A turbulência é mais serena com Neneh Cherry
As palavras reflectem o mundo agitado dos nossos dias, enquanto a música é serena e elegante, como se estivéssemos a escutar os Massive Attack do início como nunca os ouvíramos. É assim o excelente novo álbum de Neneh Cherry com produção de Four Tet. (...)

A turbulência é mais serena com Neneh Cherry
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: As palavras reflectem o mundo agitado dos nossos dias, enquanto a música é serena e elegante, como se estivéssemos a escutar os Massive Attack do início como nunca os ouvíramos. É assim o excelente novo álbum de Neneh Cherry com produção de Four Tet.
TEXTO: Há quatro anos dizíamos que o álbum que acabara de lançar (Blank Project) era o seu melhor de sempre. Agora acaba de editar Broken Politics e não temos dúvidas: este é melhor. Estão lá as influências de sempre (dub, jazz, hip-hop, electrónicas) mas organizadas de forma a fazer sobressair ainda mais a voz, a intimidade, as palavras e a elegância. Autoria: Neneh Cherry Awal Recordings, distri. PopStock 4Como no álbum anterior parte do segredo reside no produtor, o inglês Kieran Hebden, ou seja Four Tet, que parece mais uma vez ter entendido na perfeição o que a sua voz necessita para se expressar na perfeição, e também em Cameron McVey, seu marido há cerca de trinta anos, que divide com ela a escrita de algumas das canções. Hoje, Neneh Cherry, 54 anos, parece estar a passar por um verdadeiro renascimento criativo. E não é apenas um disco. Vimo-la ao vivo, há três semanas, no contexto do festival Waves Vienna, na capital austríaca, e foi patente que está mais desperta do que nunca. Durante cerca de uma hora desfiou quase todas as canções do novo álbum, cedendo apenas à curiosidade de alguns admiradores no encore, interpretando dois dos sucessos que a tornaram conhecida em todo o mundo (I’ve got you under my skin, original de Cole Porter que Frank Sinatra popularizou, e Manchild) enunciando no entanto que a nostalgia não lhe interessa nada. A memória e a história, isso sim. Apesar de não ter editado muitos álbuns (cinco), história é coisa que não lhe falta. Foi na alvorada dos anos 1980 que Neneh Mariann Karlsson, nascida na suécia, filha da pintora Monica Karlsson e do percussionista da Serra Leoa Amadu Jah (o padrasto foi Don Cherry, falecido em 1995, o conhecido trompetista de jazz que esteve presente na sua vida desde praticamente o início) se lançou nas aventuras da música. Com uma vida nómada, seguindo os pais pelo mundo, vivendo entre a Suécia, Nova Iorque e Londres, foi aí que acabou por dar nas vistas no caldo cultural do pós-punk. Cantou com o grupo The Cherries, teve curtas experiências em formações como as The Slits e The Pop Group, e acabou por se juntar aos Rip Rig + Panic, banda que fugia aos padrões da época, apostando numa linguagem onde o jazz mais livre acabava por ganhar contornos pop. Mas acabou por ser depois do fim do grupo que se deu o encontro decisivo da sua vida. Falamos do seu marido, o músico e compositor Cameron McVey, que a incentivou a prosseguir uma carreira a solo, sendo ele a compor a maior parte do material a incluir no seu primeiro álbum a solo, Raw Like Sushi (1989), depois da estreia um ano antes com o single Buffalo stance, uma mistura de sensibilidade pop com a energia do hip-hop, que ainda é recordado como um dos seus maiores êxitos globais. Nessa fase estava totalmente mergulhada em formas alternativas de olhar para a soul, hip-hop e dub, mas ao mesmo tempo sofria as pressões da indústria para repetir os êxitos iniciais. Enquanto isso, grupos ingleses como os Soul II Soul do álbum Club Classics Vol. 1 (1989) e Vol. II: 1990 – A New Decade (1990), preparavam o que se seguiria. E o que surgiu depois foi Blue Lines (1991), o álbum inaugural dos Massive Attack, onde mais uma vez Cameron McVey foi decisivo, encarregando-se da produção executiva e sendo um dos grandes alentos para que o projecto enveredasse pela linha estética que iria desembocar no chamado trip-hop. No meio desses acontecimentos, Neneh Cherry, pareceu ter-se perdido um pouco. O álbum seguinte, Homebrew (1992), não conseguia fortalecer a sonoridade hip-hop-electro do primeiro álbum e também não correu muito bem do ponto de vista comercial. Isto apesar de ter regressado às tabelas de vendas dois anos depois com Seven seconds, um dueto com Youssou N’ Dour. Em 1996 saiu o álbum Man e algumas colaborações desenvolveram-se depois (de Tricky a Cher, passando mais tarde pelos Gorillaz ou Peter Gabriel), mas como nos dizia há quatro anos, a partir de determinada altura a família tornou-se na sua grande prioridade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tem três filhos. Um deles é a jovem cantora Mabel, que tem dado nas vistas nos universos do R&B. Em 2012, o regresso. Primeiro com os escandinavos The Thing, um trio de jazz experimental, e depois com os londrinos RocketNumberNine. Só faltava surgir o outro elemento chave, Four Tet, que conhecia há muito. Há quatro anos enfiou-se em estúdio com músicos e produtor e saiu de lá com um magnífico álbum. Desta feita o processo foi mais circunscrito, com Four Tet a optar por criar a sonoridade de forma solitária, ao computador, sem recurso a músicos. Em palco é tudo recriado de forma soberba, com Neneh Cherry, na voz e na interacção com a assistência, fazendo questão de explicitar a inspiração politica de alguma canções – Kong foca o problema dos refugiados, Faster than the truth a desinformação, Soldier os direitos das mulheres e Shot gun shack a violência da venda de armas autorizada – sendo acompanhada por mais cinco protagonistas, duas mulheres e três homens, entre eles Cameron McVey, que vão tocando percussões, baixo, harpa, teclados ou programações. Em comparação com o disco, o som em concerto é mais encorpado, mas a subtileza presente nas canções não se perde, com a voz dela preenchendo silêncios, numa toada intimista e reflexiva, onde existe lugar também para zonas de dinamismo rítmico. O que é interessante em Broken Politics é o facto de pegar numa série de pontas soltas que ela poderia ter desenvolvido no início dos anos 1990, mas que acabaram por ser resgatadas pelos Soul II Soul, Massive Attack ou Portishead. Não é por acaso que 3-D dos Massive Attack também por aqui surge. É que realmente a maior parte dos temas baseia-se nas linhas de baixo sólidas e nas atmosferas expansivas do pós-hip-hop, com elementos de jazz a vogar pelo espaço, num balanço rítmico que embala. Por vezes parece que regressamos a Blue Lines, o álbum que em parte foi gravado na casa do casal Cherry, misto de desolação e projecção de esperança. É como se o casal olhasse para trás e para a frente ao mesmo tempo, reflectindo o mundo tumultuoso e ruidoso à sua volta, mas fazendo-o com música que impõe serenidade e palavras que conduzem à reflexão.
REFERÊNCIAS:
Os possíveis laureados com o Nobel da Paz
A lista de candidatos é secreta e o vencedor será anunciado na sexta-feira pelo comité norueguês. Entre os nomes sugeridos a Oslo como possíveis laureados com o Nobel da Paz estão vários protagonistas da Primavera Árabe e defensores dos direitos humanos no Afeganistão e na Rússia, adiantou a AFP. (...)

Os possíveis laureados com o Nobel da Paz
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: A lista de candidatos é secreta e o vencedor será anunciado na sexta-feira pelo comité norueguês. Entre os nomes sugeridos a Oslo como possíveis laureados com o Nobel da Paz estão vários protagonistas da Primavera Árabe e defensores dos direitos humanos no Afeganistão e na Rússia, adiantou a AFP.
TEXTO: Lina Ben Mhenni, a Tunisian GirlEsta blogger de 27 anos activista pelos directos humanos manteve na Internet crónicas sobre a Revolução de Jasmim na Tunísia, que assinava com o pseudónimo Tunisian Girl. Denunciou em Janeiro a repressão levada a cabo pelo regime de Zine El Abidine Ben Ali, o presidente que acabou por partir para o exílio. Filha de um militante de esquerda detido durante seis anos, ela assumiu, desde 2008, a defesa dos mineiros da região de Gafsa, no Sudoeste da Tunísia, onde um movimento de protesto foi reprimido pelo Exército. É professora de inglês na Universidade de Tunes. Esraa Abdel Fatah, de 33 anos, e Ahmed Maher, de 30 anos, EgiptoSão dois ciberactivistas que fundaram o movimento 6 de Abril, o qual mobilizou grande parte da juventude egípcia contra o regime de Hosni Mubarak. Impulsionaram as gigantescas manifestações na Praça Tahrir no Cairo, em Janeiro e Fevereiro, que levaram à queda do regime e à demissão de Mubarak. Wael Ghonim, EgiptoÍcone da “Revolução Facebook” mobilizador da juventude egípcia contra o regime de Hosni Mubarak, tornou-se um símbolo da revolução a 7 de Fevereiro, pouco antes da queda de Mubarak, através de uma emissão num canal privado egípcio. Milhares de telespectadores ouviram este engenheiro informático, que trabalha para a Google, contar como foram os doze dias de cativeiro em que esteve de olhos vendados nas mãos da polícia política de Mubarak. Foi acolhido como herói na Praça Tahrir do Cairo, o centro da revolta contra o regime. Svetlana Gannouchkina, 69 anos, RússiaFoi co-fundadora da organização russa Memorial, juntamente com Andrei Sakharov, que deu nome ao prémio Sakharov atribuído pelo Parlamento Europeu para a liberdade de expressão. A organização foi criada em 1989 para denunciar os crimes cometidos pelo regime soviético e salvaguardar a memória das vítimas da repressão, mas depressa ficou ligada à defesa dos direitos humanos, nomeadamente na Tchetchénia. Em 1990 Svetlana Gannouchkina foi também co-fundadora do comité Assistência Cívica, que ainda existe como organização de apoio aos refugiados e migrantes de antigas repúblicas soviéticas. Sima Samar, 54 anos, AfeganistãoPioneira da luta pelos direitos das mulheres no Afeganistão, sofreu inúmeras ameaças de morte no seu país, devastado pela guerra. Preside à comissão afegã independente pelos direitos do homem, a primeira organização a investigar as violações de direitos humanos no país. Tornou-se conhecida sobretudo depois de ter criado em 1989 a ONG Shuhada, que dirige hospitais, clínicas e escolas para as mulheres no Afeganistão e no Paquistão, e depois como ministra do governo afegão.
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Criança detida por blasfémia no Paquistão
Uma criança paquistanesa está detida depois de ter sido acusada de desrespeitar o Corão. O caso da menor, filha de pais cristãos, está a suscitar a ira entre a população maioritariamente muçulmana, que exige que a criança seja punida. A lei paquistanesa prevê a pena de morte para alguns destes casos. (...)

Criança detida por blasfémia no Paquistão
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma criança paquistanesa está detida depois de ter sido acusada de desrespeitar o Corão. O caso da menor, filha de pais cristãos, está a suscitar a ira entre a população maioritariamente muçulmana, que exige que a criança seja punida. A lei paquistanesa prevê a pena de morte para alguns destes casos.
TEXTO: Rimsha, que terá entre 11 e 12 anos e trissomia 21 ou síndrome de Down, foi detida na última quinta-feira em Mehrabad, um bairro em Islamabad habitado por perto de 800 paquistaneses cristãos, depois de uma multidão em fúria ter exigido que fosse punida. O que terá estado na origem da detenção da criança não foi ainda confirmado oficialmente. Um responsável da polícia local disse à agência noticiosa AFP, sob condição de anonimato, que a criança terá sido vista em público com páginas queimadas entre as quais se encontravam versos do Corão e outros textos islâmicos. Rimsha foi ouvida na sexta-feira em tribunal mas não terá conseguido explicar o que aconteceu e entendido as questões que lhe foram colocadas. Ficou em prisão preventiva durante 14 dias, ao fim dos quais deverá comparecer de novo em tribunal. O ministro paquistanês para a harmonia nacional, Paul Bhatti, citado pela BBC, sublinhou que a criança sofre de perturbações mentais e tudo indica que não terá “desrespeitado propositadamente o Corão”. Com base nos relatórios a que tive acesso, foi encontrada com um saco de lixo que também teria páginas do Corão”, acrescentou o responsável à estação de televisão britância. “O caso enfureceu a população local e uma multidão começou a exigir que fosse punida. A polícia esteve incialmente relutante em deter a menina mas cedeu perante a enorme pressão da multidão, que chegou a ameaçar que iria incendiar habitações de cristãos”, contou ainda o ministro. O Presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, já ordenou que fosse aberto um inquérito à detenção da menor e entregou o caso ao ministro do Interior. A acusação de blasfémia feita a Rimsha pela maioria muçulmana levou a que muitos cristãos abandonassem temporariamente o bairro de Mehrabad, receando represálias, adianta a AFP. “Estes cristão estão refugiados em casa de familiares noutros bairros da cidade mas já começaram a regressar progressivamente a Mehrabad”, disse à AFP Tahir Naveed Chaudhry, de uma organização que representa as minorias no Paquistão. Tahir Naveed Chaudhry confirmou à agência noticiosa que Rimsha tem trissomia 21, associada a algumas dificuldades de habilidade cognitiva e desenvolvimento físico. As limitações mentais da criança são, no entanto, contestadas pela comunidade muçulmana, que asseguram que esta é "completamente normal" e que apenas tem um comportamento estranho. Fala sozinha e anda de uma forma peculiar, adiantou uma menina que afirma conhecer Rimsha citada pelo Guardian. A polícia é acusada de impedir que advogados ou outros representantes da sociedade civil visitem Rimsha. “O Fórum de Acção das Mulheres está escandalizado com a total falta de humanismo” neste caso, afirmou Tahira Abdullah, membro da organização de defesa dos direitos das mulheres, exigindo a libertação imediata da menina e que esta seja tratada com base na legislação para menores. O caso surge numa altura em que se debate a intolerância entre muçulmanos no Paquistão ou as leis contra a blasfémia do islão, que pode ser punida com a pena de morte. Activistas dos direitos humanos no país têm exigido uma reforma da legislação, nomeadamente a lei que prevê a prisão perpétua para quem seja acusado de desrespeitar o Corão. Em muitos casos, aqueles que são acusados de blasfémia são mortos em ataques de multidões. Um desses casos foi registado no mês passado, quando um homem acusado de blasfémia, mentalmente instável, foi capturado de uma esquadra da polícia para ser queimado vivo na zona de Bahawalpur, na província de Punjab. A BBC lembra que no ano passado, Shahbaz Bhatti, ministro dos Assuntos Internos, foi morto depois de ter defendido a revisão da lei sobre a blasfémia. Dois meses antes, o governador de Punjab, Salman Taseer, foi também assassinado após ter assumido a mesma posição.
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Guerra em Gaza provoca demissão no Governo britânico
Sayeeda Warsi, a primeira muçulmana a chegar ao executivo, considera "indefensável" o discurso de Londres sobre a morte de civis. (...)

Guerra em Gaza provoca demissão no Governo britânico
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-05 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140805170208/http://www.publico.pt/1665460
SUMÁRIO: Sayeeda Warsi, a primeira muçulmana a chegar ao executivo, considera "indefensável" o discurso de Londres sobre a morte de civis.
TEXTO: Sayeeda Warsi, secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e primeira mulher muçulmana num governo britânico, demitiu-se nesta terça-feira por considerar “moralmente indefensável” a posição assumida por Londres face à guerra em Gaza. “Com profundo pesar escrevi esta manhã ao primeiro-ministro para lhe apresentar a minha demissão. Não posso continuar a apoiar a política do Governo sobre Gaza”, escreveu Warsi na sua conta no Twitter. A advogada de origem paquistanesa era um dos rostos da modernização que David Cameron prometia quando em 2010 foi eleito primeiro-ministro. Nomeada para a Câmara dos Lordes, chegou a ser presidente do Partido Conservador, mas em 2012 foi despromovida, de ministra sem pasta a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, e o seu afastamento da linha seguida pelo primeiro-ministro foi-se tornando cada vez mais claro. Descontente com o facto de Cameron não ter condenado abertamente os bombardeamentos de Israel contra a Faixa de Gaza, Warsi escreve na sua carta de demissão que “a abordagem e a linguagem” do Governo é “moralmente indefensável” e “não serve os interesses nacionais britânicos”, ameaçando “a sua reputação internacional e interna”. “Espanta-me que o Governo britânico continue a permitir a venda de armas a um país, Israel, que matou quase duas mil pessoas, incluindo centenas de crianças, apenas nas últimas quatro semanas”, escreve, pedindo um embargo imediato à venda de material bélico. O gabinete do primeiro-ministro lamentou a decisão de Warsi e agradeceu o seu “excelente trabalho”, mas Cameron, de férias em Portugal, ainda não se pronunciou. Desde o início da ofensiva, Londres tem pedido contenção aos dois lados, sempre sublinhando o direito de autodefesa de Israel, e o mais longe que foi na condenação à morte de civis ficou-se por uma breve declaração na segunda-feira em que disse reconhecer que a ONU tinha razões para repudiar o ataque a uma escola onde estavam abrigados refugiados palestinianos.
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Entidades ONU
Na intimidade de Tordre o pessoal é político
O espectáculo do coreógrafo francês Rachid Ouramdane apresentado este sábado no Teatro Constantino Nery, Matosinhos, em mais um capítulo do Festival DDD – Dias da Dança, é uma dança de partilha centrada nas particularidades de duas mulheres. (...)

Na intimidade de Tordre o pessoal é político
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O espectáculo do coreógrafo francês Rachid Ouramdane apresentado este sábado no Teatro Constantino Nery, Matosinhos, em mais um capítulo do Festival DDD – Dias da Dança, é uma dança de partilha centrada nas particularidades de duas mulheres.
TEXTO: Tordre arranca com uma espécie de desfile de duas bailarinas ao som de Funny Girl, o musical de William Wyler. Uma rasteira irónica, já que o que se segue pouco tem que ver com as fantasias e os arquétipos da Broadway, apesar da pele clara e dos olhos azuis das intérpretes. Annie Hanauer é uma bailarina com um braço protético, particularidade que molda a relação com o seu próprio corpo e a sua lógica interna de dança. Lora Juodkaite gira à volta dela própria sem parar, um estranho vocabulário de movimento que começou a desenvolver em criança como forma de se acalmar e procurar segurança. “O início da peça com o Funny Girl, também utilizado no final, é uma referência aos padrões de beleza dominantes e aos modelos com que estamos habituados a representar mulheres num palco”, diz ao PÚBLICO Rachid Ouramdane, coreógrafo francês que criou Tordre em 2014, espectáculo agora apresentado em estreia nacional no Festival DDD – Dias da Dança, este sábado no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos. Não é uma “simples crítica ao cânone”, assinala, mas uma tentativa de propor outro ponto de vista. “Mentalmente, fisicamente, esse cânone e essa gramática não combinam com estas mulheres. Este espectáculo lida com preconceitos que temos em relação a pessoas mas também em relação à arte, ou seja, em que medida é que nos permitimos a ver de modo diferente. ”Em Tordre, Rachid Ouramdane também se permitiu criar de forma diferente. Deixa de lado a abordagem documental que tem vindo a edificar boa parte do seu reportório – uma mudança de direcção de certa forma iniciada em Tenir les Temps, que trouxe ao Centro Cultural de Belém em 2015 – para se centrar no corpo, no movimento. Tordre não é sobre os refugiados climáticos e o abismo ecológico retratados em Sfumato, nem sobre a tortura falada na primeira pessoa em Des Témoins Ordinaires, nem sobre a Justiça e os métodos de repressão abordados em Polices!. Mas não deixa de ser político, considera o autor. “O meu interesse principal é como lidamos com pessoas que são diferentes da maioria. E tanto a Lora como a Annie têm algo nelas que foge à norma”, observa. Depois de vários anos a trabalhar com as duas bailarinas, que o foram acompanhando nas suas investigações, Rachid Ouramdane percebeu que “elas próprias podiam ser o assunto”. Para isso foi preciso esperar até conseguir “um certo grau de cumplicidade” – afinal, Tordre é um espectáculo profundamente íntimo, sem ser invasivo e sem encarar as particularidades de cada mulher de um modo patológico ou voyeurista. É uma dança de partilha, compreensão e superação entre a tensão, a obsessão e uma beleza apaziguadora, em que se drena impurezas e a fragilidade é usada como instrumento de empoderamento. O lado pessoal é político e um veículo para “tocar em algo que possa dizer respeito a uma comunidade”. “Acho que é isso que eu tento sempre fazer no meu trabalho: tocar em assuntos maiores a partir de casos particulares”, explica o coreógrafo, que assume a direcção do CCN2 – Centro Coréographique National de Grenoble juntamente com Yoann Bourgeois, também ele presente no DDD com Celui Qui Tombe, espectáculo de encerramento do festival. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tordre funciona como um ponto de encontro entre Lora e Annie, que vão ocupando o palco à vez, com solos. A ligação (e a confiança) entre elas vai crescendo, e a peça acaba por se transformar progressivamente num dueto pouco convencional. A coreografia, marcada por música trepidante e quase hipnótica, semeia um tempo só dela. Ou, melhor dizendo, só delas. “A Lora e a Annie são mais do que intérpretes, são co-autoras. Elas trazem uma força transformativa ao espectáculo”, assinala Ouramdane. Há ainda uma terceira mulher, Nina Simone, que ouvimos a meio de Tordre, num solo desarmante de Annie Hanauer, com a canção Feelings, mais exactamente a interpretação ao vivo no Montreux Jazz Festival de 1976. “A Nina Simone canta de forma brilhante, como sempre, mas ao mesmo tempo expressa como já não concorda com a letra da música. Ela mostra uma certa complexidade da vida e acho que é isso que a Annie também faz. ”
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Bin Laden teve 4 filhos e viveu em 5 casas após o 11 de Setembro
O líder da Al-Qaeda era um dos homens mais procurados do mundo, mas enquanto vivia clandestinamente teve mais quatro filhos e viveu em cinco casas nos anos que se seguiram aos atentados de 11 de Setembro de 2001, contou à polícia a mais jovem das suas mulheres. (...)

Bin Laden teve 4 filhos e viveu em 5 casas após o 11 de Setembro
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O líder da Al-Qaeda era um dos homens mais procurados do mundo, mas enquanto vivia clandestinamente teve mais quatro filhos e viveu em cinco casas nos anos que se seguiram aos atentados de 11 de Setembro de 2001, contou à polícia a mais jovem das suas mulheres.
TEXTO: Osama Bin Laden foi morto numa operação das forças especiais norte-americanas em Maio do ano passado, no Paquistão. Com ele estavam várias crianças e mulheres, entre elas a iemenita Amal Abdul Fateh, que contou às autoridades paquistanesas alguns pormenores sobre a vida do líder da Al-Qaeda nos anos que se seguiram aos atentados que derrubaram as Torres Gémeas de Nova Iorque. Amal tem 30 anos, é a mais jovem das mulheres de Bin Laden e ficou retida pelas autoridades paquistanesas logo após a operação norte-americana em que foi tomada de assalto a casa onde o líder da Al-Qaeda vivia com a família na localidade de Abbottabad. O seu depoimento, ou parte dele, relata a fuga de Bin Laden do Afeganistão após a intervenção militar norte-americana em 2001, e conta também o nascimento de quatro filhos, dois deles em hospitais públicos. No relatório da polícia a que a AFP teve acesso, com a data de 19 de Janeiro, Amal conta que entrou legalmente no Paquistão em Julho de 2000 e depois deslocou-se a Kandahar, no Sul do Afeganistão. Terá sido aí que casou com Bin Laden, a cidade era então um bastião dos taliban. A família acabou por separar-se após os atentados de 11 de Setembro, quando Bin Laden se tornou no homem mais procurado do mundo. Amal diz ter-se refugiado em Carachi, no Paquistão, com Safia, a primeira filha do casal. Contou na altura com a ajuda do filho mais velho de Bin Laden, Saad, voltou a encontrar-se mais tarde com o líder da Al-Qaeda em Peshawar, também no Paquistão. Segundo o relatório da polícia citado pela AFP, não voltariam a separar-se até ao dia em que foram capturados. Mantiveram-se naquela região entre 2002 e 2005, primeiro em Swat, depois em Haripur, a hora e meia de Islamabad, até que se instalaram em Abbottabad. Nesse tempo, já após o 11 de Setembro, Amal de Bin Laden tiveram quatro filhos. Dois nasceram em Haripur, uma rapariga em 2003 e um rapaz em 2004, ambos no hospital local onde Amal ficou apenas “duas ou três horas”. Já em Abbottabad nasceram outra rapariga, Zainab, em 2006, e um rapaz, Hussein, em 2008. As autoridades paquistanesas já anunciaram que vão acusar Amal e outras duas mulheres de Bin Laden encontradas na casa de Abbottabad – bem como as filhas adultas de Bin Laden, Maryam, de 21 anos, e Sumaya, de 20 – de entrada ilegal no país. Nenhuma delas apareceu em público após a captura de Bin Laden, e só Amal aceitou colaborar com a polícia e prestar declarações. A operação norte-americana aumentou a tensão entre os EUA e o Paquistão. As autoridades de Islamabad não foram informadas da operação e nos EUA questionou-se como foi possível o líder da Al-Qaeda viver tanto tempo em território paquistanês sem ter sido detectado pelos serviços de informação e sem qualquer espécie de conivência por parte das autoridades. O depoimento de Amal foi também divulgado pelo jornal paquistanês Dawn e pelo The New York Times. Em Washington não houve comentários sobre o teor das declarações, mas responsáveis norte-americanos consideraram que condizem com as movimentações que se conhecem do líder da Al-Qaeda.
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Entidades EUA
Portugal foi o país da Europa do Sul onde os imigrantes mais recuperaram o emprego
Taxas voltam aos níveis pré-crise, diz relatório da OCDE. Portugal foi um dos países onde as taxas de imigração de cidadãos que têm livre circulação mais aumentaram desde 2014, com 14% de subida em 2017. (...)

Portugal foi o país da Europa do Sul onde os imigrantes mais recuperaram o emprego
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 21 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Taxas voltam aos níveis pré-crise, diz relatório da OCDE. Portugal foi um dos países onde as taxas de imigração de cidadãos que têm livre circulação mais aumentaram desde 2014, com 14% de subida em 2017.
TEXTO: Dez anos depois da crise económica mundial que afectou sobretudo países que tiveram a intervenção da troika, Portugal foi o único da Europa do Sul onde os imigrantes recuperaram o emprego, revela um relatório da da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgado nesta quarta-feira. Os níveis de emprego dos imigrantes estão, assim, acima ou em linha com os de 2008, ao passo que nos casos de Espanha e Grécia essas taxas estão oito e 11 pontos percentuais abaixo, respectivamente. Em Portugal, a OCDE registou em 2017 uma taxa de emprego entre imigrantes de 74, 3%: 71, 3% para as mulheres e 77, 9% para os homens. Já em termos de taxa de desemprego entre imigrantes, em 2017 ficou nos 10% quando em 2012 passava os 20%. Por outro lado, Portugal foi um dos países onde as taxas de imigração de cidadãos que usufruem de livre circulação, ou seja, do espaço Schengen, mais aumentaram desde 2014: foram mais 14% em 2017. Em geral, lembra o documento, em 2017 houve uma recuperação económica na zona euro e isso levou também a melhorias nas taxas de emprego. Os fluxos migratórios dentro das áreas de livre circulação mantiveram-se altos com 1, 5 milhões de pessoas a imigrarem para um país da OCDE através deste canal em 2016, um número equivalente a 2006. Os países que mais foram afectados pela crise são aqueles que estão a recuperar melhor – as taxas de desemprego entre imigrantes em Portugal desceram, assim, cerca de nove pontos percentuais. As diferenças entre as taxas de desemprego de imigrantes e nacionais também foram encurtando, revela ainda o relatório. De salientar que os dados mostram que os grupos de imigrantes intracomunitários em geral estão com uma média de taxa de emprego superior aos nacionais em 5%. Por outro lado, os imigrantes originários do Médio Oriente e do Norte de África continuam a enfrentar dificuldades na Europa e Austrália. Em 2016 chegaram a Portugal quase 47 mil estrangeiros, o valor mais elevado desde 2010, o que representa um aumento de 24% em relação a 2015, ou seja, a primeira subida "da população estrangeira desde 2009". Em 2016, viviam em Portugal 397. 700 estrangeiros, mais 2, 3% do que em 2015, refere a OCDE. "Mais de metade do aumento da entrada anual pode ser relacionado com a livre circulação na União Europeia. O número de migrantes da União Europeia aumentou mais de 40% em dois anos", lê-se no relatório. "Estes aumentos foram em parte justificados com o regime fiscal favorável para os residentes não habituais aplicável a novos residentes fiscais", diz a OCDE. Por outro lado, o número de autorizações de residência para a actividade de investimento (os chamados vistos gold) também aumentaram em 2016 e 2017 "quando recuperaram dos atrasos depois da suspensão do programa em 2015 por causa de investigações judiciais a casos de corrupção". Sobre a emigração, depois de um aumento entre 2010 e 2013, a saída de pessoas para viverem noutro país estabilizou em 2013, com um número estimado de 38. 300 emigrantes permanentes e 58. 900 temporários, em 2016. "Foram apresentadas várias iniciativas para aumentar a atractividade de Portugal tanto para os estrangeiros como para os portugueses emigrados", refere. A organização sublinha que 2016 foi o ano em que se assinalaram dez anos desde a entrada em vigor da Lei da Nacionalidade, "que facilitou a aquisição de nacionalidade portuguesa a crianças filhas de imigrantes nascidas em Portugal ou que chegaram ainda bebés", acrescentando que entre 2008 e 2016, 225. 000 pessoas a adquiriram. Entre 2015 e 2016 houve uma subida de mais 30% destes casos. Já em relação às entradas permanentes por razões humanitárias a percentagem aumentou 52%, passando de 195, em 2015, para 320, em 2016. O número de pedidos de estatuto de refugiado feitos em Portugal aumentou de pouco mais de 700 para 1010 de 2016 e 2017 - e neste caso foram feitos maioritariamente por cidadãos de República Democrática do Congo, de Angola e da Ucrânia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje que a defesa dos refugiados em todo o mundo, mais do que um imperativo de consciência, é uma obrigação das sociedades democráticas. O chefe de Estado deixou esta mensagem no portal da Presidência da República para assinalar o Dia Mundial do Refugiado, numa altura de divisões na Europa sobre o acolhimento de migrantes e refugiados. "Associando-se à iniciativa das Nações Unidas, e recordando o empenhado papel de António Guterres como Alto Comissário para os Refugiados, o Presidente da República assinala neste 20 de junho o Dia Mundial do Refugiado", lê-se na mensagem.
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Partidos LIVRE
Barco desaparecido entre Indonésia e Austrália com 150 imigrantes ilegais
As autoridades marítimas indonésias e australianas estão em busca de um barco, que se crê ter a bordo mais de 150 imigrantes ilegais, dado como desaparecido desde que lançou ontem um sinal de socorro nas águas entre os dois países. (...)

Barco desaparecido entre Indonésia e Austrália com 150 imigrantes ilegais
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 16 | Sentimento -0.35
DATA: 2012-08-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: As autoridades marítimas indonésias e australianas estão em busca de um barco, que se crê ter a bordo mais de 150 imigrantes ilegais, dado como desaparecido desde que lançou ontem um sinal de socorro nas águas entre os dois países.
TEXTO: Seis pessoas foram retiradas do mar já esta manhã por um navio comercial a umas 42 milhas marítimas da costa ocidental de Java, tendo relatado que a bordo do barco desaparecido estão também muitas mulheres e crianças e que os motores se avariaram. Todos os resgatados são afegãos e estavam nas águas há pelo menos 24 horas, indicou o capitão do navio aos media australianos. “As buscas e a operação de salvamento continuarão ao longo de todo o dia de hoje, com o objectivo de encontrar sobreviventes”, é avançado em comunicado da Autoridade Marítima australiana. Muitos imigrantes ilegais e refugiados partem regularmente da Indonésia em barcos habitualmente demasiado cheios e em débeis condições de segurança, em direcção à ilha do Natal, a noroeste da costa australiana, visando alcançar aquele país e obter asilo. Em Junho passado, uma embarcação com 200 pessoas naufragou perto daquela ilha, tendo sido encontrados 17 mortos nas águas e outras 70 pessoas foram dadas como presumivelmente mortas ao fim de três dias de intensivas buscas. Fora então já o segundo barco a afundar naquelas águas em apenas uma semana – relançando o debate sobre o asilo no Parlamento australiano. Em resultado desse debate, as autoridades de Camberra anunciaram na semana passada que vão aumentar o número de refugiados que acolhem por ano para 20 mil (dos actuais 13. 750), conforme foi recomendado por uma comissão de peritos mandatados pelos Parlamento. Foi também aprovada a reabertura de campos sob supervisão australiana para receber pessoas em busca de asilo na Papua Nova Guiné e na ilha de Nauru.
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Palavras-chave mulheres
Lampedusa: 130 desaparecidos em naufrágio de embarcação com imigrantes
Quinze cadáveres foram recuperados do mar, cinquenta pessoas resgatadas e cerca de 130 estão ainda desaparecidas depois de uma embarcação carregada de imigrantes ter naufragado ao largo da ilha italiana de Lampedusa. (...)

Lampedusa: 130 desaparecidos em naufrágio de embarcação com imigrantes
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 16 | Sentimento -0.2
DATA: 2011-04-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quinze cadáveres foram recuperados do mar, cinquenta pessoas resgatadas e cerca de 130 estão ainda desaparecidas depois de uma embarcação carregada de imigrantes ter naufragado ao largo da ilha italiana de Lampedusa.
TEXTO: O barco, que vinha da Líbia, foi encontrado a cerca de 70 quilómetros de Lampedusa e levava pelo menos 200 refugiados. As buscas estão a ser levadas a cabo pela guarda costeira italiana que disponibilizou barcos de salvamento e um helicóptero. “Nós socorremos e tirámos vivas do mar 48 pessoas, enquanto 15 corpos foram recuperados pela equipa do helicópetero”, declarou à AFP Vittorio Alessandro, capitão da embarcação e porta-voz da guarda-costeira. Vinte corpos foram já avistados a partir de um helicóptero. "Tememos que os mortos sejam muitos", afirmou um responsável local citado pela edição online do jornal "Corriere della Sera". Entre estes, acrescentou, há muitas mulheres e crianças. A embarcação naufragada lançou um alerta durante a madrugada que foi rapidamente respondido pela capitanearia do porto de Lampedusa. O barco foi encontrado “à deriva e em situação de grave perigo”, segundo o comunicado da guarda costeira. O naufrágio do barco terá acontecido por causa da “tempestade, da ondulação e da excitação a bordo da embarcação”, explicou o capitão Alessandro. “O barco virou-se e as pessoas a bordo caíram na água”. As buscas foram dificultadas pelas condições metereológicas e pela escuridão mas continuam em curso. A população de Lampedusa – de cinco mil pessoas – tem vivido numa co-habitação forçada com seis mil imigrantes. À ilha chegaram cerca de 22 mil imigrantes, desde a queda do Presidente tunisino, Zine al-Abedine Ben Ali, a 14 de Janeiro. Em Fevereiro o país declarou estado de emergência humanitária e, na passada quarta-feira, o primeiro-minsitro italiano Sílvio Berlusconi prometeu “esvaziar Lampedusa de imigrantes”. Ontem, o ministro do Interior italiano, Roberto Maroni, assinou um acordo com o Governo interino tunisno para tentar deter a vaga de imigração, aumentar a cooperação policial e, possivelmente, promover a repatriação de imigrantes ilegais. O acordo, classificado por Berlusconi como “satisfatório” foi confirmado hoje numa reunião do Governo italiano em Roma. Notícia actualizada às 11h35
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Palavras-chave imigração mulheres humanitária
A Europa como ideal fascista
De onde vem o medo? Para onde é que nos transporta? As perguntas atravessam uma conversa sobre o presente com Aamir Mufti, crítico pós-colonialista com trabalho sobre minorias, questões de raça, migração, linguagem. Ultimamente, focou-se nos radicais de direita dos Estados Unidos. (...)

A Europa como ideal fascista
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Africanos Pontuação: 7 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.9
DATA: 2017-09-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: De onde vem o medo? Para onde é que nos transporta? As perguntas atravessam uma conversa sobre o presente com Aamir Mufti, crítico pós-colonialista com trabalho sobre minorias, questões de raça, migração, linguagem. Ultimamente, focou-se nos radicais de direita dos Estados Unidos.
TEXTO: Nada será como antes nem será como está porque o mundo mudou e a permanência não existe. Negar isso é permitir que a escalada de violência aumente e os radicalismos vençam os ideais democráticos. A ideia de segurança total, a crise dos refugiados, o renascer de nacionalismos e o extremismo de direita são questões globais que devem ser discutidas quebrando amarras, defende Aamir Mufti, 57 anos, paquistanês, professor de Literatura Comparada na Universidade de Los Angeles, UCLA, antropólogo, crítico pós-colonialista. Estudioso do modo como a linguagem reflecte e é capaz de mudar comportamentos, esteve em Lisboa para falar de refugiados, terrorismo e migração em mais uma edição da Lisbon Summer School organizada pelo Lisbon Consortium/Universidade Católica, este ano sob o tema Global Translations. Num entrevista exclusiva ao PÚBLICO, Mufti sublinha a necessidade de a linguagem se adaptar aos novos desafios globais, acusa a União Europeia de estar a falhar nos seus objectivos e de a esquerda estar “perdida”, de aprender com o racismo de Michel Houellebecq. Tudo enquanto se fixa no estudo do extremismo de direita nos Estados Unidos, onde se está a criar uma ideia imaginária de Europa. A conversa acontece um dia depois de uma intervenção polémica, com Mufti a falar de como a linguagem pode ajudar a entender ou a resolver a actual crise. “Qualquer luta política é em parte uma luta pela linguagem”, sublinha, enquanto tenta recuperar do jet lag com um chá forte numa manhã de chuva. O que nos diz a palavra “refugiado”, hoje?Tendemos a pensar nos refugiados como figuras abstractas mas não são; são pessoas muito concretas que carregam todo o tipo de histórias — pessoais, políticas, sociais. Trazem línguas, religiões. A literatura é o lugar para imaginar estas coisas de modo muito diferente da forma demasiadas vezes simplista e abstracta dos discursos públicos. Uma boa definição de refugiado é de Hannah Arendt; a grande pensadora judia, alemã, diz que um refugiado apátrida é uma pessoa que não pode confiar em nenhum Estado no mundo para proteger os seus direitos. Não é uma definição legal. É uma definição política. Muito simples, mas efectiva. Quando não há um Estado capaz de proteger os seus plenos direitos, essa pessoa é apátrida e pode tornar-se um refugiado. Apátrida e refugiado não são necessariamente a mesma coisa, mas são realidades próximas: não ter um Estado que nos proteja e a possibilidade de se ser exilado, ficando numa condição física bastante vulnerável que é a do refugiado. O que distingue a actual crise que afecta os refugiados de antigas crises de refugiados, como as das décadas de 30 e 40 do século XX?Há semelhanças e diferenças. A diferença é que os anos 30 e 40 já aconteceram e há uma consciência muito forte de não permitir que tal volte a acontecer. Por outro lado, muitos lugares na Europa parecem felizes por isso estar outra vez a ocorrer. Há uma grande contradição na sociedade europeia sobre o que é refugiado, qual é a relação entre o refugiado e a Europa e como responder a isso. Seja de forma concreta ou através de ideias abstractas, ajuda humanitária, defesa de direitos humanos. São debates prementes. Como se responde e qual a responsabilidade? Claro que neste momento não existem campos de concentração na Europa. A Alemanha absorveu um milhão de pessoas nas suas vilas e cidades, não estão indefinidamente em campos. Há muitas coisas diferentes, mas também há uma continuidade: o modo como um número relativamente pequeno de pessoas é visto como ameaça às culturas nacionais ou à cultura europeia; a ideia de que há aliens entre nós e são um mal para o nosso futuro. Esse tipo de ansiedade e medo tem qualquer coisa em comum com os anos 30 e 40. Não existem campos de concentração na Europa. A Alemanha absorveu um milhão de pessoas nas suas cidades. Mas há uma continuidade: o modo como um número relativamente pequeno de pessoas é visto como ameaça às culturas nacionais ou à cultura europeiaFala dos nacionalismos?Sim, absolutamente, a extrema-direita, todos os tipos de nacionalismo radical que ressurgiram. Esperava-se que a União Europeia soubesse combater ou tivesse posto fim a isso. Disse “nacionalismos nunca mais”, sim à coexistência e tudo o que ela representa; paz perpétua como um conceito, um ideal da União Europeia. Estão a aprender da maneira mais dura que não é tão simples. A questão, neste momento, é que tipo de entendimento podem ter as políticas europeias sobre quem são os refugiados e, além dos refugiados, quem são os migrantes. Qual é o lugar deles na Europa e como a vida moderna mútua pode ser possível. Como é que o medo e a violência podem ser controlados. Nenhuma forma de vida pode ser inteiramente fundada no medo e na violência. A ideia de uma segurança absoluta?Sim. Paz perpétua e segurança absoluta são abstracções e idealismos; não são muito realistas. Mas, nessa busca, podemos ter situações que são mais ou menos sustentáveis. Esse é o desafio. A questão de fronteira tornou-se central no último ano. Desde a chegada de Donald Trump, comecei a olhar mais do que alguma vez para a extrema-direita americana e a notar uma presença em massa de fascismo na América. Passa-se quase tudo de forma subterrânea, mas não escondida. No último ano, passei muito tempo a estudar este fenómeno e percebi que há uma espécie de abordagem europeia a este tema. Os americanos brancos são europeus, e os australianos e neozelandeses e canadianos e os radicais americanos de direita falam disso desse modo. Chamam-se a si mesmos europeus. Nunca tinha ouvido isto antes na América. Nem sequer dizem euro-americanos, dizem quase sempre “povo europeu”; “somos da Europa, construímos uma civilização europeia no continente americano e agora vêm estes e querem tirar-nos isso”. É mais ou menos este o raciocínio. Com a chegada de Trump, comecei a olhar mais do que alguma vez para a extrema-direita americana e a notar uma presença em massa de fascismo na América. Passa-se quase tudo de forma subterrânea, mas não escondidaE que ideia têm de uma civilização europeia?É contraditória de muitas formas, porque ser-se de movimentos de extrema-direita não tem muito que ver com os direitos individuais que fazem parte da ideia de América. Parte dos valores europeus e do papel da lei em defesa dos direitos do indivíduo choca com o preconceito racial e com a ideia de serem de uma raça intelectualmente superior, “e agora esta gente de raça inferior está a chegar e isso irá certamente causar mistura racial, genética, miscigenação e certamente reduzir o nível de inteligência”. Estes são os seus pensamentos. Mas não podem dizer, por exemplo, que os asiáticos são menos inteligentes do que os americanos brancos como não podem dizer que os judeus são menos inteligentes que os brancos. Ah. . . para eles, os judeus não são brancos, de todo! Pela primeira vez vejo os judeus na América a serem removidos da identidade branca de um modo muito gradual, muito lentamente, mas está a acontecer. Portanto, a ideia do que é ser europeu, do que isso significa, é muito contraditória, muitas vezes é a liberdade de expressão, mas é também a de uma comunidade orgânica que herdou uma cultura. É quase uma noção germânica do III Reich, de que a vida moderna e o capitalismo destruíram comunidades tradicionais e modos tradicionais de vida. E a vida moderna é judaica, lato sensu. O que pergunta é muito importante, mas eles não têm certeza sobre o que é isso. Vai publicar esse estudo?Sim, estou a escrever. E não é separável da ideia de refugiados, do medo, da visão da ameaça civilizacional. Vai chamar-se Europa e não Europe, em inglês. Europa aqui significa o efeito estranho de qualquer coisa que não é bem a Europa. É a Europa da imaginação. E que Europa imaginária é essa?Essa Europa pode existir na Nova Zelândia, na América do Norte, mesmo na Argentina. É uma ideia de como são os europeus, de onde vêm, quem são. Quem acredita nessa ideia da Europa acredita muitas vezes na mitologia norueguesa, do Norte, os que se chamam os filhos de Odin. Outros são muito cristãos – ortodoxos ou católicos –, alguns converteram-se à ortodoxia ucraniana para reclamar a sua herança branca. E há os ateus, os pós-morte de Deus ligados ao nazismo. É um cenário muito ambíguo e disperso que me fascina e aterroriza, porque estou a criar um filho na América. Falo do futuro; eles estão a ficar cada vez mais poderosos e mais dominantes. Muitos jovens irão aderir, está a tornar-se popular. E gera oposição. É a razão pela qual há um forte movimento antifascista entre muitos jovens, que se chamam a si antifa e aparecem em comícios de extrema-direita. Muitos membros da chamada geração millennial na América dedicam-se a combater o fascismo e os neonazis. Significa que sabem que há uma fatia da sua geração que está do outro lado. Os mais velhos não entendem isso. Tenho colegas, gente brilhante, académicos, intelectuais, que se recusam a acreditar que isto é importante, alegam que sempre houve racistas brancos. Não é verdade, está a haver uma mudança, há uma coisa nova a emergir, também em muitos países na Europa. Esses grupos estão em contacto. Os europeus e os americanos estão muito próximos. Desde o velho Ku Klux Klan aos jovens hipsters da nova direita, os níveis de paranóia são extraordinários, mas trazem teorias históricas muito concretas"E como se dão essas trocas?Encontram-se. Há um grupo americano chamado The Traditionalist Worker Party que faz parte do velho tradicionalismo ligado ao pensamento fascista italiano, ao Hezbollah, e a uma espécie de heideggerianismo atenuado, simplificando o que é o heideggerianismo. É a rejeição do mundo moderno, o recuo a formas tradicionais de vida e que pode passar pelo cristianismo ortodoxo e atravessa toda a Europa. Da Grécia à Hungria, República Checa, têm vídeos no YouTube das marchas onde se encontram. Tudo se faz de forma aberta para quem quiser ver. E em todos esses vídeos vemo-los a expressarem-se como europeus. Isto quando os europeus estão a tornar-se minoria nos seus próprios países. É o seu grande medo. No seu primeiro livro, Enlightenment in the Colony (2007), falava sobre isso mesmo, o medo de ser minoria. Sim, eu estava à procura de material sobre o judaísmo na Europa e sobre os muçulmanos na Índia para estabelecer uma comparação. Muito tempo depois ressurge o medo de ser uma minoria. Toda a política de Israel é sobre isso, de como os judeus não devem deixar que se tornem uma minoria, e agora vêem os nazis americanos perguntar porque é que os judeus podem reclamar isso e eles não? Porque é que não têm um Estado étnico que garanta que não sejam uma minoria? Isto quando os judeus são as pessoas menos ligadas à extrema-direita na América; sempre se manifestaram contra a ideia de a América ser um país branco, sempre abriram as portas à imigração. Os extremistas ligam isso à queda de Constantinopla e da Andaluzia. Os níveis de paranóia são extraordinários, mas trazem teorias históricas muito concretas. Como se podem desconstruir essas teorias?Podemos rir. É de loucos, só podemos rir. Mas muita gente está a falar assim. Desde o velho Ku Klux Klan aos jovens hipsters da nova direita com o mesmo corte de cabelo, chamado fasc, curto nos lados e comprido no topo. Têm um estilo, uma moda, maneiras de vestir e uma subcultura jovem. Está a tornar-se uma subcultura com uma imagem a que muita gente adere sem saber bem porquê, mas tem raízes políticas. E produzem que tipo de cultura?Estão a começar. E essa é outra grande questão. O que se conhece é material vídeo e sobretudo paródia, sátira, fazer piadas acerca de algumas ideias. São eles que estão a ter piada. A esquerda é quase toda muito séria e zangada. Eles estão a divertir-se. Falei disto numa conferência sobre género, ninguém estava à espera, e falei do género fascista. Foi na Califórnia. Geograficamente, onde é que estas pessoas se concentram nos Estados Unidos?Em todo o lado. Estão na Califórnia! Pensamos na Califórnia como um paraíso anti-Trump, mas é o lugar onde nasceu o partido nazi americano, onde nasceram os Hells Angels, o sítio onde está baseada a maior instituição que nega o Holocausto nazi, chama-se Institute for Historical Review, nome muito inocente ao ouvido, mas determinado em afirmar que não existiram câmaras de gás, etc. Um destes grupos chama-se Identity Europa. Pode imaginar um americano de uma pequena cidade a dizer Europa? O nome do líder é Nathan Damigo, muito activo em universidades por todo o país. Colam posters cheios de imagens de estátuas da Grécia Clássica, tudo muito bem produzido, esteticamente muito actuais. Não se pense que são pessoas que vivem nos bosques de forma primitiva, com armas e aos tiros. São esclarecidos, sabem de linguagem mediática, conhecem a tecnologia; muitos têm formação universitária, passaram por aulas como a minha onde pensamos estar a converter e a educar mentes ao ensinar pensamento progressivo. E estão a pensar no apuro pan-europeu. Fala de tudo isso num tom de exaltação e surpresa. Até que ponto essa observação altera o seu discurso crítico, pós-colonial?Mudei o modo de pensar estas questões, o enquadramento. Tornou-se claro que existe um processo histórico longo e que a direita o entende melhor do que a esquerda. O capitalismo, na sua concepção, vem da supremacia branca, desde o seu nascimento, no período mercantil; a supremacia branca a criar a escravatura e a colonização e os genocídios e depois regras de colonização, formas de pensamento racista, exploração do trabalho consoante a raça. Tudo isso até à era pós-colonial. Houve um grande cataclismo no século XX, em que tudo começa a derrocar-se. Os pensadores mais importantes dessa mudança pós-colonial são judeus da Europa, como Hannah Arendt, Claude Lévi-Strauss. É espantoso! Erich Auerbach, o filólogo alemão que viveu na Turquia durante a guerra e teve uma vasta experiência do mundo europeu e um papel na europeização do mundo não europeu como professor de Humanidades na Universidade de Istambul. Fez daquela instituição islâmica uma universidade europeia. A minha pergunta é: que tipos de sociedade estamos agora a criar, local e globalmente, e qual será o lugar da supremacia branca, que historicamente formou as relações sociais, no presente e no futuro? Muita gente na Europa está a falar da coexistência entre minorias que vêm de outros locais. A direita entende isto muito bem actualmente; está a lutar pelo regresso da supremacia branca, a dizer que num contexto de migração em massa estas formas de relação social não podem sobreviver. É um ponto importante. E a esquerda não está a saber lidar com isto. Para ela, estes são novos europeus e a Europa vai permanecer como está. Não. É preciso redefinir a sociedade europeia, a assimilação tem de acontecer não apenas por parte dos imigrantes, mas do cruzamento das sociedades. Queremos uma sociedade quase instintivamente nostálgica das suas glórias imperiais do passado? Não estou a dizer oficialmente, mas na vida de todos os dias. Vai permanecer esse tipo de sociedade ou vamos repensar o passado colonial? Isso não está a acontecer. Encontro-me numa posição muito estranha: sou um crítico e um pensador pós-colonial e estou a defender a União Europeia no Reino Unido. Na América esse pensamento não é tão urgente?Sim, na América também. Sabendo tudo isto, presume-se que a vitória de Donald Trump não o surpreendeu. Não me surpreendeu, mas surpreendeu quase todos os meus amigos, surpreendeu a minha mulher. Desde Maio de 2016 tornei-me obcecado pelo estudo da extrema-direita. Assisti a alguns episódios protagonizados por apoiantes a Trump e não queria acreditar no que via. Estava tudo ali, visível, mas ninguém contava. Quem não contava, os media, os jornalistas?Sim, pareciam adormecidos. Trataram sempre Trump e a extrema-direita como uma piada e mesmo agora não entendem, e as perguntas, quando o entrevistam, fazem-me rir e também fazem rir esses extremistas. Que perguntas deveriam ser feitas?Não perguntas liberais como “como pode dizer que crianças nascidas nos Estados Unidos deveriam ir para a terra dos pais ilegais? Não são americanas?” Eles riem e dizem: “Não, elas não são americanas. São mexicanas, não têm a marca étnica do nosso povo. ” É assim que falam. Como outros noutros países. A América não é uma nação baseada num princípio, como se pensa, mas como quase todas as outras é baseada num predomínio étnico. Chamam-lhe uma nação proposicional por causa do famoso discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg, o chamado Gettysburg Adress [o discurso mais famoso de Lincoln, em 1863, no fim da Guerra Civil], em que ele recordou os princípios fundadores da nação e a preposição de que todos os homens são criados iguais. Para os extremistas, Lincoln foi o idiota que destruiu a América ao introduzir o veneno da igualdade. Para eles, os pais fundadores não tinham dúvidas de que aquela era uma nação branca e os negros nunca poderiam ser cidadãos. A cidadania para negros livres só aconteceu depois da Guerra Civil. Eles querem retirar da Constituição Americana a emenda que salvaguarda essa igualdade, a de que qualquer pessoa pode ser americana por ter nascido lá. Como o meu filho. Eu e a minha mulher não éramos cidadãos americanos quando ele nasceu; éramos imigrantes legais, mas não cidadãos. Mas o meu filho é americano. É o direito à nacionalidade por nascimento. A razão é essa emenda pós-Guerra Civil que deu a cidadania a ex-escravos. Quando falam de sociedade branca, falam de supremacia branca. Estamos a viver um momento extraordinário em que grandes mudanças podem acontecer. Vamos sempre dar ao que se chama grande ferida americana, a escravatura?Pois, tudo na América parece ser sobre escravatura e entre ser negro ou branco. Tudo. Mesmo a imigração. E está a ressurgir depois de décadas. Repito, há quem siga a extrema-direita e a leve a sério. Muitos deles não são idiotas. Podem ter ideias loucas mas em muitos aspectos estão a entender melhor o que está a acontecer do que os chamados “liberais”. Faço sempre o arco com a Europa. W. E. B. Dubois, o grande intelectual afro-americano [1868-1963], publicou The Souls of Black Folk [1903], o seu grande legado sobre relações raciais. Ele afirma que a grande questão do século XX iria ser a racial. Eu hoje poria isso de um modo um pouco diferente; penso que é importante que o capitalismo entre na equação enquanto conceito e a ligação entre o capitalismo e a supremacia branca. Mas agora que a China está prestes a tornar-se a grande potência capitalista, como é que se vai pensar esse problema? Voltamos ao grande arco. A supremacia branca no máximo do seu poder, a transferência do poder geopolítico da Europa para a América, o grande conflito soviético que foi a Guerra Fria e, no momento pós-colonial, os movimentos anticoloniais por todo o lado nas décadas de 40, 50, 60 e 70 e mesmo nos anos 80, e chegamos a este ponto, o do multiculturalismo, globalização, um momento pós-colonial e uma nova ordem. Tudo o que é tomado por permanente não é permanente. Nada é permanente. Eles entendem isto. Há discursos disponíveis no YouTube onde se vê os líderes de extrema-direita a falarem com estes argumentos. Vêem o fim do apartheid na África do Sul como parte deste processo em que a sociedade branca está a ser destruída. Quando falam de sociedade branca, falam de supremacia branca. Estamos a viver um momento extraordinário em que grandes mudanças podem acontecer. Está pessimista?Sou por natureza um pessimista, mas sinto-me optimista em relação a isto. É muito estranho. Pode explicar porquê?Porque há agora uma inevitabilidade histórica. A sociedade europeia irá morrer em duas gerações. Demograficamente. Não há população suficiente para uma regeneração que sustente o Estado social. Capitalismo e demografia como sistema único no mundo geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e Sul. As condições de vida sustentável são outro grande desequilíbrio. É um movimento inevitável. Não estou a falar em termos naturais, mas sociais. O sociólogo italiano Sandro Mezzadra diz que a migração em massa não é um processo demográfico anónimo, mas um movimento social, e o argumento que estou a construir para este projecto é que o migrante pós-colonial na Europa é uma figura que devolve à pátria europeia a questão do passado colonial. É a oportunidade de a Europa usar isso para se tornar verdadeiramente pós-colonial. É um regresso de modo a limpar tudo, arrumar tudo, e vir com disposição de constituir novas relações sociais não baseadas no passado colonial essencialmente racista. O migrante pós-colonial na Europa é uma figura que devolve à pátria europeia a questão do passado colonial. É a oportunidade de a Europa usar isso para se tornar verdadeiramente pós-colonialDeste seu pensamento pode concluir-se que a extrema-direita está organizada e a esquerda e o chamado “centro” estão perdidos?A esquerda está perdida neste momento. O que deve fazer quem quer defender os princípios da democracia?Não tenho uma resposta clara para isso. Estou a esforçar-me para ter. É a grande questão do nosso tempo. O politicamente correcto tem de terminar. A correcção política do tudo limpo. A extrema-direita não tem essa correcção e por isso pensa coisas novas. A esquerda não é capaz de um pensamento novo neste momento. Por estar preocupada com o politicamente correcto?Sim, penso que sim. Queremos uma linguagem de justiça social e que fundamente novas possibilidades humanas mais do que simplesmente uma linguagem de multiculturalismo. Na sua leitura, referiu Sandro Mezzadra, dizendo que a condição branca do europeu não foi posta em causa pelo multiculturalismo, mas apenas tornada menos evidente para tornar possível a coexistência com os não brancos. . . O multiculturalismo foi um penso rápido na grande ferida que é a história da Europa. Internamente, com o genocídio dos judeus; externamente, com a colonização, a escravatura, os genocídios. E o multiculturalismo não é uma maneira de lidar com essa grande lesão. A sociedade europeia irá morrer em duas gerações. Demograficamente. Capitalismo e demografia como sistema único no mundo geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e SulFalou há pouco da União Europeia como a guardiã de um ideal. Onde é que está a falhar?A grande falha da União Europeia é evitar estas questões. Lidou com a questão judaica até certo ponto, mas mesmo aí de forma bastante incorrecta. França, por exemplo, o modo como distingue judeus e árabes é à velha maneira colonial aplicada na Argélia. Os judeus podem ser europeus, mesmo judeus árabes. Jacques Derrida, Hélène Cixous. . . , mas os árabes muçulmanos não podem ser europeus. Estas são formas de distinguir os árabes dos judeus que derivam de 1840. Nessa década, o Estado francês recrutou rabis asquenazes [provenientes da Europa Central] para os fazer chefes de sinagogas na Argélia. Foi o início do processo de europeização dos judeus árabes. A tecnologia colonial de diferenciação entre árabes e judeus, entre populações diferentes, está a acontecer, não é uma coisa só do passado. Depois os judeus foram a ameaça, agora assistimos mais uma vez à ameaça árabe. O desafio é desenvolver novas formas de pensar a sociedade. Ideias como cosmopolitismo e multiculturalismo estão a falhar diante dos nossos olhos. Como é que a literatura está escrever este presente?Muito do que se tem escrito surge no grande corpo a que se deu o nome literatura pós-colonial ou de imigração; e isso foi tornado exótico e chegou-se a uma fórmula; quando há uma fórmula, há uma expectativa: “Isto é o que nos vão dar. ” Tenho essa experiência; enquanto alguém considerado crítico pós-colonial, esperam certas coisas de mim e é uma luta não seguir o padrão. Podia viver muito bem só disso, de dar às pessoas o que elas querem. Arranjo muitos problemas por não o fazer e tento ensinar os meus alunos a não viverem debaixo desse tipo de expectativa ou de compromisso que impede de pensar de forma nova, original, que faça a diferença, que não seja apenas a repetição de uma fórmula. Mas há grandes escritores. Zadie Smith, agora; ouvi uma entrevista recente onde ela dizia que as pessoas pensam o multiculturalismo como um dado adquirido. Londres é multicultural e é apenas isso; o mundo é simplesmente isso, e ela diz que os acontecimentos do último ano fizeram-na perceber como esse momento é temporário. Espero qualquer coisa grande dela em resultado dessa conclusão. E Michel Houellebecq?É um caso interessante. Pertence à direita conservadora, muito anti-islâmica. A maior parte das pessoas com quem falo — caso de críticos literários — ficam chocadas e perguntam-me porque estou a trabalhar sobre Michel Houellebecq se ele é um racista. É precisamente por isso. Estudo-o porque ele é racista, quero entender o que isso é, e uma vez mais, porque é um escritor de extrema-direita e percebe que a esquerda, com todo o seu multiculturalismo, é incapaz de produzir um pensamento. Submissão [Alfaguara, 2015] não é um romance islamofóbico e esse é o grande truque do romance. É brilhante. Gosta de Houellebecq, escritor?É um louco, sabemos. A maneira como escreve sobre pornografia é demasiado para mim. É pornografia explícita, não é erotismo. É violento com as mulheres, é insuportável por vezes nessa violência de género, difícil de ler, mas revela-nos coisas acerca do nosso mundo. É sobretudo sexo, religião e raça, e muito revelador. Submissão, como disse, não é islamofóbico. No livro, o país vai aceitando o islão e as pessoas convertem-se maciçamente; a Sorbonne torna-se um seminário islâmico. Ele parece estar quase a dar as boas-vindas ao islão como um final para o conflito. Se é isso que é preciso, vamos fazê-lo. E o extraordinário, muito houllebecquiano, é que essa conclusão é assegurada por uma aliança entre patriarcas franceses e patriarcas islâmicos. É a grande atracção para os homens franceses se converterem. É tão louco! É orientalista, mas não islamofóbico. Orientalista tal como Edward Said definiu o orientalismo, com um olhar eurocentrado?Sim, nesse sentido. Ele escreve com base no imaginário francês colonial acerca do islão. O islão ocupa um lugar muito peculiar na história de França. Houve uma islamofilia em França, e muito patriótica, no sentido de uma ordem doméstica em que os homens têm as regras de uma certa ordem social e onde no centro está Deus. Isto foi muito atraente na cultura francesa no século XIX e início do século XX. Muitas personalidades francesas converteram-se ao islão nesta visão da ordem doméstica patriarcal com ênfase no sexo. Ter várias parceiras legais garante aos homens o acesso sem restrições ao sexo. Ele escreve a partir deste fascínio colonial do islão como doutrina doméstica. Adoro o romance. Repito, a direita radical ensina-me mais agora do que o multiculturalismo. Mas há outro escritor insano, francês, Jean Raspail. Acho que Michel Houellebecq fez uma reescrita do livro de Raspail chamado Le Camp des Saints [1973]. É um romance muito popular na extrema-direita americana. Steve Bannon, o estratega de Trump, afirmou que é o seu livro preferido na literatura. É sobre a chegada de mais de um milhão de imigrantes da Índia à costa francesa. Cem barcos chegam como uma grande armada, quase uma invasão, e as ruas ficam cheias dessa gente pobre, faminta e moribunda e o resto do romance é sobre o que acontece ao Sul, com a população a fugir para o Norte e o exército a descer. É o fim da civilização francesa, num ápice. Ele tem ideias apocalípticas sobre a demografia e de como isso é inevitável. Agora é lido como profético por essa direita radical. Dizem: aí está 2015, foi exactamente o que aconteceu. Ao criar os refugiados indianos, não quis distrair as mentes com o islão. Ele altera o que acha que são os factos para os tornar mais evidentes. Isto tem mais de 40 anos. É um romance horrível, muito mal escrito, mas de um modo estranho acho que Houellebecq está a reescrever esse texto. Edward Said denunciou o preconceito em relação ao islão e a sua representação, marcado pelo eurocentrismo. Perante tudo isto, como podemos agora ler aquele que é considerado o seu grande livro, Orientalismo (Cotovia, 2004)?Ele foi meu professor, grande amigo e mentor. Deve ser lido no sentido de um aviso sobre o que é agora a realidade diária: conflito de civilizações, violência de ambos os lados, o terror e a guerra contra o terror, a escalada desde os ataques ao World Trade Center. Todos os anos há uma nova escalada em direcção a um nível cada vez maior de loucura. Temos de mudar a nossa linguagem, o modo de pensar, alterar os nossos instintos ou o que tomamos como instintos, mas que são mais apreendidos que que outra coisa; não são coisas espontâneas que nasceram connosco. Aprendemos a pensar e a reagir emotivamente dessa maneira. É preciso empreender a laboriosa tarefa de mudar isso. Tornarmo-nos pessoas diferentes. Por isso o livro é mais relevante do que nunca. Não é sobre a representação de muçulmanos e árabes, é sobre esta história de violência entre o Ocidente e o mundo islâmico há séculos e de como ficar ciente disso e como começar a interromper esse processo de escalada constante. Dizia que é preciso mudar a linguagem: não parece coisa para uma geração. Mas há mudanças que vão acontecendo. Quando Donald Trump venceu as eleições americanas, muitos analistas disseram que se deveu a uma nova forma de linguagem. Pois. Talvez seja um motivo pelo qual o politicamente correcto deve ser questionado, o outro lado mostra o que parece não ser politicamente correcto. É abertamente racista, xenófobo. Quer dizer que se pode aprender acerca de linguagem com Trump?(Pausa) O politicamente correcto, especialmente na versão americana, cheia de interditos. . . como deverei pôr isto?O exemplo da n-word (eufemismo para nigger)?Sim, sim. Interdita. E, no entanto, ouvimos a palavra todos os dias na música contemporânea, no cinema americano, mas só é usada por afro-americanos, sejam cantores ou actores. Os filmes de Tarantino têm todos a n-word, mas dita por uma personagem negra. Na América nem se pode levantar a questão da imigração. Eu sou imigrante. Cheguei aos Estados Unidos para ir para a universidade, a minha formação anterior foi no Paquistão. Acho importante perguntar quais as implicações da imigração de massa, é estúpido fingir que nada irá mudar. Estamos a pedir que as coisas mudem, queremos que as coisas mudem, queremos fazer desta sociedade pós-colonial livre do imaginário racial do passado. São perguntas importantes; temos de as fazer abertamente e discuti-las. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isto enquanto o inglês continua a ser a língua hegemónica, o tema do seu último livro, Forget English! (2016). Sim, a hegemonia global do inglês. É inevitável neste momento, não pode ser revertida, não podemos recuar a uma situação linguística anterior. Esqueçam o inglês? Não. Mas pensem mais nas outras línguas. Nos departamentos de inglês não se pensa por exemplo no que é a anglofonia. A anglofonia é só uma coisa bonita, as pessoas escreverem e pensarem em inglês em todo o lado! Mas tentem entender o que acontece quando falam inglês. Há uma diferenciação de classe no acesso? As línguas tradicionais estão a ser destruídas? É o que tento discutir nesse livro e a ideia de literatura mundial. É dominada pelo inglês. É preciso fazer as perguntas e não este non-sense de nem sequer poder mencionar a palavra “imigração” e dizer é tudo o mesmo, somos todos o mesmo. Não somos todos o mesmo. Trazemos diferentes histórias. Vir do lado do império ou do lado imperializado são duas coisas muito diferentes. Somos diferentes tipos de seres humanos em resultado dessa divisão. Por isso fala do paradoxo por detrás da ideia de igualdade?Sim. Igualdade não é o mesmo que semelhança. As tradições europeias geralmente equiparam igualdade e semelhança, e o multiculturalismo reproduz a semelhança; não é um modo de reconhecer a diferença. A diferença não é cultural. É histórica, são as diferenças históricas de diferentes populações. As heranças familiares vêm daí e formam seres humanos diferentes. Essa questão tem de ser central. O que temos é mau e queremos mudar, queremos criar outra coisa e estamos a mover-nos, mais e mais, no sentido de misturar populações diferentes, mas esta mistura não pode ser imaginada ou concebida em termos multiculturais. Não é só o imigrante que tem de fazer o esforço de mudar e ajustar-se. A questão é mudar as próprias sociedades nas quais o imigrante é assimilado. A questão é como é que as sociedades de acolhimento podem mudar e no que se poderão tornar no futuro. Não sabemos, mas tem de ser discutido de forma mais rigorosa e aberta. É o que vou tentar fazer no meu próximo livro. Esta Entrevista encontra-se publicada no P2, caderno de Domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS: