As novas séries que vamos querer descobrir em 2019
2019 será o ano em que A Guerra dos Tronos, o maior fenómeno televisivo dos nossos dias, chega ao fim. Mas haverá muitas séries novas para descobrir. Mesmo que algumas nunca cheguem cá. (...)

As novas séries que vamos querer descobrir em 2019
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: 2019 será o ano em que A Guerra dos Tronos, o maior fenómeno televisivo dos nossos dias, chega ao fim. Mas haverá muitas séries novas para descobrir. Mesmo que algumas nunca cheguem cá.
TEXTO: O fim anunciado de A Guerra dos Tronos, a longamente esperada terceira temporada de True Detective, o novo serviço de streaming da Disney e a chegada da plataforma HBO Portugal serão alguns dos acontecimentos televisivos do ano que está quase a começar. Entre o que já sabemos que vai acontecer, há também várias novas séries que merecem alguma atenção. Muitas delas nem têm ainda datas concretas de estreia, mas aqui vão 21 apostas para o novo ano. Black MondayShowtime, 20 de JaneiroDepois de House of Lies, Don Cheadle volta a fazer televisão, desta vez para lançar um olhar sobre a Segunda-feira Negra, o crash da Bolsa de Wall Street a 19 Outubro de 1987. Com produção executiva de Seth Rogen e Evan Goldberg, que também realizam o episódio-piloto, esta série cheia de cocaína, dinheiro, pelo menos um Lamborg e o excesso dos anos 1980 mostra como se chegou até ao apocalipse bolsista. David Caspe, o responsável por Happy Endings, é o co-criador, e o elenco conta também com Regina Hall, que tem andado a ser nomeada para vários prémios pelo papel no filme Support the Girls, e a estrela da Broadway Andrew Rannells, que pertenceu ao elenco de Girls. I Am the NightTNT, JaneiroPatty Jenkins volta a juntar-se a Chris Pine, actor que dirigiu em Mulher Maravilha, para esta minissérie que entronca no famoso homicídio, nunca resolvido, da "Dália Negra". Escrita por Sam Sheridan e realizada por Jenkins, a história centra-se em Fauna Hodel, uma jovem que decide investigar quem é a sua verdadeira mãe após descobrir que é adoptada. Foge de casa, muda-se para Los Angeles e junta-se a um jornalista acabado que descobre que ela tem algo a ver com o caso. Os dois acabam por se cruzar com George Hodel, o sinistro médico de Los Angeles que muitos crêem ter sido o homicida. BoomerangBET, 12 de FevereiroNa comédia romântica homónima que Reginald Hudlin lançou em 1992 – em Portugal chamou-se O Príncipe das Mulheres, para capitalizar a fama de Um Príncipe em Nova Iorque –, Eddie Murphy era um publicitário chauvinista que crescia como ser humano porque se cruzava com uma mulher que se tratava as pessoas e os parceiros da mesma forma que ele tratava as suas conquistas. Esta sequela passa-se nos dias de hoje e é escrita por Lena Waithe, que ganhou um Emmy por ter escrito um magistral episódio de Master of None e fez parte do elenco de Ready Player One. Halle Berry, actriz do filme original, é uma das produtoras executivas. ShrillHulu, 15 de MarçoEm 2016, Lindy West, hoje colunista do The New York Times, escreveu um livro de memórias chamado Shrill: Notes from a Loud Woman. Passados três anos, chega a adaptação em forma de série cómica, co-criada pela própria e por Aidy Bryant, de Saturday Night Live, que é também a protagonista. Bryant faz o papel de uma jornalista que decide mudar de atitude e não deixar que o facto de o mundo a desconsiderar por ser gorda a afecte. No elenco, nomes que vão do realizador John Cameron Mitchell à cómica Patti Harrison, passando por Julia Sweeney, que pertenceu ao elenco de Saturday Night Live décadas antes de Bryant. Catherine the GreatHBO/SkyA britânica (Dame) Helen Mirren, que nos últimos só tem aparecido na televisão a fazer dela própria na série cómica de falsos documentários Documentary Now!, transforma-se em Catarina, a Grande (ou Catarina II da Rússia), a imperatriz que governou de 1762 a 1796, nesta co-produção entre a norte-americana HBO e a britânica Sky. A minissérie de quatro episódios, a cargo do romancista e dramaturgo britânico Nigel Williams, centra-se na corte de Catarina no século XVIII, na fase final do seu reinado, quando se envolveu romanticamente com Grigory Potemkin, que será interpretado por Jason Clarke. Catch-22Hulu/Channel 4/SkyPara ser dispensado do serviço militar na Segunda Guerra Mundial, Yossarian tem de ser considerado louco. Mas se pedir para o considerarem louco está a demonstrar uma racionalidade que prova que não o é. Era esta a questão central do romance satírico anti-guerra que Joseph Heller publicou em 1961, uma narrativa não-linear que não se dá bem a adaptações – em 1974, Mike Nichols fez um filme falhado, com alguns elementos interessantes. Agora será uma série com Christopher Abbott no papel principal. Esta co-produção que junta Hulu, Channel 4 e a Sky Italia marcará também o regresso de George Clooney, agora de bigode, à televisão. Luke Davies e David Michôd escrevem. DevsFXApós a morte do namorado, uma jovem engenheira informática convence-se de que uma misteriosa divisão secreta da empresa de tecnologia para a qual trabalha em São Francisco poderá tê-lo mandado matar. É uma criação de Alex Garland, o britânico que se fez notar nos anos 1990 como romancista (é o autor de A Praia), depois como argumentista de filmes como 28 Dias Depois, e posteriormente como realizador, tendo Ex-Machina e Annihilation no currículo. A protagonista é Sonoya Mizuno, que pôde ser vista este ano na série do Netflix Maniac e tem aparecido nos filmes de Garland. The Righteous GemstonesHBODanny McBride e Jody Hill, a equipa que deu ao mundo séries cómicas como Eastbound & Down e Vice Principals e que, desde o subvalorizado filme The Foot Fist Way, se dedica a fazer rir com os exemplos mais estúpidos de masculinidade que pode haver, aponta agora o foco para uma famosa e pouco dada à moralidade família de tele-evangelistas. Além do próprio McBride, o elenco inclui também John Goodman, que é sempre uma presença bem-vinda em qualquer ecrã, seja ele pequeno ou grande. The Central Park FiveNetflixEm 1989, uma mulher foi atacada e violada em pleno Central Park. No ano seguinte, cinco jovens, quatro afro-americanos e outro de origem hispânica, foram condenados pelo crime, tendo sido forçados a confessar. Passaram vários anos na prisão até que, em 2002, o verdadeiro responsável confessou a autoria do crime e um teste de ADN provou a inocência do grupo. Saíram em liberdade e em 2014 a cidade de Nova Iorque indemnizou-os. Donald Trump, tanto nos anos 1980, quando pagou para ter uma página do jornal New York Daily News a pedir a pena de morte para os cinco, quanto nos anos 2010, depois da indemnização, e até em campanha eleitoral, continuou a dizer que eram culpados. Ava DuVernay, a realizadora de Selma e responsável por séries como Queen Sugar, criou, escreve e realiza esta minissérie do Netflix sobre o caso. Twilight ZoneCBS All AccessQue Charlie Brooker, o criador de Black Mirror, nos perdoe, mas se há alguém qualificado para tomar o lugar de Rod Serling na produção executiva e na apresentação de uma nova A Quinta Dimensão é Jordan Peele, o actor cómico e realizador de Foge. É isso que acontecerá este ano. Nomes como Greg Kinnear, Steven Yeun, Allison Tolman, John Cho, Kumail Nanjiani, Sanaa Latham ou Adam Scott estarão envolvidos e pelo menos um dos episódios será baseado no clássico Nightmare at 20, 000 Feet, da série original, em que William Shatner via um monstro na asa do avião. Pouco mais se sabe. Nem há-de ser a única televisão de Peele, que vai lançar o seu segundo filme, Us, em 2019: ao lado de J. J. Abrams, é produtor executivo de Lovecraft Country, série da HBO que adapta o romance homónimo de Matt Ruff. Good OmensAmazon Prime VideoCom Michael Sheen e David Tennant no papel do anjo Aziraphale e do demónio Crowley, respectivamente, o próprio Neil Gaiman adaptou a minissérie de televisão o romance que escreveu a quatro mãos com o defunto Terry Pratchett em 1990, e em que os dois protagonistas tentam impedir que o filho de Satanás traga com ele o fim do mundo. Não vai ser o único projecto de Gaiman em televisão este ano: o autor britânico também passou a estar mais envolvido em American Gods, a adaptação do seu romance do ano 2000, que chegará em 2019 à atribulada segunda temporada. What We Do in The ShadowsFXO Que Fazemos nas Sombras (2014), o mockumentary de e com Taika Waititi e Jemaine Clement sobre velhos vampiros a morarem juntos nos dias de hoje em Wellington, Nova Zelândia, é um dos mais hilariantes filmes cómicos da última década. O filme já tinha dado origem a Wellington Paranormal, um spin-off televisivo neo-zelandês estreado no último Verão, mas agora vai fazer nascer uma nova série, com o mesmo nome original do mockumentary. Desta feita, é passada em Nova Iorque. No elenco, vários cómicos britânicos: Kayvan Novak, de Quatro Leões, Matt Berry, de Garth Marenghi's Darkplace, The Mighty Boosh e Toast of London, e Natasia Demetriou. WatchmenHBOO clássico da banda desenhada escrito por Alan Moore e desenhado por Dave Gibbons entre 1986 e 1987, que aparece com frequência em listas dos melhores romances do século XX, já tinha dado um filme de Zack Snyder em 2009. Os resultados não foram os melhores: é essencialmente impossível fazer uma adaptação directa desta história de um mundo em que os super-heróis são tratados como criminosos. É por isso que Damon Lindelof, um dos homens por detrás de Lost e The Leftovers, decidiu contar uma nova história – o próprio fala em "remistura" dos volumes originais da BD –, nesta série com nomes como Regina King, Jeremy Irons, Don Johnson, Tim Blake Nelson ou Louis Gossett Jr. Dave Makes ManOWNNo Sul da Florida, um jovem de 14 anos vive num bairro social e, enquanto lida com a morte do seu melhor amigo e tem de tratar da mãe que trabalha demasiado, tenta decidir se continua os estudos para sair da situação em que vive ou se se mantém onde está. Inspirado na vida do próprio criador, o dramaturgo Tarrell Alvin McCraney, vencedor de um Óscar pelo guião de Moonlight – que, tal como a série, também se passa na Florida –, conta com produção executiva de Michael B. Jordan e Oprah Winfrey. Fosse/VerdonFXA partir da biografia Fosse, de Sam Wasson, esta minissérie de oito episódios junta Sam Rockwell e Michelle Williams nos papéis, respectivamente, do bailarino, realizador e coreógrafo Bob Fosse e da bailarina e actriz Gwen Verdon. A produção executiva desta visão sobre o prolífico e atribulado casal que ajudou a dar ao mundo Chicago está nas mãos de pessoas com carreira feita nos mesmos palcos da Broadway em que Fosse e Verdon se apaixonaram: Lin-Manuel Miranda e Thomas Kail, as duas mentes responsáveis por Hamilton. Miranda fará também a música. The MandalorianDisney+Esta é uma das produções originais de Star Wars anunciadas para o vindouro serviço de streaming Disney+. Da responsabilidade de Jon Favreau, o realizador de Elf – O Falso Duende e Homem de Ferro, contará a história de um solitário mandalorian, o povo caçador de prémios a que Boba Fett pertence, e que anda à volta da galáxia. Estão anunciados, como realizadores de episódios, nomes como Taika Waititi ou Bryce Dallas Howard. Do elenco constam caras que vão de Pedro Pascal, de Narcos, no papel principal, à ex-lutadora de artes marciais mistas Gina Carano, mas também Nick Nolte e Giancarlo Esposito, o Gus Fring de Breaking Bad, passando por Carl Weathers, o Apollo Creed de Rocky, e Werner Herzog. Sim, esse mesmo, o realizador alemão. Mrs. FletcherHBODepois de Eleições, Pecados Íntimos e The Leftovers, mais um romance de Tom Perrotta é adaptado ao cinema ou à televisão. Desta feita, calhou Mrs. Fletcher, de 2017, com Kathryn Hahn no papel principal, o de uma quarentona divorciada cujo filho sai de casa para ir para a universidade. Um dia, recebe uma SMS anónima a chamar-lhe MILF e começa a ficar obcecada com isso. O episódio-piloto, escrito pelo próprio Perrrotta, tem Nicole Holofcener, a realizadora indie dos anos 1990 e 2000, atrás das câmaras. The Loudest Voice in the RoomShowtimeEm 2014, Gabriel Sherman escreveu The Loudest Voice in the Room: How the Brilliant, Bombastic Roger Ailes Built Fox News – and Divided a Country, biografia de um dos fundadores e presidente daquele império televisivo. Passados dois anos, em 2016, Ailes demitiu-se da estação de televisão na sequência de acusações de assédio sexual. Acabaria por morrer em 2017. Tom McCarthy, o também actor que realizou filmes como A Estação e O Caso Spotlight, pegou no livro para esta série sobre a ascensão e queda de Ailes, com Russell Crowe no papel principal, à frente de um elenco que inclui também Naomi Watts. Mrs. AmericaFXPela primeira vez, Cate Blanchett chega à televisão norte-americana. A oscarizada actriz australiana faz de Phyllis Schlafly (1924-2016), a advogada e activista conservadora que nos anos 1970 lutou contra os direitos das mulheres e o feminismo da segunda vaga. Dahvi Waller, que escreveu para Mad Men e Halt and Catch Fire, é a argumentista responsável por esta história baseada em factos verídicos. Top of the MorningAppleÉ possível que esta série, que junta Jennifer Aniston e Resse Witherspoon, também produtora executiva, mude de nome – Top of the Morning é só o título de um livro de Brian Stelter, que é consultor da série. Ainda nem sequer se sabe como ou qual será a plataforma da Apple que lançará a sua programação original, quanto mais esse tipo de detalhes. . . Sabe-se, porém, que a série lida com pessoas que trabalham em programas da manhã e que o elenco inclui também Steve Carell, Billy Crudup e Gugu Mbatha-Raw. Kerry Ehrin, co-criadora de Bates Motel, escreve, e Mimi Leder, cujo Uma Luta Desigual se estreia a 10 de Janeiro nas salas portuguesas, realiza. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. First Wives ClubBETTracy Oliver, co-argumentista de Girls Trip, o filme de 2017 que fez de Tiffany Haddish uma estrela, criou, a partir do filme homónimo de 1996 com Goldie Hawn, Bette Midler e Diane Keaton – por cá chamou-se O Clube das Divorciadas –, esta série sobre três melhores amigas na casa dos 40 que se voltam a juntar após o marido de uma delas a trair, num caso que se torna mediático. Desta feita, o elenco reúne a cantora de r&b/neo-soul Jill Scott, a cómica de stand-up Michelle Buteau e a actriz de This is Us Ryan Michelle Bathé.
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V. S. Naipaul, o escritor e a máscara
O Nobel da Literatura em 2001 criou uma persona com a dimensão da literatura que produziu. V. S. Naipaul morreu aos 85 anos com uma obra que indaga acerca da identidade e carrega a marca do trauma. (...)

V. S. Naipaul, o escritor e a máscara
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Nobel da Literatura em 2001 criou uma persona com a dimensão da literatura que produziu. V. S. Naipaul morreu aos 85 anos com uma obra que indaga acerca da identidade e carrega a marca do trauma.
TEXTO: "Eu sou a soma dos meus livros", afirmou V. S. Naipaul perante a Academia Sueca no dia em que recebeu o Nobel da Literatura. Estava-se em 2001 e os anos que se seguiram vieram confirmar isso mesmo, que ele era uma espécie de imperador num império de um homem só, como o definiu o crítico James Wood. Um império povoado pelas personagens e o seu criador, ficcional, mas cheio de autobiografia, de alguém a sentir-se estrangeiro em qualquer parte, sem casa, arrogante com as suas origens, um provocador nas inúmeras declarações cáusticas acerca de política, sociedade e religião; um misógino, conservador na vida e inconformado experimentador da novidade na escrita. Nada de fórmulas repetidas, podia ser uma máxima obsessivamente repetida a si mesmo enquanto autor, sempre a ecoar, e que ele transmitia a quem o quisesse ouvir. Foi um homem controverso que fez da literatura o seu território pessoal de extrema elegância, indagação acerca da identidade e busca de verdade. Sir Vidiadhar Surajprasad Naipaul, Vidia para os mais próximos, morreu neste dia 11 de Agosto, a menos de uma semana de completar 86 anos. Sempre houve poucos consensos à volta do nome de V. S. Naipaul. A qualidade da literatura que produziu raramente foi contestada, no entanto ele é um dos exemplos em que a biografia interferiu no modo como a sua obra foi – e é – lida. Toda a ira provocada pelas declarações e alguns actos de Naipaul só se justificava porque os seus livros causavam igual admiração. O escritor Salman Rushdie resumiu essa ambivalência de carácter na sua reacção à morte de Naipaul. “Discordámos durante toda a nossa vida, sobre política, sobre literatura, e sinto-me tão triste como se tivesse acabado de perder um querido irmão mais velho. RIP Vidia. ”Jornalista, escritor de viagens, romancista, V. S. Naipaul nasceu na ilha de Trindade a 17 de Agosto de 1932 e parte da sua obra foi construída, como a sua própria identidade, nos estilhaços e sobre o legado do colonialismo. Ao atribuir-lhe o Nobel, a Academia alertou para a sua suprema capacidade em unir narrativa perspicaz e escrutínio incorruptível ao contar histórias quase sempre suprimidas. Em parte, é essa a universalidade da sua literatura. A realidade é mais negra: a inesgotável capacidade de provocar irritação e desconcerto. Em 1983, o famoso jornalista inglês Bernard Levin perguntou-lhe se ele tinha nascido em Trindade. Ele respondeu que sim, mas que achava o facto um erro terrível. O episódio consta de The World is What it Is, a biografia autorizada de Naipaul escrita há dez anos por Patrick Fench – e que mais tarde Naipaul também viria a contestar –, um livro que põe, par a par, o escritor genial e um homem muito próximo de ser um monstro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “O afastamento de Naipaul da sua terra natal tornou-se parte da sua persona, uma persona que ele inventou de modo a concretizar a sua ambição precoce de escapar da periferia e ir para o centro, de deixar os sem poder pelos poderosos, e de se tornar um grande escritor”, escreve French na introdução ao livro que parece confirmar a construção de uma personagem capaz de cumprir a ambição de um rapaz cheio de traumas. Ele vinha de um meio pobre, de gente subjugada, e não queria menos do que ser o maior escritor do mundo. Uma vontade que despertou tinha ele dez anos e levou consigo para Inglaterra, aos 18, depois de ganhar uma bolsa de estudo em Oxford. As palavras seguintes de French ajudam a contextualizar o pensamento do autor de obras como Uma Casa Para Mr. Biswas, A Curva do Rio ou O Enigma da Chegada. “Muitas vezes pensei nele como alguém a correr praia acima com a maré a avançar atrás e a tentar ficar um simples passo à frente da água. De forma a tornar-se naquilo que ele queria, teve de se tornar outra pessoa. Não poderia permanecer regional. A sua ambição estava ligada ao medo, como estão muitas vezes num escritor ou num artista criativo: medo de falhar, medo de não conseguir escrever, medo de desaparecer, medo do colapso mental e físico, medo que estejam a tentar derrubá-lo, medo de perder a face, medo de der descoberto. ” No fim, escreveu o seu biógrafo, pouco mais havia de verdade a não ser uma máscara de si próprio. Foram 50 anos a viver assim, profissionalmente, desde a publicação em 1957 de The Mistic Masseur. Seguiram-se trinta títulos entre ficção e não-ficção, muitos prémios, entre eles o Booker, em 1971, com In a Free State, e o último livro, em 2010, Uma Máscara de África. O princípio com uma escrita cómica sobre a vida caribenha, pouco depois as crónicas de viagem, romances com paisagens mais alargadas. A Índia, Antilhas, África, Inglaterra. Com isso criou a sua própria paisagem, artística, polémica e política, marcada por episódios como o desprezo pela primeira mulher, a relação sadomasoquista que manteve com a amante de vinte anos, que terá espancado até as mãos lhe doerem – vem na biografia; a confissão a French de que foi “um grande prostituto” no casamento com Patricia Hale; a comparação, pelo seu “efeito calamitoso”, entre o Islão em 2001 e o colonialismo; a afirmação de que era capaz de reconhecer se um romance era escrito por uma mulher após apenas 20 páginas de leitura; a zanga de mais de 15 anos com o escritor Paul Theroux. Naipaul vendeu por 1500 dólares um exemplar que o então amigo lhe tinha dedicado. Theroux descobriu e acusou-o publicamente de ser “racista, egoísta e mercenário”. O mal-estar terminou em 2011 com a mediação do amigo de ambos, o também escritor Ian McEwan. São polémicas muito dissecadas e com a perniciosa capacidade de nublar a leitura de uma obra que percorre todos hemisférios, de uma dimensão incomodamente humana e fazedora de imagens. A primeira, que ele recorda como sua, vem na biografia de French. É o uniforme cor de malva da enfermeira negra que o tratou de uma pneumonia no hospital de Port of Spain, capital de Trindade. Naipaul tinha dois anos e porventura é uma recordação ficcionada.
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As confissões de Michelle Obama
O livro autobiográfico da antiga primeira-dama dos Estados Unidos é o livro de capa dura mais vendido nos EUA e Canadá, dois milhões de exemplares desde que foi posto à venda, em Novembro. Tem revelações, mas não expõe a intimidade. E traz uma poderosa declaração de amor: “Os sentimentos invadiram-me rapidamente, uma rajada impetuosa de desejo” (...)

As confissões de Michelle Obama
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O livro autobiográfico da antiga primeira-dama dos Estados Unidos é o livro de capa dura mais vendido nos EUA e Canadá, dois milhões de exemplares desde que foi posto à venda, em Novembro. Tem revelações, mas não expõe a intimidade. E traz uma poderosa declaração de amor: “Os sentimentos invadiram-me rapidamente, uma rajada impetuosa de desejo”
TEXTO: A publicação de Becoming — A Minha História, de Michelle Obama, tornou claro que a antiga primeira-dama dos Estados Unidos ocupa um espaço que ultrapassa o da política. Como mostrou a sua tournée de promoção do livro, ela parece existir no espaço entre dois ícones a quem chama amigas, Oprah Winfrey e Beyoncé Knowles. A sua abordagem fica um pouco aquém do estilo totalmente confessional de Winfrey, mas vai mais além da protecção extrema da intimidade de Knowles. O livro de Michelle Obama, recentemente editado em Portugal pela Objectiva, segue uma postura semelhante. Tem a sua dose de revelações — incluindo o ombro nu na fotografia da capa —, mas Obama ainda preza a sua privacidade — mesmo quando dá a sua opinião franca sobre Donald Trump e revela a sua luta contra a infertilidade. “Penso que ninguém está verdadeiramente preparado para ler um livro de memórias como este, sobretudo vindo de uma antiga primeira-dama”, disse Shonda Rhimes, a produtora de televisão /Anatomia de Grey) que leu o livro antes de ser lançado. Livros de memórias de primeiras-damas são rituais de passagem, mas o de Obama é diferente, em virtude da sua identidade. A Minha História funde habilmente o seu estatuto histórico como primeira mulher negra primeira-dama com a narrativa americana. Ela escreve sobre os aspectos mais comuns da sua história e sobre a sua singular viagem — e de ser a única inquilina da Casa Branca que teve um antepassado escravo. Michelle Obama mostra a sua complicada relação com o mundo político que a tornou famosa, mas o seu livro não é sobre os bastidores de Washington nem um ajuste de contas político — ainda que mergulhe no tema a fundo, destilando desdém por Donald Trump, que, na sua opinião, pôs a segurança da sua família em causa quando deu gás à conspiração racista contra o marido baseada na falsa informação de que este não nascera nos EUA. “Todo o caso foi uma maluqueira mal-intencionada, claro, sustentada por uma xenofobia e um racismo mal disfarçados”, escreveu. “E se alguém perturbado carregasse uma arma e fosse para Washington? E se essa pessoa fosse atrás das nossas filhas? Donald Trump, com as suas insinuações ruidosas e imprudentes, pôs a minha família em risco. E isso nunca lhe perdoarei. ”É a linguagem mais directa e pessoal que já usou contra o Presidente Trump, que reagiu violentamente, agitando o dedo no ar enquanto disse que o livro encoraja a polémica. “Se é assim, eu devolvo: eu nunca lhe perdoarei [a Barack Obama] o que fez aos Estados Unidos. Eu nunca perdoarei o que ele fez em muitos aspectos, sobre os quais falarei no futuro. ”Mesmo os que seguiam de perto a vida de Michelle Obama na década e meia em que o marido foi um desconhecido político do Illinois têm uma nova luz sobre a forma como ela vê o mundo e sobre as pessoas e experiências que a moldaram. As memórias estão divididas em três partes. A primeira secção, que se chama “Eu”, é um olhar sociológico profundo sobre Chicago e as pessoas e instituições da cidade. As partes sobre gentrificação, educação pública, raça e classes lembram que Obama se formou em Sociologia e estudou Estudos Afro-Americanos na Universidade de Princeton. A segunda parte, “Nós”, é um olhar sobre o seu romance com Barack Obama, a construção da família e a sua procura por um trabalho de que gostasse mesmo. Começa com palavras que uma primeira-dama nunca escreveu sobre um homem: “Assim que me permiti sentir alguma coisa por Barack, os sentimentos invadiram-me rapidamente, uma rajada impetuosa de desejo, gratidão, plenitude, espanto. ”A terceira parte, “Mais”, percorre a sua vida como figura pública. Contém a sua visão do que é o seu legado e do que alcançou enquanto primeira-dama, assim como o que sentiu ao viver debaixo de intenso escrutínio. Escreve que, ao fazer campanha para a reeleição do marido, em 2012, se sentiu atormentada pela forma como a criticavam e pelas pessoas que tinham uma opinião sobre ela por causa da cor da sua pele. Pensou então no que devia e a quem: “Transportava uma história comigo, e não era sobre presidentes e primeiras-damas. Nunca me identifiquei com a história de John Quincy Adams da mesma forma que me identifiquei com a de Sojourner Truth. ” [Adams quis abolir a escravatura em meados do século XIX, Truth foi uma conhecida abolicionista contemporânea. ]No prefácio, Michelle Obama promete dar a conhecer todos os contornos da sua vida — desde o congestionado apartamento na zona sul de Chicago, onde cresceu, até à casa com mais escadas do que aquelas que poderia contar. De ser considerada “a mais poderosa do mundo” a ser “classificada como uma ‘negra furiosa’”. Michele Obama regressa à discussão do que considera ser a “ratoeira” da “negra furiosa”: “Eu era mulher, negra e forte, e isso, para certas pessoas. . . traduz-se em ‘furiosa’. Era outro cliché preconceituoso, um que sempre foi usado para encostar as mulheres das minorias nos cantos das salas. . . E isso fazia-me sentir, de facto, um bocado furiosa, e depois passei a sentir-me pior, como se estivesse a cumprir uma profecia feita pelos que me odiavam. ”É quando escreve sobre os seus 30 anos que Michelle Obama é mais reveladora; a forma como continuou a chorar a morte do seu querido amigo e pai; a forma como lidou com o dilema de todas as mulheres que trabalham e são mães — “Será que posso ter as duas coisas?”Pela primeira vez, partilha também pormenores íntimos, por exemplo que ela e o marido tiveram dificuldade em engravidar, que teve um aborto espontâneo, e que as duas filhas nasceram por fertilização in vitro. Passou por grande parte destes momentos quando o marido fazia parte da legislatura estadual, deixando-lhe a ela a gestão do processo de fertilização, que envolve injecções. Inevitavelmente, este livro de memórias será comparado com outros escritos por outras primeiras-damas. Porém, este é um livro à parte, tendo semelhanças com o de Laura Bush, Spoken from the Heart. As duas mulheres vão bem fundo nas suas vidas antes da presidência. “Fiquei muito surpreendida, agradavelmente surpreendida, pela franqueza e pelo nível de abertura”, disse Rhimes, que leu as memórias de outras primeiras-damas e criou uma ficcional na sua série Scandal. “Gosto da honestidade, do sentido de humor e da forma maravilhosa como se refere ao seu romance e ao casamento e às atribulações do matrimónio e da maternidade, e a tudo aquilo com que nós mulheres nos relacionamos. ”Michelle Obama descreve, por exemplo, a felicidade que é a hora do almoço, familiar a todas as mulheres que trabalham e que têm filhos pequenos. Algumas vezes, saiu da secretária, comprou fast-food enquanto corria de um lado para o outro e sentou-se sozinha no carro a ouvir a rádio, “aliviada por ter feito tudo e impressionada pela sua eficiência”. Os anos na Casa Branca são o período em que houve menos tempo para reflectir. Há momentos que passam a correr e outros em que Michelle Obama recita a sua abordagem metódica à programação das actividades de primeira-dama, detalhando intencionalmente a parte para crianças do seu programa “Vamos mexer-nos”, para evitar ser acusada de estar a exagerar. Diz que a separação entre o gabinete da primeira-dama e a West Wing (o centro do Governo) era sólida — conta que só uma vez o marido lhe telefonou da Sala Oval. Foi depois do tiroteio em Newtown. Lamentaram ambos o que aconteceu. Ela relaciona a violência com armas de fogo em Newtown com os tiroteios urbanos na sua cidade e expressa a sua incredulidade por o Congresso não aprovar legislação sobre o controlo de armas. Não há qualquer indicador de que Michelle Obama tenha tentado influenciar os planos e políticas do marido, que tenha alterado decisões ou que tenha tido o papel de conselheira informal. Em vez disso, o tempo dedicado à família tornou-se sagrado, com os assuntos sobre a escola das filhas a suplantarem os problemas do mundo. Depois dos jantares em família, ele ocupava-se com os seus relatórios, ela com os dela. O exemplo mais grave que Michelle Obama dá de um confronto com a West Wing tem que ver com percepções. Pouco depois de ter chegado à Casa Branca, Michelle planeou dar uma festa de Halloween para o público e para as famílias de militares, apesar das objecções dos principais assessores da West Wing — em especial David Axelrod e Robert Gibbs —, que receavam que parecesse demasiado ostensivo num período de declínio económico. “Da minha parte, o objectivo era correcto”, escreve sobre essa primeira festa. Ao longo do livro, Michelle Obama deixa claro que se manteve cautelosa em relação à imprensa política e à atenção pública e que se sentiu, por vezes, intimidada, estereotipada e sem ajuda suficiente — em particular durante a campanha do seu marido em 2008. “Se aprendi alguma coisa com a violência da campanha, das várias formas que as pessoas procuraram retratar-me como furiosa ou antipática, é que o julgamento público acaba sempre por preencher os espaços em branco. Eu sabia que nunca permitiria que me batessem outra vez. ”Muito antes de outros na Casa Branca, ela e a sua equipa usaram a cultura pop, o Twitter, o Facebook e o Instagram para anunciar as suas iniciativas, moldar a sua marca pública e a sua própria história. Foi ela quem impulsionou a sua própria popularidade. O cuidado de Michelle Obama estende-se a partes das suas memórias. Há uma parte dela que se retrai. Tem um círculo sagrado de amigas que a manteve com os pés no chão na Casa Branca, mas só as refere de passagem. Fala sobre a influência central da sua mãe, e de como a educação das suas filhas a mudou. No entanto, é cuidadosa ao ponto de manter em privado os pormenores da sua vida em Washington. O seu livro vai provocar uma discussão numa altura em que o Partido Democrata procura uma figura para as eleições presidenciais de 2020. Michelle Obama tenta pôr fim aos apelos para que se candidate à Casa Branca: “Nunca gostei muito de política, e a minha experiência nos últimos dez anos pouco fez para mudar isso. A maldade continua a manter-me desligada. ”Em relação a Trump, fala de como se sentiu furiosa quando ouviu a gravação em que ele se gaba de apalpar mulheres. “É uma expressão de ódio que parecia não ter lugar numa companhia educada, mas que ainda vivia na medula da nossa sociedade supostamente iluminada — viva e suficientemente aceite para que alguém como Donald Trump se desse ao luxo de não ter cerimónias. ” Ela tentou travar a sua eleição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Michele Norris, amiga de Michelle Obama e antiga apresentadora da NPR, disse que o livro é sobre muito mais do que política: contém “lições para a vida real”. “Ela fala com honestidade sobre a dificuldade de se fazer uma mudança. É honesta em relação à forma de se lidar com as pessoas que duvidaram dela e que a subestimaram”, disse Norris. “É honesta sobre o trabalho que é necessário ter em todo o tipo de relacionamentos. ”Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
O homem que quer ser marciano
Elon Musk podia ter-se dedicado a uma pacata vida de milionário tecnológico. Em vez disso, quer resolver alguns problemas da humanidade e, um dia, levá-la a habitar outro planeta. (...)

O homem que quer ser marciano
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Elon Musk podia ter-se dedicado a uma pacata vida de milionário tecnológico. Em vez disso, quer resolver alguns problemas da humanidade e, um dia, levá-la a habitar outro planeta.
TEXTO: Elon Musk tinha 30 anos e já era um multimilionário da tecnologia quando pegou numa mala cheia de dinheiro e aterrou em Moscovo com o objectivo de comprar um míssil balístico intercontinental. Queria usá-lo para construir um foguetão. Estávamos em Fevereiro de 2002 e com ele iam um amigo dos tempos da faculdade, um investidor e o engenheiro aeroespacial Michael Griffin, que três anos mais tarde viria a tornar-se director da NASA. O grupo tinha um encontro marcado com responsáveis da Kosmotras, uma empresa de aeronáutica. Na reunião, Musk perguntou quanto custava um míssil. Oito milhões de dólares cada um, responderam os russos. Musk tentou regatear. Nada feito. Além disso, os russos deram a entender que achavam que o americano não tinha dinheiro para o negócio. O jovem empresário acabou por sair de rompante da reunião. A história, contada pelo biógrafo oficial de Musk, Ashlee Vance, é um dos muitos episódios conturbados da vida do empresário, que é há muito um nome conhecido nos círculos da tecnologia, mas que só nos últimos anos começou a ter um reconhecimento global. Deve a fama sobretudo a projectos futuristas como os carros Tesla – inteiramente eléctricos e com capacidade de condução autónoma – e os foguetões reutilizáveis da SpaceX. Mas parte da popularidade deve-se também à excentricidade (recentemente, financiou uma das suas empresas vendendo uma espécie de lança-chamas na Internet) e ainda aos avisos catastrofistas que tem feito sobre o futuro da inteligência artificial – uma tecnologia que, argumenta insistentemente, pode vir destruir a humanidade. Elon Reeve Musk nasceu em Pretória, a 28 de Junho de 1971. Acredita que herdou do lado da mãe o gosto pelo risco. Os avós maternos tinham emigrado do Canadá para a África do Sul e faziam com frequência longas e arriscadas viagens num pequeno avião. Também levavam os cinco filhos em expedições de carro pela savana africana. A mãe era uma dietista que foi finalista do concurso Miss África do Sul e que se casou com um engenheiro. Depois do divórcio, Musk (e o irmão um ano mais novo, Kimbal) foi viver com o pai, de quem recebeu uma educação muito dura, mas que lhe ensinou noções de engenharia. A infância e adolescência foram difíceis. Musk era uma criança introvertida. Foi vítima de bullying na escola e uma vez foi espancado por colegas até ter ficado inconsciente. Pouco antes de fazer 18 anos, decidiu ir para o Canadá, onde tinha alguns familiares. A mãe e os dois irmãos (para além de Kimbal, a irmã mais nova, Tosca) acabaram por rapidamente juntar-se a Elon Musk. Em 1989, foi estudar para a Universidade de Queen’s, em Ontário. Foi aí que conheceu Justine Wilson, uma aspirante a escritora que viria a ser a sua primeira mulher. Em 1992, seguiu com uma bolsa de estudo para a Universidade da Pensilvânia, uma das universidades americanas de elite, onde decidiu estudar economia e física. Em meados daquela década, surgiam as primeiras grandes empresas de Internet, como o Yahoo, o eBay e a Amazon. Em 1995, Elon e o irmão decidem criar uma empresa a que chamaram Zip2. A ideia era ser uma espécie de Páginas Amarelas para empresas, que podiam assim ter uma presença na Web, mas acabou por transformar-se num prestador de serviços para os jornais criarem guias online de cidades. No início de 1999, a fabricante de computadores Compaq ofereceu 307 milhões de dólares para ficar com a Zip2 e melhorar assim o seu motor de busca, o Altavista. A oferta foi aceite. Kimbal ficava com 15 milhões de dólares. Elon, que tinha uma fatia maior da empresa, receberia 22 milhões de dólares. Tinha 27 anos. Ambicioso, não ficou quieto. Depois da venda da Zip2, Musk criou a X. com, uma empresa de serviços financeiros online. Acabou por fundir-se rapidamente com uma rival, que tinha um produto para transferência de dinheiro chamado PayPal. Em 2002 o PayPal foi comprado pelo eBay por 1500 milhões de dólares. O negócio rendeu 170 milhões de dólares a Musk. Podia dedicar-se a uma pacata vida de multimilionário, mas usou boa parte daquele dinheiro para lançar uma empresa de exploração espacial com uma meta ambiciosa: a SpaceX pretende transportar pessoas até Marte e dar início à colonização daquele planeta. Por alguma razão, porém, achou que uma empresa aeroespacial não era o suficiente e interessou-se por uma outra empresa recente chamada Tesla, que queria fabricar carros eléctricos. A Tesla foi fundada em 2003 por dois engenheiros americanos. Musk, que foi um dos primeiros investidores, é oficialmente considerado também um fundador. Dispersar-se por duas empresas exigentes fez danos na fortuna de Musk e ter-se divorciado, em 2008, também não ajudou. Para os padrões dos milionários da tecnologia, Musk tinha problemas de liquidez, embora os seus múltiplos investimentos valessem, teoricamente, fortunas. Teve de ajustar o estilo de vida, o que significou, entre outras coisas, deixar de usar o jacto privado. Em 2010, voltou a casar-se, com a actriz britânica Talulah Riley, 14 anos mais nova. O casal foi morar para a casa emprestada de um amigo rico de Musk (o par já se casou duas vezes e divorciou-se outras tantas). Naqueles tempos, o empresário desdobrava-se em contactos e manobras para salvar as suas duas empresas da falência. Acabou por ser bem-sucedido, embora ainda esteja por provar que as empresas são um bom negócio. A Tesla (que, ao contrário da SpaceX, é cotada em bolsa e divulga resultados financeiros) teve 675 milhões de dólares de prejuízos em 2016. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Basta seguir Musk nas redes sociais para perceber que fervilha de ideias e que, com frequência, tenta passá-las à prática. Tem uma empresa chamada The Boring Company com que pretende resolver o problema do trânsito com recurso a túneis baratos de construir. Também projectou um novo meio de transporte futurista, chamado hyperloop, que consiste em comboios subterrâneos de alta velocidade. Disponibilizou livremente o conceito para quem o quisesse usar. E tem uma empresa chamada Neuralink que pretende fazer implantes para ligar directamente o cérebro a computadores (a mais curto prazo, os desenvolvimentos da Neuralink podem ajudar no combate a algumas doenças). Apesar de todo o entusiasmo com a tecnologia, Musk não parece partilhar o optimismo quase ilimitado de muitos dos seus pares. Tem-se mostrado apreensivo quanto ao futuro, em particular com os riscos colocados pelo desenvolvimento da inteligência artificial. Já argumentou que a automação acabará por fazer melhor do que os humanos todos os trabalhos e não se coíbe de traçar cenários apocalípticos, ainda que pouco plausíveis: “Continuo a fazer soar o alarme, mas até as pessoas verem robôs a descerem as ruas e a matar pessoas, elas não vão saber como reagir porque parece tão etéreo”, disse uma vez. Talvez seja esta pouca confiança quanto ao futuro que o faz sonhar com um plano de fuga para outro planeta. “Gostaria de morrer em Marte”, disse numa conversa com o seu biógrafo. “Mas não de impacto. Idealmente, gostaria de fazer uma visita ao planeta, voltar e estar cá uns tempos e, depois, ir para lá, aos 70 anos ou assim, para ficar. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades NASA
O mais decepcionante McQueen
Um filme calculado ao milímetro para ser “importante” — e por aí, “prestigiante” — no seu tratamento das questões mais centrais na discussão da vida pública americana contemporânea. (...)

O mais decepcionante McQueen
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.04
DATA: 2018-11-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181128200837/https://www.publico.pt/1850789
SUMÁRIO: Um filme calculado ao milímetro para ser “importante” — e por aí, “prestigiante” — no seu tratamento das questões mais centrais na discussão da vida pública americana contemporânea.
TEXTO: Há um momento em Viúvas em que parece que Steve McQueen se lembra de que já foi (em Fome, em Vergonha) um cineasta arrojado e imune ao academismo ilustrador das “grandes causas”. É um plano estranhíssimo, totalmente alheio à gramática do resto do filme: duas personagens (a de Colin Farrell, candidato a vereador municipal por um bairro de Chicago, e a sua secretária) entram num carro, a câmara está montada no capot, o carro arranca e durante um tempo considerável ficamos ali, num travelling pelas ruas da cidade, a câmara em panorâmicas para a direita e para a esquerda, enquanto dentro do automóvel das personagens conversam numa espécie de off, a imagem delas tapada pelo pára-brisas escuro. No tempo que o plano dura (e é o melhor plano do filme), pensamos que Steve McQueen se está a querer ir embora do filme, e temos vontade de que vá mesmo, e nos leve com ele. Mas não, depois voltamos. Realização: Steve McQueen Actor(es): Viola Davis, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki, Liam Neeson, Jon Bernthal, Colin Farrell, Robert DuvallVoltamos a um filme que parece calculado ao milímetro (e não no melhor sentido da expressão) para ser “importante” — e por aí, “prestigiante”, oscarizável — no seu tratamento das questões mais centrais na discussão da vida pública americana contemporânea: questões de género, questões de raça, questões de uma organização política tendencialmente corrupta (e até, no pormenor que parece mais escusado e desnecessário na arrumação narrativa do filme, uma alusão à brutalidade racista da polícia americana). É um filme esmagado pelos seus temas, esmagado por uma dúbia ideia de “responsabilidade” que sufoca toda a vida que pudesse ter — não admira que, nesse tal plano, Viúvas pareça fugir de si próprio (e de facto, é um dos poucos momentos em que se sente alguma coisa a respirar). Há duas linhas narrativas que se entroncam no filme de McQueen. Uma, é a história de um grupo de viúvas, etnicamente diverso, liderado por Viola Davis, que depois dos maridos ou namorados, membros de um gang de assaltantes, terem sido todos mortos num golpe que correu mal, tem que levar a cabo, na vez deles, um último “trabalho”, como forma de pagar uma dúvida. A outra, é a história de dois candidatos a vereadores pelo mesmo bairro de Chicago, um branco, irlandês, duma família “aristocrática” há gerações ligada à política municipal, outro negro, do “lado errado” do bairro, ligado a negócios e tráficos obscuros (por este lado há uns pozinhos de The Wire mas, e não diremos isso de muitas séries, qualquer episódio escolhido ao acaso é melhor do que todo o Viúvas). Há boas ideias que McQueen estraga por excesso de “exposição”, não vá alguém não reparar: por exemplo, o casamento de Viola Davis e Liam Neeson — que poderoso seria se fosse apresentado casualmente, em jeito matter of fact, mas não, tem que haver incontáveis chamadas de atenção para a “inter-racialidade”, e McQueen tem mesmo que incluir planos, muito united colors of Benetton, das mãos entrelaçadas dos dois, o contraste das peles a tornar-se slogan visual. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E o filme arrasta-se nisto, numa narrativa-puzzle a encaixar todos os pontinhos, cheia de derivas ilustrativas (os backgrounds familiares de cada uma das viúvas), rumo a alguns twists que se adivinhavam à légua e são, por isso, ainda mais exasperantes quando se confirmam. É o filme mais pesado que McQueen já fez, certamente o mais programático, indubitavelmente o mais decepcionante. Mas, dito isto, até há ainda uma outra coisa que vale a pena ver: as poucas cenas com Robert Duvall (é ele o patriarca, duma ambiguidade inclassificável, da família irlandesa), na sua majestade arfante, a lembrar que de Niro e Pacino ainda têm que esperar que o trono vague, e que ele é o maior actor de cinema americano vivo. Sempre que Duvall toma conta do ecran, também parece que estamos noutro filme — e como acima ficou explicado, essa é a melhor sensação que se consegue ter em Viúvas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave fome negro género espécie casamento racista vergonha raça
Em 2019, a Casa da Música viaja pela riqueza musical das Américas
Sob o tema “Novo Mundo”, a sala portuense receberá nomes como o clarinetista Jörg Widmann e a pianista Khatia Buniatishvili. Destaca-se, ainda, o ciclo Grandes Canções Orquestrais, a Integral das Sinfonias de Tchaikovski e o festival Música no Feminino. (...)

Em 2019, a Casa da Música viaja pela riqueza musical das Américas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sob o tema “Novo Mundo”, a sala portuense receberá nomes como o clarinetista Jörg Widmann e a pianista Khatia Buniatishvili. Destaca-se, ainda, o ciclo Grandes Canções Orquestrais, a Integral das Sinfonias de Tchaikovski e o festival Música no Feminino.
TEXTO: Após dez anos a programar o ano musical segundo um país-tema, a Casa da Música alarga horizontes e volta-se, no próximo ano, para o “Novo Mundo”. Foi o explorador florentino Américo Vespúcio que, no século XVI, defendeu a existência de um novo continente cheio de mistérios e riquezas e escreveu ao mecenas Lourenço de Médici a famosa carta que se intitularia Mundus Novus. De norte a sul, as Américas deram ao mundo o contributo de uma multiplicidade de sons e músicas, criada pelo confronto entre a música dos nativos e a música dos colonos europeus. Foi no continente americano que nasceram géneros musicais como tango, jazz, samba ou bossa-nova. “Existe, no Mundo Novo, uma atitude muito descomplexada de apropriação e utilização da música popular nas composições eruditas”, explica António Jorge Pacheco. O director artístico da Casa da Música refere que o casamento entre as grandes composições europeias e a música produzida pelos povos indígenas americanos e africanos é uma “tradição muito diferente da tradição musical europeia”, resultando num “repertório muito rico”. Depois de explorar obras musicais do Brasil e dos Estados Unidos em 2009 e 2010, respectivamente, a Casa da Música regressa às sonoridades das Américas e inaugura o “Novo Mundo” em Janeiro com o festival Dar Novos Mundos ao Mundo. O compositor checo Antonín Dvorák, europeu radicado em Nova Iorque, merece destaque com a célebre Sinfonia do Novo Mundo, que terá sido “inspirada nas canções dos trabalhadores das plantações de algodão”, ou seja, em música de escravos. Também no início do ano se inauguram dois dos ciclos mais aguardados da temporada como a Integral das Sinfonias de Tchaikovski, que terá ao leme da Orquestra Sinfónica reputados maestros como os russos Michail Jurovski ou Vassily Sinaisky, e o ciclo Grandes Canções Orquestrais. Os vários agrupamentos residentes da casa, como a Orquestra Barroca, o Remix Ensemble e a Sinfónica, percorrerão os 400 anos deste género musical, do barroco de Pergolesi ao multifacetado Jörg Widmann, clarinetista, maestro e compositor alemão. Tocar e debater a música no feminino“Widmann é uma das coqueluches actuais da cena musical internacional”, afirma António Jorge Pacheco, acrescentando que o músico “será artista residente nessas três qualidades e sempre com obras suas”. Também gigantes da música clássica como Mozart, Wagner ou Strauss estarão presentes no ciclo. Destaca-se, ainda, o ciclo Música & Revolução, que permitirá visitar de forma aprofundada a obra do compositor húngaro György Ligeti, “um grande revolucionário do século XX”, defende António Jorge Pacheco. Ainda nos ciclos temáticos, regressa em Fevereiro o Invicta. Música. Filmes, festival de “filmes icónicos com música tocada ao vivo” que “procura dialogar com um público que não é o habitual, os cinéfilos, e fazê-los ouvir música”, reconhece o director artístico da instituição. Estão agendadas a interpretação de A Quimera do Ouro (1925) pela Orquestra Sinfónica, com música e filme de Charles Chaplin e o Drumming – Grupo de Percussão terá a cargo A Idade do Ouro (1930), filme de culto de Luis Buñuel com guião de Salvador Dalí e música de Martin Matalon. O Música no Feminino leva a Casa da Música à esfera política, tendo a igualdade de género como bandeira de um ciclo dedicado a mais de 20 compositoras, com um repertório que vai do século XII à actualidade. “Enquanto instituição cultural, a Casa da Música não deve estar ausente da discussão dos grandes temas da sociedade”, atira António Jorge Pacheco. O festival, que decorre em Setembro, colocará os cinco agrupamentos residentes sob a direcção de maestrinas como Sian Edwards, que terá a seu cargo a direcção do Remix Ensemble. O alinhamento do festival inclui nomes internacionais como Sofia Guibadulina e Rebecca Saunders e as portuguesas Clotilde Rosa e Ângela da Ponte. “Associa-se, normalmente, a direcção de uma orquestra à figura autoritária do maestro homem”, diz António Jorge Pacheco. “Algumas orquestras até oferecem resistência [a ser conduzidas por mulheres], por isso é um tema que queremos debater”. A conferência A Mulher É o Futuro do Homem? será um dos pontos altos do programa e reunirá a deputada Mariana Mortágua, a pianista e ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas e a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro. Encontro com a populaçãoAo virar de cada estação há um novo ciclo temático, como é o caso do Rito da Primavera, que parte da ideia de “renovação da natureza para focar novos valores musicais e novos talentos”. É nesse sentido que surge a aposta em iniciativas como o Spring On!, que destaca as novas tendências do jazz europeu, e do ECHO Rising Stars, onde se destacam promissores intérpretes de música de câmara a nível internacional. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como já é habitual, o sol e o calor do Verão levam a Casa da Música a sair à rua, num conjunto de concertos ao ar livre que pretendem “levar a música a toda a população, nomeadamente a quem não tem acesso à música erudita e sinfónica”. O Verão na Casa leva a Orquestra Sinfónica a tocar em espaços urbanos de Vila Nova de Gaia, Maia, Matosinhos e na Avenida dos Aliados, onde a iniciativa tem tido especial sucesso nas edições passadas. “Já estiveram 20 mil pessoas [nos concertos dos Aliados], o equivalente a encher 20 vezes a Sala Suggia”, nota António Jorge Pacheco. O jazz volta a merecer lugar cativo em Outubro com o festival Outono em Jazz, “que quer mostrar novas linguagens do jazz e dar palco a músicos que ainda não estão integrados no circuito musical”. Algumas das propostas incluem músicos como Danilo Pérez, John Pattiucci, a dupla Tony Allen/Jeff Mills, além da habitual colaboração com a Orquestra Jazz de Matosinhos. O director artístico ressalva, ainda, a esperada estreia da pianista Khatia Buniatishvili, “que já tocou nas mais reputadas salas internacionais”, e o regresso de Péter Eötvös, maestro e compositor que conduzirá a Orquestra Sinfónica e o Remix Ensemble e estreará o seu Concerto para Violino. A temporada de 2019, tida como o Ano da Voz, será ainda marcada por vários concertos a capella do Coro Casa da Música, que celebra dez anos no próximo ano.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Nobel da Paz para T. Karman, E. J. Sirleaf e L. Gbowee
Tawakkul Karman, Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee foram distinguidas hoje em Oslo com o Nobel da Paz, atribuído pelo Instituto Nobel norueguês. (...)

Nobel da Paz para T. Karman, E. J. Sirleaf e L. Gbowee
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tawakkul Karman, Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee foram distinguidas hoje em Oslo com o Nobel da Paz, atribuído pelo Instituto Nobel norueguês.
TEXTO: O comité norueguês decidiu atribuir o Nobel a estas três mulheres - as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkul Karman - pela sua luta pacífica em nome dos direitos das mulheres. "Não podemos alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo a menos que as mulheres tenham as mesmas oportunidades do que os homens", escreve o comité em comunicado. Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher africana a ser eleita, democraticamente, Presidente. Desde então "tem contribuído para a paz na Libéria, para a promoção do desenvolvimento económico e social e para reforçar a posição das mulheres". Por seu lado, Leymah Gbowee conseguiu "mobilizar e organizar as mulheres de etnias e religiões diferentes a fim de conseguir acabar com a guerra na Libéria e garantir a sua participação nas eleições". E nas circunstâncias mais difíceis, tanto antes como depois da "Primavera Árabe", Tawakkul Karman teve um papel de liderança na luta pelos direitos das mulheres e pela democracia e paz no Iémen. Nas suas primeiras declarações, Karman disse estar "feliz e surpreendida" por ter recebido o Prémio, que dedica aos activistas da "Primavera Árabe". "É uma honra para todos os árabes, muçulmanos e para todas as mulheres", acrescentou, citada pela estação de televisão Al-Arabiya, sediada no Dubai. No ano passado, o Nobel da Paz foi atribuído a Liu Xiaobo pela sua "luta em nome dos direitos humanos fundamentais na China". Até agora, apenas 12 mulheres receberam o Nobel da Paz, em 110 anos de história. A última foi a ecologista queniana Wangari Maathai que faleceu no final de Setembro. A cerimónia de entrega do Nobel está marcada para 10 de Dezembro, em Oslo. Vencedores do Prémio Nobel da Paz nos últimos dez anos:2010: Liu Xiaobo (China)2009: Barack Obama (Estados Unidos)2008: Martti Ahtisaari (Finlândia)2007: Al Gore (Estados Unidos) e Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC)2006: Muhammad Yunus (Bangladesh) e Grameen Bank2005: Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e Mohamed ElBaradei (Egipto)2004: Wangari Maathai (Quénia)2003: Shirin Ebadi (Irão)2002: Jimmy Carter (Estados Unidos)2001: Organização das Nações Unidas (ONU) e Kofi Annan (Gana)
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Professor condenado a multa por chamar "preto" a aluno
Um professor de Música da escola básica Mem Ramires, em Santarém, foi ontem condenado a pagar uma multa de mil euros pela prática de um crime de injúrias. Em causa está o facto de o docente ter usado a expressão "entra lá, ó preto", quando um aluno de 12 anos pediu autorização para entrar na sala de aula. (...)

Professor condenado a multa por chamar "preto" a aluno
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.125
DATA: 2010-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um professor de Música da escola básica Mem Ramires, em Santarém, foi ontem condenado a pagar uma multa de mil euros pela prática de um crime de injúrias. Em causa está o facto de o docente ter usado a expressão "entra lá, ó preto", quando um aluno de 12 anos pediu autorização para entrar na sala de aula.
TEXTO: Em 2009, este caso tinha já sido o primeiro e até agora único de discriminação racial que resultou em condenação pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Agora, o Tribunal Judicial de Santarém decidiu também absolver a mãe do menor, que estava acusada da prática de um crime de difamação agravada, no âmbito do mesmo processo, devido a queixas do professor, que contestou o teor de entrevistas dadas pela progenitora alguns meses depois. O docente, já com 26 anos de actividade lectiva, não quis falar aos jornalistas após a leitura da sentença, que o condena também a pagar as custas processuais. O juiz Antunes Gaspar considerou provado que, na manhã de 9 de Janeiro de 2008, quando se iniciava uma aula de Música da turma D do 6. º ano, o professor terá dito, dirigindo-se ao aluno: "Entra lá, ó preto. " O tribunal julgou bastante credíveis os relatos dos colegas de turma que confirmaram esta situação e não considerou plausível a tese do arguido de que teria sido outro aluno a usar aquela expressão. Segundo testemunharam os colegas, o aluno quase chorou e isolou-se no intervalo seguinte. Quando chegou a casa, atirou a mochila ao chão e mostrou-se revoltado, contando à mãe o que se passara. Esta apresentou o caso aos responsáveis da escola mas, sem respostas concretas, decidiu apresentar queixa na PSP. Ao mesmo tempo deu algumas entrevistas a jornais locais condenando a atitude do professor. O juiz considerou que, embora existam alguns testemunhos de que o professor também usaria termos como "cães" e "palhaços" quando se dirigia a alguns alunos, este terá sido um caso "pontual" que não configura a prática de crimes de xenofobia ou de racismo. Entende, contudo, que o professor "agiu com a intenção de ofender a imagem e o bom-nome do aluno", quando sabe que no exercício da profissão de docente lhes deve "um tratamento igual, digno e respeitador". "Valeu a pena esta luta", disse a mãe, no final, ao PÚBLICO, acrescentando que continua preocupada com a cabeça do filho e com a forma como este pode encarar este tipo de situações.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Serra Leoa quer "diamantes de sangue" que Taylor ofereceu a Naomi Campell
O Comissariado dos Direitos Humanos da Serra Leoa pediu a devolução dos “diamantes de sangue” que o ex-Presidente da Libéria terá dado à supermodelo britânica Naomi Campbell, em 1997, quando se encontraram na África do Sul. (...)

Serra Leoa quer "diamantes de sangue" que Taylor ofereceu a Naomi Campell
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2010-08-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Comissariado dos Direitos Humanos da Serra Leoa pediu a devolução dos “diamantes de sangue” que o ex-Presidente da Libéria terá dado à supermodelo britânica Naomi Campbell, em 1997, quando se encontraram na África do Sul.
TEXTO: “Se essas pedras preciosas são realmente o produto do conflito na África Ocidental, devem ser convertidas em dinheiro que possa ser usado em proveito das vítimas da guerra civil de 11 anos que se travou na Serra Leoa”, de 1991 a 2002, disse Yasmin Jusu-Sheriff, a comissária dos Direitos Humanos, internacionalmente conhecida como defensora dos direitos das mulheres . A entidade que dirige solicitou ao Presidente da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, e ao Tribunal Especial criado pelas Nações Unidas para os crimes cometidos no país - que está a julgar Taylor e levou Naomi Campbell a depor - que “recupere os diamantes de sangue” entregues à modelo. Estes terão ido parar às mãos dela após um jantar oferecido pelo Presidente sul-africano Nelson Mandela a uma série de personalidades internacionais, num evento de beneficiência. O depoimento de Campell no tribunal de Haia tem estado no centro as atenções, dado as notícias de que Taylor lhe teria oferecido alguns diamantes em bruto que eram oriundos do conflito na Serra Leoa e que ele levara consigo a fim de adquirir na África do Sul mais armamento continuar a guerra na Serra Leoa, que ele ajudava a fomentar. Evasiva, a supermodelo disse apenas aos juízes que alguns homens lhe tinham batido à porta do quarto e entregue “umas pequenas pedras sujas”. Mas a sua agente dessa altura, Carole White, e a actriz norte-americana Mia Farrow, que também estavam presentes no jantar de Mandela, foram mais explícitas: as “pedras” eram nem mais nem menos os diamantes que Charles Taylor lhe prometera durante a refeição. Campbell disse que entregara estas “pedras sujas” ao então director executivo da Fundação Nelson Mandela para o Auxílio à Infância, Jeremy Ratcliffe. Ratcliffe entregou finalmente agora três “diamantes de sangue” à polícia sul-africana. Taylor está há três anos a ser julgado pelos crimes de guerra de que é acusado na Serra Leoa, dando aos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (RUF) as armas de que necessitavam, em troca dos diamantes que eles iam extraindo. A República da Serra Leoa é um dos países com menor Índice de Desenvolvimento Humano, só ultrapassada no último relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) pelo Afeganistão e o Níger.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
José Eduardo dos Santos tem poderes "quase absolutos"
O jornalista angolano Mário Paiva, freelancer especializado na área económica, afirmou hoje ao PÚBLICO, pelo telefone, não “estar consumada a transição democrática” no seu país, que amanhã completa 35 anos de independência. (...)

José Eduardo dos Santos tem poderes "quase absolutos"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2010-11-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O jornalista angolano Mário Paiva, freelancer especializado na área económica, afirmou hoje ao PÚBLICO, pelo telefone, não “estar consumada a transição democrática” no seu país, que amanhã completa 35 anos de independência.
TEXTO: Os “poderes quase absolutos do Presidente da República”, os “cenários autoritários” e as restrições à liberdade de imprensa e de expressão caracterizam, na óptica daquele profissional, o presente momento da vida em Angola, onde ainda na segunda-feira foi bloqueada em Luanda uma manifestação que cerca de mil mulheres procuravam fazer contra a violência doméstica. “Consolida-se o partido-estado; e grupos alegadamente privados, mas ligados ao poder, estão a tomar conta de semanários que eram considerados independentes, sendo esta mais uma grande ameaça ao pluralismo”, disse Paiva, que já trabalhou para a agência britânica Reuters e para a alemã DPA, entre muitos outros órgãos da informação internacional. “Trinta e cinco anos depois de proclamada a independência e oito anos depois de terminada a guerra civil (entre o Estado-MPLA e a UNITA), Cabinda continua a registar ataques, como o que ainda há dias se verificou contra uma viatura da Sonangol, com mortos e feridos. Lá não há uma solução militar; terá de ser política, com o empenhamento de todas as forças e um diálogo inclusivo”, prosseguiu aquele antigo militante de movimentos estudantis, que logo aos 18 anos foi “preso e torturado, enquanto outros eram assassinados”. O profundo fosso social existente e que está a agravar todo o tipo de tensões, “podendo potenciar novos conflitos”, foi outra das facetas da realidade angolana destacadas por Mário Paiva, que era adolescente no dia 11 de Novembro de 1975, quando o MPLA proclamou unilateralmente a independência do país, depois de não se ter conseguido uma concertação com as demais forças políticas. “O grande desnível social tende a transformar Angola numa sociedade violenta, com um número reduzido de muito ricos e um número imenso de muito pobres”, sintetizou aquele jornalista. Na semana passada, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no seu Índice do Desenvolvimento humano, colocou os angolanos no lugar 146, abaixo do Uganda, do Senegal e do Haiti, com uma esperança de vida de uns escassos 48, 1 anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência adolescente social mulheres doméstica