Ministra não respondeu aos deputados sobre lista de abusadores de menores
Paula Teixeira da Cruz deixou esgotar o seu tempo de intervenção e não pediu tempo emprestado à bancada da maioria. Sobre a constitucionalidade das suas medidas remeteu-se ao silêncio. (...)

Ministra não respondeu aos deputados sobre lista de abusadores de menores
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Paula Teixeira da Cruz deixou esgotar o seu tempo de intervenção e não pediu tempo emprestado à bancada da maioria. Sobre a constitucionalidade das suas medidas remeteu-se ao silêncio.
TEXTO: Foi morno e durou menos de uma hora o debate parlamentar em torno de uma das propostas mais polémicas do mandato da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz: a criação de uma base de dados de pessoas condenadas por abuso sexual de menores, que permite aos pais saber, em determinadas circunstâncias, a identidade de alguém que já cumpriu uma pena e mora agora na sua área de residência. A governante do PSD esgotou o tempo que tinha para falar na Assembleia da República com outros assuntos e quando chegou a hora de defender a medida já só teve escassos dez minutos para fazer a sua apresentação. Por esse motivo, as perguntas que lhe fizeram os deputados ficaram sem resposta – apesar de poder ter pedido à bancada da maioria para lhe emprestar alguns minutos que lhe permitissem reagir às interpelações da oposição, o que não fez. A defendê-la saíram em primeiro lugar não os deputados laranja mas os centristas. Asseguraram que Paula Teixeira da Cruz não se encontra sozinha nesta batalha: “Tem o CDS e o PSD ao seu lado, e, sem dúvida, a maioria dos portugueses”, assegurou o vice-presidente da bancada centrista, Telmo Correia. Mas a verdade é que os deputados laranja vão estar sujeitos à disciplina partidária quando votarem a proposta esta quinta-feira. Um facto não passou despercebido à bloquista Cecília Honório durante o debate em que a ministra se manteve muda por já não lhe restar tempo para falar. “Entre os seus já há quem levante a voz para dizer que a lista não faz sentido nestes termos. Por isso foi necessária a disciplina de voto”, observou a deputada, virada para a bancada do PSD. Ninguém lhe respondeu. Minutos antes, Paula Teixeira da Cruz tinha defendido a conformidade das bases de dados de condenados por abuso de menores com as normas da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. “O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos concluiu que este registo assenta num justo equilíbrio entre os interesses públicos e privados, uma vez que os crimes em causa são particularmente censuráveis e as suas vítimas são pessoas vulneráveis - a que acresce o facto de a inscrição no registo ter um prazo máximo de duração e o seu acesso ser subordinado a regras de confidencialidade”, alegou, tendo acrescentado que são já seis os acórdãos daquele tribunal no mesmo sentido. Alguns deles debruçaram-se sobre os regimes deste género em vigor em França e no Reino Unido, especificou. “Foi considerada uma medida puramente preventiva e dissuasora – e não punitiva”. Sobre as objecções de inconstitucionalidade deste tipo de medidas levantadas quer pela Associação Sindical de Juízes Portugueses, quer pelo Conselho Superior do Ministério Público e também pela Comissão Nacional de Protecção de Dados nem uma palavra disse a governante. Nem voltou, como tinha feito nos últimos meses, a pronunciar-se sobre as “elevadíssimas taxas de reincidência” dos abusadores de menores, uma afirmação que não conseguiu confirmar com nenhum estudo científico. “Não vale a pena esgrimir estatísticas sobre reincidência. Nunca ninguém terá a certeza absoluta de nada. As cifras negras e o facto de muitos destes abusadores terem sido detidos por outro tipo de crimes também não permitirá compreender todo o fenómeno”, observou, acrescentando que a Polícia Judiciária recebe uma média diária de três queixas por este tipo de crime. “Vê-se de tudo, até crianças pré-púberes presas, sodomizadas, violadas”, lamentou, recordando que a violação de uma criança do sexo feminino até aos cinco anos resulta habitualmente na sua morte. O argumento de que a permanência de um abusador que já cumpriu cadeia numa lista de condenados por este crime durante até 20 anos impede a sua ressocialização e o estigmatiza não comove a maioria. Para ilustrar o ténue equilíbrio entre o direito à privacidade de quem já pagou pelo seu crime e o direito das crianças a serem protegidas Telmo Correia recorreu a uma metáfora do reino animal: “Às vezes é tanta a preocupação em proteger o lobo que nos esquecemos do rebanho”. E mesmo não usando a palavra reincidência, o centrista deu-lhe as mesmas voltas. “Se o abuso sexual de menores é um comportamento compulsivo há um risco”, referiu, sem escamotear que é igualmente real o perigo de a proposta de Paula Teixeira da Cruz poder desencadear fenómenos de justiça popular. Algo que a governante não admite:Socialistas e comunistas apresentaram propostas alternativas à do PSD. Os primeiros querem aumentar as molduras penais de alguns dos crimes deste género, enquanto os segundos apostam na criação de uma estratégia nacional para a protecção das crianças contra a exploração sexual e também os abusos sexuais.
REFERÊNCIAS:
O voo de Momo pousou em Lisboa e aí fez outro Brasil
Ao quinto disco, Momo voou. Com produção de Marcelo Camelo e gravado em Lisboa, onde o cantor brasileiro mora desde 2015, Voá é um salto em frente num caminho promissor. (...)

O voo de Momo pousou em Lisboa e aí fez outro Brasil
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao quinto disco, Momo voou. Com produção de Marcelo Camelo e gravado em Lisboa, onde o cantor brasileiro mora desde 2015, Voá é um salto em frente num caminho promissor.
TEXTO: Aquela noite começou mal. Marcelo Frota chegou a Lisboa numa noite de Maio de 2015, eram umas duas horas da manhã. No aeroporto, o seu violão (“que só uso para estúdio, um violão de 1940”), quebrou-se e o taxista que o transportou desentendeu-se com a morada e deixou-o, só, junto à estação de Santa Apolónia. Até que um outro, mais compreensivo, o transportou até à porta da casa que alugara em Alfama. E foi aí que o pesadelo inicial se desvaneceu: “Tinha uma casa de fado em frente, aquela música linda, e pensei: cheguei no lugar certo. Aí mudou tudo. ”Quando chegou a Lisboa, Marcelo já não era um principiante. Nascido em Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, em 17 de Fevereiro de 1979, faz hoje 38 anos (a mãe é de São Paulo e o pai do Ceará), ele já se iniciara na música como Momo. Gravou o primeiro disco em 2006, A Estética do Rabisco, aplaudido pelas revistas Down Beat e Muziq, seguindo-se Buscador (2008), Serenade of a Sailor (2011) e Cadafalso (2013), que foi elogiado por Patti Smith. Isso a solo, já que ele foi participando noutros projectos. Em 2012 cantou em dois tributos: gravou Alguém cantando no álbum internacional Tribute to Caetano Veloso; e fez uma versão no disco The Clube Da Esquina Years. Já em 2013-2014, numa passagem por Lisboa, integrou o disco colectivo O Clube, junto com os brasileiros Cícero, Wado (seu parceiro de composições) e os portugueses Diego Armés, Fred Ferreira, Alexandre Bernardo e Bernardo Barata. Das doze canções do disco, Marcelo (ou Momo) assinava três: Pescador, Flores do bem e Nuvem negra. Na bagagem, porém, ele tinha já um misto de experiências. Morou cinco anos em Luanda, pois o pai trabalhava no sector do petróleo (“morava eu, meu pai, minha mãe e meu irmão”); depois no Rio de Janeiro; esteve nos Estados Unidos, aos 17 anos, num intercâmbio, ficando mais de um ano no Michigan (“um dos estados que elegeu Trump”); e por fim em Espanha, Barcelona: “Fui produzir o disco de uma cantora brasileira, Flávia Moura, em Palma de Maiorca e depois fui para Barcelona e fiquei apaixonado pela cidade”. Isto não significa que a sua música, hoje, reflicta tais viagens. “Conscientemente não”, diz Momo. “Mas ainda há dias eu estava a tocar uma das músicas do meu primeiro disco, A Estética do Rabisco, que gravei depois de vir de Espanha, e acho que tem ali alguma coisa do flamenco. ” Certo é que a sua maior inspiração é mineira: “O Clube da Esquina, pra mim, é das grandes pérolas da música popular brasileira. Aquele primeiro disco, o duplo, tem coisas maravilhosas, Milton, Wagner Tiso, Lô Borges…”Autoria:Momo UniversalQuando Momo esteve em Lisboa pela primeira vez achou a cidade agradável mas não pensou nela para morar. Foram Marcelo Camelo e Mallu Magalhães que o incentivaram, num encontro ocasional no Rio de Janeiro. “Na época, o Marcelo e a Malu já estavam morando em Lisboa. Em 2014 eu estava morando em Chicago, fui lá fazer shows e gravar. Quando voltei para o Brasil, encontrei o Marcelo e a Mallu numa esquina do Leblon. A Banda do Mar [grupo que os dois músicos brasileiros formaram com o português Fred Ferreira] estava fazendo uma tournée no Brasil. Aí eles me incentivaram a ir para Portugal. Eu estava no Rio, mas estava querendo alguma mudança. E eles me desafiaram: vamos passar um tempo em Lisboa, a cidade está muito pulsante, muita coisa acontecendo, muita música, muita gente vindo de fora. ” Ele foi e ficou. Primeiro em Alfama e depois na Madragoa, onde vive. “É uma cidade calma. E a gente precisa desse clima, dessa paz interna. Eu não me inspiro no caos urbano ou no barulho, preciso de paz, uma coisa contemplativa. E Lisboa é uma cidade perfeita para esse tipo de coisas. ”Esse “tipo de coisas” inclui, naturalmente, compor e gravar. E foi assim que Voá nasceu em Lisboa. “Fiz mais de vinte músicas aqui, foi difícil escolher as dez para o disco. ” Os discos anteriores foram todos gravados e produzidos por ele. “Eu sou autodidacta. ” Mas neste foi Marcelo (Camelo) quem produziu Marcelo (Frota, aliás Momo). “A gente conversou muito, antes de gravar. Eu ia fazendo as músicas e mandando para o Marcelo. E ele foi fazendo a maqueta na casa dele. ” Das doze canções de Voá, três são exclusivamente de Marcelo Frota (Alfama, Pássaro azul e Song of hope), sendo as restantes feitas em parceria, a maioria com Thiago Camelo, irmão de Marcelo Camelo (Esse mar, Pensando nele, Meu menino, Roseiras) e as restantes com Wado (Nanã) e Rita Redshoes (Mimo). “O que é bom nas parcerias é poder entrar o olhar do outro, a ideia do outro, a poesia do outro, porque cria uma terceira coisa. Músicas como Pensando nele, onde ele diz ‘meu menino’, são coisas que eu não escreveria antes e isso é enriquecedor. ” Em geral, o género de canções escolhidas imprime-lhe um outro rumo. Momo: “Uma coisa decisiva, neste disco, é o repertório. Que imprime um outro lado meu, o de compositor. Menos introspectivo, um pouco mais para fora, um pouco mais solar. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas se o lado solar é privilegiado, há também no disco um toque da Lisboa nocturna. Em Alfama, Momo conta com a participação especial de Camané, que ele ali conheceu e se foi tornando seu amigo. “Conheci-o assim que cheguei aqui, uns amigos nos apresentaram, eu não sabia sequer que era o Camané. Mas comecei a mandar umas músicas pra ele, dos discos anteriores, e aí começou a nossa amizade e admiração mútua. Ele viu nascer quase todo o repertório desse disco, eu gravava as músicas e mandava pra ele, ele ia nos shows. Essa era uma música onde achei que fazia sentido a voz dele. E quando o Marcelo me mandou a mixagem da música fiquei super-emocionado, para mim é um momento muito especial no disco. ”No dia 10 de Fevereiro foi o Voá de Momo que abriu a Avenida Paulista no São Luiz, na cidade onde mora. É que, para já, voe para onde voar, Momo pensa continuar em Lisboa. Pela música e pelo resto. “Fiquei por condições da vida, do destino. Eu vou com o vento. Vejo para onde o vento está soprando e ele realmente me guia. Estou sempre tentando perceber o que o mundo me diz, o que ele é pra mim. E a minha música é um pouco isso, talvez por intuição, não sei. ”
REFERÊNCIAS:
“Putin pode vir a ser o coveiro do seu próprio país”
Chegou a Moscovo como estudante, saiu de lá como jornalista. Nas quatro décadas que durou a aventura, viu ruir o comunismo, viu a URSS dar lugar à Rússia, chegou com Brejnev e saiu com Putin. José Milhazes fala do seu livro As Minhas Aventuras no País dos Sovietes e do que o motivou. (...)

“Putin pode vir a ser o coveiro do seu próprio país”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2017-02-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chegou a Moscovo como estudante, saiu de lá como jornalista. Nas quatro décadas que durou a aventura, viu ruir o comunismo, viu a URSS dar lugar à Rússia, chegou com Brejnev e saiu com Putin. José Milhazes fala do seu livro As Minhas Aventuras no País dos Sovietes e do que o motivou.
TEXTO: Naquele dia, José tinha todas as razões para estar feliz. Ia entrar num comboio rumo ao "paraíso terrestre". O comboio era ainda a carvão, e partia de um país atrasado no rumo da história, mas no destino esperava-o o modelo mais perfeito da sociedade do futuro. Ele, um estudante português nascido numa família pobre, "ia viver na sociedade quase perfeita, na transição do socialismo desenvolvida para o comunismo", a União Soviética. A bagagem que levava era reduzida: uma mala de cartão, um par de botas de couro, pouca roupa e dois livros. Mais para quê? No "paraíso terrestre" havia de tudo!Foi assim que começou, no dia 9 de Setembro de 1977, na Póvoa de Varzim, uma saga que duraria quase quatro décadas. E é assim também, na ânsia deste embarque, que começa o livro As Minhas Aventuras no País dos Sovietes - A União Soviética tal como eu a vivi, de José Milhazes, agora lançado pela Oficina do Livro. Quando deu início àquela viagem, a um mês de fazer 19 anos, ele não tinha a mínima ideia do que o esperava, mesmo logo à chegada. Foi a vontade de olhar criticamente esse passado, na primeira pessoa (título e subtítulo do livro sublinham-no), que quis rever o caminho que fez de estudante até tradutor e jornalista, como correspondente da TSF e do PÚBLICO. Actualmente, já de regresso a Portugal, é comentador político da SIC e da RDP e colunista do jornal Observador. Mas como lhe surgiu a ideia do "paraíso terrestre"? Nascido na Póvoa de Varzim, a 2 de Outubro de 1958, "no seio de uma numerosa família de humildes pescadores", José Manuel Milhazes Pinto acabou por escolher o apelido materno e não o paterno porque na escola já havia vários Pintos. E Milhazes era só ele. Muito novo, foi escuteiro. "O escutismo", explica ele agora, confrontado com as memórias contadas no livro, "era uma actividade que me permitia fazer coisas que até aí eu não podia fazer. Por exemplo: os meus pais não me podiam comprar uma tenda de campismo ou um bilhete de inter-rail. Se não fosse os escuteiros, se calhar até era a Mocidade, não faço ideia. Era sempre uma possibilidade de eu conhecer e participar nalguma coisa de novo. Conhecer outras pessoas, outras regiões. "E depois do escutismo veio o seminário. "Entrei pela religião, porque queria ser padre. Sou de uma família em que, durante várias gerações, os homens estavam largos períodos fora de casa. A pesca, a África, o Brasil, afastavam-nos. Desde criança que eu ouvia as histórias do bisavô que desapareceu em Manaus, ou o que arranjou uma amante brasileira. Eram sempre histórias de ausências. " O impulso para ser padre veio-lhe também do que ouvia. "Histórias de países distantes e o querer ajudar aqueles desgraçados sem alma que por lá andavam. Era isso que ouvíamos desses nossos parentes ou vizinhos. Isso e as leituras que eu ia fazendo dos números velhos dos jornais Primeiro de Janeiro e Comércio do Porto. Porque em minha casa não havia livros. Eu lia os jornais velhos que a minha mãe usava para embrulhar os tachos que os pescadores levavam com as refeições quando iam para o mar. "Isto levou-o a estudar numa ordem missionária, a dos combonianos, e, depois do 25 de Abril, a trocar uma fé por outra. Foi então que entrou na UEC (União dos Estudantes Comunistas), ligada ao PCP. E foi ela que lhe garantiu o "passaporte" para ir estudar na União Soviética (URSS). "Tinha respostas fáceis para perguntas difíceis", diz hoje. "Essa fé, ou fanatismo, levava-nos a aderir de alma e coração àquelas ideias que pareciam estar perto, a pensar que através delas podíamos resolver as coisas. "A União Soviética aonde ele chegou, de comboio, às 20h40 (locais) do dia 10 Setembro de 1977, já não existe. Nesse ano, o seu homem forte era Brejnev. Hoje, recuperada a velha Rússia, há um rosto que a partir dela se impõe ao mundo: o de Vladimir Putin. José Milhazes assistiu à sua ascensão, tal como à morte de Brejnev, à sucessão de líderes a um passo da morte (Andropov, Tchernenko), à onda de esperança surgida com Gorbatchov e à irrupção do populismo de Boris Ielstin, "o Donald Trump daquela época". Foi, aliás, com Ieltsin, que a Rússia pós-comunista passou o seu período mais terrível. "A Ieltsin só interessava uma coisa: a independência da Rússia. Porque queria ser o primeiro a mandar nela. E ganhou, mas à custa de rebentar com o país. " Nesse período surgiram os oligarcas, agravou-se a pobreza, tornaram-se "normais" os assaltos e o banditismo. Interrogados nas escolas sobre o que queriam ser quando crescessem, muitos alunos respondiam "bandidos" ou "prostitutas". "Porque era o que dava dinheiro! As pessoas vêem-se totalmente perdidas e tentam salvar-se de qualquer maneira. "É nessa altura que surge Putin, primeiro-ministro em Agosto de 1999 e depois Presidente interino (cargos que ocupou, alternadamente, até hoje). "Ieltsin era já um homem doente, uma marioneta na mão dos oligarcas, e aparece um jovem saído dos serviços secretos, a transpirar confiança e a dizer: nós dentro de 15 anos vamos ultrapassar Portugal. " Não cumpriu essa e muitas outras promessas, sublinha Milhazes, mas isso foi irrelevante para a sua perpetuação no poder. "Aqui está o fenómeno que alguns não querem encarar e que se vê hoje com Trump ou com qualquer populista. As pessoas são levadas a um nível tal de desgraça, de humilhação, de insegurança, que quando lhes prometem o contrário, e rapidamente, elas aceitam e ‘vendem’ metade das suas liberdades ou mesmo todas. "Nesta nova fase, diz José Milhazes, "há dois períodos e o segundo ainda não acabou. O primeiro é quando Putin chega ao poder. Nessa altura, o preço do petróleo anda nas ruas da amargura, baixíssimo. E Putin tinha uma oportunidade única, modernizar o país. Não modernizou. Substituiu a oligarquia pelos amigos dele. Mas quando se tem muito dinheiro é possível fazer demagogia social. E o nível de vida dos russos subiu, a classe média aumentou (passou a ser 12 a 13%) e mesmo os mais desfavorecidos viram as suas reformas aumentar significativamente. "O que diminuiu? As liberdades. Hoje os correspondentes estrangeiros voltam a ser vistos como um incómodo ou um perigo, e a falta de condições para o exercício do jornalismo na Rússia levou Milhazes a regressar a Portugal. "O país não regressa à era do comunismo mas compete com ela no campo do absurdo", escreve ele no último capítulo do livro. Outra razão foi o próprio ambiente social. "Há um momento recente que marca uma mudança, mesmo dentro da sociedade russa: é a invasão da Crimeia. A invasão, com toda a propaganda feita à volta, transformou muita gente. Antigos colegas meus de universidade, completamente normais, que eu achava avançados ou pró-europeus, mostraram-se de súbito de um nacionalismo absolutamente incrível. " Um desejo de expansionismo? "Claro! E até teve êxito. "A Ieltsin só interessava uma coisa: a independência da Rússia. Porque queria ser o primeiro a mandar nela. E ganhou, mas à custa de rebentar com o país. "O expansionismo russo da era soviética, dando continuidade ao dos czares mas sob a bandeira da foice e do martelo, era, para o jovem estudante acabado de chegar à URSS uma abstracção. Se alguma coisa havia, era o desejo de expandir o socialismo por amor aos povos. "Era uma ideologia que prometia o paraíso neste mundo e através da qual começamos a acreditar no determinismo histórico. Fizéssemos o que fizéssemos, nós iríamos construir o socialismo e o comunismo. " Talvez por isso não era a URSS que ele tinha em mente quando quis ir para fora, mas sim a Bulgária, a RDA ou até Cuba. Ele queria assistir e ajudar à construção do socialismo, mais do que vê-lo já construído. Mas foi para a URSS que o mandaram. À chegada teve um choque. "Começaram a virar-nos as malas de pernas para o ar. Imagine-se: vamos para o paraíso, vamos para o pé dos nossos camaradas que já têm experiência de viver no paraíso, e a primeira coisa é fazerem-nos uma revista de passaportes e de malas que nos põe de boca aberta. " Achou estranho, mas a ideologia ajudou-o a aceitar: "Era o combate à CIA, porque a CIA podia entrar na União Soviética e fazer coisas más. Então era uma forma de defesa do socialismo! Uma reacção quase pavloviana. Nos primeiros tempos, há desculpas para tudo: a CIA, o imperialismo, os restos das classes exploradoras que por lá andassem, embora já se tivessem passado tantos anos. "Foi em Moscovo que Milhazes passou da UEC ao PCP. "Foi uma transição bastante formal. A não ser que eu tivesse feito uma asneira muito grande, passaria sempre. Não era uma promoção, era uma fase de crescimento: eu tinha de sair da UEC para entrar no PCP. " A língua, de início, não foi fácil. Mas "tive que aprender, para comunicar, ler, ir para universidade, que, no fundo, era o que eu queria". Por isso aplicou-se. "O russo, gramaticalmente, é diabólico. Mas como nós, na universidade, não tínhamos exames escritos, na realidade nunca nos dedicávamos à escrita. Era só falar e compreender. "A par dos estudos, iniciou-se nas traduções. Filmes, primeiro ("era uma coisa mais simples e de menos responsabilidade") e depois, mais tarde, já quando estava a acabar a universidade, discursos. "Só podíamos fazer traduções por escrito, nunca em simultâneo. Isso eram os soviéticos que faziam. " Valia-lhe o facto de os discursos serem muito parecidos, muito repetitivos. "Quando há velhinhos de oitenta e tal anos a pronunciarem discursos com extrema dificuldade, tinham de ser muito simples". Mas ao mesmo tempo que ia percebendo o russo, ia também percebendo os russos. E isso ajudou-o a ir pondo em causa velhas crenças. Filas crónicas para aquisição de bens essenciais, livros reservados e de acesso quase proibido, um anti-semitismo latente na população, levaram-no a questionar o estado do "paraíso". "É um processo lento, porque há um factor que o vai travando: a resistência. O edifício começa a ruir mas nós não queremos acreditar que ele vai ruir. Porque é o fim daquilo em que acreditamos. Tanto que, quando Mikhail Gorbatchov aparece e começa com as suas reformas, há uma esperança de que é possível construir o tal socialismo com rosto humano. "Gorbatchov chega à liderança no culminar de um período de ascensão e queda de dirigentes decrépitos (Brejnev, Andropov, Tchernenko). Foi em 1985, no mesmo ano em que nascia o segundo filho de José Milhazes e de Siiri, de nacionalidade estónia, com quem casou em 10 de Maio de 1983 e com quem partilha a vida ainda hoje. "As pessoas já se riam quando era eleito um novo secretário-geral, porque já estavam todos a pensar no funeral do homem. Não é por acaso que esse período ficou conhecido como o pântano. A propaganda dizia uma coisa mas via-se que estávamos num país estagnado. " Gorbatchov trouxe uma esperança. "Foi uma espécie de 25 de Abril. As pessoas discutiam, liam, uma experiência única. Ia-se de madrugada para a fila dos quiosques para comprar jornais. " Não durou muito. "É minha convicção que Gorbatchov, quando chegou ao poder, julgava que tinha um país minimamente organizado e viável. E não tinha. E quando ele começa a mexer no edifício, percebe que pode ir tudo abaixo. Ele tenta desesperadamente novas vias, mas o problema estava nos alicerces. "Entretanto, a realidade ultrapassa-o. O comunismo começa a abrir brechas, os nacionalismos vêm à tona, o descontentamento popular generaliza-se. No 1. º de Maio de 1990, pela primeira vez na história soviética, os dirigentes alinhados na tribuna são apupados pelos manifestantes. Grita-se "Abaixo Gorbatchov!" e "Abaixo o Partido Comunista!" Para José Milhazes, isso foi "um sinal evidente de que Gorbatchov tinha sido ultrapassado, passava a ser conservador. O processo começou a andar mais depressa do que ele. " Até aí, "era o medo e o terror que ‘colavam’ a União Soviética, não era a ideologia". Quando o medo começa a desvanecer-se, "tudo aquilo vem abaixo. ""É minha convicção que Gorbatchov, quando chegou ao poder, julgava que tinha um país minimamente organizado e viável. E não tinha"Durante a era Gorbatchov, os Estados Unidos tiveram para com a URSS uma atitude de aproximação e paternalismo. Primeiro com Reagan, depois com Bush. Ficaram célebres as coxas de frango congeladas vindas da América, para suprir as carências alimentares soviéticas, conhecidas como "as coxas de Bush". "Os meus filhos continuam a ter esse trauma quando olham para as coxas de frango", diz Milhazes. "Depois vim a saber que os americanos não gostam de comer as coxas, preferem a asas. "Mas, quando emerge Ieltsin, os EUA deixam "cair" Gorbatchov. "Os soviéticos, principalmente os russos, sentiram-se humilhados, porque no momento em que Gorbatchov precisava de apoio, tiraram-lhe o tapete e apoiaram Ieltsin, que era um político completamente imprevisível mas que já indicava que ia acabar com qualquer tipo de União. Acredito que Gorbatchov salvaria uma parte da União. O Báltico estava perdido, por razões históricas, a Geórgia também, porque tinha um grande movimento nacionalista que nunca desapareceu, talvez o Azerbaijão também se fosse embora. Mas a Ásia central podia continuar na União e até talvez a Ucrânia, transformando aquilo numa federação a sério ou até numa confederação. " Mas falhou e Ieltsin substitui-o, abrindo caminho à ascensão de Putin. José Milhazes diz que "Gorbatchov é uma personagem trágica na história, um reformador falhado. Falhado, porque não conseguiu levar a cabo as suas ideias e intenções. Claro que se virmos pelo prisma da destruição do regime comunista, acertou. Mas ele não tinha como objectivo essa destruição, ele lutou até ao último momento pela União Soviética e pelo regime que acabaria por ser, se as ideias dele fossem por diante, um regime social-democrata. Porque ele era um social-democrata. "A Rússia não é hoje um país mais próspero nem inovador. Perdeu o comboio da modernização e perdeu-o graças a Putin. Porque a tal chuva de petrodólares desapareceu na corrupção. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Putin é bem diferente. E instalou-se no poder com uma determinação calculista. Mas não cumpriu o que prometeu aos russos, longe disso. "A Rússia não é hoje um país mais próspero nem inovador. Perdeu o comboio da modernização e perdeu-o graças a Putin. Porque a tal chuva de petrodólares desapareceu na corrupção. " Será possível, agora, retomar ainda o caminho da modernização? José Milhazes mostra-se pessimista. "Teriam de ser feitos sacrifícios, com reformas profundíssimas. É preciso modernizar grande parte das infra-estruturas e é preciso fazer com que os estrangeiros queiram investir na Rússia, não apenas para ganhar dinheiro rápido mas numa perspectiva de futuro. Ora hoje acontece o que aconteceu também depois da queda da União Soviética, uma fuga de cérebros. Pessoas com formação superior foram para os Estados Unidos. Há prémios Nobel com apelidos russos mas que trabalham noutros países. "É neste cenário pouco propício, que se desenvolve o segundo período do domínio de Vladimir Putin no Kremlin: "Agora começa a outra parte, que não sabemos como vai acabar, aquela onde Putin se começa a envolver em coisas que não se sabe se o país tem capacidade de aguentar ou não. A guerra na Ucrânia, a intervenção na Síria e talvez uma próxima intervenção no Afeganistão. É que a desestabilização da Ásia Central pode ser fatal para a Rússia, é uma grande área onde a Rússia diz ter interesses especiais. E a Rússia afundando-se numa zona daquelas as coisas podem complicar-se mesmo muito. E Putin pode vir a ser o coveiro do seu próprio país. "
REFERÊNCIAS:
Inquérito diário: Coligação volta a crescer e chega aos 7,2 pontos de vantagem sobre PS
Diferença entre as duas principais forças concorrentes às eleições de 4 de Outubro é a maior desde o início deste inquérito da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e TSF. PAN lidera entre partidos sem representação parlamentar. (...)

Inquérito diário: Coligação volta a crescer e chega aos 7,2 pontos de vantagem sobre PS
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diferença entre as duas principais forças concorrentes às eleições de 4 de Outubro é a maior desde o início deste inquérito da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e TSF. PAN lidera entre partidos sem representação parlamentar.
TEXTO: A coligação Portugal à Frente (PaF), constituída pelo PSD e CDS-PP, está à frente do PS com uma vantagem de 7, 2 pontos, segundo o inquérito da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e TSF, cujo trabalho de campo decorreu entre 25 a 28 de Setembro com 1008 entrevistas. Na projecção com distribuição de indecisos, o PaF obtém 38, 8 contra 31, 6% do PS, sendo a diferença de 7, 2 pontos entre as duas principais forças concorrentes às eleições legislativas de 4 de Outubro a maior da série de estudos iniciada em 21 de Setembro. Por outro lado, os 31, 6% que o estudo reserva aos socialistas é o pior resultado do PS nesta série. A Coligação Democrática Unitária (CDU), integrada pelo PCP e Os Verdes, consegue 8, 2%, uma queda de 0, 9 pontos face ao inquérito da véspera. Já o Bloco de Esquerda alcança 7, 9%, mais quatro décimas que no estudo anterior. Nunca a CDU e BE estiveram separados por uma margem tão estreita, que é de apenas três décimas. Os votos brancos e nulos mantêm-se nos 9, 4%, enquanto outros partidos somados ficam nos 4%, uma décima mais que na véspera. Na projecção de votos antes da distribuição de indecisos há uma estabilização. Os indivíduos que afirmam não saber em quem vão votar ou que se recusam responder correspondem a 21, 4%, o mesmo valor que no inquérito anterior. Veja a evolução desta tracking pollNa distribuição do voto por idades entre as duas principais forças concorrentes, a coligação de Passos Coelho e Paulo Portas lidera nas duas primeiras faixas etárias, ou seja, entre os 18 a 34 e 35 a 54 anos. Os socialistas de António Costa estão à frente nos eleitores de 55 ou mais anos. Por regiões, mantém-se a distribuição do estudo da véspera. Isto é, a coligação de Passos e Portas lidera no Norte, Centro, Lisboa e Algarve. Já os socialistas de Costa continuam à frente no Alentejo. Na divisão por género, as propostas de Portugal à Frente são as preferidas tanto por homens como por mulheres. Entre os partidos sem representação parlamentar, o PAN (Pessoas, Animais, Natureza) está à frente com 0, 8%, seguido a uma décima pelo Partido Nacional Renovador (PNR). Em terceiro lugar, com 0, 6%, está o Partido Democrático Republicano de Marinho e Pinto que nos últimos dois inquéritos liderava este ranking. O Livre/Tempo de Avançar aparece em quarto lugar, com 0, 5%. Ficha técnicaSondagem realizada pela Intercampus para TVI, PÚBLICO e TSF com o objectivo de conhecer a opinião dos portugueses sobre diversos temas da política nacional incluindo a intenção de voto para as próximas eleições legislativas de 2015. O universo é constituído pela população portuguesa, com 18 e mais anos de idade, eleitoralmente recenseada, residente em Portugal continental. A amostra é constituída por 1025 entrevistas, recolhidas através de entrevista telefónica, através do sistema CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). Os lares foram seleccionados aleatoriamente a partir de uma matriz de estratificação que compreende a Região (NUTS II). Os respondentes foram seleccionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variáveis Sexo e Idade (3 grupos). Os trabalhos de campo decorreram entre 23 e 26 de Setembro de 2015. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de ± 3, 1%. A taxa de resposta obtida neste estudo foi de: 58, 1%. O que é uma tracking pollUma tracking poll é um inquérito diário, que, mais do que os números do dia, indica a evolução das tendências de subida e descida das intenções de voto nos partidos. Trata-se de um exercício com longa tradição nos Estados Unidos e que ganha especial relevância num cenário de grande imprevisibilidade de resultados. “As sondagens são retratos do momento”, explica António Salvador, director-geral da empresa de estudos de mercado Intercampus. A tracking poll, por seu turno, é uma fotografia em movimento do impacto da campanha nos eleitores, uma “observação diária das percepções dos portugueses” a partir do estudo de uma amostra em permanente renovação. No primeiro dia, 21 de Setembro, a Intercampus apresentou os resultados de 750 entrevistas telefónicas. No dia seguinte, foram realizadas mais 250 entrevistas que se somam às anteriores, perfazendo um total de 1000. Posteriormente, todos os dias são somadas outras 250 novas entrevistas e retiradas as 250 menos recentes, mantendo o total de cerca de 1000. O objectivo é renovar a amostra e evitar uma acumulação de respostas que iria diluir as variações diárias das intenções de voto. A amostra, seleccionada aleatoriamente, é rigorosamente representativa da população de Portugal Continental em termos de género e de idade. A 29 de Setembro, o PÚBLICO e a Intercampus vão divulgar uma última grande sondagem antes das legislativas de 4 de Outubro, com 1000 inquiridos a simular o voto em urna.
REFERÊNCIAS:
PS está 4,9 pontos percentuais à frente da coligação PSD-CDS, mas sem maioria absoluta
37,6% para o PS, 32,7% para a coligação da maioria é a intenção de voto dos inquiridos que defendem categoricamente um Governo de maioria e um Presidente da República diferente. (...)

PS está 4,9 pontos percentuais à frente da coligação PSD-CDS, mas sem maioria absoluta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-10-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151002214122/http://www.publico.pt/1701410
SUMÁRIO: 37,6% para o PS, 32,7% para a coligação da maioria é a intenção de voto dos inquiridos que defendem categoricamente um Governo de maioria e um Presidente da República diferente.
TEXTO: Veja aqui todos os dados da sondagemO PS fica em primeiro lugar com uma diferença de 4, 9 pontos percentuais em relação à coligação PSD-CDS na projecção dos resultados sobre intenções de voto da sondagem em urna feita pela Intercampus para o PÚBLICO, a TVI e a TSF, cujo trabalho de campo decorreu entre 26 de Junho e 4 de Julho. Os socialistas atingem assim os 37, 6% de intenção de votos, ainda distante de uma maioria absoluta, enquanto a coligação fica com 32, 7%. O que significa que se as eleições fossem hoje a vitória eleitoral caberia do PS, já que nesta sondagem a margem de erro máximo de amostragem considerado pela Intercampus é de mais ou menos 3, 1%. Por sua vez, a CDU surge com 11% de intenção de voto e o BE com 6%. Nos resultados trabalhados pela Intercampus, em que os dados foram projectados descontando os indecisos e os abstencionistas, os outros partidos somam 6, 7% e os votos brancos ou nulos atingem os 5, 9%. Há quatro anos, a última sondagem feita pela Intercampus e editada pelo PÚBLICO, a TVI e a Rádio Comercial, colocava o PSD de Passos Coelho (36, 5%), 5, 4 pontos percentuais à frente do PS de José Sócrates (31, 1%). Governo de maioriaNo que se refere à formação de Governo, os inquiridos são categóricos a preferirem uma solução com maioria absoluta, escolhendo esta resposta 65, 7%, enquanto 25, 4 % optam por um Governo sem maioria. Já no caso de não haver maioria absoluta, 36, 4% preferem “um governo de coligação entre ‘os partidos de poder’” e 33, 4% optam por um “governo de coligação de partidos de esquerda”. A Intercampus não inclui nesta pergunta a hipótese de os inquiridos escolherem a coligação de direita, pois como o PSD e o CDS já concorrem coligados a preferência por esta solução corresponde a um governo de maioria referida na pergunta que surge imediatamente antes no estudo. A maioria dos inquiridos considera que o PS ganhará as legislativas de Outubro (45, 9%) e que a coligação PSD-CDS as irá perder (31, 4%). Acrescente-se que 30, 9% dos inquiridos se afirma “mais próximo” do PS, enquanto 27, 4% se diz “mais próximo” do PSD, 4, 8% “mais próximo” do CDS, 10% “mais próximo” da CDU e 5, 1% mais próximo do BE. Quanto à apreciação de como deve actuar o ocupante do primeiro órgão de soberania, 84, 6% dos inquiridos consideram que o próximo Presidente da República deve ter uma actuação diferente da que tem tido o actual Presidente, Aníbal Cavaco Silva. Resultados em brutoOlhando para os resultados deste estudo da Intercampus em termos brutos, sem projecção, ou seja incluindo as respostas dos indecisos, dos abstencionistas e os votos em branco, o PS atinge 30, 3% das intenções de voto, a coligação PSD-CDS 26, 3%, a CDU 8, 9%, o BE 4, 8 %. Já no ranking de partidos mais pequenos ou dos novos partidos temos o MRPP com 1, 9%, o Partido pelos Animais com 0, 8%, o Partido Democrático Republicano com 0, 6%, o Livre/Tempo de Avançar com 0, 5% e a coligação PTP/Agir com 0, 2%. Os votos brancos atingem 4, 7%. Já os inquiridos que se declaram indecisos são 9, 7% e os abstencionistas são 9, 9%, de uma amostra de 1014 inquiridos, dos quais 539 são mulheres e 475 são homens. Quanto às prioridades do futuro Governo, à frente, com 83, 3% das escolhas, surge a “criação de emprego”, seguindo-se “baixar impostos” com 55, 1%. Em terceiro lugar aparece a “recuperação do poder de compra” com 45, 9%. Com 42, 6% aparece o “garantir condições para o crescimento”. Em quinto, “repor os cortes feitos na função pública” (25, 8%) e apenas 25, 4% dos inquiridos consideram prioritário "reduzir o défice e manter a credibilidade”. A avaliação do estado do país é, nesta sondagem, negativa. Numa escala de 0 a 10, a média das respostas situa-se em 4, 1, sendo que a categoria que mais respostas obtém é “muito mal” com 37, 6%. Já na comparação do estado do país com o de há quatro anos a média desce para 3, 4, numa escala igual. Sendo a resposta mais votada a de “pior” com 37, 7 das respostas. E apenas 23, 6% dos inquiridos respondem que está “melhor” ou “muito melhor”. Já sobre se "a resposta do Governo à crise foi melhor", a média fica de novo negativa (3, 5) sendo que a maioria (34, 1%) considera que ela o foi “poucas vezes”. Mas é também negativa (3, 7%) a apreciação sobre se “a oposição apresentou propostas e ideias melhores”, com 41, 9% das respostas a caírem na categoria “poucas vezes”. Veja aqui todos os dados da sondagem, incluindo a ficha técnica
REFERÊNCIAS:
Morreu José Vilhena, o sátiro cartoonista da Gaiola Aberta
Escritor, cartoonista e pintor, José Vilhena foi o grande sátiro da condição portuguesa, em ditadura e em liberdade, sem poupar nos alvos e com gosto declarado pelo erotismo. Morreu este sábado, aos 88 anos. (...)

Morreu José Vilhena, o sátiro cartoonista da Gaiola Aberta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escritor, cartoonista e pintor, José Vilhena foi o grande sátiro da condição portuguesa, em ditadura e em liberdade, sem poupar nos alvos e com gosto declarado pelo erotismo. Morreu este sábado, aos 88 anos.
TEXTO: Cartoonista, humorista, escritor e pintor. Quatro condições interligadas na vida e obra de um homem que, desde a década de 1950, se dedicou a satirizar, sem poupar ninguém, dos poderosos ao povo oprimido, a realidade política e social do país em que nasceu. Antes da Revolução de Abril viveu com a censura à perna de forma quase ininterrupta, ou não tivesse assinado quase seis dezenas de livros, todos censurados, todos vendidos ao seu público fiel por baixo da mesa nas tabacarias. Onze dias depois do 25 de Abril de 1974, começou a fazer a sua cronologia da revolução em Gaiola Aberta, o seu título mais célebre. “One man show”, trabalhador verdadeiramente independente que se responsabilizava sozinho por todo o processo de elaboração e produção dos seus livros e revistas, José Vilhena, nome incontornável do humor português, na linha de um Bordalo Pinheiro, mas contemporâneo da libertação sexual das décadas de 1960-70 (e notava-se muito, ou não fosse o corpo feminino presença constante na sua obra), morreu este sábado, aos 88 anos, vítima de “doença prolongada”, como se lê no site O incorrigível e manhoso Vilhena (www. vilhena. me), gerido pelo seu sobrinho Luís Vilhena. Encontrava-se internado no Hospital São Francisco Xavier. O título do site supracitado é uma referência directa a um dos muitos relatórios da comissão de censura do Estado Novo dedicados às suas publicações. Nele, emitido em 1965, lia-se: “O incorrigível e manhoso ‘Vilhena’ não quis deixar acabar este ano de 1965 sem lançar a público mais uma das suas produções deletérias que por artes ocultas circulam sempre a despeito das proibições que sobre elas incidem. Posto hoje à venda, segundo creio” – escreve o autor do relatório –, “não encontro neste livro uma única página que possa ser autorizável. Portanto, proponho a sua rigorosa proibição”. De si próprio, Vilhena dizia ser “uma espécie de trapezista”: “A malta comprava os meus livros porque achava que no dia seguinte eu ia preso”. E foi, por três vezes, em 1962, 1964 e 1966. Muito a propósito, Rui Zink recorda ao PÚBLICO a definição de censura que ouviu a José Vilhena: “Censura é a técnica de separar o trigo do joio, a fim de publicar o joio” – “também se aplica aos jornais de hoje”, acrescenta. Zink, que privou de perto com José Vilhena, descreve-o como “um diamante no meio de ovelhas murchas”, alguém que, seguindo a máxima de Groucho Marx, se recusava a pertencer a qualquer clube. “O Aquilino Ribeiro chegou a tentar levá-lo para um clube, para a Associação Portuguesa de Escritores, mas ele declinou timidamente dizendo que não era escritor”. A actividade diversificada de Vilhena, aponta Rui Zink, nasce, de resto, da inexistência de escritores populares de humor em Portugal. “Do que ele gostava era de desenhar, mas, dada essa circunstância, acabou por se tornar cartoonista, escritor, editor, distribuidor. ”Nascido a 7 de Julho de 1927 em Figueira de Castelo Rodrigo, José Vilhena frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, inserido no curso de arquitectura que não chegaria a concluir, culpa do trabalho que começara a fazer para o Diário de Lisboa, Cara Alegre e O Mundo Ri, que co-fundou na década de 1950. Trabalhou o humor de diversas formas, recorrendo a escrita literária, à ilustração, ao cartoon ou à fotomontagem. Esta última expressão criativa valeu mesmo a um inusitado protagonismo internacional, quando no início dos anos 1980 José Vilhena é alvo de um processo interposto por Carolina do Mónaco, na sequência de uma fotomontagem em que, parodiando o anúncio de uma marca de brandy, colocou a princesa “a aquecer o seu copo de uma maneira original”, recordava em 2003 ao Correio da Manhã. Entre a sua bora, destacam-se, antes do 25 de Abril, obras como História da Pulhice Humana (1961), O Filho da Mãe (1970) ou Branca de Neve e os 700 Anões (1962), esta incluída na série Livros Proibidos editada com o PÚBLICO. É nesse período que José Vilhena mais brilha, considera Rui Zink. “Os retratos que fez daquele morno Portugal de Salazar são maravilhosos. Depois do 25 de Abril, as pessoas ganharam coragem e surgiram concorrentes mais jovens, mais adequados ao tempo, mais ágeis, mais à esquerda. Há sempre um sacana que gosta mais de liberdade do que nós quando já não há riscos a correr”, ironiza. Durante a ditadura, José Vilhena era “uma estrela solitária a fazer aquele tipo de humor e, mesmo as pessoas que não liam os livros dele conheciam as histórias dos seus livros”, recorda Zink. Segundo o escritor, “foi o grande humorista transversal de antes do 25 de Abril e teve a importância do Herman [José] e dos Gatos Fedorento juntos”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador escola filho homem social doença espécie sexual corpo princesa
Prémios BAFTA: La La Land é considerado o melhor filme
La La Land – Melodia de Amor venceu cinco das onze categorias para que estava nomeado: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz Principal, Melhor Fotografia e Melhor Música. (...)

Prémios BAFTA: La La Land é considerado o melhor filme
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215070109/http://publico.pt/1761811
SUMÁRIO: La La Land – Melodia de Amor venceu cinco das onze categorias para que estava nomeado: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz Principal, Melhor Fotografia e Melhor Música.
TEXTO: A 70. ª edição dos prémios da Academia Britânica de Cinema e Televisão realizou-se na noite de domingo, no Royal Albert Hall, em Londres. La La Land - Melodia de Amor foi premiado com cinco prémios BAFTA: Melhor Filme, Melhor Realizador (Damien Chazelle) Melhor Actriz Principal (Emma Stone), Melhor Fotografia (Linus Sandgreen) e Melhor Música (Justin Hurwitz). Venceu cinco das onze categorias para que estava nomeado. The La La Land team accepting the Best Film award #EEBAFTAs pic. twitter. com/kiJfu9YzH5O BAFTA para actor principal foi atribuído a Casey Affleck pelo seu papel em Manchester by the Sea. O filme também foi premiado com o BAFTA para Melhor Argumento Original. Os restantes nomeados para a categoria de Melhor Actor eram Andrew Garfield (O Herói de Hacksaw Ridge), Ryan Gosling (La La Land – Melodia de Amor) e Viggo Mortensen (Capitão Fantástico) e Jake Gyllenhaal (Animais Nocturnos). Casey Affleck on Manchester by the Sea #EEBAFTAs pic. twitter. com/26uCoXIkEAO filme Animais Nocturnos, de Tom Ford, era um dos preferidos da noite, tendo sido nomeado para nove categorias; ainda assim, não foi premiado. Viola Davis ganhou o prémio de Melhor Actriz Secundária, pelo seu papel em Vedações e Dev Patel o de Melhor Actor Secundário, pela sua participação no filme Lion, a Longa Estrada para Casa. Este último filme também recebeu o prémio de Melhor Argumento Adaptado. O BAFTA para Melhor Actriz foi atribuído a Emma Stone; na mesma categoria, também estavam nomeadas Emily Blunt, protagonista de A Rapariga no Comboio, Amy Adams, em O Primeiro Encontro, Meryl Streep em Florence: Uma Diva Fora de Tom e Natalie Portman, pelo seu papel em Jackie. Na categoria de Melhor Filme estavam nomeados os filmes Moonlight, Manchester by the Sea, O Primeiro Encontro e Eu, Daniel Blake. Leading Actress winner Emma Stone! #EEBAFTAs pic. twitter. com/pQPXDZEL7zSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lista completa de vencedores e nomeados dos BAFTA pode ser consultada aqui. La La Land - Melodia de Amor tem 14 nomeações para os Óscares; a cerimónia realiza-se na madrugada de 27 de Fevereiro. Congratulations to all of tonight's winners! ??https://t. co/GF2IWjWe10 #EEBAFTAs pic. twitter. com/CmdWOR49jQ
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave rapariga
Uma mulher à beira de dar ao mundo um ataque de nervos
Com Una Mujer Fantastica, história de uma mulher a exigir o luto que a sociedade lhe nega, o chileno Sebastián Lelio sacode finalmente o concurso de Berlim. (...)

Uma mulher à beira de dar ao mundo um ataque de nervos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215070109/http://publico.pt/1761870
SUMÁRIO: Com Una Mujer Fantastica, história de uma mulher a exigir o luto que a sociedade lhe nega, o chileno Sebastián Lelio sacode finalmente o concurso de Berlim.
TEXTO: Às tantas, alguém pergunta ao chileno Sebastián Lelio, durante a conferência de imprensa de Una Mujer Fantastica, se ele tem uma qualquer atracção por mulheres à beira de um ataque de nervos ao pé de carros. No anterior Gloria, Paulina García, que ganhou o Urso de melhor actriz em Berlim 2013, farta de o namorado passar o tempo a cortar-se para ir apaparicar a ex-mulher, pega numa espingarda de paintball e toma lá disto. Em Una Mujer Fantástica (competição), Daniela Vega salta para cima de um carro aos gritos: "Eu quero o meu cão!" (Já lá vamos. )O realizador ri-se e diz que não é de propósito, mas que gosta de mulheres fortes e dignas e Marina, a heroína do novo filme, é uma mulher forte e digna. O que convém aqui dizer, no entanto – e não estamos a estragar nada porque todos os materiais públicos o dizem – é que só ao fim de 30 minutos de filme se revela que Marina é uma mulher transgénero que no bilhete de identidade ainda se chama Daniel, e que um ano antes vivia com Orlando, homem mais velho e heterossexual que trocou a família para ficar com ela. Orlando morre ao fim de dez minutos de filme, literalmente nos braços de Marina, e é o início dos problemas. Já não bastava ser “a outra” e ser muito mais nova; como também é transgénero, Marina é vista como uma pária. Como diz Daniela Vega, a actriz que a interpreta, para Marina tudo é difícil, e por isso ela encontra poesia onde não existe nada, dignidade onde ela não está. Não é, nem de longe nem de perto, uma mulher à beira de um ataque de nervos; é só uma mulher que sabe o que quer e não tem problemas a dar aos outros ataques de nervos. Marina não é a única mulher forte do concurso de Berlim este ano – estamos a lembrar-nos da Félicité cantora de Kinshasa que empresta o nome ao filme de Alain Gomis –, mas esta Mulher Fantástica, co-produzida por Pablo Larraín (que já produzira Gloria com o irmão, Juan de Dios) e Maren Ade (realizadora de Toni Erdmann e co-produtora de Miguel Gomes), é o primeiro sopro de vida numa competição que, até agora, correu morna e inerte. (É verdade que os filmes mais aguardados, de Teresa Villaverde, Aki Kaurismäki e Hong Sangsoo, ainda estão por vir. ) The Dinner, do americano Oren Moverman, adaptação do romance de Hermann Koch com Richard Gere, Laura Linney, Steve Coogan e Rebecca Hall, foi literalmente arrasado (e chamou mais a atenção pela diatribe anti-Trump de Gere na conferência de imprensa). Félicité tem sido considerado “Dardenne light”; Wild Mouse, do austríaco Josef Hader, é divertido mas inconsequente; chamou-se “ridículo” a Spoor, de Agnieszka Holland; só o húngaro On Body and Soul, de Ildikó Enyedi, intrigou, pela ambição mais do que pelo resultado. E eis Una Mujer Fantastica, com os seus ecos de Almodóvar tardio (negados por Lelio, que cita abertamente Louis Malle mas podia também ter falado de Cassavetes que não seria descabido) e o modo como actualiza a lógica do melodrama clássico, a electrizar um festival onde alguns dos melhores filmes vistos (Golden Exits, de Alex Ross Perry, Vazante, de Daniela Thomas, Le Jeune Karl Marx, de Raoul Peck) estavam inexplicavelmente fora de competição. Em grande parte devido à performance destemida de Daniela Vega, que faz mais do que apenas tomar conta do filme – ela é o filme, a sua alma, o seu corpo, a sua energia, o seu tudo, e Lelio dá-lhe todo o espaço e todo o tempo para o fazer, com a mesma generosidade com que deixou Paulina García ser Gloria. Voltamos à conferência de imprensa, e palavra ao actor Francisco Reyes, que interpreta Orlando, o homem que trocou a família burguesa e de vistas estreitas pela simplicidade da vida com alguém determinado: Marina “é apenas uma pessoa que tenta viver honestamente a sua vida e a quem mais nada se pode pedir”. "O filme parece ser muito simples, mas a verdadeira pergunta é: o que é que o espectador sente a ver isto? O que é que lhe acontece realmente? E a resposta tem de ser honesta. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sebastián Lelio fala de oscilar entre a “existência e a ausência de informação”: Una Mujer Fantastica não sente que tenha de explicar tudo, joga leal com o espectador, vai revelando as suas reviravoltas à medida que é necessário – nem um minuto antes, nem um minuto depois. Quando tem de ser. E o triunfo de Lelio é o de não mudar nem um milímetro o modo como filma a sua actriz depois de nos revelar a sua identidade de género: não foi ela que mudou, fomos nós que mudámos o nosso olhar sobre ela, o filme bascula por causa disso. “Como pode ser”, pergunta Francisco Reyes, “que numa sociedade civilizada como a nossa ainda existam preconceitos como estes?”E isso levanta a questão na qual o filme entronca: esta é essencialmente a história de uma mulher que tem de fazer o luto de uma relação. O facto de ela ser transgénero é tão incidental aos acontecimentos como lhes é central: se Marina tivesse nascido mulher, a reacção da família não seria tão diferente assim, as “outras mulheres” nunca são bem vindas no seio do núcleo familiar destruído. "O filme não é uma bandeira de luta, é uma história de amor", diz Daniela Vega, e sabe o que diz porque a actriz é, ela própria, transgénero e passou por aquilo que Marina está a viver. "Ela está preparada para o mundo, ” explica Sebastián Lelio. “O mundo é que não está preparado para ela. "Algo nos diz que, depois de Berlim, o mundo vai abrir-lhe as portas. Afinal, pelo fim de Una Mujer Fantastica, Marina conseguiu ficar com o cão.
REFERÊNCIAS:
Histórias e fantasmas
Laurie Anderson propõe mais um conjunto de histórias que transfiguram o real, sob a forma de um filme-ensaio sobre os fantasmas que a acompanham (...)

Histórias e fantasmas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-02-06 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20160206115535/http://www.publico.pt/1718077
SUMÁRIO: Laurie Anderson propõe mais um conjunto de histórias que transfiguram o real, sob a forma de um filme-ensaio sobre os fantasmas que a acompanham
TEXTO: Sejam, então, bem vindos ao universo de Laurie Anderson: aquela onde o seu “corpo de sonho” dá à luz Lolabelle, a sua cadela rat terrier que, na realidade, lhe foi cosida no interior para ela a poder dar à luz. Poucas metáforas serão tão apropriadas ao que a performer, cantora e contador de histórias americana faz do que esse “falso nascimento”: pegar num facto, numa memória, numa experiência, absorvê-la e regurgitá-la sob uma forma transmutada, simultaneamente trivial e fantástica, quotidiana e extraordinária, criando no processo um “colar de histórias” que parecem nada ter em comum mas partilham um mesmo cordão umbilical. Coração de Cão é mais um desses colares de histórias entrelaçadas, um filme-ensaio que é um ao mesmo tempo requiem pelos mortos da sua vida (a sua mãe, a fiel cadela Lolabelle, o artista Gordon Matta-Clark e, sempre pairando mas só no genérico final efectivamente presente, o marido Lou Reed). Coração de Cão é um filme de fantasmas – a própria Anderson o admite a certa altura – mas responde a essa assombração com a simples celebração do momento, do estar vivo (“os dias servem para nos acordar”, como se ouve às tantas), como quem diz que nada se perde, tudo se transforma. Fá-lo através de uma “colagem” (muito Godardiana) de elementos que vão de animações caseiras a home movies, imagens super 8 e reconstituições narrativas, unidos pelo modo singular, esquinado e contudo tão reconfortante, com o qual Anderson vai contando as suas histórias. Reside, aliás, precisamente aí a força e a fraqueza de Coração de Cão: apesar da evidente inteligência com que tudo é feito e montado, e da precisão com que as imagens “dão a ver” o que se esconde por entre as histórias, nunca conseguimos afastar a sensação que o filme é uma mera “versão ilustrada com imagens em movimento” de uma das suas performances, e poderia perfeitamente sobreviver em palco sem essas imagens. Ou, posto de outra maneira, o que Laurie Anderson explora aqui já Godard anda a fazer há uns anos. Não é razão para descartarmos Coração de Cão (a aluna é muito aplicada e aprendeu bem a lição), mas é coisa que tempera o nosso entusiasmo.
REFERÊNCIAS:
O que é que tem de verdadeiro O Lobo de Wall Street?
O filme de Scorsese sobre um vigarista financeiro chega esta quinta-feira a Portugal, já depois de ter gerado polémica por glorificar uma vida de fraude, sexo e drogas. O que é real e o que é ficção? Este texto contém spoilers (revelações sobre o argumento). (...)

O que é que tem de verdadeiro O Lobo de Wall Street?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.35
DATA: 2015-10-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O filme de Scorsese sobre um vigarista financeiro chega esta quinta-feira a Portugal, já depois de ter gerado polémica por glorificar uma vida de fraude, sexo e drogas. O que é real e o que é ficção? Este texto contém spoilers (revelações sobre o argumento).
TEXTO: Para O Lobo de Wall Street, a sua mais recente colaboração com Leonardo DiCaprio, Martin Scorsese renunciou à sua tradicional voz off em favor do discurso directo: ao longo do filme, DiCaprio, que interpreta o matreiro vigarista financeiro Jordan Belfort, olha para a câmara e fala directamente com o público. Terence Winter, que escreveu o guião, explica assim o uso desta técnica: “Jordan Belfort está a vender-vos a história de Jordan Belfort, e ele é um narrador muito pouco fidedigno”. É importante ter isso presente se decidirmos esmiuçar os factos e a ficção do filme. O Lobo de Wall Street é bastante fiel ao livro escrito por Belfort no qual se baseia (editado em Portugal pela Presença), embora haja algumas diferenças. Mas quão fiel à realidade é o livro? Pode ser difícil chegar a conclusões definitivas, especialmente porque algumas das suas histórias mais bizarras, afinal, são mesmo verdadeiras. Ainda assim, fica a tentativa de verificar o que no filme é como na vida real e o que é apenas como na mente de Belfort. Os contornos gerais da história de Belfort são transmitidos de forma fiel pelo filme: um vendedor de Long Island, talentoso mas em dificuldades, arranja um emprego numa reputada casa de investimentos, a L. F. Rothschild, mas é despedido depois da Segunda-Feira Negra – no dia 19 de Outubro de 1987, várias bolsas pelo mundo sofreram um crash. Depois, foi trabalhar para a Investors Center, uma empresa de acções de baixo valor, e um ano mais tarde abriu “um franchise da Straton Securities, uma pequena corretora” num “stand de automóveis de um amigo em Queens”. Ele e o sócio ganharam dinheiro suficiente para comprar a Stratton e criar a Stratton Oakmont, que transformou numa das maiores corretoras do mercado bolsista secundário dos Estados Unidos. (Tal como no filme, ele contratou alguns amigos de longa data). Consumiu uma quantidade enorme de drogas – incluindo Lemmon 714s, ou Quaaludes, um medicamento sedativo e hipnótico –, requisitou os serviços de inúmeras prostitutas e eventualmente foi preso pelos esquemas de manipulação de mercados que o enriqueceram. Muito dos diálogos de DiCaprio vêm directamente do livro de Belfort, bem como quase todas as suas aventuras praticamente inacreditáveis: aterrar o helicóptero no seu relvado enquanto estava drogado, despistar-se com o carro quando estava sob o efeito de Quaaludes ou insistir que o capitão do seu gigantesco iate navegasse por um mar tão picado que o barco acabou por se virar, obrigando a um salvamento pela Marinha italiana. Algumas dessas histórias são difíceis de confirmar, mas o agente do FBI que investigou Belfort disse ao diário norte-americano The New York Times: “Eu andei atrás deste tipo durante dez anos e tudo o que ele escreveu é verdade. ” (Mesmo a história do iate). Quanto ao já muito discutido lançamento de anões que o filme mostra no seu início, o braço direito de Belfort diz que “nunca abusámos de [ou atirámos] os anões no escritório; éramos simpáticos com eles”. A mesma fonte, um antigo executivo da empresa, diz que nunca houve animais no escritório, muito menos um chimpanzé, e que ninguém chamava “Lobo” a Belfort. Sabemos, pelo menos, que a alcunha não partiu de um jornalista da revista Forbes, como indica o filme. Mas, em geral, é a palavra deste executivo contra a de Belfort. Outra pequena diferença entre filme e realidade: Belfort, ao contrário de DiCaprio, é um homem baixo, e muitos dos seus conhecidos sugeriram que o seu desejo por dinheiro, poder e atenção são provas de sofrer do complexo de Napoleão. De resto, quanto à fidelidade na forma como DiCaprio retrata Belfort, há muitos vídeos do financeiro que se podem ver online, incluindo um ou dois de festas de empresa da Stratton Oakmont. O caso de Donnie Azoff, interpretado por Jonah Hill, é mais complicado. Para começar, Azoff é um nome ficcional e a personagem é por vezes descrita como uma composição. A sua história é muito semelhante à de Danny Porush – mas o próprio Porush contestou alguns detalhes. Aqui estão os factos-base: Porush vivia no prédio de Belfort e começou a trabalhar como seu estagiário antes da Stratton Oakmont. Como nota o site History vs. Hollywood, não conheceu Belfort num restaurante – foram apresentados pela mulher de Porush (que, sim, era sua prima, tal como se lê no livro de Belfort; hoje em dia, estão divorciados). Já admitiu que comeu um peixinho de aquário vivo que pertencia a um empregado da Stratton, como é descrito no filme e nas memórias de Belfort, mas nega ter participado num ménage à trois com o empresário e uma funcionária adolescente.
REFERÊNCIAS: