Redskins Quando o nome de uma equipa é um problema
A equipa de Washington tem sido atacada por não mudar aquele que muitos consideram o nome mais racista do futebol americano. Apesar da pressão crescente, o dono dos Redskins garantiu que nunca cederáPara uma equipa que não ganha um Super Bowl há 21 anos, os Redskins não têm tido problemas em manter--se no centro das atenções. Grande parte dessa visibilidade assenta sobre os ombros - ou melhor, sobre o joelho direito, recentemente operado - do seu mais famoso jogador, Robert Griffin III, o quarterback de 23 anos que, numa única temporada, resgatou a equipa da mais longa sequência de derrotas em casa da história da... (etc.)

Redskins Quando o nome de uma equipa é um problema
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-24 | Jornal Público
TEXTO: A equipa de Washington tem sido atacada por não mudar aquele que muitos consideram o nome mais racista do futebol americano. Apesar da pressão crescente, o dono dos Redskins garantiu que nunca cederáPara uma equipa que não ganha um Super Bowl há 21 anos, os Redskins não têm tido problemas em manter--se no centro das atenções. Grande parte dessa visibilidade assenta sobre os ombros - ou melhor, sobre o joelho direito, recentemente operado - do seu mais famoso jogador, Robert Griffin III, o quarterback de 23 anos que, numa única temporada, resgatou a equipa da mais longa sequência de derrotas em casa da história da liga americana de futebol. O problema é que sempre que os Redskins parecem estar a desfrutar de um bom momento, alguém se lembra de ressuscitar uma polémica antiga: a equipa de Washington tem o que muitos consideram o nome mais racista do futebol americano. "Redskins" ou "peles vermelhas" é um termo associado com os índios americanos que os dicionários consideram "ofensivo". Embora a origem da expressão seja disputada por historiadores, ela é normalmente associada com a perseguição e matança de indígenas por parte de colonos europeus que eram recompensados por cada escalpe índio que apresentassem, uma prática conhecida no século XVIII. E a referência a qualquer grupo étnico através de características físicas como a cor da pele é, em geral, anátema na opinião pública americana. Muitos índios americanos consideram "redskin" um insulto tão impronunciável quanto "nigger" é para os afro-americanos (nenhum americano branco se atreve a dizê-la, sob pena de ser acusado de racismo; ela é simplesmente referida como a "n-word", a palavra começada por "n"). Grupos de índios americanos têm tentado, através dos tribunais, pressionar a equipa a mudar de nome. Um primeiro processo, datado de 1992, arrastou-se durante 17 anos no sistema legal americano, porque a equipa interpôs um recurso, e o Supremo Tribunal recusou intervir no caso. Em Março deste ano, um painel de juízes do Gabinete de Patentes e Marcas Registadas dos Estados Unidos escutou os argumentos orais num segundo caso, iniciado em 2006, que argumenta que o nome da equipa e a simbologia associada violam uma lei de 1946 que proíbe marcas registadas que possam ofender um segmento da população. A decisão dos juízes só é esperada no próximo ano e ninguém duvida de que os Redskins, mais uma vez, irão recorrer do veredicto, se este não lhes for favorável. O próprio mayor de Washington tem procurado evitar dizer o nome da equipa em público e avisou recentemente que se quiserem voltar a jogar na cidade, como no passado - o estádio dos Redskins encontra-se no estado vizinho de Maryland, a meia hora de distância -, terão de mudar de nome. Um grupo de dez congressistas escreveu ao dono da equipa, Daniel Snyder, e ao comissário da National Football League, Roger Goodell, condenando o que consideram um termo "difamatório" e um "insulto racial" e apelando à mudança do nome. Este mês, as revistas Slate, The New Republic e Mother Jones anunciaram que iriam deixar de mencionar o nome da equipa nas suas páginas. Alguns jornalistas desportivos de publicações mais influentes têm levado a cabo o seu próprio boicote, mesmo quando o seu jornal tem evitado tomar posições. "Acho que não vai encontrar a palavra nos últimos seis ou sete meses em qualquer das minhas colunas sobre a equipa", diz ao PÚBLICO Mike Wise, um jornalista e cronista desportivo do Washington Post que há vários anos vem defendendo a mudança de nome da equipa nas suas colunas de opinião e que, por isso, tem recebido uma série de emails furiosos e ameaçadores por parte da fervorosa legião de adeptos dos Redskins. "Pode encontrar uma ou outra vez, mas é porque um editor a pôs lá. Não gosto de usar o nome nos meus artigos. É uma pequena forma de reconhecer que muitas pessoas não querem o nome. "Sondagem a favor do nomeMas, a acreditar numa sondagem realizada em Maio pela Associated Press, muitas pessoas querem o nome: 79% dos americanos defendem a manutenção do nome, enquanto 11% consideram que ele deve ser alterado. Os Redskins usaram os resultados da sondagem no seu blogue oficial, como um triunfo. "Essas sondagens não podiam ser mais ridículas", diz Mike Wise. "É como perguntar a alguém no Alabama há 50 anos: "Acha bem que se use o termo negro [equivalente a "preto", em português]?" E uma mulher branca responde: "Sim, é uma das coisas mais simpáticas que chamo às pessoas de cor. ""Os Redskins não são a única equipa desportiva americana a adoptar um nome, mascote e iconografia relacionadas com a cultura dos povos nativos. A prática tornou-se comum, como uma forma de associar a identidade das equipas ao espírito guerreiro, ferocidade e bravura dos índios americanos. As equipas defendem que isso não é mais do que um tributo aos índios. "Não percebo o argumento de que é uma forma de honrar o espírito guerreiro dos povos nativos, quando isso foi precisamente uma das desculpas usadas para se livrarem deles", diz Bruce Duthu, professor de estudos nativos americanos na Universidade de Dartmouth. Em 1971 existiam cerca de três mil equipas profissionais, universitárias e liceais nos Estados Unidos com nomes e iconografia índias. Desde então, quase dois terços delas mudaram de nome. Apesar da pressão crescente, numa entrevista ao USA Today em Maio o dono dos Redskins garantiu que nunca mudaria o nome da sua equipa. "É tão simples quanto isso. NUNCA - pode escrever isso em maiúsculas. "E, no entanto, ninguém imagina uma equipa recém-formada a adoptar esse nome em 2013 sem que isso fosse um escândalo nacional. "Qual é a diferença, então? Só porque a equipa foi baptizada com esse nome nos anos 1930, está tudo bem?", nota Kevin Ewoldt, um adepto que é um dos autores de um blogue sobre os Redskins, Hogs Haven. O primeiro dono da equipa e o homem que a baptizou, George Preston Marshall, era racista, nota. Os Redskins foram a última equipa da liga a integrar jogadores negros, 15 anos depois do fim da segregação racial no futebol americano e só porque foram obrigados pelo governo. "Qualquer coisa que possamos fazer para nos distanciarmos desse tipo é um bónus", conclui Kevin.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei cultura tribunal mulher negro homem racismo racista perseguição
O bem e o mal, o Governo e o provedor da Ética no Desporto
1. Na sequência do ocorrido no final do jogo entre o Vitória de Guimarães e o Benfica, este infeliz país assistiu – dirão alguns que não – a uma explosão mediática que se projectou no quotidiano de todos os portugueses. Agora que os procedimentos, disciplinares e criminais, iniciaram o seu percurso, com a garantia da defesa do arguido, é tempo de «fechar» ou pelo menos suspender os fluxos de informação e de contrainformação. Pela nossa parte, deixamos três registos “finais”. 2. Em primeiro lugar, temos para nós que, no futebol e na restante vivência social, o «mal» e o «bem» não se guiam por qualquer ponto cardea... (etc.)

O bem e o mal, o Governo e o provedor da Ética no Desporto
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2013-09-30 | Jornal Público
TEXTO: 1. Na sequência do ocorrido no final do jogo entre o Vitória de Guimarães e o Benfica, este infeliz país assistiu – dirão alguns que não – a uma explosão mediática que se projectou no quotidiano de todos os portugueses. Agora que os procedimentos, disciplinares e criminais, iniciaram o seu percurso, com a garantia da defesa do arguido, é tempo de «fechar» ou pelo menos suspender os fluxos de informação e de contrainformação. Pela nossa parte, deixamos três registos “finais”. 2. Em primeiro lugar, temos para nós que, no futebol e na restante vivência social, o «mal» e o «bem» não se guiam por qualquer ponto cardeal. Não há um “eixo do mal” a Norte e uma “linha da verdade” ou da ética a Oeste ou a Leste. O mal e o bem repartem-se pelo todo e tanto se localizam ao Norte, a Leste, a Oeste ou no Sul. Por outro lado, a meu ver, só há duas formas de vencer o mal: praticando o bem (em resposta ao mal) ou, em pura lógica, agir sempre pior que o «mal». O que verdadeiramente me perturba é o discurso do bem e a ação que, nos momentos determinantes, não o respeita. Dessa forma, é bem sabido, não se vence o “eixo do mal”. 3. Independentemente até do juízo jurídico que se faça sobre o ocorrido, a verdade é que os agentes de segurança pública se viram confrontados com algo realmente perturbador da sua ação. Durante os dias que se seguiram nem uma palavra, diria mesmo um suspiro, se ouviu do Governo. O Ministro da Administração Interna e o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto remeteram-se a um silêncio confortável, ainda para mais em semana eleitoral. Ministro e Secretário de Estado que sempre se recheiam de palavras sobre a ética desportiva, a prevenção e o combate à violência no desporto. Membros do Governo esses claramente empenhados em mais um rejuvenescimento de uma ineficaz lei do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança, operado no passado dia 25 de Julho. Ministro esse que tornou obrigatória a presença das forças policiais nas competições profissionais de futebol. 4. O Plano Nacional de Ética no Desporto tem até um Provedor da Ética no Desporto, nomeado pelo Governo. Na actualidade o cargo é desempenhado pelo Professor Manuel Sérgio que, na página da Internet, tem uma mensagem ao mundo do desporto, desde o dia 15 de Setembro, intitulada “O Desporto em que eu acredito”. Entre muitas afirmações das suas convicções em prol de um desporto ético, retiramos estas duas:”Este é o Desporto em que eu acredito. Para ele, vale mais uma lágrima humana do que todos os campeonatos e taças do mundo. Ele não se ocupa só do estudo dos meios, esquecendo os fins, e por isso não tem por si as letras grandes das páginas dos jornais, nem os noticiários mais escutados da rádio e da televisão, nem as redes de mundialização mediática”; “Não pode esperar-se dos cultivadores de um clubismo ou regionalismo doentios, nem de nefastos manipuladores da opinião pública, que reconheçam na Ética lugar imprescindível, na prática desportiva. Os nossos jovens têm direito a este banho de verdade, que deve abranger todo o sistema educativo nacional: Sem Ética, não há Desporto”. Nove dias depois, o Professor Manuel Sérgio em declarações públicas à Rádio Renascença entendeu pronunciar-se sobre “o caso” nos seguintes termos: “ não tem valor nenhum” e é “para morrer”; “ quando nos agarramos em demasia a um caso como este, é porque não temos coisas importantes a tratar. Aquilo não tem importância nenhuma”. 5. Se o “bem” se comporta assim, então o “eixo do mal”, esteja em que ponto cardeal esteja, vive ainda melhor e só pode proliferar. josemeirim@gmai. com
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei violência racismo social estudo xenofobia
Lisboa e Luanda aguardam intervenção de Cavaco Silva para apaziguar a crise
Boa relação com Eduardo dos Santos e boa valoração pelos círculos políticos angolanos são os activos reconhecidos ao PresidenteLisboa e Luanda aguardam a intervenção do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, sobre a polémica que tem marcado as relações entre Angola e Portugal. A intervenção de Cavaco Silva é esperada na Cidade do Panamá, onde a partir de sexta-feira decorre a XXIII Cimeira Ibero-Americana, e as suas palavras são consideradas essenciais para apaziguar a crise. A declaração presidencial é justificada por dois motivos. Apesar de o Governo português ter comentado, na terça-feira, as declaraçõe... (etc.)

Lisboa e Luanda aguardam intervenção de Cavaco Silva para apaziguar a crise
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-17 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20131017160314/http://www.publico.pt/j1750901
TEXTO: Boa relação com Eduardo dos Santos e boa valoração pelos círculos políticos angolanos são os activos reconhecidos ao PresidenteLisboa e Luanda aguardam a intervenção do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, sobre a polémica que tem marcado as relações entre Angola e Portugal. A intervenção de Cavaco Silva é esperada na Cidade do Panamá, onde a partir de sexta-feira decorre a XXIII Cimeira Ibero-Americana, e as suas palavras são consideradas essenciais para apaziguar a crise. A declaração presidencial é justificada por dois motivos. Apesar de o Governo português ter comentado, na terça-feira, as declarações desse mesmo dia do Presidente de Angola sobre o adiamento da construção da pareceria estratégica luso-angolana, só um chefe de Estado pode responder a outro chefe de Estado. Depois de Eduardo dos Santos, terá de ser Cavaco a referir-se à importância das relações entre os dois países. No discurso sobre o estado da nação, na terça-feira, em Luanda, José Eduardo dos Santos referiu "incompreensões ao nível da cúpula política [portuguesa]" - o que foi interpretado como uma referência às investigações iniciadas há um ano pelo Ministério Público sobre interesses económicos de dirigentes do regime de Luanda em Portugal. Por outro lado, entre Eduardo dos Santos e Cavaco Silva existe uma cordial relação que data de há mais de 20 anos - desde os acordos de Bicesse, entre o MPLA e a UNITA, com Cavaco Silva como primeiro-ministro. Por fim, foi o actual Presidente quem, em 2009, defendeu o conceito de parceria estratégica para as relações luso-angolanas. A este propósito, um ex-diplomata garantiu ao PÚBLICO que o Presidente da República é o dirigente político português mais considerado em Angola e pelo Presidente angolano. Este facto, reconhecido pela diplomacia portuguesa como um activo importante na relação com Angola, aconselha a intervenção de Cavaco. Para o antigo funcionário, o objectivo é situar o relacionamento bilateral ao nível da excelência com um país, Angola, que é o primeiro exportador de petróleo da África subsaariana, onde vivem cerca de 200 mil cidadãos portugueses, que tem a presença maciça de bancos e das principais empresas nacionais. Passos promete agirSão estes os contornos da Realpolitik que o Governo pretende manter. Ontem, à sua chegada ao México, numa visita que antecede a sua presença na cimeira da Cidade do Panamá, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi claro: "Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que a relação entre os dois países não seja abalada por episódios de qualquer espécie. " No mesmo dia em que, em mais um editorial, o Jornal de Angola, acusava Portugal de cozinhar "todas as campanhas contra o bom-nome de altas figuras do Estado angolano", Passos Coelho sublinhou: "Aquilo que iremos fazer, como temos vindo a fazer desde o dia em que tomei posse, é realizar uma aproximação muito grande com o Governo angolano, mas também com instituições angolanas, de forma a cultivar e a aprofundar esta relação que é importante para as duas nações e para os dois povos. "Também Mário Soares referiu a importância das relações entre Lisboa e Luanda. "Somos dois povos irmãos, Portugal tem lá [em Angola] muitos portugueses, e os angolanos são grandes amigos de Portugal", disse o ex-Presidente da República. À espera de que a intervenção de Cavaco ajude a amainar a crise, o presidente da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros e novo líder da bancada parlamentar socialista, Alberto Martins, teve ontem um encontro com o embaixador angolano em Lisboa. Da reunião saiu uma referência, genérica e discreta: "O encontro decorreu com cordialidade na defesa dos interesses do Estado português. "
REFERÊNCIAS:
Embaixador de Angola garante que investimentos portugueses continuam a ser “bem-vindos”
O embaixador angolano em Portugal assegurou em entrevista à SIC Notícias que os investimentos portugueses em Angola são “bem-vindos” e garantiu que os portugueses que trabalham no país “não estão a ser perturbados”. “Os investimentos portugueses em Angola são bem-vindos. Os portugueses que estão a trabalhar em Angola não estão a ser perturbados, nem o Estado angolano vai permitir que sejam perturbados na sua vida normal pelo facto de serem portugueses”, garantiu José Marcos Barrica numa entrevista ao programa “Sociedade das Nações” que será exibida este sábado no canal noticioso. O diplomata, nas primeiras declar... (etc.)

Embaixador de Angola garante que investimentos portugueses continuam a ser “bem-vindos”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2013-10-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20131019160252/http://www.publico.pt/1609630
TEXTO: O embaixador angolano em Portugal assegurou em entrevista à SIC Notícias que os investimentos portugueses em Angola são “bem-vindos” e garantiu que os portugueses que trabalham no país “não estão a ser perturbados”. “Os investimentos portugueses em Angola são bem-vindos. Os portugueses que estão a trabalhar em Angola não estão a ser perturbados, nem o Estado angolano vai permitir que sejam perturbados na sua vida normal pelo facto de serem portugueses”, garantiu José Marcos Barrica numa entrevista ao programa “Sociedade das Nações” que será exibida este sábado no canal noticioso. O diplomata, nas primeiras declarações desde a polémica declaração do Presidente angolano José Eduardo dos Santos a anunciar o fim da pretendida parceria especial entre os dois países, assegurou que o seu país continua a “precisar” de Portugal e do contributo dos portugueses. “Não se disse que terminaram as idas dos portugueses a Angola. Não se disse que Angola não precisa de Portugal. Precisamos dos portugueses, precisamos de Portugal para o nosso desenvolvimento, como precisamos também de outros países que tenham algo para oferecer-nos do ponto de vista tecnológico, do ponto de vista do conhecimento”, disse. No entanto, e no pequeno excerto das suas declarações divulgadas nesta sexta-feira na página online da SIC, José Marcos Barrica advertiu que “esta boa vontade (…) não pode ser feita a qualquer preço” e mesmo tendo “consciência” que é sempre encarada com “desconfiança”. “Os angolanos, os seus dirigentes, não se sentem confortados quando sabem que o seu par de relação, no caso Portugal, o território português por exemplo, é um território onde avultam sinais de desconfiança por parte destas pessoas, muitas delas bem colocadas no Estado português”, sublinhou o diplomata. E concluiu: “Quer dizer, não é bom que um dirigente angolano, por exemplo, que venha a Portugal, saiba que a opinião que se tem dele é de um criminoso”. Na terça-feira, durante o discurso sobre o estado da Nação na Assembleia Nacional de Angola, em Luanda, José Eduardo dos Santos anunciou o fim da parceria estratégica com Portugal. "Só com Portugal as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político actual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada", considerou o Presidente angolano. Portugal e Angola têm previsto realizar em Luanda, em Fevereiro do próximo ano, a primeira cimeira bilateral, cuja realização foi anunciada em Fevereiro passado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas. Fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros português disse na quarta-feira à Lusa que Portugal continua a preparar o encontro dos líderes dos dois países. Também na quarta-feira, o primeiro-ministro português afirmou que fará tudo o que está ao seu alcance para que a relação entre Portugal e Angola não seja abalada, referindo ainda não ter falado com o Presidente angolano sobre este assunto. "Eu farei o que está ao meu alcance, como chefe do Governo português, para que essa relação entre os dois países não seja abalada por episódios de qualquer espécie”, disse Pedro Passos Coelho. “Portanto, aquilo que iremos fazer, como temos vindo a fazer desde o dia em que eu tomei posse, é realizar uma aproximação muito grande com o Governo angolano, mas também com instituições angolanas, de forma a cultivar e a aprofundar esta relação que é importante para as duas nações e para os dois povos", declarou o primeiro-ministro à comunicação social portuguesa, num hotel da Cidade do México, onde se encontra em visita oficial.
REFERÊNCIAS:
PGR Angola tem processos contra portugueses, mas não quer "pagar na mesma moeda"
O Procurador-Geral da República (PGR) de Angola afirmou que o Ministério Público angolano tem processos em curso contra portugueses, alguns deles relacionados com branqueamento de capitais, mas escusou-se a identificar os suspeitos para "não pagar na mesma moeda". Em entrevista ao semanário angolano O País, à margem da oitava Conferência Anual dos Procuradores Gerais da República do continente africano, em Cabo Verde, João Maria de Sousa comentou a recente polémica em torno de notícias sobre investigações a altos dirigentes angolanos pelo Ministério Público português. Sublinhando que os países são soberanos e que... (etc.)

PGR Angola tem processos contra portugueses, mas não quer "pagar na mesma moeda"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-22 | Jornal Público
TEXTO: O Procurador-Geral da República (PGR) de Angola afirmou que o Ministério Público angolano tem processos em curso contra portugueses, alguns deles relacionados com branqueamento de capitais, mas escusou-se a identificar os suspeitos para "não pagar na mesma moeda". Em entrevista ao semanário angolano O País, à margem da oitava Conferência Anual dos Procuradores Gerais da República do continente africano, em Cabo Verde, João Maria de Sousa comentou a recente polémica em torno de notícias sobre investigações a altos dirigentes angolanos pelo Ministério Público português. Sublinhando que os países são soberanos e que ninguém em Angola é contra a instauração de procedimentos penais contra qualquer pessoa, o PGR considerou estranho que processos salvaguardados pelo segredo de justiça sejam "conhecidos em detalhe pelos jornalistas". João Maria de Sousa lamentou que esses factos sejam "levados ao conhecimento do público por certos jornais, em cujas páginas são feitos autênticos julgamentos públicos com as pessoas a serem achincalhadas de todas as formas sem possibilidade de defesa". As pessoas visadas são assim "completamente arrasadas no seu bom-nome, na sua imagem e na sua dignidade", e mesmo quando os processos acabam arquivados "o mal que já foi feito permanece e os visados nunca mais se livram da imagem negativa". "É disto que deriva a revolta dos angolanos", reiterou, afirmando que embora seja o procurador-geral é também "um cidadão angolano, um patriota", pelo que não pode "pactuar com situações que lesam a dignidade dos angolanos". Suspeitas de branqueamento de capitaisO responsável acrescentou que também em Angola há processos em curso contra alguns portugueses, em alguns casos relacionados com branqueamento de capitais. "Quando se está perante situações em que não se conhece bem a origem de determinados dinheiros, que depois são retirados das contas e desaparecem do território angolano, temos de investigar e referenciar as pessoas envolvidas. É disso que se trata", explicou. Instado a falar sobre as empresas e empresários em causa, o procurador-geral angolano preferiu "não pagar na mesma moeda e manter o anonimato dessas pessoas". "Estamos a trabalhar com processos protegidos pelo segredo de justiça e quando chegar o momento próprio e as coisas estejam devidamente clarificadas e não haja possibilidade de se criar qualquer tipo de ambiguidade, então sim, vamos divulgar toda a informação para que a sociedade angolana fique devidamente esclarecida", afirmou. A actual tensão diplomática entre Portugal e Angola, que levou o Presidente angolano a anunciar na semana passada a suspensão da parceria estratégica que pretendia criar com Lisboa, começou em Novembro do ano passado, quando o semanário Expresso noticiou a existência de um inquérito-crime no Ministério Público português contra altos dirigentes angolanos. Na altura, o jornal falava em indícios de fraude fiscal e branqueamento e referia-se concretamente ao vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, ao general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, chefe da Casa Militar da Presidência da República, e o general Leopoldino Nascimento “Dino”, consultor do ministro de Estado e ex-chefe de Comunicações da Presidência da República. Mais recentemente, numa entrevista à Rádio Nacional de Angola, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, pediu desculpa a Luanda pelas investigações do Ministério Público, declarações que provocaram polémica em Lisboa e levaram a oposição a pedir a sua demissão. Em resposta, a PGR portuguesa esclareceu que se "encontram pendentes no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) vários processos em que são intervenientes cidadãos angolanos, quer na qualidade de suspeitos, quer na qualidade de queixosos", sublinhando que os processos se encontram em "segredo de justiça", sendo o seu conteúdo acessível "só aos intervenientes processuais a quem a lei confere tal direito".
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
"Não estamos perante a possibilidade de uma guerra civil"
Fernando Jorge Cardoso, investigador do Instituto Marquês de Valle Flôr e especialista em assuntos africanos, defende que não há risco de uma nova guerra civil em Moçambique, mas podem surgir conflitos localizados.... (etc.)

"Não estamos perante a possibilidade de uma guerra civil"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-23 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20131023160208/http://www.publico.pt/v13257
TEXTO: Fernando Jorge Cardoso, investigador do Instituto Marquês de Valle Flôr e especialista em assuntos africanos, defende que não há risco de uma nova guerra civil em Moçambique, mas podem surgir conflitos localizados.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra
Albert Camus: um homem irrecuperável
Nas comemorações dos 100 anos do seu nascimento, os esforços de recuperação e utilização instrumental da sua vida e obra nas guerras da memória por parte dos nostálgicos do tempo colonial vingaram. A sua defesa de um pensamento político "modesto" interessou ainda menos. "Albert Camus, l'étranger qui nous ressemble". Deveria ter sido este o título da exposição comemorativa do centenário do nascimento de Camus, a organizar em Aix-en-Provence pelo renomado historiador das relações entre a Argélia e a França, Benjamin Stora, no âmbito das iniciativas da capital europeia da Cultura Marseille-Provence 2013. Não foi. Os... (etc.)

Albert Camus: um homem irrecuperável
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-11-08 | Jornal Público
TEXTO: Nas comemorações dos 100 anos do seu nascimento, os esforços de recuperação e utilização instrumental da sua vida e obra nas guerras da memória por parte dos nostálgicos do tempo colonial vingaram. A sua defesa de um pensamento político "modesto" interessou ainda menos. "Albert Camus, l'étranger qui nous ressemble". Deveria ter sido este o título da exposição comemorativa do centenário do nascimento de Camus, a organizar em Aix-en-Provence pelo renomado historiador das relações entre a Argélia e a França, Benjamin Stora, no âmbito das iniciativas da capital europeia da Cultura Marseille-Provence 2013. Não foi. Os "nostalgériques" (os nostálgicos da Argélia francesa), com importante peso eleitoral em Aix-en-Provence e com uma presença assinável nos novéis meios de comunicação, condicionaram o processo. A presidente da Câmara de Aix-en-Provence Maryse Joissains-Masini, membro da União para um Movimento Popular(UMP) e próxima dos "nostalgériques", parece ter contribuído para o sucedido, apesar de declarar não saber sequer que Stora é um historiador. Os esforços de recuperação e utilização instrumental de Camus nas guerras da memória por parte dos nostálgicos do tempo colonial vingaram. Ao mesmo tempo, os desejos da neutralização ou desvalorização presente das suas ideias e perspectivas sobre a história colonial francesa (e o lugar de destaque que a Argélia nesta ocupou e ocupa) também prevaleceram. A "caravana Camus", nomeada Club Camus Méditerranée, que deveria percorrer, em 2010, diversas cidades francesas e argelinas com o intuito de difundir a obra camusiana foi bloqueada por círculos "intelectuais" na Argélia. A celebração da sua obra foi encarada como uma tentativa de reabilitação de discursos a favor de uma Argélia Francesa, como se declarava na petição "Alerta às consciências anti-colonialistas", assinada por uma série de "intelectuais" argelinos. Em Paris, estão consagrados nos muros da Biblioteca Nacional de França Jean-Paul Sartre, Boris Vian e Guy Debord, entre outros. Camus não. "Albert Camus, un homme révolté". Devia ter sido este o título da exposição comemorativa do centenário do nascimento de Camus organizada pelo sucessor de Stora, o conhecido filósofo Michel Onfray, autor de L'Ordre libertaire. La vie philosophique d'Albert Camus. Também não foi. Em 15 de Setembro de 2012, Onfray recusou coordenar a exposição. "As intrigas das redes, a cumplicidade de antigos combatentes de extrema-esquerda reconvertidos ao oportunismo social-democrata, a morgue da impotência universitária, a parvoíce de um ministro confundindo uso público das dotações e punição ideológica, a frouxidão dos institucionais da cultura" não deixavam margem de manobra, como esclareceu no Le Monde de 17 de Setembro. A decisão de Aurélie Filippetti, ministra da Cultura e da Comunicação no governo socialista de Jean-Marc Ayrault (que durou apenas trinta e quatro dias), de retirar o apoio oficial (e uma subvenção de 400. 000 euros) à exposição contribuiu certamente para a tomada de posição de Onfray. O resultado? Uma exposição intitulada Albert Camus, citoyen du monde, título suficientemente anódino para não despertar os "vigilantes" das histórias, das memórias e das identidades nacionais e imperiais; nem para incomodar as guardas pretorianas intelectuais, fora e dentro da academia. Uma exposição, enfim, que aposta na "imersão sensorial", como sublinhou o seu cenógrafoYacine Aït Kaci, e que nivela as diferentes facetas da sua vida, minimizando assim a controvérsia. Numa "era das memórias" - que constitui um poderoso desafio ao saber histórico ao criar, entre outros aspectos, a ilusão de que todas as narrativas históricas são cientificamente válidas e, deste modo, comparáveis - esta opção parece atrair os administradores do passado. A competição pela propriedade do passado, central à identidade e pertenças presentes, assim como à definição de projectos colectivos futuros, é acesa. Numa era marcada pela "política das exculpações" - na qual o debate sobre as reparações, a dita "justiça transicional" e a importância dos "passados" na interpretação dos "presentes" e na imaginação de "futuros" sobressai -, todo o cuidado é pouco. Camus: modos de (não) usar Mas Camus parece irrecuperável. Se resistiu às opiniões organizadas e sobreviveu a condenações ideológicas várias, continua a ser dificilmente utilizável pelos empreendedores da memória. Já em finais de 2009, quando Nicolas Sarkozy manifestou o desejo de promover a sepultura honorária de Camus no laicizado Panteão, o desconforto com Camus, a sua obra e pensamento, foi notório, suscitando animados debates. A diversidade e a complexidade dos posicionamentos político-culturais que sobre a questão se definiram são reveladoras da dificuldade em classificar e instrumentalizar Camus. Apesar de todos os simplismos dos enfeudados e dos militantes de causas várias, no passado como no presente, as suas ideias, por vezes contraditórias e de interpretação ambígua, são particularmente difíceis de transformar em slogans e soundbytes publicitáveis passíveis de cristalizar a sua pertença a uma causa, a um sistema, a uma ideologia. Os múltiplos sentidos do "pensée du midi" ou a abnegada recusa em promover a violência a instrumento justificável de acção política não foram, como não são hoje, particularmente sedutores para os cultores de sistemas de pensamento ou para os advogados de abstracções sociais e morais como motores, violentos se necessários, da mudança histórica e da transformação social. Para os primeiros, Camus não era um Sartre, não oferecia (ou oferece) respostas. Para os segundos, ávidos em reproduzir a acusação de Sartre de que Camus tinha a "moral de um escuteiro" por recusar elogiar os actos violentos da Frente de Libertação Nacional (FLN, Argélia), era um "cobarde". Para Roland Barthes, por ocasião da publicação de A Peste (1947), a Camus faltava um "compromisso" claro, a sua escolha da moral em detrimento da política era reprovável. Para Conor Cruise O'Brien, político e académico irlandês com uma carreira feita de polémicas e ziguezagues políticos, Camus era um "escritor colonialista" que aceitava "o mito e as principais justificações do colonialismo", apesar da "máscara do humanista europeu progressista, anti-racista e defensor dos oprimidos". Edward Said propagou a ideia de que Camus estava dominado por um "inconsciente" e uma "sensibilidade" coloniais. A sua obra tinha um lugar de destaque no que Said apelidou de "discurso colonial". O dictum camusiano "nem carrasco, nem vítima" (que deu o nome a uma série de ensaios serializados no jornal Combat em 1946) cativou poucos. A sua defesa de um pensamento político "modesto", imune a todos os tipos de messianismo e resistente à "nostalgia de um paraíso terrestre" interessou ainda a menos, ontem como hoje. A luta contemporânea pela reapropriação e instrumentalização dos legados do passado e pelos usos da memória sobrepõe-se à leitura plural e ponderada desses legados. Como declarou ao Le Monde Agnès Spiquel, presidente da Sociedade de Études Camusiennes, na edição de 15 de Setembro de 2012, "eles não lêem Camus, servem-se dele". Meridiano, à margem Em 1951, a publicação de O Homem Revoltado constituiu um momento de particular importância na definição do lugar político e cultural de Camus e da sua obra. Aprimorando reflexões já expostas em A Peste e em Ni victimes ni bourreaux, esta obra conclui o chamado ciclo da revolta, que se seguiu ao ciclo do absurdo, composto pelas obras Calígula(1941), O Estrangeiro (1942), O Mito de Sísifo (1942) e O Equívoco (1944). Um ano depois da sua publicação, o filósofo Francis Jeanson, delegado por Sarte, publica uma crítica ao livro de Camus na famosa revista Temps Modernes, intitulada Albert Camus ou l"âme révoltée. Esta crítica desferiu o último golpe na amizade de Camus com Sartre e, acrescente-se, com um certo universo intelectual parisiense. Camus é descrito como uma versão exemplar da "alma bella" definida por Hegel, ou seja, uma alma presa em reflexões éticas ponderadas, narcísica, incapaz de agir, pessimista na imaginação de futuros radiosos, estéril nas consequências. O "humanismo vago" de Camus, dizia Jeanson, nada mais era do que impotência política. Gouncourt e Flaubert foram responsabilizados por Sartre por terem estado em silêncio sobre repressão após a Comuna de Paris. Camus foi criticado por questionar os sentidos e os fins da história, as suas supostas exigências, necessidades e imperativos. Mais ainda o foi por preferir a revolta à revolução. A sua resposta (Camus respondeu a Sartre, não a Jeanson) foi a de declarar nada ter a aprender com os que, durante a guerra, apenas "viraram a poltrona na direcção da história", enquanto ele foi activo na resistência. A resposta de Sartre foi a de iluminar as debilidades filosóficas de Camus, supostamente características de quem não tinha frequentado a École Normale Supérieure. Para Sartre, Camus criticava a sacralização do devir histórico hegeliano mas não lera Hegel, ou Sartre. Resta saber quem compreendeu melhor os problemas do seu tempo. Ou respondeu melhor à condição humana. Em Janeiro de 1956, Camus deslocou-se a Argel com o objectivo de "humanizar a guerra" e de atenuar a espiral de violência na sequência das atrocidades cometidas por ambas as partes em Philipeville (hoje Skikda), em 20 de Agosto de 1955. Foi acusado por membros e simpatizantes da FLN e acabou a ouvir ameaças de morte soltadas por milhares de pied-noirs reunidos junto ao Palácio do Governo em Argel, no interior do qual Camus apelava à recusa inabalável do terror, gesto supremo de liberdade em face da radicalização da situação política. Em 1957, por ocasião da atribuição do Prémio Nobel, Camus encontrou-se com estudantes da Universidade de Estocolmo. Um apoiante da causa da FLN questionou-o com vigor sobre a sua posição face à questão argelina. A resposta de Camus foi habilmente parafraseada, para não afirmar algo mais, pelo jornal Le Monde, gerando equívocos que ainda hoje persistem. Entre "Eu devo ainda condenar o terrorismo cego que pode ser visto nas ruas de Argel, por exemplo, que qualquer dia pode atingir a minha mãe ou família. Eu acredito na justiça, mas irei defender a minha mãe antes da justiça" e "Agora, as pessoas estão a colocar bombas nos eléctricos de Argel. A minha mãe pode estar num desses eléctricos. Se isso é a justiça, então eu prefiro a minha mãe" (o que foi efectivamente dito) há uma diferença óbvia. Não obstante, a pessoa que, em finais dos anos trinta, denunciara, com semelhanças fascinantes com os retratos de Orwell sobre Wigan e sobre a Catalunha, a destituição indigna que grassava nos kabilasno jornal Alger républicain, publicação que era voz do protesto anticolonial e claramente de esquerda, era agora vilipendiada como um apologista do colonialismo. A 6 de Setembro de 1960, a publicação do Manifesto dos 121 - Declaração sobre o direito à desobediência na guerra da Argéliadeixava claro a marginalidade política e intelectual de Camus. De Sartre a Beauvoir, Debord, Breton, Boulez, Duras, Lefebvre, Truffaut, Resnais e Blanchot (que ajudou a redigir o texto), o olimpo intelectual e artístico francês centrava as suas críticas na denúncia da violência deEstado e da tortura generalizada. A luta dos argelinos, nomeadamente da FLN, era uma acção legítima pela autodeterminação. Um dia antes, o julgamento da Rede Jeanson, uma rede de apoio aos membros da FLN liderada por este antigo compagnon de route de Sartre, começou. O Manifesto dos 121 era um apoio claro aos seus membros e à sua causa. Poucos meses depois, em Janeiro de 1961, era criada a Organisation Armée Secrète, uma organização paramilitar cujo motto era "L'Algérie est française et le restera", teve Sartre como alvo de atentado e que atentou contra a vida de De Gaulle num subúrbio de Paris, a 22 de Agosto de 1962. Nos últimos anos da década de 50, Camus dedicou-se a um doloroso e impotente silêncio, que preservará até à sua morte, num desastre de viação em Janeiro de 1960. Contudo, em 1958, publicou "Actuelles III: Chroniques algériennes 1939-1958", recentemente traduzida para inglês como Algerian Chronicles (Harvard UP, 2013), com uma brilhante introdução de Alice Kaplan. Qualquer leitura, mesmo que superficial, desta colectânea de ensaios, relatos e cartas não pode senão concluir que a sua importância para pensar o passado, reflectir sobre o presente e imaginar um futuro mais justo é inestimável. Ao mesmo tempo, demonstra a razão pela qual as suas palavras provocaram e continuam a provocar tanto incómodo em círculos conservadores e emancipadores, comprometidos com, ou enclausurados em, várias "causas" e "programas". Investigador do ICS
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra violência cultura homem social racista
Forças Armadas e Governo: o Estado em desagregação
Escrevemos no Dia do Trabalhador. É, em simultâneo, um modo de trabalhar e de intervenção cívica, apesar de ser feriado…Na sequência da visita do ministro da Defesa à Base Aérea 6, no Montijo, no pretérito dia 28/4, foi divulgado nos meios da comunicação social (OCS), a notícia de que 98 (na realidade 99) oficiais pilotos aviadores (cerca de dois terços do efectivo) tinham aderido, em bloco, à Associação de Oficiais (AOFA) (1)O frisson causado nada tem a ver com qualquer irregularidade, mas sim com o seu significado. Significado esse, por sinal, ignorado pela generalidade desses mesmos OCS, sem dúvida alguma pros... (etc.)

Forças Armadas e Governo: o Estado em desagregação
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-09 | Jornal Público
TEXTO: Escrevemos no Dia do Trabalhador. É, em simultâneo, um modo de trabalhar e de intervenção cívica, apesar de ser feriado…Na sequência da visita do ministro da Defesa à Base Aérea 6, no Montijo, no pretérito dia 28/4, foi divulgado nos meios da comunicação social (OCS), a notícia de que 98 (na realidade 99) oficiais pilotos aviadores (cerca de dois terços do efectivo) tinham aderido, em bloco, à Associação de Oficiais (AOFA) (1)O frisson causado nada tem a ver com qualquer irregularidade, mas sim com o seu significado. Significado esse, por sinal, ignorado pela generalidade desses mesmos OCS, sem dúvida alguma prosélitos e praticantes das mais elementares regras democráticas e da liberdade de expressão. Eis uma síntese rápida ao correr da pena. O ministro da Defesa foi visitar a BA 6, a fim de mostrar serviço com a ida de um C-130 para a República Centro Africana, no âmbito de uma missão da União Europeia e também assistir ao aniversário da Esquadra 751, que opera os sofisticados helicópteros EH 101 e que passa por uma crise de falta de pilotos e qualificações adequadas (aliás, todas passam). Estas dificuldades já estão a pôr em causa o cumprimento de uma missão da FA – que extravasa o país: a busca e salvamento. (2)Propositadamente ou não, o que é certo é que alguns oficiais conversaram com jornalistas e deram-lhes conta de algumas das dificuldades existentes, enquanto o ministro da Defesa era confrontado com um discurso duro do comandante da Esquadra 501 sobre a prontidão das aeronaves, manutenção, treino e segurança de voo e outros, que se arrastam há muitos anos e, como é lógico, não deixam de se agravar com o passar do tempo e a muito errada actuação política para com as FA. (3)Actuação ainda agravada por dissidências corporativas entre os ramos, falta de estratégia comum das chefias militares (onde se incluem os conselhos superiores) e alguns erros e ambições pessoais avulsos. Tudo se traduzindo numa paz podre reinante, a que um falso discurso de “tranquilidade” tenta tapar, como a peneira tapa o sol. Livrou-se ainda o ministro da Defesa de ouvir outro discurso duro, por parte do comandante da Esquadra 751, não fora o texto sido atempadamente “censurado”. Por “feliz” coincidência foi tornada pública a adesão dos citados 99 oficiais à AOFA – e outras estão previstas (o ministro da Defesa foi apanhado desprevenido), o que, aparentemente, começou a ser preparado desde o último encontro de oficiais, no ISCTE, em 22/2/14. (4)Independentemente das várias leituras possíveis para esta adesão, uma salta à vista desarmada e é indesmentível: trata-se de um atestado de desconfiança às chefias militares, passado com luva branca (mas que não deixa de ser um murro no estômago). Significa simplesmente que deixaram de acreditar na cadeia hierárquica e que passaram a sua esperança de resolução de problemas para a AOFA. A qual de facto, e independentemente da evolução da sociedade e dos tempos, só tem razão de existir pela falta de defesa dos homens e da própria instituição militar (IM), o que deixou de ser cabalmente feito sobretudo a partir da data em que as chefias militares passaram a ser exclusivamente escolhidas pelo poder político. (5)Como pano de fundo, que já vem de longe, temos o ataque contumaz ao estatuto da condição militar; a redução sistemática das FA à inanidade operacional e da IM à cota zero da sua representação política e inexpressividade social. Não se tem olhado a meios para conseguir tudo isto, e nesse objectivo nenhuma força política tem as mãos limpas. Na actual circunstância e no que toca concretamente aos pilotos, tudo – e é muito – se pode sintetizar numa frase: há cerca de três anos que se passou a colocar alferes tirocinados, isto é, acabados de receberem as asas, a voar… secretárias!E todos – agora já se engloba todos os militares dos três ramos das FA e GNR – vivem na angústia do próximo EMFAR, de que ninguém sabe nada, já que nada transpira (e há muito que a confiança se exauriu) e que, por sinal, está a ser cozinhado por alguns seres que os bons chefes de família não convidariam para se sentarem à mesa com eles. Por isso está a suscitar oposição das partes sãs do processo.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Socialistas
Na aproximação das eleições europeias, levantou-se entre governos e partidos do centrão liberal-conservador e socialista uma maré de preocupação com a ascensão dos populistas eurocéticos e da extrema-direita (uns e outra a mesma coisa em muitos casos). “Todos invocam o peso da crise nas escolhas extremistas. Mas cada um age como se se tratasse de um fenómeno natural, lamentável mas inevitável. A desregulação financeira, o desmantelamento dos direitos sociais, a redução do poder de compra das classes médias, forçar os assalariados a concorrerem entre si, tudo isto é apresentado como uma fatalidade e como se, pelo ... (etc.)

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MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140515170301/http://www.publico.pt/politica/noticia/socialistas-1635978
TEXTO: Na aproximação das eleições europeias, levantou-se entre governos e partidos do centrão liberal-conservador e socialista uma maré de preocupação com a ascensão dos populistas eurocéticos e da extrema-direita (uns e outra a mesma coisa em muitos casos). “Todos invocam o peso da crise nas escolhas extremistas. Mas cada um age como se se tratasse de um fenómeno natural, lamentável mas inevitável. A desregulação financeira, o desmantelamento dos direitos sociais, a redução do poder de compra das classes médias, forçar os assalariados a concorrerem entre si, tudo isto é apresentado como uma fatalidade e como se, pelo contrário, não resultasse de decisões concretas tomadas por indivíduos concretos – os governantes e os seus delegados europeus (e à cabeça a Comissão)” (Martine Bulard, “Nouveaux visages des extrêmes droites”, Manière de voir. Le Monde Diplomatique, abril-maio 2014). Era bom sabermos com quem contamos para contrariar o avanço do racismo, do populismo, do neofascismo. Mas o que mais contribui para este fenómeno é levarmos anos a ouvir que o neoliberalismo económico em geral e o austeritarismo em particular são inevitáveis na era da globalização. O consenso – de que Cavaco tanto fala – foi sempre a marca das opções de política económica dos governos das direitas e dos socialistas que se apresentam como a “esquerda de governo” por essa Europa fora. Cavaco começou as privatizações, Guterres multiplicou-as. Durão começou a austeridade, Sócrates levou-a até aos cortes de salários e aos PECs, e Passos e Gaspar deram-lhe a forma infernal que ela assume desde há três anos. Consenso e continuidade, portanto. Vota-se num para pôr de lá para fora outro - mas continua tudo na mesma. É esta uma caraterística do sistema político português? Não, claro! Na Alemanha, o social-democrata Schröder desregulou o mercado de trabalho e forçou a descida de salários. Perdeu eleições (2005) e o SPD não se lembrou de melhor que de fazer uma Grande Coligação com a direita de Merkel, a que regressou há meses atrás, depois desta mulher ter imposto ao Sul da Europa a receita da mais terrível pobreza dos últimos 40 anos. Nestas eleições, os socialistas europeus querem-nos convencer, contudo, que uma vitória sua permitiria salvar-nos da “atual maioria liberal-conservadora em todas as instituições da UE” e na maioria dos governos, que “não consegue dar uma resposta eficaz” à “pior crise económica que a Europa enfrenta desde os anos 30” (portal www. pes. eu/economy_and_finance). A quem se estarão a referir? Ao Presidente do Eurogrupo, o socialista holandês Jeroen Dijsselbloem (sim, aquele que se enganou quando incluiu no seu currículo um mestrado que nunca fez), que repetidamente insiste que o governo português, e o grego, e o espanhol, não podem relaxar nas medidas de austeridade que ele próprio tem proposto? Ao Presidente do Parlamento Europeu, o social-democrata alemão Martin Schultz, que sempre elogiou a política de austeridade imposta à Europa pelo governo Merkel de que o seu próprio partido, o SPD, faz agora parte? Ou será ao vice-governador do BCE, Vítor Constâncio, um ex-líder do PS, essa águia de visão aguda das fraudes bancárias portuguesas, que nunca cessou de pedir a Passos, a Portas, a Gaspar e a Seguro que, fizessem o que fizessem, não colocassem em questão as políticas comprometidas com as equipas da troika de que o BCE é uma das componentes? Ou será do socialista François Hollande, que dirige a segunda economia europeia, e que, depois de ser eleito em 2012 com a promessa de revogar esse espartilho austeritário que é o Tratado Orçamental, que contraria tudo quanto os socialistas europeus dizem sobre o Estado Social, não só fez marcha atrás, como passou a adotar a política de cortes que Merkel e os liberalões da Comissão Barroso lhe pedem? Lembremo-nos que, no mesmo ano, os socialistas gregos cometeram o seu hara-kiri político ao aceitarem integrar o governo da direita, de Antonis Samaras, que levou mais longe do que eles próprios haviam feito o mais radical e devastador dos programas austeritários europeus que deixou metade dos gregos na pobreza. . . No Manifesto Eleitoral Europeias 2014 que o PS divulgou denuncia-se o governo de Passos “que se aliou ao que a Europa tem de mais conservador, para impor esta marcha forçada para o empobrecimento e a subalternização política. ” Ou seja, queixa-se o PS de que Passos e Portas se aliaram com o socialista que dirige o Eurogrupo, os socialistas que dirigem o governo francês, os que estão no governo alemão e numa infinidade de governos do Norte da Europa, o socialista que está na direção do BCE, o socialista que preside ao Parlamento e que o PS apoia para presidir da Comissão. . .
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Meia hora sem Internet
A conexão falhou no princípio da tarde. Possivelmente, o corte terá tido origem num evento frívolo, talvez um inadvertido tropeção num fio ou um pontapé num servidor. Mas teve profundas consequências sócio-económicas. A primeira foi um curioso fenómeno de repetição verbal. “Não há net”, disse o primeiro a notar a anomalia. E a partir daí a mesma frase foi irrompendo como pipocas nos quatro cantos da redacção, em erupções instantâneas de perplexidade. Instalou-se inicialmente um grande mal-estar. Eu senti-me como se me tivessem tirado o chão debaixo dos pés. Outros comungavam da mesma comoção. Trabalhos que estava... (etc.)

Meia hora sem Internet
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2014-06-01 | Jornal Público
TEXTO: A conexão falhou no princípio da tarde. Possivelmente, o corte terá tido origem num evento frívolo, talvez um inadvertido tropeção num fio ou um pontapé num servidor. Mas teve profundas consequências sócio-económicas. A primeira foi um curioso fenómeno de repetição verbal. “Não há net”, disse o primeiro a notar a anomalia. E a partir daí a mesma frase foi irrompendo como pipocas nos quatro cantos da redacção, em erupções instantâneas de perplexidade. Instalou-se inicialmente um grande mal-estar. Eu senti-me como se me tivessem tirado o chão debaixo dos pés. Outros comungavam da mesma comoção. Trabalhos que estavam em curso foram interrompidos. Tarefas importantíssimas não poderiam ser realizadas. A edição do jornal estava seriamente em perigo. Valente susto mas passageiro, pois logo foi suplantado por uma injecção reanimadora, quando, pouco a pouco, concluiu-se que, sem net, era impossível trabalhar. E não só era, como seria, se os computadores permanecessem por muito tempo isolados da comunicação digital. Na prática, o tropeção ou pontapé estavam a um passo de, pelo menos por um dia, libertar dezenas de trabalhadores do fardo do trabalho – uma ansiada utopia. Sob esta magnífica perspectiva, o humor colectivo alterou-se. Rugas desapareceram de testas franzidas, silêncios deram lugar a animados diálogos, sorrisos surgiram do nada. Quando dei por mim, passeava amenamente pelo corredor, cruzando-me com outros em igual procedimento, tipicamente dominical. Alguns uniam-se em pequenos ajuntamentos estáticos, como no balcão de um café. Se houvesse cerveja, ninguém diria que aquele era um local de trabalho. Por não haver Internet, o mundo parecia ter congelado. E sem mundo, não havia jornalismo. Nem sequer era possível fazer telefonemas, nem aceder aos sistemas internos. Estava tudo interligado – neste caso, inter-desligado. A vida, como ela é, paralisara. De tão inesperados, porém, aqueles momentos de lazer forçado esgotaram paulatinamente a energia lúdica disponível. Exaurido por não fazer nada, sentei-me e pus-me simplesmente a escrever. E descobri que, sem estar conectado, a produtividade aumentara exponencialmente. É claro que este benefício não vinha sem um preço. Não podia ter acesso às notícias de última hora, nem pesquisar contactos ou aceder a documentos. Também estava impedido de verificar os emails a cada cinco minutos – um dos quais consumido a apagá-los –, de consultar os campeões de likes no Facebook e de assistir à mais recente inutilidade viral no Youtube, que todos partilham num impulso de grande originalidade, igual ao de milhões de outras pessoas. Tendo à mão a oportunidade de regressar às origens da profissão, estava pronto a partir para a rua munido apenas de um bloco de notas e uma caneta, quando a Internet voltou. “Já há net”, disse eu e mais umas dezenas de colegas, em nova redundância vocal. Em menos de um minuto já estavam todos sentados nos seus lugares, a cara colada ao computador. Num instinto, parei o que fazia para abrir os emails. Estava tudo lá: as ofertas de desconto em perfumes e televisores, o fantástico relógio do Rei Leão se eu assinasse umas revistas, um pedido para gostar do PS de Fornos de Algodres no Facebook, as fotos que uma Tânia me mandava dizendo que eu ia adorar e, é claro, mais uma proposta de negócio de um banco africano que pretendia depositar milhões de dólares na minha conta. Ainda bem. Felizmente, tudo tinha voltado ao normal.
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