O action movie contemplativo de Paul Verhoeven e Isabelle Huppert
Paul Verhoeven “isabelle-hupperta”. É a lenta mas persistente vertigem do extático Elle/Ela: uma actriz abandona-se ao seu realizador para, finalmente, o dirigir – transformando-se ela no princípio da mise-en-scène. (...)

O action movie contemplativo de Paul Verhoeven e Isabelle Huppert
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-02-23 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170223064525/http://www.publico.pt/1751083
SUMÁRIO: Paul Verhoeven “isabelle-hupperta”. É a lenta mas persistente vertigem do extático Elle/Ela: uma actriz abandona-se ao seu realizador para, finalmente, o dirigir – transformando-se ela no princípio da mise-en-scène.
TEXTO: Não se pode antecipar se Elle ficará como momento final de um segmento da obra de Paul Verhoeven, o das mulheres de acção, que já teve os rostos e ímpetos de Renée Soutendijk (Spetters, 1980; O Quarto Homem, 1983), Sharon Stone (Instinto Fatal, 1992), Elizabeth Berkley (Sowgirls, 1995) ou Carice van Houten (O Livro Negro, 2006). Essas mulheres fixaram-se num objectivo, olharam por elas sem tempo, sobretudo sem vontade, de olharem para elas durante a correria. Ao contrário dos homens, que sempre pareceram mais angustiados: Paul Weller (Robocop) ou Arnold Schwarzenegger (Total Recall), por exemplo, passavam os filmes a perguntar quem eram ou quem se escondia neles. Mas Elle suspende a corrida. Ela contempla-se. Está simultaneamente dentro e fora de si própria, como se se observasse, se cheirasse, procurando-se. (O espectador faz o mesmo: enquanto o filme decorre, não pode deixar de perguntar: quem é ela, porque é que faz aquilo que faz?)Ela não deixa de se movimentar, no entanto. Michèle LeBlanc foi violada por um mascarado e procura, por entre a ruína de homens que tem à volta, descobrir quem estava dentro daquela máscara. Com a sua ironia, lucidez – a vergonha, diz, nunca é suficientemente paralisante para nos impedir de ceder às pulsões –, vai fazendo as calças dos homens baixar, uma a uma, um a um, metaforicamente e não só. Não ficará claro se o périplo é de vingança em direcção ao violador ou se a viagem que interessa é a da descoberta de si própria, da sua humanidade, logo, da aceitação da sua monstruosidade (não é verdade, até fica claro, é das coisas que se ilumina num filme que caminha decididamente às escuras). Realização:Paul Verhoeven Actor(es):Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne ConsignyA distância e a ironia, o voluntarismo e a vontade de risco: isso é dela, Isabelle Huppert, a intérprete de Michèle LeBlanc. Com Elle/Ela, o holandês Paul Verhoeven, depois de se ter metamorfoseado em americano com aqueles filmes-mais-americanos-que-os-filmes-americanos que fizeram o seu excesso de glória e de infâmia nos anos 90, mostra-se agora francês. Vai “isabelle-huppertando”. A isto se deve também a lenta mas persistente vertigem de Elle: a forma como à actriz, de 63 anos, foi permitido que se abandonasse ao realizador, de 78, para o dirigir – transformando-se ela própria no princípio da mise-en-scène do filme. Verhoeven (re)inventa o action movie contemplativo, com Huppert e por causa de Huppert, por causa da distância, da ironia e de uma curiosidade refém da infância que é o “lugar” particular projectado pela intérprete de A Pianista (Michael Haneke, 2001) – lugar projectado nesse e noutros filmes para adultos e sobre adultos. Uma action woman a coroar as action women de Verhoeven, então. Depois de a sua primeira mulher de acção relevante, Renée Soutendijk, ter dançado ao som de Lust for life, de Iggy Pop, a sua mais recente heroína dança ao som da mesma canção – o título é uma questão de sobrevivência. Canção que se ouve, no filme mais recente, de forma mais completa do que no de 1980. Isabelle entra, assim, para uma genealogia e completa-a. Completa Renée, Sharon, Elizabeth e Carice, mulheres de acção que queriam conquistar o mundo, mas mulheres de acção sem visão do mundo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Parecendo em teatral sintonia com o momento de reavaliação da obra do realizador – os artigos e as retrospectivas no último ano, por exemplo, a quase integral (não incluiu Elle) no IndieLisboa mostraram a vontade de caminhar em direcção ao autor –, Elle coloca-se e coloca-nos a contemplar o cinema de Verhoeven. Esta consciência de que vem imbuído – emerge elegante, irónico, melancólico, extático, e o êxtase é a estação desta heroína – carrega o percurso de Michèle com a leveza e a gravidade da sabedoria. Porque ela, que procura revelar-se, é agente da revelação dos outros. Daqueles, ex-marido, filho, amante e etc. , que contêm partes do que ela é. Como se na sua busca - vingança? - encontrasse e recolhesse os pedaços de si própria. É dos movimentos mais sugestivos de Elle ver o filme ir chamando pelas (outras) personagens, dando-lhes espaço, permitindo que venham dizer das suas razões. Às tantas alguém diz isso, e era isso que se dizia em A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir: todos têm as suas razões. O retrato de senhora transforma-se em retrato de grupo pelas acções da senhora. Deveremos chamar-lhe “santa”, por conseguir aceitar que o pior de nós é o que nos torna humanos, por se atrever a ir até ao limite e habitá-lo?A possibilidade de inclusão dos “outros” é uma novidade do cinema de Paul Verhoeven. Como se, tal como a protagonista, descobrisse a humanidade das suas habituais máquinas de guerra e dos seus “monstros”. Repare-se como todas as hipóteses de choque são atiradas em Elle para dimensões paralelas (a violência gráfica selada dentro dos jogos de vídeo, é divertido isso. . . ) ou amortecidas pela explicitação de (falsos) nexos de causalidade (tudo o que tem a ver com o pai de Michèle) ou pela ironia – e pela música. A queda, o apelo do abismo, como no Buñuel de Belle de Jour (1967), é aparada pela revelação dos homens em pleno apocalipse, como no Renoir de A Regra do Jogo. Verhoeven fez o seu trabalho de casa para ser “cineasta francês”. Vamos ver no que isto dá: depois desta síntese de uma parte da sua obra – as suas heroínas –, prepara o que poderá ser a súmula da outra parte da sua obra, a que questiona os mitos da II Guerra (Portret van Anton Adriaan Mussert, 1970; O Soldado da Rainha, 1977; O Livro Negro): o filme chamar-se-á Lyon 1943, será sobre a resistência francesa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra humanos violência filho mulher rainha negro homem mulheres vergonha
Desigualdade é um travão ao crescimento económico, alerta OCDE
As desigualdades na distribuição do rendimento atingiram o nível mais elevado dos últimos 30 anos, mostra relatório sobre 33 países. (...)

Desigualdade é um travão ao crescimento económico, alerta OCDE
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-05-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150521115940/http://publico.pt/1696368
SUMÁRIO: As desigualdades na distribuição do rendimento atingiram o nível mais elevado dos últimos 30 anos, mostra relatório sobre 33 países.
TEXTO: O aumento das desigualdades na distribuição dos rendimentos é um dos principais entraves ao crescimento económico e pode comprometer a saída da crise. O alerta é deixado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) num relatório publicado nesta quarta-feira e que tem como mote uma pergunta: por que razão menos desigualdade é benéfico para todos (In it Together: Why Less Inequality Benefits All). Para a organização, dirigida por Angel Gurría, o crescimento económico dos países está muito condicionado pelo aumento das desigualdades, que atingiram o valor mais elevado dos últimos 30 anos. Os 10% mais ricos da população total da OCDE ganham agora 9, 6 vezes mais do que os 10% mais pobres, quando nos anos 80 ganhavam 7, 1 vezes mais. "Atingimos um ponto crítico", resumiu o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, durante uma conferência de imprensa em Paris. "Os dados mostram que as fortes desigualdades prejudicam o crescimento. A ação política deveria ser motivada tanto por razões económicas como por razões sociais. Ao não atacarem o problema da desigualdade, os governos enfraquecem o tecido social e comprometem o crescimento económico a longo prazo", acrescentou. No relatório, os técnicos alertam que "o aumento das desigualdades de rendimentos levanta preocupações sociais e políticas, mas também económicas: a desigualdade tende a influenciar negativamente o crescimento do PIB e é a distância crescente dos 40% mais pobres em relação ao resto da sociedade que está a contribuir para esse efeito”, refere o documento. A OCDE realça que, além da desigualdade dos rendimentos, há outro factor que está a ganhar dimensão: a concentração de património nos escalões mais ricos da população. Em 2012, exemplificam os téncicos no relatório, nos 18 países da OCDE para os quais dispunham de dados comparáveis, "os 40% mais pobres não tinham mais do que 3% do património total das famílias", enquanto "no outro extremo, os 10% mais ricos possuíam metade do património total e 1% dos mais ricos possuia 18%". Perante esta realidade, a organização com sede em Paris defende que as políticas não se podem centrar apenas nos 10% mais pobres, mas devem abranger um universo mais alargado, nomeadamente a classe média baixa que está vulnerável e “arrisca não beneficiar da recuperação e do crescimento no futuro”. Para reduzir as desigualdades e promover o crescimento, a OCDE sugere que os governos promovam a igualdade de género no emprego e o acesso a emprego de qualidade, e que tomem medidas que encorajem o investimento em educação e na formação ao longo da vida. Ao nível dos impostos, propõe-se que se agrave a carga fiscal sobre os mais ricos e que se crie apoios ao rendimento dos mais pobres, tanto trabalhadores, como desempregados. A OCDE destaca que, nos anos mais recentes, entre 2007 e 2011, a desigualdade dos rendimentos das famílias e a pobreza “de facto aumentou” nos países mais afectados pela crise, embora o impacto tenha dependido em muito do sistema fiscal e das medidas específicas implementadas durante esse período. E, se olharmos mais de perto, acrescenta, concluímos que a crise alterou os factores que estão por detrás do aumento das desigualdades e da pobreza na maioria dos países 33 países que constituem a organização. A OCDE identifica duas fases diferentes. Uma primeira em que os estabilizadores automáticos, os estímulos fiscais e o aumento dos benefícios sociais amorteceram o impacto nas famílias e noutros sectores da economia. Na segunda fase, e à medida que as dificuldades económicas se agravaram, os governos foram retirando esses apoios e introduziram programas de consolidação orçamental, reduzindo-se o efeito amortecedor. Esta realidade sentiu-se em particular nos países mais afectados pela crise como a Grécia, a Irlanda ou Espanha (e também em Portugal). Portugal é, de resto, o sétimo país mais desigual da OCDE (dados de 2013 apenas disponíveis para 30 países). O Coeficiente de Gini, que numa escala de zero a cem sintetiza a assimetria da distribuição de rendimentos, era em 2013 de 0, 338. Acima da média da OCDE (0, 315) e pior do que Espanha (0, 335). Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que em Portugal, a “forte desigualdade na distribuição dos rendimentos” manteve-se em 2013. Nesse ano, o rendimento dos 10% da população com mais recursos era 11, 1 vezes superior ao rendimento dos 10% da população com menos recursos. Em 2012, esta diferença estava nos 10, 7, tendo vindo a agravar-se de ano para ano (10 em 2011 e 9, 4 em 2010).
REFERÊNCIAS:
Entidades OCDE
A ama-de-leite de Tutankhamon era sua meia-irmã?
Na apresentação do túmulo aos jornalistas, o ministro das Antiguidades egípcio revelou que a mulher conhecida como Maia pode ser, na realidade, Meritaton, uma das meias-irmãs do jovem faraó. (...)

A ama-de-leite de Tutankhamon era sua meia-irmã?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.13
DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na apresentação do túmulo aos jornalistas, o ministro das Antiguidades egípcio revelou que a mulher conhecida como Maia pode ser, na realidade, Meritaton, uma das meias-irmãs do jovem faraó.
TEXTO: Semanas antes da abertura ao público, o Egipto apresentou aos jornalistas o túmulo da ama-de-leite de Tutankhamon, tendo como bónus uma nova teoria: a mulher que até aqui se conhecia como Maia, e que terá amamentado o faraó que morreu ainda adolescente, pode ser, na verdade, Meritaton, uma das suas meias-irmãs. A informação foi avançada no domingo pelo ministro das Antiguidades egípcio, Mahmud al-Damaty. Localizado em Sakara, a 25 km do Cairo, o túmulo, que se poderá visitar a partir de Janeiro, foi descoberto há praticamente 20 anos pela equipa liderada pelo egiptólogo francês Alain Zivie, que há já décadas escava nesta necrópole dos arredores da capital. Durante este longo período esteve fechado para estudo e trabalhos de limpeza e restauro. Segundo o diário espanhol El País, Mahmud al-Damaty recorreu a uma das cenas representadas nas paredes do túmulo - o funeral de Meketaton, outra meia-irmã do faraó, em que Meritaton dá de mamar a um bebé que deverá ser Tutankhamon - para explicar por que razão acreditam alguns dos especialistas egípcios que Maia e a princesa são uma e a mesma pessoa. Al-Damaty defendeu ainda que o título por que é conhecida a ama-de-leite do faraó, “a grande do harém”, é demasiado elevado para alguém que seria apenas uma criada da família real. Alain Zivie apoia esta teoria avançada pelas autoridades egípcias e, para o fazer, destaca outros indícios. Existem, disse o arqueólogo à Agência France Press, parecenças físicas entre Tutankhamon e a sua ama, em particular os olhos e o queixo, e o facto de Meritaton surgir sentada num trono real, algo reservado apenas aos membros da dinastia no poder, também não pode ser ignorado. Apesar dos indícios, e como é habitual nestes casos, não há consenso entre os especialistas. Quem contesta a teoria lembra, por exemplo, que era raríssimo que uma princesa fosse ama-de-leite. Em 2010, testes de ADN provaram que Tutankhamon era filho do faraó Akhenaton. Meritaton, por sua vez, era também filha de Akhenaton e da sua primeira mulher, a lendária rainha Nefertiti, cuja câmara funerária os arqueólogos ainda procuram. Tal como a múmia de Maia/Meritaton, precisa o jornal britânico The Independent. A abertura ao público desta câmara funerária descoberta por Zivie insere-se num programa mais vasto de relançamento do Egipto como destino turístico que inclui, segundo o diário espanhol El Mundo, outros três túmulos de nobres que serviram nas cortes dos faraós Tutankhamon e Amen-hotep III, visitáveis também a partir de Janeiro. E pela primeira vez.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha filho mulher rainha adolescente estudo princesa
Morreu Vera Rubin, a astrofísica da matéria escura do Universo
A investigadora confirmou a existência de matéria invisível no cosmos ao observar o movimento das galáxias. (...)

Morreu Vera Rubin, a astrofísica da matéria escura do Universo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.15
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A investigadora confirmou a existência de matéria invisível no cosmos ao observar o movimento das galáxias.
TEXTO: A astrofísica norte-americana Vera Rubin, que confirmou a existência de matéria escura, um dos grandes mistérios do Universo, morreu domingo em Princeton, nos Estados Unidos. Tinha 88 anos. Estava agora reformada do Departamento de Magnetismo Terrestre da Instituição Carnegie para a Ciência, na cidade de Washington. “Vera Rubin era um tesouro nacional na sua qualidade de astrónoma e um exemplo formidável para os jovens cientistas”, declarou o presidente da Instituição Carnegie, Matthew Scott, em comunicado. Contratada pelo Departamento de Magnetismo Terrestre em 1965, Vera Rubin interessou-se rapidamente pelos movimentos das galáxias e a sua rotação. Nas investigações com o seu colega Kent Ford, nos anos 70, apercebeu-se de que, no centro das galáxias que estudava, a velocidade das estrelas parecia não obedecer estritamente às leis da gravidade da matéria que se via. Alguma coisa, que não a matéria visível, era responsável pelo movimento das estrelas nas galáxias. Deduziu assim a presença de uma matéria invisível à observação, a matéria escura, que não emite luz. Hoje sabe-se que apenas cerca de 5% da composição do Universo é matéria “normal”, visível, e que tudo o resto é invisível: quase 70% é energia escura e o restante é a matéria escura. Uma composição confirmada por muitas observações, incluindo a do telescópio espacial Planck. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A teoria da matéria escura já tinha sido proposta em 1933 pelo físico suíço Fritz Zwicky, do Instituto de tecnologia da Califórnia, mas foi Vera Rubin que confirmou a sua existência. Rejeitada pelo prestigiado programa de astronomia da Universidade de Princeton, que então só aceitava homens, Vera Rubin obteve finalmente os seus diplomas, primeiro pela Universidade de Cornell e depois pela Universidade de Georgetown. Foi uma defensora fervorosa das causas das mulheres. E a primeira mulher a ter acesso ao Observatório de Palomar, na Califórnia, em 1965. Em 1993, o então Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, atribuiu-lhe a Medalha Nacional da Ciência, a maior condecoração científica do país.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens mulher mulheres
Morreu a "mãe" do Tamil Nadu
Antiga actriz de cinema, Jayalalithaa Jayaraman chefiava o estado indiano com mão férrea. (...)

Morreu a "mãe" do Tamil Nadu
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Antiga actriz de cinema, Jayalalithaa Jayaraman chefiava o estado indiano com mão férrea.
TEXTO: No Mahabarata, um dos épicos clássicos da Índia antiga, a mítica Draupadi é descrita como uma mulher com vontade de ferro, disposta a reduzir os seus inimigos a cinzas e a defender os mais fracos. Uma mulher que dizia o que pensava, num mundo onde eram sempre os homens a decidir. Jayalalithaa Jayaraman ocupa também esse imaginário, não só no Tamil Nadu, o estado que governou durante anos com um estatuto de deusa, como no resto da Índia. Há 40 dias – desde que Jayalalithaa foi internada no hospital Apollo, em Chennai (a capital do estado, no Sul da Índia) com febre, desidratação e infecção respiratória – que há vigílias, orações, manifestações, actos de auto-flagelação. No domingo, sofreu um ataque cardíaco e não conseguiu recuperar. Mais de seis mil agentes de segurança foram enviados para a cidade para manter a ordem e impedir que extremadas manifestações de dor se transformem em distúrbios. Dezenas de milhares de pessoas participaram esta terça-feira no seu funeral, incluindo primeiro-ministro, Narendra Modi, e o Presidente Pranab Mukherjee. Ao contrário do que é tradição entre a sua casta brâmane, não foi cremada mas sepultada. A sua campa ficou ao lado da de MG Ramachandran, o actor que virou político e que a ajudou a fazer o mesmo, em 1982. Jayalalithaa era a “menina de ouro” da indústria cinematográfica do Tamil Nadu e participou em mais de 140 filmes. Em muitos deles era a personagem principal, a heroína, quando o costume era esse papel caber a um homem. Depois de 20 anos a aparecer nos grandes ecrãs, seguiu para a política com um discurso feminista bem treinado. A morte de Ramachandran em 1987 abriu uma cisão no partido, o AIADMK. Não foi sem luta que Jayalalithaa conseguiu tomar as rédeas e tornar-se a primeira mulher a liderar a oposição na assembleia estatal – onde uma vez chegou a ser fisicamente atacada por um membro de um partido rival. Em 1991, estava já a chefiar o governo do Tamil Nadu. “A actriz que introduziu as saias, fatos de banho e glamour no cinema tâmil aparecia agora sem maquilhagem, completamente coberta por um sari e pronta a assumir o papel de Amma [mãe]”, escreve o site Quartz India. “A ligação ao cinema ira ajudá-la e persegui-la”. Seria pretexto para os opositores a subvalorizarem politicamente, mas a sua imagem não parava de aparecer no seu canal televisivo, que durante as campanhas eleitorais não se cansava de exibir os filmes que protagonizou, continua a mesma publicação. Jayalalithaa seria eleita por quatro vezes, intercalando com o Dravida Munnetra Kazhagam (DMK), o partido liderado por Muthuvel Karunanidhi (também ligado ao cinema, como argumentista). “A competição com Karunanidhi, o seu arqui-rival, tem assumido contornos épicos, vista pelos seus respectivos [apoiantes] como uma luta cósmica entre dois deuses”, comenta ao PÚBLICO Constantino Xavier, investigador do instituto Carnegie India em Nova Deli. “Cinema, política e religião são os três factores tradicionais que se confundem no Tamil Nadu”. A sua biógrafa, a romancista Vaasanthi Sundaram, comentou ao Guardian que Jayalalithaa “era a política mais colorida, dinâmica e determinada que alguma vez se viu”, e que “desafiou sem tréguas a política sexista dominada por homens do Tamil Nadu, que tentou sem descanso detê-la ao longo de todo o caminho”. Se muitos no seu estado lhe chamavam Amma e se sentem agora órfãos é por ter introduzido medidas direccionadas aos mais pobres, como as cantinas Amma, com refeições acessíveis, check ups médicos grátis para mulheres, computadores portáteis de borla para os estudantes, bicicletas para raparigas que frequentam a escola, electrodomésticos para donas de casa… Criou centros para acolher bebés do sexo feminino e programas de adopção de raparigas, reduzindo o infanticídio, impôs quotas para mulheres na polícia. E outros programas mais exuberantes como a distribuição de joias de casamento para os pobres. “Jayalalithaa construiu ao longo de quase três décadas um império regional baseado em autoritarismo e populismo”, continua Constantino Xavier. “Desde os anos 1990 soube também aliar-se com diferentes partidos no governo central. Embora seja da casta brâmane e mulher, dois aspectos tabu na política ultra-conservadora do Tamil Nadu, conseguiu instrumentalizar a religião hindu para agregar apoios. ”Por outro lado, foi importante para fazer do Tamil Nadu um dos estados com mais peso económico do país. “As altas taxas de crescimento económico no Tamil Nadu devem-se principalmente às políticas de Jayalalithaa favoráveis ao investimento estrangeiro, especialmente na indústria e nos serviços”, acrescenta o investigador português. A sucessão, que passa agora para O. Panneerselvam, seu ministro das Finanças e Obras Públicas, poderá ser interrompida pelas tentativas dos principais partidos do país em aproveitar a partida da carismática líder: "O Congresso da dinastia Nehru-Gandhi e os nacionalistas do BJP liderados pelo actual primeiro-ministro Modi vão procurar preencher o vácuo deixado por Jayalalithaa e forçar eleições antecipadas, antes de 2021". Jayalalithaa era tudo menos uma figura fácil de ler. A chief minister foi várias vezes acusada de corrupção em tribunal. Em 1997, uma busca na sua casa revelou que tinha 800 quilos em objectos de prata, 28 quilos em ouro, 750 pares de sapatos e mais de dez mil saris. Em “cinco grandes malas” que o juiz encarregue do seu processo de corrupção teve de analisar estavam colares, anéis, pulseiras, e brincos… e “uma corrente com 2389 diamantes, 18 esmeraldas e 9 rubis”, escreveu o New York Times em 2000. Foi considerada culpada de receber luvas num esquema de compra de mais de 40 mil televisões para as aldeias locais e esteve 30 dias na prisão. Depois, foi também acusada de ter obtido ilegalmente propriedades estatais, e ter usado a Tamil Nadu Marketing Corporation (Tasmac), que detinha o monopólio da venda de álcool no estado, para financiar muitos dos seus projectos, recorda a BBC. Em 2014, estava à frente do Tamil Nadu quando foi condenada a quatro anos de cadeia por se ter aproveitado da sua posição para reunir propriedades, jóias caras e carros de luxo. A pena foi revogada oito meses depois e dias mais tarde já estava no seu gabinete a presidir novamente aos destinos do estado. Disse sempre que estava inocente e era vítima de complot político. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas há mais na lista de acusações. O Guardian recorda agora que os telegramas diplomáticos americanos tornados públicos pelo Wikileaks revelavam que Jayalalithaa era descrita por muitos que trabalhavam com ela como uma “autocrata absoluta” com um “domínio total” e inédito sobre o seu partido. Os colegas diziam que tinham de a tratar por Amma, Madam ou “nossa líder” e “prostrarem-se fisicamente diante dela em sinal de obediência”. A sua influência foi crescendo. O culto da sua personalidade também, como comprovam as estátuas com a sua figura espalhadas pelo estado e a forma extremada como muitos dos seus “devotos” lhe prestam homenagem. A poeta e cineasta Leena Manimekalai resumia assim ao Quartz India esta figura carismática: “A absoluta intolerância quanto a críticas e dissidências torna-a muito próxima de um fascista, mas temos de nos lembrar que também era vítima de um mundo de políticos machistas… Foi a vítima a querer tornar-se no opressor. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens escola tribunal ataque mulher prisão homem sexo mulheres casamento feminista
Atacante de Nice descrito como homem "solitário" e "silencioso"
Identidade do condutor que horrorizou o mundo foi confirmada ao final da manhã desta sexta-feira pelas autoridades francesas. Mohamed Lahouaiej Bouhlel tinha registo criminal por delitos menores, mas para já nada aponta para ligações a grupos extremistas. (...)

Atacante de Nice descrito como homem "solitário" e "silencioso"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.166
DATA: 2016-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161229081822/https://www.publico.pt/n1738409
SUMÁRIO: Identidade do condutor que horrorizou o mundo foi confirmada ao final da manhã desta sexta-feira pelas autoridades francesas. Mohamed Lahouaiej Bouhlel tinha registo criminal por delitos menores, mas para já nada aponta para ligações a grupos extremistas.
TEXTO: Mohamed Lahouaiej Bouhlel tinha 31 anos, três filhos e nacionalidade francesa e tunisina. Nenhuma das informações divulgadas sobre o condutor do camião que matou pelo menos 84 pessoas em Nice na noite de quinta-feira aponta para qualquer ligação a um grupo ou organização terrorista. Sabe-se que Mohamed Lahouaiej Bouhlel estaria a atravessar um processo de divórcio, que já tinha sido acusado de violência doméstica e que tinha registo criminal por delitos menores, como furto. Os vizinhos descrevem-no como alguém “solitário” e “silencioso” com um perfil que terá tanto de discreto como de pouco amigável. A maioria refere que Mohamed Lahouaiej Bouhlel não dizia sequer bom dia. O camião branco que Mohamed Lahouaiej Bouhlel conduzia percorreu dois quilómetros do Passeio dos Ingleses invadido por uma multidão que comemorava o Dia da Bastilha. Parou, atingido por disparos da polícia, junto a algumas das muitas vítimas que foi atropelando pelo caminho feito aos ziguezagues. Dentro do camião, que terá sido alugado em St Laurent du Var, perto de Nice, e que deveria ter sido devolvido na quarta-feira, foram encontrados alguns documentos, armas falsas e uma granada inutilizada. O facto de o camião ter sido alugado uns dias antes leva a crer que o acto foi premeditado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A identidade do condutor que horrorizou o mundo foi confirmada ao final da manhã desta sexta-feira pelas autoridades francesas. Ao nome e a alguns dados sobre o passado de Mohamed Lahouaiej Bouhlel começaram a somar-se também opiniões sobre aquele homem de 31 anos, nascido na localidade tunisina de M’Saken, que morava num bairro em Abattoirs nos arredores de Nice. “Cruzava-me com ele a toda a hora. Muito desagradável, nunca nos segurava a porta. E fixava-nos com o olhar. Não nos respondia”, contou uma vizinha identificada como Jasmine, de 40 anos, ao Le Figaro. Ao mesmo jornal uma outra mulher começa por referir que ela era simpático, mas estranho. Um dia ter-lhe-á perguntado se ela lhe alugava a caixa de correio. Desconfiada, ela disse que não e ele chamou-lhe "chata". Em declarações ao jornal Nice Matin, outro dos vizinhos de Mohamed Lahouaiej Bouhlel que não é identificado relata num vídeo que o homem era “muito discreto” e que não respondia quando o cumprimentavam. O L'Express junta o testemunho de Wissan, um vizinho que o conhecia e que é um tunisino originário da mesma localidade que Mohamed Lahouaiej Bouhlel : "É uma pessoa que bebe álcool, que fuma droga". E acrescentou: "Na quinta-feira à noite ele estava a beber com um amigo dele e discutiram e o amigo disse-lhe 'tu não vales nada' ao que ele respondeu: 'Um dia vais ouvir falar de mim!'"Mohamed Lahouaiej Bouhlel trabalhava em serviços de entregas. Estava referenciado na polícia pela prática de delitos menores. Aparentemente, a sua última condenação foi no passado mês de Março depois de ser ter envolvido num episódio de violência. Apesar de o Presidente francês ter sublinhado o “carácter terrorista” do ataque logo durante a madrugada, ao início da tarde da sexta-feira ainda nenhuma organização tinha reivindicado a responsabilidade pelo atentado. Por outro lado, as autoridades também não tinham encontrado nenhuma ligação de Mohamed Lahouaiej Bouhlel a qualquer grupo terrorista. Ainda que se venha a provar que este afinal não foi um acto de terrorismo, é possível afirmar já com toda a certeza que foi um acto de terror.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência ataque mulher homem doméstica divórcio
A volta ao mundo à procura de revoluções
O fotógrafo português Eduardo Leal anda por aí a documentar grandes revoluções e a retratar pequenas vitórias — como a ascensão das cholitas. (...)

A volta ao mundo à procura de revoluções
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O fotógrafo português Eduardo Leal anda por aí a documentar grandes revoluções e a retratar pequenas vitórias — como a ascensão das cholitas.
TEXTO: Uma pedra, um crucifixo e uma máquina fotográfica. Não explicou tintim por tintim — não sabe explicar melhor —, mas, juntando as linhas com as entrelinhas, é fácil perceber por que é que são estes os objectos que não dispensa nas suas missões fotográficas. Sim, missões. Eduardo Leal saiu de Portugal há quase 15 anos. Nasceu na Avenida dos Aliados, cresceu entre as Antas e a Baixa, estudou na Escola Superior de Jornalismo (especialização de Rádio) e aos 23 anos foi "viver para fora". Aterrou primeiro na Escócia, onde começou a estudar Fotografia, mudando-se depois para Londres para estudar Fotografia no London College of Communication. "O meu avô, que foi capitão da polícia de Macau nos anos 1950, era fotógrafo por carolice. Andava sempre com a câmara. Fotografava um pouco de tudo, desde o dia a dia da família até ao dia-a-dia nas ruas", recorda à Fugas Eduardo, num dos raros períodos em que a família lhe põe os olhos em cima. Do avô não herdaria apenas o arquivo fotográfico, mas sobretudo a dedicação à máquina fotográfica, um autêntico "passaporte para outros mundos", um modo de vida que surgiu de rompante quando viu a Serra Pelada de Sebastião Salgado. "Ainda não sabia quem ele era. Quando vi aquela série e os mineiros que pareciam viver nos tempos bíblicos pensei 'é assim que eu quero contar histórias'. " Estudava árabe "e o Islão" porque pensava mudar-se para o Médio Oriente. Tinha consciência que "não podia ser jornalista sem viajar". Era aquilo a que hoje chama de "viajante semiprofissional". Aos 21 anos fez a primeira viagem fora da Península Ibérica com amigos de carro até Marrocos. No mesmo ano foi viajar sozinho no Verão (Reino Unido e Escócia). Quando acabou o curso, voltou à Escócia para trabalhar num restaurante, o seu mealheiro, e foi para a América do Sul um ano "ganhar calo". Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e Peru. "Ia explorar. Tirava fotografias de viagem. " E mudou-se — muda-se muitas vezes — para Londres, onde, numa palestra da Magnum, conheceu Mark Sanders, curador do arquivo fotográfico Cuba in Revolution para a Arpad A. Busson Foundation. Estagiou e ficou a trabalhar nesse projecto cinco anos. Nesse período, Eduardo foi muitas vezes a Cuba. À sua frente tinha milhares de fotografias antigas cheias de pessoas e de locais para identificar. "A colecção começa nos anos 1950, Fidel na Sierra Maestra, até 1968, momento decisivo em Cuba. Estava a ver essas fotografias e pensei "gostava de ter vivido esse tempo, gostava de ter fotografado isto'. E lembrei-me da Venezuela de Hugo Chávez e das duas histórias que se cruzam. "Lembrou-se e foi. Tirou um mês de férias — a Venezuela comemorava 200 anos de independência — e, quando lá chegou, Chávez anunciou um cancro na televisão. O ano seguinte foi ano de eleições e, para Eduardo, ano de mais uma mudança. "Nos primeiros anos não tinha casa. Recorria a bons amigos, a gente muito paciente. Cheguei uns dias antes das primeiras manifestações com mortes e violência. Estava no meio de um país a ferro e fogo. Caí de pára-quedas. Começou aí a minha carreira a trabalhar a cem por cento em fotojornalismo", recorda Eduardo, que conserva uma lista "sempre activa" de sítios onde quer fotografar. "Está sempre a aumentar. A negrito são os locais que eu penso que vão ser os próximos". O "cansaço" levou-o a pensar numa "base". "Em pouco tempo" tinha estado em "60 sítios". "Lá ia eu com a minha mochila. Não tinha casa. Também cansa. . . a roupa. . . o equipamento todo. . . peso sério. " Base: Medellín, Colômbia, "vizinha da Venezuela, mas sem ser a Venezuela" — tem ficha na Venezuela: foi detido, foi agredido pela polícia, ainda treme quando fala nisso (salvo por um crucifixo, que nesse dia recebeu e meteu no saco?). Eduardo mudou-se. Capítulo cholitas. Foi cobrir as eleições de Evo Morales, que exibia essa "bandeira". Eduardo já conhecia as cholitas lutadoras de wrestling, mas queria conhecer as mulheres indígenas que usam chapéu de coco e tranças tão compridas como as saias. "Aquilo não é um disfarce. O chapéu não nasceu na Bolívia, são chapéus de coco italianos que usavam os gentlemen ingleses. As saias originais são das senhoras da burguesia espanhola. São apropriações para tentar ganhar espaço na sociedade boliviana. A sociedade não as deixava expandir. As jóias, o ouro, as pedras preciosas, os brincos pesados. É uma forma de dizer 'nós também podemos'. São mulheres indígenas que vestem com orgulho a indumentária. "A Ascensão das Cholitas, na galeria da Manifesto, em Matosinhos, até ao dia 26 de Agosto, "não é um projecto político". É um retrato de pequenas vitórias, a dissecação de um termo depreciativo que é usado com orgulho. "Embora estas mulheres se tenham organizado e defendido os seus direitos desde da década de 1960, o movimento rearmou-se com a eleição de Evo Morales, em 2006, o primeiro presidente indígena da Bolívia. Esse momento histórico assinala também um crescimento no orgulho de identidade entre muitas cholitas, de armação dos seus direitos no espaço da sociedade boliviana. " Em La Paz, Eduardo conheceu e fotografou a Comadre Remedios, como Remedios Loza é conhecida, pioneira dos “direitos das cholitas” (em 1962 tornou-se na primeira mulher indígena a ter programas de rádio e televisão, e usou essas plataformas para dar voz aos indígenas e às pessoas desfavorecidas; em 1989 tornou-se na primeira mulher indígena a ter assento no Assembleia Legislativa da Bolívia; em 1997 foi a primeira mulher a concorrer à Presidência da Bolívia), Reveca Sangali (em 2015 eleita como vereadora para o município de El Alto), Cristina Paxi (deputada na Assembleia Legislativa), Bertha Acarapi (a segunda mulher indígena a trabalhar em televisão na Bolívia), Diana Malaga (a primeira transsexual cholita da Bolívia), Celia Laura (a primeira mulher indígena do país a tornar-se professora numa escola privada), Sara Mamani (a segunda cholita a conduzir um autocarro em La Paz), Estela Loyaza (uma de 15 cholitas que trabalham como polícias de trânsito em La Paz) e muitas outras, esperando inspirar outras mulheres que diariamente sofrem com discriminação e falta de oportunidades. "Há mais cholitas no mundo. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Férias é estar cá", diz Eduardo à Fugas. Cá tem Forcados, um "work in progress". Cá planeia a próxima mudança. Começou a namorar em Macau, onde dá aulas. "Vou para um mundo novo", diz. A negrito na sua lista estão as Filipinas de Rodrigo Duterte. "Acho que vou ter uma nova Venezuela. "Que material fotográfico usas? Estou a reduzir (risos). Fotografo com Canon e com Fuji. Sempre fotografei com Canon. Posso fotografar de olhos fechados com Canon. Na rua ando com Fuji, quando tenho tempo e quero ser discreto. Uso uma panóplia grande de lentes, mas oitenta e tal por cento das fotografias são tiradas com a 35 milímetros. O meu zoom são as minhas pernas. Dantes viajava com imensas lentes e depois percebi que não as usava. Tenho sempre uma 50 milímetros e a 35. Essas são as obrigatórias. Andas com uma pedra na mochila?! Foi num Natal, que passei completamente sozinho. Foi na Patagónia. Fui fazer montain bike e acabei numa praia. Achei piada àquela pedra. Não tem nada de especial. Nem sou nada de coleccionar pedras (risos). Mas aquela. . . meti-a no bolso. E depois foi andando nas mochilas e cheguei a um ponto que disse "porra, esta pedra já anda há não sei quanto tempo aqui". Ganhei-lhe carinho. Lembro-me de a apanhar e de pegar nela na praia. Acabou por ficar. Neste momento tens uma foto especial? A primeira que me vem à cabeça, porque estou a fazer uma impressão para a minha mãe, é uma fotografia de uma miúda na Bolívia dentro de um autocarro. Não é uma história. Está a chover. Tirei essa foto porque estava num carro ao lado dela.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos escola violência mulher mulheres discriminação
O que nos faz envelhecer? Stress, violência, pobreza e discriminação
O modo como envelhecemos, com mais ou menos cabelos brancos, rugas e doenças está relacionado com o comprimento das pontas protectoras dos nossos cromossomas: os telómeros. Surpreendentemente, a forma como lidamos com o stress e o ambiente social em que vivemos influenciam o tamanho dos nossos telómeros e, com eles, o número de anos de vida saudável que poderemos esperar. (...)

O que nos faz envelhecer? Stress, violência, pobreza e discriminação
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O modo como envelhecemos, com mais ou menos cabelos brancos, rugas e doenças está relacionado com o comprimento das pontas protectoras dos nossos cromossomas: os telómeros. Surpreendentemente, a forma como lidamos com o stress e o ambiente social em que vivemos influenciam o tamanho dos nossos telómeros e, com eles, o número de anos de vida saudável que poderemos esperar.
TEXTO: O envelhecimento já não é o que era. Se antes pensávamos que seria incontrolável, podendo apenas tentar-se alguma batota estética com cirurgias e cremes anti-rugas, a ciência tem vindo a mostrar que o envelhecimento é, pelo menos em parte, um processo possível de ser controlado. No livro A Ciência da Juventude (Elsinore, 2017) a bióloga Elizabeth Blackburn e a psicóloga Elissa Epel contam a história de duas mulheres imaginárias que tomam café numa tarde fria em São Francisco. Kara e Lisa têm a mesma idade, mas Kara parece muito mais velha. E sente-se muito mais velha. E provavelmente terá menos anos de vida saudável, mesmo que ambas vivam o mesmo tempo. O envelhecimento cronológico (o número de anos que passaram desde que nascemos) é diferente do envelhecimento biológico (o estado de envelhecimento que efectivamente as nossas células têm). Todos conhecemos Kara e Lisa com outros nomes. E quando pedimos a alguém que acabámos de conhecer para adivinhar a nossa idade estamos a tentar confirmar as nossas suspeitas de sermos Kara ou Lisa. Há muitas pessoas que aos 50 anos gozam de uma excelente saúde. Mas há outras que nessa idade começam a sofrer com as doenças da velhice: problemas cardiovasculares e pulmonares, artrite, sistema imunitário enfraquecido, diabetes ou cancro. Têm tendência a surgir juntas e para muitos determinam o fim precoce da vida. Para outros a vida continua, limitada pela doença e pelo desconforto. O número de anos de vida saudável que temos é o nosso “intervalo de saúde”. Uma pessoa que viva até aos 100 poderá ter 50 ou 70 anos livre das doenças do envelhecimento (a diferença é grande). O restante é o “intervalo de doença”. O que a maioria de nós quer é ter muitos anos de vida saudável e não apenas prolongar a vida num estado de decrepitude. A investigação científica tem vindo a demonstrar que o envelhecimento é um processo regulado pelos nossos genes. As raríssimas pessoas que vivem mais de 115 anos são oriundas de famílias com longevidades acima da média para a respectiva época. Por isso há quem estude os supercentenários para tentar perceber quais são as diferenças da sua herança genética (é o caso da empresa norte-americana Androcyte). Outros, como o investigador português João Pedro de Magalhães, professor da Universidade de Liverpool, tentam perceber quais são os truques das espécies que vivem muito, como o rato-toupeira-nu (30 anos, extraordinário se pensarmos que um rato doméstico vive apenas dois). A esperança é que no futuro seja possível criar medicamentos que imitem os efeitos dos genes que permitem viver mais tempo. Ou mesmo – e isto é muito mais arrojado – usar técnicas de edição genética (uma espécie de corta e cola com ADN) para modificar os nossos genes e prolongar a juventude. Mas os processos de envelhecimento não são um destino traçado no momento em que cada um de nós foi concebido. Como Elizabeth Blackburn e Elissa Epel escrevem no seu livro: “Nascemos com um conjunto definido de genes, mas o modo como vivemos pode influenciar a forma como esses genes se expressam. ” A nova ideia do envelhecimento é esta: em vez de apenas tratar cada uma das doenças relacionadas com envelhecimento, tentar travar o envelhecimento biológico. Esta ideia abre novas áreas de investigação médica e de negócios na saúde. Como escreveu João Pedro de Magalhães num artigo de 2017: “As doenças relacionadas com a idade são as principais causas de morte e de custos de assistência médica. Reduzir a taxa de envelhecimento teria enormes benefícios médicos e financeiros. ” Há várias abordagens anti-envelhecimento. Aqui vamos focar-nos numa que já deu um Prémio Nobel. Todos já fomos uma única célula. Essa dividiu-se em duas, que deram origem a quatro e depois a oito, até cada um de nós ser constituído por biliões de células. Todos os dias há muitas que morrem e são substituídas por outras, que se formam sempre da mesma maneira: uma célula divide-se em duas. É simples de dizer, mas na realidade é um processo bastante complicado. Cada célula tem um núcleo e lá dentro está o nosso material genético: 46 cromossomas. Cada cromossoma é uma longa serpentina de ADN, muito enrolada e compactada. É no ADN que estão escritos os nossos genes, que são as instruções para construir proteínas (como a hemoglobina, por exemplo, que transporta o oxigénio através do sangue até às nossas células). A linguagem dos genes tem apenas quatro letras (A, T, G e C), correspondentes às quatro bases que se repetem no ADN (adenina, timina, guanina e citosina). Por exemplo TTC significa fenilalanina, um aminoácido de que se calhar já ouviu falar. À correspondência entre uma sequência de três bases de ADN e um aminoácido chama-se código genético. Esse código é o mesmo para todos os seres vivos. Os genes são sequências de ADN que são os planos de construção das proteínas. Uma proteína com 300 aminoácidos está codificada em 900 bases de ADN. O genoma humano, ou seja toda a sequência de ADN em todos os cromossomas, são cerca de três mil milhões de pares de bases, que codificam 20. 000 genes. Mas nem todo o ADN tem genes. Esta história é sobre uma parte do ADN de cada um dos nossos cromossomas que não tem qualquer gene, mas que pode determinar o ritmo a que nós envelhecemos: os telómeros. Os telómeros estão nas pontas dos cromossomas e funcionam como as cabeças dos atacadores: impedem os fios de se desfiarem. São sequências repetitivas de ADN, que têm como função proteger os genes durante a divisão das células. Cada vez que as nossas células se dividem, os telómeros perdem uns quantos pares de bases. Nos cromossomas de um bebé recém-nascido os telómeros têm 10. 000 pares de bases. Aos 35 anos já só têm 7500. E aos 65 restam 4800. Enquanto o comprimento dos telómeros é sacrificado, os preciosos genes nas zonas interiores dos cromossomas ficam a salvo. Com os telómeros curtos chegam os sinais da idade. Morrem algumas células da pele e dos pigmentos do cabelo, por isso aparecem-nos rugas e cabelos brancos. A morte de células do sistema imunitário torna-nos mais susceptíveis a doenças. Um menor comprimento de telómeros é um factor de risco para as doenças relacionadas com o envelhecimento. As pessoas com os telómeros mais curtos têm mais altas taxas de mortalidade decorrentes do cancro, doenças cardíacas e de todas as causas juntas. O comprimento mínimo dos telómeros atinge-se por volta dos 75 anos. Depois, há uma reviravolta final surpreendente: nas pessoas com mais de 75 anos o tamanho dos telómeros parece manter-se ou até aumentar. Mas esse alongamento provavelmente é apenas aparente: nesta idade as pessoas com telómeros mais curtos já morreram. São as pessoas com telómeros mais longos que chegam aos 80 ou aos 90 anos. Mas esta ainda não é a história toda. Em 1975, Elizabeth Blackburn trabalhava num laboratório da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Usava grandes boiões de vidro para cultivar uma minúscula criatura que vive em lagos de água doce: a Teatrahymena. Não se consegue ver a olho nu, mas o núcleo da sua única célula tem 20 mil pequenos cromossomas. Isso torna-a ideal para estudar as pontas dos cromossomas. Blackburn determinou a sequência repetitiva dos telómeros da Teatrahymena e descobriu que o seu tamanho é variável. Três anos mais tarde, já na Universidade da Califórnia, em Berkeley, fez uma descoberta surpreendente, com a ajuda de Carol Greider, uma aluna de doutoramento com quem haveria de partilhar o Prémio Nobel da Medicina em 2009. Verificaram que os telómeros podem crescer. Isso acontece graças a uma enzima, uma proteína especial que é uma máquina de alongar telómeros. Chama-se telomerase. Mas ao longo da vida a telomerase vai perdendo a sua luta. Por isso os telómeros tornam-se mais curtos e os cromossomas ficam desprotegidos. Portanto, tudo se parece reduzir a uma questão de “engenharia civil” do ADN, que poderemos eventualmente resolver usando a máquina adequada, a telomerase. Será que podemos prolongar a vida humana fazendo chegar ao núcleo das nossas células quantidades generosas desta enzima? Estará encontrado o elixir da imortalidade? Infelizmente não. Tentar prolongar a vida com métodos artificiais para aumentar a telomerase é muito arriscado. A telomerase em excesso pode provocar uma multiplicação descontrolada das células, ou seja, cancro. Pensando ao contrário, há investigadores que tentam encontrar estratégias de tratamento de cancro que consistem em desligar a telomerase nas células cancerosas, de modo a impedir que estas se multipliquem (no dia 25 de Abril de 2018 foi publicada na revista Nature a estrutura em três dimensões da telomerase humana, o que poderá ajudar no desenvolvimento de aplicações médicas). Aumentar a telomerase reduz o risco de certas doenças, mas também aumenta o risco de alguns cancros. Então não podemos fazer nada para alongar os nossos telómeros? Não é bem assim. É aqui que entra em cena a psicóloga Elissa Epel, especializada em stress psicológico grave e crónico. Ela estudava mães que cuidavam de crianças com doenças crónicas e tinha uma pergunta para Elizabeth Blackburn: o que acontece aos telómeros dessas mães? Muitas tinham um ar esgotado, será que os seus telómeros também se ressentiam do stress a que estavam constantemente sujeitas? Elissa Epel escolheu um grupo de mães que cuidavam de filhos com doenças crónicas e as duas investigadoras fizeram um primeiro estudo. Os resultados foram analisados ao fim de quatro anos e havia um padrão: quanto mais anos as mães passavam a cuidar dos filhos com doenças crónicas, mas curtos eram os seus telómeros, independentemente da sua idade. E quanto mais consideravam a sua situação como stressante, menos telomerase tinham. Quanto mais stress crónico sofremos, mais curtos são os nossos telómeros. Isto significa que temos uma maior probabilidade de ter as doenças do envelhecimento mais cedo e morrer precocemente. No entanto havia algo intrigante nos dados: algumas mães, apesar de cuidarem dos filhos durante muitos anos, conseguiam conservar o comprimento dos telómeros. Este resultado era surpreendente. Para o tentar compreender as duas cientistas fizeram mais um trabalho de investigação. “Por favor subtraia 17 de 4923, em voz alta. Depois, subtraia 17 à sua resposta e assim por diante, tantas vezes quantas puder nos próximos cinco minutos. É importante que execute esta tarefa rápida e correctamente. Iremos avaliá-la em vários aspectos do seu desempenho. O tempo começa agora. ” Parece fácil? Na realidade não é nada fácil, especialmente com dois avaliadores a assistir com uma expressão glacial. Este procedimento não tinha como objectivo avaliar capacidades matemáticas e discursivas, mas simplesmente stressar as mulheres. Epel e Blackburn queriam perceber se era o tipo de resposta ao stress que fazia a diferença, se isso poderia explicar que algumas mães mantivessem o tamanho dos seus telómeros, mesmo depois de passarem muitos anos a cuidar de filhos com doenças crónicas e graves. Para isso basearam-se no trabalho da psicóloga Wendy Mendes, da Universidade da Califórnia (por curiosidade, foi Miss Califórnia em 1989) que examinou os diferentes tipos de respostas corporais a factores de stress. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Consideremos dois casos. No primeiro, reagimos às causas de stress como se elas fossem uma ameaça. Os vasos sanguíneos contraem-se, os níveis de cortisol (que é a hormona do stress) aumentam e mantêm-se altos. Preparamos o corpo e a mente para o trauma de um ataque. Isto não é bom para a saúde dos telómeros, porque níveis de cortisol persistentemente elevados diminuem a quantidade de telomerase. Por outro lado, se virmos a causa de stress como um desafio, o sangue flui pelo nosso corpo, criamos as condições físicas e psicológicas para nos empenharmos totalmente, ter o melhor desempenho possível e ganhar. Claro que ainda assim pode haver um aumento súbito de cortisol que nos dá a atitude “vamos a isso”, mas que baixa rapidamente e não afecta os telómeros. Em geral as pessoas têm um misto das duas respostas. E é proporção entre as duas que importa para a saúde dos telómeros. No estudo liderado por Epel e Blackburn as mulheres que encararam a tarefa stressante mais como um desafio do que como uma ameaça tinham telómeros mais longos. E isso significa, segundo as duas autoras, que temos razões para ter esperança, pois há formas de treinarmos para reagir aos acontecimentos stressantes de modo a proteger os telómeros. No seu livro citam o psicólogo de desporto Jim Afremow, que trabalha com atletas olímpicos. Segundo ele, a pior coisa que os atletas podem fazer é tentarem livrar-se do stress: “Têm de pensar no stress como algo que os ajuda a prepararem-se para o seu desempenho. Têm de dizer: ‘Sim, eu preciso disto!’”Para além do nosso tipo de resposta ao stress, que podemos tentar treinar, há também vários factores sociais que influenciam o tamanho dos nossos telómeros. Crescer em bairros pobres e violentos ou ser alvo frequente de bullying está associado com um comprimento menor de telómeros em crianças. O mesmo acontece em adultos que foram vítimas de maus tratos na infância ou sujeitos a vários tipos de adversidades (como desemprego dos pais ou doenças graves). A discriminação racial também pode acelerar o envelhecimento, assim como a violência doméstica. Isto significa que não só temos a capacidade de influenciar o tamanho dos nossos telómeros, mas também os dos outros. O que já fez pelos seus telómeros… e da sua família e da sua comunidade hoje?
REFERÊNCIAS:
#Let’sBeActive
A Organização Mundial da Saúde publicou há cerca de um mês um Plano de Ação Global para a Atividade Física 2018-2030 com o mote “Mais Pessoas Ativas para um Mundo Mais Saudável”. Como estamos em Portugal em matéria de promoção da atividade física? (...)

#Let’sBeActive
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Organização Mundial da Saúde publicou há cerca de um mês um Plano de Ação Global para a Atividade Física 2018-2030 com o mote “Mais Pessoas Ativas para um Mundo Mais Saudável”. Como estamos em Portugal em matéria de promoção da atividade física?
TEXTO: O lançamento mundial deste Plano de Acção decorreu em Oeiras num evento mediático, no passado dia 4 de Junho com a presença do Primeiro-Ministro e do Director-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). Há mais de 20 anos que um Director-Geral da OMS não visitava Portugal e este hiato foi quebrado precisamente no âmbito da promoção de um dos mais importantes determinantes de saúde dos nossos dias – a actividade física. A falta de actividade (ou inactividade) física é um dos principais factores de risco das doenças crónicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, a diabetes tipo 2, vários tipos de cancro e doenças mentais, como a depressão e a ansiedade. Para além disso, e como o Plano de Acção Global também sustenta, promover a actividade física de um país contribui para promover ambientes sustentáveis, a inclusão social, a igualdade de género e uma educação integral e de qualidade (por exemplo, através da valorização da Educação Física). Entender este Plano de Acção é entender que existem muitas formas de realizar actividade física – caminhar, andar de bicicleta, utilizar as escadas, correr, praticar um desporto, ir ao ginásio, dançar, envolver-se em brincadeiras e actividades de lazer fisicamente activas, para referir apenas algumas. É entender ainda que aumentar os níveis de actividade física requer uma abordagem integrada, intersectorial e sistémica, no sentido de criar oportunidades para se ser fisicamente activo em todos os contextos de vida dos cidadãos: em casa, na escola, no local de trabalho, nas deslocações e nos vários espaços comuns e organizações da comunidade. Este Plano de Acção, que tem já uma versão síntese em português disponível do website da OMS, tem por meta a redução da inactividade física de cada país em 15 % até 2030. Para tal, foram definidos quatro objectivos (ver Figura):O primeiro objectivo - criar sociedades activas - visa aumentar a consciência da sociedade para os benefícios da actividade física, através da formação e capacitação de profissionais e da realização de eventos de participação em massa e campanhas de comunicação. O segundo objectivo - criar ambientes activos – incita ao desenvolvimento de espaços e lugares promotores de catividade física, como percursos pedonais, ciclovias e espaços ao ar livre, e das políticas de transporte e planeamento urbano. O terceiro objectivo - criar pessoas activas - foca-se na criação de programas e outras oportunidades de prática de actividade física, em contextos como as escolas, os serviços de saúde e serviços sociais, especialmente para os grupos menos activos, como os idosos e os doentes crónicos. O quarto objectivo - criar sistemas activos - visa fortalecer e facilitar políticas de promoção da actividade física através de mais e melhor investigação, mais financiamento dedicado, mais advocacia, e maior robustez dos sistemas de informação, vigilância e monitorização. A que distância estamos, em Portugal, de atingir as metas e os objectivos deste plano?Analisando os dados dos dois últimos Eurobarómetros do Desporto e Actividade Física (publicados pela Comissão Europeia em 2014 e 2018), percebemos que a prevalência da inactividade física em Portugal tem vindo a aumentar. Actualmente, 2 em cada 3 portugueses não são suficientemente activos. Reverter esta tendência é um desafio nacional que requer uma estratégia multissectorial, com apoio governamental, e suporte à implementação de acções concretas, especialmente num contexto de proximidade com os cidadãos. Em 2017 Portugal deu passos largos neste sentido ao criar uma Comissão Intersectorial para a Promoção da Actividade Física, com o objectivo principal de elaborar, operacionalizar e monitorizar um Plano de Acção Nacional para a Actividade Física, que foi lançado em Abril último. Este “nosso” Plano de Acção foca-se em reforçar os sectores mais tradicionais de promoção da actividade física, como o Desporto, a Educação e a Saúde, mas também em dinamizar áreas emergentes e prioritárias em Portugal, como são os contextos do Trabalho, das Empresas, do Ambiente Construído, e da Mobilidade Activa e Transportes. Sempre com atenção à inclusão de pessoas com deficiência. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No evento de 4 de Junho foram destacados, tendo como referência um recente relatório da OMS, dois dos melhores investimentos que um país pode fazer na promoção da actividade física: implementar campanhas abrangentes de comunicação em mass media; e intervenção através dos sistemas de saúde, em particular nos centros de saúde (cuidados de saúde primários). Portugal foi considerado um exemplo internacional nesta matéria e, em Outubro de 2018, serão lançados projectos ambiciosos nestas duas áreas, em preparação há muitos meses. E para Setembro de 2019 está a ser planeado o primeiro Congresso Nacional da Actividade Física, que pretende promover a partilha de experiências e motivar a iniciativa de todos os agentes e sectores com intervenção potencial na actividade física. Irá certamente contribuir também para reforçar um vasto compromisso social acerca da importância de todas as formas de actividade física para a saúde e bem-estar da população, bem como para o desenvolvimento sustentável das cidades e dos territórios.
REFERÊNCIAS:
A longa marcha de Hillary Clinton
Hillary Clinton não repetirá os erros de 2008, mas tem muitos obstáculos à sua frente e uma grande incógnita: não sabe quem vão ser os seus rivais (...)

A longa marcha de Hillary Clinton
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.05
DATA: 2015-04-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hillary Clinton não repetirá os erros de 2008, mas tem muitos obstáculos à sua frente e uma grande incógnita: não sabe quem vão ser os seus rivais
TEXTO: Como esperado, Hillary Clinton é oficialmente candidata à Casa Branca. Há pouco que não se saiba sobre esta mulher, que, a caminho dos 70, vive na ribalta política há 40 anos. O mundo conhece as suas forças e as suas fraquezas. Sabemos que foi conselheira do marido, de forma empenhada, diária e decisiva, durante décadas; que sobreviveu e ultrapassou a humilhação privada mais pública da história americana; o que pensa sobre centenas de questões nacionais e internacionais. Se ganhar, é por exemplo possível antecipar que defenderá posições mais duras do que Barack Obama na política externa. Ninguém se esquece de que, como senadora, Hillary Clinton votou a favor da intervenção americana no Iraque. A sua resiliência e faro permitem, também, prever que vai lutar nos próximos meses como se fosse o primeiro combate político da sua vida. Só um amador repetiria a pose de “vencedora inevitável” com que chegou às primárias de 2008. E Hillary é tudo menos amadora. Há seis anos, chegou com a força de poder tornar-se a “primeira mulher Presidente da história dos EUA”, mas teve como rivais um candidato a “primeiro Presidente negro” e outro a “primeiro Presidente hispânico”. Ganhou Obama. Essa imagem mantém-se simbolicamente poderosa, mas não chega para mobilizar todos os votos de que precisa. Hillary tem muito a seu favor: o marido é o ex-Presidente vivo mais popular de sempre e é também uma máquina de fazer dinheiro — estima-se que recolherá mil milhões de dólares para a campanha. Hillary tem também experiência relevante. Cinco anos à frente da política externa tornaram-na conhecedora do mundo, e nove anos no Senado deram-lhe uma bagagem de negociação partidária que muito impressionou os republicanos. Há quem acredite que o seu estilo mais cortante poderá ajudar a fechar acordos difíceis. Mas tem também muito contra si: ser “mais um Clinton”, não ser nova e ser vista como demasiado “amiga do capital” e demasiado conservadora por um segmento considerável da América. Além disso, não sabe quem vão ser os seus rivais. E nos próximos meses tudo pode acontecer. A coroação está longe de garantida.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA