Os que “amam” muito os touros e os torturam e matam
Acabar com as touradas, com a tortura dos touros para satisfação sádica das massas, é um passo no bom sentido. (...)

Os que “amam” muito os touros e os torturam e matam
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 21 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-11-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Acabar com as touradas, com a tortura dos touros para satisfação sádica das massas, é um passo no bom sentido.
TEXTO: A ideia de que ser a favor ou contra as touradas é uma questão de liberdade de expressão é um absurdo. Ser a favor ou contra as touradas é uma questão de civilização e, por muito que a palavra esteja gasta, nós sabemos muito bem o que é. É o mundo frágil que nos faz viver melhor, mais tempo, com menos violência do que no passado. É completamente frágil e contraditório, muitas vezes anda para trás e poucas vezes anda para a frente, mas representa o melhor da vida possível, feito por um olhar humanista sobre as coisas, que inclui condenar, limitar, punir a violência. É o mundo em que há direitos humanos, em que os homens e as mulheres são iguais, é o mundo em que as mulheres e as crianças são protegidas da violência doméstica, é o mundo em que o direito de viver de forma livre o sexo é garantido, é o mundo em que a tortura, a pena de morte, o genocídio são condenados, é o mundo em que há liberdade religiosa, de opinião, política, etc. , etc. Sim, é verdade que é também o mundo em que tudo isto não existe, mas escolham. Pode não ser o mundo que temos, mas é o mundo que desejamos. Os animais não podem ter “direitos” equiparados aos direitos humanos, mas faz parte de uma sociedade humana que valorize a ética e combata todas as formas de violência olhar para os animais com um sentimento de especial proximidade que está para além da domesticidade. Os movimentos a favor dos animais, ou melhor, os movimentos contra a crueldade com os animais, fazem parte da tradição humanista dos séculos XIX e XX. A ideia central era que o modo como tratamos os animais era um sinal de como tratávamos os homens, a crueldade contra os animais era um sinal de uma violência institucionalizada que não se limitava aos animais, mas se estendia aos homens, mulheres e crianças. Não me estou a referir a nenhuma das variantes radicais modernas dos direitos dos animais que fazem parte da moda dos nossos dias. Não é isso, não tem que ver com aviários, nem com matadouros, nem com as mil e uma formas de industrialização da produção de alimentos, algumas das quais ganhavam em ser menos cruéis. Nem com a caça. A caça tem um valor económico, e tem um papel no controlo das espécies, e é cada vez mais moldada pela lei de modo a que o seu carácter lúdico seja subordinado a estas necessidades. Tem que ver com as touradas. Podem dar as voltas que quiserem, mas as touradas são a exibição pública da tortura de um animal, que é esfaqueado para enfraquecer e depois, no caso das touradas de morte — que todos os defensores das touradas desejavam poder ter sem limitações —, ser morto. As touradas vivem do sangue, da dilaceração da carne, do cansaço até ao limite e da morte. Podem ter todos os rituais possíveis, ter toda a “arte” de saracotear à volta de um bicho, mas as touradas não são uma arte, são a exibição circense de um combate desigual entre homens e animais, cuja essência é a sua tortura para gáudio colectivo. Não é um combate de iguais. Na verdade, os combates de cães e de galos — proibidos não se sabe porquê à luz da permissão das touradas — são muito mais um combate entre iguais do que o homem de faca e o touro sem armas a não ser os chifres, que muitas vezes são embolados. Mas é o sangue e a morte que fazem o espectáculo e, ao serem um espectáculo, são um sinal de barbárie. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O argumento da tradição também não é argumento. Se há coisas que a tradição encobre é um vasto conjunto de práticas que felizmente hoje são consideradas inaceitáveis, desde a violência doméstica à discriminação dos homossexuais, à excisão feminina, à pena de morte, à legitimação da tortura. Se aceitamos que a “tradição” por si só legitima a violência e crueldade, então podemos voltar ao “cá em casa manda ela e quem manda nela sou eu” e toca de lhe bater. Os argumentos dos defensores das touradas são a versão portuguesa dos argumentos da National Rifle Association nos EUA, que também se identifica como uma “associação de direitos civis” e usa o argumento da tradição para justificar uma sociedade banhada de armas e em que a violência dos massacres é sempre culpa de outra coisa que não sejam as armas. As histórias ridículas de como os defensores das touradas “amam os touros” (sic), de como prezam a valentia dos animais, de como o “touro bravo” enobrece os campos do Ribatejo, para depois ser trazido à arena de tortura e morte como se esse fosse o seu destino teleológico, a cultura machista da “coragem” perante os mais fracos (o touro é o mais fraco dentro da praça), devem pouco a pouco envelhecer no passado. É isso mesmo que chamamos civilização. O mundo em que vivemos é duro, desigual, injusto, violento. Quem saiba história sabe que não há maneira de o tornar limpinho, higiénico, pacífico, nem em séculos, quanto mais numa geração. Mas acabar com as touradas, com a tortura dos touros para satisfação sádica das massas, é um passo no bom sentido. Porque senão vivemos na pior das hipocrisias em que matar ou tratar mal um cão e um gato pode levar à prisão — e bem —, mas em que no meio de cidades e vilas de uma parte do país podemos aplaudir a tortura, o sangue e a morte.
REFERÊNCIAS:
O corpo de Jota Mombaça é um manifesto
Escreve e faz performance das suas ideias em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, “estudos kuir”, justiça anti-colonial... fica-se com a impressão de que não apenas devorou teoria com a urgência de quem quis sobreviver, mas que esta lhe atravessou o corpo. Esteve na Bienal de Berlim com uma performance, está este domingo na Foz do Porto. (...)

O corpo de Jota Mombaça é um manifesto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escreve e faz performance das suas ideias em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, “estudos kuir”, justiça anti-colonial... fica-se com a impressão de que não apenas devorou teoria com a urgência de quem quis sobreviver, mas que esta lhe atravessou o corpo. Esteve na Bienal de Berlim com uma performance, está este domingo na Foz do Porto.
TEXTO: Convidada a participar na Bienal de arte contemporânea de Berlim para uma leitura-performance, Jota Mombaça, 27 anos, nascida e criada no Nordeste do Brasil, nómada a residir actualmente em Lisboa, define-se a si mesma como "bicha não binária". Afável, exuberante e frágil, vestida com uma túnica que lhe serve para para confundir definições e revelar um corpo tatuado, recusando qualquer tipo de normatividade, vem ao nosso encontro uma guerreira temível que dispara com a acutilância das palavras. Fica-se com a impressão de que não apenas devorou teoria com a urgência de quem quis sobreviver, mas que esta lhe atravessou o corpo. "Pode um cu mestiço falar?" é um título de um texto seu em que se apropriava o título de um ensaio da filósofa indiana Gayatri Spivak, "Podem os subalternos falar?". A resposta, provocadora, era não. Jota Mombaça não só escreve como faz performance das suas ideias, trabalhando em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, "estudos kuir", justiça anti-colonial, redistribuição da violência, ficção visionária e tensões entre arte e política nas produções de conhecimentos do "Sul-do-Sul globalizado". Para uma nova geração de artistas, activistas, investigadores e curadores investidos no debate sobre a descolonização, que está a atravessar um apogeu nas artes, tornou-se impossível pensar a questão do racismo sem cruzar as dimensões de classe social ou de identidade de género. "Não há lutas unidimensionais porque não há vidas unidimensionais", diz Jota Mombaça, citando a afro-americana Audre Lorde (1934-1992). Há diferenças decisivas entre o debate actual e o momento histórico da luta pela independência das colónias ou da segunda vaga do feminismo (que ficou conhecida no contexto português através do julgamento do livro Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa). Diferenças de origens de classe, em que os combates estiveram associados a uma classe média-alta urbana que protegia o privilégio do acesso à universidade. Diferenças de horizontes teóricos –? o marxismo era a narrativa de fundo e o "povo" era a categoria abstracta para a qual tudo se remetia – e de práticas culturais – a poesia era a arma central para escapar à censura. O corpo de Jota Mombaça é, por si só, um manifesto e torna evidente o que entretanto mudou. Encontrá-la é ter a sensação de que algo tem andado invisível no debate público, nas vozes e nos corpos autorizados a falar (ela utilizará a noção de "lugar da fala" para situar e questionar em permanência quem fala, de que posição e para quem). E digamos sem rodeios, vem aí um tremor de terra. A mudança situa-se desde logo no interior mesmo da linguagem utilizada. Pouco fica de pé. Se é evidente que Jota Mombaça deve muito aos estudos queer e pós-coloniais das últimas décadas, e tratando-se de autores na maior parte dos casos ainda por traduzir, será então ela que vai "entortar" os conceitos e adaptá-los à sua experiência de um país ex-colonizado. Assim, queer tornar-se-á cuir, e Jota identifica práticas populares de desobediência sexual e de identidade género que já existiam (como os terreiros de candomblé queto, em que participantes conjugam códigos femininos e masculinos) muito antes de serem teorizados pela categoria global do queer. Mas quando pensaríamos que esta lógica de digestão local poderia remeter para precedentes que passariam pelo manifesto antropofágico brasileiro (1928), Jota dispara: "A antropofagia foi uma lógica de devoração e eu pratico uma lógica de vómito. O poeta Oswald de Andrade [1890-1954] integra ainda uma forma de colonialismo interno, trata-se de uma elite branca, com acesso exclusivo à arte e com uma imagem idealizada do sujeito racializado. Há uma ficção da democracia racial, quando a negritude foi sendo aniquilada pela pobreza e miscigenação. A filósofa e psicanalista Suely Rolnik, investigadora em São Paulo, lembra que o capitalismo financeiro devora tudo e pratica uma antropofagia zombie, criando uma hiper-flexibilidade do sujeito e impedindo subjectividades – para ela não são apenas necessárias resistências macropolíticas mas também uma micropolítica do desejo, porque de outra forma se reproduz o inconsciente colonizado pelo capitalismo e volta tudo ao mesmo lugar. "Há que desenvolver uma ética própria, uma política do cuidado, recusando o banquete que nos é imposto. Comer aquilo que nos potencializa e vomitar o projecto genocida cristão do corpo colonizado". Jota Mombaça, que este domingo, às 19h30, na Praia do Homem do Leme (Foz do Porto) fala sobre Dor, Dívida, Dilema: O que significa descolonizar, a convite do Teatro Experimental do Porto, foi também convidada pela Bienal de Berlim a escrever um texto fundamental no catálogo (Por uma greve ontológica) que tem a impetuosidade crítica habitual da autora, próxima de um manifesto, mas introduz uma melancolia inusitada. Partindo da impressão de que o seu trabalho é uma fuga para se "salvar de algo do qual não posso ser salva" e fazendo por escapar às estatísticas dos corpos negros queer confrontados com a violência ou a morte (numa das suas tatuagens lê-se "A gente combinamos de não morrer", citando uma das autoras brasileiras que mais admira, Conceição Evaristo, nascida numa favela de Belo Horizonte). O texto resume uma lógica de exploração das contradições e conflitos que distingue a sua escrita – não se limitando a criticar posições dominantes mas também posturas supostamente críticas – para interrogar a forma como a arte contemporânea (e as bienais) obriga os corpos e as vidas negras queer a transformarem-se no tema do trabalho, sendo que estes corpos já são determinados por estruturas de poder lhes extraem subjectividade. E recusa-se a estabelecer uma narrativa heróica sobre as lutas destes corpos e vidas quebrados para evitar que isso se torne a condição para ter acesso ao mundo da arte. "O que não quer dizer que eu entre num fetichismo do-it-yourself, o meu trabalho está atravessado por instituições". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A melancolia parece surgir de uma constatação lúcida, já evocada por José Esteban Muñoz (1967-2013), investigador de performance e teórico da desidentificação (enquanto forma de oposição à identidade), quando sublinhava estar consciente de que o devir queer ainda é uma utopia. "O futuro é um privilégio", diz Jota, e talvez por isso cite no seu texto a escritora afro-americana de ficção cientifica Octavia E. Butler – outra das autoras reverenciadas por esta nova geração – procurando extrair o futuro desta lógica de utopia, partindo da negritude. Numa conferência no Rio de Janeiro, Jota Mombaça criticou o princípio estandardizado de fluidez de género, acrescentando que no contexto de precariedade generalizada que combate, o seu género "não flui, como é possível?". Interrogou-se ao anunciar a sua transição de identidade de género: "Embora eu saiba identificar a estrutura da qual me afasto, fugindo ao projecto arbitrário da masculinidade" (a obrigação de uma concordância entre identidade e sexo de nascença), "prossigo sem coordenadas para saber onde isso me pode levar e, portanto, tropeço (…). Pensar na transição e na descolonização a partir de uma perspectiva abolicionista requer pensar e deslocar provisoriamente a questão sobre o que vou passar a ser, abrindo espaço para outras questões: como desfazer o que fazem de mim?". No contexto lisboeta, Jota Mombaça tem escrito e participado em plataformas que estão a abrir espaços para o debate da descolonização, marcado recentemente pela polémica gerada em torno da designação do museu das "descobertas" ou da estátua do Padre António Vieira. "A reciclagem 'pós-colonial' dessa personagem, amparada pelo imaginário amplamente difundido da colonização portuguesa como branda e, particularmente, do referido padre como tendo sido uma figura sensível à humanidade das gentes que viviam nas terras do que hoje chamamos Brasil, atesta de maneira contundente a hegemonia do lugar de fala branco-colonial como infraestrutura dos regimes de verdade". Encontrou vozes aliadas em projectos lisboetas como Buala ou a rádio Afro-Lis, ou na colectânea de poetas e autores negros Djidiu – A Herança do Ouvido, incluindo nesta rede de afinidades o jovem poeta queer Daniel Lourenço – interessado por formas de neuro-dissidência em saúde mental e tecendo críticas ao capacitismo – ou a investigação do Nicholas Mirzoeff na Universidade Nova sobre culturas visuais de protesto. E atribui um valor histórico às duas conferências em Lisboa de Grada Kilomba, artista e investigadora lisboeta a residir em Berlim (e que está também a participar na Bienal), em que esta considerou "uma profunda negação" a relação da subjectividade portuguesa com a "ferida colonial". Jota é extremamente crítica em relação à invisibilidade para a qual estão remetidas as vozes negras neste debate. "Quando uma pessoa branca diz 'usar seu privilégio' para 'dar voz' a uma pessoa negra, ela di-lo na condição de que essa 'voz dada' possa ser posteriormente metabolizada como valor, sem com isso desmantelar a lógica de valorização do regime branco de distribuição das vozes". E assume que a dificuldade para quem pratica a dissidência está em preservar as sementes de pessoas ainda por existir, que terão de se inventar a si mesmas a partir daquelas que foram historicamente negadas.
REFERÊNCIAS:
Religiões Candomblé
Feministas despem-se em Notre Dame para festejar saída do Papa
Entraram na catedral e despiram-se como é característico do movimento Femen. (...)

Feministas despem-se em Notre Dame para festejar saída do Papa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entraram na catedral e despiram-se como é característico do movimento Femen.
TEXTO: Oito feministas do movimento Femen entraram na Catedral de Notre Dame, em Paris, França, e despiram-se para festejar a saída de Bento XVI. As jovens entraram discretamente, ao lado dos habituais turistas, envergando longos casacos escuros que despiram no interior do local de culto católico. Junto a três dos nove novos sinos, provisoriamente no chão de uma das naves da catedral, as raparigas despiram-se e mostraram os seus corpos onde escreveram mensagens como "Não ao Papa", "Não à homofobia", "Crise de fé", "Adeusinho, Bento!". As feministas chocaram os visitantes. "Este é um local sagrado, vocês não devem despir-se aqui", disse uma turista francesa. Poucos minutos depois, as manifestantes foram obrigadas a sair do edifício pelos responsáveis do local de culto, o que não as impediu de continuar a gritar e a cantar "Confiamos nos homossexuais" – em inglês "in gay we trust" uma variante da frase "in God we trust", ou seja, "em Deus confiamos" – e "Sai, homofóbico". O movimento Femen é conhecido por, desde 2010, se manifestar de peito descoberto da Rússia à Ucrânia, passando por Londres e pelo Vaticano, quando, por exemplo, o Papa reza o Angelus, ao domingo, ao meio-dia. Em Setembro, instalaram em Paris o "primeiro centro de treino" para o "novo feminismo".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave gay feminismo homofobia
Convenção condicionada por fora
Na semana em que a deputada Mariana Mortágua brilhou no Parlamento ao fazer PSD e PS recuarem nas subvenções dos deputados, o BE fecha-se no Pavilhão das Olaias para decidir o futuro que não depende só de si. (...)

Convenção condicionada por fora
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na semana em que a deputada Mariana Mortágua brilhou no Parlamento ao fazer PSD e PS recuarem nas subvenções dos deputados, o BE fecha-se no Pavilhão das Olaias para decidir o futuro que não depende só de si.
TEXTO: O futuro do Bloco de Esquerda, muito provavelmente, depende pouco da IX Convenção que hoje se inicia em Lisboa e joga-se sobretudo na dinâmica eleitoral que se criar entre este partido e a tentativa de uma "candidatura cidadã" subscrita por 241 personalidades que esta semana foi anunciada. Uma iniciativa que tem como suporte legal a estrutura do novo partido, Livre, e que reúne o Manifesto e a Renovação Comunista. Não tanto porque esta nova formação surja como substituto do BE do ponto de vista político, mas porque eleitoralmente pode gerar uma dinâmica que, ao agregar votos, acabe por contribuir para a erosão eleitoral do BE. Na semana em que a deputada Mariana Mortágua brilhou no Parlamento ao fazer PSD e PS recuarem nas subvenções dos deputados, o BE fecha-se no Pavilhão das Olaias, em Lisboa, para decidir se continuará a ser coordenado por uma solução paritária composta por Catarina Martins e João Semedo ou se volta a uma liderança de tipo tradicional com Pedro Filipe Soares. Esta diferença no que são as caras de topo da direcção para o exterior não é uma diferença menor – assim como são diversos o tom e a abordagem ideológica. Pedro Filipe Soares, que surge como herdeiro da linha UDP, chega a afirmar: “Esse horizonte socialista continua à nossa frente. ” Já para Catarina Martins e João Semedo, “Socialismo é o novo regime feito de todas as emancipações”. É verdade também que há pequenos matizes nas moções – como a defesa por Catarina Martins e João Semedo de que a rejeição do Tratado Orçamental seja submetida a referendo. Mas ambas as moções, na prática, defendem o mesmo: a desvinculação do Tratado Orçamental, a reestruturação da dívida pública, a nacionalização da banca, a rejeição da austeridade europeia, a reforma fiscal com tributação de empresas, a nacionalização dos bens comuns privatizados e defesa dos sectores públicos estratégicos como a água, a protecção dos serviços públicos de saúde, educação e Segurança Social, a revisão da legislação laboral com reposição de direitos, o aumento do emprego e dos salários, a criminalização do enriquecimento ilícito e o combate à corrupção, o respeito absoluto pela paridade (50/50) a, igualdade de género, a adopção por gays, a saída de Portugal da NATO. Só que o BE que chega a esta convenção é um BE desgastado, fraccionado, fechado sobre si mesmo – a viver numa lógica de sobrevivência em reacção ao afastamento de alguns fundadores e à própria incapacidade de renovação geracional, exibindo também o abandono cada vez mais acentuado da cultura de abertura ao diálogo político. Reflexo desse desgaste é a saída dos militantes que pertenciam à Política XXI e que estão no Fórum Manifesto. Uma ruptura que deixou em minoria a linha política que junta herdeiros do PSR e da Política XXI e que no início de 2013 criaram a tendência Socialismo, protagonizada por Francisco Louçã, João Semedo e José Manuel Pureza. É o confronto entre estes e a Associação UDP que se joga na IX Convenção, na qual Pedro Filipe Soares surge com 262 delegados eleitos contra 256 de Catarina Martins e João Semedo – e em que poderão ser decisivos os 90 delegados eleitos pelas outras moções. Ora, mais do que estas lutas internas no BE, o que determinará o futuro deste partido, repetimos, é a sua capacidade de atrair eleitores em 2015. Este jogo passa-se no exterior do Pavilhão das Olaias e tem como parceiro o novo Livre e a capacidade inegável que Rui Tavares teve de congregar em torno de si intelectuais e personalidades de esquerda que estão para além do próprio Livre, do Fórum Manifesto e da Renovação Comunista. Assim, entre os promotores da “candidatura cidadã” do Livre estão nomes mais ou menos expectáveis como Ana Drago, Daniel Oliveira, Rogério Moreira, Cipriano Justo, Paulo Fidalgo, Carlos Brito, Henrique de Sousa, Fernando Sousa Marques, Carlos Luís Figueira, José Manuel Tengarrinha, Luísa Mesquita, Florival Lança, Ulisses Garrido, Isabel do Carmo, Pilar del Rio, Luís Moita, José Reis, Ricardo Paes Mamede, Eugénia Pires, Sandro Mendonça e Boaventura Sousa Santos. Mas estão outros que não são tão previsíveis, como é o caso de Viriato Soromenho-Marques, Ricardo Sá Fernandes, São José Lapa, Luísa Costa Gomes, Mário Laginha, Júlio Machado Vaz, Alexandra Lucas Coelho, Jorge Wemans, Augusto M. Seabra, André Freire, Miguel Vale de Almeida e Pedro Bacelar de Vasconcelos. Já para não falar de alguns jovens ainda sem proeminência pública, mas que representam uma renovação geracional e intelectual. A questão é saber até onde será atractiva para o eleitorado esta proposta liderada por uma nova geração, nascida depois do 25 de Abril, que não está enredada nas teias das rivalidades velhas de 40 ou 50 anos entre o PCP e a extrema-esquerda, e que parece não ter medo de partilhar o poder e de tentar condicionar uma governação do PS à esquerda.
REFERÊNCIAS:
E se Donald Trump fosse Donna Trump? A piada “transfóbica” do Daily Show
O programa humorístico está a ser a acusado de reduzir as pessoas transgénero a um dichote. A publicação no Twitter foi apagada. (...)

E se Donald Trump fosse Donna Trump? A piada “transfóbica” do Daily Show
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O programa humorístico está a ser a acusado de reduzir as pessoas transgénero a um dichote. A publicação no Twitter foi apagada.
TEXTO: O The Daily Show está a ser acusado de ter feito uma piada transfóbica para atingir Donald Trump. A publicação foi feita a 17 de Maio, data em que se celebra o Dia Internacional contra a Homofobia, no Twitter — e entretanto apagada, após a chuva de críticas. Na conta do programa humorístico no Twitter, transmitido no canal norte-americano Comedy Central, foi publicada uma pergunta com resposta múltipla. “Que notícias serão reveladas na quinta-feira entre as 17h e as 18h?”, perguntava-se, com as seguintes opções de resposta: “Trump usa a Constituição como um guardanapo no KFC”; “Comey lança um ‘álbum visual’”; “Ivanka pede imunidade”; e, por fim, “Donald Trump anuncia que agora é Donna Trump”. Foi esta última opção que gerou alguma controvérsia, sobretudo na comunidade LGBT, por dar a entender que a mudança de sexo é uma condição degradante e, portanto, que pode ser usada enquanto piada. O tweet foi entretanto apagado mas houve quem o registasse e voltasse a divulgar pelas redes sociais. Vários utilizadores do Twitter consideraram a piada ofensiva e transfóbica. Since they, like the people they make fun of, are deleting tweets now: The Daily Show making a joke at the expense of trans people. pic. twitter. com/73S3MuLl5M“Isto teve piada até que acabou à custa de um grupo marginalizado”, escreveu um utilizador do Twitter. “Ponham-me à frente do Daily Show. Qualificações: nenhumas, mas pelo menos não vou fazer piadas más à custa das pessoas transgénero”, publicou outra pessoa. “Uma piada sobre transgéneros? A sério? Em 2017? O que raio aconteceu ao Daily Show?”, questiona outro utilizador do Twitter. @TheDailyShow Do better Daily Show. Trans people are not punch lines. ??Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. @TheDailyShow Haha you're right daily show. Someone transitioning is definitely as crazy as the other things on this list@TheDailyShow This was funny until it ended at the expense of a marginalized group. #DroppedTheBallAinda assim, o actual apresentador Trevor Noah – que sucedeu, em 2015, a Jon Stewart e que não estará obrigatoriamente relacionado com a gestão das redes sociais – já tem sido elogiado por ter entrevistado, no decorrer do último ano, a actriz Laverne Cox e a vocalista Laura Jane Grace, ambas trangénero. De qualquer modo, esta não é a primeira vez que o programa recebe reacções negativas às suas piadas (sobre o aborto, por exemplo) e o próprio Trevor Noah foi acusado de ter tweets antigos que faziam troça de situações que envolviam mulheres, judeus ou violência doméstica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto violência comunidade sexo mulheres doméstica lgbt homofobia
Uma geração a tentar sair de Gaza para dizer: "Sou de Gaza"
O quotidiano de Gaza é definido pelos limites do território. Mas no meio da destruição e da densidade urbana, a Internet funciona. A ligação ao exterior traz possibilidade de trabalho, e há startups a sair do grupo dos “empreendedores mais duros” do mundo. (...)

Uma geração a tentar sair de Gaza para dizer: "Sou de Gaza"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O quotidiano de Gaza é definido pelos limites do território. Mas no meio da destruição e da densidade urbana, a Internet funciona. A ligação ao exterior traz possibilidade de trabalho, e há startups a sair do grupo dos “empreendedores mais duros” do mundo.
TEXTO: Hala Olwan e Iyad Altahrawi são jovens e ambiciosos num lugar de enormes dificuldades para quem é jovem e ambicioso: a Faixa de Gaza, um pequeno território cercado, de onde é difícil (alguns dirão: quase impossível) sair, onde os bens que entram são restritos e rigorosamente revistos, onde há electricidade apenas quatro horas por dia, onde quem governa é o movimento islamista Hamas. Hala sente que a sua vida é ainda mais complicada por ser mulher. Mas tem um plano e está a segui-lo com rigor. Vai fazer “tudo o que conseguir, e ainda “mais um pouco” para tentar “realizar um sonho quase impossível”: sair de Gaza e conseguir um emprego fora. Já Iayd fez o percurso de sonho de Hala e regressou: saiu para estudar nos EUA e na Alemanha, trabalhou em Frankfurt, mas largou um emprego para voltar, ajudar e trabalhar com os “empreendedores mais duros do mundo”. Iyad Altahrawi está no espaço dos Gaza Sky Geeks, uma incubadora de startups, academia de código, aconselhamento a freelancers e espaço de coworking, um oásis de electricidade, energia e optimismo no meio de Gaza. A decisão que tomou é sempre questionada — a maioria das pessoas está a tentar fazer o oposto. Iyad não desvaloriza as dificuldades, nem para si próprio — “É verdade que às vezes estou encurralado em Gaza e não consigo sair” — nem para o trabalho. “Trabalhamos num ambiente muito incerto”. Mas desde que regressou, há mais de um ano, nunca se arrependeu, garante. “Gosto de acordar e ir para o trabalho todos os dias”, sublinha. “As pessoas são muito activas e ambiciosas. Toda a gente está a tentar conseguir chegar a qualquer lado”, diz. Nos Gaza Sky Geeks tem possibilidade de ajudar e fazer mesmo a diferença. “Este é um local de esperança e ambição. ”A um sábado às 9h30 da manhã (é o segundo dia do fim-de-semana na região) já há uma série de pessoas sentadas na sala comum de coworking, de café e computador à frente. O espaço tem quadros com frases motivadoras de figuras inspiradoras de Harry Potter a Rocky Balboa (“Não é uma questão de quão forte consegues bater, é quão bem consegues aguentar ser atingido e continuar em frente”). O caos de Gaza, as buzinas e burros, o pó e os checkpoints do Hamas ficam lá fora. Aqui há um bulício, mas mais organizado: “Não trabalhes duro, trabalha de forma inteligente”, diz outro cartaz. O inglês é a língua franca, mas há também informação em árabe. Iyad Altahrawi é responsável pelo programa de incubação e aceleração nos Gaza Sky Geeks e trabalha de perto com as equipas de startups e mentores. Está prestes a começar um programa de aceleração de 16 semanas com workshops, metas semanais, e um dia de demonstração para apresentação a investidores. A Internet é uma das infraestruturas boas de Gaza, o território tem muitos jovens qualificados. O programa Gaza Sky Geeks (GSG) começou em 2011, com financiamento da organização de ajuda dos EUA Mercy Corps e da Google, para aumentar o conhecimento de tecnologia, e foi tendo cada vez mais ofertas e programas, para aproveitar o potencial do trabalho em software. Iyad explica que Gaza tem potencial, por ter grande “talento tecnológico”, de se tornar um exportador de trabalho na área como é a Índia. A dificuldade em trabalhar com hardware (quase nada entra em Gaza; apesar disso, há uma série de pessoas a trabalhar com impressoras 3D, contornando a falta de materiais com peças antigas e vídeos de instruções do YouTube) também leva a que a maior parte das pessoas da área se dediquem antes ao software. E com os GSG a conseguirem ter pessoas a participar em competições internacionais e ganhar prémios, Iyad garante: “Tenho a certeza que lá fora somos conhecidos pelo nosso trabalho. ”Mas nem tudo o que é virtual funciona só em meio virtual. Se é possível contrariar o não ter matérias primas oferecendo serviços, a dificuldade em viajar afecta muito as hipóteses de crescimento. É que os donos do dinheiro “não investem em ideias”, diz Iyad, querem sim “conhecer as pessoas, ver como trabalham”. Existe o Skype, mas neste caso não funciona. Muitas vezes há oportunidades fora, mas o ritmo das autorizações de Israel é incomparavelmente mais lento do que o ritmo das oportunidades. E do Egipto é ainda mais incerto. Os dois países bloqueiam o território invocando razões de segurança; organizações de defesa dos direitos humanos dizem que o bloqueio é ilegal e que serve como “castigo colectivo”. Face a tudo isto, importa “nunca desistir”, diz Sara Alafifi, do programa de mentores e comunicação. Mesmo que a taxa de saída dos empreendedores para mostrar trabalho, ou de formandos para estágios em empresas internacionais, seja “de 5%”, eles vão tentar sempre aumentá-la. Mesmo que não haja lógica aparente nas decisões, e que a saída de uma pessoa possa ser aceite numa vez e rejeitada na seguinte, “vamos aprendendo”. A aposta é na maior antecedência possível, e na flexibilidade de todos — “nem que seja preciso adiar”. Por exemplo, recentemente a Google aceitou adiar seis meses um estágio de um formando dos GSG até chegar a autorização para a viagem. Acabado o estágio, novo problema — o regresso também teve de ser adiado (as entradas são quase tão incertas quanto as saídas). Mas o estágio foi feito. Outro problema é a falta de opções de pagamentos: o PayPal, sistema quase universal, não opera na Palestina. Por isto e por tudo o resto, explica Sara Alafifi, é que aqui estão “os empreendedores mais duros” do mundo. Porque estão habituados a trabalhar num local onde tudo pode acontecer, a contornar todos os imprevistos, a encontrar uma solução para todos os problemas. O chavão de não haver dificuldades e sim desafios a superar é verdadeiro aqui, todos os dias. Mas também porque é possível trabalhar arduamente, ser óptimo, e perder uma ou várias oportunidades. É preciso saber lidar com a incerteza, com a frustração. “Fazes o mesmo que pessoas em todo o mundo estão a fazer — e devia estar a resultar. Mas estás em Gaza, por isso tens de trabalhar mais. E ter paciência”, explica Sara Alafifi. Sara nota que em todo o mundo as mulheres trabalham mais e em Gaza trabalham ainda mais. Mas aqui nos Gaza Sky Geeks, “se há coisa que não há, é falta de ajuda para mulheres”, sublinha. Elas são 53% em todos os programas, e a percentagem sobe na parte das startups: 58% são fundadoras ou parte das equipas. Os casos de maior sucesso saído dos GSG são startups de mulheres — Nour Abuzaher é uma delas, a sua empresa MomyHelper, de ajuda a mães árabes, que obteve um segundo lugar numa competição de startups em Istambul (para onde teve autorização de Israel para ir — já para outro concurso na Califórnia não conseguiu) e financiamento de uma business angel (como são chamados investidores relativamente pequenos) do Dubai. Nour teve a ideia para um serviço de aconselhamento de mães árabes depois de ser mãe. “Na altura estava fora de Gaza, não estava perto da família, e não sabia lidar com o meu bebé — queria fazer tudo o possível para dar tudo ao meu pequenino”, conta. Começou a partilhar no Facebook algumas das ideias para o seu “pequenino”, como chama sempre ao filho (hoje com três anos). Recebeu muitos comentários e mensagens privadas de mães que não conhecia a pedir a sua opinião para dificuldades e problemas. “Eu não podia responder, não sou especialista”, nota. Percebeu que havia ali uma necessidade. Leu que as mães árabes têm uma percentagem de depressão comparativamente alta. E que apesar de haver rede e de apoio familiar, o mundo já não é o mesmo do da sua mãe e avó. Assim começou a trabalhar numa aplicação para aconselhamento profissional fácil e discreto para mães árabes — telefónico, sem imagem, o que é importante sobretudo se o especialista for um homem. A empresa foca-se no mercado do Médio Oriente e Norte de África, mas Nour conta que mesmo sem ter esse mercado como target, tem utilizadoras da Alemanha ou Áustria. Nour sublinha que muitas mulheres sempre trabalharam em Gaza — embora as profissões mais típicas fossem como professoras ou enfermeiras. Mas “a situação mudou muito nos últimos cinco anos”, explica. As dificuldades económicas fizeram com que muitas famílias já não vejam com maus olhos que as mulheres trabalhem e ganhem dinheiro. “Cada vez há mais mulheres a sair, trabalhar, fazer voluntariado — há uma percentagem que não pode, é verdade, mas é cada vez mais pequena. ”Voltando a Sara al-Afifi e à sua tour algo acelerada de tudo o que os Gaza Sky Geeks têm para oferecer, ela sublinha a parte direccionada para as mulheres: clubes de código para mulheres (“a maioria não é encorajada na universidade a seguir esta via), reuniões regulares com mulheres que têm startups, brunch às segundas-feiras com mulheres inspiradoras e sempre que há mentoras internacionais também é organizado um encontro. “Algumas das visitantes internacionais ficam espantadas e dizem que aqui é melhor para as mulheres do que em Silicon Valley”, diz Sara. “Os homens é que às vezes acham que estão a ser discriminados. ”A Internet é o trabalho de uns, mas é também uma linha de ligação ao exterior. A pouca distância da sede dos Gaza Sky Geeks está o café Al-Baqa. É uma curtíssima viagem de carro, que pode ser chamado com uma app, que permite partilhar viagens com amigos. “O seu capitão chegou”, anuncia a app — desenvolvida por uma startup saída dos Gaza Sky Geeks. Da janela do carro vêem-se os muros cheios de graffiti, a cúpula dourada da mesquita de al-Aqsa, em Jerusalém, desenhos alertando para o perigo de colisões nos cruzamentos, onde se amontoam carros e carroças e se buzina para passar. O café é uma grande esplanada sobre o mar e vai enchendo à medida que a tarde passa com grupos de amigos que se encontram. Hoje, a estudante Mais Abu Shawish tem um sorriso especial quando anuncia: “Tive o meu último exame: finalmente acabei e posso fazer o que quiser!”, diz. “Estava mesmo stressada”, acrescenta, deixando-se cair na cadeira e pedindo um sumo cor-de-rosa, que condiz com o seu hijab florido. Mais (lê-se Maiz) tem 23 anos e está a acabar o curso de inglês e francês na Universidade al-Azhar — a cerimónia de fim de curso, à americana, ainda está para vir: centenas de alunos vestirão o seu fato com um pormenor de padrão de lenço palestiniano, e chapéu e tudo, para receber os diplomas. O contraste entre a cerimónia e o muro da Universidade é grande: lá foram sendo pintados os retratos dos manifestantes mortos por atiradores furtivos israelitas nos protestos da Marcha do Retorno, que começaram a 30 de Março. O muro só teve espaço para os primeiros — acabaram por morrer 110 manifestantes, a maioria dos tiros (o Exército disse que atingiria quem quer que se aproximasse da barreira que divide Gaza de Israel). Mesmo antes de ter o diploma na mão, a prioridade de Mais é trabalhar. “Preciso de ser independente financeiramente — explica —, porque já tive uma oportunidade de estudar fora e os meus pais não me deixaram”. Nem todas as famílias aceitam que as jovens mulheres viajem sozinhas. Se vai resultar ou não, não faz ideia. Ela oscila entre o pessimismo (“não sei como vai ser, parece que as portas estão todas fechadas”) e o optimismo (“talvez um dia consiga fazer muita coisa!”). O futuro, Mais sabe que vai ser diferente do que é hoje. “Nada fica igual. Não quer dizer que vá ficar melhor, mas igual, não fica”, garante. Esta estudante é “apaixonada por tudo o que é diferente” e por isso tem amigos, que fez online, em todo o mundo. “Os meus amigos mais próximos são os que vivem mais longe”. Um budista, um homossexual, em Gaza não conhece ninguém assim (pessoas de outras religiões há apenas cristãs, uma pequena minoria, “homossexuais talvez haja, sim, mas escondidos”). Estas amizades surgiram num grupo para poliglotas de que Mais fez parte. Fez, no passado, porque a dada altura houve um encontro na Califórnia e ela não foi porque não conseguiu autorização, apesar da pressão de responsáveis do grupo. A ausência foi o motivo para a sua saída. “Um problema das ligações externas de Gaza é que muitas pessoas não percebem o que passamos aqui. ”Tais como: a falta de electricidade; ter electricidade em períodos de quatro horas que não são sempre os mesmos; não saber quando há ou não; não saber, desde há cerca de dez anos, o que é um fornecimento de electricidade normal. As implicações mais óbvias: não se pode ter nada no frigorífico que se estrague em mais do que um dia; ter problemas caso se precise de medicamentos que necessitam de frio; ter a casa às escuras à noite durante longos períodos; ou ter luz eléctrica só de madrugada; ficar frequentemente com o telefone ou o computador sem bateria; a roupa por lavar, ou por passar; ter os elevadores parados (e há muitos prédios altos em Gaza); ler ou estudar à luz de velas ou lanternas. Não ter alívio para o calor no Verão. Estar em casa sem electricidade “é como estar num filme de terror”, diz Tarek, 21 anos, estudante de Engenharia, especialização em Metalomecânica, que se junta mais tarde ao grupo de Mais no café à beira-mar. Estar fechado, à noite, horas a fio, no escuro. . . “é horrível, não consigo explicar. ” “Se é para falar de electricidade, então vamos falar do efeito psicológico”, diz por seu lado a advogada Fatima, 25 anos, que entra na conversa. Fatima é uma das sortudas: tem um contrato de seis meses — “O que é o melhor que se consegue arranjar aqui. ” Mas recusa-se a viver de acordo com o horário aleatório da electricidade. Se há pessoas que deixam todos os interruptores em casa ligados para terem a certeza que acordam quando regressa a luz, e que assim conseguem não falhar as quatro horas quando estas calham a meio da noite, ela faz o contrário. “Já não consigo lidar com isto, então, vivo sempre na escuridão”. “Já estou habituada, foram sete anos a estudar sem luz” — às vezes fora de casa, às vezes com uma lanterna, ou mesmo à luz de velas. Mas isto não quer dizer que não tenha um desejo profundo de ter algumas horas mais de electricidade: “Penso muito que as coisas podem mudar. Sobretudo nos dias de calor, penso em como seria bom ter uma ventoinha”. Mas há dez anos que a situação não muda. Fatima fez uma única concessão à electricidade: tem um carregador de bateria para o telefone; mesmo assim, às vezes fica sem bateria. Por isso muitos jovens estão cada vez mais tempo fora de casa, na universidade, ou no café, onde geradores vão carburando a combustível e com uma ou outra interrupção, asseguram uma quase normalidade. Estar num destes cafés ao pé do mar, então, é a maior escapatória possível, ter um horizonte além do emaranhado de prédios da cidade. É uma sensação, imaginária, porque a Marinha israelita assegura o cerco no mar e nunca seria possível sair por ali. E como a electricidade não chega para tudo, também não chega para tratar os esgotos, e assim, muitas vezes estes são descarregados sem tratamento directamente no mar. Mas num sítio onde não há quase nada para fazer, não ir ao mar, não deixar as crianças nadar, está fora de questão. O máximo é evitar as zonas de descarga directa. Da esplanada do Al-Baqa vêem-se os miúdos, gritos entusiasmados, a lutar com as ondas, a brincar com o vaivém do mar. Ao longe parece tudo bem; ao perto vê-se que a espuma não é branca. Muitos destes jovens falam inglês como se tivessem saído de um intercâmbio nos Estados Unidos — mesmo que a maioria nunca tenha ido a nenhum lugar a mais de 20 quilómetros de onde estão. A fluência que têm espelha o seu esforço — é a chave para a tão ansiada saída. Hala Olwan é o exemplo máximo disto: tem 21 anos, estuda Literatura Inglesa na Universidade Al-Azhar, nunca saiu de Gaza, mas fala como se estivesse numa série de televisão americana, velocidade, entoação, ritmo, entusiasmos e tudo. Hala está na sala da casa da sua família, onde hoje estão também a mãe, os quatro irmãos (“os macaquinhos”), e uma amiga. É num terceiro andar e foi possível subir de elevador porque estamos numa hora em que há electricidade. Enquanto falamos, a mãe serve Coca-Cola já fresca de uma hora no frigorífico, e vai supervisionando o carregar de uma bateria que parece de automóvel, e depois outra. Estas vão guardar alguma electricidade, que depois é usada, com um conversor, para ver televisão, carregar um telefone, ter luz para ler à noite. Isto diminui a vida útil dos aparelhos, mas é melhor do que só os puder usar às horas de fornecimento. É impossível escapar a este tema em Gaza. Mas não é só a electricidade, e ter de planear toda a vida à volta daquelas quatro horas de energia — é ter de “lidar com as expectativas sociais em relação às mulheres”, o que é, sublinha Hala, “uma questão de cultura e não de religião” (ela usa o véu islâmico). Feminista, lança-se num desabafo sobre o poder dos homens sobre as mulheres, o facto de os maridos serem quem decide tudo, de haver violência doméstica. Ela não quer valer menos, não quer submeter-se, não quer ser “uma mulher em Gaza”. “Sou muito ambiciosa”, diz, “tenho um plano, e vou fazer tudo o que puder para conseguir este sonho quase impossível” — sair de Gaza. O plano inclui esmero no estudo — tem de ser excelente porque quer concorrer a uma bolsa e tem de estar entre os melhores para a ganhar. Vai procurar tudo o que é preciso saber sobre as bolsas disponíveis, cruzar toda a informação que conseguir, e vai fazer uma candidatura que lhe dê as melhores hipóteses. Não quer pôr a hipótese de não resultar. “Nós fazemos tudo e até mais qualquer coisa”, diz, falando de si — e de repente, está a falar também dos habitantes de Gaza em geral. “Passámos por três guerras e estamos a sobreviver. ” Olha para a amiga, que está ao lado, toca-lhe no braço, e sai-lhe uma exclamação sentida: “Oh-my-God! Tenho tanto orgulho de ser palestiniana!”Mas quer ser uma palestiniana fora. Às vezes demora muito tempo a ter uma ideia do que isto poderá ser. Abier Almasri, por exemplo, saiu de Gaza pela primeira vez aos 31 anos. Foi há dois meses. Sentada num pátio de um antigo e clássico restaurante da cidade, Abier, que trabalha em pesquisa na organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch, ainda se emociona ao falar disso. Contar esta história é um misturar de relatos de restrições práticas, suspenses burocráticos e sentimentos tão fortes que a fizeram rir e a seguir chorar e tudo ao mesmo tempo. As restrições são a parte mais fácil de contar, embora leve tempo: nunca se sabe se a autorização dada por Israel se vai manter até ao momento em que se passa realmente para o lado de lá; quem sai pode levar pouco mais do que roupas (muitas pessoas optam por levar sacos de plástico transparente com roupa). Pasta de dentes, champô, maquilhagem: nada disto pode passar. Pior, para quem trabalha: não é possível levar computadores portáteis. No caso de Abier, como a viagem era para uma reunião da Human Rights Watch em Nova Iorque, ainda havia o visto para os EUA — que tinha de ser pedido em Amã (Jordânia) e nem acreditou quando conseguiu. Depois vem a parte mais difícil de relatar. “Viajar mudou-me”, diz Abier, gestos calmos interrompidos por entusiasmos repentinos. “Porque se és daqui e viajas para outro sítio, percebes que mereces uma vida melhor”. Porque em Gaza “as pessoas estão com tanta falta de empregos, de salários, de seis ou oito horas de electricidade — já nem sequer pensamos em 24. . . estamos tão preocupados em ter os cuidados de saúde de que precisamos se ficarmos doentes”, diz. “Estamos tão ocupados com isto que nem pensamos no futuro. Mas nós merecemos esta vida melhor e este futuro”. Sair é “respirar um ar de liberdade”, diz Abeir. “Só me apetecia dizer a toda a gente: ‘eu sou de Gaza! Sou de Gaza!’ “, conta, a sorrir. “Gravei vídeos para me lembrar da sensação. Não consigo descrever, é impossível pôr em palavras. ”Sair “é mágico”, dizia na esplanada Tarek, o estudante de engenharia. “É como se flutuasses no ar”, gesticula, com saudades. Sair é achar estranho que lugares estejam todos iluminados durante a noite “só porque é bonito”, que não haja barulho de geradores para suprir a falta de energia, nem haver um balão do exército israelita a recolher imagens, é andar por um aeroporto e comentar que este é — “de certeza, pessoal!” — maior do que Gaza. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Apesar de tudo isto”, dizia ainda Tarek, “Gaza não é um inferno como as pessoas possam pensar — também é bonito”. Aponta para o mar. E olhando depois as pessoas em volta no café, em conversas animadas em grupo ou em família, ou a dois, mais recatadas, termina: “O mais importante é o espírito. ”
REFERÊNCIAS:
Rapper XXXTentacion, um jovem fenómeno, morre após aparente assalto
O rapper tinha 20 anos e a sua curta carreira deu-lhe o número 1 de vendas nos EUA e alguma polémica. (...)

Rapper XXXTentacion, um jovem fenómeno, morre após aparente assalto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.075
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O rapper tinha 20 anos e a sua curta carreira deu-lhe o número 1 de vendas nos EUA e alguma polémica.
TEXTO: O rapper norte-americano XXXTentacion morreu nesta segunda-feira, em Miami, depois de ter sido atingido por vários tiros à queima-roupa, avançou o site norte-americano TMZ. Teve uma vida conturbada, marcada pela violência e pela história de rápida ascensão de um jovem talento musical. O rapper de 20 anos estaria a comprar uma mota, em Miami, no estado norte-americano da Florida, quando dois homens armados saíram de um carro e pelo menos um deles começou a disparar na sua direcção, segundo detalhes entretanto dados pelo xerife de Broward, o condado onde ocorreu o tiroteio. "Os dois suspeitos fugiram num carro SUV preto. Os investigadores dizem que parece ser um possível roubo. "O músico ainda foi assistido no hospital, mas não resistiu aos ferimentos. XXXTentacion, nome artístico de Jahseh Onfroy, apresentava-se como uma jovem promessa no rap e o seu segundo álbum, ?, entrou directamente para número 1 no top de vendas da Billboard - o primeiro, 17, tinha chegado a número 2. No total, vendeu mais de 2 milhões de discos na sua curta carreira. Forjou o sucesso na plataforma de música SoundCloud com o seu primeiro tema, Vice City, e desde então foi lá lançando, e depois através do circuito tradicional, vários EP e temas que iam tocando vários estilos musicais. O SoundCloud, de onde saiu uma vaga de rap recente, foi onde teve outro êxito, como assinala o New York Times, Look at Me!. Na sua vida privada, aguardava julgamento por agressão agravada e violência doméstica por alegadamente ter atacado a namorada grávida. Em tribunal, tinha-se declarado inocente da violência que a sua ex-namorada dizia ser constante e que culminou nesse ataque em Outubro de 2016. Depois disso, doou 100 mil dólares a instituições que se dedicam à prevenção da violência doméstica. Morreu sem ir a julgamento. Como recorda o Washington Post, a sua construção pública enquanto rapper embebia-se também dos relatos de violência - como a alegadamente cometida sobre um colega de cela pela sua homossexualidade ou pelas escaramuças regulares com os próprios fãs nos concertos. A sua conduta voltaria a estar sob análise em 2017 quando foi atacado e acusou os rappers Migos desse acto, mas imagens do ataque comprovariam que não se tratava dos músicos da Geórgia, igualmente bem sucedidos. Na juventude esteve num reformatório por posse de arma e foi detido já em adulto em 2016 roubo e violência armada. Na sequência dessas acusações, o músico foi um dos rappers que a plataforma de streaming musical Spotify retirou do seu serviço (outro deles foi R. Kelly, acusado de abuso sexual de menores) em Maio, por considerar que a vida particular de alguns músicos seria "de ódio". Mas a indústria musical revoltou-se contra a decisão e os temas de XXXTentacion voltaram ao Spotify, um dos actuais principais pontos de consumo musical. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A sua morte levou vários músicos às redes sociais para lamentar o sucedido, com Kanye West a escrever: "Nunca te disse enquanto cá estavas quanto me inspiraste". O músico Questlove, dos Roots, partilhou uma fotografia do jovem Jahseh Onfroy com a legenda "A América devora os seus jovens". No ano passado, sobre a crueza das rimas de Onfroy, o respeitado Kendrick Lamar recomendava via Twitter: "Ouçam este álbum se sentirem alguma coisa". O contexto de vida do rapper, criado sobretudo pela avó, foi resumido em parte numa entrevista ao Miami New Times, citada esta terça-feira pelo Guardian, em que dizia ter na violência uma forma de chamar a atenção. "Costumava bater nos miúdos na escola para conseguir que ela simplesmente falasse comigo, que gritasse", referindo-se à mãe. Um dos cronistas do actual momento musical no rap e nesse boom do SoundCloud como plataforma de divulgação e criação nessa área musical, Roger Gengo, disse ao New York Times que a sua visão sobre XXXTentacion era sempre dividida. "Tendo em conta aquilo de que foi acusado, a sua música ainda assim era incrivelmente autêntica. O seu verdadeiro eu sangra para a sua música e as suas letras. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens escola violência tribunal ataque consumo sexual doméstica abuso
As palavras duras de Chelsea Clinton sobre a amiga Ivanka
Há anos que é conhecida a amizade entre as filhas do ex-Presidente Bill Clinton e do actual Presidente dos Estados Unidos. Mas Chelsea levanta dúvidas sobre as escolhas mais recentes de Ivanka Trump. (...)

As palavras duras de Chelsea Clinton sobre a amiga Ivanka
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-05-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há anos que é conhecida a amizade entre as filhas do ex-Presidente Bill Clinton e do actual Presidente dos Estados Unidos. Mas Chelsea levanta dúvidas sobre as escolhas mais recentes de Ivanka Trump.
TEXTO: A campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos não foi capaz de quebrar a amizade entre Ivanka Trump e Chelsea Clinton. Mas, como conta a filha do ex-Presidente Bill Clinton ao Guardian, o mesmo não se pode dizer da presidência de Donald Trump – ou, mas concretamente, da conduta de Ivanka como sua conselheira. Não é que tenha existido concretamente um conflito entre as duas, mas estas não se falam "há muito tempo". Chelsea Clinton, que acaba de lançar o seu terceiro livro de crianças com um tom feminista, She Persisted Around the World: 13 Women Who Changed History, questiona o facto de Ivanka – tal como os seus irmãos – ter aceitado fazer parte da administração de Trump. "[A Ivanka] é uma adulta. Pode fazer as suas próprias escolhas. Quer dizer, ela tem 36 anos. Nós somos responsáveis pelas nossas escolhas", comenta. "Em 2008, tive muito orgulho em apoiar a minha mãe [quando esta se tornou secretária de Estado de Barack Obama] – mas eu discordava dela fundamentalmente em algumas coisas, concretamente a sua oposição, na altura, aos direitos de igualdade de casamento dos americanos LGBTQ. Nunca defendi essa posição, porque não considerava a coisa certa a fazer". Chelsea diz que nunca teria aceitado trabalhar para a mãe, caso esta tivesse ganho as eleições de 2016, e não tolera a escolhas dos filhos de Donald Trump. A excepção, ressalva, é Barron: "Ele tem 12 anos; deixem-no em paz, por favor". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quando no ano passado Ivanka Trump ocupou o lugar do pai à mesa dos líderes mundiais, durante a cimeira do G20, o Presidente defendeu a decisão, escrevendo no Twitter se a mesma situação acontecesse com Chelsea e Hillary Clinton "as fake news diriam Chelsea a Presidente!". A resposta de Chelsea veio pouco depois, pela mesma rede social: "Bom dia, senhor Presidente. Nunca ocorreria à minha mãe ou ao meu pai pedir-me [para os representar como Presidente]". E se Ivanka decidisse suceder ao seu pai, a eleição da primeira mulher seria uma vitória para o feminismo? "Bem, não apoiei Sarah Palin quando ela foi candidata a vice-presidente em 2008. E espero que o meu filho seja tão feminista quanto a minha filha. Acho que tem mais a ver com aquilo que nós defendemos e como o fazemos do que o género da pessoa que lá está", responde Clinton ao jornal britânico. Quando falava em 2015 sobre Ivanka Trump à revista americana Vogue, Chelsea só tinha coisas positivas a apontar: "Ela está sempre com atenção a toda a gente à sua volta e a garantir que todos estão a desfrutar do momento. Não há nada de superficial na Ivanka".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos filha filho mulher social igualdade género casamento feminista feminismo
Se um Bolsonaro conquista muita gente, quatro conquistam muito mais
Não foi só Jair Bolsonaro, candidato favorito à vitória nas presidenciais brasileiras do próximo domingo, que saiu das franjas para ameaçar dominar a política brasileira. Os seus filhos foram também catapultados à boleia do fenómeno do pai. O clã Bolsonaro está perto de se tornar o mais poderoso do Brasil. (...)

Se um Bolsonaro conquista muita gente, quatro conquistam muito mais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.533
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não foi só Jair Bolsonaro, candidato favorito à vitória nas presidenciais brasileiras do próximo domingo, que saiu das franjas para ameaçar dominar a política brasileira. Os seus filhos foram também catapultados à boleia do fenómeno do pai. O clã Bolsonaro está perto de se tornar o mais poderoso do Brasil.
TEXTO: O apelido Bolsonaro saiu das franjas da política brasileira. Jair, o candidato presidencial do Partido Social Liberal (PSL), está com um pé no Palácio do Planalto. Mas com ele emergiram também os seus filhos, que estão na política há alguns anos. Ao todo, os três Bolsonaros que foram à primeira volta das eleições brasileiras no dia 7 de Outubro arrecadaram 55, 5 milhões de votos. Este clã deixou de ser politicamente periférico e está perto de se tornar o mais influente do Brasil. Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro são nomes que se tornaram conhecidos no Brasil à boleia do pai, Jair, deputado federal há 27 anos. São muito poucas as diferenças entre as visões políticas, sociais e económicas deste quarteto. Se o patriarca chegar à presidência, o clã Bolsonaro vai estar espalhado um pouco por todas as esferas do poder. E o potencial Presidente contará com poderosos aliados. O mais velho, Flávio, de 37 anos, era até aqui deputado no Rio e foi eleito para o senado. Carlos, de 35 anos, foi o único dos três que não foi a votos este ano, tendo sido eleito para o quinto mandato como vereador do Rio em 2016. Eduardo, de 34 anos, foi reeleito deputado federal na primeira volta com um recorde de votos a nível nacional. À semelhança do pai, todos têm um historial de polémicas. As dinastias políticas não são novas no Brasil. Por exemplo, nas eleições de 2014, segundo um estudo da organização independente Transparência Brasil, 49% dos 523 deputados federais eleitos tinham relações familiares como outros políticos. Mais concretamente, entre os deputados com menos de 35 anos, supostamente a faixa etária que representaria uma renovação, 85% eram familiares de políticos. Na primeira volta das eleições deste ano, até houve um crescimento na chamada “bancada de parentes”. De acordo com os dados do órgão de assessoria parlamentar, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, em 2014, eram 113 os deputados e senadores com parentesco político. Neste momento, o número é de 138. As raízes desta tradição do chamado “poder de pai para filho” remontam, segundo alguns especialistas, à colonização portuguesa do Brasil. Foi a partir daqui que as famílias mais poderosas começaram a dominar as lideranças políticas e sociais no Brasil. A administração territorial da então colónia portuguesa foi feita através do sistema capitanias que eram hereditárias, no qual o território brasileiro era distribuído pelos chamados “capitães donatários”, que eram nobres, grandes proprietários e pessoas próximas à coroa. Estes passavam a administrar grandes extensões de território que iam sendo, depois, transmitidas de pai para filho. Já depois da instauração da Primeira República, estas dinastias familiares alinharam-se de forma mais latente com o poder político, formando o fenómeno conhecido como “coronelismo”, que designa o controlo da política por parte de um pequeno grupo de privilegiados. Há outros especialistas, no entanto, que destacam o facto de as dinastias políticas serem normais em vários países, principalmente na América Latina (os Kirchner na Argentina ou os Fujimori no Peru) e nos Estados Unidos (como as famílias Kennedy, Bush ou Clinton). Danielle Cunha, filha do antigo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que se encontra preso no âmbito da Lava-Jato, candidatou-se a deputada federal mas não foi eleita; Fernando James, filho do ex-Presidente Fernando Collor de Melo, também entrou nas eleições mas não conseguiu ser eleito deputado; Marcelo Crivella Filho, cujo pai, também Marcelo, é o actual presidente da Câmara do Rio de Janeiro, também não teve sucesso na sua candidatura ao cargo de deputado. Estes são apenas alguns exemplos de herdeiros políticos que, com maior ou menor sucesso, se apresentaram a estas eleições. Os nomes que já sejam de alguma forma familiares aos eleitores brasileiros tendem a ser beneficiados em eleições onde estão em competição milhares de candidatos para vários cargos. Com a ascensão do “fenómeno” Jair Bolsonaro, os seus filhos conseguiram ser catapultados. “É irmão do deputado federal Eduardo Bolsonaro e do vereador Carlos Bolsonaro, com os quais comunga os ideais e os valores apreendidos de seu pai, deputado federal Jair Bolsonaro, resumidamente representados pela defesa da família; dos valores cristãos; do valor e importância do trabalho e do mérito como mais justos critérios de progresso social e distribuição de renda; da ética; e do direito à propriedade e à posse e porte de armas por cidadãos cumpridores das leis. ” É assim que Flávio é descrito no seu site. Flávio Bolsonaro entrou na política em 2003, quando foi eleito deputado estadual no Rio de Janeiro, cargo que ocupou até ao dia 7 de Outubro deste ano. Foi eleito à primeira volta para o Senado brasileiro, tendo sido o candidato mais votado do estado carioca. Em 2016, ainda tentou subir mais uns degraus candidatando-se pelo PSL à Câmara do Rio, mas ficou num modesto 4. º lugar. No lançamento da campanha autárquica, Flávio já expunha as bases que sustentam o discurso político do clã: “A nossa candidatura é de protesto contra tudo o que está aí. Governar é eleger prioridades. E o grande ponto de interrogação é o que vai ser o Rio de Janeiro depois das Olimpíadas. Somente uma pessoa independente, de fora desse esquema corrupto da velha política, é que vai ter a liberdade de fazer as verdadeiras mudanças”, disse, na altura, no evento que contou com a presença do pai. No prazo de dois anos, Flávio passou de pouco mais de 420 mil votos no eleitorado carioca para mais de quatro milhões, representando também o crescimento “bolsonarista” nos últimos tempos. Caracterizado igualmente pelo radicalismo no discurso, o filho mais velho de Jair foi acumulando polémicas ao longo da carreira política. A última das quais no início de Outubro, ao defender os seus dois colegas de partido que destruíram, no Rio de Janeiro, uma placa que homenageava a vereadora do PSOL, Marielle Franco, que foi assassinada este ano. “O PSOL acha que está acima da lei e pode mudar nome de rua. Eles só tiraram a placa que estava lá ilegalmente. Se o PSOL quer homenagear a Marielle, apresente um projecto de lei, proposta na prefeitura, para pôr a placa, mas não pode cometer um acto ilegal como esse”, disse. Ao longo do seu trajecto político, teve como principais bandeiras a redução da maioridade penal ou o livre acesso às armas por parte da população. Ele próprio esteve, em 2016, envolvido num tiroteio juntamente com o seu segurança, contra dois homens que tentavam roubar um carro no Rio de Janeiro. Um dos assaltantes ficou ferido e o outro conseguiu fugir. Numa entrevista ao portal da Globo, G1, em 2016, defendeu também a militarização das escolas mais indisciplinadas: “Um dos maiores problemas da educação é a indisciplina, então eu vou buscar o governo do estado para ver onde é possível fazer parcerias para militarizar algumas escolas. ”É também a favor da pena de morte e um defensor da ditadura militar brasileira. “Naquele tempo havia segurança, saúde, educação de qualidade, respeito. Hoje em dia a pessoa tem direito a quê? A votar. E ainda vota mal”, dizia em 2011, numa entrevista ao Estadão, reproduzindo quase ipsis verbis o que defende o pai. As declarações sobre homossexuais também não fogem muito àquilo que já foi dito por Jair, tendo afirmando que duvida de que “algum pai tenha orgulho em ter um filho gay”. Durante a campanha presidencial deste ano, teve direito a ainda mais protagonismo, pois foi cabeça de cartaz em vários comícios e serviu de porta-voz do pai, juntamente com o irmão Eduardo, depois de Jair ter sido esfaqueado e ter estado várias semanas internado. Há poucas diferenças nos discursos dos Bolsonaros. Aquilo que é defendido por Flávio e Jair também o é por Eduardo, de 35 anos. Foi reeleito nestas eleições como deputado federal por São Paulo, tendo sido o deputado mais votado de sempre no país, conquistando quase dois milhões de votos. Foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Deputados em 2014, com mais de 80 mil votos, tendo sido colega do pai desde então. A sua votação este ano no estado paulista foi 22, 5 vezes maior. Nas funções de deputado, apresentou várias propostas de projectos de lei, tais como elevar o piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, a estatuto de herói nacional ou a proibição do comunismo. Ao todo, apresentou 37 projectos de lei e duas propostas de emendas à Constituição, sendo um terço destas feito em co-autoria com o pai. Conseguiu aprovar uma. Sendo também polícia federal, Eduardo ganhou destaque em 2014 por ter aparecido numa manifestação de apoio à destituição da Presidente Dilma Rousseff armado com uma pistola. “O que quer que eu faça? Eu sou policial 24 horas por dia, não deixo de ser para ir a um protesto discursar”, justificou ao El País Brasil. Também teve voz na campanha presidencial depois da facada sofrida pelo pai. A revista Isto É descreveu-o como o “pitbull da família Bolsonaro”: “Enquanto o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, trabalha para amenizar seu discurso, procurando ampliar seu eleitorado, seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, faz o caminho contrário: radicaliza as suas palavras como forma de manter a parcela cativa de extrema-direita que os garantiu no jogo da sucessão, pelo menos até aqui. ” Ou seja, uma estratégia do género “polícia bom, polícia mau”. Eduardo publicou no seu Instagram uma fotografia com Steve Bannon, antigo conselheiro do Presidente norte-americano, Donald Trump, e estratega político que tem tentando catapultar os movimentos populistas e de extrema-direita na Europa. “Sr. Bannon afirmou ser um entusiasta da campanha de Jair Bolsonaro e certamente estamos em contacto para somar forças, principalmente contra o marxismo cultural”, escreveu em Agosto a acompanhar a imagem. Mais tarde, Jair negou que Bannon o estivesse a ajudar na campanha. Aos 34 anos, Carlos Bolsonaro está no seu quinto mandato como vereador do Rio de Janeiro. Foi reeleito para o cargo nas eleições locais de 2016, pelo que não entrou nas deste ano. Conta também no seu currículo com um recorde: ao ter sido eleito pela primeira vez em 2000, com 17 anos, tornou-se o vereador mais novo de sempre no Rio. Nessas primeiras eleições venceu a própria mãe, Rogéria, primeira mulher de Jair. Segundo foi noticiado, foi o próprio patriarca que lançou o filho para concorrer contra a mãe, depois de um divórcio litigioso. “Nas questões polémicas, ela deveria falar comigo para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu elegi-a. Ela tinha de seguir as minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente, mas ela não soube respeitar o poder e a liberdade que lhe dei”, explicava na altura o agora candidato presidencial. Na campanha deste ano, Rogéria utilizou as redes sociais para defender e apoiar o ex-marido. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Jair foi ainda casado com Ana Cristina Valle, com quem teve o seu quarto filho, Renan. Este, com 19 anos, está a estudar Direito e já admitiu gostar de política e de querer seguir as pisadas do pai. Durante a campanha, criou uma página de Facebook para promover Jair. “Filho de Jair Messias Bolsonaro. De direita, estudante de Direito e parte do futuro da nação. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. ”Do seu terceiro casamento, com Michelle de Paula Firmo Reinaldo, Jair teve a única filha, Laura, com sete anos. Durante a campanha, Jair falou em algumas ocasiões da sua única filha, tendo-se emocionado numa entrevista. Mas, em 2017, ironizou com o facto de o seu quinto filho ter sido a primeira rapariga: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Antes do apagar das luzes
Acordemos antes que as luzes se apaguem no Brasil. A normalização de Bolsonaro é uma ilusão, como aprendemos com Trump. (...)

Antes do apagar das luzes
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Acordemos antes que as luzes se apaguem no Brasil. A normalização de Bolsonaro é uma ilusão, como aprendemos com Trump.
TEXTO: Na semana anterior a Bolsonaro ser eleito, atravessei o Atlântico, em direção a São Paulo. Foi em 1987 que pela primeira vez rumei ao Brasil, em plena transição, quando decorriam os trabalhos da constituinte que promulgaria a constituição democrática de 1988. A Constituição do Brasil enuncia com detalhe único os direitos políticos e sociais que deveriam abrir um longo caminho para garantir os “valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos“. Sabiam os autores da constituição que era preciso defender a democracia e as liberdades dos seus inimigos, do regresso à noite da ditadura, da violação dos direitos humanos do coronel Ustra, celebrado como herói por Bolsonaro, responsável direto pela tortura e morte de opositores. Serão as ameaças à liberdade uma singularidade brasileira ou estará o Brasil a ser contaminado pela mesma peste da política de ódio e mentira que atacou uma boa parte do mundo? Será a consciência de que o futuro do Brasil é o nosso futuro que explica a paixão que tantos democratas, um pouco por todo o lado, dedicaram às eleições brasileiras? Em Portugal, a essa consciência alia-se uma relação íntima que faz da eleição brasileira uma tragédia muito nossa. Em São Paulo, no abastado Itaim Bibi, bairro de uma classe média que vê uma ameaça nos pobres do Brasil, os restaurantes transbordavam para as ruas. Entre risos e brindes, reinava a despreocupação, a par com a constante consulta das redes sociais: no WhatsApp caíam as fake news que alimentavam o ódio e confirmavam a crença no “mito” salvador do “comunismo”. É esta mesma classe média que, paradoxalmente, valoriza, a sua liberdade individual. Nos meus interlocutores, nos dias de suspense que se seguiram, sobressaía a consciência aguda de que o império da razão e do pensamento humanista estava em perigo, a urgência de pensar a regressão civilizacional. Celso Lafer republicou Hannah Arendt: Pensamento, Persuasão e Poder, lembrando que para a filósofa da banalidade do mal “a política determina o destino”, ou seja, são as opções dos homens que moldam o mundo, sem determinismos históricos ou atavismos próprios a um povo (como já se começa a ouvir, em Portugal, em relação à regressão brasileira). Renato Janine Ribeiro, filósofo, acaba de publicar A Pátria Educadora em Colapso, título de mau presságio, sobre a sua experiência como Ministro da Educação. Para ele, a desigualdade extrema do Brasil, construída durante 500 anos, deve ser a prioridade da política e, como diz no livro, a etapa final do “combate à miséria é capacitar as pessoas pela educação”. Mas para já é preciso, diz angustiado, salvar a liberdade de ensinar do obscurantismo da caça às bruxas da “escola sem partido” e das propostas dos fundamentalistas evangélicos de ensinar o criacionismo e banir a influência do grande pedagogo humanista Paulo Freire. No MASP e no Instituto Tomi Ohtake, a monumental exposição Histórias Afro-Atlânticas, que marca os 130 anos da abolição da escravatura, que fez do Brasil o segundo maior país negro do Mundo. No Miotaki, uma exposição sobre os anos mais duros da ditadura militar, num diálogo trágico com sentido. Como se fosse urgente afirmar, antes que fosse tarde, os valores da humanidade comum e da liberdade, lembrando quão dolorosa e incompleta foi a sua afirmação. . . No dia 24, a 4 dias das eleições, com Renato Janine Ribeiro, o escritor Milton Hatoum e a politóloga Mara Telles, participei no seminário “As democracias perante a emergência da extrema-direita: que resposta?”Milton Hatoum, autor da A Noite da Espera (sobre os anos da ditadura) relembraria como Bolsonaro era o despertar dos fantasmas e as mazelas que assombram de há muito o Brasil, com referências à literatura brasileira, como a personagem Brás Cubas, o falso liberal, esclavagista e corrupto, do romance de Machado de Assis – referência clara aos falsos liberais de hoje, no Brasil e entre nós, que perante a extrema-direita esquecem os princípios que dizem defender. Na USP, debatemos os 25 anos dos Acordos de Oslo para a Palestina, revoltados com a afirmação de Bolsonaro de que, como Trump, iria reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Bolsonaro foi o candidato dos fundamentalistas evangélicos, que acreditam na profecia que Jesus só voltará à terra, para o juízo final, quando Israel anexar Jerusalém. A influência do fundamentalismo religioso no Congresso dá dimensão política à demonização dos direitos humanos, do feminismo, do combate à homofobia e da ecologia. No dia do meu regresso, no longo caminho para Guarulhos, enquanto o taxista me dizia que Haddad tinha sido um grande prefeito de São Paulo, telefonou-me Geraldo Campos, professor universitário, que me relata a invasão da universidade pela polícia para retirar a propaganda eleitoral do PT, e a tentativa de prisão de um professor (denunciado por um aluno), por ter explicado o que era o fascismo, mesmo sem mencionar Bolsonaro. Para Geraldo, tal é sinistro presságio dos tempos que aí vêm. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Contei-lhe o que me tinha dito Pedro Dallari, presidente da Comissão da Verdade: que a ameaça aos direitos humanos era real, mas que o Brasil não cairia facilmente no iliberalismo, pois qualquer violação da Constituição enfrentaria a séria oposição das instituições do Estado de direito (nomeadamente do judicial) e da sociedade civil. A consciência de que pesa uma ameaça grave sobre todos, nomeadamente os intelectuais humanistas, é angústia comum a todos com quem falei. Portugal é para muitos país refúgio, ilha de democracia e de direitos numa Europa minada pelo mesmo mal que o Brasil: de nós, esperam solidariedade. Como disse Milton Hatoum, recorrendo a Grande Sertão: Veredas, obra-prima de Guimarães Rosa: “Todo o caminho da gente é resvaloso… tenho medo? Não. Estou dando batalha. ”
REFERÊNCIAS:
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