“Parecia possível acabar com a pobreza e com a desigualdade. Não é possível!”
Maria José Morgado recusa autodefinir-se, mas afirma que é uma burocrata sonhadora. Aos 67 anos, a procuradora distrital da comarca de Lisboa lamenta não ter jeito para ser bon-vivant, dá graças pela “revolução” por que tanto lutou não ter acontecido e não esconde a emoção ao falar do marido, o fiscalista Saldanha Sanches: “De certa forma é pacificador estar ao lado de quem morre.” (...)

“Parecia possível acabar com a pobreza e com a desigualdade. Não é possível!”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Maria José Morgado recusa autodefinir-se, mas afirma que é uma burocrata sonhadora. Aos 67 anos, a procuradora distrital da comarca de Lisboa lamenta não ter jeito para ser bon-vivant, dá graças pela “revolução” por que tanto lutou não ter acontecido e não esconde a emoção ao falar do marido, o fiscalista Saldanha Sanches: “De certa forma é pacificador estar ao lado de quem morre.”
TEXTO: Não romanceia a sua vida e seria fácil fazê-lo. Por pudor, sentido crítico e do ridículo, autovigilância permanente. Vive para o trabalho, para o exercício físico; há os sábados de manhã com os dois netos, de sete e dois anos, os passeios com a mãe, de 95, as férias em Agosto sempre no mesmo sítio. É uma sedentária que odeia ter de partir, viciada na disciplina, e sempre em busca de uma adrenalina que lhe veio dos dias de militância da extrema-esquerda. Maria José Morgado, 67 anos, magistrada, procuradora distrital da comarca de Lisboa, um dos nomes mais activos no combate à corrupção, é também uma ex-revolucionária grata pela revolução não ter acontecido, uma leitora de ficção que gosta muito de ler poesia. Diz que traz uma libertação do mesmo tipo que lhe trouxe a música que ouviu nos clubes de jazz em Nova Iorque onde o marido, o fiscalista José Luís Saldanha Sanches, o “Zé Luís”, a levou. Ele morreu em 2010 e ela continua a falar dele como parte da vida. Conta as viagens, a ida a museus, as conversas e a procura mútua de uma transcendência, do que está para lá do banal. “Lê-se um poema e podemos ficar assim com umas asinhas pequeninas e adormecer melhor. ” E depois há o gosto do nadar monótono, o nadar de piscina, para trás e para a frente. Para fazer 40 piscinas, por exemplo, Maria José Morgado equipa-se com um problema qualquer e vai pensado naquilo enquanto dá braçadas, sem interrupção de telemóveis. “Às vezes chega-se ao fim e descobre-se que o problema nem era assim tão grande e até há uma solução. Os neurónios faziam o seu caminho. Há nisso uma magia qualquer. ”Pouco depois da morte do seu marido, escreveu um texto de despedida e referia um quadro que viram juntos como símbolo de uma busca permanente pelo conhecimento e superação de materialidade. . . Sim, o Império das Luzes, do [René] Magritte. O que teve esse quadro de especial entre tantos que viram juntos?Essas interpretações são tão subjectivas. Para mim é uma obra-prima. O contraste entre luz e escuridão é muito atraente. O quadro é uma noite, mas é uma noite em que há uma luz a surgir por trás. Pode ser uma metáfora do contraste entre algum desespero e alguma esperança, entre as coisas espirituais da vida, as impalpáveis. É empolgante, é bonito. E as circunstâncias em que o vi contam e as recordações tornam tudo mais especial. Foi num fim de tarde em Veneza, no Guggenheim, uma mistura entre a luz do quadro e aquela luz muito prolongada de fim de dia. Havia uma grande languidez no ar. É um quadro bonito de se recordar. Conversaram sobre o quadro?Não. Não falávamos assim sobre quadros. Nenhum de nós era especialista. Ele sabia alguma coisa e gostava, eu gosto à minha maneira. Podíamos ocasionalmente falar deste ou daquele quadro na altura em que víamos. Não foi pela conversa. Foi pelo apego. Na memória escolhem-se momentos e aquele é um momento de que fui à procura mas é também uma construção. É um momento irrepetível. Não foi a última viagem que fizeram juntos. Não, a última foi a Florença, na passagem de ano de 2009 para 2010, já o Zé Luís estava doente e sabia a gravidade da doença. Eram sempre viagens a sítios de arte, uma coisa gratificante, porque passávamos os dias em coisas burocráticas e porventura estúpidas, e a arte e a literatura são sempre libertadoras. Gostávamos muito de viajar para conviver com a arte, era a viagem de libertação dos sentidos, de sonho, de um imaginário longo e real; o mundo que não se pode ter todos os dias, mas do qual se pode trazer um bocadinho na cabeça e aquilo que se pode guardar na cabeça é o mais desafiante. O impalpável, coisas que não se fotografam. Aliás, nunca tirávamos fotografias. A ideia era conseguir recordar, esforçarmo-nos por ter um pensamento sobre a coisa. Acreditávamos que a fotografia matava a ideia. Hoje, se calhar, já não pensaria assim. Se tivesse determinadas fotografias elas iriam avivar-me a memória e ser boas para a recordação. Mas havia sempre um grande desejo de pôr a cabeça a funcionar e assimilar através dos neurónios, do espírito. A ideia da viagem vinha de quem? Do Zé Luís. Eu detesto viagens. A viagem em si, a programação, a deslocação. Sou muito sedentária. O Zé Luís gostava, queria ver uma determinada exposição, por exemplo, e depois tudo girava à volta disso. Ficávamos bem instalados. Só começámos a viajar quando começámos a ter algum dinheiro para poder pagar um hotel confortável. Eram viagens pequenas, três, quatro, cinco dias no máximo. Não era para andar a correr. Era para relaxar, comer bem, dormir bem também. E para sonhar. Já falou aqui muito mais do lado espiritual. . . É o lado mais importante da vida. A que normalmente as pessoas não a associam muito. É natural, sou uma burocrata do Direito, mas que gosta de sonhar e de se libertar sempre que pode. Muitas vezes faço isso sentada à minha secretária e ao computador. Ninguém manda na nossa cabeça e posso imaginar, e imagino, milhões de coisas. Sabe-me bem. E a literatura ajuda, escrever também ajuda. O mundo torna-se menos opressivo para uma pessoa que vive em meios de combate ao crime, como eu vivo desde jovem, na comarca de Lisboa. Quando passeava com o Zé Luís por Lisboa eu contava sempre histórias, “olha aqui, fulano tal matou não sei quem”, “aqui houve um assalto”, e ele dizia-me: “Ó mulher, tu só vês Lisboa através do crime!”. E é verdade?Não sei se ainda é, mas era. Quando eu estava no Tribunal de Instrução Criminal [TIC], os processos chegavam-me com a criminalidade da cidade, e quando passeava lembrava-me, pavlovianamente, das histórias. Entrei para o Ministério Público em 1979 e passei os anos oitenta no TIC e conhecia mais ou menos tudo quanto era criminalidade em Lisboa, os assaltos, as violações, os roubos. Já havia algumas burlas e algum crime económico, mas havia muito crime violento e muitos grupos violentos e organizados. Roubos com violações, por exemplo. Essa fase da minha vida foi muito intensa. Consegue fazer um atlas do crime em Lisboa?Seria pretensioso. A polícia domina melhor isso. Eu fui conhecendo acidentalmente. Mas até era capaz. Porventura [risos]. Pode-se sempre ver a cidade nessa perspectiva. Há zonas de Lisboa ligadas a determinado tipo de criminalidade. Não sou socióloga, sou jurista, mas a geografia do crime em Lisboa foi mudando. Na realidade tudo se reciclou. O crime violento voltou a Lisboa, mas de outra maneira. Agora tem dimensões transnacionais. Com a globalização vieram os grupos de fora e há criminalidade grupal, assaltos a residências, assaltos a transportes de valores. Grupos que vêm de fora e se juntam a locais e coisas que continuam rigorosamente tradicionais, como por exemplo os carteiristas. E a pequena corrupção. Já lhe roubaram a carteira?Sete vezes. Como?Gosto muito de andar em transportes, sou muito distraída. A última vez foi há cinco anos. Não está atenta a sinais?Às vezes estou. A última vez, eram rapazes que andavam num carro a fazer roubo por esticão e eu percebi, “estes gajos andam no esticão”, e a seguir o alvo fui eu, eu que estava a reparar neles!Como reagiu?Fiquei quieta, se resistisse era arrastada e seria perigoso. A seguir fui à esquadra fazer queixa à polícia para evitar o uso fraudulento dos cartões. Para isso é preciso uma prova de como fora assaltada. É o que aconselho que as pessoas façam. Não era acreditar que os autores do roubo fossem identificados. Isso nunca foi possível. Nos milhares de fotografias que me mostraram, não consegui. Não é fácil. Os documentos nunca foram encontrados. Quando foi apresentar queixa os agentes da polícia reconheceram-na?Sim. E riram-se, como eu ri. Ri facilmente de si própria?Sim. Temos de ter sentido de humor. Não me levo a sério, isso seria um sintoma de mediocridade. Ver o mundo através do crime é um filtro normal para si?Sim. É como o ar que respiro. Vejo criminalidade em quase todo o lado, mas também percebe-se que não é exagero. Não há aqui uma espécie de fanatismo ou obsessão. É perceber a vida; há as coisas boas e as coisas más e também há o crime. Disse no início da conversa que acredita no sonho. Foi essa ideia de sonho que a levou a querer fazer “a revolução” e aliar-se à extrema-esquerda quando era muito jovem?Isso sim. Foi uma loucura. Era uma jovem radicalizada. Já falou disso muitas vezes. A esta distância consegue perceber melhor como tudo começou?Nunca se sabe muito bem. É um bocado como disse o Gabriel García Márquez, que a vida não é bem o que se vive, mas o que se recorda e como se recorda para se poder contar. Eu estava na faculdade [de Direito de Lisboa] e o movimento estudantil naquele tempo era muito activo. Pensei, ou estou do lado do fascismo ou do lado da Associação de Estudantes, que era onde estavam os antifascistas. Para si era evidente situar-se politicamente. Nem era politicamente, era socialmente. Estou do lado dos bons ou dos maus? Os fascistas eram os maus, a ditadura, a opressão, a guerra colonial. Os outros eram os que queriam libertar o povo e fazer a revolução. Eu queria a revolução. Para mim não havia dúvidas, era um mundo a preto e branco. Seria mais difícil tomar posição se fosse agora. E corria os riscos que fossem necessários para ir para o lado da revolução. Era a minha luta, ia travá-la. Ainda bem que não fizemos a revolução, porque éramos completamente doidos e só faríamos disparates. Essa consciência só viria anos depois. Sim, mas naquela altura. . . era o tal método marxista-leninista, a luta de classes, a luta de massas, para construir um mundo novo, embora coincidisse também contra a ditadura fascista, contra a guerra colonial e assim estivemos até ao 25 de Abril. Nasceu numa ex-colónia, filha de alguém que pertencera ao lado que combatia. Nasci em Angola e o meu pai era um representante da opressão colonial, era do quadro administrativo e circulávamos pelo interior de Angola de acordo com os postos que ele ocupava. Vivia no mato e era uma vida desenraizada. Mais ou menos de cinco em cinco anos tínhamos de mudar. Quando eu gostava muito de estar num sítio e tinha feito amigos, largávamos tudo e íamos embora. Isso marcou-me muito e daí, talvez, a minha alergia a viagens. Viajar parece que é sempre uma separação. É deixar, nunca mais ver. Eu sofria com isso. Deixar de ver os meus amigos com quem eu brincava. E tinha então consciência de que o seu pai — para seguir a sua linguagem — estava do lado dos maus?Tive consciência de que se exercia opressão sobre os negros. Nas roças de café havia, no fundo, trabalho escravo, pessoas que vinham do Sul de Angola e eram exploradas. Eu percebia que havia uma população pobre, que era oprimida e isso causava-me infelicidade. Eu não gostava. A sua ideia de injustiça, ou de fazer justiça, surge daí?Mais uma vez sinto que nunca sabemos bem como. O meu pai era uma pessoa justa dentro da missão dele. Quando chegava construía uma escola e uma igreja, por exemplo, mas representava a administração colonial e para ele isso não tinha problema, era a profissão dele e não cometia barbaridades. Só que aquele mundo era deprimente. Havia os miúdos ricos, com grandes casas, e os meninos que andavam descalços e não tinham bonecos. O seu mundo era o dos ricos. Era e isso fazia-me um bocado de impressão. Quando vim para Portugal, fui para Trás-os-Montes e lá era a mesma coisa. Antes do 25 de Abril as crianças andavam descalças, havia uma taxa de mortalidade infantil horrível. A ideia de pobreza permaneceu, continuava à minha frente. E mais uma vez estava do lado dos privilegiados. Sim, e eu sentia-me um bocado culpada por isso. E procurava, se calhar, diminuir a minha culpa dando coisas aos meninos que eu achava que não tinham nada, chamando-os para minha casa para brincar. A pobreza, estar por baixo na escala social, não ter nada, sempre me fez impressão; viver em casas com frio e chuva, essas coisas que eu senti muito. Quando cheguei à faculdade, vi ali um terreno fértil para aderir àquelas ideias maoistas e marxistas-leninistas; as ideias revolucionárias. Parecia possível acabar com a pobreza e com a desigualdade. Não é possível!Como é que o seu pai reagiu?Teve as suas dificuldades. Ele era muito conservador. A minha mãe reagiu muito bem, sempre teve um espírito um bocado revolucionário, muito à esquerda. Com o apoio dela, o meu pai lá foi aguentando. A pior altura foi quando fui presa. Uma miúda com 19 anos ser presa pela PIDE era uma coisa para a qual a família não estava preparada, ainda mais uma família conservadora. Nessa altura da prisão já tinha uma relação com José Luís Saldanha Sanches, uma espécie de herói estudantil. Já o tinha conhecido. Foi na Faculdade de Direito, nessas militâncias. Era a segunda vez que ele estava preso. Nessa altura estivemos presos ao mesmo tempo. A história já foi muitas vezes contada. Sofreram tortura, estavam dispostos a morrer, e depois do 25 de Abril ele foi o primeiro a abandonar o “sonho”. Começámos a achar aquilo tudo um bocado caricato [o MRPP], e atrás do caricato começámos a ter uma posição muito crítica em relação ao marxismo-leninismo, ao maoísmo. O facto de eu ter estado presa pela segunda vez, então pelo COPCON, depois do 25 de Abril, ajudou-nos a perceber que aquilo não era nenhuma maneira de mudar o mundo, e entrei em grandes pessimismos. Mas lá está, eu nunca conseguia cortar. Porquê?Porque a separação, para mim, é um trauma. Prefiro sofrer a ter uma separação. Ia falando com o Zé Luís, tínhamos a mesma interpretação das coisas, a mesma descrença, e um dia ele chega a casa e diz: “Não volto mais. ” Fiquei aterrada. Pensei que ele iria dormir e quando acordasse tudo ficaria na mesma. No dia seguinte mantinha-se irredutível e tive de decidir. Se saísse receava que as pessoas dissessem que eu ia sair só por servilismo feminino, por dependência em relação a ele, por não ser capaz de pensar sozinha. Mas o curioso é que eu tinha posições muito mais críticas em relação ao que se passava do que ele. Eu sabia que não podia voltar embora tivesse um grande desgosto. Não voltei. Os primeiros meses foram horríveis. Nessa altura começámos a correr. Todos os dias nos levantávamos e corríamos quilómetros. Estávamos viciados na adrenalina da revolução que nunca iríamos fazer, era até uma ideia ridícula, mas aquilo produzia adrenalina. Andar de um lado para o outro, distribuir comunicados, fazer comunicações, pinturas. . . E de repente o vazio. Vazio e ressaca. Essa ressaca tinha de ser combatida. Fisicamente e intelectualmente. Fisicamente, com exercício físico intenso. E intelectualmente lendo e estudando muito, regressando à faculdade. Foi o regresso a uma normalidade. Que não era até então a vossa normalidade. Não. E tínhamos cortado com o mundo normal, as pessoas todas contra nós. Aquele estilo de intervenção pública tão radical afastava-nos das pessoas normais. Depois foi ler o jornal ao sábado de manhã, ter horários, ganhar a vidinha. Foi uma grande ressaca. É quando nasce a Laura [a filha de ambos]. Ela é produto do 25 de Abril e do refluxo revolucionário. Aliás, a cada 25 de Abril digo sempre, “Olha, Laura. . . ”. E ela: “Já sei, se não fosse o 25 de Abril eu não existia porque o pai estava preso. ”O que ficou do tempo revolucionário na sua vida normal?Inevitavelmente sou produto disso. Eu era muito miúda. Lembro-me que no processo da PIDE a única atenuante que eu tinha era ser menor de 21 anos. Mas ficou um sentido de ética, de responsabilidade, de disciplina, cumprir com o que se espera de nós. Mas eu se calhar já era assim antes. Não sei. Não vale a pena estar a romancear muito a coisa. Aliás, parece que romanceia pouco a sua vida. Acho que fazê-lo é ridículo. É por discrição?Há quem ache que eu não sou discreta! A noção associada à discrição é errada. As pessoas acham que a discrição é não se intervir publicamente. Mas pode-se intervir publicamente e ser-se discreta, porque a discrição é uma atitude de humildade, de compreensão para com o outro e de assumir a sua responsabilidade humildemente. Isso é que é discrição. Discrição não é andar com burca, nem não gostar de declarações. Isso é uma deturpação esmagadora para a personalidade de quem é magistrado. O magistrado tem uma liberdade de expressão limitada e o meu limite é a minha deontologia profissional, é a minha neutralidade pública. Os comentários que faço publicamente sempre são de índole criminológica. Como sempre que se pronunciou sobre a corrupção em Portugal?Sim. Mas não posso tomar posição sobre o processo. Mas posso tomar posições públicas por valores de transparência, integridade e honestidade, e contra a corrupção. Isso, o magistrado pode e deve fazer. E com isso tornou-se uma figura pública. Quando fui presa antes do 25 de Abril, o meu nome andou nos jornais. As pessoas não se lembram. Mas de facto a televisão muda as coisas. E ao seu nome passou a associar-se um rosto. Com o surgimento das privadas, com os primeiros julgamentos acompanhados. Nos anos 90, as televisões entraram de rompante no Tribunal da Boa Hora. Apareceram algumas imagens a propósito do caso Melancia, a seguir foi a história da Polícia Judiciária, e uma fase de intervenção pública de denúncia de corrupção entre 2003 e 2006. Encaro estas coisas como uma tomada de posição pública; explicar que a corrupção fazia muito mal ao país. Agora as pessoas já percebem. Na altura achavam que era alguma "justicialite" minha. Infelizmente, a vida até me deu razão. As pessoas acabaram por ter noção do que era a corrupção, mas não foi por minha causa. Foi à custa do resgate, da pobreza, e de repente toda a gente descobriu como é que os nossos impostos foram gastos nos últimos 20 anos. Não quero dar lições a ninguém, sou uma simples magistrada, posso reformar-me a qualquer momento. Tenho 67 anos, penso que já preencho os requisitos e tenho o distanciamento próprio de quem a qualquer momento pode sair. Com encara esse momento?É mais uma separação que não quero encarar. Sabe que vai ser doloroso. Certamente. Eu aguento. Mas já sei que me vai custar porque não sei fazer mais nada, mas vou aprender. Há muita coisa para fazer. Distanciou-se completamente da política. Não sente nenhum tipo de apelo?Tenho até uma certa alergia à política. Nos meus tempos de militância partidária antes do 25 de Abril o Zé Luís ria-se de mim quando eu intervinha. Dizia que eu não tinha jeito nenhum e quando abria a boca punha toda a gente aos gritos contra mim. Não tinha jeito nem vocação e não quero e nunca quis. Não há aqui nenhuma confusão. A princípio houve pessoas que pensavam que a minha intervenção no combate à corrupção era feita com uma reserva mental política. Agora têm certeza de que não. Não é coisa que me interesse. Nem sequer seguir. Tenho de estar informada, de conhecer o mundo, mas só isso. Como se posiciona no espectro político?No país, perdeu um bocado o sentido ser de esquerda ou ser de direita. Acho que se calhar tem mais sentido ser honesto, defender interesses de transparência e de integridade que às vezes não têm a ver com ser de esquerda ou ser de direita. Há gente de esquerda que não tem princípios de integridade e transparência e há gente de direita que tem. Afirmou que teve receio de que a pudessem acusar de seguidismo feminino quando decidiu sair do MRPP depois do seu marido. Como vê os argumentos do chamado actual movimento feminista?Por experiência própria, sou contra radicalismos e o feminismo radicalista leva à prática de erros que podem ser graves. Até muitas vezes à destruição da família. A família é para si uma estrutura importante. É. Gosto muito da família, por pequenina que seja, como é a minha. Profissionalmente, por exemplo, no âmbito de um processo em que estejam em causa decisões que põem em causa a família ou podem reforçar os laços familiares, é preferível sempre escolher aqueles que possam reforçar os laços familiares, ainda que muitas vezes seja a decisão mais difícil. As pessoas precisam da família, e o feminismo às vezes esquece esse lado, que a família tem homens e mulheres. Se o feminismo é uma guerra de sexos é mau. O facto de ser uma mulher prejudicou-a na carreira?Não, sempre fui beneficiada por ser mulher. Em que sentido?Ter melhor tratamento. Senti muitas vezes. E a magistratura está transformada numa profissão feminina, praticamente. Entra num tribunal e só vê juízas, procuradoras. . . O que explica isso?Acho que são razões culturais, sociológicas. Dizem quem nas faculdades de Direito as mulheres são mais marronas do que os homens, têm melhores notas e conseguem entrar melhor na magistratura. Mas não estudo estes fenómenos sociais. Era marrona?Muito, muito. Ainda hoje, quando tenho de saber uma coisa, quero estar segura de que não falha nada. É uma teimosia. Quando estudava queria sempre ter as melhores notas e estudava imenso, também gosto de trabalhar muito. É uma maneira de ser radical no que faço. E ter metas, ir esticando metas. Tenho um grande desgosto de no exercício físico já não estar em condições de quebrar metas. Como é que posso, com 67 anos?! Gostava de correr mais do que os outros, nadar mais do que os outros. Tenho o bichinho da competição, no bom sentido, porque é com o meu esforço, não é com truques nem para tramar ninguém. É apenas o desejo de perfeição que nunca se atinge. Mas acho que estou velha. Envelhecer chateia-a?Às vezes penso até quando é que vou conseguir aguentar aquelas cargas [pesos no ginásio]. Preocupa-me mais a decadência do corpo do que a da cabeça, porque acho que a decadência da mente vem atrás da do corpo. Se conseguimos aguentar o corpo também aguentamos a cabeça. É uma mania. E leio, vou ao cinema. . . se tiver tempo. O problema é que tenho muito pouco tempo. Uma das coisas que tenciono fazer depois de me reformar é ler muitos livros que foram ficando para trás. Passo o dia a ler, mas as coisas da profissão. O que gosta de ler?Gosto de literatura. A literatura é libertadora. Os clássicos. Na literatura está tudo. Também está a justiça. Há um livro a que volto muito, Ressurreição, do Tolstoi. É um livro sobre a corrupção nos tribunais, há ali um nobre que se rebela contra isso para salvar uma mulher de uma sentença injusta. É um livro actualíssimo. Gosto muito de ler os mesmos livros várias vezes, sou um bocado como as crianças, porque de cada vez que leio o livro é diferente. A investigação criminal dá adrenalina?Dá. Não dormir, não comer. Tudo o que seja um empenho empolgante, para lá das nossas forças, dá adrenalina. E essa adrenalina torna-nos melhores. O que sente quando resolve um caso?Resolver um caso é chegar a uma conclusão satisfatória acerca daquilo que aparenta ser a verdade. A verdade na justiça é uma verdade limitada às provas. Não é uma verdade formal. É uma verdade material. Há todo um trabalho que é preciso fazer e a justiça deve ser muito avara nos seus métodos porque tem de tratar toda a gente da mesma maneira. E trata?Às vezes, para tratar da mesma maneira é preciso fazer um tratamento diferenciado. Um caso de corrupção de um titular de cargo político é diferente de um caso de um carteirista. Para chegar a resultados temos de utilizar métodos diferentes. Há casos com exigências muito sensíveis. Penso que está ultrapassada a ideia de que a justiça só funciona para uns. Nos últimos cinco anos tem havido resultados. Não vamos instaurar processos por razões políticas, ou para mostrar que somos firmes e não temos medo, mas por haver suspeitas. As pessoas percebem pelo menos que a justiça não tem medo dos poderosos. Se houver fundamento para instaurar um processo, tanto se instaura a A, a B ou a C. Se há ou não capacidade de levar esse processo até ao fim. . . depende. Das provas, de muitas coisas. Já pensou intimamente “fez-se justiça”?Acho que somos um bocado como os médicos, queremos ter a certeza de que o resultado de um processo é um resultado justo. Não queremos condenar inocentes. Estamos a funcionar num registo que corresponde à realidade, mas a realidade também é caprichosa e temos de ter sempre cuidado em ser sempre auto-vigilantes. A grande questão é a independência, a autonomia, não ser influenciável. Haver uma certeza no juízo fundado em meios de prova, por muito difíceis que sejam, e não em meras opiniões. Já a tentaram influenciar?Se tentaram não dei conta. O que me preocupa é fazer bem o meu trabalho e ser auto-vigilante. É a minha consciência. Partindo disso, não tenho medo que me tentem influenciar, até porque sou muito teimosa e coitado de quem tentasse. Chamam-lhe muitas vezes justiceira e sei que não gosta. O que é ser justo e ser justiceiro?O justiceiro é um fanático que não vai nunca conseguir ser justo porque não distingue a verdade da mentira. Uma pessoa justa tem de distinguir a verdade da mentira, a culpa da inocência, a maldade da bondade ou até a fragilidade e a fraqueza da maldade intencional. Consegue comover-se com o trabalho?Devemos comover-nos. A comoção é o que nos liga à vida. Se estamos a falar de um crime de homicídio, a comoção é em função da tragédia e não de quem privou um ser humano da vida. Aí temos de ser firmes, mas a firmeza também é uma forma de comoção. Tem rotinas muito fixas. Tenho necessidade disso. Fico perdida se perco as rotinas. O Zé Luís precisava das rotinas para ter disciplina porque tinha tendências para a indisciplina. A Maria José não tem?Eu não. O meu vício é a disciplina. A disciplina, para ele, era uma forma de manter ritmos de trabalho e não ser diletante. Ele era muito diletante. Ele tinha um lado de bon vivant que a Maria José nunca teve. Não tenho e é uma pena. Gostava, mas não tenho jeito nenhum. Nessas circunstâncias nunca sei o que devo fazer comigo. Deixou de sair. Deixei. Saio para trabalhar, para ir ao ginásio, para ir de férias. . . Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sempre no mesmo sítio. Sempre. Fiz recentemente uma pequena viagem com a minha filha, o meu genro e os dois netos. Foi a primeira que fiz sem o Zé Luís e foi muito gratificante [há uma pausa, não contém as lágrimas]. É duro. Ainda é muito duro. . . É uma parte de mim que foi e faz muita falta. Esteve com ele até ao fim. Sim. De alguma forma é pacificador estar ao lado de quem morre. Pacifica-nos muito para o resto da vida, estar ali. Não há revolta nenhuma, é uma reconciliação com a vida e a morte, a morte faz parte da vida. E a morte é mesmo o fim. É que é mesmo o fim. É das poucas certezas que tem?É uma certeza enorme. Ao percorrer os corredores daquele hospital [Santa Maria] saí com essa certeza, uma certeza física, que nunca mais nos deixa. A morte é das coisas mais racionais na vida e ganha uma racionalidade muito grande quando a presenciamos. Tem um caminho e a certa altura a gente percebe que só aquilo pode acontecer. É o desfecho inevitável, tem uma lógica terrível. É brutal mas essa lógica está lá.
REFERÊNCIAS:
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Italiano Alessandro Gatto volta a vencer PortoCartoon
Concurso do Museu Nacional da Imprensa teve, pela primeira vez, uma mulher distinguida. (...)

Italiano Alessandro Gatto volta a vencer PortoCartoon
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.15
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Concurso do Museu Nacional da Imprensa teve, pela primeira vez, uma mulher distinguida.
TEXTO: O italiano Alessandro Gatto venceu o grande prémio do 17. º PortoCartoon, organizado pelo Museu Nacional da Imprensa (MNI), no Porto, num evento que se estreia na atribuição de um prémio a uma mulher. Na conferência de imprensa para o anúncio dos premiados deste ano, em que a competição esteve subordinada ao tema A Luz, o director do museu, Luís Humberto Marcos, lembrou esta segunda-feira que Alessandro Gatto já havia vencido o galardão há três anos – agora transformado em escultura na Praça de Lisboa, na Baixa da cidade – e salientou ser "muito honroso" para a instituição ver o trabalho Window (janela, em inglês) distinguido. O segundo prémio do concurso foi atribuído a Safe Light (luz segura, em inglês), da polaca Izabela Kowalska-Wieczorek, a primeira mulher a ser premiada no PortoCartoon, enquanto o terceiro prémio foi para o russo Andrei Popov por Lantern (lampião, em inglês). Nas categorias especiais dedicadas ao futebolista Cristiano Ronaldo e ao escrito Ernest Hemingway, foram premiados, respectivamente, o polaco Krzysztof Grondziel e o brasileiro Dalcio Machado. "Em apreciação estiveram cerca de 1. 700 obras, de quase 500 artistas, oriundas de todos os continentes. Portugal é o país com mais participação: com 154 trabalhos, de 62 cartoonistas. Seguem-se o Irão (152), Roménia (121), Turquia (101), Sérvia (82), Brasil e Rússia (ambos com 57), Ucrânia (53) e Polónia (45)", referiu o MNI em comunicado. O júri da edição deste ano foi composto pelo professor universitário e designer Andrew Howard, pelo presidente da Federação de Organizações de Cartoonistas, Bernard Bouton, por Luís Humberto Marcos, pelo representante da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Luís Mendonça, pelo encenador Roberto Merino e pelo fundador do Museu de Humor de Fene, Xaquín Marín, com o cartoonista do Charlie Hebdo Georges Wolinski, assassinado no começo deste ano em Paris, como presidente honorário. Na conferência de imprensa, Andrew Howard estabeleceu a relação entre o humor e a filosofia, que partilham a mesma missão: "Descrever o mundo para que possamos compreendê-lo melhor". Os trabalhos premiados vão ser expostos no MNI no próximo mês de Junho.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher
Svetlana Alexievich é o Prémio Nobel da Literatura 2015
O mais importante prémio literário foi atribuído à jornalista e escritora bielorrussa "pela sua escrita polifónica, memorial ao sofrimento e à coragem na nossa época". (...)

Svetlana Alexievich é o Prémio Nobel da Literatura 2015
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: O mais importante prémio literário foi atribuído à jornalista e escritora bielorrussa "pela sua escrita polifónica, memorial ao sofrimento e à coragem na nossa época".
TEXTO: Autora de obras fundamentais para se perceber quer a sociedade soviética, quer o mundo que emergiu do colapso da URSS, Svetlana Alexievich é o 112. º escritor (e apenas a 14. ª mulher) a receber a mais importante distinção literária a nível mundial, que só uma vez foi atribuída a um autor português, José Saramago, premiado em 1998. Sara Danius, secretária permanente da Academia (a ensaísta sueca sucedeu a Peter Englund em Junho e tornou-se a primeira mulher a exercer o cargo), destacou a “obra polifónica” de Alexievich, que descreveu como “um memorial ao sofrimento e à coragem na nossa época". A escritora bielorrussa inventou “um novo género literário”, disse ainda Danius, considerando que a premiada faz a fusão entre literatura e jornalismo e “criou uma história das emoções, uma história da alma”. À televisão pública sueca SVT Sara Danius revelou que acabara de falar com a jornalista e escritora bielorrussa e que ela apenas dissera uma palavra: “Fantástico!” Svetlana Alexievich era apontada como favorita ao prémio pelas principais casas de apostas, que por uma vez acertaram na mouche. Outros autores bem colocados nas apostas eram o japonês Haruki Murakami ou os norte-americanos Philip Roth e Joyce Carol Oates, todos eles candidatos recorrentes, como o português António Lobo Antunes. Nascida em 1948 em Ivano-Frankivsk (então Stanislav), na Ucrânia, Alexievich é fiha de pai bielorrusso e mãe ucraniana, ambos professores, e ela própria se dividiu durante algum tempo entre a docência e o jornalismo. É autora de uma obra que procura mostrar o mundo e historiar o passado recente, dando literalmente voz àqueles que viveram os acontecimentos que aborda. Seja como ficcionista no seu livro de estreia de 1985 sobre as mulheres na II Guerra, War's Unwomanly Face na tradução inglesa, ou como jornalista em Voices from Chernobyl: The Oral History of a Nuclear Disaster, de 1997, o ponto de partida é sempre ouvir os (as) sobreviventes e permitir que a sua voz chegue intacta à versão final do livro. Já este ano foi editado pela Porto Editora o seu título mais recente, O Fim do Homem Soviético – Um Tempo de Desencanto, originalmente publicado em 2012, e que lhe valeu no ano seguinte o Prémio Médicis de Ensaio, tendo ainda sido considerado o melhor livro do ano pela revista literária francesa Lire. É a sua única obra disponível em português até ao momento, mas a editora portuguesa Elsinore já anunciou que irá publicar Vozes de Chernobyl (título ainda provisório) em 2016, assinalando os 30 anos do desastre nuclear, que ocorreu em Abril de 1986 naquela que é hoje uma cidade-fantasma ucraniana, perto da fronteira com a Bielorrússia. O livro foi já adaptado ao cinema pelo realizador Pol Crutchen, num filme com estreia prevista para 2016. A autora abre a introdução a O Fim do Homem Soviético, intitulada Notas de uma cúmplice, com esta promessa: "Despedimo-nos dos tempos soviéticos. Dessa nossa vida. Tentarei escutar honestamente todos os participantes do drama socialista…” Defendendo que “o comunismo tinha um plano louco – transformar o ‘homem antigo’”, Alexievich acrescenta que esse terá sido talvez o único objectivo que foi mesmo cumprido: “Em pouco mais de setenta anos, no laboratório do marxismo-leninismo criou-se um tipo humano especial – o Homo sovieticus. ” E termina o seu texto com uma constatação e uma pergunta: “Encontrei nas ruas jovens com a foice e o martelo e o retrato de Lenine nas camisolas. Saberão eles o que é o comunismo?”Dando voz a centenas de cidadãos deste mundo pós-soviético, muitos deles desiludidos com o desmoronamento da URSS e ansiando por um novo Estaline, Svetlana Alexievich mostra-nos como essa histórica abertura promovida por Gorbatchov, que levou à queda do Muro de Berlim, é hoje vista por muitos russos como o gesto que desencadeou a catástrofe. A autora está traduzida em 22 línguas, algumas das suas obras foram adaptadas a peças de teatro e há mais de 20 documentários com argumentos baseados nos seus livros. Alexievich recebeu, entre outras distinções, o Erich Maria Remarque Peace Prize, em 2001, e o National Book Critics Circle Award, em 2006. Svetlana Alexievich estudou na Universidade de Minsk entre 1967 e 1972, foi professora e trabalhou vários anos como professora e jornalista até publicar a sua primeira obra, War's Unwomanly Face (1985), a que se seguiram (citam-se os títulos das edições inglesas) livros como The Last Witnesses: the Book of Unchildlike Stories, baseado nas memórias de pessoas que testemunharam a II Guerra quando tinham entre 7 e 12 anos, ou Zinky Boys, cujo título alude aos cerca de 50 mil soldados russos mortos na guerra do Afeganistão que regressaram a casa em caixões de zinco. Na lógica dos seus outros livros, Zinky Boys não é um ensaio sobre a política soviética que conduziu à invasão do Afeganistão, mas um livro que dá voz aos que sofreram com a guerra: militares de diversas patentes, mães de soldados mortos, enfermeiras, até prostitutas. Andrei Zorin, professor de Russo na Universidade de Oxford, afirmou ao jornal Financial Times que “a atribuição do Nobel a Svetlana Alexievich é uma forte tomada de posição moral e literária, que defende os valores da vida humana em tempos de militarismo triunfante, e a dignidade pessoal dos que enfrentam ditaduras arrogantes”. Publicado nas vésperas da perestroika de Gorbatchov, The War’s Unwomanly Face (traduzível por "A Guerra NãoTem Rosto de Mulher") vendeu mais de dois milhões de exemplares, mas Alexievich acabou em tribunal e, embora não tenha sido condenada, a persistente perseguição das autoridades bielorrussas levou-a a escolher o exílio. Viveu em Paris, Estocolmo e Berlim, e só regressou a Minsk, capital da Bielorrússia, em 2011. Mas os editores do seu país continuam a não a publicar. “Fazem de conta que eu não existo”, disse esta quinta-feira a escritora, numa conferência de imprensa convocada após a atribuição do Nobel. O prémio não chega em boa altura para o Presidente, Alexander Lukashenko, que será provavelmente reeleito nas eleições deste domingo, já que Svetlana Alexievich é uma declarada opositora do seu regime. A autora explicou que não iria votar, mas que, se o fizesse, escolheria a candidata da oposição Titiana Karatkevich. “Não sou uma pessoa de barricadas, mas estes tempos forçam-nos a isso, porque o que se está a passar é vergonhoso”, disse a jornalista, numa referência à situação política do país, onde muitos temem a crescente influência russa. O Nobel da Literatura, que tinha sido atribuído no ano passado ao escritor francês Patrick Modiano, tem um valor pecuniário de oito milhões de coroas suecas (cerca de 877 mil euros). Em 2012, a Academia reduziu o prémio de dez milhões de coroas suecas (cerca de um milhão de euros) para o seu valor actual. Este é o quarto prémio atribuído pela Academia Sueca este ano depois do Nobel da Medicina (William Campbell e Satoshi Omura), da Física (Takaaki Kajita e Arthur McDonald, ) e da Química (Tomas Lindahl, Paul Modrich e Aziz Sancar). Nesta sexta-feira será atribuído o Prémio Nobel da Paz pelo Comité Nobel Norueguês.
REFERÊNCIAS:
Realizadores de Brave – Indomável e Enchanted em Portugal no festival THU
Quarta edição do Festival Trojan Horse was a Unicorn junta pintores, ilustradores e artistas digitais em Setembro em Tróia. (...)

Realizadores de Brave – Indomável e Enchanted em Portugal no festival THU
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.4
DATA: 2016-05-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20160531194747/http://publico.pt/1732933
SUMÁRIO: Quarta edição do Festival Trojan Horse was a Unicorn junta pintores, ilustradores e artistas digitais em Setembro em Tróia.
TEXTO: A quarta edição do Festival Trojan Horse was a Unicorn (THU) tem a particularidade de ter esgotado mesmo antes de serem conhecidos os nomes dos conferencistas e autores deste ano – mas já há nomes a acumular-se e dois novos realizadores juntam-se ao rol: Brenda Chapman, vencedora de um Óscar por Brave – Indomável (2012), e Kevin Lima, realizador premiado de Uma História de Encantar (2007) ou Tarzan (1999). Entre 19 e 24 de Setembro estes serão dois dos 54 peritos, artistas consagrados, gente do cinema, dos jogos, da animação ou da concept art que se juntam em Tróia na presença de cerca de 600 participantes de várias nacionalidades. Só restam ingressos para assistir aos conteúdos ao vivo ou especiais do festival através da THU TV, informa a organização, que confirma ao PÚBLICO a presença de Chapman e Kevin Lima. O casal de realizadores e animadores, que trabalharam juntos em filmes já clássicos da Disney como A Pequena Sereia ou A Bela e o Monstro, vai estar presente ao longo dos cinco dias do festival. Participando nos vários formatos de formação ou tutorial do THU ou em regime de conferência sobre as suas carreiras – ela ajudou a fundar os estúdio de Animação da DreamWorks, foi a primeira mulher a realizar um filme de animação para um grande estúdio com O Príncipe do Egipto (com Steve Hickner) e ganhou um Annie pela história de O Rei Leão, além do BAFTA e do Globo de Ouro para Brave, já na Pixar; ele tem um prémio da Guilda de Realizadores por Eloise at Christmastime (2003), além de filmes de acção real como Enchanted – Uma História de Encantar, com Amy Adams e Susan Sarandon, ou 102 Dálmatas. THU: Eles desenham os filmes e jogos que devoramos mas nós não sabemosDepois da indefinição em torno do futuro do evento em Portugal, solucionada com intervenção do Ministério da Economia e o apoio da autarquia de Setúbal, o programa deste ano firmou-se na sua casa de origem, Tróia, e tem vindo a ser divulgado nas redes sociais. Com o objectivo de ser um evento que ajuda os participantes a pôr em prática projectos, vai reunir gigantes da indústria como a Industrial Light and Magic ou a Disney numa feira de recrutamento, e trazer nomes como o do desenhador de criaturas e director de arte Mark 'Crash' McCreery (Eduardo Mãos de Tesoura, o rosto do Penguin de Batman Returns ou Mundo Jurássico) ou o pintor e fotógrafo Phil Hale – autor do retrato oficial de Tony Blair mas também ilustrador de Stephen King, entre muitos outros projectos. Há ainda o artista de storyboard Ryan Woodward (O Gigante de Ferro, Homem-Aranha 2 e 3, Homem de Ferro 2, Os Vingadores) ou David Lesperance, artista digital em jogos como Mortal Kombat DC ou Tony Hawk Ride. A ilustradora Claire Wendling trabalhou com Disney, a Warner ou a DC Comics e fez várias capas para comics da Marvel – nomeadamente a dos números da série especial Avengers Fairy Tales escritos por C. B. Cebulski e desenhados pelos portugueses Ricardo Tércio e Nuno Plati. Os bilhetes para os cinco dias do evento custam 600 euros (mais IVA) e estão esgotados desde Janeiro. A maior parte dos participantes vem de países como Alemanha, EUA, Polónia e Inglaterra; os portugueses estarão em minoria.
REFERÊNCIAS:
Iranianas atacadas com ácido num país onde os direitos humanos não param de piorar
Desde que Rohani foi eleito, houve pelo menos 852 execuções no Irão, denuncia a ONU, que diz que o Presidente se mostra incapaz de cumprir as suas promessas de reformas. Lei de “apoio aos que fazem a promoção da virtude e combatem o vício” prestes a ser aprovada. (...)

Iranianas atacadas com ácido num país onde os direitos humanos não param de piorar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.2
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desde que Rohani foi eleito, houve pelo menos 852 execuções no Irão, denuncia a ONU, que diz que o Presidente se mostra incapaz de cumprir as suas promessas de reformas. Lei de “apoio aos que fazem a promoção da virtude e combatem o vício” prestes a ser aprovada.
TEXTO: Ácido lançado contra o rosto e o corpo de mulheres, uma mulher executada por matar o homem que acusava de a ter tentado violar, um aumento alarmante no número de condenações à morte e execuções. A lista podia continuar. O redactor da ONU para o Irão, chocado com a execução de Reyhaneh Jabbari, de 26 anos, avisa que os direitos humanos, em especial os das mulheres, estão a piorar no Irão. Há relatos divergentes sobre os ataques com ácido que deixaram um número indeterminado de mulheres gravemente queimadas e cegas – e é frequente haver mais do que uma versão na República Islâmica. O ponto comum é que todos ocorreram na cidade de Isfahan, a capital cultural do país e destino turístico, apesar de terem surgido nas redes sociais rumores que lançaram o pânico em Teerão, Tabriz ou Yazd. A socióloga iraniana Mahnaz Shirali escreve no jornal Le Monde que, “desde 15 de Outubro, mais de 15 mulheres foram atacadas com ácido por motards em pleno centro da cidade de Isfahan, quando seguiam ao volante dos seus carros”. Segundo o diário Los Angeles Times, “pelo menos oito ou nove ataques aconteceram nas últimas semanas”. Já o Governo e a Justiça limitam a quatro o número e garantem que o último ocorreu a 15 de Outubro. “Trata-se de um acto desumano, ilegal, violento e contrário ao islão. Os responsáveis irão sofrer a mais dura punição”, afirmou o procurador-geral, Gholam-Hossein Mohseni-Eje’i. Houve protestos a denunciar os ataques em várias cidades, incluindo Teerão. “Onde está o olho da minha irmã”, gritaram alguns manifestantes na baixa da capital. Como acontece sempre desde os protestos que se seguiram às eleições de 2009, os maiores de sempre depois da Revolução Islâmica (1979), os manifestantes não ultrapassavam as dezenas e não resistiram à polícia que os confrontou. Mesmo assim, houve detidos em Teerão. Alguns liberais e reformistas acreditam que as autoridades ajudaram a promover estes ataques por causa de uma lei que em breve será aprovada no Parlamento e que prevê protecção para os cidadãos que decidirem agir para fazer cumprir as normais sociais em vigor, podendo apenas, em princípio, “aconselhar verbalmente” as incumpridoras. As autoridades judiciais desmentem que as vítimas não respeitassem o código de vestuário que obriga as mulheres a cobrir o cabelo e Mohseni-Eje’i avisou “os grupos contra-revolucionários” e certos “sites e media que fazem provocações”, ligando estes ataques à lei intitulada “apoio aos que fazem a promoção da virtude e combatem o vício”. Promessas por cumprir“Não podemos ouvir todas as palavras pouco exactas que visam perturbar a opinião pública acusando injustamente pessoas ou grupos", afirmou também o Presidente, Hassan Rohani, eleito em Junho do ano passado com o apoio de muitos jovens que querem ver reformas no país. “As pessoas não podem ter nenhuma dúvida. O Governo fará tudo para deter e entregar à justiça os responsáveis por estes crimes”, disse Rohani. É difícil ler as descrições sem que venham à memória os ataques dos bassidji (voluntários islamistas) contra os manifestantes que saíram à rua depois de umas eleições que consideraram fraudulentas, quando Mohamed Ahmadinejad foi reeleito contra os reformistas Mir-Hossein Moussavi e Mehdi Karoubi, em prisão domiciliária desde 2011. É que muitos vídeos destes protestos mostravam bassidji a perseguirem pessoas ao volante de motas. O responsável da ONU para o Irão, Ahmed Shaheed, acaba de denunciar que os direitos humanos no país não pararam de se deteriorar desde a chegada do poder de Rohani. Com pelo menos 852 execuções nos últimos 15 meses, incluindo “uma pessoa executada por ter feito uma doação a uma organização estrangeira”, Shaheed afirma-se especialmente chocado com a execução de Reyhaneh Jabbari, que apunhalou o homem que a tentava violar, um antigo empregado do Ministério da Informação. Rohani, diz Shaheed (que tem o cargo desde 2011 e nunca foi autorizado a entrar no país), “é incapaz de resolver este problema e de respeitar as suas promessas”. O problema pode ser mesmo esse – num país onde a figura mais importante é o guia supremo, ayatollah Ali Khamenei, e as instituições mais fortes são constituídas por religiosos, Rohani (ele próprio um religioso) não tem qualquer poder sobre o aparelho judiciário. Violência “intolerável”Shaheed conseguiu entrevistar 400 iranianas, um terço destas a viver no Irão (incluindo algumas detidas), e denuncia que há meninas de nove anos a casarem-se, que as solteiras enfrentam muitas dificuldades em encontrar trabalho e que uma mulher que tente divorciar-se por ser vítima de violência doméstica tem de provar que esta violência é “intolerável”.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Na Amadora, a BD salta para o ecrã e a tradição do papel ainda é o que era
25 anos de Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora têm como convidados Batman e Mafalda, mas é o presente e o futuro da arte que está no centro do evento que começa esta sexta-feira. (...)

Na Amadora, a BD salta para o ecrã e a tradição do papel ainda é o que era
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: 25 anos de Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora têm como convidados Batman e Mafalda, mas é o presente e o futuro da arte que está no centro do evento que começa esta sexta-feira.
TEXTO: Uma revoada de morcegos levanta-se enquanto um Surfista Prateado desliza paredes meias com um Passos Coelho bronzeadíssimo sobre uma toalha de praia que é, afinal Portugal. Não é qualquer vinheta que reúne Batman, cartoon satírico e o melhor da banda-desenhada portuguesa e internacional, com festas de anos e tudo. O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (AmadoraBD) é, neste seu 25. º ano, uma espécie de álbum que se atira a uma galáxia nada distante: aquela onde podemos ver o presente-futuro da BD, tecnologicamente influenciada, criativamente libertada. O Fórum Luís de Camões, na Amadora, recebe até 9 de Novembro autores e leitores para uma festa de 25 anos que coincide com os 50 anos de Mafalda, de seu cognome A Contestatária, e dos 75 anos de Batman, homem que só é super no seu símbolo, o morcego que espelha o lado lunar do monstro que temos em nós. Mas entre as presenças de autores muito cobiçados pelos caça-autógrafos (o ilustrador e argumentista norte-americano Joe Staton e sua ligação ao universo do morcego é um deles) e de novidades como a espécie de biblioteca central onde se pode ler um ano editorial português de BD, há uma exposição central que tenta abraçar todo um mundo. Galáxia XXI: O futuro da banda desenhada é agora, comissariada pelos jornalistas Sara Figueiredo Costa e Luís Salvado, é a concretização de uma conversa de anos que se coaduna com a data redonda do festival para gerar reflexão. “O que é a BD hoje, em 2014, na sociedade de informação e quando os suportes de acesso a ela deixaram de ser apenas o papel”, resume Nelson Dona, director do AmadoraBD. Isto num momento em que a ilustradora Joana Afonso, cuj’O Baile (Kingpin Books) recebeu o Prémio Nacional de BD 2013 de Melhor Álbum e Melhor Argumento de Autor Português, é foco de uma exposição em três núcleos – desenhadora, livro e argumentista (Nuno Duarte) - e é a primeira mulher a desenhar o cartaz do festival. Também ela tem 25 anos. “Num momento em que o país também está a viver um período de viragem que nos exige reflexão sobre o que somos e para onde vamos, parece-me lógico aplicar esse raciocínio ao estado da arte da BD”, explica Luís Salvado. Tanto ele quanto Nelson Dona e Sara Figueiredo Costa falam das possibilidades que se abriram na última década graças à sempiterna evolução tecnológica, em particular em termos de auto-edição com qualidade, das facilidades de difusão e acesso via Internet, da ausência de intermediários, do desenho exclusivamente no computador e dos produtos “híbridos”, como categoriza Salvado, “a BD que só pode existir no digital”, completa Sara Figueiredo Costa. “Já há autores a trabalhar só para o ecrã. O traço é dele, mas a forma como as vinhetas vão surgindo, como os elementos gráficos vão surgindo só é possível no ecrã”, nos tablets e computadores, e não é animação. É outra coisa. E tal como esta “democratização imensa” que gerou “potencialidades que nunca houve na história da BD - temos autores portugueses a trabalhar para a Marvel sem saírem de cá. Isso era impossível há dez anos -”, como lembra Luís Salvado, permitiu que os nichos se multipliquem, também criou ecossistemas onde podem florescer. “Permitiu a sobrevivência de uma série de projectos editoriais com qualidade para estarem à venda em livrarias que há 15 anos não teriam como manter-se” como a portuguesa El Pep, exemplifica a comissária, circulando entre os espaços da Galáxia XXI. Ali convivem oito núcleos sobre os grandes mercados dos EUA (em que há portugueses como Daniel Maia e Filipe Andrade a trabalhar) e do Japão, os novos suportes em ecrã, as novas distribuições como a da colombiana Powerpaola ou do brasileiro Alex Vieira, os trabalho colectivos via web como o que faz a portuguesa Chili com Carne ou a italiana Canicola, ou o efeito cinema, do Tintin de Spielberg e Os Vingadores à Palma de Ouro de Cannes A Vida de Adéle ou Gainsbourg, baseados em novelas gráficas. E o incontornável colosso franco-belga, “um mercado que continua a ter uma espécie de efeito de validação para o prestígio de um autor”, diz Sara Figueiredo Costa, que espelha que, ao lado das Marvel e DC americanas há ainda e sempre um Obélix a resistir. “Astérix entre os Pictos foi o livro que mais vendeu em França em 2013, à frente dos três livros de As Sombras de Grey”, lembra Salvado. E se o desenho salta para o ecrã ou nasce nele, também há o regresso ou continuação da tradição, através da impressão artesanal, da serigrafia, da linogravura. “Uma tendência que atravessa o mundo”, diz Sara Figueiredo Costa, e que nos conteúdos oscila entre a idade adulta e o individual. A influência desta pulverização do mundo em suportes e acesso não é tão permeável a fenómenos como a pirataria, considera Luís Salvado, porque a BD só na última década se digitalizou de forma significativa, mas nas temáticas o comissário fala da contínua influência americana, desde a década de 1980, “num pendor cada vez mais adulto” das histórias e dos leitores. “Há uma distribuição etária muito maior entre os leitores de BD”, postula Luís Salvado, “até porque o preconceito em relação aos leitores de BD já se esbateu”. Os nerds a caminho do domínio mundial, já instalados no mainstream. Nelson Dona acrescenta a sua pitada. Defende que o que se passa na BD é similar ao que nos últimos dez, 15 anos acontece “na história da arte em geral, mas sobretudo nas artes narrativas como a literatura, o cinema” – “a predisposição do leitor para se relacionar com obras intimistas, muitas de carácter autobiográfico, que relatam histórias de pessoas normais e não seres extraordinários”. “Esta normalidade”, ressalva, “não é uma invenção dos últimos anos, mas marca o universo da BD contemporânea e que provavelmente tem a ver com essa relação mais directa do autor com o leitor e”, opina, a globalização “leva a que se procurem as coisas mais individualizadas e com as quais se sentem identificadas. ”A reflexão deixa espaço para uma parede de autógrafos coleccionados ao longo destes 25 anos, de celebrações dos premiados do ano passado como o cartoonista Henrique Monteiro (o autor do primeiro-ministro tostado sobre uma toalha-Portugal à beira mar plantada) ou a ilustradora Catarina Sobral e de uma mostra em 3D - Matthias Picard e o seu Jim Curioso (Polvo) com sala escura de consumo obrigatório com os respectivos óculos. O evento, que este ano tem um orçamento de 510 mil euros, segundo a Lusa, contempla ainda uma feira do livro, um tributo ao Surfista Prateado (Prémio Nacional de BD 2013: Clássicos da Banda Desenhada) com a rara intervenção de Moebius nos comics americanos numa história partilhada com Stan Lee, da Marvel, e, claro, Mafalda. Numa sala laranja, Gui está de lápis em riste sob o olhar da irmã mais velha, garatujas já espalhadas pelo rodapé das paredes. Aos 50 anos, Mafalda tem direito a uma “exposição de carácter mais lúdico”, também porque se trata de um autor – o argentino Quino – “cujos originais quase não existem e porque é uma personagem com uma dimensão universalista e que se circunscreve a um período da história, os anos 1970”, diz Nelson Dona. Mas, frisa o responsável, “o festival tem tido propostas de leitura filosófico-políticas e a Mafalda é isso: no momento sócio-económico em que vivemos, as perguntas da Mafalda são questões que nos colocamos novamente”.
REFERÊNCIAS:
Raiva e introspecção em Cabul depois da morte brutal de uma afegã
O homicídio da jovem de 27 anos por uma multidão galvanizou o Afeganistão de uma forma que nenhuma outra atrocidade tinha conseguido. (...)

Raiva e introspecção em Cabul depois da morte brutal de uma afegã
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.78
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O homicídio da jovem de 27 anos por uma multidão galvanizou o Afeganistão de uma forma que nenhuma outra atrocidade tinha conseguido.
TEXTO: Em vida, Farkhunda seria um exemplo improvável da luta pelos direitos da mulher no Afeganistão. Vestia-se todos os dias com a peça de roupa que lhe cobria o corpo dos pés à cabeça, preferida pelas mulheres muçulmanas conservadoras. Estudava numa escola islâmica. Acreditava, de acordo com o seu pai, que as mulheres deveriam ser educadas para cuidarem dos filhos, assegurarem as tarefas domésticas e fazerem os maridos felizes. Depois de morta, no entanto, Farkhunda tornou-se num rosto dos direitos das mulheres. O homicídio brutal da jovem de 27 anos por uma multidão, na semana passada, galvanizou este país de uma forma que nenhuma outra atrocidade tinha conseguido. Libertou as frustrações enraizadas na sociedade em relação à violência diária que fica sem punição, e sublinhou a luta contínua entre os antigos costumes do Afeganistão e as leis modernas. “Até hoje, não sei por que é que a minha filha foi morta”, disse o pai de Farkhunda, Mohammad Nader Malikzadah, numa entrevista na casa da família, na quinta-feira. “Ela estava inocente. ”Antes da entrevista, milhares de afegãos tinham protestado em frente ao Supremo Tribunal do país, debaixo de chuva, na maior manifestação até hoje em defesa de justiça para a morte de Farkhunda. “Punam os assassinos”, gritaram alguns. “Despeçam o responsável pela polícia”, exigiram outros. Algumas mulheres pintaram a cara de encarnado, simbolizando a face ensanguentada de Farkhunda – que, à semelhança de muitos afegãos, só usava um nome. A face ensanguentada foi uma das suas últimas imagens, depois de uma multidão a ter espancado com paus e pedras em frente a uma das mais veneradas mesquitas de Cabul, no dia 19 de Março. Foi acusada de queimar o Corão, um crime punível com a morte no Afeganistão, segundo a lei islâmica – as autoridades disseram mais tarde que ela não tinha cometido esse crime. Longa morte públicaApesar de os pormenores não serem claros, algumas testemunhas sugeriram que o ataque foi suscitado por uma discussão entre Farkhunda e o imã da mesquita. Seja como for, a multidão estava decidida a matá-la da forma mais horrível possível. Amarraram o corpo a um carro, arrastaram-no, queimaram-no e lançaram-no ao rio Cabul. A multidão demorou duas horas a matá-la, sob o olhar de outras centenas de pessoas e de polícias armados, que nada fizeram para salvar Farkhunda dos seus atacantes. A esquadra da polícia mais próxima estava a apenas cinco minutos a pé da mesquita. Muitas testemunhas tiraram fotografias e gravaram vídeos com os seus telemóveis. Azizullah Royesh, um conhecido activista, disse que muitos afegãos ficaram chocados com a morte pública de Farkhunda, sem que ninguém a tivesse tentado ajudar. A morte dela obrigou muitas pessoas a fazerem uma introspecção, “para verem a situação miserável em que elas próprias vivem”. Repensar tudo“Este ultraje é um tipo de reacção das pessoas contra o seu próprio silêncio, contra a sua própria indiferença”, disse Royesh. “É uma fase em que os afegãos começam a repensar tudo. ”O homicídio, e a condenação pública que se seguiu, não poderiam ter chegado numa altura pior para o Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani. Ensombrou a sua primeira visita oficial a Washington, onde está a tentar fazer passar a imagem do Afeganistão como um país no caminho certo, comprometido com a democracia e com o primado da lei, mas ainda a precisar de muita ajuda militar e económica dos Estados Unidos. Antes de ter partido para Washington, Ghani referiu-se ao ataque como um acto “odioso” e prometeu uma investigação profunda. As autoridades agiram de forma rápida, mais do que em qualquer outro caso de homicídio. Na terça-feira, o ministro do Interior, Noor ul-Haq Ulumi, anunciou a detenção de 28 suspeitos no homicídio de Farkhunda, e o despedimento de 20 polícias, incluindo o chefe da polícia local. “Estão todos a ser interrogados para determinar as razões por trás da ausência de protecção a Farkhunda e o falhanço no controlo da situação”, disse Ulumi. Mas essa negligência da polícia foi apenas o mais recente caso numa longa história de falhanços na protecção das mulheres afegãs. Na época em que estiveram no poder, os taliban negavam às mulheres o acesso à educação e ao emprego, e obrigavam-nas a usar a burqa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos morte filha lei escola homicídio violência tribunal educação ataque mulher ajuda mulheres corpo morta
Peso do salário mínimo nos novos contratos sobe para 40%
Incidência da remuneração mínima nas novas contratações aumentou de 37,3% para 40,7% entre o primeiro trimestre de 2016 e o de 2017. Cerca de 730 mil trabalhadores têm salário base de 557 euros por mês. (...)

Peso do salário mínimo nos novos contratos sobe para 40%
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Incidência da remuneração mínima nas novas contratações aumentou de 37,3% para 40,7% entre o primeiro trimestre de 2016 e o de 2017. Cerca de 730 mil trabalhadores têm salário base de 557 euros por mês.
TEXTO: Mais de 40% dos trabalhadores contratados no primeiro trimestre de 2017 tinham uma remuneração base mensal equivalente ao Salário Mínimo Nacional (SMN), um aumento significativo face aos 37, 3% verificados em 2016 ou aos 32, 3% de 2015. Os dados constam do relatório do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho, apresentado nesta quinta-feira aos parceiros sociais, que permite contabilizar pela primeira vez o impacto da subida do SMN de 530 para 557 euros e traz dados novos sobre o contributo da remuneração mínima para a redução das desigualdades salariais entre os trabalhadores. Os dados do Fundo de Compensação do Trabalho (onde as empresas têm de registar todos os novos contratos, com excepção dos que têm duração igual ou superior a dois meses) mostram que a dinâmica das novas contratações tem vindo a acentuar-se e, no primeiro trimestre de 2017, foram registados 262. 500 contratos (mais 8, 5% do que no período homólogo) e cessaram 150. 000. Mas o peso do SMN nas novas admissões também aumentou: 40, 7% dos novos contratos tinham uma remuneração base mensal de 557 euros. No primeiro trimestre de 2016, a proporção era de 37, 3%. Ao todo, no final de Março, cerca de 730 mil trabalhadores estavam abrangidos pelo salário mínimo, mais 13, 9% do que no período homólogo. Recorrendo aos registos da Segurança Social, o GEP conclui que o peso dos trabalhadores abrangidos pelo SMN no total das remunerações declaradas passou de 20, 7% para 22, 9%. Contudo, refere o GEP, “o crescimento do volume de trabalhadores abrangidos pelo SMN resultante da actualização [de Janeiro de 2017] foi inferior ao que resultou quer da actualização de 2016, quer da actualização de Outubro de 2014”. Feitas as contas, mais de um quinto dos trabalhadores (excepto funcionários públicos e trabalhadores independentes) tinham um salário base equivalente a 557 euros. O debate em torno do impacto dos aumentos do SMN no emprego não é consensual e, ao longo do relatório, o Ministério do Trabalho coloca em evidência alguns dados para defender a sua tese. Analisando as diferentes fontes estatísticas e administrativas, a tutela de Vieira da Silva conclui que “o comportamento dos principais indicadores do mercado de trabalho (…) prossegue positivo, não obstante os aumentos de 5% e 5, 1% [do SMN] realizados em 2016 e em 2017”. O relatório apresentado aos parceiros sociais defende ainda que a subida do SMN não tem uma grande influência nos salários convencionais que “parecem ter uma maior relação com o ciclo económico. Com efeito, alerta o GEP, “não parece haver evidências de um forte impacto das actualizações do SMN nas componentes do ganho e dos salários convencionais. O factor ganho tem tido, aliás, uma evolução muito reduzida desde 2010, o que reflecte a compressão e posterior moderação salarial na economia”. O relatório traz dados novos sobre a incidência do SMN nos vários sectores de actividade e por região concluindo que a remuneração mínima é particularmente expressiva na indústria transformadora (21, 6% do total de trabalhadores declarados), no comércio (20, 9%) e no alojamento e restauração (12%). O Norte (41, 2%) e a Área Metropolitana de Lisboa (26, 1%) são as regiões onde se concentram mais de metade dos trabalhadores com remuneração mínima. O GEP faz uma análise mais fina, comparando o peso de determinados grupos de trabalhadores no emprego total com a sua representatividade quando se trata do salário mínimo. Nessa perspectiva os dados apontam para resultado diferentes, concluindo-se que o alojamento e restauração (38, 5%), a agricultura (36, 8%), as actividades imobiliárias (29, 1%) e a construção (28, 9%) estão sobre-representados no salário mínimo. Tal como já apontava o documento relativo ao último trimestre de 2016, a remuneração mínima incide sobretudo nas mulheres, nos trabalhadores com baixas qualificações e nas empresas com menos de 10 trabalhadores. Embora a incidência do SMN nos trabalhadores jovens seja de apenas 9, 9% (muito abaixo da verificada nos outros escalões etários), o GEP alerta que esta percentagem é bastante superior ao peso dos trabalhadores com menos de 25 anos no total do emprego (que não vai além dos 7, 4%). O GEP apresenta dados novos sobre a relação entre o salário mínimo e a pobreza, concluindo que o aumento do SMN “constitui um importante mecanismo no âmbito de uma política de combate à pobreza e à exclusão social”. Ao mesmo tempo, e analisando os rácios de desigualdade apurados a partir das remunerações declaradas à Segurança Social, observa-se “uma ligeira melhoria das assimetrias salariais entre a base e a mediana e o topo da distribuição salarial”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As desigualdades extremas, nota o GEP, diminuíram. E exemplifica: o rácio entre as remunerações dos 10% de trabalhadores com remunerações mais elevadas e os 10% com remuneração mais baixas diminuiu de 5, 31 em Outubro de 2014 para 4, 84 em Janeiro de 2017. Já a comparação entre os 20% com rendimentos mais altos e o escalão de 20% de rendimentos mais baixos, no mesmo período, melhorou de 3, 93 para 3, 60. Esta correcção das assimetrias na distribuição dos rendimentos, defendem os autores do relatório, decorre sobretudo do aumento dos rendimentos dos trabalhadores que estão na base da distribuição salarial, pelo que, além do potencial no combate à pobreza, a remuneração mínima “pode assumir um papel relevante na promoção de melhores níveis de igualdade salarial”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave exclusão social igualdade mulheres pobreza salário
25 anos depois, os Prodigy de sempre são os bons Prodigy
No segundo dia do NOS Alive, os Prodigy foram iguais a si mesmos e isso era tudo o que lhes podíamos pedir. Os Mumford & Sons quiseram mostrar a sua nova vida e perderam-se pelo caminho. (...)

25 anos depois, os Prodigy de sempre são os bons Prodigy
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.15
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: No segundo dia do NOS Alive, os Prodigy foram iguais a si mesmos e isso era tudo o que lhes podíamos pedir. Os Mumford & Sons quiseram mostrar a sua nova vida e perderam-se pelo caminho.
TEXTO: Olhamos para o palco e pouco conseguimos distinguir entre as "flashadas" de luz. Olhamos para os ecrãs e também nada se distingue: a imagem vem num preto e branco em que surgem recortadas silhuetas vagas. Não vemos, mas ouvimos. O som frenético e diabólico de uma rave em roda livre, de um concerto punk apocalíptico, de um concerto rock (estão lá baixo, guitarra e bateria) que é também electrónica de sintetizadores sinistros e ritmos quebrados. Os Prodigy chegaram ao fim da noite (0h30) para encerrar o palco principal NOS Alive. Não haver novidade no que mostraram foi tudo menos um problema. O pouco memorável segundo dia do NOS Alive não nos ofereceu nenhum concerto arrebatador (reportamo-nos ao que vimos, naturalmente, dado que num festival desta dimensão é impossível ver tudo), mas os melhores momentos chegaram de “velhos” conhecidos. Foi o caso, no palco NOS Clubbing, da Batida criada por Pedro Coquenão, que reúne à sua volta uma imensa trupe e que é um verdadeiro festim para os sentidos pela riqueza dos ritmos mesclados (África nova e África antiga, Angola e Portugal unidos no mesmo gesto), pela união de performance de palco, com dança e coreografia livre, e de montagens vídeo que tanto nos mostravam o carnaval de Luanda (e Alegria chegou para a despedida) como serviam de homenagem a um gigante da rádio (e eis António Sérgio recordado). Foi também o caso de Capicua, que encheu o mesmo palco, de si já lotado, com a verve admirável que trouxe ao hip hop português, capaz de ternura (Casa no campo), de festa bem afinada (a inevitável Vayorken) e de denúncia consequente (a magnífica Medo do medo e a não menos magnífica Medusa, desarmante no retrato do flagelo da violência doméstica, que trouxe o convidado Valete a palco). Apoiada pela habitual companheira de palco M7, suportada pelas ilustrações em tempo real que ofereciam no ecrã uma nova camada de leitura da música, mostrou uma vez mais que é uma rapper necessária e em estado de graça. No dia em que os Future Islands provocaram uma onda de entusiasmo no palco Heineken, com o público tão rendido ao synth pop e cintilância 80s da música, quanto à incontida e histriónica dança do vocalista Samuel T. Herring, nesse dia em que James Blake regressou para, uma vez mais, mostrar as suas canções rarefeitas, voz erguendo-se sobre o silêncio, perante uma tenda gigantesca mas, ainda assim, pequena para todos os que queriam vê-lo à uma da madrugada, descobrimos quando o sol ainda brilhava no céu que os Bleachers, sendo de Nova Iorque, só podiam ser de New Jersey - e isso foi a novidade do dia que valeu a pena. Sem a enchente registada no primeiro dia, que levou 55 mil ao Passeio Marítimo de Algés para ver os Muse, mas com o recinto num corrupio constante de gente em deambulação, o público aglomerou-se frente ao palco principal, primeiro, para ver os Mumford & Sons. A banda trocou os coletes e as camisas brancas por casaco de cabedal, para condizer com o som eléctrico do novo álbum, e alternou entre o formato folk velha guarda, com contrabaixo, banjo e metais, e a nova vida eléctrica. Marcus Mumford cantou o lamento que redundará em catarse, naquele neo-folk cruzado com o tom épico legado pelos Arcade Fire, e ouviu-se I will wait ou, com o vocalista sentado à bateria, Lover of the light. O som saído de palco era cristalino e o público aproveitava cada momento em que a cadência rítmica aumentava e as guitarras e banjo seguiam a aceleração com convicção para improvisar pequenas danças de celeiro em rodopio. O som saído do palco continuava cristalino, mas canções de Wilder Wind como Believe, o primeiro single, ou, principalmente, Tompkins Square Park, ligação directa ao rock FM de má memória da década de 1980 (solo virtuoso incluído no início da canção e tudo), castravam o entusiasmo do público. Tudo somado, resultou num concerto soluçante que não deixará grande memória. Também não é certo que os Prodigy a deixem, mas o seu concerto foi isento de solavancos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Arrancam com Breathe, um dos clássicos, e a partir daí, não serenam por um segundo. Keith Flint e Maxim, os dois vocalistas, correm, esperneiam e cantam como se o mundo estivesse para acabar naquele preciso momento (e eles nada preocupados). À segunda canção, já se vê uma tocha iluminar-se entre o público. Quando chega Firestarter, outro clássico, já se abriu uma gigantesca roda de mosh, e ilumina-se outra tocha enquanto os corpos chocam na agressividade sem violência da dança. No palco, a banda toca sob uma torrente de flashes. Na plateia, vive-se uma euforia que ainda não tinha sido testemunhada no segundo dia de NOS Alive, misto de nostalgia pela memória que a música evoca e reacção instintiva à intensidade do som. Um fluxo contínuo, em que a indispensável Smack my bitch up convive sem sobressaltos com Rok-weiler, uma das novas de The Day Is My Enemy, álbum editado este ano. Não houve segredo nenhum, não houve espaço para qualquer surpresa. Foram os Prodigy de sempre. Não podíamos pedir melhor. O NOS Alive termina este sábado. Os Jesus & Mary Chain a interpretar Psychocandy, Disclosure, Azaelia Banks, Sleaford Mods, Mogwai, Sam Smith ou Dead Combo são alguns dos concertos em destaque.
REFERÊNCIAS:
Um casamento real, moderno e cheio de significado
Harry e Meghan, os novos duques de Sussex, casaram ao meio-dia, numa cerimónia ecuménica, onde a noiva caminhou sozinha até junto do noivo e um coro gospel cantou Stand By Me. (...)

Um casamento real, moderno e cheio de significado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Harry e Meghan, os novos duques de Sussex, casaram ao meio-dia, numa cerimónia ecuménica, onde a noiva caminhou sozinha até junto do noivo e um coro gospel cantou Stand By Me.
TEXTO: Foi um dia animado na pequena cidade de Windsor, onde dezenas de milhares de pessoas se concentraram para cumprimentar o príncipe Harry, 33 anos, e Meghan Markle, 36 anos. Os novos duques de Sussex – título atribuído pela rainha –, sempre sorridentes, casaram ao meio-dia na Capela de S. Jorge, numa cerimónia ecuménica cheia de significado, com cerca de 600 convidados, entre grandes nomes de Hollywood, atletas e membros da família real. O aguardado beijo aconteceu logo à saída da capela, antes do casal partir para um cortejo de cerca de meia hora pelas ruas de Windsor, numa carruagem Ascot Landau. As celebrações dividiram-se depois em duas recepções: uma organizada pela rainha Isabel II, logo após a cerimónia, no Castelo de Windsor, à qual se seguiria outra organizada pelo príncipe Carlos, o pai, ao final da tarde, em Frogmore House, para um número mais reduzido de convidados. Seguida do grupo de pajens e damas de honor, Markle entrou sozinha na capela, juntando-se depois ao futuro sogro, o príncipe de Gales, apenas a meio do caminho. O gesto feminista da actriz – que em 2015 se tornou representante das Nações Unidas para a igualdade de género – já era esperado, depois de uma semana marcada pelas notícias que o pai, afinal, não iria estar presente. Parte do momento em que a Meghan se juntou ao Harry fugiu às câmaras, mas foi possível ver que, ao contrário do que aconteceu em 2011, no casamento de William e Kate, ninguém depositou a mão da noiva na mão do futuro marido. Foi a cargo de Clare Waight Keller, a primeira mulher à frente da direcção criativa da Givenchy, que ficou o vestido da noiva. Markle optou por um design simples e elegante, um decote em barco e mangas de três quartos. No véu de cinco metros de tule de seda foram bordadas à mão flores representativas da flora dos 53 países da Commonwealth. A segurar o véu, estava ainda a tiara de diamantes que pertenceu à rainha Maria, mulher de Jorge V (e trisavó de Harry). Foi emprestada à noiva pela rainha Isabel II. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A efusiva homilia do chefe da Igreja Episcopal norte-americana Michael Bruce Curry foi um dos momentos altos da cerimónia. Durante cerca de 13 minutos, o bispo falou sobre como o amor é como o fogo, citou Martin Luther King, mencionou a escravatura no EUA e descreveu as tecnologias modernas que nos ligam – enquanto discursava espreitando para o seu tablet. Apesar das caras austeras da realeza, o consagrado pregador ainda conseguiu roubar alguns sorrisos aos noivos e mesmo risos aos convidados. Esta foi uma cerimónia onde houve um equilíbrio entre a música clássica e o gospel. Do lado de Meghan Markle, no coro da igreja, sentaram-se figuras como George e Amal Clooney, Oprah Winfrey e Serena Williams. Do lado de Harry, a rainha Isabel II e todos os principais membros da família real. No casamento estiveram ainda presentes David e Victoria Beckham, o cantor James Blunt, o apresentador James Corden, a actriz Priyanka Chopra e duas das ex-namoradas de Harry. Ao contrário do que acontece noutros casamentos reais, o casal optou por não incluir uma lista de líderes políticos. A meio da tarde, a conta do Twitter do Palácio de Kensington já tinha mudado a fotografia e descrição, passando agora a incluir Meghan Markle. Como o próprio príncipe Harry mencionou recentemente, quando foi nomeado embaixador da juventude da Commonwealth, espera-se que a norte-americana se junte a si, no trabalho a serviço da coroa. Harry e Meghan são a nova dupla de Kensignton.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA