Grada Kilomba é a artista que Portugal precisa de ouvir
Escritora e artista portuguesa a residir em Berlim, é um nome cada vez mais celebrado na arte contemporânea. A partir de hoje temos as suas primeiras exposições individuais em Portugal. Vamos ouvir Grada Kilomba – e isso é olhar de frente para a história colonial, é olhar de frente para nós. (...)

Grada Kilomba é a artista que Portugal precisa de ouvir
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escritora e artista portuguesa a residir em Berlim, é um nome cada vez mais celebrado na arte contemporânea. A partir de hoje temos as suas primeiras exposições individuais em Portugal. Vamos ouvir Grada Kilomba – e isso é olhar de frente para a história colonial, é olhar de frente para nós.
TEXTO: “Vieram ter comigo e disseram: ‘mas como é que aqui em Portugal não se sabe quem tu és?’”Grada Kilomba é a artista que Portugal precisa de ouvir, mas a quem Portugal andou a prestar pouca atenção durante demasiado tempo. Escritora, professora e artista portuguesa a residir em Berlim, é um nome cada vez mais requisitado e celebrado nos circuitos internacionais de arte contemporânea, mas que nos últimos anos contou apenas com uma curta apresentação por cá, em 2015, nos Encontros para Além da História do Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Finalmente, isso está a mudar. A 30 de Junho trouxe ao Porto a performance Illusions, o pontapé de saída de Incerteza Viva: Uma exposição a partir da 32. ª Bienal de São Paulo, no Museu de Serralves. Este Outubro, em Lisboa, têmo-la em dose quádrupla. Primeiro na Galeria Municipal da Avenida da Índia, com a primeira individual em Portugal, A Língua Mais Bela/ The Most Beautiful Language (de 26 de Outubro a 4 de Março). Também a 26 de Outubro inaugura Secrets To Tell no MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. Segue-se uma conversa no Maria Matos sobre o seu trabalho, a 28 de Outubro, com Carla Fernandes, jornalista e mentora do audioblogue AfroLis (quem não conseguir estar presente terá sempre o live streaming). Uma outra conversa com a artista acontecerá na Hangar, a 3 de Novembro. “É esquizofrénico mostrar o meu trabalho regularmente em tantos sítios, do Brasil à África do Sul, passando por várias cidades da Europa, e ter sido tão difícil fazê-lo em Portugal”, diz ao Ípsilon. Na verdade, mais do esquizofrénico, é perversamente coerente: entrar no trabalho de Grada Kilomba – nas suas instalações de vídeo e som, nas suas performances, nas suas leituras encenadas, nos seus textos – é ter de lidar com a história violenta do colonialismo e pós-colonialismo, história na qual Portugal está profundamente entranhado mas que teima em fingir que não é nada com ele. “Ainda estamos em negação”, resume a artista. Desde o sistema educativo, em que se continua a perpetuar o mito do “bom colonizador”, essencial para alimentar uma certa biografia nacional, à crença romantizada de que Portugal não é um país racista. “Nós falamos dos mares, dos ‘descobrimentos’, das naus com um romantismo tal, como se a história colonial e da escravatura, que aqui é completamente banalizada, fosse um encontro intercultural e não uma história de tortura, genocídio, desumanização, exploração patriarcal”, aponta. Uma banalização que chega a vários sítios, inclusive à restauração: recentemente abriu em Lisboa um bar-restaurante chamado Café Colonial, cujo conceito é “a celebração das raízes lusófonas” (as críticas não demoraram a multiplicar-se). “A negação está sempre ligada a uma glorificação do passado”, afirma. “Podemos falar no medo de perder poder e privilégio branco, com certeza, mas acho que tem a ver também com não arriscar chegar ao presente”, assinala. “Há uma certa estupidez logística em Portugal no sentido em que há outros países que conseguiram perceber que têm essa história colonial e racista brutal e que ela tem de ser abordada. Que é importante, como diz bell hooks, interromper, ocupar e transformar a história e os espaços com novos discursos, novos sujeitos, novas configurações de poder. ”Apesar de tudo, isso “está a começar a acontecer” em Portugal, sublinha Grada Kilomba. Os convites em catadupa que recebeu são, acredita, um sinal disso mesmo – e é significativo o facto de terem vindo de “instituições grandes”. “Acho que também tem a ver com uma nova geração de curadores que agora estão em posições de poder. Como o João Mourão [ex-director das Galerias Municipais, que iniciou toda esta vinda de Grada a Lisboa], Pedro Gadanho, Paula Nascimento, João Ribas, Pedro Faro ou a Inês Grosso. ”Numa altura em que têm surgido em Portugal várias plataformas dedicadas ao combate ao racismo, à divulgação das culturas africanas e ao feminismo negro – como a Djass, a Femafro, a Consciência Negra ou a AfroLis –, entre documentos de investigação relevantes como o livro Racismo em Português – O Lado Esquecido do Colonialismo da jornalista do PÚBLICO Joana Gorjão Henriques, Grada Kilomba encontra agora um contexto diferente daquele em que começou a trabalhar. “Os estudos pós-coloniais em diálogo com o conhecimento performativo interessavam-me, mas não havia plataformas cá. ” Depois de tirar o curso de psicologia clínica e psicanálise no ISPA, em Lisboa, e de ter trabalhado no Hospital Júlio de Matos com um psicanalista e sobreviventes de guerra, Grada foi para Berlim fazer o doutoramento, à boleia de uma bolsa da Fundação Heinrich Böll. A partir da capital alemã, o seu trabalho ganhou ritmo, espaço, visibilidade. E tentáculos internacionais. “Comecei a publicar, a trabalhar noutras cidades, a dar aulas em universidades no Gana, na Áustria, em Londres. Sempre com projectos muito experimentais, em que cruzo os estudos pós-coloniais, estudos de género, performance, literatura”, explica a artista, que trabalha regularmente com o teatro berlinense Maxim Gorki e é representada pela Goodman Gallery, na Cidade do Cabo. Influenciada por pensadores e escritores negros como Frantz Fanon e bell hooks, Grada começou desde cedo a cimentar um dos pilares identitários da sua obra: a fusão entre a linguagem artística e a académica. “Acho muito fascinante trabalhar dentro das artes com conhecimento e sublinhar que se está a produzir conhecimento. ” Nesse processo, reclama a autoria, a autoridade e a validade da sua própria história – o que é, por si só, um acto político, um acto de descolonização numa estrutura académica e artística cujas hierarquias de poder ainda são brancas e patriarcais. “Sou o sujeito, não o objecto. Trabalho para mim, para perceber quem sou, para completar um puzzle que foi fragmentado. Essa é a diferença de um trabalho feminista e descolonial para um trabalho clássico. ”“Quem pode falar? Quem pode produzir conhecimento? Que conhecimento é reconhecido como tal?” são as veias que percorrem todos os seus projectos. Projectos híbridos que fintam a catalogação. “Não estou interessada em trabalhar numa só disciplina; estou interessada em contar histórias. Depois cada uma dessas histórias precisa de formatos diferentes”, nota Grada. “É uma forma de subverter as práticas artísticas que têm sido representadas pelo homem branco, pelo sujeito dominante. É descolonizar o conhecimento, é trazer a questão da raça, do género, da sexualidade como partes inseparáveis de um discurso. Eu não sou apenas uma mulher, sou uma mulher negra. Para mim é importante pensar nessa complexidade e trazê-la para a minha arte. ”Essa intersecção de linguagens e métodos vai ser clara na exposição A Língua Mais Bela, na Galeria Avenida da Índia, com curadoria de Gabi Ngcobo e produção criativa de Moses Leo. Cada peça terá “um formato diferente”, mas sempre com a palavra no centro, outra das marcas distintivas do trabalho de Grada Kilomba. Em Illusions – instalação reconfigurada a partir da performance homónima apresentada na última Bienal de São Paulo, na documenta 14, em Kassel, e em Serralves –, Grada transporta para um contexto pós-colonial e encena os mitos de Narciso e Eco, posicionando-se como uma contadora de histórias, uma griot contemporânea. “Quis recuperar a tradição africana de produção oral de conhecimento no papel de uma mulher griot. ”Já Printed Room será uma blackbox revestida por páginas de um dos livros escritos pela artista, Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism (2008). Mais exactamente páginas enviadas por leitores de vários países, da Bolívia à Suécia, com apontamentos e notas. O público será acompanhado pelo áudio de actores a lerem o livro (livro que “a maior editora de Portugal” não teve interesse em traduzir para português, conta a autora, ficando entregue ao Brasil). Sem revelar demasiado, haverá ainda a instalação The Dictionary, em que a artista apresenta o processo de consciencialização e desconstrução do racismo não como etapa moral, mas psicológica. São cinco passos, explicados a fundo em Plantation Memories: “negação, culpa, vergonha, reconhecimento, reparação. ” De resto, o título da exposição deixa entrever um jogo irónico: “Dizemos que temos a língua mais bela, mas não pensamos em todas as exclusões e opressões coloniais e patriarcais dentro da sua terminologia”, diz Grada (por exemplo, por que não usar o termo “expansão marítima violenta” em vez de “descobrimentos”?)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A palavra volta a ser assunto na exposição Secrets To Tell no MAAT, que dá início à programação da sala Project Room. É curada por Inês Grosso e pensada a partir da vídeoinstalação The Desire Project, concebida para a Bienal de São Paulo e entretanto adquirida pela Fundação EDP. “É uma instalação com três canais de vídeo simultâneos em três actos: enquanto eu caminho, enquanto eu falo, enquanto eu escrevo. Recupero a figura da Escrava Anastácia para falar das narrativas que foram silenciadas”, explica a autora. “Depois passa-se para um espaço digital e futurista, com um batuque composto pelo Moses Leo. Trabalho com a sonorização e a visualização da escrita. ”Para Grada Kilomba é “fundamental tornar o conhecimento vivo, corpóreo, físico”. “Através das artes consegues formular, sem impor, uma plataforma em que o público levanta questões que não estavam lá antes. Aí começa-se a descolonizar o conhecimento. Para mim, arte é isso: quando ela consegue entrar dentro de ti emocionalmente e fisicamente, e transformar-te. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra mulher negro homem racismo medo género sexualidade racista negra feminista vergonha raça escravatura feminismo
Falar sobre pornografia “não é um bicho-de-sete-cabeças”
Abordar o tema da pornografia com crianças e jovens pode ser constrangedor. Mas mais vale fazê-lo do que ignorar o assunto. A realizadora de pornografia feminista Erika Lust criou três guias a pensar nos mais novos. E para ajudar a desbloquear a conversa. (...)

Falar sobre pornografia “não é um bicho-de-sete-cabeças”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181216185833/https://www.publico.pt/n1840720
SUMÁRIO: Abordar o tema da pornografia com crianças e jovens pode ser constrangedor. Mas mais vale fazê-lo do que ignorar o assunto. A realizadora de pornografia feminista Erika Lust criou três guias a pensar nos mais novos. E para ajudar a desbloquear a conversa.
TEXTO: Um smartphone, um tablet, um computador. A maioria das crianças e jovens portugueses tem acesso a pelo menos um destes equipamentos desde cedo — em Portugal, as primeiras utilizações rondam os dez anos, altura em que as crianças terminam o 1. º ciclo. São ferramentas que lhes permitem estar em contacto com os pais, falar com amigos, jogar, fazer trabalhos da escola. Mas também lhes facilitam o acesso a infindáveis outros universos menos prosaicos, como o da pornografia. É inevitável que cheguem a este mundo através dos ecrãs, dizem os especialistas. Mais tarde ou mais cedo, durante a adolescência, os jovens entram em contacto com conteúdos sexuais explícitos disponíveis na internet ou na televisão e em revistas. Seja porque, sem querer, estes conteúdos surgem nos seus ecrãs em janelas pop-up ou em filmes que passam na TV, porque um amigo enviou uma imagem através do Snapchat ou num grupo do Whatsapp, ou porque eles próprios os procuram. O que é mais difícil de definir é a idade em que crianças ou jovens entram em contacto com a pornografia. Dados do EU Kids Online — um inquérito que avalia a forma como os adolescentes europeus utilizam a internet — mostravam, em 2014, que 27% das crianças portuguesas entre os nove e os 16 anos tinham tido contacto com imagens de cariz sexual no último ano, quer fosse através da internet, do telemóvel ou de filmes e livros. E quanto mais velhos são os adolescentes, mais provável é que tenham acedido a esse tipo de conteúdos. Os resultados do mesmo inquérito indicam que com a idade, a proporção daqueles que viram essas imagens aumenta. Quase metade dos jovens (44%) com 15/16 anos afirma ter visto estes conteúdos no último ano. São o maior grupo. Entre os adolescentes com 13/14 anos, 34% dizem ter tido acesso a imagens do género. “A forma mais comum de exposição a imagens de teor sexual acontece através da televisão ou de filmes (16%), revelando a importância que os meios de comunicação audiovisuais clássicos continuam a ter na disseminação deste tipo de imagens. As redes sociais são o meio indicado em segundo lugar, estando bastante abaixo (9%). Em ambos os casos, existe um claro efeito da idade: os adolescentes mais velhos tendem a estar mais expostos a este tipo de imagens”, detalha o documento. Um estudo britânico mais recente (2017), promovido pela NSPCC (National Society for the Prevention of Cruelty to Children), mostra que quase metade (48%) dos jovens entre os 11 e os 16 anos vêem pornografia. Entre os que dizem fazê-lo, 46% afirmam que as imagens simplesmente apareceram no ecrã na primeira vez em que tiveram acesso a estes conteúdos. A pesquisa autónoma por pornografia torna-se mais significativa à medida que os jovens ficam mais velhos. Aos 14 anos, 94% dos adolescentes que tinham respondido a este questionário já tinham tido contacto com conteúdos pornográficos. Quanto aos hábitos de consumo de pornografia pelos jovens, o mesmo estudo da NSPCC revela que 34% acede a estes conteúdos uma vez por semana ou mais. Há mais rapazes do que raparigas a dizer que vêem pornografia. Mas os jovens não são indiferentes àquilo que vêem. Num outro inquérito também promovido pela NSPCC em 2015, um rapaz de 15 anos mostrou-se preocupado: “Eu estou sempre a ver porno e alguma é muito agressiva. Ao princípio não achei que me estava a afectar, mas comecei a ver as raparigas de uma forma diferente e isso preocupa-me. ”Os pais nem sempre querem reconhecer que os filhos têm contacto com estes conteúdos. “Portugal está entre os países com maior discrepância entre as práticas declaradas de ver imagens sexuais online pelos filhos (13%) e admitida pelos pais (4%)”, indicavam os resultados do inquérito EU Kids Online feito às crianças portuguesas em 2012 (o trabalho de 2014 não faz referência a este aspecto). O que permite tirar uma conclusão: “O contacto com as imagens sexuais online parece ainda ser objecto de tabu nas famílias”, admitiam os autores — o trabalho em Portugal é coordenado pela professora Cristina Ponte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Mas não é só em Portugal que isto acontece. Há muitos pais constrangidos em falar sobre sexo. “Percebemos que as pessoas têm vergonha de falar sobre isso e têm medo, por isso, precisam de orientação”, explica Erika Lust (o nome verdadeiro é Erika Hallqvist), uma realizadora sueca que produz filmes pornográficos feministas. Tem duas filhas de sete e 11 anos — que estão a par da profissão da mãe — e desde cedo se preocupou com a importância de falar sobre pornografia e de explicar que os conteúdos pornográficos a que os jovens têm acesso são “uma ficção muito exagerada do sexo”. Foi esta discrepância entre o que é realidade e ficção e apercebendo-se que tanto ela como o marido Pablo Dobner — que gere a produtora de filmes — têm muita descontração em falar sobre sexo levaram Erika a fundar o projecto The Porn Conversation. Em parceria com sexólogos e terapeutas, criou três guias diferentes que oferecem dicas sobre como ter “a conversa”. E a dica principal vai exactamente na indicação do momento mais oportuno para este diálogo. Não deve ser uma conversa em que toda a família se senta num sofá e, num ambiente constrangedor tanto para pais como para filhos, se decide falar sobre pornografia. A introdução do tema deve acontecer em momentos mais descontraídos, num passeio de carro ou ao pequeno-almoço. Importante a ter em mente, lê-se num dos guias, é que “o silêncio, ou seja, não dar uma resposta, é educação só por si e, normalmente, quando não se fala sobre algo é porque se assume que é perigoso, indecente ou inapropriado discutir o tema”. Falar sobre sexo e pornografia “não é um bicho-de-sete-cabeças”. Para as crianças dos nove aos 11 anos (a faixa etária mais baixa), as sugestões passam por explicar que a pornografia não é “sexo real”, sublinhar a importância de não se despir “para ninguém que faça pressão para tal” e não se deixar fotografar sem roupa — aqui uma alusão ao hábito crescente do sexting entre adolescentes. O guia sugere também formas como os pais podem limitar o acesso a esse tipo de conteúdos, nomeadamente através de aplicações que bloqueiam sites e de browsers específicos para crianças. Para aquelas que têm entre 11 e 15 anos, o guia aconselha um discurso mais focado em aspectos como o racismo, a falta de diversidade dos corpos representados, a assunção de que aquilo que surge no ecrã está longe da realidade; ou como a pornografia convencional “lucra com os clichés”, informando que existem alternativas “éticas”. A conversa com os adolescentes que têm mais de 15 anos deve abordar todos os outros pontos e voltar a frisar um aspecto: “Se alguém quiser tirar fotografias tuas ou filmar-te, tem em atenção que o cenário mais provável é que se torne viral — pelo menos entre as pessoas que conheces e o teu grupo de amigos. ”E com que idade deve começar-se a falar? Erika diz que deve ser “cedo”. E explica: “O que eu sinto é que, quando são mais jovens, não têm vergonha. Eles não têm medo de falar sobre isso. ” A realizadora dá o exemplo da própria filha de sete anos que, curiosa, lhe perguntou: “Mãe, se os pénis são todos diferentes, os de dois irmãos gémeos idênticos vão ser iguais ou diferentes?”. É este à vontade que, diz, se vai perdendo na adolescência. O enfermeiro de saúde escolar na Escola Secundária da Ramada, em Odivelas, Alexandre Oliveira, alerta, porém, que em certas idades, nomeadamente entre crianças mais jovens, corre-se o risco de ficarem “incomodadas”. O especialista admite que só se deve falar sobre o tema caso tenham dúvidas ou se o seu comportamento indicar que estão a aceder a estes conteúdos. Para Paula Pinto, coordenadora da Sexualidade em Linha e membro da comissão para a educação sexual da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC), “é importante que os pais tenham em conta que os filhos podem aceder a estes conteúdos e que tenham a informação necessária” para interpretá-los. Iniciar esta conversa pode ser o mote para “falar sobre muitas outras coisas que são muito importantes”, sublinha Erika Lust. Por exemplo, sobre a imagem corporal, o consentimento, como tratar os outros, os papéis de género, o feminismo, a identidade sexual. . . “Há tantas coisas que tocam nessa conversa. ”Para a realizadora, uma coisa é certa: os pais “precisam de falar sobre pornografia. Não há como fugir. Faz parte da sociedade em que vivemos hoje. ”“Apesar da preocupação pública com os conteúdos de natureza sexual (imagens e mensagens sexuais), importa ter em conta a idade, contrariando deste modo o pânico moral gerado à volta do assunto. No caso particular das imagens, embora a internet torne acessível este tipo de conteúdos a crianças e jovens, a regulação de meios de comunicação tradicionais (como a televisão) continua a ser importante, pois constituem a forma de acesso mais referida”, destaca o relatório de 2014 dos investigadores portugueses no âmbito do projecto EU Kids Online. A terapeuta sexual e uma das “embaixadoras” do projecto The Porn Conversation, Yana Tallon-Hicks, diz que “o Google e os smartphones mudaram o jogo quando se trata da quantidade de dicas e conteúdo sexual disponível para os jovens”. “A idade média da primeira exposição a pornografia na internet nos EUA é de 11 anos. Os adultos são insensatos ao pensar que podem simplesmente permanecer em silêncio sobre isso. Em vez disso, devemos todos trabalhar mais para ajudar os jovens a encontrar e utilizar informações precisas e desenvolver suas próprias habilidades para pensar criticamente sobre o sexo que consomem. ”A especialista conta que se juntou ao projecto de Erika Lust pela forma como a realizadora “se compromete a criar pornografia ética, que prioriza o consentimento, o prazer e a conexão entre seres humanos”. “Se eu for a esses sites [de pornografia] há muita agressão, violência, punição sobre as mulheres. E isso tem valores sexuais muito negativos”, lamenta a realizadora cujo trabalho na área começou precisamente pelo seu desagrado em relação à pornografia que via enquanto consumidora. “Acho que esses valores afectam muitos jovens que não têm muita experiência sexual. Eles acham que o sexo é assim. Quando começam a fazer sexo, querem reproduzir o que aprenderam na internet. Eles não terão prazer porque esse tipo de sexo não dá prazer às pessoas. Porque é rápido e furioso e sem sentimento. ” Além disso, “mostra factos que não são verdadeiros, como a mulher a ter um orgasmo com penetração. Isso não é correcto. A maioria das mulheres precisa de estimulação clitoriana para poder ter um orgasmo”. Alexandre Oliveira diz que a questão não será tanto a necessidade de replicar o que vêem. O problema, diz o enfermeiro de saúde escolar, é que os adolescentes interpretam a pornografia como algo que é “comum” e que “têm dificuldade” em perceber que não é real. Essa dificuldade pode levar a problemas de performance, especialmente entre os rapazes, que constroem uma “percepção errada da duração e continuidade do acto sexual” e acabam por ficar frustrados, diz o enfermeiro. Erika Lust: “Estou sempre a ouvir histórias de jovens rapazes que começam a sufocar as suas namoradas durante o sexo porque pensam que isso vai excitá-las. Há uma desconexão [com a realidade]. ”A realizadora produz filmes pornográficos desde 2004. Mas tem uma abordagem diferente daquilo que é feito pela maioria da indústria que classifica como mainstream. Erika Lust diz que os seus filmes representam a sexualidade feminina, os desejos das mulheres e a colocam no centro da trama. Já quanto à restante indústria, aponta algumas falhas e diz que, quem faz estes filmes “precisa de ter mais cuidado com a representação das pessoas e com a diversidade que se está a mostrar”. Frisa também a necessidade de “incluir pessoas de diferentes origens, etnias, tipos de corpo, idades e outro tipo de equilíbrio de poder entre homens e mulheres”. Lúcia Ramiro é professora de inglês, sexóloga e coordenadora de uma pós-graduação em Educação Sexual. “Não considero que a pornografia tenha mais desvantagens hoje do que há cinquenta anos. Hoje, a pornografia coexiste num mundo em que também existe educação sexual, educação para a cidadania e direitos humanos”, diz a professora na Escola Secundária Poeta Al Berto, em Sines. “De um modo geral, a pornografia pode contribuir para dar expectativas irrealistas sobre a imagem do corpo (tamanho do pénis, formato do clitóris, tamanho dos mamilos etc. ) e do ato sexual (duração da erecção, entre outros), promover a objectificação do corpo, e promover a ideia errada de que a mulher ‘serve’ o homem e que a relação sexual não está ligada à relação amorosa (com tudo o que a caracteriza). ”Para Marta Reis, também sexóloga, o perigo da pornografia está no “empobrecimento da capacidade de fantasiar e ser criativo”. “Para já, o que se vê nos filmes pornográficos não é o que acontece na realidade, há um desfasamento muito grande e, ao verem esses filmes, os jovens vão tentar repetir, vão achar que é uma realidade (que depois não existe). Os filmes servem para ajudar o utilizador a obter uma resposta sexual muito rápida e não propriamente para uma melhoria de sexualidade. ” Para esta especialista, “os jovens precisam de conhecer o seu corpo, de entendê-lo e de perceber o que lhes gera prazer e satisfação e como estas questões estão normalmente ligadas ao relacionamento com o outro”. Mas Erika Lust é categórica: “A pornografia tornou-se na educação sexual das nossas crianças. ” Num dos guias do The Porn Conversation é citado um séxologo dinamarquês, Christian Graugaard, que sugere que se mostre pornografia a alunos entre os 15 e os 16 anos na sala de aula e que esse momento seja acompanhado de uma discussão crítica sobre papéis de género, misoginia, diversidade e poder de decisão. E levanta a questão: “Será demasiado radical ou apenas prático?” Certo é que na Dinamarca, um dos primeiros países a legalizar a pornografia, “a educação sexual é obrigatória em todas as escolas e a maioria oferece uma semana inteira de conteúdos sobre saúde sexual e relacionamentos”, frisa o guia. E esta cultura pode ter uma relação directa com taxas mais baixas de prevalência de infecções sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência e abortos. Em Portugal, há 17 anos que a educação sexual nas escolas está regulamentada. Em 2009, um decreto-lei veio esclarecer alguns aspectos e as orientações curriculares hoje seguidas datam de 2010. A pornografia não é um tema directamente contemplado nestas orientações publicadas pelo Ministério da Educação. Contudo, a abordagem de temas como “diversidade e respeito”, “sexualidade e género” e “prevenção dos maus tratos e das aproximações abusivas” é obrigatória e leva a que se toque na questão da pornografia. A conversa pode acontecer “quando surgem questões sobre o assunto”, explica Paula Pinto. O que a educação sexual deve fazer é frisar que aquilo que é representado na pornografia não corresponde à “vivência real da sexualidade”. No fundo, fazer compreender que o que ali está “é ficção”, uma “representação muito empolada da realidade”. “Há muitas noções erradas sobre o contacto sexual e o risco de que os jovens repliquem isto nas suas relações futuras”, diz Rui Ferreira Carvalho, um jovem médico, interno na especialidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência no Hospital de Santa Maria. Ainda estudante, começou o projecto SexEd. A ideia: ir a escolas secundárias e falar sobre sexo e sexualidade de igual para igual. Desde 2012, Rui e os colegas já foram a mais de 50 escolas. Na maior parte das vezes são convidados por professores para, em 90 minutos e num tom informal, abordar o tema com os alunos. “A pornografia não costuma surgir como tema isolado”, diz. Mas toca-se lá quando se fala em consentimento. Quanto à própria situação da educação sexual nas escolas portuguesas, Rui Ferreira Carvalho diz que “muitos professores não conseguem abordar estas questões com os alunos com que vão passar o resto ano”. Já tiveram relatos de casos em que dançar um slow numa aula de educação física contou para a hora que devia ser alocada à educação sexual e o mesmo com a análise de poemas românticos numa aula de português. “Percebemos as dificuldades dos professores”, afirma. A sexóloga Marta Reis diz que, entre os alunos com quem contacta, “a grande maioria acha, que se pode fazer muito mais; mas também reconhecem o progresso, em conhecimentos e comportamentos face à sexualidade, que é visível em jovens universitários de hoje”. Marta Reis e Lúcia Ramiro estiveram envolvidas no estudo que avaliou o ponto de situação da aplicação da educação sexual nas escolas, que data de 2014. Na altura, concluíram que 83, 2% dos 428 agrupamentos que participaram no estudo tinham cumprido a carga horária estipulada. “Sem dúvida que o caminho percorrido é positivo, mas ainda continua a haver muito a fazer. Impõe-se continuar a formação sistemática dos professores, envolver os pais em acções conjuntas, tornar a educação sexual parte da cultura da escola. Os gabinetes de apoio aos alunos, essenciais como locais privilegiados de reflexão e ensino para os estudantes, necessitam de revitalização porque, nalguns casos, estão transformados em locais para onde são enviados jovens com ‘mau’ comportamento. E os professores entrevistados na avaliação lamentaram a perda da redução da componente lectiva, o que se traduz por sobrecarga no trabalho quotidiano, nem sempre bem compreendido pelas direcções escolares”, resume Marta Reis. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mariana Carrito, investigadora do Sex Lab — uma unidade de investigação da Universidade do Porto dedicada à sexualidade —, diz que “existe evidência que, apesar de haver conhecimento explícito de que aquilo que é retratado na pornografia em geral é ficcional e distinto da realidade, o conteúdo apresentado influencia tanto os comportamentos como as crenças dos consumidores”. E que “algumas mulheres, mesmo admitindo saber que o que é representado na maioria dos conteúdos pornográficos não corresponde à realidade, evidenciam, por exemplo, sentimentos de desvalorização da própria imagem corporal e baixa auto-estima após a visualização dos mesmos”. A investigadora conclui assim que “a pornografia constitui um instrumento que pode contribuir para o bem-estar sexual, mas também para a propagação de mensagens alusivas a interacções não consensuais entre intervenientes com aparências físicas estereotipadas e não representativas da diversidade existente”. Mas é preciso distinguir as “muitas pornografias dentro da pornografia”, diz Patrícia Pascoal, presidente da SPSC. “Há materiais sexualmente explícitos que mostram práticas positivas (por exemplo, o uso de preservativo) e relações de paridade e consentimento e consequentemente podem conter materiais pedagogicamente relevantes. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
A bondade linguística e o cadáver adiado
O colóquio não era sobre ortografia, era sobre Unidade e Diversidade da Língua Portuguesa, mas como falar de diversidade sem pôr em causa a falsa “unidade” que a ameaça? (...)

A bondade linguística e o cadáver adiado
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O colóquio não era sobre ortografia, era sobre Unidade e Diversidade da Língua Portuguesa, mas como falar de diversidade sem pôr em causa a falsa “unidade” que a ameaça?
TEXTO: Quem for esta noite ao Coliseu de Lisboa (ou sexta-feira ao Coliseu do Porto) ouvirá Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo cantarem uma canção que a dado momento diz assim: “Tem pena d’eu”. Ou seja, “tem pena de mim”. A canção, um clássico não só do repertório nordestino mas de toda a música brasileira, é um baião, chama-se Sabiá e foi composta por Luiz Gonzaga e Zé Dantas em 1951. A frase citada, que os puristas considerarão errada, reproduz um dos muitos termos do falar nordestino, um falar que é aliás riquíssimo, não só em regionalismos como no uso de termos portugueses há muito em desuso. Ora a empatia que suscita a audição de Sabiá, tal como outras canções de Luiz Gonzaga ou Jackson do Pandeiro, só para citar dois dos compositores mais celebrados da música nordestina, conduz-nos a outro tipo de atracção: a das palavras, frases e termos que têm em si uma cultura e uma história, mesmo que os dicionários (excepto os de curiosidades ou regionalismos) não as acolham. Não foi bem disto que tratou o colóquio da Academia das Ciências de Lisboa da passada terça-feira, mas também foi disto. Expressões minoritárias, línguas nacionais em perigo de extinção (mormente algumas das africanas), falares que, por desconhecimento ou desprezo pretensamente erudito, se vêem reduzidos à classificação de “dialectos”. E se Adriano Moreira, na abertura, começou por dizer que “a língua não é nossa, também é nossa”, numa intervenção que se pretendeu esperançosa mas também eivada de cautelas (“o método da declaração seria mais recomendável”, disse ele já no final, referindo-se à CPLP, onde imperam imposições linguísticas), houve quem recordasse que em 1922, no centenário da independência do Brasil, o académico brasileiro Medeiros e Albuquerque (1867-1934) disse: “A supremacia da língua passou para nós” ou “o dono da língua, hoje, é o Brasil. ” Quem registou tais frases nas suas obras foi o escritor português João Araújo Correia (1899-1985), ali lembrado e saudado, que por sua vez escreveu: “considero insolúvel o problema ortográfico luso-brasileiro”; e, falando das reformas ortográficas que enxamearam a língua portuguesa ao longo de todo o século XX, sentenciou: “admite-se século a século, de oito em oito dias é demais!”O colóquio não era sobre ortografia, era sobre Unidade e Diversidade da Língua Portuguesa, mas como falar de diversidade sem pôr em causa a falsa “unidade” que a ameaça? Impossível. Porque sobre as mais singelas manifestações de bondade linguística continua a pairar a sombra de um cadáver adiado: o dito “acordo ortográfico” de 1990. Que foi directamente citado e posto em causa nalgumas das intervenções programadas (Ivo Miguel Barroso, Rafael Gomes Filipe, Manuel Alegre, Carmen de Frias e Gouveia, Fernando Paulo Baptista, este último recorrendo a uma exposição visual e quase poética da diversidade do planeta e do cosmos para melhor fazer entender a defesa da diversidade linguística e ortográfica), aflorado noutras e usado ou ignorado nas mais específicas, sobre neologismos ou crioulos (o português de Damão está vivo e recomenda-se, assegurou o padre António Colimão; assim como no Luxemburgo o português tem um forte peso social reafirmado em votação parlamentar, testemunhou António Callixto). Mas voltemos à diversidade. João Abel da Fonseca deu-se conta, numa visita recente a Moçambique, de um lote considerável de características dos falares locais, percebendo que o “abatanado” que bebe em Portugal ali se chama “banheira”, que um carro de transporte colectivo é “chapa my love” (vai tudo muito apertado, num involuntário “namoro”); que “xitimela” é, para muitos, comboio; e que “bichar, empeado pro vodacomes” é nada mais do que estar em fila, de pé, à espera de carregar com dinheiro o telemóvel. Ora se nos tempos da resistência se cantava “não há machado que corte a raiz ao pensamento” (Carlos de Oliveira na voz de Manuel Freire ou do Coro da Academia de Amadores de Música, aqui musicado por Fernando Lopes-Graça), também não há acordo ortográfico que “unifique” esta livre expressão. Desse ponto de vista, o colóquio foi profícuo, esperando-se agora que uma divulgação das comunicações permita relê-las e torná-las motor de novos debates, não só em prol do reconhecimento das variantes do português (faladas e ortográficas), como da perenidade das línguas maternas, sobretudo africanas, que com ele partilham vozes e nele se vão misturando, enriquecendo-o. Que triunfe, pois, a diversidade!
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Embaixada dos Estados Unidos em Madrid iça a bandeira gay contra a homofobia
Embaixador James Costos, um homossexual assumido, não passou ao lado do Dia Mundial contra a Homofobia. (...)

Embaixada dos Estados Unidos em Madrid iça a bandeira gay contra a homofobia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.416
DATA: 2014-05-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Embaixador James Costos, um homossexual assumido, não passou ao lado do Dia Mundial contra a Homofobia.
TEXTO: Na embaixada dos Estados Unidos, em Madrid, a bandeira multicolorida que simboliza o orgulho gay foi içada neste sábado, em celebração do Dia Mundial contra a Homofobia e a Transfobia. O acto foi assinalado pelo departamento de Estado norte-americano, e pelo Presidente Barack Obama, que em comunicado considerou que “as pessoas devem ser tratadas com igualdade, e nunca ser alvo de violência ou discriminação por causa de quem são ou de quem amam”, e lamentou o aumento dos casos de opressão e criminalização de homossexuais, bissexuais e transsexuais. O Dia Mundial contra a Homofobia e a Transfobia assinala a eliminação, em 1990, da homossexualidade da lista de doenças mentais reconhecida pela Organização Mundial de Saúde. Mas a transsexualidade ainda está incluída na lista e classificada como uma doença mental. O embaixador norte-americano em Espanha, James Costos, é um gay assumido, mas segundo explicou, a decisão de içar a bandeira do orgulho gay insere-se num programa de actividades relativas ao respeito pelos direitos humanos da delegação diplomática. — US Embassy Madrid (@USembassyMadrid) 17 maio 2014Em Espanha, a violência homofóbica está tipificada como um crime de ódio, e segundo as estatísticas oficiais, correspondem a cerca de 25% das denúncias. Em 2013, as autoridades registaram 452 delitos contra a orientação e identidade sexual – nesse ano, as agressões homofóbicas superaram os ataques racistas, que também se inscrevem na mesma categoria de crimes de ódio. O país vizinho reconheceu, em 2005, o direito dos homossexuais ao casamento. Mas em 78 países do mundo, as relações sexuais consentidas entre pessoas do mesmo sexo ainda são classificadas como crime: no Irão, Arábia Saudita, Iémen ou Sudão são mesmo punidas com pena de morte, enquanto por exemplo no Uganda a pena é prisão perpétua.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos morte humanos violência prisão doença sexo igualdade sexual casamento gay discriminação homofobia
E o Óscar é... jovem, negro e homossexual
Numa cerimónia bem-comportada que premiou o que se esperava, a surpresa surgiu à vista da meta com a vitória de Moonlight como melhor filme. Uma vitória histórica para um filme literalmente “à margem” da indústria. (...)

E o Óscar é... jovem, negro e homossexual
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento -0.03
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa cerimónia bem-comportada que premiou o que se esperava, a surpresa surgiu à vista da meta com a vitória de Moonlight como melhor filme. Uma vitória histórica para um filme literalmente “à margem” da indústria.
TEXTO: Os Óscares ficam sempre na história, por este ou aquele vencedor ou momento ou gague ou discurso ou celebração. Mas a cerimónia de 2017 vai sempre ser recordada pelo momento, pouco depois das cinco da manhã de 27 de Fevereiro em Lisboa, em que o filme que todos achavam que ia ganhar viu o Óscar ser-lhe tirado em cima do palco. Por esta altura já toda a gente sabe do erro de Faye Dunaway e Warren Beatty, a quem foi entregue por engano o cartão de vencedor de Melhor Actriz e não de Melhor Filme. (A PriceWaterhouseCoopers, consultoria responsável pela contagem de votos, assumiu entretanto por inteiro, num comunicado oficial, a responsabilidade do erro, anunciando que vai investigar como foi possível o envelope errado ter sido entregue aos apresentadores. ) Também já toda a gente sabe da elegância com que o produtor de La La Land Jordan Horowitz o corrigiu em palco, chamando a equipa de Moonlight para receber o prémio que lhes era devido. E desde logo pulularam na Internet as comparações (ou conspirações?) à eleição de Novembro (onde Hillary Clinton perdeu a presidência apesar de ter ganho no voto popular), como se a bolha liberal dos Óscares fosse uma compensação impossível pela vitória de Donald Trump. O que realmente importa, contudo, é outra coisa: a inesperada e improvável vitória de Moonlight de Barry Jenkins como Melhor Filme na madrugada de 26 para 27 de Fevereiro de 2017 é algo de histórico no cinema americano. Como diz Sean Fennessey logo a abrir a sua história no site The Ringer: “Nunca um filme com um orçamento tão pequeno, um elenco tão desconhecido, uma história tão pessoal, um resultado de bilheteira tão modesto e uma origem tão improvável recebeu a maior honra da indústria do cinema. ”La La Land – Melodia de Amor, o musical retro-consciente e escapista de Damien Chazelle que partia triunfador para esta 89. ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com um recorde de 14 nomeações, pode ter levado o maior número de estatuetas da noite (seis, incluindo melhor actriz para Emma Stone e melhor realização para Damien Chazelle). Mas perdeu à vista da meta “o” Óscar que marca para a vida, criando a surpresa e abrindo toda uma série de leituras possíveis para a cerimónia 2017. A começar pela “narrativa negra” — um ano cheio de vitórias de filmes e figuras negras, como compensação por todas as controvérsias #OscarsSoWhite de anos anteriores. A cerimónia entregou Melhor Filme, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Actor Secundário (Mahershala Ali, primeiro muçulmano a receber um Óscar) a Moonlight; melhor actriz secundária a Viola Davis (Vedações); melhor documentário para as oito horas de O. J. Made in America de Ezra Edelman, produzido para o canal de cabo ESPN. A leitura que interessa, contudo, transcende questões de cor da pele: os Óscares têm sistematicamente tendência a premiar a mediania e o conformismo, “aquilo que já sabemos que gostamos” em vez de “aquilo que é realmente fora de série. ” Ao dar o prémio máximo a Moonlight, a Academia decidiu premiar algo “fora de série”. Financiado fora dos grandes estúdios, Moonlight foi o menos visto dos nove nomeados a Melhor Filme (com apenas 23 milhões de dólares de receita americana), bem como o menos formatado e menos convencional. Jenkins, de 37 anos, com meia-dúzia de curtas e uma única longa em carteira (a excelente Medicine for Melancholy, exibida no IndieLisboa em 2008), adaptou com um elenco desconhecido e uma equipa composta de colegas da escola de cinema uma peça inédita do dramaturgo Tarell Alvin McCraney, In Moonlight Black Boys Look Blue, filmando no próprio bairro de Miami (Liberty City) onde o realizador cresceu. Contado em três tempos diferentes na educação do jovem Chiron (interpretado por três actores diferentes consoante a idade), Moonlight atira-se de cabeça a uma vivência que o cinema mainstream nunca abordou: o que significa ser jovem, negro, homossexual na América hoje (para que conste: McCraney é gay, Jenkins é heterossexual). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como aponta Aisha Harris na Slate, é a primeira vez que um filme com personagens negras que não aborda o racismo ganha o Óscar de melhor filme. E, para lá da cor da pele, é a primeira vez que um filme sobre uma personagem homossexual ganha o prémio máximo da Academia. Nem Filadélfia de Jonathan Demme, Milk de Gus van Sant ou O Segredo de Brokeback Mountain de Ang Lee o conseguiram. Os Óscares não deixaram por isso de ser mais do mesmo. Houve as previsíveis vitórias de solidariedade global (a segunda vitória do iraniano Asghar Farhadi em Melhor Filme Estrangeiro por O Vendedor, ou o galardão à curta documental The White Helmets, sobre os voluntários da defesa civil síria) e a homenagem ao profissionalismo rodado dos seus inúmeros técnicos e criativos, jovens ou veteranos (os prémios técnicos de La La Land, O Primeiro Encontro, O Herói de Hacksaw Ridge ou Monstros Fantásticos). E, se não tivesse havido o espalhafatoso twist final de Moonlight, por entre a gaffe de Bonnie e Clyde e o equilíbrio discreto de uma cerimónia que cumpriu os requisitos, a maioria dos prémios corresponderam às (boas ou más) expectativas dos observadores. Mas bastou uma gaffe, e uma vitória em que já ninguém acreditava, para inscrever os Óscares de 2017 na história dos galardões como uma noite especial que escreveu, literalmente, direito por linhas tortas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação negro racismo homossexual gay negra
Lisboa pede justiça para Vanesa, prostituta transgénero morta em Paris
Vanesa morreu em meados de Agosto, alvejada, enquanto tentava defender um cliente. Em sua memória, foram marcadas várias manifestações em vários pontos do globo. (...)

Lisboa pede justiça para Vanesa, prostituta transgénero morta em Paris
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vanesa morreu em meados de Agosto, alvejada, enquanto tentava defender um cliente. Em sua memória, foram marcadas várias manifestações em vários pontos do globo.
TEXTO: Nos últimos oito anos, foram reportados 2609 homicídios de pessoas transgénero em 71 países. Vanesa Campos faz parte desse número. A morte da prostituta, na noite de 16 para 17 de Agosto, em Paris, vai motivar um conjunto de acções de protesto a nível internacional — de Perth (Austrália) a Bogotá (Colômbia), passando por Amesterdão (Holanda). Em Portugal, está marcada uma manifestação no jardim de Santos, em Lisboa, próximo da embaixada de França, para a próxima sexta-feira. A organização pede a “descriminalização de todos os aspectos do trabalho sexual” e a sua “aceitação como profissão”. Vanesa Campos, 36 anos, vivia há apenas dois anos em França. A mulher transgénero, de origem peruana, sustentava-se através do trabalho sexual, que lhe permitia enviar algumas somas de dinheiro à família. Foi alvejada, enquanto defendia um cliente de uma tentativa de assalto, em meados de Agosto, num jardim em Paris — o Bosque de Bolonha, um conhecido local de trabalho de prostitutas. Foi a 10. ª trabalhadora do sexo a morrer neste local nos últimos anos, de acordo com o jornal local Le Parisien. Na sequência do crime, foram detidos cinco suspeitos, que serão presentes a tribunal com o arrancar dos procedimentos judiciais, ainda durante este mês. Sexta-feira das 18h às 21hJardim de Santos (traseiras da embaixada de França), LisboaA história de Vanesa tem motivado vários protestos e homenagens. O primeiro aconteceu em Paris, apenas uns dias após a sua morte. A marcha juntou trabalhadores do sexo e militantes LGBT e desfilou até ao local onde Vanesa morreu. Entre rosas brancas, apontou-se o dedo à classe política, pela adopção de uma lei sobre o trabalho sexual que criminaliza os clientes que procuram estes serviços. Em Portugal, esta homenagem será a primeira. Sacha Montfort, membro da associação transexual e não-binária TransMissão, falou ao PÚBLICO sobre a acção de protesto, que está a organizar. Explica que servirá como uma homenagem a Vanesa, um exemplo que mobiliza “associações anti-racistas, dos direitos das trabalhadoras do sexo e associações trans”. “É mais uma mulher trans morta. Acontece demasiadas vezes. É terrível. Trouxe-nos logo memórias da Gisberta”, lamenta Montfort. Gisberta era uma prostituta transgénero, de origem brasileira, agredida e morta por um grupo de rapazes em 2006, num prédio abandonado do Porto. De acordo com este activista, a legislação francesa sobre o trabalho sexual empurrou Vanesa para uma situação mais perigosa do que o necessário: “Este tipo de criminalização [dos clientes, à semelhança do modelo nórdico] é nocivo para as trabalhadoras do sexo. ” “Coloca os clientes em risco. Eles pedem mais privacidade, o que as leva a trabalhar na maior confidencialidade e na menor segurança. Foi assim que a Vanesa Campos morreu. ”Também Mara Clemente, investigadora do ISCTE, membro do Grupo Interdisciplinar de Investigadores sobre Trabalho Sexual (GIITS) e organizadora da manifestação em memória de Vanesa, acredita que foi a legislação francesa que ditou a morte da prostituta peruana. “Eu acho que essa lei contribui para (. . . ) a morte da Vanesa Campos. E não é só a minha opinião, é a de todos os activistas”, diz. A lei em Portugal é diferente. A prostituição não é ilegal, mas está proibida a promoção, facilitação ou lucro de terceiros — por isso, a penalização recai sobre os proxenetas —, o que, na opinião dos dois activistas entrevistados pelo PÚBLICO, acaba por funcionar de forma igualmente negativa para as prostitutas. “A definição de proxeneta é muito lata e estende-se a todas as pessoas que podem fazer parte do círculo de proximidade e amizade destas pessoas. Amigos, namorados, redes de apoio. Isola-as muito. Não podem procurar ajuda, porque as pessoas podem ser acusadas de proxenetismo”, sintetiza Sacha Montfort. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E há algo que não está garantido em nenhum dos dois cenários: direitos e protecção social. “Há que defender direitos básicos de cidadania, como o direito a viver em segurança (. . . ) para trabalhadoras do sexo, migrantes e pessoas trans”, sublinha a investigadora Mara Clemente. “Não se deve chegar a casos como o da Vanesa Campos ou o da Gisberta para deixar de lado a indiferença”, continua Mara Clemente, “especialmente em casos em que as pessoas estão expostas a vulnerabilidades múltiplas, porque se encontram numa intersecção em que se juntam o trabalho sexual, a experiência migratória e [o facto de] serem pessoas trans. ”É também por aí que passam os pedidos das associações que organizaram esta manifestação. Sacha Montfort resume-os: “O que nós queremos é uma despenalização total dos trabalhadores do sexo” e “dizer-lhes que podem trabalhar em segurança, com direitos laborais e segurança social”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos morte lei tribunal mulher ajuda social prostituição sexo sexual morta assalto ilegal lgbt transexual prostituta
Queer Lisboa sob o signo da maioridade
A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema Queer tem a programação mais abrangente de sempre, confirmando o desejo da organização de abrir a outros e mais públicos. A abertura é esta sexta-feira com o filme brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. (...)

Queer Lisboa sob o signo da maioridade
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema Queer tem a programação mais abrangente de sempre, confirmando o desejo da organização de abrir a outros e mais públicos. A abertura é esta sexta-feira com o filme brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho.
TEXTO: A haver ano em que o Queer Lisboa possa “dar o salto” para um público mais alargado e abrangente, será este. A 18ª edição do certame de cinema de temática queer (bissexualidade, homossexualidade feminina e masculina, transgénero) inicia-se esta sexta-feira no Cinema São Jorge e, ao longo dos próximos nove dias, propõe filmes e ciclos que transcendem em parte o simples “armário” em que o cinema queer tem tido tendência a encerrar-se. A abertura e o fecho, por exemplo, fazem-se com filmes provenientes do fervilhante momento que o cinema brasileiro vive e que tem atraído a atenção dos grandes festivais internacionais, com O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, como “ponta-de-lança”. A inauguração oficial é esta sexta-feira à noite, com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, “expansão” por Daniel Ribeiro da sua curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho (premiada, curiosamente, no Queer 2012), e recém-chegada do Panorama de Berlim 2014, onde foi muitíssimo bem recebida; o encerramento, no sábado, 27, é com um filme do veterano Bruno Barreto (o autor de Dona Flor e Seus Dois Maridos), Flores Raras, baseado num affaire lésbico verídico que teve lugar no Brasil dos anos 1950 e que conta nos papéis principais com Glória Pires e a actriz australiana Miranda Otto. A retrospectiva principal pertence a John Waters, um dos ícones do cinema independente americano anterior à sua “absorção” pelo sistema de Hollywood nos anos 1990, e realizador mais conhecido pela dimensão genericamente transgressiva da sua obra do que propriamente pela sua conotação com uma qualquer sensibilidade queer (apesar da presença do lendário travesti Divine). E o ciclo paralelo Queer Focus África tem como ponto alto a exibição de um dos filmes-chave do cinema africano pós-colonial, Touki Bouki, do senegalês Djibril Diop Mambety, um daqueles objectos que foi sendo falado de boca em boca, mas que só após o seu restauro em 2008 pela World Cinema Foundation, de Martin Scorsese, foi finalmente reconhecido mundialmente – e que em nenhum momento dos seus 40 anos de idade foi identificado como um “filme queer”. João Ferreira, director do festival, sempre defendeu em entrevistas ser importante para o Queer Lisboa “sair do armário”, assumir uma vocação de festival abrangente e aberto, e edições anteriores permitiram ver filmes de François Ozon, Claire Denis ou Nagisa Oshima. Mas – talvez para brincar com esta ser a 18ª edição, a idade da maioridade. . . – é este ano que mais se sente essa vontade de se abrir ao público. Que coincide igualmente com um momento de transição global para a visibilidade e aceitação da comunidade LGBT, com o terreno ganho em todo o mundo pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo a contrastar com o recrudescimento da intolerância para com a homossexualidade em África ou na Federação Russa. Perguntar, no entanto, se isto se reflecte minimamente na visibilidade do cinema queer no cada vez mais fragmentado mercado cinematográfico (português ou estrangeiro) é exercício inútil. Se a regularidade do Queer já o tornou num dos pontos de paragem obrigatórios da rentrée do circuito de festivais portugueses, o seu impacto no mercado de exibição e distribuição continua a ser inexistente. A grande maioria dos filmes mostrados no certame raramente têm difusão pelos circuitos tradicionais de exibição, e obras mais abrangentes acabam por ficar de fora para não serem excessivamente conotados com uma etiqueta que lhes pode limitar a audiência. Mas que a etiqueta “queer” já não é forçosamente o “veneno” de outros tempos é comprovado pela estreia coincidente na televisão portuguesa de Looking, a série de comédia do canal HBO sobre as aventuras de três amigos gay em São Francisco que, estreada em Janeiro último, foi redutoramente descrita como “a versão gay de Sexo e a Cidade” (começou esta semana no canal de sinal codificado TVSéries e passa todas as quintas-feiras, às 23h). Que foi acompanhada por um programa de filmes queer nos canais TVCine e TVSéries (como a biografia de Liberace, por Steven Soderbergh, com Michael Douglas, Por Detrás do Candelabro, a adaptação televisiva, por Mike Nichols, da peça premiada Anjos na América, com Al Pacino e Meryl Streep, ou o telefilme vencedor de Emmy sobre a luta contra a sida, Um Coração Normal, com Julia Roberts). Algo que era impensável há alguns anos e que confirma que, 18 anos depois do primeiro Queer Lisboa, o armário está cada vez mais aberto.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Orbán vai suceder a Orbán na Hungria, após quatro anos de conflito com a UE
A oposição de esquerda uniu-se, quase em cima das eleições, para tentar fazer frente ao partido do primeiro-ministro que foi alvo de tantas críticas da UE. Mas isso de pouco deve adiantar. A extrema-direita ganha terreno. (...)

Orbán vai suceder a Orbán na Hungria, após quatro anos de conflito com a UE
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501205158/http://www.publico.pt/1631131
SUMÁRIO: A oposição de esquerda uniu-se, quase em cima das eleições, para tentar fazer frente ao partido do primeiro-ministro que foi alvo de tantas críticas da UE. Mas isso de pouco deve adiantar. A extrema-direita ganha terreno.
TEXTO: Após quatro anos de sucessivos conflitos com a União Europeia do governo de Viktor Orbán, quem vai ganhar as eleições deste domingo na Hungria? Viktor Orbán, pois claro, e é provável que volte a ter uma maioria absoluta, ou mesmo de dois terços, fruto das alterações da lei eleitoral e da falta de entusiasmo dos eleitores pelas alternativas políticas. Mas também por causa da sociedade que o primeiro-ministro refez a seu gosto, e que se assemelha cada vez menos a uma democracia normal, como diz o ex-chefe de Governo Gordon Bajnai. “Estas eleições serão livres no sentido em que se poderá colocar o voto secreto numa urna, mas não serão justas”, diz Bajnai, que liderou um Executivo tecnocrata de transição, entre Abril de 2009 e 29 de Maio de 2010, após o primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsány ter anunciado a sua demissão. “Orbán está a tentar construir um país pós-soviético, seguindo o modelo das repúblicas da Ásia Central, da Ucrânia ou da Bielorússia. A Hungria está a caminho de se tornar uma democracia altamente danificada”, disse à revista The Economist. O Parlamento Europeu aprovou em Julho um relatório do eurodeputado português Rui Tavares que censurava as medidas mais controversas tomadas pelo populista Orbán e recomendava 30 iniciativas para que se ajustasse às normas, comunitárias, citicando as mais de 500 alterações efectuadas à lei húngara logo no primeiro ano de governação, que tiveram efeito sobre a justiça, as liberdades públicas, religiosa e de imprensa. Propunha também medidas para a União Europeia lutar contra futuras ameças ao Estado de direito no espaço dos Vinte e Oito. Mas, contra ventos e marés, Orbán mantém-se firme. Já governação do economista Bajnai deixou boas recordações, pelo contraste em relação a Gyurcsány. A impopularidade do primeiro-ministro socialista era enorme, porque tinha enviado tropas de choque contra os protestos violentos em Budapeste depois de terem sido tornadas públicas gravações de uma reunião do Partido Socialista Húngaro (MSZP), em que dizia ser “óbvio que andámos a mentir durante o último ano e meio a dois anos”. Bajnai esteve vários anos nos Estados Unidos, e quando voltou fundou um partido político – o Juntos 2014, centrista. Mas não conseguiu mobilizar a oposição. No entanto, após muitas negociações, que na verdade duraram os quatro anos de mandato de Viktor Orbán, os principais partidos da oposição conseguiram formar uma aliança eleitoral contra o Fidesz, de Orbán, que tem uma sólida base eleitoral fora de Budapeste. Ao Juntos 2014 de Bajnai uniram-se o Partido Socialista, a Coligação Democrática de Gyurcsány, o partido verde-liberal LMP (cuja sigla significa, em húngaro, a política pode ser diferente) e o Partido Liberal. O líder formal da aliança é o socialista Attila Mesterhazy. Mas só em Janeiro conseguiram anunciar esta aliança, o que lhes deu muito pouco tempo para passar a mensagem de oposição unida. O Instituto de sondagens Median dá-lhe 23% das intenções de voto, enquanto o Fidesz deverá ter 47%. Outras sondagens dão-lhe apenas 36% – mas ninguém duvida de que continuará a dominar o Parlamento, pois a nova lei eleitoral, dizem os especialistas, favorece este partido. A reforma da lei eleitoral era necessária: a antiga era ainda uma amálgama do sistema comunista com algumas actualizações. Nenhum governo tinha conseguido a maioria de dois terços necessária para fazer as mudanças. Mas a forma como foi feita suscita preocupações. O número de deputados foi reduzido de 386 para 199, suprimiu-se a segunda volta, e os círculos eleitorais foram redesenhados de uma forma que deverá favorecer o Fidesz. A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) manifestou-se preocupada. Com menos de 50% dos votos, Viktor Orbán pode facilmente obter uma maioria de dois terços no Parlamento, sublinha a especialista em sistemas constitucionais da Universidade de Princeton (EUA) Kim Lane Scheppele, que tem escrito muito sobre a Hungria no blogue do economista Paul Krugman no New York Times. Jobbik limpa imagemO terceiro elemento deste jogo é o partido de extrema-direita, anti-semita e anti-ciganos Jobbik, a quem as sondagens atribuem um máximo de 21% dos votos (em 2010, tinham tido 17%), graças a uma estratégia de limpeza da sua imagem, como a empreendida em França pela Frente Nacional, de Marine Le Pen. Menos discursos racistas, mais sorrisos: este é o lema não oficial da campanha do partido liderado por Gabor Vona. Famílias, jovens e estudantes são os seus alvos privilegiados. “Há cerca de um ano, decidiram refazer a sua imagem, afastar-se do extremismo, para sobreviverem e progredirem”, explicou à AFP Kristof Domina, presidente do Instituto Athena, um observatório dos movimentos extremistas na Hungria.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA OSCE
Tóli César Machado deixou os GNR temporariamente sós para fazer um disco “menos mainstream”
Passou da bateria para o acordeão, e daí para as teclas e para a guitarra. Com os GNR, a sua banda de sempre, Tóli César Machado foi-se aproximando da frente do palco. Demorou quase 40 anos a chegar a Contrário da Escuridão, o seu primeiro disco a solo. (...)

Tóli César Machado deixou os GNR temporariamente sós para fazer um disco “menos mainstream”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento -0.08
DATA: 2018-06-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passou da bateria para o acordeão, e daí para as teclas e para a guitarra. Com os GNR, a sua banda de sempre, Tóli César Machado foi-se aproximando da frente do palco. Demorou quase 40 anos a chegar a Contrário da Escuridão, o seu primeiro disco a solo.
TEXTO: "Um disco muito cinematográfico", inspirado na sétima arte e nas bandas sonoras que compôs para telefilmes que animavam os ecrãs nacionais no virar do século: Amo-te Teresa (2000) ou Amor Perdido (2001). Mas não um disco de "paisagens sonoras". O conjunto de canções que Tóli César Machado criou sob uma máscara translúcida — chamou-lhe Espírito — põe as palavras no centro da música. O compositor dos GNR, que assina aqui o seu primeiro projecto a solo, é lacónico: ouvir este disco "é ler". Tem a ver com a alma, com a essência, "é uma coisa mais íntima". Espírito poderia ser descrito pelo que José Luís Peixoto escreveu para Marcela Freitas cantar em Contrário da escuridão, o single que dá nome ao álbum: "aquilo que sobra, aquilo que ninguém quer; um nó embaraçado, um resto de fado, um nada qualquer". "As letras são muito importantes, principalmente quando é em português", diz Tóli. Se se pudesse pensar que a música seria a única preocupação de alguém habituado a trabalhar com Rui Reininho, o compositor reponde que é ele quem sai "super valorizado por ter aqueles poemas" no disco. E os poemas são do escritor José Luís Peixoto e dos letristas Tiago Torres da Silva, Mário Alves e Jónatas Pires. Contrário da Escuridão, o disco, celebra o espírito lusófono, é um retrato sobre diáspora e interculturalidade. Passa por terras africanas, com a colaboração da luso-moçambicana Selma Uamusse, e chega ao Brasil com Dom La Nena. Mas que também se arrisca no fado com Ricardo Ribeiro, que não é bem tradicional, "é um bocadinho mais árabe, mais cigano, sai dali do fado e abrange outras coisas". Os artistas foram escolhidos a dedo. Tóli diz que "há pessoas que não se conseguem substituir" e, "por incrível que pareça", os convites foram aceites. Atirou o barro à parede, Dom La Nena aceitou – "que sorte, não é?". Canta, toca violoncelo, guitarra eléctrica: "é uma artista completamente alternativa". Quis alguém assim, não uma Ivete Sangalo ou uma Maria Bethânia. E o convite para a artista franco-brasileira, que esteve em Portugal em 2015 para apresentar Soyo, seguiu mesmo sem Tóli a conhecer. Rui Maia, o produtor do disco, enviou-lhe a melodia, a letra, e Dom La Nena gravou em Paris. Cantou "à maneira dela com a liberdade toda e a coisa resultou". Foi a Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mãos Morta — Tóli exagera: "o último artista que ainda não se vendeu em Portugal" — que coube azedar uma doce melodia, a de Enlouquece toda a gente, com algo "meio falado, meio pausado". Por fim, os toques essenciais das duas instrumentistas Luísa César Machado, no baixo e contrabaixo, e da violinista Ianina Khmelik, que conhece há pelo menos uma década — convidada habitual dos GNR — e com quem tem "uma química a tocar". O produtor de X-Wife e Mirror People, Rui Maia, foi "a pessoa certa para comandar este projecto". São dele os arranjos. Na verdade, era para ser um disco instrumental mas "as coisas foram crescendo". Pôs a hipótese de um ou dois convidados e, de repente, "dois passaram para quatro e para cinco" e por aí fora. Contrário da Escuridão foi lançado há dois meses, em Abril, apesar de só agora o músico portuense ter descido a Lisboa para uma ronda promocional com os jornalistas. Mas era "um disco que já cheirava a mofo" e que, depois de uma dura batalha entre financiamentos e direitos autorais, conseguiu ter agora cá fora. O resultado agrada-o: é um álbum diferente, "menos mainstream entre aspas". Este projecto a solo estava planeado há cinco, seis anos. Coincidiu com o período em que estava a compor, com os GNR, o último álbum de estúdio, Caixa Negra (2015), um "voltar atrás" no qual "o Rui [Reininho] canta, o Jorge [Romão] toca o baixo" e Tóli César Machado acabou por tocar guitarra, bateria e teclados. "É engraçado porque tem ali alguns sons que são usados num e noutro mas isso é normal, estava nas duas frentes", explica. Apesar de ser um disco que não vendeu muito, a crítica gostou e o fundador dos GNR também considera Caixa Negra "um disco muito feliz", que conseguiu espelhar a essência da banda, dispensando convidados. Chamar músicos de fora pode ter um senão: "A gente pode recorrer a músicos fantásticos, mas às vezes o som fica assim meio desvirtuado". Até por isso, decidiu assumir outras funções na banda, pegando na guitarra. A certa altura, apercebeu-se que "os guitarristas convidados, não era de propósito, mas estavam de alguma maneira a estragar o som [da banda] e era mais fácil meter [a tocar guitarra] um baterista que estava lá atrás do que estar a entregar o ouro ao bandido". A inspiração para o novo disco também veio de músicas mais antigas dos GNR, como Coimbra B do álbum Psicopátria (1986), quando assumiu a posição de compositor e produtor. Se há disco dos GNR que se tornou um clássico foi este que, tendo sido um sucesso, os pôs "na boca do povo". E foi precisamente em 2016, altura em que estava a compor para Contrário da Escuridão, que a banda revisitou Psicopátria na íntegra para celebrar os 30 anos do álbum, numa série de concertos, entre os quais no Teatro Rivoli, onde se voltaram a ouvir os acordes de Coimbra B. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas a carreira de Tóli César Machado não se fez só de GNR. No ano seguinte, compôs uma música, My paradise, interpretada por David Gomes para o Festival da Canção. Acredita ter "dado um tiro no pé" ao escolher uma música em inglês, que acabou classificada em penúltimo lugar. Porém, gostou da experiência, sendo "dado quase adquirido" uma nova colaboração com o jovem cantor, para quem já tem algumas canções em mente. Com este novo álbum a solo, o objectivo era "afastar-se e nunca ser tipo um projecto paralelo" daquele que é o seu "emprego há, pelo menos, 36 anos". Mas esta não é a primeira vez que um membro dos GNR lança um projecto a solo. Em 2008, Rui Reininho lançou Companhia das Índias. Não nega que o protagonismo de Reininho possa "ter tido inconscientemente" alguma influência na vontade de criar um disco seu, mas garante que "não há ressentimento nenhum". Apesar de este disco levar apenas o seu nome, Tóli faz questão de lembrar que este é um trabalho colectivo. Para breve, está o lançamento de um novo single dos GNR, já gravado, que deverá sair daqui a um ou dois meses. Quanto ao próximo álbum, depois vão "fazendo o resto": nos dias de hoje, "isto é como os taxistas, temos de nos adaptar e habituar que a Uber existe". Texto editado por Hugo Torres
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Sistema de justiça desconsidera "os arguidos e os reclusos mais frágeis”
Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos venceu Prémio dos Direitos Humanos da Assembleia da República. A tensão dos últimos dias nas prisões, diz o seu fundador, é apenas “uma repetição do que se tem passado nos últimos anos”. (...)

Sistema de justiça desconsidera "os arguidos e os reclusos mais frágeis”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos venceu Prémio dos Direitos Humanos da Assembleia da República. A tensão dos últimos dias nas prisões, diz o seu fundador, é apenas “uma repetição do que se tem passado nos últimos anos”.
TEXTO: “É preciso começar a colocar na opinião pública a ideia de que as prisões são instituições indignas daquilo que é a civilização no século XXI”, afirmou nesta segunda-feira Manuel Almeida dos Santos, presidente da Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos (OVAR). No seu discurso, na cerimónia de entrega do Prémio Direitos Humanos 2018, atribuído à OVAR pela Assembleia da República, Almeida dos Santos destapou em poucos minutos aquilo que “a sociedade não quer ver”, como se referiu depois em declarações ao PÚBLICO: um rol de situações “desumanas” nas prisões de que raramente (ou nunca) se fala. A sua mensagem foi dirigida aos deputados, ao Governo, mas sobretudo à sociedade no seu todo. No final da cerimónia na Sala do Senado, que contou com a presença do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, questionado pelo PÚBLICO sobre a tensão nas prisões, agravada nos últimos dias pelas greves dos guardas prisionais, apenas disse: “Infelizmente é uma repetição do que se tem passado nos últimos anos. ”E o que se passa “é uma realidade que a sociedade não quer ver". No seu discurso apontou um caminho: o fim das prisões. “As estruturas de direitos humanos das Nações Unidas têm recomendado a substituição da via punitiva pelas vias da reabilitação e da justiça restaurativa. "“Será uma utopia?”, questionou. E respondeu citando António Arnaut, que foi deputado e responsável pela criação do Serviço Nacional de Saúde: “‘Utopia? Talvez. Mas utopia (…) não é o impossível. É o lugar do encontro. E esse lugar está dentro de nós. ’”Manuel Almeida dos Santos descreveu as prisões como “instituições retrógradas, arcaicas, medonhas, medievais e violentas”. Frente a uma plateia de altos representantes políticos e militares – como a ministra da Justiça e o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas – deputados e convidados usou da palavra para dizer que Portugal não cumpre as regras constantes nos protocolos internacionais que assina. “Portugal é dos países que mais tratados, convenções e protocolos de direitos humanos tem assinado e ratificado e ainda bem que é assim”, disse, mas estes referenciais “são normativos jurídicos e, portanto, têm de ser cumpridos”. E exemplificou: “Assiste-se ao desrespeito do espírito da Constituição da República Portuguesa e do Código Penal com a permissão de que o tempo consecutivo de permanência na prisão exceda os 25 anos nos casos das penas sucessivas e das medidas de segurança, configurando a prisão perpétua constitucionalmente proibida”, e “persiste-se nas penas mais longas da União Europeia – o tempo médio de cumprimento de pena em Portugal é o triplo da média". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Qualificou de “quase inexistente” a dinâmica de reinserção do recluso, também porque “o actual sistema prisional e de justiça é aterrador, frio, desumano e tecnocrático, desconsiderando os arguidos e os reclusos mais frágeis”. Lamentou a “aceitação acrítica sobre a vivência dos bebés no interior das prisões acompanhando o cumprimento de penas das suas mães”. E denunciou “um patente autismo da sociedade em geral e do poder político em particular” face ao desrespeito do direito do recluso e da sua família de serem tratados com dignidade. Já depois de manifestar “gratidão” pelo prémio, partilhou-o “com todos os que são sensíveis ao respeito pelos direitos humanos”. A Assembleia da República atribuiu a medalha de ouro comemorativa do 70. º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos a Joana Gorjão Henriques, jornalista do PÚBLICO, pelas reportagens sobre o racismo e a discriminação e, em particular, à obra “Racismo à Portuguesa” publicada pela Tinta-da-China. Os outros dois distinguidos com a medalha de ouro foram a Letras Nómadas – Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas e a Orquestra Geração, com 11 anos de existência. Em nome da Letras Nómadas, a presidente Olga Natália Mariano congratulou-se pela “mudança de mentalidade” que este reconhecimento revela e frisou a importância da educação numa perspectiva de “inclusão na diversidade” e “não de assimilação” da comunidade cigana. António Wagner Diniz, responsável da Orquestra Geração, apelou, por seu lado, à criação de uma disciplina de música no ensino formal desde o jardim-de-infância ao fim do secundário, em Portugal. “Se conseguirmos isto, mais do que uma revolução, conseguiremos algo de transcendental”, declarou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos educação prisão racismo comunidade discriminação