A inabalável confiança da Frente Nacional e a desmoralização dos sindicatos
A três semanas das eleições europeias, Marine Le Pen quis exibir a cada vez maior força do seu partido, que espera uma vitória histórica nas eleições europeias. No 1.º de Maio parisiense, os trabalhadores saíram à rua para condenar as medidas de austeridade do Governo de Valls. (...)

A inabalável confiança da Frente Nacional e a desmoralização dos sindicatos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A três semanas das eleições europeias, Marine Le Pen quis exibir a cada vez maior força do seu partido, que espera uma vitória histórica nas eleições europeias. No 1.º de Maio parisiense, os trabalhadores saíram à rua para condenar as medidas de austeridade do Governo de Valls.
TEXTO: A esplanada do Café de La Paix, em Paris, é uma das mais célebres do mundo. Clientes de todo o mundo fazem fila para se poderem sentar no mesmo local imaginando as conversas, noutros tempos, de Émile Zola, Guy de Maupassant, entre outros clientes habituais ilustres. Mas neste 1. º de Maio, os protagonistas na Praça da Ópera foram outros, mais ruidosos e não menos polémicos. A Frente Nacional (FN) celebrou o “seu” 1. º de Maio no famoso café e deu uma demonstração de grande confiança, quando falta menos de um mês para as eleições para o Parlamento Europeu de 15 de Maio. Quanto ao Café de La Paix, as suas cobiçadas esplanadas tiveram de ser recolhidas para dar lugar ao “show” de Marine Le Pen. Há já 27 anos que a FN reserva para esta data a celebração em honra de Joana d'Arc, a heroína e mártir, símbolo da resistência francesa contra a ocupação britânica durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). No palco onde decorreu o comício do partido nacionalista e de extrema-direita estava um grande cartaz com o slogan “Não a Bruxelas, Sim à França” e a imagem de Joana d'Arc a soprar para longe as estrelas da bandeira da União Europeia. Houve uma pequena acção de protesto, mas não perturbou a jornada da FN. Enquanto Marine Le Pen e o seu núcleo mais próximo marchavam em direcção à Praça da Ópera, duas activistas do grupo Femen abalroaram a comitiva e foram imediatamente neutralizadas pelo forte aparato de segurança, enquanto lançavam gritos de “fascismo, epidemia!”. Foi com as baterias apontadas às eleições de 25 de Maio que Marine Le Pen se dirigiu aos cerca de cinco mil militantes e simpatizantes da Frente Nacional que enfrentaram a chuva persistente na Opéra. “O sistema europeísta não pode ser reformado”, afirmou, após uma subida triunfal ao palco, ao som de uma marcha instrumental. Criticou o “utilitarismo de Bruxelas” e as “elites francesas que defendem uma visão pós-francesa” do país. “Não me decepcionem”As eleições europeias do final do mês vão ser o grande teste à popularidade crescente da Frente Nacional e dos partidos antieuropeus. Le Pen sabe-o bem e deixou um apelo muito claro: “Não caiam na armadilha da abstenção, não me decepcionem e votem. ”Praticamente todas as sondagens apontam para uma vitória do partido de extrema-direita nas europeias, à frente da UMP (centro-direita) e o Partido Socialista, no poder. Apesar da vantagem da FN, a abstenção deverá atingir máximos históricos e Le Pen, que continua a pensar na Presidência da República (os seus apoiantes gritavam “Le Pen Presidente!”), quer uma vitória firme. O 1. º de Maio serviu também para uma demonstração de força de um partido cada vez mais confiante e que pretende afirmar-se como uma alternativa no poder em França. Orgulhosos, desfilaram, um por um, de faixa tricolor ao peito, os presidentes de câmara eleitos pela Frente Nacional nas eleições municipais do final de Março. Longe de recolher um grande apoio na capital francesa, a Frente Nacional consegue captar os votos de pequenas cidades. Adrien Mexis foi eleito conselheiro municipal há um mês pelo partido nacionalista em Istres, no Sul da França. Ao PÚBLICO, Mexis critica as “reformas impostas por Bruxelas” e diz saber do que fala, não tivesse sido ele funcionário da Comissão Europeia durante seis anos. O conselheiro reconhece que será difícil conseguir uma maioria no Parlamento Europeu, mas explica que a Frente Nacional tem uma perspectiva de longo prazo. Para já, diz, “vamos limitar os danos” feitos por Bruxelas. “Onde somos eleitos furamos o consenso instalado e as pessoas vão ver que fazemos o diagnóstico correcto”, declara. A luta contra a livre circulação de pessoas está presente no ADN da Frente Nacional e Mexis dá um exemplo muito concreto, dizendo que na sua rua vivem muitos “ciganos”. “Não se pode fazer nada”, lamenta. Entre o Curdistão e o esperantoAlgumas horas mais tarde, o cenário na Praça da Bastilha despertaria um acesso de cólera a Le Pen ou a qualquer militante da Frente Nacional. Por toda a praça se ouvia música turca, africana e árabe, e o cheiro típico dos kebab transportava qualquer pessoa para um souk (mercado árabe). Aquele local, símbolo da Revolução Francesa, foi o escolhido por algumas das principais centrais sindicais para celebrar o Dia do Trabalhador. A mobilização sindical foi “fraca”, reconheceu ao PÚBLICO Michel Allain, da delegação parisiense da Frente Operária (FO). Sob fogo está o “Pacto de Responsabilidade”, que prevê aligeirar os impostos sobre o trabalho pagos pelas empresas a troco da criação de mais empregos, mas exige também um programa de cortes na despesa pública de 50 mil milhões de euros, com o objectivo de cumprir a meta do défice acordada com Bruxelas.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Crianças ciganas de Beja vão ser distribuídas por várias escolas
A maioria das 70 crianças de etnia cigana de Beja ficará no agrupamento de escolas de Santa Maria, que defendia que pelo menos 50 por cento destes alunos fossem integrados noutros estabelecimentos. (...)

Crianças ciganas de Beja vão ser distribuídas por várias escolas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: A maioria das 70 crianças de etnia cigana de Beja ficará no agrupamento de escolas de Santa Maria, que defendia que pelo menos 50 por cento destes alunos fossem integrados noutros estabelecimentos.
TEXTO: A comunidade cigana do Bairro das Pedreiras diz que desconhece a celeuma que se levantou à volta da integração do seus filhos na rede escolar. Nenhum deles confirmou ter sido contactado sobre a possível colocação dos seus filhos noutras escolas. "Os nossos filhos só vão para a escola de Santa Maria", disse ontem, irredutível, uma das mães. Mas "se não os quiserem lá, a gente tira os mocinhos da escola", reforçou outro pai, frisando que "os filhos devem estar junto dos outros" não-ciganos. Fazer de forma diferente " é racismo". O conflito que opôs, durante as últimas semanas, as direcções dos três agrupamentos de escolas de Beja (Santa Maria, Santiago Maior e Mário Beirão) foi ontem superado. A directora do agrupamento de Mário Beirão, Dulce Alves, explicou ao PÚBLICO que o consenso foi estabelecido com base "numa decisão acordada para o ano lectivo 2010/2011". Foi então acertado entre a Direcção Regional de Educação do Alentejo (DREA) e os três agrupamentos de escolas de Beja que as crianças oriundas do Bairro das Pedreiras, onde vive uma comunidade cigana com cerca de 400 pessoas, seriam redistribuídas "de forma gradual" pelos três agrupamentos. Assim, as crianças que se inscrevam pela primeira vez na educação pré-escolar e no primeiro ano do primeiro ciclo "seriam distribuídas pelos agrupamentos Mário Beirão e Santiago Maior", disse Dulce Alves, adiantando que foi necessário efectuar uma redefinição das zonas de influências dos dois agrupamentos que "alargou ao Bairro das Pedreiras" para que fosse possível receber os alunos da comunidade cigana. Com este acordo "entraram as crianças que tinham de entrar [três]" nos agrupamentos de Mário Beirão e Santiago Maior. E como "não houve nada que denunciasse" o acordo, este manteve-se em vigor para o ano lectivo de 2011/2012, salientou Dulce Alves. Por isso estranha que tenha sido levantada novamente a questão das crianças ciganas do Bairro das Pedreiras, que foram mantidas durante o último ano lectivo, a frequentar as aulas numa unidade militar. O agrupamento de Mário Beirão vai, desta forma, receber do Bairro das Pedreiras seis crianças de etnia cigana, no próximo ano lectivo, sensivelmente o mesmo número de crianças que irão para o agrupamento de Santiago Maior, partindo da premissa expressa no acordo de há um ano, que prevê uma redistribuição "gradual e equitativa" das crianças inscritas no primeiro ano do primeiro ciclo de escolaridade. Margarida Lucas, que é presidente da Associação de Pais do agrupamento de Santa Maria, não toma, para já, uma posição, alegando desconhecer "o teor do que foi acordado". O director Regional da Educação do Alentejo, José Verdasca, não presta declarações e a directora do agrupamento de escolas de Santa Maria, Domingas Velez, está demissionária e incontactável.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação racismo comunidade
Eurodeputado do PS chama "cigana" e "não só pelo aspecto" a deputada socialista
PS de Bruxelas diz que Manuel dos Santos não falou enquanto eurodeputado. O socialista acusou Luísa Salgueiro de "pagar os favores" a António Costa e Manuel Pizarro com votos junto aos "centralistas". Deputados do PS indignam-se. (...)

Eurodeputado do PS chama "cigana" e "não só pelo aspecto" a deputada socialista
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: PS de Bruxelas diz que Manuel dos Santos não falou enquanto eurodeputado. O socialista acusou Luísa Salgueiro de "pagar os favores" a António Costa e Manuel Pizarro com votos junto aos "centralistas". Deputados do PS indignam-se.
TEXTO: Em Maio, todos os deputados aprovaram um voto de saudação à iniciativa de candidatar a cidade de Lisboa a receber a Agência Europeia do Medicamento. Entre os votos por unanimidade estava a deputada do PS Luísa Salgueiro, eleita pelo distrito do Porto. Esta sexta-feira, a parlamentar foi insultada na rede social Twitter pelo eurodeputado socialista Manuel dos Santos. O socialista, também ele do Porto, acusa a deputada de votar com os "centralistas". Até aqui eram apenas críticas entre deputados do mesmo partido, contudo, nos tweets, Manuel dos Santos chamou "cigana" à deputada e vai mais longe nos comentários racistas dizendo que é cigana "não só pelo aspecto", mas porque "paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas". Luisa Salgueiro, dita a cigana e não é só pelo aspecto, paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas. Em causa está o facto de os deputados socialistas eleitos pelo Porto (na verdade, todos os deputados de todos os partidos, uma vez que a proposta foi votada por unanimidade) terem votado a favor da candidatura de Lisboa para receber a Agência Europeia do Medicamento. Uma agência que tem estado no centro da polémica. Ora, para o eurodeputado, esta actuação dos representantes do partido é "uma verdadeira vergonha". Os deputados socialistas do Porto votaram a candidatura de Lisboa a sede da Agência Europeia do Medicamento. Uma verdadeira vergonha. Luísa Salgueiro, que votou em conjunto com as restantes bancadas, não é de etnia cigana nem tem família de etnia cigana. Na série de tweets, Manuel dos Santos critica violentamente a deputada dizendo que ela "é protegida por Costa e Pizarro [presidente da federação do PS do Porto]. A deputada socialista não sabia dos insultos quando contactada pelo PÚBLICO e preferiu não fazer comentários. Luísa Salgueiro tem esta sexta-feira um dia agitado com a inauguração da sua sede de campanha em Matosinhos, onde vai ser candidata do PS à Câmara Municipal. O PÚBLICO tentou contactar o eurodeputado, mas até à hora de publicação desta notícia não foi possível. Entretanto, Manuel dos Santos escreveu novo tweet a dizer que "claro" que não é "racista". "Não respondo a grupos organizados das redes sociais, dedicados a reverter (excelente expressão) afirmações fora de contexto para ataques. Podem continuar se quiserem: não me demovem nem me atemorizam. Claro que não sou racista. "Socialistas indignados com eurodeputadoCarlos Zorrinho, líder da delegação do PS no Parlamento Europeu, disse ao PÚBLICO que Manuel dos Santos fez essas declarações noutro plano que não o de eurodeputado. "Pessoalmente, não considero que esteja a fazer essas declarações como eurodeputado", disse quando questionado se o PS irá agir perante declarações racistas de um eurodeputado eleito nas suas listas. Zorrinho remete esses tweets para a disputa autárquica dizendo que "a terra das eleições autárquicas não está na agenda do Parlamento Europeu". Depois de esta notícia estar publicada, Zorrinho publicou um tweet a repudiar as declarações do colega. Como cidadão e socialista acho lamentáveis e chocantes as declarações de Manuel dos Santos sobre Luisa Salgueiro. Por cá as declarações de Manuel dos Santos levaram ao desagrado do porta-voz do PS, João Galamba. O deputado, respondendo a um tweet de Rui Tavares (fundador do LIVRE), em que diz que não pode aceitar "que um deputado do Parlamento Europeu se exprima nestes termos racistas", responde dizendo que Manuel dos Santos "é uma vergonha de MEP". Não achas tu e não acha ninguém. Uma vergonha de MEPSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além de Galamba, também o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, deputado do PS eleito pelo círculo do Porto diz claramente que se trata de um caso de "misoginia, racismo e xenofobia. Misoginia, racismo e xenofobia. Mais um triste episódio deste eurodeputado. Uma vergonha para os socialistas. pic. twitter. com/Q2E4MTl7FbNão foram no entanto os únicos. O deputado socialista Porfírio Silva criticou as palavra de Manuel dos Santos. No Facebook, o deputado defende que Manuel dos Santos não merece ser sequer militante do PS. "Um eurodeputado eleito nas listas do PS que usa o qualificativo "cigana" como insulto, não merecer sequer continuar a ser militante do PS. Seria assim mesmo que o "insulto" não fosse dirigido a uma deputada e a uma dirigente nacional do PS", escreveu.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS LIVRE
Centenas de milhares de mulheres ainda morrem de parto em todo o mundo
Centenas de milhares de mulheres continuam a morrer em consequência de problemas relacionados com a gravidez e o parto em todo o mundo. O número de mortes tem diminuído nos últimos anos mas apesar dos progressos, a taxa anual de declínio é menos da metade da necessária. (...)

Centenas de milhares de mulheres ainda morrem de parto em todo o mundo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-03-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Centenas de milhares de mulheres continuam a morrer em consequência de problemas relacionados com a gravidez e o parto em todo o mundo. O número de mortes tem diminuído nos últimos anos mas apesar dos progressos, a taxa anual de declínio é menos da metade da necessária.
TEXTO: Todos os anos mais de 350 mil mulheres morrem em todo o mundo por problemas relacionados com o parto e a gravidez, sobretudo em África e na Ásia, e 215 milhões não têm acesso a meios de planeamento familiar, referem dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2010. Em Moçambique, por exemplo, um estudo do Ministério da Saúde (MISAU), divulgado no ano passado, revela que onze mulheres morrem por dia naquele país, em consequência de complicações relacionadas com a gravidez e o parto, O mesmo estudo afirma também que anualmente, 48 de mil recém-nascidos morrem entre os zero e 28 dias de vida, por complicações surgidas pós-parto. Muitos desses problemas resultam de práticas pouco apropriadas durante nascimentos realizados em casa, o que levou a cerca de 27 por cento do total de mortes em crianças menores de cinco anos. Os dados revelados no relatório “Situação Mundial da Infância 2009 – Saúde Materna e Neonatal” do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) indicam os países onde o risco de mortalidade materna é maior: Níger, Afeganistão, Serra Leoa, Chade, Angola, Libéria, Somália, República Democrática do Congo, Guiné-Bissau e Mali. Entre as vítimas, contam-se cerca de 70 mil adolescentes entre os 15 e os 19 anos. As mortes por complicações de parto verificam-se em muitos países de outros continentes, além de África e de Ásia. No Haiti, em cada cem mil nascimentos morrem cerca de 670 mulheres. A Bolívia é o país com a taxa de mortalidade materna mais alta na região andina (290 ao ano), onde há cerca de dois milhões de mães adolescentes, 54 000 das quais com menos de 15 anos de idade. No Peru, 74 por cento das mulheres que vivem em áreas rurais e 90 por cento das indígenas dão à luz em casa e sem assistência médica. Segundo o referido relatório da UNUCEF, a maior parte dos casos de morte em mulheres grávidas deve-se a quatro causas principais: hemorragia severa depois do parto, infecções, hipertensão e abortos. Em 2008, por exemplo, cerca de mil mulheres morreram, por dia, em todo o mundo, devido a essas complicações. Mais de 500 delas viviam na África Subsaariana e 300 no Sudeste Asiático. As mulheres pobres que vivem em zonas rurais, são as principais vítimas, descriminadas pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde, segundo a OMS. O relatório notava ainda que o risco de uma mulher de um país em desenvolvimento morrer devido a uma causa relacionada com a gravidez ao longo da vida é 36 vezes maior comparativamente a uma mulher que vive num país desenvolvido. Números optimistasApesar da situação preocupante, o número de mulheres que morrem em consequência de complicações durante a gravidez e o parto diminuiu 34 por cento entre 1990 e 2008, de acordo com o relatório “Tendências da mortalidade materna” realizado pela Organização Mundial da Saúde, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo Banco Mundial e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Mas pesar dos progressos, a taxa anual de declínio é menos da metade da necessária para atingir os objectivos pretendidos, segundo Margaret Chan, Directora Geral da OMS. Grande parte das mortes maternas são, contudo, evitáveis, dependendo do acesso ao planeamento familiar e à qualidade dos serviços de saúde. É neste sentido que trabalha a organização europeia Marie Stopes International, com sede em Inglaterra, desenvolvendo acções de protecção à saúde materno infantil em mais de 40 países do mundo. Na campanha “Make Women Matter”, esta organização salienta a necessidade de investir na igualdade de acesso à saúde materno-infantil no mundo inteiro para combater a mortalidade, o baixo uso de contraceptivos e as baixas percentagens de partos com assistência.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
Ebay proíbe a venda de produtos em marfim
O site de leilões online eBay anunciou que vai banir a nível global a venda de produtos de marfim já a partir do próximo ano. A decisão é anunciada depois de um grupo de investigação para a conservação da natureza ter descoberto mais de 4. 000 itens feitos a partir de marfim de elefante, espécie protegida. “Achamos que esta é a melhor maneira de proteger as espécies protegidas em perigo. É a partir destas espécies que grande parte dos produtos em marfim é produzida, segundo o comunicado divulgado hoje no blogue da companhia. Elefantes africanos e asiáticos são protegidos por organizações americanas como a Interna... (etc.)

Ebay proíbe a venda de produtos em marfim
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-10-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20081022012652/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1346972
TEXTO: O site de leilões online eBay anunciou que vai banir a nível global a venda de produtos de marfim já a partir do próximo ano. A decisão é anunciada depois de um grupo de investigação para a conservação da natureza ter descoberto mais de 4. 000 itens feitos a partir de marfim de elefante, espécie protegida. “Achamos que esta é a melhor maneira de proteger as espécies protegidas em perigo. É a partir destas espécies que grande parte dos produtos em marfim é produzida, segundo o comunicado divulgado hoje no blogue da companhia. Elefantes africanos e asiáticos são protegidos por organizações americanas como a International Convention on the International Trade in Endangered Species (CITES) - Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção - e a U. S. Endangered Species Act. Um relatório que irá ser hoje divulgado pelo International Fund for Animal Welfare (IFAW) – Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, em português - revela que a maioria de vendas de produtos de marfim é feita através da sucursal americana do site. “Numa ocasião, um utilizador comprou um par de presas de elefante por mais de 21 mil dólares (cerca de 15 mil euros) ”. Todos os anos, mais de 20 mil elefantes são mortos ilegalmente em África e Ásia para fazer face aos requisitos de marfim, de acordo com a IFAW. A eBay disse que ainda vai permitir a venda de produtos antigos que contenham pequenas quantidades de marfim, como pianos. A companhia define que só serão consideradas antiguidades objectos produzidos antes de 1990. Definiu também que com esta nova regra a venda de artigos que contenham uma quantidade significativa de marfim, qualquer que seja o nível de antiguidade, como peças de xadrez, alfinetes de peito ou jóias, não será de todo permitida. Grupos de defesa internacionais para a natureza e vida selvagem aplaudem a decisão. Teresa Telecky, directora da Humane Society International citada pela BBC, disse que a decisão “é válida e deve ser vista como um exemplo para outros”.
REFERÊNCIAS:
Em Sines a volta ao mundo faz-se em 59 concertos
A partir desta quinta-feira, e até dia 28, o Festival Músicas do Mundo volta a instalar em Sines e Porto Covo um mapa da riqueza musical de todo o planeta. São dezenas de concertos para aprender a escutar o outro. (...)

Em Sines a volta ao mundo faz-se em 59 concertos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A partir desta quinta-feira, e até dia 28, o Festival Músicas do Mundo volta a instalar em Sines e Porto Covo um mapa da riqueza musical de todo o planeta. São dezenas de concertos para aprender a escutar o outro.
TEXTO: O ritual já se instituiu e faz parte da rotina de milhares de espectadores. Desde 2003, ano em que uma comunidade mais alargada descobriu o Festival Músicas do Mundo (FMM), graças em grande parte às actuações dos jamaicanos Skatalites e do norte-americano Kronos Quartet, que o último fim-de-semana de Julho é, para muitos, passado em Sines. Não apenas porque a programação é única no cenário português (e mesmo num contexto internacional), mas sobretudo porque o FMM soube preservar uma identidade contrária aos imperativos comerciais de outros eventos do género: a Sines vai-se para tomar contacto com música que se desconhece, muito mais do que para reforçar o amor que se alimenta há anos por artistas de quem se domina a discografia de trás para a frente. Criado em 1999 pela Câmara Municipal de Sines, e desde o primeiro momento com a impagável direcção artística de Carlos Seixas, o FMM tratou de apresentar na sua programação, ao longo dos anos, os nomes maiores das músicas fundadas em tradições locais – Oumou Sangaré, Omar Sosa, Black Uhuru, Hedningarna, Yat-Kha, Konono nº1, Staff Benda Bilili, Asha Bhosle, Tom Zé, Hermeto Pascoal, Rokia Traoré, Femi Kuti, Angélique Kidjo, Toumani Diabaté, Tony Allen, Värttinä, Trilok Gurtu, Tinariwen, Sílvia Pérez Cruz, Hugh Masekela, Salif Keita, Billy Bragg e tantos outros. O rol de nomes, exposto todos os anos nas traseiras do Castelo de Sines, é cada vez mais impressionante. Mais do que o número de artistas que tem passado por Sines e Porto Covo (que, nos últimos anos, chama a si o primeiro fim-de-semana do festival), importa, no entanto, a diversidade de culturas que é chamada a palco. Na edição deste ano, a decorrer entre esta quinta-feira e o próximo dia 28 de Julho (até 22 em Porto Covo, de 23 a 28 em Sines), serão 59 concertos a percorrer 38 países e regiões, sublinhando essa ideia de que o festival é, antes de mais, um espaço de comunhão e de descoberta de outros povos, transformando este encontro numa forma de celebração de troca colectivas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Carlos Seixas declarou à Lusa, a propósito desta 20. ª edição do FMM Sines, que “a boa música não escolhe géneros, nem escolhe fronteiras”. Mas as fronteiras continuam a ser uma dor de cabeça para o programador, talvez até mais hoje do que há 20 anos, com “as grandes questões ligadas às migrações” a boicotarem, por vezes, o trabalho da organização e a vontade dos músicos. Desta vez foram os Konono Nº1, uma das maiores referências actuais da música congolesa e africana, a verem a sua entrada na Europa negada por problemas na obtenção de vistos (em sua substituição actuam os Inner Circle). É um clássico do festival quando toca a artistas asiáticos e africanos, uma vez que em anos anteriores a mesma situação se verificou, por exemplo, com o zimbabueano Olivier Mtukudzi, o moçambicano Wazimbo ou o chinês Mamer. Mtukudzi é, aliás, um dos cabeças de cartaz de 2018, integrando a fortíssima noite de despedida deste FMM, em que partilhará o palco com as canções luso-crioulas de Sara Tavares, a pop libanesa de Yasmine Hamdan, o funaná irresistível dos Bulimundo e o sound-system brasileiro Baiana System. Nos dias anteriores, por Sines passarão ainda nomes obrigatórios como Sutari, Elida Almeida, Derya Yildirim & Grup Simsek, Alsarah & The Nubatones, Sofiane Saidi & Mazalda, Kimmo Pohjonen, Sons of Kemet, Cordel do Fogo Encantado ou Maravillas de Mali. Antes disso, no entanto, o Largo Marquês de Pombal arranca com quatro dias de programação gratuita de primeira linha. Esta quinta-feira, o fado de Aldina Duarte terá a companhia do projecto alternativo egípcio Lekhfa e do jazz-rock-klezmer nova-iorquino dos Barbez. Sexta-feira será a vez do frenesim dos cipriotas Monsieur Doumani ou da pop desconcertante da brasileira Karina Buhr, enquanto sábado nos trará o canto doce maliano de Vieux Farka Touré (filho de Ali Farka) e domingo haverá dança com o klezmer dos polacos Kroke. Mas o fim-de-semana será certamente marcado por duas pérolas de rock carregado de psicadelismo e com forte sabor local: dos turcos BaBa ZuLa (sábado) e dos colombianos Meridian Brothers (domingo).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho comunidade género chinês
Portugueses Senza apresentam novo disco ao vivo no Brasil
Nascido em Aveiro, o grupo já tocou na Índia, na China, nos EUA e em África e estreia agora o seu segundo disco, Antes da Monção, num país que nunca visitou. (...)

Portugueses Senza apresentam novo disco ao vivo no Brasil
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.090
DATA: 2018-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nascido em Aveiro, o grupo já tocou na Índia, na China, nos EUA e em África e estreia agora o seu segundo disco, Antes da Monção, num país que nunca visitou.
TEXTO: O primeiro disco foi anunciado assim: “Música de inspiração lusófona, inspirada em viagens!” Assinava-o um nome curto: Senza. Não confundir com a palavra “sem” em italiano: senza é nome de um instrumento africano, um lamelofone também conhecido como kissanji, kalimba ou likembe, consoante os lugares onde é construído e tocado. Mas os dois rostos por trás do nome não vinham de África, embora por lá tivessem viajado. Nuno Caldeira e Catarina Duarte conheceram-se na Universidade de Aveiro, onde foram alunos, ele de Design e Novas Tecnologias da Comunicação e ela de Matemática. Mas nenhum é originário de Aveiro: Catarina nasceu em Coimbra, em 1978, e Nuno nasceu em Castelo Branco, em 1981. Um dia decidiram viajar juntos, mais para conhecer lugares do que para fazer música, que na verdade já vinha de trás. Catarina: “Comecei por cantar fado, organizava sessões familiares aí com uns dez, 11 anos. Depois, com 15, comecei a fazer umas coisinhas em público. ” Ainda frequentou canto, no Conservatório, mas desistiu porque achou “que não era por ali”. Teve aulas de jazz, já em Aveiro, onde conheceu Nuno. “Começámos a tocar umas bossas novas, algum jazz. ” Nuno: “Os meus pais tinham vinis de bossa nova. E também jazz, embora eu rejeitasse o jazz na altura. ” A música angolana também foi uma influência, já que a mãe de Catarina viveu lá. Antes de formarem o grupo Senza, funcionaram em duo. “Tivemos grupos, a formação ia mudando mas o núcleo fomos sempre os dois. ”A primeira viagem, no Sudeste Asiático, durou meses: China, Vietname, Camboja, Tailândia. E a música intrometeu-se na forma de uma guitarra que Nuno comprou em Saigão, numa loja onde tinham entrado porque estava muito calor na rua e ali havia ar condicionado. Mudou tudo. “Alguém que carrega um instrumento chama a atenção”, diz Catarina. “As pessoas abordavam-nos na rua, conhecemos alguns músicos…” “E começámos a tocar, às vezes para trocar por dormidas. Começámos a pensar que era giro fazermos músicas nossas mesmo. Foi a primeira vez que sentimos isso”, completa Nuno. Dessa viagem nasceu então o primeiro disco, já assinado como Senza: Praça da Independência (2014). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E continuaram. Uma segunda viagem, desta vez à Índia, resultou num outro disco, Antes da Monção, lançado oficialmente a 4 de Maio deste ano e ainda em fase de promoção. Nele participaram, como convidados, Júlio Pereira, João Frade e Rão Kyao. “Nós temos o compromisso de continuar neste modelo”, diz Nuno. “Mas sem nenhuma lógica geográfica à partida. Foi um acaso que nos levou à Índia, onde tocámos em Nova Deli, Goa e Bombaim, acabando por estender o que se faria em quatro ou cinco dias por um mês. Agora surgiu-nos a possibilidade de fazermos seis concertos em África (Namíbia, Zimbabwe e África do Sul): não foi muito extenso mais foi muito intenso. ” Os sons destas viagens povoam de algum modo os discos que delas saem, mas fugindo a exotismos e colagens específicas. “A intenção pode passar por aí, por se sentir alguma indefinição”, diz Nuno. “O que nós procuramos é que haja de facto uma mistura. ”Agora, os Senza vão apresentar Antes da Monção num país que nenhum deles ainda visitou: o Brasil. Dia 14 tocam em Salvador da Bahia, no Teatro Castro Alves, e depois em São Paulo. “Já há muito tempo que queríamos ir ao Brasil”, diz Catarina. “Aliás o tema Comboio de bambu [gravado no Camboja] tem um piscar de olho ao Brasil. ” Ao seu lado, terão músicos brasileiros: Cláudia Cunha, Alexandre Leão, Luísa Lacerda e o Quarteto Geral. “Tem esse lado muito interessante, para nós e para eles, de fazer um cruzamento Portugal-Brasil”, sublinha Nuno.
REFERÊNCIAS:
Um apaixonado pela bola e pela arte que nunca teve medo da palavra “bonito”
Uma colecção reunida ao longo da vida e ainda em construção. Uma colecção que acompanha a geografia profissional de um dos treinadores mais marcantes do futebol português, um “homem de classe” que agora tem aulas de desenho. Quase 150 das obras que Artur Jorge reuniu nos últimos 40 anos vão a leilão a 3 de Dezembro. É a segunda parte de um “jogo” que começou em Paris e admite prolongamento. (...)

Um apaixonado pela bola e pela arte que nunca teve medo da palavra “bonito”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.575
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma colecção reunida ao longo da vida e ainda em construção. Uma colecção que acompanha a geografia profissional de um dos treinadores mais marcantes do futebol português, um “homem de classe” que agora tem aulas de desenho. Quase 150 das obras que Artur Jorge reuniu nos últimos 40 anos vão a leilão a 3 de Dezembro. É a segunda parte de um “jogo” que começou em Paris e admite prolongamento.
TEXTO: Conheceram-se há 46 anos, ela tinha na altura 18 e ele 26. Durante muito tempo foram-se cruzando em casa de amigos comuns e depois reencontraram-se, em Paris. Ela tinha viajado com alguns deles para visitar a Feira Internacional de Arte Contemporânea, onde ele já planeava fazer compras. Lena Teixeira estava divorciada e Artur Jorge, que vivia na cidade e treinava o Matra Racing, viúvo da sua segunda mulher, cada um com dois filhos. Nos 30 anos que já levam casados, Lena Teixeira deixou o Direito para acompanhar o marido, marcante treinador de futebol, o primeiro técnico português a ser campeão europeu de clubes, pelo FC Porto, na época 1986/87. É ela que aqui fala da colecção de arte que ele reuniu, agora que 135 das suas obras se preparam para ir a leilão. Artur Jorge, sempre avesso a entrevistas, mesmo às que fogem ao desporto, não participa nesta conversa, mas também não pode ficar de fora – afinal, a colecção que tem vindo a construir reflecte o seu gosto e a sua personalidade, a forma peculiar como lida com a arte e com o mundo. “O Jorge começou esta colecção sem mim e continua-a comigo, nas nossas casas, aqui e em todos os países onde já vivemos”, diz Lena Teixeira. “Sempre tivemos pintura e escultura e desenho por todo o lado em todas as nossas casas. E já foram tantas…” Vinte e duas em 30 anos. “Quando chegávamos a uma casa nova, o Jorge ficava ansioso, à espera dos caixotes com as nossas coisas. Assim que os tinha começava logo a pôr quadros nas paredes – era uma prioridade. E às vezes um desastre, porque ele não tem jeito nenhum com o berbequim. Eu que me preocupasse se o frigorífico estava a funcionar”, brinca. “Quando nos mudávamos, era tão natural levarmos pinturas e livros como roupa de cama ou toalhas de mesa. ”Artur Jorge Braga de Melo Teixeira, 72 anos, teve o último emprego no futebol em 2007, num clube da terceira divisão francesa, depois de ter treinado 16 equipas em Portugal e no estrangeiro – Futebol Clube do Porto (três títulos nacionais e uma Taça dos Campeões Europeus), Benfica, Paris Saint-Germain (um título de campeão francês), os asiáticos Al-Nasr e Al-Hilal, o russo CSKA e o holandês Vitesse, bem como as selecções nacionais de Portugal, Suíça e Camarões. Neste périplo, a arte convivia sempre com um lote alargado de livros e de discos que fazia questão de levar para onde quer que fosse (Um Homem sem Qualidades, romance inacabado de Robert Musil, está entre os seus favoritos; a música clássica e o jazz de Bill Evans e de Chet Baker continuam a ser essenciais, às vezes para substituir a voz do jornalista que faz o relato de um qualquer jogo de futebol). É precisamente este lado quotidiano do acervo que o antigo técnico reúne há já 40 anos que Hugo Dinis gosta de sublinhar. É o curador da exposição Colecção Artur Jorge – Segunda Parte (25 de Novembro a 2 de Dezembro), composta por 135 peças, quase todas de artistas portugueses, que serão leiloadas a 3 de Dezembro, na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), em Lisboa. “As obras desta colecção são para consumir e partilhar no dia-a-dia. São mais reveladoras da personalidade do coleccionador e do seu olhar curioso sobre o mundo do que de um percurso da arte que se fez no país nos últimos anos. ”Entre os artistas nacionais representados há obras de Julião Sarmento, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes, Jorge Vieira, Joaquim Rodrigo, João Cutileiro, Almada Negreiros, Paiva & Gusmão, João Penalva e muitos outros. No lote de estrangeiros, pequeno, destaque para Joseph Beuys, Antoni Tàpies e Fernand Léger. “Se na arte internacional ele aposta em nomes consagrados, nos portugueses é de uma enorme generosidade para com os jovens artistas”, diz Hugo Dinis, chamando a atenção para nomes como Rui Chafes ou João Penalva, que estão representados na colecção com obras dos “primeiros momentos” e outras mais tardias. Quanto à dupla Paiva & Gusmão, “surpreendentes nesta colecção dada a sua linguagem muitíssimo contemporânea”, Artur Jorge interessa-se por ela também como “mecenas”: “Ele e a Lena compraram filmes do Pedro Paiva e do João Maria Gusmão para oferecer à Tate Modern. ”A 3 de Dezembro irão à praça uma pequena aguarela da dupla (2002) e Pot Smaller Than Pot (2010), uma “peça em que se inverte a relação de peso e leveza da escultura, mantendo-lhe o plinto clássico”. Entre os lotes que deverão merecer mais atenção nesta Colecção Artur Jorge – Segunda Parte — “segunda” porque, em Dezembro de 2010, um conjunto de 100 peças do acervo do antigo treinador, composto quase em exclusivo por artistas internacionais (Jean-Michel Basquiat, Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Yves Klein, Sol Lewitt, Jackson Pollock, Andy Warhol ou Joan Miró) foi leiloado pela Christie’s, em Paris — estão obras de dois homens que têm lugar de destaque na história da arte em Portugal e que morreram com 100 anos de intervalo: Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Júlio Pomar (1926-2018). Do pintor modernista que viveu sempre dividido entre Paris e Manhufe serão expostos, e depois leiloados, seis desenhos que pertenceram ao arquitecto José Sommer Ribeiro e que até aqui estavam em depósito no Museu do Chiado, com uma base de licitação de 30 mil euros cada. Tratam-se de estudos preparatórios que são verdadeiras “preciosidades”, diz o curador. “Os Amadeos são uma raridade no mercado porque a produção é pequena e a sua obra há muito que estabilizou em coleccionadores privados e museus. E estes seis desenhos são muito bons. ”De Pomar, que chamou a si a tarefa de criar o neo-realismo na pintura e depois foi muito além dele, como disse recentemente ao PÚBLICO a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, os visitantes da SNBA poderão ver Deux Mètres (1977-78), uma assemblage de 100X100cm com uma base de licitação de 80 mil euros, a mais alta neste leilão, onde haverá lotes a começar nos 250 (dois pequenos desenhos de Mário Botas). “Este Pomar é uma obra de grande liberdade e erotismo”, diz Hugo Dinis, apontando para aquele quadrado em que salta à vista a superfície rude, coberta de sarapilheira, um metro articulado, e duas figuras: “Pomar, avesso ao abstraccionismo, representa aqui um casal numa posição sexual explícita. ” Ele que vai para Paris no começo dos anos 1960 e era claramente um homem de esquerda parece neste Deux Mètres, como em tantas outras vezes, “mais interessado no movimento dos corpos no que no das ideias”. Pinturas do português Joaquim Rodrigo (1912-1997), do húngaro Arpad Szenes (1897-1985) ou do catalão Antoni Tàpies (1923-2012), assim como Pflanholz, Wirtschaftswerte, um semeador com uma ponta de metal montado sobre um painel, do alemão Joseph Beuys (1921-1986) serão também leiloados. “Todas estas peças têm uma história. É a minha história”, dizia Artur Jorge ao PÚBLICO em 2010, na antecipação da “Primeira Parte” parisiense, cujos lotes foram avaliados em dois milhões de euros. A estimativa do leiloeiro da Aqueduto, empresa encarregue da venda lisboeta, ronda agora os 900 mil euros. Defendendo que este é um dos melhores conjuntos de pintura do século XX apresentado ao público em Portugal nos últimos vinte anos, José Pedro Rosa resume: “O que tem de sedutor esta colecção, entre outras coisas, é o seu fio condutor, que é o gosto de Artur Jorge”, diz, apontando para as pinturas e desenhos encostadas à parede no armazém da Aqueduto. “Tudo o que aqui está tem um B. I. Sabemos de onde vêm todas as peças, por onde passaram. ” E conseguimos imaginá-las a fazer parte de uma casa de família, na sala de jantar ou no quarto dos filhos onde agora já dormem netos, acrescenta o comissário desta exposição-leilão. “São obras que têm uma dimensão doméstica, compradas para invadir espaços vazios, mas sem uma intenção decorativa. ”Lena Teixeira admite que há no marido um lado um pouco “barroco” no que ao horror ao vazio diz respeito. “Para o Jorge, enquanto houver um buraquinho, há espaço para mais um quadrinho. Quando os nossos filhos eram pequenos [o casal teve dois, João, hoje com 23 anos, e Francisca, que morreu em 2013, aos 22], adorava andar com eles ao colo pela casa, e fazia-lhes visitas guiadas como se aquilo fosse um museu. E a Francisca e o João ficavam deliciados. ”Foi provavelmente o interesse de Artur Jorge pela arte e pelas letras – formou-se em Filologia Germânica num curso que começou em Coimbra e viria a terminar em Lisboa, e escreveu muita poesia (o seu livro Vértice da Água saiu em 1983) – que levou outro treinador português, José Mourinho, hoje ao serviço do Manchester United, a chamar-lhe “o primeiro treinador estudante” do futebol nacional nas cinco linhas que assina no catálogo do leilão. “Quisemos que esta exposição fosse uma homenagem aos artistas, ao coleccionismo e ao outro lado do meu marido, que é mais intimista, lá de casa, e que não tem a ver com o futebol. Por isso resolvi pedir a amigos e familiares que escrevessem pequeninos apontamentos sobre ele”, explica Lena Teixeira. “Como o Jorge tinha um grande respeito pelo Félix Mourinho [1938-2017], resolvi pedir umas linhas ao filho, que foi muito amável. ”É José Mourinho quem lembra que Artur Jorge fica para a história como o primeiro técnico português campeão europeu, mas também, e acima de tudo, como “o primeiro em que a cultura e a formação académica foram ponto de partida para uma carreira que inspirou muitos”. Resumindo em seguida: “Um homem de classe que marcou uma classe. ”O escultor João Cutileiro, que tal como o escritor José Manuel Mendes assina um brevíssimo texto no catálogo, é o único artista que faz parte do restrito núcleo de amigos do coleccionador. De tal forma, diz Lena Teixeira, que na casa que a família tem no Algarve há aquilo a que todos chamam “o quarto do João”. Foi precisamente no Algarve, numa galeria em Almancil, em Junho de 1990, que os dois se conheceram. Artur Jorge já tinha comprado várias peças de Cutileiro de exposições anteriores e o artista sabia disso. “Fui ter com ele, conversámos e acabámos por ficar amigos. Até hoje. Caí-lhe na bandeja. ”É Cutileiro quem fala da “‘incongruência’ dos gostos” como o “bechamel” de Artur Jorge. E por que razão usa o escultor este molho como metáfora? Simples: “Às vezes ouvimos um coleccionador dizer que não compra esta ou aquela peça porque não liga bem com outra que tem lá em casa; ora isso foi coisa que nunca preocupou o Jorge — ele é o bechamel que liga tudo. ”Na casa do Algarve, com um grande espaço exterior onde não faltam peças de Cutileiro ou Vasco Araújo, estava também Sismo (1984), uma obra de Julião Sarmento composta por quatro pequenas telas e comprada em Madrid. “Esta está aqui, mas lá em casa ficaram outras. O Julião Sarmento é um dos preferidos do meu marido e foi com ele que o Jorge começou a comprar grandes formatos. ” A colecção chegou a ter várias obras deste artista português que, diz Lena Teixeira, Artur Jorge nunca fez questão de conhecer pessoalmente. “Há muitos coleccionadores que querem conhecer os artistas, que pedem isso aos galeristas. Com o Jorge foi sempre o contrário, houve sempre um enorme recato. Por pudor, por timidez… O Jorge sempre teve pouca vontade de ver e de ser visto. Que me lembre, nunca fomos a uma vernissage… Temos o privilégio de os galeristas nos convidarem para ver as exposições antes de elas abrirem. ”A personalidade reservada de Artur Jorge fez também com que, depois de uma vida dedicada ao futebol, só há três ou quatro anos tivesse assumido que torce pelo Futebol Clube do Porto, lembra. “O Jorge gosta muito de palavras mas prefere os gestos. ”Talvez por isso tenha oferecido à mulher Arbre à tiroirs (1941), um peculiar móvel em madeira da autoria do surrealista francês Marcel Jean, para arrumar os muitos lenços que Lena Teixeira gosta de usar, e que irá agora a leilão. “A colecção está cheia de gestos destes. E de coisas que são para usar na nossa casa. Estas peças estão vivas”, diz Lena Teixeira, como está viva a casa onde mora uma família que é feita de várias famílias. “Um dos sonhos que eu partilho com o Jorge é o de fazer casas, casas felizes e harmoniosas. ”A casa, acrescenta, é o “coração da família”, por isso está tão presente nas escolhas que Artur Jorge faz. Para ele, a arte é uma comodidade doméstica, algo que faz parte da vida para a tornar melhor. Sem qualquer responsabilidade pública, a colecção de um privado é orientada pelo gosto e pela oportunidade, diz Hugo Dinis. Alguns coleccionadores centram-se numa temática ou num punhado de artistas, procuram aconselhar-se junto de profissionais (galeristas, curadores) e preocupam-se com o valor de mercado que determinada peça poderá ganhar porque a vêem, também, como um investimento. No caso de Artur Jorge, assegura a sua mulher, nunca foi assim. “O Jorge sempre comprou o que sentiu que tinha de comprar. É claro que falava com os nossos amigos, alguns deles coleccionadores e galeristas, mas nunca teve ninguém a dizer-lhe ‘compra isto que vai valorizar-se’ ou ‘compra aquilo que é raro aparecer no mercado’. Isso é o tipo de argumentação que nunca levaria o Jorge a comprar um quadro ou uma escultura. Ele compra o que o emociona, de alguma maneira. ” Por ser inquietante, desafiador ou simplesmente “bonito”. Também por isso, diz, chegou a comprar portas e janelas de madeira na Arábia Saudita, esculturas africanas ou tapetes orientais sem qualquer valor nos mercados de rua. “Nunca discute o que lhe pede um galerista por uma obra, nem pergunta quanto custou determinada peça que vai trocar com um amigo. ”Resume no texto que escreveu para o catálogo Madalena Galamba, filha de Lena Teixeira que acompanhou o casal em boa parte do percurso profissional de Artur Jorge e que, quando adolescente, costumava dormir com um quadro de Julião Sarmento por cima da cabeça, que a colecção do antigo treinador de futebol é, antes de mais, “a busca de uma harmonia, que a sua sensibilidade única, lúcida e generosa, persegue e compõe”. Uma “busca” que, explica o comissário, é feita de escolhas muito directas, do fascínio pelo objecto. Pedro Teixeira, 48 anos, o filho mais velho do treinador, tem pena de não ter “absorvido de forma mais constante” o gosto do pai pelas artes, mas lembra-se bem das suas saídas para ir “ver coisas” no tempo que passavam juntos e das idas ao cinema: “Devo ter sido das poucas crianças de seis anos que via duas sessões seguidas, e às vezes de filmes que nem sequer eram para a minha idade”, diz, falando da omnipresença dos livros e da música na vida do antigo treinador. “Depois, na adolescência, eu e a minha irmã Catarina [filhos do primeiro casamento do técnico] começámos a jantar com ele um dia por semana. E aí falava-se muito do que estava a acontecer nas nossas vidas, mesmo com o pai sendo sempre uma pessoa reservada, que pensa muito para além do que diz. ”Com o trabalho como treinador a obrigá-lo a viver fora do país, e com o facto de Pedro Teixeira ter feito o mestrado e o doutoramento na área da saúde e do desporto nos Estados Unidos, houve períodos em que os encontros de ambos por vezes tardavam. “Também víamos futebol e boxe juntos. Não eram só gostos eruditos. A arte para o pai é uma coisa da intimidade, mas que passa para o resto. Se calhar é por causa desse fascínio pela beleza que o leva a comprar pintura e escultura que o meu pai gosta de usar a palavra ‘bonito’ no futebol”, coisa que era muito “estranha” nos anos 80, em que todos só falavam de táctica. É a sensibilidade para a beleza, a generosidade e o interesse genuíno pela arte que José Mário Brandão salienta no amigo. Conheceram-se nos tempos em que Artur Jorge comandava o Paris Saint-Germain (no início dos anos 1990) e o galerista guarda “memórias deliciosas” dos jantares parisienses de ambos. “O Jorge era como uma rock star naquela altura. Os desconhecidos abordavam-no para o cumprimentar, os empregados dos restaurantes pediam-lhe autógrafos e ele acedia. Recebia toda aquela atenção com muita humildade. ”Na altura, os sucessos desportivos com o clube, combinados com a personalidade do antigo treinador, sempre discreto e preferencialmente distante dos jornais e das televisões, levavam a que os franceses lhe chamassem “rei Artur”. Assim mesmo, elevado ao estatuto de lenda, comandando 11 “cavaleiros” nos relvados e com toda a reserva de mistério a que as figuras mitificadas têm direito. “Discreto sim, mas nunca arrogante”, diz José Mário Brandão. “Ele é um homem extraordinariamente delicado, uma pessoa ‘bonita’ no sentido que os espanhóis dão a esta palavra que o Jorge não tem medo de usar. É bonito por dentro. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Comparando o seu estilo de coleccionar ao de José Lima, empresário de calçado de São João da Madeira que reuniu com a mulher um dos maiores acervos privados portugueses, Brandão chama-lhe “romântico”: “A colecção do Jorge é feita com muita afectividade, o que é raro acontecer. Não há ali a preocupação de investir — compra o que o comove, é um dos últimos coleccionadores românticos. ”Um romantismo que se revela, também, na forma apaixonada como sempre olha para as coisas, diz Lena Teixeira, recordando as noites que se estendiam pela madrugada em que Artur Jorge lhe lia poemas de Herberto Helder e “as mais lindas cartas de amor” que dele recebia, escritas a lápis.
REFERÊNCIAS:
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Portugal, o melhor amigo da China
O desafio para os portugueses é compreendermos esta oportunidade. Se formos os europeus mais amigos da China, isto constituirá vantagem formidável. (...)

Portugal, o melhor amigo da China
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: O desafio para os portugueses é compreendermos esta oportunidade. Se formos os europeus mais amigos da China, isto constituirá vantagem formidável.
TEXTO: A visita do Presidente Xi Jinping, ancorada num passado sólido e risonho de relações com a China e rodeada de textos promissores e propósitos poderosos, estimula a reflexão sobre a estruturação social e cultural das relações luso-chinesa e sino-portuguesa e o papel que podem desempenhar no nosso futuro e nos espaços a que pertencemos. Nós somos um povo de relação, não somos uma potência centrípeta e continental – é neste entendimento que devemos olhar o mundo e construir o futuro, espreitando de modo competente cada oportunidade. Há vários anos que defendo duas teses que convoco por estes dias. Primeira: Portugal deve definir políticas que, no quadro do sistema de ensino, favoreçam, apoiem e estimulem a aprendizagem da língua chinesa pelos portugueses. Segunda: no combate à desertificação do interior, que atinge níveis extremos de decadência demográfica e fragilidade humana e económica, Portugal deve organizar “choques de desenvolvimento”, que correspondam à edificação de dois pujantes pólos industriais, um no eixo de Portalegre, outro no eixo da Guarda, virados para a exportação, predominantemente para o mercado ibérico e o mercado europeu, e podendo articular-se com parcerias entre os países desses investidores e Portugal para projectos conjuntos noutros países do espaço lusófono. Esses dois grandes empreendimentos industriais, situados no coração do interior e na proximidade da fronteira terrestre, teriam que ter, como agora se diz, o poder disruptivo de alavancagem do desenvolvimento, rompendo a inércia do declínio e rasgando uma linha ascendente de crescimento. Teriam de ser empreendimentos tipo Autoeuropa, nos sectores automóvel, da electrónica, ou outros de projecção e potencial similares, aptos a criar 3000 a 5000 postos de trabalho directos e mais 2000 a 3000 indirectos em pequenas e médias empresas fornecedoras ou relacionadas, ou seja, com efectiva capacidade de atracção e fixação nesses territórios de milhares de trabalhadores e quadros, com origem noutras regiões de Portugal e em países europeus, asiáticos, africanos e americanos, assim suprindo o actualmente baixo potencial humano dessas regiões. Estes empreendimentos não devem excluir quaisquer candidatos, mas ajustam-se em especial a atrair grandes actores da indústria asiática, com realce para China, Coreia do Sul ou Japão. Deveriam ser concebidos e estruturados com forte envolvimento das autarquias locais, sobretudo das que sedeassem o pólo central de cada empreendimento na região de Portalegre e na região da Guarda, revestindo o figurino de Zonas Económicas Especiais, com condições excepcionais de instalação e actividade, definidos em regimes legais com a duração de 50 anos. Tenho a certeza de que estes períodos de 50 anos, correspondentes a pouco mais de duas gerações, seriam necessários e suficientes para inverter de modo duradouro a rampa demográfica e económica dessas regiões, da doença crónica de acentuado declive e abismo em que estão para um quadro saudável de progresso e crescimento sustentados. Tenho a certeza de que estes dois pólos irradiariam os seus efeitos dinamizadores para os territórios adjacentes, a norte, a ocidente e a sul, beneficiando directa e indirectamente extensas regiões de Trás-os-Montes, da Beira Alta, da Beira Baixa e do Alto ao Baixo Alentejo. E tenho sobretudo a certeza de que sem a ousadia destes passos disruptivos não conseguiremos vencer o enorme e dramático desafio com que estamos confrontados no interior do país. Não excluindo qualquer outro, a China salta imediatamente ao espírito, quando pensamos em projectos deste tipo e com tamanho fôlego e compromisso. Seria um grande pilar onde ancorar as novas relações luso-chinesas e estruturar em Portugal o abraço da Eurásia. Mas há uma raiz e uma seiva mais profundas para servir e alimentar este relacionamento sino-português e o qualificar como quadro de verdadeira e genuína amizade. É o recíproco conhecimento das línguas. Tendo falado e escrito várias vezes a este respeito, recordo ideias de um pequeno ensaio que publiquei há cinco anos, na Universidade Católica – “Português e mandarim: as línguas portuguesa e chinesa como línguas globais”. Temos de usar e valorizar não só a consciência da nossa própria língua como uma língua global, mas também a nossa aptidão para a aprendizagem e o manejo doutras línguas, o multilinguismo. Temos de entender e antecipar que o mandarim, a língua oficial chinesa, é uma grande língua não só já no presente, mas sobretudo no futuro. Com o crescimento económico, a expansão comercial e a divulgação cultural da China, o mandarim será cada vez mais uma língua global. E terá muita vantagem quem souber comunicar nessa língua. Devemos investir na aprendizagem do chinês. Assim como há cada vez mais chineses a aprender português, deve haver cada vez mais portugueses a aprenderem mandarim, na linha da procura que, aliás, se tem gerado e crescido de modo natural. Temos de definir e incrementar políticas oficiais do Governo e doutras instituições que fomentem a aprendizagem da língua chinesa entre os jovens. Não me refiro só ao estudo especializado e ao conhecimento da língua e cultura chinesas para intérpretes, tradutores, estudiosos ou outros especialistas. Refiro-me à popularização da aprendizagem do mandarim como formação meramente complementar: o advogado que fala chinês, o economista que fala chinês, o engenheiro que fala chinês, o arquitecto que fala chinês, o técnico oficial de contas que fala chinês, o gestor que fala chinês. Sendo o multilinguismo uma das ferramentas da globalização, quanto mais portugueses falarem chinês, maior será a nossa vantagem no quadro do mercado global. Não serão só os jovens portugueses que falarem chinês que terão emprego e carreira garantidos em qualquer país onde se fazem cada vez mais negócios com a China e em que a fluência na língua chinesa se torna qualificação de primeira grandeza. Jovem português que fale português, inglês e mandarim; ou português, espanhol e mandarim; ou português, francês e mandarim; ou português, alemão e mandarim – tem futuro assegurado em qualquer parte do Mundo e em qualquer área profissional que exerça. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas é também a certeza de que esses jovens portugueses ascenderão rapidamente a lugares de topo nas respectivas empresas ou instituições, já que a qualificação em língua chinesa fará requisitá-los para funções directivas ou de aconselhamento e assessoria imediata da direcção. Ou seja: o movimento de portugueses a tornarem-se fluentes em chinês reverterá num recurso fabuloso da economia portuguesa, colocando-os em posição privilegiada de informação, de conhecimento e de acesso quanto às grandes avenidas e correntes de relacionamento comercial e de investimento entre a China e a Europa, a China e África, a China e as Américas. O desafio para os portugueses é compreendermos esta oportunidade. Se formos os europeus mais amigos da China, se proporcionalmente nos tornarmos os europeus mais fluentes em mandarim, os europeus mais conhecedores da cultura chinesa, isto constituirá vantagem formidável: de conhecimento, de especialidade, de interesse, isto é, de parceria. Temos que saber antecipar para assumirmos a dianteira. Sermos fluentes em mandarim, fazer esse casamento e consolidar a parceria português/mandarim e mandarim/português, é assumir a dianteira da globalização: abraçar todo o Mundo a partir do abraço cultural das duas pontas da Eurásia. É viver, irradiar e ampliar a metáfora de Macau: lugar e gentes de cruzamento de culturas, lugar de comércio e pólo de investimento, agora por todo o Mundo e com âncoras de desenvolvimento também em Portugal e a partir de Portugal.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura social doença estudo chinês casamento
Entre as 1730 novas espécies de plantas de 2016 há alimentos e curas
É a segunda edição do relatório anual produzido pelos Jardins Botânicos Reais de Kew sobre o Estado das Plantas do Mundo que envolveu 128 cientistas de 12 países diferentes. (...)

Entre as 1730 novas espécies de plantas de 2016 há alimentos e curas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2017-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: É a segunda edição do relatório anual produzido pelos Jardins Botânicos Reais de Kew sobre o Estado das Plantas do Mundo que envolveu 128 cientistas de 12 países diferentes.
TEXTO: Os cientistas descobriram 1730 espécies novas de plantas em 2016, uma delas encontra-se em alguns locais da Península Ibérica onde se inclui a serra da Estrela, em Portugal. Mais de 28 mil espécies têm os seus usos medicinais documentados e o número de plantas com genomas completos sequenciados aumentou 60% em relação ao ano anterior, chegando agora às 225 espécies. Todos estes dados e muitos outros estão na segunda edição do relatório anual sobre o Estado das Plantas do Mundo (State of the World’s Plants), elaborado pelos Jardins Botânicos Reais de Kew, perto de Londres, divulgado esta semana. Entre as mais de 1700 espécies de plantas descritas pela primeira vez em 2016 há algumas que podem começar a fazer parte da nossa dieta. É o caso das cinco novas espécies brasileiras que pertencem ao género Manihot, o mesmo da conhecida e consumida mandioca. “Estas espécies têm o potencial necessário para desenvolver a cultura da mandioca, diversificando-a, permitindo que esta seja cultivada em climas mais secos do que os actuais e fornecendo defesas contra vírus, que estão a reduzir a produção deste recurso alimentar importante em algumas partes do mundo”, refere o comunicado de imprensa da equipa dos jardins Kew. Mas há mais novas plantas que podem ser alimentos. Também foram descobertas sete novas espécies Aspalathus, da família das leguminosas e conhecida sobretudo por causa do chá sul-africano rooibos. Outra novidade é uma nova espécie de cherovia, Pastinaca erzincanensis, descrita em 2016 na Turquia. As novas plantas identificadas podem servir para fins que não passam pelo prato ou chávenas, desta vez, com objectivos medicinais. Aqui, o relatório anual sobre o Estado das Plantas do Mundo destaca as noves espécies de trepadeiras do género Mucuna, provenientes do Sudeste Asiático e da região neotropical (América Central e América do Sul), que “são utilizadas no tratamento da doença de Parkinson”. No capítulo dedicado às plantas medicinais, revela-se que, pelo menos, 28. 187 espécies estão actualmente identificadas como tendo algum tipo de uso medicinal. Um número que, admitem, estará muito longe do verdadeiro potencial terapêutico das muitas plantas que crescem no planeta. O documento sublinha ainda que “apenas 16% (4478) das espécies utilizadas em medicamentos à base de plantas estão citadas em publicações relativas à regulação de medicamentos”. Por outro lado, notam os especialistas, “existem actualmente 15 nomes alternativos para cada espécie de planta medicinal, o que causa uma enorme confusão e risco no sector das plantas medicinais”. Assim, o processo deve ser simplificado e melhorado através do recurso a bases de dados como o Serviço de Nomes de Plantas Medicinais de Kew, defendem. “Muitas das mais de 28 mil espécies com potencial medicinal deram à medicina moderna algumas das mais importantes descobertas, mas poucas foram realmente listadas oficialmente devido ao uso de rótulos ambíguos”, lamenta a cientista e Presidente da Maurícia Gurib-Fakim, num comentário ao relatório que está no comunicado. Este “livro” detalhado sobre o Estado das Plantas do Mundo inclui dados e imagens para todos os gostos. “Jardineiros e amantes de plantas ornamentais poderão comemorar as descobertas de espécies de plantas comuns, que oferecem agora novas cores e aromas, além de períodos de floração mais longos e adaptações a habitats diferentes daqueles já conhecidos”, nota o comunicado. Exemplo: há 29 novas espécies pertencentes ao género da Begonia, descritas a partir das florestas da Malásia. “É um momento especial para se investigar a fundo o universo das plantas”, considera Kathy Willis, directora de ciência dos Jardins Botânicos Reais de Kew, acrescentando que “a partir dos avanços tecnológicos que nos permitem desvendar de forma mais profunda os mistérios das plantas e investigar as suas características com maior detalhe – tanto moleculares como morfológicas – somos agora capazes de obter um quadro mais detalhado do que nunca sobre o que temos, o seu valor e vulnerabilidade”. Um desses avanços será seguramente do campo da genética. O relatório assinala que o número de plantas com genomas sequenciados chega agora a 225 espécies, o que representa um aumento de mais de 60% em relação ao ano anterior. Já em 2017, notam, foi revelada a sequenciação molecular de alcaçuz, um dos mais usados remédios provenientes de ervas medicinais. Mas para que serve o conhecimento do genoma das plantas? “Quando adicionadas as informações que estão a ser reunidas sobre os parentes silvestres de culturas como o arroz, trigo, amendoim, batata, tomate, soja, batata-doce e outros, teremos uma imagem bastante precisa do que precisamos fazer para sustentar a crescente população global num mundo em aquecimento”, refere o comunicado. Em resumo, estes dados poderão servir para melhorar a produção, qualidade e rendimento das culturas. Madagáscar, um caso especialO país de destaque da segunda edição do relatório é Madagáscar, a quarta maior ilha do mundo e o único país fora do Reino Unido onde os Jardins Kew tem uma presença permanente. Os dados analisados permitiram concluir que 83% das mais de 11 mil espécies de plantas vasculares (com tecidos especializados no transporte de água e seiva) nativas de Madagáscar não existem em mais nenhum lugar da Terra. A ilha acolhe cinco famílias de plantas únicas e três vezes mais espécies de palmeiras do que a África continental. E eis mais um momento para um exemplo: Madagáscar tem alguns dos raros e ameaçados exemplares da espectacular Tahina spectabilis, conhecida como palmeira-gigante-suicida, uma planta que chega a atingir os 20 metros de altura e que se autodestrói, morrendo após gastar todas as suas energias numa impressionante despedida que envolve uma única e final produção de centenas de flores minúsculas. Madagáscar é um caso especial mas o relatório sobre o Estado das Plantas do Mundo também inclui, obviamente, dados de Portugal. Cátia Canteiro, uma investigadora portuguesa que faz parte da equipa dos jardins de Kew e que participou neste trabalho dedicando-se ao capítulo que fala do risco de extinção das plantas, adianta ao PÚBLICO que, das mais de 450 famílias de plantas vasculares actualmente descritas a nível mundial, cerca de 113 ocorrem em Portugal (o que representa um total de 532 espécies de plantas). “Das 1730 espécies novas de plantas vasculares registadas na base de dados do International Plant Names Index, 141 foram listadas para a Europa e apenas uma para Portugal, a Carex lucennoiberica. Esta espécie foi descrita como endémica da Península Ibérica e em Portugal é conhecida apenas uma população na serra da Estrela, sendo considerada bastante ameaçada e sensível a alterações climáticas e destruição de habitat (especificamente nitrificação do solo)”, diz a bióloga. Sobre as ameaças, Cátia Canteiro alerta que, segundo a avaliação feita pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), no final de 2016 existiam em Portugal 76 espécies de plantas vasculares ameaçadas pela “construção, agricultura, alterações dos sistemas naturais, incluindo barragens e incêndios, e espécies invasoras”. E sobre as pragas? “Os principais insectos causadores de pragas e doenças em plantas referidos nos últimos cinco anos em estudos em Portugal registados na base de dados do Centro Internacional para a Agricultura e Ciências da Vida [CABI, na sigla em inglês] foram: a mosca-da-fruta-do-mediterrâneo (Ceratitis capitata), a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) e o gorgulho-castanho-da-farinha (Tribolium castaneum). ”De resto, ainda sobre as ameaças do mundo, o relatório dos jardins de Kew realça que há espécies de plantas que parecem estar a revelar uma maior capacidade de adaptação às mudanças climáticas, o que é uma boa notícia. Para responder ao aumento das temperaturas, às secas e aos elevados níveis de dióxido de carbono no ar, as plantas estão a engrossar as suas folhas e a “inventar” novas estratégias para melhor uso da água, levando, por exemplo, as raízes para locais mais profundos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Porém, também há más notícias. Os especialistas notam que a falta de controlo das pragas e doenças invasoras pode representar prejuízos para a agricultura que podem chegar aos 450. 000 milhões de euros e que há 340 milhões de hectares da superfície terrestre cobertos por vegetação que são varridos anualmente por incêndios florestais. Neste lado negro do estado das plantas há ainda o capítulo do comércio ilegal de plantas raras que “não mostra sinais de abrandar”. Estima-se que o comércio ilegal de espécies selvagens na União Europeia represente algo entre 8000 e 20. 000 milhões de euros anualmente. Apesar dos riscos e ameaças, todos os anos os cientistas descobrem cerca de duas mil novas espécies de plantas. No total, existirão no planeta mais de 392 mil espécies de plantas vasculares. Plantas bonitas e feias, que se comem ou são carnívoras, que nos curam ou envenenam, das mais minúsculas às gigantes, algumas raras e outras vulgares. Muitas ameaçadas. Todas importantes.
REFERÊNCIAS: