Arca de Zoé: seis franceses condenados a oito anos de trabalhos forçados
Os seis membros franceses arguidos no caso Arca de Zoe, relativo à tentativa de sequestro de 103 crianças no Chade, foram hoje condenados a oito anos de prisão com trabalhos forçados pelo Tribunal Criminal de N'Djamena. O presidente do tribunal, Ngarhondo Djidé, disse, ao ler o veredicto, que além dos seis franceses, o chadiano Mahamat Dagot e o sudanês Souleimane Ibrahim foram também condenados a quatro anos de prisão, tendo sido ordenada a libertação de dois outros chadianos, acusados de serem cúmplices do grupo francês. O responsável anunciou que o tribunal reconheceu os seis franceses como culpados da “tentat... (etc.)

Arca de Zoé: seis franceses condenados a oito anos de trabalhos forçados
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento -0.30
DATA: 2007-12-26 | Jornal Público
TEXTO: Os seis membros franceses arguidos no caso Arca de Zoe, relativo à tentativa de sequestro de 103 crianças no Chade, foram hoje condenados a oito anos de prisão com trabalhos forçados pelo Tribunal Criminal de N'Djamena. O presidente do tribunal, Ngarhondo Djidé, disse, ao ler o veredicto, que além dos seis franceses, o chadiano Mahamat Dagot e o sudanês Souleimane Ibrahim foram também condenados a quatro anos de prisão, tendo sido ordenada a libertação de dois outros chadianos, acusados de serem cúmplices do grupo francês. O responsável anunciou que o tribunal reconheceu os seis franceses como culpados da “tentativa de sequestro de crianças” e de “tentativa de ganhos ilícitos” ao tentarem, a 25 de Outubro último, fazer sair do Chade 103 crianças, de 18 meses a dez anos, com destino a França. Souleimane Ibrahim Adam, um refugiado sudanês, e Mahamat Dagot, líder de bairro da cidade de Tiné, na fronteira com o Sudão, que serviram de intermediários, foram considerados culpados de “cumplicidade na tentativa de sequestro das crianças”. Os outros dois chadianos, Sinine Amadou Nassour e Ahmat Harane Gnoye, presidente e secretário-geral do município de Tiné, respectivamente, acusados também de cumplicidade foram absolvidos. Os oito arguidos foram ainda condenados a pagar uma indemnização de 6, 3 milhões de euros aos pais das 103 crianças. Os seis franceses negaram sempre o crime de tentativa de sequestro, alegando que as crianças em causa se tratavam de “órfãos do Darfur”, província sudanesa vizinha do Chade, em guerra civil, e que a operação se destinava a encontrar famílias adoptivas. Mas as autoridades do Chade dizem que as crianças não eram do Darfur nem tão pouco eram órfãs. Antes tinham sido raptadas ou compradas aos pais para serem vendidas a redes de pedofilia ou tráfico de órgãos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime guerra tribunal prisão refugiado
O Vox não é um partido de extrema-direita, diz Nuno Melo
Partido anti-imigração espanhol é, para o cabeça-de-lista do PP às europeias, um “partido de direita”, (...)

O Vox não é um partido de extrema-direita, diz Nuno Melo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Partido anti-imigração espanhol é, para o cabeça-de-lista do PP às europeias, um “partido de direita”,
TEXTO: O cabeça-de-lista do CDS-PP às europeias, Nuno Melo, considera que o partido espanhol Vox não é um partido de extrema-direita e admite que ele venha a integrar a mesma família política europeia que CDS e PSD. “O Vox estará para o Partido Popular [espanhol] como a Aliança está para o PSD”, afirmou Nuno Melo, em entrevista à Lusa, referindo-se à recém-formada Aliança, de Pedro Santana Lopes, que considera “uma dissidência” do PSD. Uma comparação que Paulo Sande, cabeça-de-lista da Aliança às europeias, considera “desnecessária” e errada. Para Nuno Melo, candidato a um terceiro mandato no Parlamento Europeu nas eleições de 26 de Maio, “o Vox é catalogado de extrema-direita”, mas, quem assim o afirma, devia “conhecer o programa do Vox” e “ler o programa do Vox”. Em várias ocasiões, o Vox declarou como “inimigos” o independentismo catalão, a imigração e o feminismo. O alvo preferencial é a imigração, propondo deportações e um “muro intransponível” em Ceuta e Melilla. Como escreveu no PÚBLICO Jorge Almeida Fernandes, o Vox assume a xenofobia e, em nome da Espanha “católica”, denuncia uma suposta “invasão islâmica”. Nacionalista, copia de Donald Trump um lema: “hacer España grande otra vez”. Nuno Melo defende, contudo, que o Vox é uma “deriva do PP”, um “partido de direita” – e não de extrema-direita. “O presidente do Vox era do PP, é um basco, filho de um histórico do PP, que no essencial, tem a agenda política do PP com duas diferenças fundamentais, que tem que ver com as tradições, que mobilizam muito em Espanha: a festa taurina e a caça. E depois, uma outra circunstância que levou a que fosse considerado radical, a questão das autonomias”, afirma. Para o eurodeputado e vice-presidente do CDS-PP, “90% do que está no programa do Vox encontra-se no [programa do] PP”, tal como “nos Cidadãos encontra muito do PSOE e do PP”. “O Vox beneficia de uma intuição ou percepção do eleitorado no sentido que o PP também não foi dando as tais respostas para problemas sentidos, beneficia também dos escândalos de corrupção que afectaram o PP, como afectaram o PSOE, beneficia de uma instabilidade geopolítica que tem muito a ver com a Catalunha, com esta forma do governo que, para permitir a ascensão do Pedro Sánchez, vai buscar antigos etarras e radicais independentistas catalães”, enumera como elementos de um “caldo [que] potencia o surgimento do Vox”. Para Melo, o Vox “é uma deriva do PP”, “um partido de direita”, “talvez à direita do CDS em Portugal, mas é um partido de direita”. “Volto a insistir, leiam o programa do Vox. Não vão pelos títulos, nem pelos rótulos”, afirma. “Verão que é um partido europeísta, um partido que defende muito o que defende o PP, muito o que defende o PSOE, e tem estas três circunstâncias”. “Não estranharia, por exemplo, que o Vox viesse no final a entrar no PPE”, admite, referindo-se à maior família política europeia, o Partido Popular Europeu (PPE), de que fazem parte o CDS e o PSD. Questionado sobre a permanência no PPE, embora suspenso, do Fidesz, do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, admite que “gostava que o partido ficasse”, porque isso “significava que se tinha verificado que não violava os princípios fundacionais do PPE e que se tinha comprometido com esses valores em relação ao futuro”. “Ao demonizarmos o Fidesz não ganhamos nada […] Devemos é, pelo contrário, fazer tudo para que o Fidesz se recoloque na linha da moderação”, defende, acrescentando preferir “ter o Fidesz a ultrapassar problemas, mas mantendo-se preso às democracias e àquilo que elas significam”. “O que fizemos foi um sinal muito claro em relação ao Fidesz e em relação a Viktor Orbán. […] Teve um custo político […] com os socialistas e toda a esquerda de pé a aplaudir. […] Mas o que fizemos foi por uma razão de princípio”, sublinha. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E critica os socialistas europeus, e particularmente o PS, por não ter atitude semelhante em relação à Roménia, à Eslováquia ou a Malta. “O que se passa hoje na Roménia e muito pior do que se passa na Hungria. E temos a comissária romena [Corina Cretu] a vida dar a mão para salvar o Pedro Marques”, acusa, referindo-se à notícia, divulgada pela SIC, de um vídeo da comissária elogiando o cabeça de lista do PS, Pedro Marques. “Ou seja, em vez de censurar o governo da Roménia, o PS pede ajuda e dá-lhe a mão”, censura. “Não está a ver propriamente o PPE, o CDS ou o PSD, a pedir a quem seja para vir cá vir dar a mão na nossa campanha. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD Partido Popular Europeu
Sorrir, apesar do desemprego
O PÚBLICO reencontrou três das quatro famílias que acompanhou durante dois anos da crise. O trabalho precário e intermitente persegue Sandra, as filhas de Clara e José emigraram e Adriana desistiu da agricultura, o seu sonho. (...)

Sorrir, apesar do desemprego
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O PÚBLICO reencontrou três das quatro famílias que acompanhou durante dois anos da crise. O trabalho precário e intermitente persegue Sandra, as filhas de Clara e José emigraram e Adriana desistiu da agricultura, o seu sonho.
TEXTO: Sandra Fonseca, sorri, apesar do desemprego lhe ter voltado a bater à porta. “Tem de vir conhecer a minha casa”, diz, lembrando que o filho, de 14 anos, ganhou direito à privacidade: “tem um quarto só para ele”. Para trás, ficou a romântica história de um amor e uma cabana, que acabou em violência doméstica. A última vez que o PÚBLICO falou com Sandra, há cerca de dois anos, foi através de um telefonema a pedir ajuda: “O Luciano [ex-companheiro] pôs-me fora de casa”, disse. A relação chegara ao fim, e não tinha onde ficar. Os serviços de Apoio à Vítima e a câmara de Faro, na altura, intervieram – recebeu alojamento temporário numa pensão, depois na Santa Casa da Misericórdia de Albufeira. Por sua iniciativa, encontrou emprego numa unidade hoteleira da zona turística, mas regressou a Faro ao fim de alguns meses para trabalhar num lar de idosos. Alugou quarto e reconquistou a independência. No passado mês de Dezembro, ao fim de ano e meio de contratos a prazo, foi dispensada. “Tinham-me avisado, desde o início, de que não punham ninguém no quadro”, justifica. O regresso ao desemprego – situação que conhece desde há cerca de três anos, altura em que deixou o snack-bar que geria – foi aproveitado para frequentar um curso de formação profissional em geriatria, aperfeiçoando os conhecimentos que já possuía nesta área. Na semana passada, colocou um anúncio no Facebook a informar que presta serviços de apoio a idosos ao domicílio. “Já tive muitos like, mas ainda não tenho clientes”, disse. A vida profissional e emocional de Sandra Fonseca segue em altos e baixos como as marés do mar que a rodeia. Mas não é mulher para desistir. “Tem uma grande força de vencer”. Quem o diz é Luciano, deixando transparecer um lamento por ter perdido a companheira. Viviam numa barraca, com chapas de cinzo, às portas de Faro, faltava o dinheiro para o essencial, mas aparentavam estar unidos pela paixão. Ele, desempregado, beneficia de uma pensão de invalidez, de pouco mais de 200 euros, por ter perdido uma perna num acidente de viação. “Ainda nos encontramos, tomamos café, somos amigos”, conta, evitando falar nos motivos que levaram à separação. Desde há oito meses, o coração de Sandra abriu um postigo para uma nova relação. Com o actual companheiro, vive num casa de campo em Mar e Guerra, a meia dúzia de quilómetros da cidade, rodeada de laranjeiras, com um enorme terraço. “O meu filho, aqui, tem um quarto só para ele. Quando estava no outro lado [na barraca] tinha um pano a servir de parede, numa divisão única”. A esta boa nova fase da vida, Sandra gostaria de juntar o que ainda lhe falta. “Só me falta mesmo é trabalho”, sublinha. Sandra Fonseca, que é originária de uma família do Porto e foi viver para Faro há cerca de duas décadas, testemunha hoje a outra face dos anos da crise, que afectou os filhos e está agora a chegar aos pais. A mãe, que também trabalha na área da geriatria, e o pai, mecânico, estão a passar por grandes dificuldades. “Os meus pais estão em vias de ter que entregar a casa ao banco – pagam mais de 800 euros de prestação por mês, e como o meu pai sofreu um grande corte no salário, não se estão a aguentar – gostaria de os poder ajudar, mas não posso. ”Foi neste apartamento T2, situado perto do campus universitário da Penha, e agora em risco, que se recolheu, aos 29 anos, por altura do fim de uma relação amorosa. Para sobreviver, fez limpezas na Universidade do Algarve e nos luxuosos empreendimentos turísticos de Vale do Lobo e Quinta do Lago. Luciano, ex-emigrante nos Estados Unidos, entrou então na sua vida, quase por acaso. “Uma espécie de terapia”, diz, a lembrar os primeiros encontros no café, quando falavam de motos e da liberdade que representava viajar, de cabelos ao vento, em cima de duas rodas. Da paixão pelas motorizadas até à decisão de irem viver juntos foi a distância de um clique. Um dia, o amor derrapou numa curva da vida. Ficou a amizade. Entretanto, um novo companheiro apareceu e Sandra voltou a sorrir, ainda que desempregada. “O dinheiro não é tudo, mas dava-me jeito ter trabalho e poder pagar as minhas próprias contas”, remata. Clara e José: “Ninguém consegue sentir raiva o tempo todo”Na sala onde também prepara as aulas, no centro de Coimbra, Clara Moura hesita, à procura da palavra certa. Está mais serena do que há três anos, apesar de não ter recuperado a qualidade de vida que possuía em 2010 e nem sequer a esperança de que isso venha acontecer. Mas recusa-se a falar em “conformismo” ou a ver-se como uma pessoa “instalada”, “resignada” ou “apática” em relação à realidade, que continua a preocupá-la. Chumbadas todas as hipóteses, conclui que “talvez”, se tenha, simplesmente, “cansado”: “Ninguém consegue viver com raiva o tempo todo, acho que é isso…”, arrisca.
REFERÊNCIAS:
Prisões portuguesas entre as sobrelotadas da Europa
Situação melhorou, mas 13 serviços prisionais ainda lidam com falta de espaço na Europa (...)

Prisões portuguesas entre as sobrelotadas da Europa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170220024912/https://www.publico.pt/n1725484
SUMÁRIO: Situação melhorou, mas 13 serviços prisionais ainda lidam com falta de espaço na Europa
TEXTO: A sobrelotação está a diminuir nas prisões, mas ainda se verifica num em cada quatro serviços prisionais europeus e o de Portugal é um deles, indica o relatório anual do Conselho da Europa sobre estatísticas penais, que foi divulgado esta terça-feira, mas refere-se a 2014. De acordo com o documento a que o PÚBLICO teve acesso, em 2011, a Europa tinha em média 99 presos no lugar de 100. Já em 2014, tinha 94 no lugar de 100. Treze serviços prisionais, num total de 51 analisados, lidavam com um problema de sobrelotação. As maiores taxas de ocupação registavam-se na Hungria, na Bélgica, na "Antiga República Jugoslava da Macedónia”, na Grécia, na Albânia, em Itália, e em Espanha (prisões administradas pelo Estado), na Eslovénia, na França, em Portugal, na Sérvia, na Roménia e na Áustria. A 31 de Dezembro de 2014, Portugal, com dez milhões de habitantes, contava 14. 003 presos, mas só tinha capacidade para acolher 12. 591, o que quer dizer que registava uma taxa de ocupação de 111, 2%. A realidade não melhorou. No primeiro dia deste mês, o país contava 14. 277 reclusos, o que quer dizer que a sobrelotação se agravou, alcançando agora 112, 1. De acordo com o relatório, a taxa de população prisional tem vindo a diminuir: passou de 134 por cada 100 mil habitantes em 2013 para 124 por cada dez mil habitantes em 2014. Com uma taxa de 127, 8, Portugal ocupava a 23ª posição. Encabeçavam a lista de países com maior taxa de encarceramento, a Federação Russa, a Lituânia, a Letónia, o Azerbaijão, a Estónia, a Ucrânia, a Polónia, a Moldávia, a Turquia, Eslováquia, Albânia, Hungria. Lembra o relatório que os países podem estar fora daquela lista e registar superlotação em prisões específicas. No caso de Portugal, é menor a sobrelotação registada nas cadeias de complexidade de gestão de grau elevado. Na Área Metropolitana do Porto, por exemplo, há quase sempre sobrelotação em Custóias e quase nunca na feminina de Santa Cruz do Bispo. “A sobrelotação cria enormes obstáculos à reabilitação de reclusos e, portanto, à melhor protecção da sociedade da criminalidade”, disse o secretário-geral do Conselho da Europa Thorbjørn Jagland. “Também pode violar os direitos humanos. Congratulo-me com os progressos alcançados na redução da sobrelotação nas prisões. Os Estados que ainda a têm devem fazer mais para eliminá-la, incluindo a aplicar medidas alternativas à prisão". No final de 2014, havia 1. 212. 479 pessoa sob vigilância electrónica nos 45 países analisados. Só 6, 7% ainda não tinham sido julgadas, o que, no entender dos autores do relatório, “mostra que as medidas não privativas de liberdade são ainda pouco utilizadas”. Naquele ano, 1. 373, 912 pessoas entraram no sistema de supervisão e 1. 134. 567 saíram. Conforme a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, no final de 2014, em Portugal estavam 752 pessoas sob vigilância electrónica. No final do ano seguinte, 921. Este crescimento deve-se por inteiro à medida de proibição de contactos no âmbito de crimes de violência doméstica. Há novas aplicações mas também longa permanência no sistema. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O relatório indica ainda que os presos estrangeiros representaram 21, 7% da população prisional da Europa. Na maior parte dos países da Europa Central e Oriental, a proporção de reclusos estrangeiros não ultrapassava 10%. Era na Europa Meridional e na Ocidental que os estrangeiros estavam sobrerepresentados (25% para 96% da população prisional). Em Portugal, no final de 2014, havia um total de 2469 reclusos estrangeiros, o que significava 17, 6% da população prisional. Tinham, sobretudo, nacionalidade de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, Roménia e Espanha. A maior parte respondia por crimes de droga. Em toda a Europa, os crimes relacionados com drogas continuavam a ser aqueles que mais pessoas levavam à prisão (16, 5%). Seguem-se os crimes de furto (14%), roubo (13, 1%) e homicídio (12, 3%). Portugal não é excepção. Os reclusos expiam, sobretudo, penas relacionadas com estupefacientes, furto, roubo e homicídio.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos homicídio violência prisão doméstica feminina
Maria José Costeira: Sem medo de afrontar o poder
No auditório de um hotel a estrear na Figueira da Foz, os juízes que assistem ao encontro anual do Conselho Superior da Magistratura aguardam com expectativa o discurso do secretário de Estado da Justiça. Muitos dirigem as novas comarcas e nesta altura, em meados de Setembro de 2014, enfrentam uma situação deveras insólita: o sistema informático dos tribunais crashou há duas semanas, em pleno arranque da reforma judiciária, fazendo parar quase todo o serviço. Ignora-se quando poderão os tribunais voltar à normalidade. As 26 páginas do discurso do governante estão repletas de estatísticas e de elogios às políticas... (etc.)

Maria José Costeira: Sem medo de afrontar o poder
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
TEXTO: No auditório de um hotel a estrear na Figueira da Foz, os juízes que assistem ao encontro anual do Conselho Superior da Magistratura aguardam com expectativa o discurso do secretário de Estado da Justiça. Muitos dirigem as novas comarcas e nesta altura, em meados de Setembro de 2014, enfrentam uma situação deveras insólita: o sistema informático dos tribunais crashou há duas semanas, em pleno arranque da reforma judiciária, fazendo parar quase todo o serviço. Ignora-se quando poderão os tribunais voltar à normalidade. As 26 páginas do discurso do governante estão repletas de estatísticas e de elogios às políticas de justiça seguidas pelo Governo. Mas as referências ao problema que todos querem saber quando será resolvido – e que ainda há-de durar mais um mês – são escassas e vagas, como se a questão não passasse de um pormenor sem importância. Sentada na plateia com várias colegas de profissão, Maria José Costeira não se contém: levanta-se e sai porta fora, indignada perante a atitude do secretário de Estado. Nenhum outro juiz segue os passos da então secretária-geral da Associação Sindical de Juízes Portugueses. Quando o interminável discurso chega ao fim o governante é aplaudido de forma morna, mais por educação do que por convicção. Não é a primeira vez que a magistrada dá mostras de não temer afrontar os poderes instituídos. Em 2013 a magistrada não hesitou em intimar o Banco de Portugal a enviar-lhe uma cópia da acusação do processo de contra-ordenação contra o ex-presidente do BPP, João Rendeiro, e restantes administradores, que o regulador se recusava a entregar-lhe, alegando segredo de supervisão. A magistrada do Tribunal do Comércio de Lisboa deu um prazo de cinco dias para lhe ser entregue uma cópia do documento. "Não se consegue perceber a argumentação do Banco de Portugal, nem tão-pouco a invocação do segredo de supervisão", escreveu a juíza, que acabou por condenar o banqueiro. Quando estava à frente do Tribunal de Comércio de Lisboa, em 2008, descreveu de forma eloquente a falta de meios com que se confrontava: “Se eu fosse estrangeiro, não investiria em Portugal”. As insolvências, a propriedade industrial e o direito da concorrência são as suas áreas de especialidade. Nascida no Porto há 47 anos, a nova presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses estudou em Coimbra e tem 23 anos de magistratura. Casada e com duas filhas, venceu as eleições por um número de votos idêntico ao do seu antecessor, Mouraz Lopes, por quem foi apoiada. É a primeira mulher no cargo, e nessa qualidade terá de lidar com outras detentoras de posições tão ou mais relevantes na justiça portuguesa: desde logo a ministra Paula Teixeira da Cruz, que termina o mandato daqui a seis meses, mas também a procuradora-geral da República e a bastonária dos advogados.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal educação mulher
Crianças portuguesas estão a emigrar para trabalhar
O comissário do Conselho da Europa para os direitos humanos alertou hoje que há crianças portuguesas a emigrar para trabalhar por causa da crise e famílias a retirar idosos das instituições para beneficiar das suas reformas. (...)

Crianças portuguesas estão a emigrar para trabalhar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O comissário do Conselho da Europa para os direitos humanos alertou hoje que há crianças portuguesas a emigrar para trabalhar por causa da crise e famílias a retirar idosos das instituições para beneficiar das suas reformas.
TEXTO: Os alertas do comissário Nils Muiznieks surgem num relatório que resulta de uma visita a Portugal, entre 7 e 9 de Maio, durante a qual se debruçou sobre o impacto da crise e das medidas de austeridade sobre os direitos humanos. “Durante a sua visita, o comissário foi informado de que, desde o início da crise, tem havido casos de crianças a migrar por motivos de trabalho para outros estados-membros da UE”, pode ler-se no relatório de 18 páginas. O documento acrescenta, citando especialistas, organizações da sociedade civil e sindicatos ouvidos pelo comissário, que “a crise financeira, o aumento do desemprego e a diminuição das fontes de rendimento das famílias devido às medidas de austeridade levaram as famílias a fazer novamente uso do trabalho infantil, nomeadamente no sector informal e na agricultura”. Recordando que o país já regista uma elevada taxa de abandono escolar, o comissário apela às autoridades portuguesas que monitorizem a evolução deste problema e que não descontinuem programas que visam prevenir o trabalho infantil. O responsável refere, por exemplo, ao Programa Integrado de Educação e Formação, que visa prevenir o trabalho infantil, alertando ter sabido, durante a sua visita, de que este “poderá ser descontinuado”. Nils Muiznieks manifesta também preocupação com relatos de que a pobreza infantil está a aumentar em Portugal, como consequência do aumento do desemprego e das medidas de austeridade, nomeadamente os cortes nos abonos de família. O comissário teme que as medidas de austeridade dos últimos dois anos ameacem seriamente as melhorias alcançadas na última década e apela às autoridades que tomem particular atenção ao possível impacto da crise no trabalho infantil e na violência doméstica contra as crianças. Isto porque “uma situação socioeconómica cada vez mais difícil para as famílias, que são sujeitas a elevados níveis de ‘stress’ e pressão, pode resultar em sérios riscos de violência doméstica contra as crianças”. O risco de violência doméstica afecta também os idosos, alerta o responsável, que diz ter tido conhecimento de que muitos casos de violação dos direitos humanos, incluindo violência, “resultam de famílias que estão a retirar os idosos das instituições e a levá-los para casa para poderem beneficiar das suas pensões. “Interlocutores do comissário que trabalham com idosos relataram um aumento dos casos de extorsão, maus-tratos e, por vezes, negligência depois de idosos com problemas de saúde serem retirados das instituições”, especifica o texto, que cita números da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima que atestam um aumento de 158% no número de casos de violência contra idosos entre 2000 e 2011. O comissário reconhece que o programa de emergência social, lançado pelo governo no ano passado, inclui uma série de medidas que visam mitigar os efeitos da austeridade nos idosos, mas considera que, sozinhas, estas medidas “podem não ser suficientes para responder de forma abrangente às crescentes dificuldades que enfrentam muitos idosos”.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Embora mais escondido, o sexismo continua a existir nas universidades portuguesas
Socióloga Maria do Mar Pereira publica livro em que conclui que há comentários sexistas e homofóbicos nos corredores da academia portuguesa. (...)

Embora mais escondido, o sexismo continua a existir nas universidades portuguesas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.166
DATA: 2017-08-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Socióloga Maria do Mar Pereira publica livro em que conclui que há comentários sexistas e homofóbicos nos corredores da academia portuguesa.
TEXTO: Se é homem e chora, está a reagir como uma mulher. Ou se é mulher e tem um “grande” decote, alguém vai comentar. Ou ainda, se se interessa por temas relacionados com género é porque é homossexual. Estes são alguns dos comentários ou situações sexistas que a socióloga Maria do Mar Pereira diz existirem nas universidades portuguesas, como revela no livro Power, Knowledge and Feminist Scholarship: an Ethnography of Academia (ou Poder, Conhecimento e Investigação Feminista: Uma Etnografia da Academia), apresentado esta quinta-feira no simpósio “Sexismo nas Universidades Portuguesas”, no Centro de Cultura e Intervenção Feminista (CCIF-UMAR), em Lisboa. Já se tinham realizado estudos sobre a discriminação de género nas universidades portuguesas, como a diferença de salários entre homens e mulheres ou a percentagem de mulheres que ocupam cargos de gestão nas universidades. Mas Maria do Mar Pereira, que actualmente é investigadora e docente na Universidade de Warwick (no Reino Unido), quis saber como é que nas instituições portuguesas se falava sobre as questões de género e como eram tratados investigadores e estudantes em relação a este tema. “Interessava-me perceber quais eram as representações do sexismo na universidade em Portugal”, conta ao PÚBLICO Maria do Mar Pereira. E o que é o sexismo? “As pessoas pensam que é apenas a discriminação das mulheres, mas, na realidade, significa mais do que isso”, responde. “É uma discriminação que tem como base ideias de como devem ser os homens e as mulheres. Esse sexismo é aplicado tanto a homens como a mulheres que não encaixam nas ideias do que é um comportamento certo para um homem e para uma mulher. ” Um dos exemplos que dá é a associação da masculinidade à virilidade. Como tal, iniciou um projecto em 2006, no seu doutoramento, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Entre 2008 e 2009 fez entrevistas a quase 40 docentes, investigadores e estudantes – tanto homens como mulheres – de oito universidades de Norte a Sul do país. E também fez entrevistas a pessoas fora da faculdade, como a trabalhadores da FCT: “Têm uma visão que é um pouco diferente da de quem é cientista e quem é estudante. ” Observou também mais de 50 eventos e reuniões públicas ou fechadas na área das ciências sociais e das humanidades. Anos mais tarde, entre 2015 e 2016, voltou a entrevistar 12 das pessoas já estudadas. Ao longo do seu trabalho, alguns dos comentários mais frequentes foram sobre a depilação das mulheres ou sobre o uso de um “grande decote”. Ou até mesmo em sala de aula, quando alguém disse: “Alguma verdade deve haver quando se diz que os homens são melhores do que as mulheres. ” Maria do Mar Pereira explica que essa pessoa teve a intenção de fazer uma piada, mas há algo mais complicado por trás: “Há muita investigação que demonstra que o humor é usado pelas pessoas para dizerem coisas em que acreditam e para não serem responsabilizadas”, explica. Maria do Mar Pereira fala-nos também do “duplo padrão”, em que um mesmo comportamento de um homem ou de uma mulher é avaliado de forma diferente. “Um exemplo no meio académico é quando os homens criticam o trabalho de colegas são considerados inteligentes. Quando uma mulher critica o trabalho de outras pessoas, é considerada problemática, má e ressabiada. ”Estas situações existem em todos os sítios da universidade: durante a tomada de decisões, nas salas de aula, em congressos, em reuniões entre professores e alunos, nos corredores, nas redes sociais, nas associações de estudantes ou nas praxes. A que conclusões chegou? “Existe sexismo diário entre docentes, entre estudantes, em todos os níveis e em todas as dimensões da vida universitária. ” E ainda explica, num comunicado de imprensa, que hoje há um maior reconhecimento das questões de género no discurso oficial das universidades, que é mais cuidado e igualitário, o que não se verifica na vida universitária mais quotidiana. E considera que isso pode afectar directamente a carreira de quem passa pelo sexismo: “Conheço casos de pessoas que não completaram os seus cursos ou que tiveram de sair de instituições, porque não viam maneira de ver resolvido e castigado o assédio sexual a que estavam sujeitas. ”Para a socióloga, o sexismo é mais invisível nas universidades porque são considerados espaços de liberdade, de questionamento da sociedade e de meritocracia. “Somos capazes de acreditar que [o sexismo] aconteça nas empresas, mas de alguma maneira pensamos que os cientistas são mais críticos ou educados. A verdade é que o estudo demonstra que há sexismo, tal como noutras áreas da sociedade, e que esse sexismo se torna mais invisível, precisamente porque estamos à espera de que não exista nas universidades. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O que se deve fazer então? “Acho que não é possível esperar que as universidades façam espontânea e voluntariamente qualquer coisa para resolver estas questões. ” Para a investigadora, a estrutura das universidades é demasiado fechada e renova-se pouco. Portanto, esta é uma questão que deve envolver o governo, as secretarias de Estado, os movimentos sociais e os media, para que se promova o debate público e se criem medidas. Além disso, devem ser feitas campanhas para tornar visível este tipo de situações. E dá uma sugestão para as disciplinas nos cursos: “Parece-me fundamental que se encoraje o debate das questões de género dentro dos programas de licenciaturas e mestrados. Por exemplo, em Inglaterra, no meu departamento [de Sociologia] é obrigatório que toda a gente das ciências sociais faça uma cadeira sobre género. ”Quanto ao livro, foi publicado pela editora internacional Routledge, já tinha sido apresentado na sua universidade este ano e em Agosto vai ser lançado no Brasil. É possível comprá-lo por um “preço exorbitante”, como diz, por cerca de 28 euros em e-book e em papel por 102 euros. Estará disponível na biblioteca do CCIF-UMAR e de algumas universidades portuguesas. Para que, sublinha Maria do Mar Pereira, o sexismo nas universidades seja mais visível e combatido.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens cultura mulher homem género estudo sexual mulheres homossexual feminista assédio discriminação
Todos os corpos, todos os amores
British Queer Art 1861-1967, na Tate Britain, explora uma complexidade de histórias, vidas e identidades por descobrir e contar. Ou como um conjunto de figuras, num mundo distante das movimentações LGBT, criaram um espaço de liberdade e de expressão para as suas obras e vidas. (...)

Todos os corpos, todos os amores
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170622080857/https://www.publico.pt/n1775379
SUMÁRIO: British Queer Art 1861-1967, na Tate Britain, explora uma complexidade de histórias, vidas e identidades por descobrir e contar. Ou como um conjunto de figuras, num mundo distante das movimentações LGBT, criaram um espaço de liberdade e de expressão para as suas obras e vidas.
TEXTO: Esta exposição, British Queer Art 1861-1967, é um princípio. Aqui, no sentido de corresponder não ao estabelecimento de uma teoria e de uma definição do que foi a arte queer em Inglaterra, mas o de uma tentativa não tanto de mapear documentos, imagens e objectos mas de explorar a complexidade de um conjunto de histórias, vidas e identidades que estão por descobrir e contar. Trata-se de uma exposição histórica porque se fixa num período marcado por dois acontecimentos determinantes: a abolição da pena de morte por sodomonia em 1861 e a descriminalização parcial do sexo entre homens em 1967. E trata-se de uma exposição local porque se concentra na produção artística produzida em Inglaterra durante aquele período. Ainda assim é um caso interessante de como um conjunto de figuras, ainda distantes da forma que os movimentos LGBT irão assumir posteriormente, conseguem criar um espaço de liberdade e de expressão não só para as suas obras, mas também para as suas vidas. Este é um dos pontos mais interessantes da exposição da Tate Britain: não se concentra tanto na maneira como a identidade de género de diferentes artistas era expressa numa pintura, numa escultura ou num poema, mas no modo como para estes autores as suas obras artísticas foram instrumentos de criação de uma identidade. Ainda que possam fixar limites cronológicos e geográficos, a história que aqui se conta é uma história complicada de sexualidades e desejos a maior parte das vezes escondidos e dissimulados. Se com os universos sociais e artísticos de nomes como Virginia Woolf ou Oscar Wilde é fácil estabelecer uma relação, na maior dos casos ela está velada e, por isso, como explica a curadora Clare Carlow, esta é uma história difícil de contar porque, disse ao The Guadian, as obras demonstram atitudes muito diferentes que vão desde a ansiedade à celebração. E dá como exemplo a pintura de Walter Crane (1845-1915) de 1877, O renascimento de Vénus: “A mulher de Crane não queria que o marido pintasse e visse modelos femininas nus, por isso em vez de uma modelo para a sua deusa do amor ele usou um modelo novo bem conhecido chamado Alessandro di Marco. Mas este truque desmorou-se quando o pintor Frederick Leighton viu o trabalho na primeira exibição da pintura da Galeria Grosvenor naquele ano e gritou: ‘Mas meu querido, isso não é Afrodite, é Alessandro!’, supostamente acrescentando que, na luz do sol italiana, o menino passou por Venus. ” Esta história é interessante porque numa era que condenou as mulheres por se exporem despidas diante dos artistas, é o corpo masculino que assume o lugar central nesse universo sensual e formal feminino que inspirou tantos artistas. Tate Britain. Até 1 de OutubroE que a arte seja lugar de articulação de desejo e sensualidade é também o que dá fama a outra pintura famosa nesta exposição em que a artista se auto-representa enquanto contempladora de um nu feminino. Auto-Retrato com Nu [Self Portrait with Nude, 1913] de Laura Knight (1877-1970), foi vista muitas vezes como perigosa, repelente e vulgar, nas palavras de um crítico do Daily Telegraph. Trata-se de uma obra com qualidades formais evidentes, como a invulgar utilização de cores, a sobreposição de diferentes planos espaciais, a composição complexa em que a artista usa um jogo de espelhos para representar o seu próprio atelier e a sua actividade de pintora. No entanto a Royal Academy recusou-se a expor a pintura, ainda que depois em 1936 fizesse desta artista a primeira mulher a receber o estatuto de membro permanente. A recusa baseava-se não tanto em questões artísticas, mas no modo como se tratava de uma obra crítica em primeiro lugar da proibição vigente em Inglaterra que impedia as estudantes de participarem nas aulas de modelo vivo: em contraste com o seus colegas homens, tinham de pintar os corpos a partir de representações e obras pré-existentes e esta pintura é um claro desafio a essa norma por colocar no espaço do atelier de uma artista um corpo nu feminino a ser pintado; em segundo lugar, através da duplicação de corpos, Auto-Retrato com Nu pode ser entendida como lugar de desejo feminino e da sua afirmação. Outro exemplo desta codificação do desejo é Bathing (1911) de Duncan Grant (1885-1978, onde a representação do corpo masculino se caracteriza por um enorme erotismo. Esta pintura, feita a partir de um convite de Roger Fry para as salas do Borough Polytechnic (agora London South Bank University), surge na exposição não só como expressão do modo como o artista vivia abertamente os seus amores masculinos apesar de viver com Vanessa Bell e ter tido com ela uma filha, mas também por ser uma importante figura do Grupo de Bloomsbury: artistas, escritores e intelectuais conhecidos por viverem numa zona de Londres que deu nome ao grupo, mas igualmente porque as suas posições políticas foram determinantes na definição e discussão contemporâneas do femininos e da sexualidade. Não se tratou de um grupo formal, mas de um colectivo de amigos (os nomes mais famosos são Virginia Woolf, John Maynard Keynes, E. M. Forster e Lytton Strachey) que viviam, estudavam e muitas vezes trabalhavam em conjunto, rejeitando as convenções sociais da vida victoriana e regendo-se por ideias de liberdade, amor e criatividade muito próprias. Apesar do envolvimento em organizações políticas (Virginia Woolf foi uma voz fundamental no movimento sufragista) não se tratou de um grupo activista, mas a maneira como viviam as suas vidas, e isso transparecia no seu trabalho, tornou as suas obras marcos de resistência e elementos fundamentais na definição e representação de modos de vida diferenciados — como por exemplo a aceitação do amor entre sexos iguais. É importante o modo como a exposição realça estas outras presenças e não se concentra excessivamente na figura de Oscar Wilde — acusado de indecência pública em 1895 — como representante único das vozes dissidentes do conservadorismo vitoriano. Apresenta outras formas e outras modalidades de dissidência artística e política. Claro que Wilde é central nesta história de amores proibidos e na luta política pelo poder de auto-determinação, mas importa perceber que as tensões presentes no seu caso não são exclusivas do amor homossexual, mas atravessam todos os géneros. Não que esta seja uma exposição acerca das políticas de género, mas ela resulta da expressão artística em tornar possível todos os corpos, todos os amores, todas as sensibilidades. É significativo neste contexto a presença de Claude Cahun (1894-1954), artista de origem francesa que mudou o seu nome de Lucy para Claude, não sem antes ter experimentado ser Douglas, como forma de encontrar na indistinção de género o seu território de presença. A certa altura afirma que o neutro é o único género que lhe serve e é esta ideia de singularidade, com a consequência filosófica e política de negar o pensamento binário masculino ou feminino, que caracteriza a sua obra. Como os seus famosos auto-retratos fotográficos surrealistas em que Cahun vai sendo soldado, ninfa, modelo, figura andrógena, auto-retratos estes que, não só devido aos seus temas mas também à sua forma, estética e motivos, são importantes contributos para a reflexão do uso da fotografia como documentação da realidade e construção da identidade. Uma pintura de Henry Scott Tuke (1858-1929), pertencente à primeira geração de pintores ingleses abertamente gay, chamada Os críticos (1927), é particularmente interessante no contexto da relação entre expressão artística e a representação de género. Mostra dois homens, um deles despido e outro em tronco nu, que em terra olham (admiram?) um terceiro dentro de água. O nu masculino e a sua eroticização não é estranho na obra deste pintor. O que torna esta pintura um elemento determinante na construção da narrativa da exposição é o modo como o seu título nos reenvia para a questão do modo este tipo de tema artístico implica não só um desafio das normais sociais, mas um importante questionamento das políticas da representação, bem como das regras seguidas na construção do cânone da história da arte: os críticos evocados no títulos não são elementos distantes, mas estão implicados no interior da cena da pintura e são um dos seus elementos. À relação da distância e autoridade dos críticos a pintura propõe uma relação de proximidade, cumplicidade e igualdade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta é uma exposição importante porque é um imenso contributo para uma história, ainda por fazer, das políticas e expressões de género na história da arte. Mas também porque impede a naturalização da maneira como estes artistas e estas obras se ligam a vivências e consciências que não podem ser eliminadas por mais que os seus autores e obras façam agora parte do panteão dos reconhecidos com obras avaliadas e comercializadas por milhões. A exposição termina com Francis Bacon e David Hockney porque em ambos os casos já não há qualquer ambiguidade no modo como destemidamente preenchem as suas obras com conteúdos homoeróticos. Mas é preciso não esquecer que as mesmas razões que nos levam hoje a considera-los paradigmáticos e centrais na história da arte ocidental, são as as mesmas que fizeram, por exemplo, uma exposição de Bacon em 1955 ser investigada por obscenidade e o trabalho de Hockney descrito como propaganda homossexual. Não se trata de fazer do contexto histórico e social dos autores elemento único de determinação das obras de arte e negar a autonomia da arte. Mas porque as coisas que os artistas fazem constituem não uma história de coisas mas uma história do mundo é importante não esquecer as narrativas que alimentam e motivam essas obras e que, em alguns casos, são o seu conteúdo. É importante insistir no texto político e dissidente existente em muitas construções artísticas e resistir a uma história da arte apressada, mais interessada em produzir clássicos instantâneos, como escreveu Allison Gingeras, para um mercado de arte global do que em compreender, com rigor, as diferentes dinâmicas criativas na sua relação com o mundo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens filha mulher social sexo igualdade género mulheres corpo sexualidade homossexual gay lgbt ansiedade
Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez
O Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez e tem como objectivo trazer a debate problemas como a falta de acesso a serviços de aconselhamento, a discriminação em questões de orientação sexual ou a mutilação genital feminina. (...)

Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.375
DATA: 2010-09-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez e tem como objectivo trazer a debate problemas como a falta de acesso a serviços de aconselhamento, a discriminação em questões de orientação sexual ou a mutilação genital feminina.
TEXTO: Em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (membro da Associação Mundial de Saúde Sexual) e a Associação para o Planeamento da Família (APF) juntaram-se “na luta mundial pelo reconhecimento e implementação da saúde sexual e dos direitos sexuais”. O director executivo da APF, Duarte Vilar, explicou que “é fundamental o aparecimento deste novo dia”. As questões da saúde sexual e dos direitos humanos no campo da sexualidade é uma matéria muitas vezes falada na comunicação social, mas “o facto de haver um dia no ano reforça o debate”, considera. Para o responsável é necessária a análise sobre os “direitos das pessoas na sua vida sexual, as violações que ainda existem [em Portugal] e outras sobre a liberdade sexual, como a mutilação genital feminina, a falta de acesso a educação sexual ou a serviços de saúde que possam prestar ajuda a pessoas que estejam a passar por dificuldades de tipo sexual e que no nosso país são muito raros, quase inexistentes”. Aliás, esta é a área apontada como “um problema bastante relevante” em Portugal. “Se falarmos de educação sexual nas escolas ou fora de escolas, houve avanços significativos”, mas em termos dos serviços de aconselhamento e terapia sexual registou-se “uma involução porque houve encerramento de períodos de serviços ou mesmo de serviços que prestavam cuidados nessa área”, afirmou Duarte Vilar. A discriminação em relação às questões da orientação sexual e da homossexualidade é outro aspecto referido, tal como a mutilação genital, um problema que “não é acentuado em Portugal” e pode não ocorrer no país, mas “há testemunhos de casos de mulheres e crianças vítimas desta prática” e que vivem em território nacional. Para as associações nacionais, em Portugal “falta ainda conquistar” a generalização da educação sexual em meio escolar, a lei da identidade de género não discriminatória, o acesso mais eficaz ao planeamento familiar de pessoas de meios desfavorecidos, a eliminação da violência de género e violência doméstica ou a inclusão de conteúdos programáticos sobre sexualidade humana na formação de base de profissionais de saúde e educação.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei humanos violência campo educação ajuda social género sexual mulheres doméstica sexualidade feminina discriminação
Os Emmys foram um jogo Netflix contra HBO... e no fim ganhou A Guerra dos Tronos
Uma noite marcada por um pedido de casamento em palco: os Emmys deram 23 prémios a cada um dos dois grandes "canais" concorrentes e foram um espectáculo entre o poder do blockbuster dos dragões e o poder da comédia feminina da Amazon The Marvelous Mrs. Maisel. Veja a lista dos principais vencedores. (...)

Os Emmys foram um jogo Netflix contra HBO... e no fim ganhou A Guerra dos Tronos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-11-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma noite marcada por um pedido de casamento em palco: os Emmys deram 23 prémios a cada um dos dois grandes "canais" concorrentes e foram um espectáculo entre o poder do blockbuster dos dragões e o poder da comédia feminina da Amazon The Marvelous Mrs. Maisel. Veja a lista dos principais vencedores.
TEXTO: A noite dos Emmys saldou-se com mais uma vitória de A Guerra dos Tronos e a distinção unânime da comédia da Amazon The Marvelous Mrs. Maisel nas principais categorias – e o que é que isso diz sobre a televisão hoje? Que depois de, em 2017, o streaming ter conquistado o primeiro Emmy de melhor série dramática com The Handmaid’s Tale, fenómeno semelhante se produziu este ano na comédia. E diz-nos que a revolução Netflix já está no mesmo patamar que o modelo de distribuição convencional e conseguiu, nesta 70. ª edição dos Emmys, tantos prémios quanto a suspeita do costume há 17 anos, a HBO. Mas sobretudo confirma que na televisão ninguém pára os blockbusters: mesmo não estando há mais de um ano no ar, a fantasia de dragões e gelo criada a partir dos livros de George R. R. Martin foi a mais premiada. A cerimónia dos Emmys que decorreu na madrugada desta terça-feira em Los Angeles não foi uma noite de grandes afirmações sobre o estado da arte nem sobre os muitos temas que trespassaram este pequeno grande meio. E não por falta de tentativas, mas lá iremos. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Televisivas rematou uma noite longa com a entrega do Emmy de Melhor Drama à série A Guerra dos Tronos (HBO/SyFy/TVSéries), cuja ausência no ano passado (dada a sua tardia data de estreia) permitiu em parte a vitória de The Handmaid’s Tale (Hulu/Nos Play), que era também a sua mais forte concorrente em 2018. Também distinguiu Peter Dinklage como actor secundário na mesma série – o prémio para melhor actriz secundária numa série dramática foi para Thandie Newton, pela sua prestação em Westworld (HBO/TVSéries). O melhor actor dramático foi Matthew Rhys pela última temporada de The Americans (FX/Fox Crime), série que também recebeu o prémio de argumento mas que viu Keri Russell perder para Claire Foy, que no seu último ano como rainha em The Crown foi premiada como melhor actriz dramática. A real série Netflix foi também distinguida pela realização de Stephen Daldry. A comédia foi uma das duas secções dos Emmys em que a dispersão da noite teve a sua excepção, com The Marvelous Mrs. Maisel a dar o prémio de melhor série à Amazon, de melhor actriz a Rachel Bresnahan, de melhor actriz secundária a Alex Borstein e de melhor argumento e realização a Amy Sherman-Palladino. A autora da popular Gilmore Girls tornou-se assim na primeira mulher a acumular esses dois Emmys. Bill Hader e Henry Winkler venceram respectivamente como protagonista e actor secundário da nova série Barry (HBO/TVSéries). A outra categoria que viu os prémios concentrarem-se foi a de série limitada, com a favorita American Crime Story: O Assassinato de Versace (FX/Fox Life) a ser distinguida pelo protagonista Darren Criss e pelo realizador Ryan Murphy, que subiria ao palco perto do fim da cerimónia também para recolher o Emmy de Melhor Série Limitada – batendo Genius: Picasso (National Geographic), Godless (Netflix), esta consolada pelos prémios de actuação para Jeff Daniels e Merritt Wever, e outras séries ainda por estrear em Portugal. Contra o favoritismo de Laura Dern pelo filme The Tale (HBO/TVCine), Regina King recebeu o prémio para a actuação de uma actriz numa série limitada, por Seven Seconds, também Netflix. O serviço de streaming receberia ainda o prémio de escrita por Black Mirror, pelo episódio USS Callister, batendo, entre outros, David Lynch e Mark Frost por Twin Peaks. Last Week Tonight, de John Oliver (HBO/RTP3), bateu Trevor Noah ou Stephen Colbert, e Saturday Night Live foi a melhor série de variedades. Mas, posto tudo isto, um dos pontos altos da cerimónia foi mesmo o pedido de casamento do realizador Glenn Weiss, que dirigiu os últimos Óscares e aproveitou o seu Emmy para surpreender a namorada e mergulhar uma plateia de estrelas em ovação e lágrimas, gerar uma leva de alertas noticiosos e pôr o Twitter em alvoroço romântico. “O melhor momento da noite”, para o Guardian, suplantou em parte os momentos criados pela Academia e pelos anfitriões da cerimónia, Colin Jost e Michael Che, para serem memoráveis. E distraiu momentaneamente o grande público do que fica no fim do fogo-de-artifício que enfeitou o número musical de abertura – as contas e os jogos de poder entre canais e produtores, mas também o futuro da televisão. “Com os contributos espantosos das pessoas nesta sala, podemos manter a televisão durante uns cinco, seis anos no máximo”, brincava Colin Jost. Os Emmys são os prémios mais importantes da televisão norte-americana, mas também uma cerimónia e uma academia que lutam contra o desfasamento – entre o meio televisivo, as suas audiências e as novas plataformas, entre as séries nomeadas e/ou premiadas e sua popularidade ou valorização crítica. Já lhes foi apontada falta de frescura, pela omissão dos produtos mais disruptivos (este ano, por exemplo, não houve grandes nomeações para Twin Peaks nem vitórias para Atlanta, por exemplo), e já foram pretexto para um estudo do Katz Media Group que, em 2017, o ano de The Handmaid’s Tale, concluía que a maioria dos americanos nunca tinha visto ou sequer ouvido falar de grande parte das séries nomeadas, devido à ausência de séries dos canais generalistas nesse panteão (a excepção este ano foi This is Us mas Uma Família Muito Moderna ou A Teoria do Big Bang não constaram da lista). Os prémios da indústria televisiva constituem, no fundo, um espelho polido da situação actual da televisão, e é aí que entra A Guerra dos Tronos, a série que, sendo da televisão por subscrição, e ainda por cima premium, é um arrasador fenómeno de massas que mal voltou a entrar na corrida levou os prémios que pertenceram à dura série The Handmaid's Tale no primeiro ano de presidência Trump e três semanas antes da eclosão do movimento MeToo. Foi em parte sob as suas sombras que decorreu uma noite partilhada com “as muitas pessoas talentosas e criativas que ainda não foram apanhadas”, como brincou o apresentador Michael Che no número inicial da cerimónia, e com os “milhares na audiência e com as centenas em casa”, como resumiu o outro apresentador, Colin Jost. A sombra do dragão parecia tímida, só com dois grandes prémios, mas a noite terminou mesmo como o célebre aforismo do futebol segundo o qual são 11 contra 11, mas no fim ganha sempre a eficaz máquina da Alemanha – neste caso, a eficaz máquina de A Guerra dos Tronos, que em 2019 chegará ao fim depois de anos de domínio, e que com 45 Emmys já é a série mais premiada de sempre. Com os seus nove prémios em 2018 (as contas finais incluem também os Emmys atribuídos na cerimónia prévia Creative Arts), permitiu em parte que as contas continuassem equilibradas para a HBO – ou empatadas. A histórica casa de Os Sopranos ou The Wire e a nova morada online de Black Mirror ou The Crown receberam 23 Emmys cada depois de, pela primeira vez na história, o Netflix ter tido mais nomeações para os Emmys (112) do que a HBO (108). A Amazon levou mais oito prémios, todos de The Marvelous Mrs. Maisel (cinco na cerimónia desta noite e mais três nos Creative Arts), para o campo do streaming, a que se juntaram os quatro do Hulu, somando um total de 35 distinções para estes novos grandes produtores de TV que tanto investem – é célebre a revelação de que o Netflix gastará 6800 milhões de euros em conteúdos contra os dois mil milhões de um canal incumbente como a HBO. A NBC foi a terceira estrutura mais premiada, com 16 Emmys. Nos últimos dias, escreveu a imprensa especializada, as festas dos Emmys e os mais de cem eventos de promoção para a cerimónia foram dominadas pelas conversas sobre as mudanças no sector, desde as grandes fusões Disney-Fox até às consequências do vendaval de denúncias de casos de assédio, como a saída do poderoso Les Moonves da presidência do canal generalista CBS. Mas na cerimónia propriamente dita os temas foram outros – a ausência de referências directas ao Presidente dos EUA, as mensagens sobre género e a comunidade LGBTQ de Ryan Murphy, e sobretudo a diversidade. Celebrou-se o grupo de nomeados mais diversificado de sempre – “estamos um passo mais perto de um Sheldon negro”, brincaria Kenan Thompson no número musical que dividiu com Kate McKinnon, Kristen Bell e Titus Burgess, entre outros –, e constatou-se que isso é uma trémula vitória – “vêem, não havia nenhuma e agora há uma”, diriam sobre a primeira nomeação para uma actriz de origem asiática no drama, para Sandra Oh, por Killing Eve (BBC America). Os prémios nas principais categorias (vencedores a negrito)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público.
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