Luzes da ribalta
Parque Mayer é uma fantasia sobre uma fantasia, um olhar para o Portugal salazarista com a revista à portuguesa como pretexto — um filme com mais ambição que resultados mas que é o nosso APV preferido em anos. (...)

Luzes da ribalta
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181218204840/https://www.publico.pt/1853414
SUMÁRIO: Parque Mayer é uma fantasia sobre uma fantasia, um olhar para o Portugal salazarista com a revista à portuguesa como pretexto — um filme com mais ambição que resultados mas que é o nosso APV preferido em anos.
TEXTO: Talvez a melhor maneira de olharmos para Parque Mayer seja descartando a “ganga” que rodeia, desde há muito tempo, as declarações públicas de António-Pedro Vasconcelos e tomando o filme por aquilo que ele é, apenas: um filme. Em nosso entender, pelo menos, o melhor filme de Vasconcelos em muito tempo, certamente desde Os Imortais — o que não faz dele nem um grande filme, nem o isenta de ter problemas estruturais recorrentes nas últimas obras do cineasta. Que vão de uma duração algo excessiva a uma utilização aterradora da banda-sonora, que carrega a traço grosso em vez de apenas colorir, passando pela queda pontual no maniqueísmo telenovelesco (sobretudo na relação entre Deolinda, a aspirante a vedeta, e o seu namorado, vilão de opereta ao qual nem falta ser PIDE). Realização: António-Pedro Vasconcelos Actor(es): Francisco Froes, Daniela Melchior, Diogo Morgado, Miguel Guilherme, Alexandra LencastreO que Parque Mayer transpira, sobretudo — e é isso que nos seduz nele — é a assumida cinefilia do seu realizador, a vontade de fazer um panorama dos bastidores do teatro popular como os franceses em tempos fizeram, como se fosse um Becker ou um Carné (Vasconcelos fala de Renoir, de French Cancan ou A Comédia e a Vida — mas nenhum deles precisou de 134 minutos para contar as suas histórias. . . ). Que essa vontade de adaptar a ideia à revista à portuguesa não possa ser cumprida — porque a revista é um cadáver adiado que já não pode voltar a ser o que foi; porque a produção nacional não tem um orçamento ilimitado nem um decorador como Alexander Trauner para lhe dar a volta — acaba por cair bem a Parque Mayer. O que foi a revista, no fundo, senão um teatro desenrascado, fazendo das fraquezas forças, parente pobre do palhaço rico? Que Parque Mayer seja “o muito que se pode fazer com o pouco que se tem” é perfeito para falar da revista — e de um período em que era um espaço não inteiramente seguro de crítica social e protesto contra o regime, em que um par de horas num teatro funcionava como escape do cinzento da vida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Se a revista eram duas horas de fantasia, então Parque Mayer quer ser uma fantasia sobre uma fantasia: o encontro de três “tipos” característicos (a “ingénua” Daniela Melchior, o “mariola” Diogo Morgado, o “senhor doutor” Francisco Froes) numa história que fala de Portugal, onde aquilo que é dito meio a rir no palco é vivido sem sorrisos na vida real, com os actores de televisão e da telenovela a substituirem as vedetas da revista (afinal, sempre são o mais próximo que temos hoje, quer da revista, quer da indústria e do mercado audiovisual que Portugal nunca teve). É uma clara e justa ideia de mise en scène, que o filme carrega — e, a espaços, sobrecarrega — de relevância contemporânea (violência doméstica, resistência política, homossexualidade, prostituição, corrupção), numa salada que escorrega para o didáctico ou para o redundante mas que Vasconcelos vai gerindo com eficácia. E, sobretudo, dando aos actores espaço para emprestarem densidade e vida às personagens de arquétipo, consubstanciado na maneira como Alexandra Lencastre e Miguel Guilherme emprestam personalidade a papéis secundários, e como Froes e Daniela são absolutamente credíveis enquanto par (falsamente) romântico. Claro que, depois, tal como a revista quando as luzes do palco se apagam, o que resta de Parque Mayer é muito pouco: um olhar sobre a pobreza de um país e de uma época que nada traz de novo, um filme escorreito e correcto que confirma APV como um cineasta fora de tempo e fora de moda, Dom Quixote que teima em fazer “cinéma de papa” num país polarizado entre a lógica da televisão em grande écrã e o artesanato de autor. Parque Mayer não é nem um nem outro, mas, como a revista que é o centro do filme (e que, em última instância, não passa de pano de fundo), finge bem ser o que não é.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência social prostituição doméstica pobreza
Bolsonaro desce entre os evangélicos e diz que vai acabar com "coitadismos"
Sondagem Ibope dá 57% dos votos válidos ao candidato da extrema-direita e 43% ao petista na segunda volta de domingo. (...)

Bolsonaro desce entre os evangélicos e diz que vai acabar com "coitadismos"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181220202910/https://www.publico.pt/1848704
SUMÁRIO: Sondagem Ibope dá 57% dos votos válidos ao candidato da extrema-direita e 43% ao petista na segunda volta de domingo.
TEXTO: Pela primeira vez desde que Fernando Haddad e Jair Bolsonaro passaram à segunda volta das presidenciais no Brasil, aumentou a rejeição ao candidato de extrema-direita, que desceu ligeiramente nas intenções de voto, segundo a mais recente sondagem Ibope, embora continue a liderar, destacado, tudo indicando que vá ganhar as eleições de domingo. A descida deve-se, sobretudo, a um movimento negativo num dos segmentos eleitorais em que Jair Bolsonaro mais apostou – o dos evangélicos. Segundo uma sondagem do instituto Datafolha da semana passada, 71% dos evangélicos brasileiros declarava que ia votar em Bolsonaro na segunda volta. O candidato conseguiu o apoio das mais importantes igrejas evangélicas e dos seus líderes, incluindo de Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, e um dos proprietários da TV Record. Os resultados da sondagem Ibope, divulgados pelo site G1 da Globo, apontam para uma queda de sete pontos nas intenções de voto neste segmento, em relação ao último inquérito - de 66% para 59%. Fernando Haddad teve um ligeiro crescimento, de 25% para 27%. É verdade que o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) fez campanha esta semana junto de pastores evangélicos, mas esta mudança não deverá já ser um reflexo dessa acção. Houve um aumento de indecisos, ou de intenções de votar branco ou nulo entre os ex-eleitores de Bolsonaro que se definem como evangélicos – o que indica uma decepção com o candidato. Os eleitores de outras religiões, incluindo a católica, mantêm-se estáveis, diz a revista Veja. Eleitores evangélicos ouvidos pela BBC Brasil dizem associar o candidato Bolsonaro à perspectiva de “resposta” a algumas mudanças de comportamento na sociedade nos últimos anos, como o crescimento do movimento LGBT, a visibilidade do feminismo, as discussões sobre a identidade de género e as novas famílias, como os casais homossexuais. Outro argumentos recorrente é a esperança de que o ex-capitão do Exército – e deputado há 27 anos – possa ser realmente um político diferente, pois não tem nenhum processo por corrupção. É “ficha limpa”, ao contrário de muitos eleitos do PT e de outros partidos. Religião à parte, os valores absolutos das intenções de voto para a segunda volta das presidenciais brasileiras, que se realizam já no próximo domingo, dão 57% dos votos válidos (ou seja, a sondagem geral, descontando nulos e abstenção) para Bolsonaro) e 43% para Haddad. Na semana passada, a sondagem Ibope dava 59% a Bolsonaro e 41% a Haddad. A campanha do PT fala muito numa “virada” – a ideia de que Fernando Haddad vai conseguir ainda dar a volta às eleições. O caminho a percorrer para que tal aconteça, no entanto, é muito longo. Por outro lado, o estudo do Ibope aponta para um aumento na rejeição dos eleitores a Bolsonaro - pessoas que nunca votarão nele. Nesta semana, 40% dizem que jamais lhe darão o seu voto, quando 35% diziam o mesmo na semana anterior. E o número de eleitores determinados a votar em Bolsonaro diminuiu de 41% para 37%, A campanha tem estado acesa. Apesar de recusar participar em debates com Haddad, Bolsonaro foi posto em cheque na semana que passou por causa do uso de quantidades maciças de notícias falsas nas redes sociais. A Folha de São Paulo indicou que empresários favoráveis a Bolsonaro pagariam a difusão maciça de mensagens no WhatsApp , o que motivou uma queixa na justiça eleitoral do PT, e o Facebook suspendeu contas de sites difusores de notícias falsas favoráveis a Bolsonaro detidos por uma grupo empresarial. Tanto ele como o filho Eduardo, que é deputado, fizeram declarações preocupantes. O filho pôs em causa a continuação do Supremo Tribunal Federal, e Jair Bolsonaro ameaçou prender "marginais vermelhos", referindo-se ao PT, e na terça-feira, em entrevista a uma rádio, disse que se for eleito, acabará com o que classificou como "coitadismos" de negros, gays, mulheres e nordestinos e que acabará com sistemas de quotas para a entrada na universidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Tudo é coitadismo no Brasil, vamos acabar com isso”, disse Bolsonaro, citado pela Reuters Brasil. A perda de votos do candidato de extrema-direita foi mais sentida entre eleitores brancos (de 60% para 56%), na faixa etária dos 45-54 anos (de 52% para 46%), com formação até o ensino médio (de 56% para 52%), com rendimentos entre dois a cinco salários mínimos (de 62% para 57%), no Norte e Centro-Oeste (de 59% para 55%) e no Sudeste (de 58% para 54%), sublinha a Veja. Curiosamente, Fernando Haddad caiu no Nordeste – a única região em que ganhou na primeira volta (caiu de 57% para 53%) e Bolsonaro teve uma subida mínima, de 33% para 34%. Isto reflecte o investimento da campanha do candidato de extrema-direita na região, mas não deixa descansado o petista.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho tribunal mulher negro género estudo mulheres gay lgbt feminismo
Muito mais que Weinstein: um ano de MeToo é passar de “me” para todos
O momento MeToo começou há um ano, quando foi exposto um alegado predador em Hollywood e isso permitiu depois milhões de denúncias de cidadãs e cidadãos comuns. Desde então houve botões de pânico, novas leis, greves e uma cultura abalada. Agora, o movimento deve voltar a focar-se nos sobreviventes, defende a sua fundadora. (...)

Muito mais que Weinstein: um ano de MeToo é passar de “me” para todos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181124191937/https://www.publico.pt/1845989
SUMÁRIO: O momento MeToo começou há um ano, quando foi exposto um alegado predador em Hollywood e isso permitiu depois milhões de denúncias de cidadãs e cidadãos comuns. Desde então houve botões de pânico, novas leis, greves e uma cultura abalada. Agora, o movimento deve voltar a focar-se nos sobreviventes, defende a sua fundadora.
TEXTO: “Foi um ano de libertação e de empoderamento. Todos os dias conheço pessoas que passaram de vítimas a sobreviventes simplesmente por acrescentarem o seu ‘Me Too’ ao coro” que em Outubro de 2017 começou em Hollywood e se espalhou pelo mundo, recorda a activista Tarana Burke. Um ano de casos de assédio e violência sexual que começaram com nomes famosos e que quer ser o princípio de uma mudança de paradigma que ponha fim à cultura de assédio sexual que afecta milhões de anónimos. Mas é preciso “mudar o foco”, diz Burke, que há 13 anos diz “me too”, do “me” para todos. Tarana Burke é uma activista negra, do Bronx, e há 13 anos tinha criado uma campanha que usava a expressão "me too" - "eu também" - para ouvir sobreviventes de violência sexual e combater o assédio. Lidava com um problema que sabia ser sistémico, mas para o qual o mainstream não tinha despertado - hoje, ele é “mais um campo de batalha nas guerras culturais da América”, como proclamava há dias a revista Economist, em pleno potencial de poder catalisador de mudança. No dia 15 de Outubro de 2017, Burke viu a expressão ser usada como hashtag por uma actriz conhecida, Alyssa Milano, pedindo que quem tivesse sido alvo de assédio ou agressão sexual lhe respondesse “me too” no Twitter. Dez dias antes, tinha sido um conjunto de actrizes como Ashley Judd e Rose McGowan, mas também trabalhadoras sem fama como Lauren O’Connor, a denunciar o assédio, violência e discriminação sexual do poderoso produtor Harvey Weinstein numa investigação do New York Times. Foi há precisamente um ano, e o mundo começou a ouvir. Depois, Ronan Farrow escrevia na New Yorker outra reportagem em que novos nomes, como os de Asia Argento, se juntavam ao retrato. Ao longo desses febris dias de Outubro, mais nomes se juntavam - Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie - e se misturavam com os de trabalhadoras desconhecidas do grande público. As duas investigações ganhariam o prémio Pulitzer de Jornalismo de 2017. Muitas outras se seguiriam. Falava-se numa onda, em ajuste de contas. A indignação pela eleição de Donald Trump apesar de 19 acusações de assédio e de uma gravação em que se gabava de, sendo famoso perante mulheres bonitas, poder “agarrá-las pela rata”, a suspeita de actos repetidos de violação (então) sem castigo como os de Bill Cosby ou do assédio dos conservadores dos média Bill O’Reilly e Roger Ailes, da Fox, eram a sua antecâmara. As celebridades davam a visibilidade da sociedade do espectáculo a uma nova forma de encarar a credibilidade da vítima. “Ser ouvido é metade da cura”, disse há dias à revista Variety a actriz Chantal Cousineau, uma de cerca de 400 mulheres que acusa o realizador James Toback de violação. Falava disso há 20 anos e não era levada a sério. “Em Outubro disse ‘Alguém está disponível para falar sobre James Toback?’. Numa semana, éramos 38. Parámos de contar às 395. ”No mundo da política, nas empresas, em Silicon Valley, na Nike ou no McDonald’s, o apelo “me too” tornou-se #MeToo e o momento tornava-se num movimento. “De uma vez só desde Outubro passado, milhões de pessoas ergueram as mãos e as vozes como parte das muitas pessoas que experienciaram o assédio, a agressão e o abuso sexual. Mais de 12 milhões em 24 horas no Facebook. Meio milhão em 12 horas no Twitter. E o número continuou a aumentar”, recorda Tarana Burke num texto de opinião na Variety. “Vejo o MeToo como o mais recente de uma série de movimentos activistas progressistas que têm cativado o povo americano e perturbado o statu quo na última década. Movimentos como Occupy Wall Street, Black Lives Matter”, elenca Cassandra Smolcic, designer gráfica que denunciou pela primeira vez a má conduta de John Lasseter na Pixar. Mas apesar das suas conquistas, o movimento tem as suas limitações. “Se não mudarmos o foco e olharmos de facto para as pessoas que dizem ‘me too’, vamos desperdiçar uma oportunidade verdadeiramente valiosa de mudar a natureza do nosso pensamento sobre a violência sexual”, diz Burke sobre a necessidade de não limitar o problema a Hollywood e à queda de homens poderosos. Este despertar maciço germinava em anos de popularização dos estudos de género e de luta no terreno contra o assédio sexual. “Antes deste ano havia mulheres que vinham ter connosco e nos contavam o que acontecera mas não queriam dizer nada publicamente porque sentiam vergonha”, explica à Time Mily Treviño-Sauceda, co-fundadora da Alianza Nacional de Campesinas, que reúne mais de 700 mil trabalhadoras rurais e que há 25 anos trabalha sobre o assédio. “Mas quando as mulheres da nossa comunidade começaram a ver as mulheres de Los Angeles e de diferentes indústrias a quebrar o silêncio, quiseram dar voz ao assunto. ” Uniram-se às estrelas no #MeToo com cartas e nas ruas. O que conseguiu um ano de MeToo na América real - e também na América aspiracional? Em Julho, Chicago promulgou a portaria “Hands Off Pants On” para dar às empregadas dos hotéis “botões de pânico” que lhes permitam dar alerta se forem atacadas por hóspedes - grandes cadeias, como Hilton, Hyatt ou Marriott, vão aderir depois de anos de denúncias de ataques; os trabalhadores do McDonald’s fizeram o primeiro protesto nacional contra o assédio sexual a 18 de Setembro porque a empresa nada mudou depois de 10 queixas de assédio. No último ano, o número de pessoas a pedir aconselhamento legal por casos de assédio à National Domestic Workers Alliance em Nova Iorque aumentou por causa do MeToo, escreve a Economist. Aumentou o número de processos contra empresas por questões de género, da discriminação aos custos de casos de assédio, e gigantes como a Google e a Fox estão nesse rol. Os acordos de confidencialidade, uma das ferramentas de silenciamento das alegadas vítimas que o caso Weinstein deu a conhecer ao grande público, são agora proibidos às empresas em Washington e a Califórnia deve aprovar em breve uma lei que acabará com as cláusulas que impedem os funcionários de processar os empregadores, revela a revista. A Time’s Up, a organização de apoio às vítimas de assédio nascida com rostos como Reese Witherspoon, Oprah Winfrey ou Ava DuVernay, tem sido sobretudo uma operação de comunicação, mas a acção está a começar, prometem. Tem um fundo de defesa judicial onde trabalha Tina Tchen, ex-chefe de gabinete de Michelle Obama, cujos primeiros 13 milhões de dólares vieram sobretudo de donativos das agências de talentos de Hollywood, e actualmente conta com 21 milhões de dólares - segundo a Economist candidataram-se já a apoio legal 3500 pessoas, dois terços das quais trabalhadores de baixos rendimentos, homens e mulheres vindos da construção, da polícia ou das prisões, como detalhou Tina Tchen à BBC. Estão a trabalhar com os sindicatos para criarem novos códigos de conduta que responsabilizem os empregadores e não só os perpetradores, pelo assédio. Já a organização MeToo lança este Outubro um site e um fundo em parceria com a New York Women’s Foundation para angariar 25 milhões de dólares para trabalhar ao longo de cinco anos para o fim da violência sexual. “Queremos paridade, igualdade salarial, igualdade racial. Estes movimentos intersectam-se”, defende Chantal Cousineau na Variety. O discurso dos activistas não esquece o aspecto sistémico do problema. E também não esquece o poder das grandes promessas vazias que se ficam pelos gabinetes de relações públicas, nem o muito que falta fazer. Publicamente as empresas do entretenimento dizem que estão a adoptar “políticas de tolerância zero” para o assédio, por exemplo. Nasceram várias organizações para aumentar a diversidade, e a presença de mulheres em particular, na imprensa ou nos bastidores dos média e cinema, e contactos com os sindicatos para aumentar a segurança no local de trabalho. “Mas em privado, há uma reacção a fermentar, com muitos executivos, realizadores e estrelas a queixar-se de que o #MeToo foi longe demais”, avisa a crítica de TV Caroline Framke. “Não trabalhei um único dia desde o artigo do Los Angeles Times”, diz Cousineau sobre ter dado a cara na investigação sobre James Toback. “É um sinal de um sistema estragado. ”Outras vítimas sexuais sentem-se excluídas do MeToo, que nos média focou quase tudo nas mulheres e nas celebridades e esqueceu outras comunidades. “Não sou uma actriz bonita e branca. Sou uma pessoa jovem, queer, negra e não-binária com um trabalho de escritório”, escreveu Ebony Miranda, descrevendo ter sido alvo de uma agressão sexual no meio do frenesim de hashtags #AskHerMore, #TimesUp, #WhyIStayed, #WhyIDidntReport sem sentir que eles poderiam incluí-la. “Tem sido uma experiência incrivelmente solitária”, escreveu numa carta enviada ao New York Times. No último ano, figuras queridas do público distorciam-se sob o peso da suspeita e a produção cultural e eram afectadas de forma temporária ou permanente. Os actores Kevin Spacey e Louis C. K. , respeitados pelo público, tornavam-se tóxicos depois de serem acusados em novas investigações jornalísticas de assédio sobre homens e mulheres, respectivamente. Os espectáculos de Louis C. K. eram eliminados do Netflix e a sua série no FX era cancelada; a nova temporada da série House of Cards vai estrear-se daqui a um mês sem Kevin Spacey, actor que foi apagado do filme Todo o Dinheiro do Mundo por Ridley Scott; a série Transparent ficou sem o protagonista Jeffrey Tambor. O Nobel da Literatura fica por entregar este ano por um caso de assédio na órbita da Academia Sueca. Há ainda Dustin Hoffman ou Morgan Freeman, os realizadores Bryan Singer, Luc Besson ou John Lasseter, os jornalistas Matt Lauer e Charlie Rose, o escritor Junot Díaz, a suspeita sobre Woody Allen, a queda do presidente da TV CBS Les Moonves, a condenação do treinador Larry Nassar a 360 anos de prisão. O português Cristiano Ronaldo, cuja alegada violação em 2009 volta agora a público por a sua acusadora sentir que as vítimas de crimes sexuais são encaradas de outra forma - é-lhes dado o benefício da dúvida, da credibilidade. E há Asia Argento. A alegada vítima de Harvey Weinstein primeiro negou, mas admitiu esta semana ter tido relações sexuais com um actor menor, Jimmy Bennett, que se queixa de ter sido vítima de “agressão sexual”. Em Agosto, soube-se ainda que assinou um acordo que limita as suas possibilidades de a processar. O caso Argento foi, em Agosto, um desafio tão grande ao movimento #MeToo quanto a carta aberta de Catherine Deneuve e outras actrizes francesas ou a opinião da escritora Daphne Merkin no New York Times contra a restrição sexual que temem que resulte do actual momento. Discute-se hoje sobre políticas sexuais e os limites e nuances do consentimento, há muitas críticas sobre o julgamento no tribunal da opinião pública e os ditos excessos do momento - que são denunciados, numa peculiar dupla, tanto pelo actor de esquerda Sean Penn quanto pelo Presidente Trump. “É um padrão muito perigoso para o país”, disse recentemente sobre as acusações de agressão e tentativa de violação que pendem sobre o seu nomeado para o Supremo Tribunal, Brett Kavanaugh, protagonista de um momento-chave MeToo e em curso. A audição da queixosa Christine Blasey Ford foi vista em directo por milhões de pessoas e no local duas sobreviventes de violência sexual, Ana Maria Archila e Maria Gallagher, que depois encurralaram o senador conservador Jeff Flake num elevador: “Eu fui sexualmente atacada e ninguém acreditou em mim”, gritou-lhe Gallagher. Horas depois, ele mudava o sentido do seu voto e condicionava a aprovação de Kavanaugh, protagonista de audições que têm testado os limites do movimento #MeToo, a uma investigação federal. O MeToo saldou-se até agora na demissão ou saídas de um senador democrata, Al Franken, oito membros da Casa Branca e três candidatos ao Congresso, bem como um juiz federal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Precisamos de aplicar um sistema justo do devido processo legal”, defende Lauren Sivan, a jornalista que diz ter sido agarrada e beijada à força por Weinstein num restaurante, numa cena em que ele acabou a masturbar-se. Até agora, só Bill Cosby, cujas violações antecedem o MeToo, foi condenado no pós-MeToo; Harvey Weinstein começa a ser julgado em Novembro; há investigações policiais locais em torno dos casos de Spacey, ou de Argento, e a maioria dos nomes conhecidos acusados de assédio nega os actos. Louis C. K. assumiu os seus actos - masturbação em público, frente a colegas - e pediu desculpas às mulheres que assediou. Voltou aparecer em público, de surpresa, para um curto espectáculo de stand-up em Agosto. No domingo passado fê-lo novamente na Commedy Cellar em Nova Iorque, gerando apupos, saídas mas também muitos aplausos. A comediante Alli Breen escreveu no Twitter: “Parece que ele não tem estado a ver as audições de Kavanaugh durante o seu ‘castigo’”. “Não há um sobrevivente-modelo”, avisou Tarana Burke sobre Asia Argento como voz tutelar de um fenómeno complexo. A activista ganhou uma fama que não procurava e tornou-se o rosto mais real do movimento. Burke acolheu as actrizes glamorosas como aliadas. Os Óscares, os Globos de Ouro foram Time’s Up e MeToo, protestos na passadeira vermelha e discursos inflamados, com ela e outras activistas de braço dado com as estrelas. A "pessoa do ano" da Time, em 2017, foram as denunciantes. Mas os Emmys, há duas semanas, já passaram quase sem pins nem discursos. Também não há percursos-modelo para um movimento com tanta gente dentro de um hastag. “O objectivo [do MeToo] é fornecer um mecanismo de apoio aos sobreviventes e levar as pessoas à acção”, escreveu Burke sobre a sua organização, pedindo mais conversa sobre responsabilidade e mudança e menos sobre crime e castigo. “Este movimento ainda tem de ser alimentado por pessoas comuns que votam, que têm voz, que são activas, que estão atentas e cientes de que ele é muito maior do que Hollywood, e maior do que a política. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens lei violência cultura campo tribunal prisão comunidade violação igualdade género sexual mulheres abuso negra vergonha assédio discriminação pânico
Downton Abbey "não é de direita nem é de esquerda", nem "conservadora", e está a chegar ao fim
A saga dos Crawleys e de Downton entra esta terça-feira na recta final em Portugal. Em hora de balanço, autor, produtor e actores reconhecem que foi um sucesso inesperado e rejeitam que se lhe cole o rótulo de “conservadora”. (...)

Downton Abbey "não é de direita nem é de esquerda", nem "conservadora", e está a chegar ao fim
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A saga dos Crawleys e de Downton entra esta terça-feira na recta final em Portugal. Em hora de balanço, autor, produtor e actores reconhecem que foi um sucesso inesperado e rejeitam que se lhe cole o rótulo de “conservadora”.
TEXTO: Há um sentido de fim nesta nova temporada de Downton Abbey e não é só porque sabemos que é a última. É do fim de uma época que se trata. Do fim de um mundo, mesmo que haja quem insista em contrariá-lo. Não é, por isso, de estranhar que no episódio que esta terça-feira estreia em Portugal (FoxLife, 22h20), e que inclui discussões à volta da fusão de dois hospitais, considerações sobre a ascensão da classe média e o leilão do recheio de uma grande propriedade no campo, se ouça o conde de Grantham dizer a Carson, o mordomo, qualquer coisa como: “Se pudesse parar a história parava. . . Mas nem tu nem eu podemos parar o tempo. ”Estreada em Outubro de 2010, esta produção que é esta terça-feira exibida em mais de 100 países, está já na recta final (no Reino Unido o último episódio irá para o ar no dia de Natal) e, para muitos, mudou a relação do mercado americano com a ficção britânica. Foi já a pensar num balanço que dezenas de jornalistas assistiram em Agosto à antestreia londrina do primeiro episódio desta sexta temporada, com o autor e o produtor executivo da série sentados na plateia e grande parte do elenco numa sala ao lado. Aqui chegados – e depois de sete anos de trabalho, cinco deles com os actores - Gareth Neame, o produtor executivo, e Julian Fellowes, o autor que com Downton Abbey regressou à ficção numa época que já lhe valera um Óscar pelo argumento de Gosford Park (2001), não têm dúvidas de que está na hora de pôr um ponto final nesta história – ou histórias – que tem por centro uma grande propriedade agrícola da aristocracia no começo do século XX e as relações que se estabelecem entre a família dos donos, os Crawleys, e os seus empregados, uma legião de criadas de quarto, motoristas e camareiros, liderada por um mordomo reaccionário. “O ideal é saíres da festa quando toda a gente ainda tem pena que te vás embora”, diz Fellowes, 66 anos, o actor, escritor e membro da Câmara dos Lordes que, desde 2011, responde também pelo título de barão de West Stafford. Sem revelar quaisquer pormenores sobre o destino das personagens nem da casa à volta da qual tudo gravita - Downton é, na realidade, o Castelo de Highclere, a 50 minutos de comboio de Londres -, Neame e Fellowes admitem que nunca esperaram que a série durasse tanto e que fosse um sucesso global de audiências. É feita na melhor tradição britânica, com cenários sumptuosos, um guarda-roupa primoroso e uma grande atenção em todos os detalhes de produção, mas ao contrário das que nascem de romances, cujo fim já é conhecido, Downton Abbey está toda nas mãos - e na cabeça - do seu autor. Mas, para Fellowes, o segredo do sucesso da série não está na qualidade da sua produção, está na densidade da intriga, capaz de criar uma teia de histórias em que as audiências se envolvem. Os ingredientes do costume, garante o autor, estão todos lá, mas aqui e ali a linha narrativa é brindada com um “choque” – uma morte, uma violação, um homicídio – que vem lembrar que Downton não é apenas uma comédia de costumes. “É verdade que consigo ser um snob, mas isso não é o que me define. Todos os rótulos são perigosos – muitos críticos partem do princípio de que eu, como sou um tory, não posso ter imaginação. Porquê? As pessoas de direita não têm imaginação?”, pergunta Julian Fellowes, o autor“Com as tradicionais adaptações televisivas de clássicos de Jane Austen ou Charles Dickens o espectador ficava preso a uma narrativa. Agora, as narrativas são múltiplas, as histórias partem em muitas direcções”, explica Gareth Neame, o homem que desafiou Fellowes a criar os Crawleys. Na resposta ao repto do produtor executivo, o autor pegou numa ideia para aquilo que poderia vir a ser um drama tradicional e, segundo explicou aos jornalistas no Verão, deu-lhe uma estrutura mais dinâmica, próxima da ficção norte-americana para televisão. “A América reinventou a narrativa televisiva nos anos 80 e, desde aí, continuou a acrescentar novidade. A estrutura que procurámos é uma espécie de cruzamento entre Serviço de Urgência, Mad Men e Os Homens do Presidente. Há sempre coisas a acontecer, as histórias multiplicam-se, apoiadas em personagens que todos querem seguir. ”Muitas delas, como a criada de quarto de Lady Mary (Michelle Dockery), a aparentemente frágil Anna Bates (Joanne Frogatt), surpreenderam a dupla autor/produtor. “Sabíamos que Mary seria sempre uma protagonista, uma das linhas de força de Downton, mas Anna foi-se revelando a partir da prisão do marido [John Bates é acusado de matar a primeira mulher]. Ela passa a ser o centro de uma das linhas narrativas quando é violada – não é apenas a criada confidente e leal, ganha um lugar de destaque, impõe a discussão de uma série de temas”, explica o autor. Nem de esquerda, nem de direitaNo seu blazer escuro impecável e com uma gravata colorida, rodeado de jornalistas que o bombardeiam com perguntas, Fellowes está no seu ambiente e isso nota-se. Habituado a ser o centro das atenções, distribui comentários sarcásticos e responde muitas vezes aos desafios de forma a desconcertar quem os lançou. A auto-ironia, mesmo quando se trata de assumir que não ouve bem e que o melhor mesmo é que Neame funcione como seu “intérprete”, é algo que lhe é natural: “Como sou surdo, toda a gente sabe, e a sua pergunta não me interessa, vou fingir que não ouvi está bem?”. A sexta temporada começa em 1925 – passaram 13 anos desde a de estreia – e produtor e autor prometem algumas situações inesperadas. O que não os surpreenderá, certamente, são as críticas que, desde 2012 os acompanham a par de um inequívoco sucesso de públicos no Reino Unido e noutros países, sobretudo nos Estados Unidos, onde é exibida pelo canal público PBS e onde as audiências chegaram aos quatro milhões logo na segunda temporada, ultrapassando em popularidade produções domésticas (e da televisão por subscrição) como Mad Men e A Guerra dos Tronos. “Ficção é ficção e, quando ela é muito boa, as pessoas ficam zangadas porque tudo aquilo, afinal, podia não ser bem assim. Downton Abbey não é a verdade, é só boa – muito boa – televisão”, diz Jim Carter, o Carson de DowntonApesar da aposta no rigor histórico, há quem lhe aponte falhas e, sobretudo, quem, como Viv Groskop, colunista do jornal The Guardian, a acuse de reduzir a sociedade britânica a um punhado de estereótipos para exportação. Também o historiador Simon Schama, professor na Universidade de Columbia, apontou a mira aos clichés de Downton e, embora reconhecesse que é um produto bem feito, capaz de agradar sobretudo nos Estados Unidos (o artigo era para a revista norte-americana Newsweek), fez questão de dizer que gostaria que fosse mais dura, mais perto da história, com uma Sibyl sufragista a sério e Matthew (marido de Lady Mary e herdeiro de Downton e do título de conde de Grantham) entre os 750 mil que morreram na Grande Guerra. Seria demasiado deprimente?, pergunta: “Talvez, mas é suposto a história ser deprimente e não um passeio pelo passado”, escreveu, admitindo que, tendo crescido nos anos 1950 e 60, desenvolveu aquilo a que chama uma “raiva jacobina pela arrogância decrépita dos aristocratazinhos”. Fellowes rejeita, é claro, este olhar sobre a série, contestando os rótulos de “conservadora” que lhe vão sendo colados aqui e ali. “Downton não é de direita nem é de esquerda. Não é de coisa nenhuma. Não é por ter pessoas bem vestidas a interagir com os seus criados que é obrigatoriamente uma série conservadora. Mostramos os privilégios e as injustiças desse mundo e não temos uma agenda política – o que queremos é fazer boa televisão”, diz ao PÚBLICO, admitindo que a leitura que se faz deste drama de época depende sempre do lugar de onde cada um parte. “Para perceber Downton é preciso levar o mundo britânico para casa, perceber que relação temos com a história, que tradição é esta. Se me dizem que Downton não vende a Cool Britannia de que tanto gostava o Sr. [Tony] Blair, pois terei de concordar. E de acrescentar: ‘Ainda bem. ’”E para mostrar que há nas narrativas de Downton Abbey muitos temas e personagens que fogem a uma abordagem convencional lembra Thomas Barrow (Rob-James Collier), o segundo mordomo da casa, homossexual numa Inglaterra em que a homossexualidade é crime; a relação de Lady Rose (Lily James) com um cantor negro; a violação de Anna Bates; e, sobretudo, Charles Carson, o mordomo intransigentemente agarrado a todas as tradições por oposição a um patrão bem mais liberal, que vive entre uma mãe rígida e conservadora – a tantas vezes desconcertante condessa-viúva, interpretada por Maggie Smith, também ela dama do império britânico – e a sua mulher progressista, Cora, uma norte-americana com muito dinheiro. Pelo meio há até a filha mais nova dos Crawleys, Sybil (Jessica Brown Findlay), a casar com o motorista da família, Tom Branson (Allen Leech), “um liberal que já foi esquerda-esquerda”, e a do meio, Edith (Laura Carmichael), a ser mãe solteira e editora de um jornal. Gareth Neame garante que a originalidade de Downton se baseia sobretudo no argumento e na relação, tantas vezes classificada como “irreal” e “romantizada” pelos detractores da série, entre a família e os seus empregados, que nesta última temporada são cada vez menos porque, como lembra o conde de Grantham, é preciso cortar nas despesas da propriedade. “A série tem personagens conservadoras, é verdade, como Carson e a condessa-mãe, mas mesmo essas são capazes de surpreender”, diz o produtor executivo. E se é certo que há quem resista à mudança, mesmo que ela se apresente sob a forma de um gramofone, de um secador-de cabelo ou de um frigorífico, também é certo que há outras que são “absolutamente progressistas”. Isto porque, sublinha Fellowes, liberais há em toda a parte e em todos os tempos. “É verdade que consigo ser um snob, embora hoje seja muito menos do que já fui, mas isso não é o que me define. Todos os rótulos são perigosos – muitos críticos partem do princípio de que eu, como sou um tory [membro do partido conservador], não posso ter imaginação. Porquê? As pessoas de direita não têm imaginação?” Em Downton, como na vida real, o que é importante mistura-se com o que é trivial. “Não é porque agora falamos da ameaça da Rússia ou discutimos as posições do Sr. [David] Cameron sobre a nossa permanência na União Europeia que daqui a cinco minutos não posso estar a comentar a camisa nova que alguém traz. Entre os Crawleys passa-se o mesmo – a vida no começo do século também não era só feita de coisas sérias. ”Isto é uma ficçãoUma das “coisas sérias” que, para muitos, fica afastada deste drama, é a luta de classes, a outra é relativa às duras condições em que vivia todo o staff de uma casa como Downton no início do século XX. Apesar da aposta no rigor histórico, há quem lhe aponte falhas e, sobretudo, quem, como Viv Groskop, colunista do jornal The Guardian, a acuse de reduzir a sociedade britânica a um punhado de estereótipos para exportação. “As pessoas têm de se lembrar que isto é ficção televisiva, não é documentário. Há toda uma liberdade para criar”, diz Michelle Dockery (Lady Mary), elogiando Fellowes por lhe ter oferecido a possibilidade de interpretar uma mulher complexa, cheia de contradições. “Percebo que Downton possa irritar alguns críticos e comentadores porque ela vende uma certa nostalgia de um passado que os incomoda, mas que existiu. E se o sucesso da série parece mostrar que muita gente ainda gosta de olhar para ele, isso diz muito mais sobre o presente do que sobre esse passado. ”Hugh Boneville também não aceita que se possa chamar “conservadora” a uma ficção televisiva, muito menos quando se trata de uma que, como Downton Abbey, tem uma casa por protagonista e vive num tempo atravessado pela mudança, em que toda a tradição está a ser posta em causa. “Não é porque humaniza os aristocratas que a série deixa de ter um olhar crítico sobre aquele mundo e isso vai ver-se bem nesta última temporada”, diz Elizabeth McGovern, a condessa de Grantham. Penelope Wilton – Isobel Crawley, uma mulher de classe média, viúva de um médico e mãe de Matthew (Dan Stevens) – tem outra opinião. Personagem progressista no ecrã, com um profundo sentido de justiça, não tem dúvidas de que Downton é um produto conservador. “Foi Julian [Fellowes] quem a escreveu – não podia ser de outra maneira. Este é um meio que ele conhece bem. O seu meio”, defende a actriz. “Agora, uma série conservadora pode ser também muitas outras coisas, como uma boa história, baseada em personagens extraordinárias que saltam do guião como pessoas que podíamos ter conhecido antes ou depois da Grande Guerra. ”São também as personagens – e o que o elenco fez com elas – que mais interessam ao intransigente Carson. “Todas estas figuras são muito credíveis porque Julian e nós as fizemos assim, desafiando muitas vezes os planos que ele tinha para as personagens”, diz Jim Carter na sua voz grave. Quanto à luta de classes “branqueada” de que tantos falam, e que já mereceu até um artigo na prestigiada revista de relações internacionais Foreign Affairs, o actor diz apenas: “Ficção é ficção e, quando ela é muito boa, as pessoas ficam zangadas porque tudo aquilo, afinal, podia não ser bem assim. Downton Abbey não é a verdade, é só boa – muito boa – televisão. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E deve-se em grande parte a Fellowes, o homem que escreveu cada episódio das seis temporadas, dispensando as equipas de argumentistas habituais da maior parte das séries. O homem que diz haver hoje menos mobilidade social do que havia na Inglaterra dos anos 1960 e que reconhece, sem esforço, que há muito do seu mundo neste argumento: “É claro que esta série há-de dizer coisas sobre mim, sobre quem eu sou, com o meu background privilegiado, as boas escolas, as boas companhias, os bons livros. Até sobre a minha tia-avó Isie, a quem fui buscar muito de Violet, que não fazia ideia do que era um fim-de-semana. ”Downton Abbey, defende, não foi escrita para mudar a vida das pessoas, mas se as divertir, se as puser a conversar, até sobre política, terá valido a pena. Pelo menos uma vida influenciou, a de Rob James Collier, o complexo Thomas, personagem que faz uma das maiores viagens emocionais da série. Depois de anos mergulhado no arranque do século XX, de tabuleiro na mão e a abrir portas, Downton já lhe alterou alguns hábitos domésticos. Agora o chá que se bebe na sua casa já não vem em saquetas. “Só folhas”, diz, “um coador cheio de folhinhas”. O PÚBLICO viajou a convite da Fox
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime morte homens guerra filha homicídio campo mulher prisão negro homem social violação espécie homossexual
Morreu o cineasta alemão Werner Schroeter
O realizador Werner Schroeter morreu na madrugada de ontem, com 65 anos, na Alemanha. A notícia foi avançada à Lusa pelo produtor Paulo Branco. (...)

Morreu o cineasta alemão Werner Schroeter
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-04-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O realizador Werner Schroeter morreu na madrugada de ontem, com 65 anos, na Alemanha. A notícia foi avançada à Lusa pelo produtor Paulo Branco.
TEXTO: Schroeter, um dos mais importantes cineastas do pós-guerra na Alemanha, foi figura de destaque do Novo Cinema Alemão, apesar de não ter atingido a celebridade de contemporâneos como Rainer Werrner Fassbinder, Wim Wenders ou Werner Herzog. Era, segundo descreveu um dia o historiador de cinema Thomas Elsaesser, “o maior realizador marginal do cinema alemão”. Fassbinder, que incluiu Schroeter como actor em filmes como “Berlin Alexanderplatz”, desaprovava a classificação de marginal: “Foi um cineasta ‘underground’ durante dez anos, e não o deixaram abandonar esse papel”. Para o realizador de “As lágrimas amarga de Petra Von Kant”, falecido em Munique em 1982, a Werner Schroeter estaria destinado um lugar especial na história: “aquele que descreveria em literatura como entre Novalis, Lautréamont e Louis-Ferdinand Céline”. Nascido em Goergenthal em 1945, as suas primeiras investidas pelo cinema surgiram, no final da década de 1960, sob a forma de curtas experimentais. O contacto com a produção do underground nova-iorquino do período, num festival em Knokke, Bélgica, em 1967, serviu como primeiro modelo para o seu trabalho. Com sua primeira longa, “Eika Katappa”, de 1969, venceu o prémio Josef von Sternberg no festival de Manheim. Em entrevista aos Cahiers du Cinéma, no início de 2009, recordou o escândalo que a distinção provocou. “Os meus colegas ficaram furiosos: recompensar uma merda daquelas! Tinha feito a montagem num moviscópio, uma pequena máquina da Zeiss Ikon, com um ecrã do tamanho de um maço de cigarros, e sem som. Montei directamente no original. E depois, na televisão, deram-me a possibilidade de montar o som. Ninguém acreditava que se pudesse fazer um filme assim, e quem é que acreditou? Josef von Sternberg, o mais exigente dos cineastas. Fiquei felicíssimo”. Melómano (Maria Callas, por exemplo, era uma obsessão), filmou “A Morte de Maria Malibran”, livremente inspirado na mezzo soprano do século XIX, em 1971. Essa década, a dos filmes de narrativa fragmentada, onde olhava com ambiguidade para as distinções entre alta e baixa cultura, foi a do “cineasta underground” como definido por Fassbinder – o de “Anjo Negro”, de 1974. Depois de alguns anos passados em Itália, realizou filmes como “O Reino de Nápoles” (1978) ou “Palermo Oder Wolfsburg” (1980), inspirados no neo-realismo italiano e que marcam a mudança para uma estrutura narrativa mais linear. O segundo, valeu-lhe o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1980, o primeiro atribuído a um realizador alemão. Usando a arte como reflexo do político, abordou o feminismo em “Malina”, protagonizado por Isabelle Hupert em 1991 e integrado na selecção oficial do festival de Cannes (também com Huppert, realizou “As Duas”, a história de duas gémeas separadas à nascença, rodado em Lisboa e na zona de Sintra). Filmou a obsessão, homossexual, em “Der rosenkonieg”, faz de um documentário sobre o primeiro festival internacional de cinema de Malina um mergulho na história política e social das Filipinas (“Der lachende stern”). Distinguido em 2008 com o Leão de Ouro Especial do Júri, um prémio excepcional do Festival de Veneza atribuído pela “sua obra desprovida de compromisso e rigorosamente inovadora há 40 anos”, esteve pela última vez em Portugal no Festival de Cinema do Estoril 2008, a apresentar o filme “Esta Noite”. Para Schroeter, o cinema tinha que despertar reacções, que provocar: “É preciso incomodar o público”, afirmou na masterclass que deu no Estoril. Realizador de quatro dezenas de filmes, actor, foi também encenador de teatro e ópera. Notícia actualizada às 15h10
REFERÊNCIAS:
Alegre diz-se descansado com Cavaco em Belém, mas o Estado social pode acabar
Questionado sobre se dormirá descansado, caso Cavaco Silva seja reeleito para a Presidência da República – disse que sim em 2006 -, Manuel Alegre mantém a resposta, mas não dá como garantido que Cavaco Silva defenda o Estado social “contra o projecto estratégico da direita que visa a sua destruição”, afirmando que é por isso que a sua vitória é "necessária". (...)

Alegre diz-se descansado com Cavaco em Belém, mas o Estado social pode acabar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Questionado sobre se dormirá descansado, caso Cavaco Silva seja reeleito para a Presidência da República – disse que sim em 2006 -, Manuel Alegre mantém a resposta, mas não dá como garantido que Cavaco Silva defenda o Estado social “contra o projecto estratégico da direita que visa a sua destruição”, afirmando que é por isso que a sua vitória é "necessária".
TEXTO: Na conversa “chat” que teve hoje com os leitores do PÚBLICO, Manuel Alegre começou por explicar que se candidata para restituir à função presidencial uma dimensão política que permita a afirmação dos direitos democráticos, políticos e sociais, “contra os poderes financeiros”. Alegre, apoiado pelo PS e pelo BE, vincou a sua posição: é contra a entrada do FMI no país e, a concretizar-se, seria uma situação “humilhante” para Portugal, para além dos sacrifícios que imporia aos portugueses. Questionado sobre o papel que o Presidente da República (PR) deve ter relativamente à justiça, o candidato socialista realçou a importância da separação de poderes em democracia, mas admitiu que a “morosidade da justiça é um dos mais graves problemas do Estado de direito democrático”. O PR, defendeu, deve promover esse debate, chamando a atenção do Governo e da Assembleia da República para a questão, “tendo em vista um pacto político alargado que permita pôr a justiça a funcionar a tempo e horas". Alegre disse também que se opõe à alteração das leis laborais e lembrou que votou contra quando era deputado, justificando que “não é por aí que se tem de resolver o problema do crescimento económico, da competitividade e do combate ao desemprego”. "Companheiro de viagem"Sobre a precariedade e o futuro das gerações mais novas, o candidato deixou uma palavra de esperança à juventude e prometeu ser um “companheiro de viagem e até de insubmissão dos jovens, para que tenham um lugar ao sol no seu país e se libertem da insegurança e da precariedade”. Alegre defendeu, em consequência, que é preciso mudar de paradigma de desenvolvimento, apostando na qualificação dos quadros e na “inovação tecnológica e social”. Um dos leitores arriscou perguntar se teria dissolvido a Assembleia da República perante a crise económica e social. Alegre respondeu que “o poder de dissolução é um poder discricionário que só o Presidente, com total liberdade e perfeito conhecimento da situação, pode utilizar”. Lembrou que a “palavra” é a principal arma de um PR e aproveitou para acusar Cavaco Silva de contradição, quando, por um lado, fez afirmações sobre a situação “explosiva” do país e, por outro, não usou a sua influência presidencial para os resolver. “Acrescentou pessimismo ao pessimismo”, acusou, por último, Alegre, e não teve, por exemplo, “coragem” de vetar a lei do casamento homossexual, de modo a ser coerente com os “valores que defende”. Sobre as mulheres portuguesas, o socialista recorreu à “igualdade” para se posicionar, frisando que essa igualdade deve passar pela “profissão, política, família” e apontou a discriminação no trabalho como um dos principais problemas, afirmando-se também preocupado com o aumento da violência doméstica. Crente no projecto europeuO candidato está apreensivo com a submissão dos países periféricos da Europa face à Alemanha e considerou que “é necessária uma coordenação de esforços de todos os estados democráticos, que desejam preservar o projecto europeu de prosperidade, partilhado entre países soberanos e iguais”. E afirmou-se crente na continuidade do projecto europeu. A questão do WikiLeaks interessou igualmente os leitores. Manuel Alegre disse que acha que é necessária reflexão sobre o assunto, porque é “um problema novo, que requer uma séria reflexão entre valores contraditórios que estão em choque: o da liberdade de informação por um lado, e o de segredo de Estado por outro. "Chegou ao fim, com a presença de Manuel Alegre, o ciclo dos quatro "chat" com os candidatos à PR. Cavaco Silva foi o único dos cinco candidatos que recusou participar na iniciativa do PÚBLICO. Notícia corrigida às 13h20
REFERÊNCIAS:
Partidos PS BE
Sexualidade: a escola fica muito melhor quando mostra todas as cores
O dia do coming out, que celebra esta quinta-feira as “saídas do armário”, levou o PÚBLICO a visitar a secundária da Ramada, onde um grupo de alunos passou os últimos dias a colorir os intervalos, tornando a escola num lugar mais inclusivo. Isto na semana em que uma escola do Porto está no centro das atenções por causa de um questionário à orientação sexual. (...)

Sexualidade: a escola fica muito melhor quando mostra todas as cores
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 21 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: O dia do coming out, que celebra esta quinta-feira as “saídas do armário”, levou o PÚBLICO a visitar a secundária da Ramada, onde um grupo de alunos passou os últimos dias a colorir os intervalos, tornando a escola num lugar mais inclusivo. Isto na semana em que uma escola do Porto está no centro das atenções por causa de um questionário à orientação sexual.
TEXTO: Esta semana, na Escola Secundária da Ramada (ESR), em Odivelas, os dias começaram com mais cor nos intervalos. “Não é uma escolha, eu sou assim!”, lê-se num cartaz com um arco-íris, ao lado de outro com vários corações e com as palavras “Dia Internacional do Coming Out” e fotografias de jovens gays e lésbicas a beijarem-se. A iniciativa é dos alunos que fazem parte do Clube ESR True Colours, criado com o apoio da equipa de promoção de educação para a saúde desta escola que acolhe o 3. º ciclo e secundário. No regulamento do clube, o enquadramento é claro: “todas as pessoas têm o direito de se sentir seguras e incluídas e também a escola deve ser um local seguro”. O True Colours quer ser um espaço para alunos LGBT — Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero —, mas também colegas que não o são — os chamados “aliados”. É o caso de Beatriz Batista, de 16 anos, presidente do grupo. “Eu não faço parte da comunidade LGBT”, começa por dizer, acrescentando contudo que quis fazer alguma coisa para apoiar os colegas que são discriminados. Leonor Garcia, de 17 anos, menciona motivação semelhante. “Conseguir que houvesse uma igualdade perante todos cá na escola. ”A direcção do Clube ESR True Colours é composta por seis membros, do 9. º até ao 11. º ano, explica Pedro Loução, de 15 anos, um dos fundadores do colectivo. Alguns apoiantes (os mais novos com 13 anos) juntam-se-lhes nas reuniões na sede. O grupo do Instagram — rede social onde também partilham as suas actividades — conta com 43 membros. Esta semana, lançaram o desafio aos colegas LGBT que queiram fazer parte de um grupo de apoio, “seguro e sigiloso”, para partilharem experiências. A professora Susana Martins, coordenadora da equipa de promoção da educação para a saúde da ESR, conta que a ideia nasceu no segundo período do último ano lectivo, durante o projecto Embaixadores da Saúde. “Na primeira reunião, em que se falou nas questões de igualdade de género, surgiu um grupo de alunos que voluntariamente se começou a juntar e a dizer que era interessante surgir na escola um clube. E foram as primeiras pedras para a construção desse grupo. ”A proposta foi feita por Beatriz Veríssimo, a primeira presidente do clube. O lançamento foi em Maio, num encontro emotivo em que vários jovens partilhavam as suas experiências como pessoas LGBT. “Viu-se mesmo o ar de felicidade de alguns alunos com a aceitação que tiveram”, recorda Susana Martins, que é docente de Biologia. No Verão, ganharam um espaço para se reunirem - ocupam metade de um “contentor”, paredes-meias com a associação de estudantes. A escola ajudou com a mobília, mas a decoração, feita com o coração, foi toda dos alunos. O tecto cheio de mãos coloridas, uma das paredes com vários cartazes de apoio, outra que começa a ser preenchida com mensagens sobre o que lhes vai na alma. “Don’t be afraid to show your true colours” — “não tenhas medo de mostrar as tuas cores verdadeiras”, lê-se, com um coração a terminar a frase. Leonor Garcia, que faz parte do departamento de “socialização” (que organiza eventos com os alunos), descreve as actividades que prepararam para esta semana, que culmina nesta quinta-feira com uma leitura cantada de poemas durante os intervalos. “Na segunda começamos as pinturas faciais, tivemos bastante adesão. Fomos falando com as pessoas, vieram ter connosco, acho que se vê um certo interesse. ” Nos placares estão afixadas também as várias bandeiras de cada identidade de género. “Havia montes de gente a chegar e a perguntar o que queriam dizer, houve uma certa curiosidade da parte deles em entender todo o projecto. ” “As pessoas estão aos poucos a vir ter connosco”, diz, com um sorriso tímido, a colega Beatriz. Ainda notam alguns olhares, às vezes comentários. Mas para estes alunos, é com alegria que podem falar abertamente sobre as suas vivências e as dos colegas na escola. Para Carlos Tomás, professor de Biologia, o projecto está a ter sucesso pela forma como foi apropriado com entusiasmo. “Se não houver apropriação, seria mais uma palestra dada por um professor ou um enfermeiro, seria mais uma chatice. O facto de a comunidade e dos alunos se terem apropriado do projecto quer dizer que aquilo pode ter sucesso. Esse é o caminho. ”É possível que o True Colours tivesse surgido de forma espontânea, mas o processo foi mais fácil por haver já espaços onde estas propostas podiam ser colocadas, como as actividades e os serviços de apoio oferecidos pela escola no âmbito do programa de educação para a saúde. No gabinete onde o enfermeiro Alexandre Oliveira atende os alunos, há uma bandeira LGBT na estante, ao lado de folhetos informativos sobre diversos temas relacionados com sexualidade e diversidade. O enfermeiro explica que atende vários alunos LGBT, esclarecendo as dúvidas que têm, mas também orienta pais, mediando processos de coming out quando os estudantes o requerem. O professor Carlos Tomás aponta o ambiente inclusivo da escola como um dos factores que o motivou a trazer o filho mais velho, que entrou este ano para o 7. º ano. “A escola tem que estar aberta a passar não só informação, mas também uma visão de uma sociedade mais tolerante. É importante que o meu filho saiba reconhecer a diferença como algo a ser respeitado. Satisfaz-me, como pai, que esta escola possa mudar esta visão”. Na semana marcada pelo dia do coming out, que se celebra esta quinta-feira, as questões LGBT foram centro de polémica quando começou a circular nas redes sociais a fotografia de uma “ficha sociodemográfica”, entregue a uma turma de alunos do 5. º ano da Escola Básica Francisco Torrinha, no Porto, em que se pergunta se os alunos se sentem atraídos por homens, mulheres ou por ambos, questionando ainda se namoram ou se já namoraram anteriormente. Em declarações ao PÚBLICO através do Facebook, uma fonte da associação de pais da escola afirma que o inquérito é “desadequado à idade”, mas acredita que o “tema tomou proporções ainda mais desadequadas do que o próprio inquérito” — até porque “está previsto no programa do Ministério da Educação”, na estratégia nacional para a Cidadania e Igualdade de Género. O representante referiu ainda que já se reuniu com os responsáveis da escola, dizendo que o inquérito não fere susceptibilidades e assegurando a sua confiança no estabelecimento escolar. Ao PÚBLICO, fonte o Ministério da Educação disse que não sabia de antemão da existência do documento, mas “está a apurar informação junto do estabelecimento escolar em causa”. “Aquilo que ao ver esta notícia nos preocupa mais é perceber, por um lado, qual é a motivação, a intenção por trás destas perguntas. Acreditamos que possa ter sido boa, mas desadequada”, diz ao PÚBLICO Telmo Fernandes, coordenador de projectos da ILGA — Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo. “Já enviámos um pedido de esclarecimento e informação à escola, mostrando-nos disponíveis para colaborar de uma forma construtiva para desenhar estratégias, de forma a que estes assuntos possam ser incluídos salvaguardando sempre a segurança e o bem-estar das pessoas, nomeadamente os jovens que estão neste contexto”, refere ainda o sociólogo. Telmo Fernandes sublinha que “as temáticas não devem ser evitadas” e que devem até “ser abordadas desde muito cedo, quando se começa a falar sobre identidade, sobre diversidade, sobre as famílias, sobre a realidade humana”. O que pode acontecer já na educação pré-escolar, admite, desde que com uma abordagem adequada, adaptando a linguagem, ferramentas e recursos a cada faixa etária. “Aquilo que nós sabemos é que a discriminação homofóbica, através de bullying ou outras formas de insulto ou assédio, ainda é uma realidade presente nas nossas escolas”, alerta o sociólogo, que foi um dos responsáveis pelo Estudo Nacional sobre o Ambiente Escolar, elaborado pela ILGA em parceria com a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e o ISCTE-IUL. “O que não quer dizer que não existam em geral experiências positivas”. O estudo mostrou que quando existem práticas inclusivas, ou quando se fala do assunto de uma forma positiva nas escolas, aumenta o sentimento de pertença e de bem-estar dos jovens LGBTI. “São provas reais, são evidências que apontam para a importância de não evitar o assunto, mas pelo contrário investir em falar sobre o assunto de uma forma produtiva e construtiva, com ferramentas adequadas para a faixa etária”. Telmo Fernandes é coordenador do projecto Aliança da Diversidade, que procura criar grupos dentro das escolas para capacitar jovens “para serem mais activos e activas no seu posicionamento nas questões LGBTI” - semelhantes ao Clube True Colours. Estas “alianças” estão desenhadas para o ensino secundário, e já estão a ser criadas, pelo menos, em escolas em Ovar e Ermesinde. Da parte da ILGA, o acompanhamento passa por reunir com os grupos de alunos para explicar a ideia e propor actividades, acompanhar a discussão que geralmente se faz em grupos nas redes sociais e também fornecer materiais como bandeiras, crachás, posters e desdobráveis. Com os nervos à flor da pele, Pedro Loução fez o seu coming out perante os colegas da escola na palestra de lançamento do Clube True Colours. “Estava completamente nervoso, porque estava a falar com pessoas que eu ia ver todos os dias na escola”. Mas a insegurança não durou muito tempo. “Houve pessoas a virem falar comigo, a darem-me abraços de parabéns, outras com palavras de consolo, de coragem”. Coragem, sim, porque Pedro tinha dito aos colegas que naquele fim-de-semana iria finalmente contar ao pai que era gay. “Correu bem”, diz o jovem, sorrindo. O enfermeiro Alexandre Oliveira sublinha que a questão foi trabalhada antes da palestra, incluindo com os encarregados de educação dos alunos que quiseram falar sobre a sua experiência. “Para fazerem o coming out na escola, tive que preparar os alunos e as alunas em termos de avaliar os riscos, analisar as possíveis hipóteses, pensar em mecanismos de adaptação”, descreve. A intervenção de um profissional tem um peso muito grande, reconhecem os alunos, não apenas pelo apoio especializado — e constante, já que o enfermeiro mantém o telefone permanentemente disponível — mas também por ser um aliado adulto. Apesar de terem encontrado muitos encarregados de educação que apoiaram os filhos envolvidos no clube, Pedro lamenta que ainda haja “muitos pais nesta escola que se calhar são muito mais conservadores. ” “Antiquados”, completa Beatriz. “Anacrónicos”, confirma o colega. “E isso às vezes também trava a ideia de as pessoas virem ter com o clube, assumirem-se, serem elas mesmas. Porque os pais não aceitam. E nesse caso têm o enfermeiro para ajudar nesse aspecto”, diz o jovem fundador do clube. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O professor Edgar Oleiro, director da escola, conta que chegou a pensar que poderia ter que lidar com pais indignados pela forma como a escola tratou de “assuntos de alguma forma especiais”. “Nada disso aconteceu, muito pelo contrário. O que nos chegou foi muito positivo”, saúda. Para o director, a escola não pode deixar que estas dimensões centrais na construção da identidade dos alunos seja um tema tabu, até pela centralidade da aceitação destas “diferenças” na vivência dos alunos enquanto cidadãos. “Nós, escola, temos que cumprir esse papel”, sublinha Edgar Oleiro. O director da escola admite que tratar abertamente as questões da orientação sexual e identidade de género dos alunos não é simples, ou fácil. Mas relativiza o peso de, por exemplo, apoiar os alunos numa iniciativa num tema que, por vezes, ainda causa polémica: “O risco que eu tive é zero comparado com a coragem de um aluno que chega ao palco e diz que tem uma orientação sexual diferente da norma. Uma pessoa que faz isso tem uma coragem, uma dignidade, uma vontade de dizer a verdade. Olhar para isso é fundamental. ” com Claudia Carvalho Silva
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Secretária de Estado quer fim de perguntas sobre orientação sexual a dadores de sangue
A secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, quer que o Instituto Português do Sangue (IPS) retire, “tão rapidamente quanto possível”, as perguntas sobre orientação sexual que constam nos questionários a dadores de sangue, considerando que se tratam de questões “discriminatórias”. (...)

Secretária de Estado quer fim de perguntas sobre orientação sexual a dadores de sangue
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.35
DATA: 2010-08-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: A secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, quer que o Instituto Português do Sangue (IPS) retire, “tão rapidamente quanto possível”, as perguntas sobre orientação sexual que constam nos questionários a dadores de sangue, considerando que se tratam de questões “discriminatórias”.
TEXTO: Num inquérito a dadores de sangue do Hospital de Santo António, no Porto, ao qual a Lusa teve acesso, consta a pergunta “Se é homem: alguma vez teve relações sexuais com outro homem?”. Esta pergunta levou o Bloco de Esquerda a avançar com uma iniciativa parlamentar para acabar com essa “discriminação” - projecto de resolução que foi aprovado há quatro meses pela Assembleia da República, sem votos contra e com a abstenção do CDS-PP, e que “recomenda ao Governo a adopção de medidas que visem combater a actual discriminação dos homossexuais e bissexuais nos serviços de recolha de sangue”. “A pergunta é, sem sobra de dúvida, discriminatória”, vincou Elza Pais, recordando que esta discriminação “já foi sinalizada” pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, que endereçou um parecer ao IPS instando à supressão de questões daquele tipo. “O senhor presidente [do Instituto Português] do Sangue, [Gabriel Olim], deverá, tão rapidamente quanto possível, agir em conformidade”, reiterou a secretária de Estado. O membro do Governo exige, assim, que o responsável pelo IPS ordene a retirada, “tão rapidamente quanto possível, do manual e de todos os questionários, perguntas discriminatórias em função da orientação sexual”. “O rigor deve ser exercido, mas não deve ter por base o preconceito nem a discriminação”, sublinhou Elza Pais. Mais, acrescenta, “se algum profissional tiver, no seu acto clínico individual, uma atitude discriminatória, as pessoas deverão identificar essa discriminação, para que depois se possam retirar daí as devidas consequências”. Segundo a secretária de Estado, será a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género a entidade competente para tratar essas queixas. Confrontada com a mesma questão na semana passada, a ministra da Saúde, Ana Jorge, reconheceu que terá de ser reforçada a recomendação aos locais de colheita de sangue para que, nos inquéritos distribuídos aos dadores, não constem perguntas relacionadas com a orientação sexual. Mas, garantiu, “o modelo que foi feito pelo Instituto Português do Sangue, que existe em todos os locais de colheita de sangue, nomeadamente nos hospitais, e que é distribuído aos doentes e aos potenciais dadores, não tem nenhuma referência à orientação sexual dos indivíduos”. “Do inquérito constam apenas perguntas relacionadas com o comportamento das pessoas, independentemente de serem homo, hetero ou bissexuais”, realçou. Interrogada sobre o inquérito do Hospital de Santo António, Ana Jorge admitiu que a questão poderá ter surgido numa abordagem clínica individual. Questionada sobre eventuais medidas a tomar pelo Ministério da Saúde para que haja uma harmonização dos inquéritos a dadores de sangue, Ana Jorge reconheceu que “será necessário voltar a fazer recomendações”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem igualdade género sexual discriminação
Militantes de extrema-direita em confrontos com polícia na marcha gay em Belgrado
A polícia de intervenção da Sérvia teve de usar a força para deter centenas de militantes de extrema-direita que se envolveram em confrontos com os participantes de uma marcha Gay Pride no centro da capital Belgrado. (...)

Militantes de extrema-direita em confrontos com polícia na marcha gay em Belgrado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.416
DATA: 2010-10-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia de intervenção da Sérvia teve de usar a força para deter centenas de militantes de extrema-direita que se envolveram em confrontos com os participantes de uma marcha Gay Pride no centro da capital Belgrado.
TEXTO: Os manifestantes gritaram “morte aos homossexuais” e atiraram tijolos, pedras, garrafas e foguetes contra os polícias, que formaram um cordão de segurança. Dezenas de pessoas foram detidas e três feridos foram transportados ao hospital. A sede de uma organização de defesa dos direitos das mulheres também foi atacada, e pelo menos uma das activistas foi ferida. A marcha pelo orgulho gay era considerada como um teste à autoridade do governo sérvio, envolvido numa série de reformas destinadas a garantir a adesão do país à União Europeia. Em 2001, um evento semelhante acabou em violência, e a iniciativa não voltou a ser repetida. Ontem, houve uma manifestação contra a parada gay, à qual os manifestantes acorreram com famílias, inclusivamente com crianças, à mistura com típicos hooligans, descrevem as agências noticiosas. A Igreja Ortodoxa sérvia tinha condenado a realização da marcha pelo orgulho gay, mas tinha apelado também a que não houvesse violência.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte violência mulheres gay
Serviços da Educação barram campanha "ideológica" contra a homofobia nas escolas
A Rede Ex-Aequo queria levar o combate à homofobia às escolas. Mas tropeçou nos contactos com os serviços do ministério, que consideraram a campanha ideológica. BE e PCP questionam (...)

Serviços da Educação barram campanha "ideológica" contra a homofobia nas escolas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Rede Ex-Aequo queria levar o combate à homofobia às escolas. Mas tropeçou nos contactos com os serviços do ministério, que consideraram a campanha ideológica. BE e PCP questionam
TEXTO: Dois serviços do Ministério da Educação (ME) recusaram apoiar a distribuição nas escolas dos materiais do Projecto Inclusão, uma campanha da responsabilidade da Rede Ex-Aequo, associação de jovens que promove os direitos dos homossexuais e transexuais. A campanha destina-se a promover o combate à homofobia e à transfobia nos estabelecimentos de ensino. O projecto foi apoiado e financiado desde o início por uma outra entidade estatal, a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG). A justificação para a recusa em distribuir os cartazes e os folhetos, que promovem a não discriminação de jovens gays e lésbicas, é o alegado cariz ideológico dos mesmos, de acordo com a informação dada pelos jovens da Rede Ex-Aequo que foram ouvidos, segunda-feira, no Parlamento, e que ontem foi confirmada ao PÚBLICO por Manuel Abrantes, da direcção da associação. Esta justificação foi transmitida à Ex-Aequo numa reunião tida com representantes de dois departamentos do Ministério da Educação (ME) - a Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e o seu Núcleo de Educação para a Saúde, Acção Social Escolar e Apoios Educativos - e motivou já requerimentos, questionando a ministra da Educação, por parte dos deputados José Soeiro, do Bloco de Esquerda, e Rita Rato, do PCP. Já sobre o apoio à distribuição do questionário que servirá de base ao estudo sobre homofobia nas escolas, a cargo de uma equipa do ISCTE dirigida por Carla Moleiro, o ME ainda não respondeu à Ex-Aequo, explicou Manuel Abrantes. Questionada pelo PÚBLICO, a ministra da Educação, Isabel Alçada, respondeu através de e-mail enviado pela sua assessora de imprensa, Madalena Queirós. "O ME não recebeu qualquer pedido formal de afixação dos referidos cartazes ou outros materiais da Rede Ex-Aequo", afirma, reconhecendo, contudo, que as reuniões existiram. E acrescenta: "No que diz respeito ao inquérito do estudo de Carla Moleiro, não deu entrada no ME qualquer pedido de autorização para a sua aplicação. " Manuel Abrantes diz que a associação que dirige irá "tentar marcar uma reunião com a ministra para ultrapassar o problema". Já a presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Teresa Fragoso, declarou ao PÚBLICO desconhecer a resposta dada pelos serviços do ME. Sustentando que os cartazes e restantes materiais da Ex-Aequo "estão dentro da linha oficial do que se defende no Plano para a Igualdade de Género", a presidente da CIG afirmou: "As pessoas envolvidas na reunião não deviam estar informadas sobre a situação. " Teresa Fragoso assumiu ainda que é "obrigação da CIG articular com os serviços de forma a que seja dada formação sobre igualdade de género a todos os serviços, incluindo estes do ME". E garantiu que a própria CIG irá "ver o que se passa". Promoção gay?De acordo com a informação prestada pela Rede Ex-Aequo à Assembleia da República - e que está contida nos preâmbulos às perguntas feitas pelos dois deputados à ministra da Educação -, os representantes do ME alegaram, na reunião que tiveram com a associação, que a este compete ser "neutro em assuntos que possam ser considerados ideológicos". E aconselharam a Ex-Aequo a contactar directamente as escolas, para distribuir os materiais da campanha. Segundo a associação, algumas têm aderido, enquanto outras respondem que se trata "não de uma campanha contra a discriminação, mas sim de uma campanha de promoção da homossexualidade". Perante as respostas relatadas pela Ex-Aequo e a sua não conformidade com a lei, ambos os deputados lembram nas perguntas que dirigem à tutela que o artigo 13. º da Constituição prevê a não discriminação em função da orientação sexual e que cabe ao Estado promover a igualdade.
REFERÊNCIAS: