXTO: Num dos palcos da Feira do Livro de Lisboa, um grupo de alunas do 2. º ciclo que vai participar em Julho no campeonato mundial RoboCup, na Austrália, rodeia a autora de Ara, a Engenheira das Estrelas. Komal Singh é engenheira informática do Google e veio a Portugal apresentar o livro infantil que escreveu para incentivar as raparigas a sonhar com a programação.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave infantil
"Há mesmo barreiras para as mulheres?"
Uma empresária e autora questiona as ideias feitas sobre as questões de género na cibersegurança, uma área em que faltam profissionais. (...)

"Há mesmo barreiras para as mulheres?"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 17 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma empresária e autora questiona as ideias feitas sobre as questões de género na cibersegurança, uma área em que faltam profissionais.
TEXTO: Nos próximos três anos, vão faltar cerca de 1, 8 milhões de profissionais de cibersegurança para lidar com o número crescente de ataques. O problema agrava-se quando apenas 11% dos profissionais na área são mulheres, argumenta a directora britânica da Cyber Security Capital, Jane Frankland, que é responsável por um programa global para atrair talento para o sector. “É preciso parar de repetir coisas como ‘temos de acabar com as barreiras’”, pede Frankland, sempre que sobe ao palco para falar do tema. Há 20 anos que a britânica trabalha na área, mas é uma minoria. Para a empresária, parte do problema são frases feitas que defendem que os empregos nesta área são inacessíveis a mulheres. No topo da lista, coloca “break the glass ceiling” : uma expressão inglesa que alerta para barreiras invisíveis – tectos de vidro. “Temos demasiadas mulheres a baixarem a cabeça e a regurgitar estas frases, mas, se crescemos com estas crenças, haja ou não motivo, estamos a limitar-nos’”, explicou Frankland ao PÚBLICO. “E há mesmo barreiras para mulheres? Há pouquíssimos profissionais no ramo da cibersegurança. ”Os dados que Frankland cita são da ISC2, uma associação internacional para profissionais de cibersegurança. Indicam que há cinco anos que a baixa percentagem de mulheres na área se mantém igual. Para Frankland, é um risco: “As mulheres importam na cibersegurança pela forma como vêem e interpretam problemas”, justificou. “Tendem a ser mais intuitivas e a ter melhores resultados no que toca a inteligência emocional e social, o que lhes permite manter a calma em situações de stress. ”Fala por experiência própria. Foi empurrada para área aos 27 anos, porque já não conseguia pagar as contas com o curso de design, que apenas permitia trabalhos pontuais. Mãe solteira, sem desejos de voltar à faculdade, começou por tirar um curso técnico enquanto trabalhava em vendas. Hoje, para além da Cyber Security Capital, é directora de uma empresa de cibersegurança. Sempre soube que havia mais homens na área, mas não achava que era uma diferença assim tão grande. "Achei que as outras mulheres estavam apenas a fazer aquilo que normalmente fazem – evitar chamar a atenção e avançar com o trabalho”, admitiu. Surpreendida com os valores, Frankland passou os últimos dois anos a entrevistar profissionais em todo os continentes para perceber o motivo. O livro IN Security é o resultado dessa investigação. "Quando se fala nos media sobre os baixos números na indústria da cibersegurança é fundamental saber de onde vem a informação, a quem é que foram feitas as perguntas”, disse Frankland. “Por exemplo, só porque há um problema de mulheres em tecnologia no mundo Ocidental, em Inglaterra, nos EUA, não se pode generalizar”, alertou Frankland, que diz que países como Israel, Índia e os Emirados Árabes Unidos conseguem atrair mulheres para a área. Apenas não as conseguem reter. Menciona um relatório de 2012 da consultora McKinsey, que nota que 55% das jovens entre os 15 e os 18 anos descreve as áreas da engenharia como “apelativas”. Porém, na hora de escolher um curso, apenas 4% de alunas identificadas como “promissoras” nos EUA optam por áreas relacionadas com a tecnologia, face a 57% na Índia e 37% em Marrocos (os dados baseiam-se em inquéritos a 4500 jovens adultos e 2700 empregadores em nove países). Várias das entrevistadas de Frankland na Índia descrevem um país em que aprendem sobre computação e tecnologia de informação desde pequenas, com pais orgulhosos e que as motivam a estudar linguagens de programação. “É normal num país onde 40% do produto interno produto vem de serviços relacionados com a tecnologia”, notou a empresária. Porém, deixam a área cedo para serem mães. Horários pouco flexíveis e falta de apoio para educar as crianças dificultam o regresso à profissão. “Pensar que a indústria toda sofre de uma falta de profissionais está errado. O talento está lá. O mais correcto é que a área tem problemas operacionais – a recrutar e a reter”, frisou Frankland. Embora Frankland defenda que as mulheres não são “naturalmente adversas” à área, diz que é necessário considerar as diferenças entre os sexos. "Sim, a área do sexo e do género é muito complicada. Mas é importante falar sobre isto. Quando olhei para o assunto para o livro – e eu não sou especialista ou médica –, vi que há variações interessantes", explicou Frankland. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um exemplo são as quantidades de hormonas produzidas. Em norma, as mulheres produzem menos serotonina que os homens, uma hormona responsável por regular o humor. É razão pela qual alguns investigadores pensam que a depressão crónica e ansiedade é uma doença mais comum em mulheres. “Mas isto também se reflecte na forma como as mulheres estão mais atentas e encontram situações de risco e evitam conflitos”, argumentou Frankland. Depois, há o caso do estrogénio. “É o principal condutor hormonal para as mulheres, e promove a cooperação e a colaboração. Também apoia a parte do cérebro que envolve as relações sociais e observações”, disse Frankland, que acredita que equipas de cibersegurança compostas exclusivamente por homens deixam um vazio. “Atenção, isto não quer dizer que se devem excluir homens da equipa”, alertou. “Com os ciberataques a ficarem mais criativos, e os hackers a desenvolverem modelos mais organizados, é preciso desenvolver outras estratégias – e ter pessoas que vêem coisas de maneiras diferentes. As mulheres podem ter uma parte fundamental. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Em Wall Street, os homens já não querem estar ao lado de mulheres
Os efeitos do movimento MeToo estão a fazer com que os homens evitem viajar ao lado de mulheres. Ou, se estiverem em reuniões privadas, manterem a porta aberta. Em vez de assistir a uma correcção de comportamentos, as mulheres estão a ser excluídas e os homens afastam-se de uma queixa de assédio sexual para serem acusados de discriminação com base no género, explica um advogado especialista em questões laborais. (...)

Em Wall Street, os homens já não querem estar ao lado de mulheres
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os efeitos do movimento MeToo estão a fazer com que os homens evitem viajar ao lado de mulheres. Ou, se estiverem em reuniões privadas, manterem a porta aberta. Em vez de assistir a uma correcção de comportamentos, as mulheres estão a ser excluídas e os homens afastam-se de uma queixa de assédio sexual para serem acusados de discriminação com base no género, explica um advogado especialista em questões laborais.
TEXTO: A denúncia de casos de assédio e abuso sexual teve um preço em Wall Street: o afastamento das mulheres. A Bloomberg revela esta segunda-feira que, no centro financeiro de Nova Iorque, as mulheres estão a ser preteridas pelos executivos masculinos. Para evitar casos de assédio ou abuso, no lugar da correcção dos comportamentos está a promover-se a eliminação de situações onde aqueles podem acontecer. Como consequência, as mulheres estão a ser afastadas. Um ano depois da popularização do movimento MeToo, Wall Street arrisca-se a tornar-se, novamente, um clube “só para rapazes”. Mais de três dezenas de executivos seniores em Wall Street estão “assustados” com o movimento MeToo. “Está a criar uma sensação de andar sobre ovos", exemplificou David Bahnsen, ex-director administrativo do banco de investimento Morgan Stanley e actualmente consultor independente. Stephen Zweig, advogado especialista em questões laborais da FordHarrison, ressalva que existe o risco de as empresas não tomarem medidas para que estes abusos sejam denunciados. Ao mesmo tempo, as empresas não garantem que os responsáveis em cargos superiores estejam disponíveis para lidar com os problemas de abuso. “Se os homens evitam trabalhar ou viajar com mulheres sozinhos com medo de ser acusados de assédio sexual, esses homens afastam-se de uma queixa de assédio sexual para serem acusados de discriminação com base no género”, afirmou o advogado. À semelhança de Mike Pence — o vice-presidente norte-americano afirmou que evitava jantar sozinho com mulheres que não sejam a sua mulher —, os homens entrevistados pela Bloomberg contam que estão cada vez menos com colegas do sexo feminino, especialmente se forem “jovens ou atraentes” com receio dos rumores ou das potenciais “mentiras”, descreve um deles. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao serem excluídas de jantares de negócios ou de encontros casuais após o trabalho, as mulheres são excluídas dos laços de ligação entre colegas e afastadas das decisões. Deixar de reunir com mulheres ou manter a porta aberta em reuniões privadas são algumas das estratégias equacionadas pelos executivos. Lisa Kaufman, chefe executiva da LaSalle Securities, nota que para evoluir profissionalmente em Wall Street é necessário ter um mentor. “Não existem ainda mulheres suficientes para ajudar a próxima geração. A evolução requer tipicamente que alguém de um nível mais sénior conheça o teu trabalho e te dê uma oportunidade. Isso é difícil se a pessoa não estiver disposta a estar sozinha com o membro júnior”, afirma.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens mulher sexo medo género sexual mulheres abuso assédio discriminação
A misteriosa bolsa que apoiava mulheres artistas com mais de 40 anos já tem rosto
Durante 22 anos, ninguém sabia quem estava por trás do programa Anonymous Was a Woman. A artista Susan Unterberg deu agora a cara para poder continuar a discutir a filantropia, a desigualdade de género e o apoio entre mulheres. (...)

A misteriosa bolsa que apoiava mulheres artistas com mais de 40 anos já tem rosto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Durante 22 anos, ninguém sabia quem estava por trás do programa Anonymous Was a Woman. A artista Susan Unterberg deu agora a cara para poder continuar a discutir a filantropia, a desigualdade de género e o apoio entre mulheres.
TEXTO: Há 22 anos que um misterioso programa norte-americano atribui bolsas a mulheres artistas com mais de 40 anos. Durante mais de duas décadas, o programa Anonymous Was a Woman distribuiu 5, 5 milhões de dólares por 220 artistas do sexo feminino, ajudando-as a progredir. O nome por trás do programa era desconhecido até este fim-de-semana, quando a artista Susan Unterberg revelou ao New York Times a sua identidade de benfeitora. “É uma óptima altura para as mulheres falarem”, disse, e defenderem a importância da filantropia, do apoio entre mulheres e do estado da arte no que toca ao género. O nome do programa, Anonymous Was a Woman, é uma referência ao facto histórico de que muitas mulheres assinaram o seu trabalho criativo ao longo da história como “anónimo” para que ele fosse avaliado de forma justa — a igualdade de acesso à oportunidade e a determinadas actividades é uma constante ao longo dos séculos. É por seu turno uma referência à escritora Virginia Woolf, como explica o New York Times, e ao seu ensaio de 1929 Um Quarto Só Para Si, em que reflecte precisamente sobre o acesso à educação e o domínio masculino do mundo literário. Em 2018, e em 1996 quando Susan Unterberg e a sua irmã Jill Roberts decidiram usar a fortuna do pai, o filantropo e magnata do petróleo Nathan Appleman, para este fim, a realidade nas artes plásticas motivou-as a agir. As mulheres artistas “não têm exposições nos museus com tanta frequência quanto os homens, não geram os mesmos preços no mundo da arte. E isso não parece estar a mudar”, resume a artista-mecenas ao New York Times. Os números já bem conhecidos e novamente enfatizados no momento #MeToo são recuperados pelo diário – nas suas vastas colecções, os principais museus europeus e norte-americanos têm apenas 5% de obras de artistas femininas e entre 2007 e 2013, segundo dados do National Museum of Women in the Arts, só 27% das exposições de monta de cerca de 70 instituições se centraram em artistas do sexo feminino. Há semanas, foi notícia a aquisição de uma obra pela National Gallery de Londres. Não tanto por se tratar do auto-retrato a óleo de Artemisia Gentileschi, mas porque esta foi a primeira aquisição de uma obra de uma mulher em 27 anos pela conceituada instituição. As 220 mulheres que receberam bolsas da Anonymous Was a Woman candidatavam-se às mesmas explicando o ponto em que estavam na sua carreira. As condições eram a idade acima dos 40 anos e o facto de o seu trabalho não ter sido devidamente ou sustentavelmente reconhecido pelo sector. Inicialmente, nem era precisa uma candidatura e eram contempladas com o valor da bolsa com algum mistério, como noticiava o mesmo New York Times em 1998. A idade-critério, à época, era "mais de 30 anos", mas entretanto a fasquia subiu para os 40 anos. Se seleccionadas, recebem 25 mil dólares. Como relata o jornal norte-americano, muitas delas avançaram rumo a importantes exposições a solo em grandes instituições ou eventos como a Bienal de Veneza ou o Guggenheim. Uma delas, Amy Sherald, recebeu a bolsa e pouco depois foi convidada para pintar o agora famoso retrato oficial de Michelle Obama. Outras vencedoras foram Louise Lawler, Tania Bruguera, Carolee Schneemann e Mickalene Thomas. Da escultura à pintura, passando pela fotografia ou instalação, todas artistas contempladas candidataram-se em “encruzilhadas críticas” da sua carreira. O programa começou em 1996 quando outro, o National Endowment for the Arts, um fundo federal, extinguiu as suas bolsas individuais (o financiamento deste programa, entretanto, motivou preocupações da comunidade artística nos EUA aquando da eleição de Donald Trump). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Susan Unterberg manteve-se nas sombras porque, descreve-se, é uma pessoa recatada. Continuou o seu próprio trabalho como artista, foi reconhecida pela sua fotografia com aquisições para grandes museus americanos, mas quer agora, aos 77 anos e em pleno momento de debate e exposição sobre as questões da igualdade, participar com todo o seu currículo na discussão pública sobre o apoio às artes, o mecenato e os obstáculos ao trabalho das artistas. Na esteira do momento #MeToo e no febril período após as denúncias contra Harvey Weinstein no final de 2017, uma série de artistas e responsáveis por museus pronunciaram-se sobre o assédio sexual no meio, mas também sobre desigualdade generalizada e contra “aqueles em posições de poder que controlam o acesso aos recursos e oportunidades”. Em Portugal, e por ocasião de uma exposição das artistas activistas Guerrilla Girls em 2017, o PÚBLICO fez as contas à representatividade nas principais instituições artísticas e concluiu que da colecção de Serralves constam obras adquiridas de 814 artistas homens e 239 mulheres e que durante a direcção de Suzanne Cotter, entre 2013 e 2015 as aquisições de obras de mulheres aumentaram 40%. A colecção do Museu Berardo começou com 862 obras das quais 65 são de artistas mulheres e novas aquisições levaram a mais 230 obras de 56 artistas, dos quais 16 mulheres. Na Colecção Moderna da Gulbenkian há 268 mulheres artistas num total de 1253 artistas. Nestas e noutras instituições, o número de exposições de ou sobre artistas mulheres é minoritário.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA